Jornal 3º Setor em Ação

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PERFIL

HIPERTEXTO

O 1º Iguacine leva povo a ver e produzir cinema

As novas obras que abordam a responsabilidade social

PROMOVENDO

ANO 1, NÚMERO 7, MAIO DE 2008

9 A CIDADANIA COM

www.terceirosetor.jor.br

INFORMAÇÃO

ELES SÓ QUEREM UM DONO Ninguém sabe quantos são os gatos expostos à crueldade e ao abandono nas ruas do Rio


Sumário 3. A hora e a vez do

ABRE ASPAS

PERFIL

ENQUANTO ISSO...

povo no cinema

D

O 1º Festival de Cinema de Nova Iguaçu pretende integrar a periferia com o mundo

4.

PONTO DE VISTA

Uma dúvida que ainda persiste Baixa remuneração dos profissionais de educação e saúde é uma questão de gênero ou simplesmente do pouco valor que atribuímos a eles?

5.

PAINEL

Saúde em família. Luta antimanicomial. Construindo valores

6.

C A PA

O SECRETO ABANDONO DE UMA ESPÉCIE Largados em qualquer local da cidade e sofrendo com os maus-tratos, os gatos de rua parecem invisíveis a muitos

8.

Da veneração à calúnia ao longo da história

9.

HIPERTEXTO

A Nova Roma hoje e amanhã Uma mulher e seu continente

10.

OTIMISMO DIGITAL Ecologia na prática

arwin escreveu certa vez que a diferença entre a mente humana e a dos mamíferos superiores era de grau, não de qualidade. Animais como cavalo, gato, cachorro teriam, inclusive, a auto-consciência. Aquela mesma que nos fez ter medo da morte e, com isso, criar deuses. Parafraseando um ministro do trabalho lá nos anos 90, somos todos seres humanos. Muitos criticam aqueles que se dedicam à causa dos animais. Falam das crianças que estão abandonadas, da miséria de nosso povo, questões que devem ser prioridade. Uma parcela grande daqueles que assim falam também não se dedica à causa alguma. Se todos os que criticassem agissem, melhor estariam as nossas cidades e campos. Bem, sobre os problemas de base, problemas históricos, que impuseram as nossas discrepâncias sociais, falei no Abre Aspas de março. Tanto assim que me admira um pouco certas iniciativas de parte da classe média, mais especificamente a da zona Sul carioca, da qual faço parte. Por exemplo, a mobilização para a Marcha da Maconha, que estava agendada para acontecer no início de maio em dez capitais brasileiras, entre elas o Rio de Janeiro. E como tudo nessa vida tem sempre dois lados e duas opiniões, houve a Marcha Contra a Maconha. Por que essa mesma classe não faz passeatas ou contra-passeatas para combater as carência de meios e a injustiça que deixam crianças diariamente prostradas nas calçadas, mendigando entre o lixo e os animais de rua, principalmente os ratos? Enquanto isso, continuamos a falar sobre o episódio envolvendo Ronaldinho e travestis. Não me assustará que o momento sirva de pretexto para a homofobia ativa (que agride e mata) e a passiva (que apenas discursa) dos patrulheiros da ordem e da tradição. A violência contra travestis e prostitutas sempre foi alta pelo nosso Brasil afora. Dias melhores virão.

LUIZ RENATO DANTAS COUTINHO

PAUSA DO CAFÉ TIRINHA. PALAVRAS CRUZADAS.

Promovendo a cidadania com informação FUNDADO

EM NOVEMBRO DE

2007

EDITORES: Luiz Renato Dantas Coutinho, Maurício Amilton Gomes Teixeira e Nuno Virgílio Neto COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Anápuáka Muniz Pataxó Hã-hã-hãe, Cid Andrade, Elke Servaes, Juliana Rocha, Renata Coré e Rodrigo de Souza Furtado. PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO: Multimeios Editoração e Design IMPRESSÃO: Jornal do Comércio TIRAGEM: 5.000 exemplares (distribuição gratuita)

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MAIO DE 2008}

FALE COM A GENTE: Tel.: (21) 4104-1421 Sugestão de pautas, críticas ou comentários <jornal@terceirosetor.jor.br> PARA ANUNCIAR: publicidade@terceirosetor.jor.br ou (21) 4104-1421 Site: www.terceirosetor.jor.br I I I

Esta é uma publicação independente, portanto sem qualquer tipo de vínculo partidário, religioso ou associativo. Os artigos assinados refletem a opinião de seus autores, e não necessariamente o ponto de vista da coordenação do jornal. Somente os editores têm autorização para falar em nome da publicação.


PERFIL

A HORA E A VEZ DO POVO NO CINEMA O 1º Festival de Cinema de Nova Iguaçu pretende integrar a periferia com o mundo POR LUIZ RENATO DANTAS COUTINHO

