Tese de Mestrado

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100 é o comerciante que não só dá à Inglaterra, e ao resto do mundo que aceita este ideal, poder, riqueza e honra, mas contribui para a colaboração entre todos os países e o bem-estar universal: é o amigo do gênero humano. Não busca a fama que basta ao herói antigo; ele precisa de uma reputação ilibada que se transforma em crédito, base da honra e da eficácia mercante. Os autores franceses acrescentam que este homem novo deve ser modelo de independência de espírito conquistada pelo uso da razão: deve ser filósofo. Este filósofo não é mais o profissional que só cita Platão ou Aristóteles. É um cientista que usa a razão e não a memória para estudar a astronomia, falar da pluralidade dos mundos, é um sábio que constrói para si mesmo uma vida confortável e, principalmente, é uma pessoa que julga todas as coisas com total liberdade. Ele preza uma filosofia que renuncia à metafísica e se restringe voluntariamente ao que pode perceber imediatamente na alma humana e na natureza, ela mesma considerada, não boa, mas poderosa, ordenada e afinada à razão humana. Por isto, só podem existir uma religião natural, um direito natural e uma liberdade natural167. O horizonte está aqui, no nosso mundo: inventar máquinas que tornam o trabalho mais fácil, combinar diversos materiais para produzir coisas novas e aumentar nossas riquezas, isto significa fazer da terra o Paraíso, recuar a morte e aumentar o poder de ação do ser humano: é o Progresso! A ciência torna-se um mito que, no fim, substituirá a religião e a filosofia e responderá a todas as perguntas do espírito humano. Condorcet será o grande pedagogo e o grande profeta desta nova era 168. Da constatação do progresso científico, ele tira uma interpretação rígida da história que influenciará a cultura ocidental e contribuirá para bloquear toda

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Segundo LALANDE, verbetes natureza e estado de natureza, op. cit. p 721 e 340 o conceito moderno de natureza refere-se mais a um princípio que produz o desenvolvimento de um ser e realizar nele um determinado tipo. Por conseqüência, pode designar tudo que é inato, instintivo e espontâneo, inclusive a razão considerada como uma espécie de instinto intelectual. Seria um estado em que os homens nascem por oposição à revelação, à graça, à civilização, à reflexão e a tudo que é artificial de dependente da vontade. O estado de natureza, neste sentido, corresponderia a um estado hipotético do homem antes da organização social (Grocius, Hobbes, JJ Rousseau). Não se trata então do mesmo conceito de natureza como essência presente na visão de Aristóteles e da scolástica. 168 CONDORCET, Jean Antoine Nicolas Caritat, Esquisse d'un tableau historique des progrès de l'esprit humain, 1793, Paris, GF Flammarion, 1988.


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