Um Ou Mais Graus de Separação

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Veludo

O

veludo continuava suave em suas mãos. A textura era diferente – como se o tempo tivesse retirado parte de sua sensibilidade; não que ele estivesse reclamando, mas o veludo daquela cadeira o fazia sentir-se em casa. Enquanto ele passava a mão pelo braço daquela cadeira, daquela velha, imensa poltrona, seu olhar cansado perdia-se pelo salão, e ele enxergava as luzes, as cadeiras, os risos, os belíssimos vestidos femininos que rodavam pelo salão. Enxergava também a reluzente árvore de natal, que pairava perto dele, com os embrulhos rodeando-a pelo chão. Enxergava-a também, atravessando o salão, buscando-o, com o seu olhar firme, seu porte elegante – mas, quando ela chegava e a realidade voltava, ele apenas enxergava a velha árvore de natal; sem vida, vazia. Ele via a tinta da parede descascando suavemente, onde em tempos não tão distantes era tão belamente pintada. Ele via as teias de aranha que há muito cobriam os espelhos que não eram nem de longe o que costumavam ser. Enxergava a escuridão na sombra dos móveis. O vento nas longas cortinas. O vazio. Os tapetes e tapeçarias. Enxergava a mesa vazia, suas cadeiras desocupadas. Sentia o silêncio. E mais, sentia o veludo da cadeira – da sua cadeira, aquela que sempre fora dele, e que agora estava envelhecida e mofada. Seu olhar mirava perdido ao redor do salão; seus óculos, abandonados em uma corrente ao redor do pescoço. Ele descobrira a solidão. A solidão que os anos haviam 15


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