V

ocê se lembra qual foi a última vez em que esteve em um cinema? E a primeira? Difícil se lembrar? Saiba que, para 167 crianças, a primeira ida a uma sala de projeção aconteceu no dia 23 de abril de 2008. Eram todas elas da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu, que oferece cursos para alunos do ensino fundamental inscritos no Bairro-Escola. Este programa incentiva e coordena atividades de formação nas proximidades onde vivem os alunos. “Mutum”, de Sandra Kogut, foi o filme exibido. A obra ganhou prêmios aqui, encontrou ótima acolhida também no exterior, e baseia-se em uma novela de João Guimarães Rosa, “Campo Geral”. Mas outro marco pode ter aparecido no momento em que todas as poltronas foram ocupadas no Espaço Cultural Silvio Monteiro, no centro de Nova Iguaçu: tinha início o 1º festival de cinema daquela cidade, o Iguacine. De 23 a 30 de abril, o evento, realizado pela Escola Livre de Cinema e a Prefeitura de Nova Iguaçu, selecionou 53 filmes. Destes, 32 estavam inscritos em uma das sete mostras. Houve exibições em escolas e praças, mesas de debates, oficinas e palestras. Todas as atividades foram gratuitas. — É mais do que um festival, é uma estratégia de inclusão produtiva e subjetiva da cidade. Queremos contribuir para o direito ao acesso público de práticas culturais. Trata-se de uma política de audiovisual, de possibilitar intercâmbios, promover encontros improváveis. É uma grande oportunidade de se criar uma outra imagem da periferia – entusiasma-se o secretário de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu e idealizador do evento, Marcus Vinicius Faustini. Na platéia do primeiro dia estava uma jovem, Natália Ferreira. Aos 22 anos, mãe de um filho de quatro anos, ela jamais estivera em um cinema. Gostou da experiência: — Na televisão é difícil ver filme brasileiro. Só de vez em quando passa um na televisão. Se pudesse escolher, veria sempre pelo telão, acompanhada, sem o barulho de crianças – do qual reclamou um pouco. Natália teve aulas de jornalismo e fotografa para o blog “Jovem Repórter” – jovemreporter.

U

A roteirista Ana Luiza e Faustini conversam com as crianças da Escola Livre de Cinema

blogspot.com –, um produto da Agência de Comunicação, que por sua vez faz parte do elenco de atividades oferecidas pelo Projeto Bairro-Escola.

BERLIM E NOVA IGUAÇU

Após a exibição de “Mutum, sua roteirista, Ana Luiza Martins Costa, repetiu a experiência de falar com um público de crianças. Poucos meses antes, ela respondera às perguntas de uma platéia da mesma faixa etária em Berlim. O filme, contado do ponto de vista de um menino, se passa no interior de uma Minas Gerais rústica. As crianças alemães ficaram chocadas com a possibilidade de alguém da idade delas sobreviver em um meio tão pobre. Ana Luiza notou que esse mesmo meio soou natural para o público mirim da Baixada. Também fez pensar a alguns as ruidosas gargalhadas das crianças daqui diante das cenas de explosão do pai contra o menino. Reação a uma realidade igualmente próxima?

ESCOLA LIVRE DE CINEMA

ma, audiovisual, animação, roteiro, montagem e direção. Pela manhã, a Escola oferece aulas para o segundo segmento do ensino fundamental inscrito no Bairro-Escola. Roberto Souza Leão é coordenador do curso noturno, que atende adultos de todas as idades: — Nas aulas expositivas e práticas incentivamos uma reflexão crítica sobre a imagem. A última turma produziu um curta de ficcção e até o final do semestre teremos mais dois outros produzidos. O interessante é que os alunos formados à noite ensinam as crianças da manhã. Enquanto isso, Faustini, que também é cineasta e diretor de teatro, tem pensado no futuro do Iguacine: — O próximo precisa ser internacional. Então é só esperar pelo ano que vem para conferir. Agradecimento à jornalista Juliana Rocha

A primeira escola de cinema da Baixada Fluminense inteiramente gratuita funciona desde julho de 2006. Seus cursos têm duração de 12 meses, e os estudantes aprendem técnicas de cine-

Mais Iguacine no site do nosso jornal < www.terceirosetor.jor.br >

Se você estuda ou tem experiência em jornalismo, diagramação ou publicidade e gostaria de ser um dos nossos colaboradores, escreva para: jornal@terceirosetor.jor.br Venha fazer parte da nossa equipe. {MAIO

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PONTO DE VISTA

UMA DÚVID A QUE AIND A PERSISTE DÚVIDA AINDA Baixa remuneração dos profissionais de educação e saúde é uma questão de gênero ou simplesmente do pouco valor que atribuímos a eles?

POR ELKE SERVAES*

P

rofissões femininas: professora, enfermeira, assistente social... Profissões de mulher? Sabemos que, hoje em dia, muitos homens já exercem essas profissões, alguns por vocação, outros por necessidade. No entanto, a maioria desses profissionais ainda é do sexo feminino. À medida que refletimos acerca das funções exercidas por essas profissões, verificamos que elas guardam um traço em comum: o cuidado com o próximo. Então só a mulher cuida? Lógico que não! Historicamente, o cuidado e a educação têm sido relegados à figura feminina. O homem caça e a mulher cuida da prole. Em geral, até hoje, é a mulher que cuida dos filhos. Todos nós, seres humanos, necessitamos de cuidados e de educação. Pela lógica, partindo-se do fato de que um indivíduo ainda pequeno não pode prescindir de cuidados e educação para a sua sobrevivência, as profissões ligadas à saúde e à educação são imprescindíveis, certo? O Estatuto da Criança e do Adolescente advoga em seu Art. 7º que

U No Rio de Janeiro, os profissionais qualificados para educar nossos filhos têm um piso salarial pouco maior que um salário mínimo

toda criança e adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Consta ainda, no Art. 53º, o direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. Mas para que a legislação seja plenamente obedecida, colocada em atos e fatos, não bastam tinta e papel. Ações dependem de pessoas. Mas se as profissionais necessárias à implementação desses direitos são assim tão fundamentais, porque será que elas são tão mal-remuneradas? Culturalmente considerado como uma profissão feminina, o magistério na educação básica tem como piso salarial para quatro horas diárias de serviço o valor de R$ 613, 60, segundo o Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro. Ou seja: uma pessoa, mulher na maioria dos casos, qualificase profissionalmente para educar nossos filhos e, ao final do mês, recebe como recompensa por ensinálos a ler e a escrever um pouco mais de um salário mínimo. Ser professor ou professora é uma opção de vida como qualquer outra. A carreira de educação exige preparo intelectual, físico e psicológico. Continuadamente, é necessário que esse profissional mantanha-se atualizado quanto às pesquisas científicas, além de conhecer o conteúdo programático e a realidade em que atua. É um constante aprender para ensinar, e um ensinar a aprender.

