TRABALHO ESCRAVO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS LIBERTADORES

Page 153

Semelhante projeção permite concluir que os homens libertadores, ao se referir ao seu trabalho, costumam ter um discurso mais voltado a uma percepção do trabalhador escravizado enquanto sujeito social, membro de uma sociedade com problemas; a atuação dos homens tende a ser mais alienada dos fatores históricos (passado) constituintes do trabalho escravo, o que propicia que eles ajam de forma mais técnica, visando realocar o trabalhador escravizado para uma condição mais digna. Tendem a descrever o trabalho escravo e o trabalho de libertar mais do que avaliá-lo, isto é, são mais objetivos. Os homens se percebem nesse processo como profissionais em um sentido pouco personalizado, como se estivessem desempenhando um papel social. As mulheres libertadoras, diferentemente dos homens, tendem a perceber de forma pessoal o trabalhador escravizado, enquanto um indivíduo com família, e que por identificação nesse nível precisa ser ajudado; a atuação das mulheres costuma estar próxima dos fatores históricos que constituem o trabalho escravo, mas em um sentido mais reflexivo, próximo do político, o que significa que tendam a agir visando a saída imediata dos trabalhadores da condição de escravos. Tendem a avaliar o trabalho escravo e o trabalho de libertar mais do que apenas descrevê-lo, ou seja, atribuem mais valores à hierarquia de representações que lhes surgem do que os homens. As mulheres se percebem como profissionais em um sentido muito personalizado, como se estivessem engajadas em um projeto pessoal. No que se refere à variável raça, há uma distribuição triangular entre negros, brancos e asiáticos, de modo que negros e asiáticos se encontram próximos, no mesmo quadrante das mulheres, enquanto os brancos se distanciam daqueles, aproximando-se substancialmente dos homens. Essa projeção dos atributos permite concluir que há diferenças de raça na representação social do fenômeno, de modo que negros e asiáticos tendam a ter percepções próximas às das mulheres, no eixo temporal do passado (historicamente situado nas condições da escravidão), político, de reflexão, de avaliação e de identificação pessoal com o

153


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.