MEMÓRIAS DO ACASO

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QUIM AS MEMÓRIAS DO ACASO

FOTOGRAFIAS


Fotografias de JOAQUIM CASTILHO Legendas de Joaquim Castilho


Do outro lado, no silêncio da rua deserta, a sombra translúcida da Noite, que se aproxima.


Nasceu do acaso alí, onde o rumor do vento deixou uma semente.


Desenhado na parede lisa o rumo exacto, o caminho traçado da Vida.


Gravados num corpo magoado os percursos sinuosos do Tempo.


Sem princípio nem fim, desejos paralelos que só no infinito se poderão encontrar.


Vida, também, numa visão caótica do Inverno.


Curvas, libertam o olhar da prisão ingrata de uma recta sem fim.


Explosão vegetal, encenação imaginada, sopro de angústia.


A paz que se transporta ao longo da praia, num dia manso de mar ausente.


Moldura florida de um horizonte, barcos vazios sonhando com navegar.


Rosto humano frio, imóvel, face contida do silêncio eterno.


Sinais derradeiros de um Outono mais, espectros vivos, mortos descendo a escada.


Coração que não pertence ao frio acre de ramos nús.


Sombras vivas imóveis, pousadas na contra luz do Inverno.


Vermelho cobrindo um corpo ausente de Mulher. Ilusão festiva, miragem só, imaginada.


Depois da Bonança, a ameaça serena da Tempestade.


Campos árvores, névoa, uma estrada, verdes tristes, paisagem apenas bem enquadrada.


Rumos, destinos que o vento e o tempo vão apagar. Rumos, que rumos?


Árvore do Inverno que me inventei.


Diz-me espelho meu, haverá Outono mais bonito do que eu?


Alameda serena de árvores nuas, cortina translúcida filtrando a cidade.


Andaimes de sombra, traços límpidos, composição “sem título”.


Um ramo florido, intruso que se atravessa na estudadas arquitecturas da cidade.


Fachadas, rostos de silêncio branco onde vidas se vivem e se adormecem.


Imagem da cidade, a mentira turística de postal ilustrado.


Jardim bancário, a natureza compartimentada, a beleza exacta, domesticada.


Folhas mortas, só agora aprendem a navegar.


A beleza da geometria insensata do caos, como se as árvores não soubessem acontecer.


Escada em ruínas que nos leva a nenhum lado.


Janela retida no Tempo, olhar que guarda o bolor feliz da Memória.


Receber o silêncio melancólico de um sol poente, abrindo os braços o peito o corpo todo.


Estátua morta, decoração de jardim pavoneando-se.


Rugas de uma parede fria onde a vida repousa como morta.


Procurar, como se existisse, o espírito vegetal da floresta.


Espelho que não chega para mostar o mundo.


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