UMA TAREFA PROFISSIONAL

Paulo Freire, em seu livro “Professora, Sim; Tia, Não”, atenta veementemente para o fato de que “a tarefa

de ensinar é uma tarefa profissional”. Uma professora pode ser tia, ter sobrinhos, mas ensinar envolve “militância”, a “paixão de conhecer”, enquanto ser tia não é profissão. Atribuir às professoras o papel de “tia” é, indiretamente, desvalorizar a profissão, o profissional e a pessoa. Antigamente, a mulher ficava em casa, cuidando dos filhos e esperando o marido. As lutas e as conquistas levaram a mulher ao mercado de

trabalho. A mulher, então, sai de um trabalho não-remunerado, no lar, e entra em sala de aula, na qual exercerá uma função indispensável à sociedade – e como resultado do seu trabalho, recebe um salário. Este salário é o valor pago pela importância do cargo ocupado, por sua competência, sua formação e pelo resultado de seus serviços prestados. Mas no nosso caso, essa remuneração é um pouco mais de um salário mínimo! A escola sonhada por José Carlos Libâneo é aquela que assegura a todos a formação cultural e científica para a vida pessoal, profissional e cidadã, possibilitando uma relação autônoma, crítica e construtiva com a cultura em suas várias manifestações: a cultura provida pela ciência, pela técnica, pela estética, pela ética, bem como pela cultura paralela (meios de comunicação em massa) e pela cultura cotidiana. Observamos, portanto, que a tarefa de formar cidadãos participantes, críticos, éticos e construtivos exige a ação de profissionais bem preparados e qualificados, certo? Quanto vale esse profissional? Quanto vale a educação? Quanto vale o trabalho da professora da educação básica? Pouco mais de um salário mínimo? Persiste a dúvida: será que o padrão salarial dos professores e profissionais da saúde ou da assistência social é o resultado de uma questão de gênero ou, simplesmente, um retrato do valor dado à educação, à saúde e à promoção social do nosso povo, de nossa gente. Ou ambos? *A autora é pedagoga com especialização em supervisão escolar e educação especial pela UERJ, pós-graduanda em responsabilidade social pela UVA, consultora em inclusão e educação infantil, diretora pedagógica e colunista.

Ajude a patrocinar esta idéia:

OS AMIGOS A GENTE VISITA EM CASA

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PAINEL

CONSTRUINDO VALORES

Gentileza de volta em espetáculo

LUTA ANTIMANICOMIAL

Rio sedia fórum internacional m 18 de maio será celebrado o Dia Nacional E de Luta Antimanicomial, movimento que vem batalhando há 20 anos contra os precon-

ceitos e a exclusão social de que são vítimas os portadores de sofrimentos psíquicos no Brasil. Algumas das bandeiras do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial são a criação de serviços residenciais terapêuticos e de projetos de trabalho e geração de renda para os pacientes - sempre com o objetivo de acabar com os hospícios e manicômios e promover uma cultura de tratamento, convivência e tolerância em sociedade. Entre os dias 22 e 25 de maio, o Rio de Janeiro será a capital mundial das discussões em

torno desse tema com a realização, na UERJ, do 2º Fórum Internacional de Saúde Mental e Direitos Humanos, que tem a proposta de envolver vários atores e as experiências de diversos países. Informações sobre o fórum podem ser obtidas pelo e-mail <smdh@fiocruz.br>

SAÚDE EM FAMÍLIA

Morar bem para viver melhor undado em 1995, o Reviver é uma instituiF ção de utilidade pública que oferece apoio às crianças e adolescentes atendidos pelo Instituto Fernandes Figueira. Este trabalho é feito através da promoção de iniciativas que melhoram a qualidade de vida das famílias desses pacientes, reduzindo os riscos que levam à reinternação e ao agravamento das doenças. Um dos programas do Reviver que mais chamam a atenção é o Projeto Tijolo, que reforma os imóveis onde vivem essas crianças, dandolhes condições mais dignas de moradia. Muitas vezes, a inadequação das casas - com mofo, reboco aparente ou falta de saneamento - é o fator que mais atrapalha em sua recuperação. E com uma vantagem: após a reforma, toda a família do paciente acaba sendo beneficiada. No ano passado, o Projeto Tijolo, que conta com a parceria da construtora RJZ, chegou a 16 moradias. Até o começo de março, metade

AJUDE A INTERROMPER

dessas obras foi finalizada - outras seis estavam em andamento e duas, em processo de legalização de compra do imóvel. Acesse o site <www.reviver.org.br> e saiba como você pode ajudar.

Não tira fotos, não envia e-mail, não manda torpedos, não toca MP3.

A VIOLÊNCIA

DISQUE DENÚNCIA 2 2 5 3 - 1 1 7 7

ONG Crescer e Viver está preparando um espetáculo circense sobre o Profeta Gentileza, A que teria completado 91 anos em abril.

“Univvverrsso Gentileza” tem estréia prevista para agosto. “A concepção do espetáculo tem como objetivo mostrar os escritos de Gentileza como símbolo de um princípio reestruturador das relações humanas. Nossa idéia é valorizar o papel que a obra dele pode exercer na construção de uma nova matriz ideológica”, explica Junior Perim, coordenador do Crescer e Viver. “Nosso objetivo é levar a gentileza para todo o país, envolvendo a intelectualidade, os movimentos sociais e culturais, escolas e universidades” O espetáculo será o ponto de partida para outras ações, como a revitalização dos murais do Profeta, que ficam nas pilastras próximas à Rodoviária Novo Rio, a criação do Instituto Gentileza e uma nova edição do livro de Leonardo Guelman em que será baseada a encenação. “O espetáculo servirá, sobretudo, como um alerta para a necessidade de salvaguarda da obra de Gentileza”, diz o autor. A direção geral de “Univvverrsso Gentileza” ficará a cargo de Alice Viveiros de Castro. Daniel Gonzaga assina a direção musical. Personagem inscrito na memória popular do país, com suas pregações pelas cidades, Gentileza tornou-se ícone de uma postura mais humana e gentil. Tomado por uma revelação após o incêndio de um circo em Niterói, em 1961, o empresário José Datrino largou tudo para pregar a gentileza durante 35 dos seus 79 anos de vida. Homem simples e de grande intuição, viu naquela tragédia a metáfora de uma crise maior. “A derrota de um circo queimado é um mundo representado, porque o mundo é redondo e o circo, arredondado”, disse uma vez. 3S

Mas há momentos em que é dele que você precisa para abrir seu coração.

A linha da vida ww w.c vv. org .br

Ligue: 2233-9191 Centro de Valorização da Vida

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O secreto abandono de uma espécie CA PA

Largados em qualquer local da cidade e sofrendo com os maus-tratos, os gatos de rua parecem invisíveis a muitos — Há gatos abandonados em praticamente todos os hospitais, em estacionamentos, em qualquer ruazinha do Centro, na Quinta da Boa Vista – enumera a veterinária, consciente de que sua iniciativa funciona como um paliativo, mas está longe de solucionar a questão dos felinos sem donos. Além do Campo de Santana e da Quinta, existem outros endereços mais conhecidos como depósitos de gatos rejeitados. O Jockey Club da Gávea, o Parque Lage, situado no bairro do Jardim Botânico, e o Mirante do Pasmado são exemplos. — Enquanto o poder público não fizer uma ação efetiva de castração, coibir o abandono, a situação não vai melhorar – afirma a veterinária.

POR RENATA CORÉ E LUIZ RENATO D. COUTINHO

Q

uem, da calçada, vislumbra a fachada, guarda a impressão de se tratar de apenas mais uma casa na zona Norte do Rio de Janeiro. Logo que se chega ao interior, no entanto, percebem-se os sinais de que aquela não é uma residência comum. Em uma das ruas da Tijuca, Andréa Lambert compartilha o endereço com cerca de 60 gatos de variadas idades, cores e particularidades. O que todos têm em comum é que, antes de seus caminhos se cruzarem com o da médica veterinária, eram moradores do Campo de Santana. Também conhecido como Praça da República, o parque no Centro da cidade, onde dom João VI e dom Pedro I foram aclamados imperadores do Brasil, hoje é cenário de uma história nem um pouco nobre. Lá, inúmeros felinos sobrevivem em estado de abandono. Há dez anos, Andréa se dedica a cuidar dos gatos do Campo de Santana. O trabalho voluntário desenvolvido pela médica veterinária, no parque e também no Hospital

POPULAÇÃO IGNORADA

U

A dra. Andréa Lambert há 10 anos se dedica à causa

Municipal Souza Aguiar, consiste em castrar e posteriormente devolver animais que não possuam perfil favorável para adoção, tratar aqueles que estejam doentes e recolher os frágeis filhotes.

Não há números oficiais ou extraoficiais relativos à população de gatos de rua vivendo na cidade. De acordo com a Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (SEPDA) da prefeitura, a alta rotatividade impossibilita esse tipo de contagem, mas sabe-se que o número é bastante alto. Ainda segundo a secretaria, nos períodos que antece-

Dê um presente original para quem você gosta: ofereça uma

história em quadrinhos da sua história E-mail: rodrigo_furtado@hotmail.com

Página: www.rodrigofurtado.da.ru Logotipos

ARTE COM QUALIDADE: Ilustrações

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Cartuns

Setor em Ação

Rodrigo Furtado

Manipulação de imagens

MAIO DE 2008}

Design Design gráfico em gráfico geral em geral

dem feriados e férias as ocorrências de abandono aumentam muito. A única estimativa que se tem é a do número total de gatos no Brasil. Os fabricantes de ração falam em 13 milhões de gatos. – No entanto, sabemos que esse número é bem maior, considerando aqueles que sobrevivem de outros alimentos. Quanto aos abandonados, é impossível precisar, já que esses animais formam colônias praticamente invisíveis aos olhos humanos – explica o ambientalista e presidente da Arca Brasil, Marco Ciampi. A ONG realiza campanhas permanentes pela posse responsável e desenvolve um programa de controle de natalidade de cães e gatos. No seu site ficamos sabendo que no Brasil há um cachorro para cada sete humanos e 10% deste total é de animais abandonados (não há estimativa para felinos).

UM ABRIGO PEDE SOCORRO

A principal causa de abandono é a gestação indesejada. Isso é o que informa a assessoria da SEPDA, acrescentando que, em 2007, foram realizadas mais de 10 mil esterilizações gratuitas por meio do Programa Bicho Rio e centenas de animais domésticos ganharam novos lares em função das Campanhas Educativas de Adoção de Animais. Apesar disso, o fato é que sobra trabalho – e muito – para os voluntários preocupados com o bem-estar dos gatos ou de outros animais abandonados. É o caso do Abrigo da Mariazinha, onde vivem cerca de 200 gatos e 300 cães. O sítio, localizado em Santa Cruz, na zona Oeste da cidade, é mantido pela advogada aposentada Maria do Socorro Barbosa e Silva. Com necessidades urgentes de obras de infra-estrutura, ração, medicamentos em geral e até potes para comida e água, o abrigo foi forçado a suspender a adoção de animais, já que a meta é oferecê-los somente quando castrados e com as vacinas em dia. Na esperança de melhorar a situação, Maria e os quatro voluntários do sítio têm planos de começar uma associação, para facilitar a obtenção de apoio junto a empresas e, com isso, conseguir atender as necessidades dos gatos e cães moradores do abrigo. Depois que todos os animais


tinho podem recorrer ao site mantido pela veterinária < www.gatosdo campodesantana.kit.net > (onde também é possível adquirir camisetas e dar apoio aos bichanos) ou recorrer às Campanhas Educativas de Adoção de Animais, realizadas quinzenalmente pela SEPDA, em diferentes pontos da cidade. Há outras maneiras de auxiliar animais abandonados, além da adoção. Quem quiser tomar partido sem levar um gatinho para casa, tem a possibilidade de doar ração, medicamento ou procurar uma maneira que considere a mais adequada para ajudar os abrigos e voluntários que socorrem animais (veja boxe com os endereços).

C

Enquanto isso, a médica continua sua batalha de amparo aos bichanos. Há mais de cinco anos, ela ia uma vez por semana ao Jockey Club da Gávea. Sua missão era esterilizar os gatos de rua, os gatos dos empregados, e os que viviam nas cocheiras (é costume colocá-los junto às moradias dos cavalos para proteger estes dos ratos). Agora, ela pretende retomar o trabalho no Jockey. Nunca é demais explicar que o gato é, sim, um ótimo amigo do homem. Além disso, a espécie, caçadora nata, presta um grande serviço à humanidade (veja a pagina 08), livrando-a de inúmeras doenças transmitidas por insetos e roedores. Então, pensando em adotar?

±

Eles também têm direitos

aso você veja ou saiba de maus-tratos cometidos contra qualquer tipo de animal, não pense duas vezes: vá à delegacia de polícia mais próxima para lavrar boletim de ocorrência. ARTIGO 32 DA LEI FEDERAL Nº. 9.605/98: É considerado crime praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. PENA: detenção de três meses a um ano e multa.

A U

Dois momentos no Campo de Santana: filhotes são abandonados em uma caixa; gatos, cotias e até um pato convivem em harmonia

estiverem devidamente castrados e vacinados, a intenção é criar um site com informações sobre os bichanos disponíveis para adoção, segundo Adriana Rodrigues, voluntária do abrigo desde dezembro.

AJUDA E ADOÇÃO

Além de estar expostos a possíveis crueldades, gatos abandonados podem ser reservatórios de zoonoses – como raiva, sarna, micoses e verminoses, entre outras doenças. Por isso, ao recolher um animal da rua,

é importante observar seu estado e notar se ele possui feridas ou alguma doença de pele. Antes de levar o animal para casa, é recomendável que seja examinado por um veterinário. Segundo Andréa, gatos vivem bem mesmo em apartamentos e não exigem do dono cuidados complexos: — É importante levá-los ao veterinário ao menos uma vez por ano, manter a água limpa, observar as fezes e a urina e oferecer ração de boa qualidade – ensina. Os interessados em adotar um ga-

aprovação de projetos de leis que protegem os animais são algumas das conquistas dos amigos dos bichanos no Estado do Rio de Janeiro. Um exemplo é a lei número 3714 de 21 de novembro de 2001, que proíbe a participação de animais em espetáculos circenses. Outro é a lei número 4808 de 4 de julho de 2006, que assegura a entrada de cães-guia em transportes públicos coletivos, entre outras disposições. A SEPDA possui uma Ouvidoria para atender a denúncias de maus-tratos e informações sobre animais abandonados. O contato pode ser feito pelo telefone (21) 2503-4577, das 9h às 17h.

ALGUNS ENDEREÇOS PARA ANOTAR I Para entrar em contato com o Abrigo da Mariazinha escreva para: adriana@gappo.com.br I O site da ARCA Brasil é < arcabrasil.org.br >. A ONG, em seus mais de 14 anos de existência, dedica-se a projetos de conscientização da população, e, para isso, tem buscado o apoio da classe médico-veterinária.

E

xistem muitos outros portais destinados a ajudar essa população de rua a encontrar um dono:

I

www.gatinhosdeniteroi.blogger.com.br

I

adoteumgatinho.wordpress.com

I

gatosdorio.sites.uol.com.br

I

www.casadocaoegato.com.br

U

ma das entidades mais populares e antigas, a Suipa (Sociedade União Internacional Protetora dos Animais), fundada em 1943, tenta incutir nas pessoas a noção de que antes de se pensar em comprar, por que não adotar um animal. A tarefa de conscientização é árdua... I www.suipa.org.br

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CAPA

Da veneração à calúnia ao longo da história

Q

uando Jesus clamou de sede no deserto, o gato estava lá e trouxe-Lhe uma vasilha com urina. O cachorro, sincero e bom, trouxe-Lhe água. Essa crendice ainda sobrevive em espaços do Brasil afora. Há gente que jura estar o episódio nos evangelhos. Para muitos, a crença absurda justificou e justifica o desprezo ao gato. Para outros, serviu de desculpa para persegui-los. De qualquer forma, podemos aferir que os gatos são mais atacados pelos humanos que os cachorros? Gatos talvez sejam mais precavidos. Além disso, são muito ágeis, leves e pequenos, e isso facilita a fuga. Não fossem essas características, as histórias de maus-tratos seriam ainda mais abundantes. Cada um de nós tem uma história dessas, bem próxima, para contar. Uma conhecida minha, falando da infância, costuma relembrar o hábito de afogar gatos. Adulta, aprendeu a respeitá-los. Até criou alguns. Nada disso impediu que o seu filho, criança de sete anos, arremessasse um filhote do alto da escada. O bicho ficou aleijado. E sobre a má vontade contra os gatos pretos, o ódio ou medo deles? Ativistas dos direitos dos animais fizeram uma manifestação com faixa (“gato preto: sorte de quem tem um!”), cartazes e apitaço dia 31 de março, em Campinas, diante de um hotel onde ocorria palestra de uma sensitiva. Motivo? Dias antes, no programa “Pra Valer”, da Rede Bandeirantes, a mulher orientara os telespectadores para terem “cuidado” com o gato preto, e se tivessem o animal, se desfizessem dele.

OS TEMPOS ÁUREOS

Até recentemente, achava-se que o gato foi inicialmente domesticado no Antigo Egito, onde era venerado. Contudo, em 2004 um túmulo foi

U

Gato preto: fanatismo e ignorância o transformaram em vilão

escavado na ilha de Chipre, ao sul da Turquia, e lá dentro dois esqueletos repousavam muito próximos: o de um homem e o de um gato. O túmulo é estimado em 9.500 anos. De mais preciso se sabe que pelos egípcios o gato foi domesticado em torno de 4 mil a.C. Este se tornou útil para o controle de pragas nos estoques de grãos. Aquele povo ficou tão impressionado com as qualidades de caçador e inteligência da espécie que passou a considerá-la sagrada. A deusa Bastet, deusa da fertilidade e felicidade, era representada como uma mulher com cabeça de felino. Do Egito os bichanos foram levados para a Itália. Na Roma Antiga tornaram-se um símbolo de indepen-

dência: a deusa da Liberdade trazia sempre um gato descansando aos seus pés.

QUANDO A SORTE MUDOU

Na Idade Média, a roda da fortuna moveu-se para baixo e foi o pior momento para eles. A ligação dos gatos com os cultos pagãos desencadeou uma campanha violenta da Igreja Católica contra eles. Nos mitos escandinavos, por exemplo, a deusa do amor e da cura, Freya, era associada a estes animais. O culto a ela foi considerado hereria e seus membros foram torturados e mortos. Os gatos tiveram o mesmo destino. Em geral, os gatos sofriam a acusação de demoníacos, principalmente os de cor preta. Uma pessoa que

fosse apontada como amiga desses felinos, principalmente pretos, arriscava-se a ser denunciada por buxaria. E as bruxas e bruxos, junto com os gatos, eram responsabilizados por acidentes e catástrofes de qualquer tipo. Mais uma vez, tortura e morte esperavam a todos. Na Europa medieval, o Dia de Todos os Santos era comemorado pelos cristãos jogando-se sacos cheios de gatos vivos nas fogueiras. Para completar a tragédia, em 1232, o papa Gregório 9º incentivou a perseguição quando anunciou publicamente o seu horror aos pobres animais e os qualificou como satânicos. No ano de 1400 a espécie esteve a ponto de desaparecer, e a diminuição de gatos na Europa contribuiu para que a Peste Negra, propagada por ratos, tivesse sido a pandemia que liquidou um terço da população do continente no século 14. Já na Renascença, o papa Inocêncio 8º promulgou uma lei incentivando a morte dos felinos. A lei só foi revogada por Luís 13 da França (1601-1643). Após tantos séculos de perseguição, muitas superstições restaram. Cruzar com gato preto dá azar. O gato é o olho do diabo. Edgar Allan Poe (1809-1849) imortalizou esses valores macabros em um conto fabuloso. O cinema fez o mesmo no século 20.

A REABILITAÇÃO SOCIAL

A roda da fortuna só trouxe certa paz para os gatos a partir do século 17. Eles recobraram prestígio por sua habilidade em caçar roedores, fonte de doenças e perdas nas lavouras. Eles voltaram a ser aceitos nas casas e até nos navios. Finalmente, no século 19, os gatos são exaltados por escritores como Victor Hugo e Baudelaire e ganham prestígio nos lares de todas as camadas sociais. Há quem diga que os humanos toleram mal o fato dos gatos serem um tanto altivos e independentes. Nessa linha de pensamento, os cachorros seriam mais simpáticos por conta de certa submissão e dependência. Mas, convenhamos, há espécie mais arrogante do que a nossa? (Luiz Renato Dantas Coutinho) 3S

O LEITOR ESCOLHE Voltado às questões que têm mobilizado a sociedade civil no Brasil e no mundo, o Terceiro Setor em Ação é um jornal que depende muito da sua opinião. Escreva para leitor@terceirosetor.jor.br sugerindo os assuntos que você gostaria de ler por aqui.

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A Nova Roma hoje e amanhã

POR LUIZ RENATO DANTAS COUTINHO

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ara o senador Jasper Irving (Tom Cruise), os EUA são a Nova Roma a levar justiça e democracia enquanto levanta suas fortificações no Oriente Médio, entre os “bárbaros”. Para o professor de ciência política de uma universidade na Califórnia, Stephen Malley (Robert Redford), a Nova Roma está em chamas e já entrou em decadência. O filme LEÕES E CORDEIROS (EUA, 2007, 92 min), lançamento em DVD, é uma bem elaborada exposição da vocação externa americana e de seus dilemas interiores. O senador Irving é candidato à presidência e conta com 77% da aprovação do partido. Em sintonia com Bush, de quem é amigo, ele concede entrevista à jornalista de TV Janine Roth (Meryl Streep), que se mostra incrédula e mordaz diante da revelação bombástica de que uma manobra está sendo efetuada no Afeganistão naquele momento. Trata-se de uma ação das forças especiais norte-americanas, que pretendem cortar o fluxo de rebeldes para o Iraque. Estes supostamente partem do Irã e chegam ao seu destino final atravessando o sul do Afeganistão. Janine relembra o fracasso da campanha no Vietnã, mas o senador tem resposta para tudo: – Cometemos muitos erros no passado, mas devemos pensar no futuro. Faremos o que for preciso para levar a paz ao Iraque – ele diz. – Então ficaremos lá para sempre, como os romanos? – rebate a jornalista.

CONSCIÊNCIAS COMBATIVAS

Stephen Malley, o professor vivido por Robert Redford (em ótima atuação como alter-ego de uma consciência de esquerda), também se lembra do Vietnã. Ele esteve lá. Do idealista que fora há 30 anos, quando pensou que escreveria livros capazes de mudar o mundo, Malley tornou-se um nome esquecido den-

tro da própria faculdade. Contenta-se em descobrir e fomentar consciências combativas entre seus alunos. Ele explica a um deles, Todd (Andrew Garfield), oriundo de bons colégios e da elite: – Os primeiros que se alistam são aqueles que o país não trata bem. São pessoas que se matam por bobagem em áreas pobres, enxergadas pelo poder público somente quando ocorrem tumultos ou alguma chacina. Os jovens estão mais apáticos hoje do que há 15 anos. As ruas se deterioram ao nível do Terceiro Mundo. Nas áreas pobres, as escolas têm detectores de metal e os professores se armam com sprays de pimenta. Qual a solução? Reclamar? Desistir? Resposta do professor: – Bater em portas, lamber envelopes, gerar qualquer tipo de ação, mesmo que ela pareça estéril. Todd está relutante em voltar às aulas da matéria: – Os congressistas pregam a ética enquanto secretamente se locupletam – ele diz.

LÓGICA SOCIAL DA GUERRA

A defesa de um Estado mínimo se desgasta dentro e fora dos EUA. Até Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia, onde trabalha nosso professor Malley, passou a defender mais participação do poder público. Por ora, o crescimento do Estado, e em dimensões inéditas na história dos EUA, tem acontecido estritamente em seu aparato bélico a partir do 11 de setembro. Enquanto isso, o colega pobre do aluno Todd, o afro-americano Arian Finch (Derek Luke), se alistou e foi para o front iraquiano. Todd jamais aceitaria ir. Cada um à sua maneira, Todd e Arian, seguiu a lógica social em época de guerra referida pelo professor. Porém, todos no filme sabem que os EUA levam a democracia apenas aonde os interessa. Os reis sauditas, nada democráticos, continuam sendo pagos por Washington.

U Robert Redford, que também dirigiu o filme, é um cientista político idealista que lutou no Vietnã

Uma mulher e seu continente

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utobiografia de Wangari Maathai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 2004, o livro INABALÁVEL (Nova Fronteira, 400 páginas) conta a história dessa mulher que fez em sua vida pessoal um percurso semelhante ao do próprio continente, que entrou na modernidade pelas mãos do europeu, mas optou por seguir um caminho genuinamente seu. Nascida de pais camponeses numa aldeia do interior do Quênia em 1940, sua abertura ao mundo e às idéias livrou-a de ressentimentos chauvinistas que muitos de sua geração abrigaram contra os antigos colonizadores. Sem perder de vista a dicotomia dominador-dominado, Wangari generosamente consegue enxergar o que de bom ficou do legado colonial. Bióloga ligada ao movimento ambientalista e atualmente ministra assistente do Meio Ambiente do Quênia, ela mostra em sua autobiografia que também tem outras qualidades além de sua ferrenha determinação pela preservação do planeta. Boa contadora de histórias, Wangari Maathai conduz com facilidade o leitor por uma África em transição desde sua infância, numa era ainda colonial, até o limiar do novo milênio, no qual globalização é a 3S palavra de ordem.

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OTIMISMO DIGITAL CID ANDRADE

cid.andrade.work@gmail.com

ECOLOGIA NA PRÁTICA

vergonha, do absurdo, do crime, que é o fato de o Brasil não ter um sistema ferroviário para transporte de passageiros. Nem mesmo entre as megalópoles, como Rio e São Paulo. Dá vontade de chorar, é algo patético para um país que se imagina civilizado. Exija dos políticos em quem você votou que eles lutem pelo trem, com toda a urgência. Enquanto isso, no engarrafamento, desligue o motor do seu automóvel se for ficar parado mais do que 30 segundos. Neste caso, ele gasta mais combustível do que se desligar e ligar de novo. 3S ○

Cinco maneiras de viver uma vida mais inteligente

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- A primeira coisa a se fazer é calcular a quantidade de terra necessária para que você possa ter o nível de vida que tem, a tal “pegada ecológica” que deixamos, como mostra o site http://ecofoot.org/. Em outras palavras: para plantar/criar tudo que você come, a energia que você gasta, os produtos que você consome, seria preciso um terreno de quantos hectares? O questionário não é tão longo assim, e o resultado vai te espantar. No meu caso, são necessários 4,7 hectares de terra para produzir o que eu consumo, o que talvez seja um disparate: se dividirmos a terra útil do planeta pelo número de habitantes, teremos apenas 1,8 hectare pra cada um. Em nosso país, a média de consumo é de 2,4 hectares por habitante. Reparem que mesmo o Brasil, um país em desenvolvimento, já consome mais do que a matemática pura e simples permitiria! Imaginem então as conseqüências do consumo nos países desenvolvidos. No meu caso, ao final do questionário o resultado é implacável: “Se todos os humanos consumissem como você, seriam necessários dois planetas Terra e meio para dar conta do recado”. O que prova que precisamos, com urgência, consumir menos, e se possível com mais qualidade.

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- A iluminação de uma residência representa 10% do seu consumo total de energia. Então trate de dar uma mexida nos móveis e na decoração, de maneira que a maior quantidade de luz do Sol consiga entrar. Na medida do possível, opte por cores claras, que ajudam a refletir e espalhar a luz (mesmo a luz artificial), e vão te ajudar a precisar de menos lâmpadas ou lâmpadas menos fortes. Cuidado também com os móveis grandes que criam zonas de sombra. Posicione-os de maneira inteligente.

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- Ainda com relação à energia elétrica, faça uma caça ao desperdício. Comece desligando o standby do microondas. “Ah, mas ele marca a hora!” E seu relógio de pulso? E seu celular? E seu mp3 player? (De qualquer forma, olhe menos pro relógio e viva melhor a vida). Desligue também o standby do home theater e o computador que você deixou ligado, baixando um filme cujo download já terminou há tempos e você ainda não foi lá conferir. E desligue o monitor! A cada seis meses, descongele o congelador da geladeira (caso não seja frost free), e no inverno baixe a intensidade da geladeira como um todo. De tempos em tempos, tire a poeira de todas as lâmpadas da casa, o que pode fazer com que você ganhe 40% a mais de luminosidade. Nada mal.

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Reis demais para pouco espaço: colunista fez as contas e descobriu que os hábitos de consumo dele (como os de muitos de nós) estão muito acima do que o planeta pode suportar

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- Viva a classe A! E não estou falando nem de classe social, mas da classe de consumo energético. Os eletrodomésticos de classe A consomem três vezes menos que os de classe C, por exemplo. Eles custam um pouquinho mais caro, mas em pouco tempo você compensa isso na sua conta de luz.

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- Na hora de viajar, se o trajeto for menor do que 1.000 quilômetros o ideal é ir de trem, que consome 35 vezes menos energia que o avião. Ônibus também polui e, no caso dos trajetos grandes, é um saco, horas e horas sentado. Já sei: você agora está percebendo e/ou calculando o tamanho da

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RODRIGO FURTADO <www.rodrigofurtado.da.ru>


Se você tem informações sobre uma dessas crianças ou se seu filho(a) desapareceu, entre em contato conosco.

Ligue!

(21) 2286-8337 Rua Voluntários da Pátria, nº120 - Botafogo - RJ - CEP 22.270-020 www.fia.rj.gov.br e-mail:soscriancasdesaparecidas@fia.rj.gov.br

NICOLLE MORAES DE ARAUJO IDADE: 3 ANOS DESAPARECIMENTO: 25/12/2007

KEEZE CAETANO DE VASCONCELOS IDADE: 16 ANOS DESAPARECIMENTO: 14/12/2007

CRISTIANY MATOS NASCIMENTO IDADE: 13 ANOS DESAPARECIMENTO: 15/10/2007

CAROLINE MENEZES CARDOSO IDADE ATUAL: 12 ANOS DESAPARECIMENTO: 14/04/2003

DYANNA SOARES CONCEIÇÃO IDADE ATUAL: 13 ANOS DESAPARECIMENTO: 19/06/2005

DOUGLAS TEIXEIRA RAMOS IDADE ATUAL: 16 ANOS DESAPARECIMENTO: 22/05/2006

EWERTON GUSTAVO DA SILVA RODRIGUES IDADE: 10 ANOS DESAPARECIMENTO: 31/07/2005

HERISON RAMON SANCHES FARIAS IDADE: 12 ANOS DESAPARECIMENTO: 10/01/2007

JONAS DE FREITAS LINS IDADE: 16 ANOS DESAPARECIMENTO: 07/09/2007

MICHELE SANTANA DE ARAÚJO IDADE ATUAL: 14 ANOS DESAPARECIMENTO: 21/11/2002

SAMUEL MUNIZ GARCIA DA SILVA IDADE ATUAL: 11 ANOS DESAPARECIMENTO: 30/05/2007

WESLEY DA SILVA HONÓRIO IDADE ATUAL: 3 ANOS DESAPARECIMENTO: 16/02/2007

PROGRAMA

SOS

CRIANÇAS

D E S A PA R E C I D A S DR. EDMILSON SOBRAL FERREIRA DA SILVA OAB-RJ 113.733

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2242-2191 Cel: (21) 9569-9123 DE 2007Tel: (21) 3º Setor em Ação}


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