Anais - Interaction South America 09

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dores sentiram-se muito bem-vindos e acolhidos, sendo tratados como visitas ou amigos, convidados a almoçar ou tomar lanches e a voltar futuramente. Os participantes mostraram-se satisfeitos em poder ajudar e foi visível o esforço de muitos em colaborar ao máximo com a pesquisa. Por outro lado, não fizeram muitas perguntas sobre a finalidade da entrevista. Já nas entrevistas realizadas com famílias do grupo II, os pesquisadores sentiram muitos dos participantes menos disponíveis. Todos foram gentis e não houve nenhum constrangimento na realização das entrevistas, mas em geral o tempo passado nas residências desse grupo foi bem mais curto e as entrevistas foram mais objetivas, já que as respostas dos participantes eram em geral mais pontuais e eles faziam menos digressões para contar experiências vividas ou memórias subjetivas. Essa diferença de postura entre os grupos de participantes ultrapassa as diferenças na forma como se relacionam com os sofás em suas residências, havendo inclusive consonância em muitos aspectos dessas relações. 3.1.2. Papéis do sofá

A partir das entrevistas realizadas, nota-se que o sofá é um móvel que assume diversos papéis nas residências, muitos deles repetindo-se em várias das famílias entrevistadas. Dentre os participantes do grupo I, o sofá é entendido principalmente como um objeto confortável, para descansar, onde se pode fazer (e de fato se faz) de tudo. Os moradores demonstram grande afeto pelo objeto, referindo-se a ele como um item muito importante de suas casas, parecendo valorizá-lo mais que o restante dos móveis. Mesmo que durante as entrevistas

Figura 4: planta-baixa do apartamento de uma família do grupo II, em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro.

tenham sido observados problemas ergonômicos ou dificuldades de acomodar o objeto no ambiente doméstico em razão do tamanho, os participantes desse grupo fizeram poucas críticas ao móvel. Pelo contrário, vários participantes fizeram muitos elogios à qualidade do sofá, pelo conforto proporcionado, assumindo uma postura como que de gratidão por possuírem esse objeto e nele poderem usufruir momentos de descanso e de convívio familiar. Já dentre os participantes do grupo II, o sofá é um elemento tradicional da sala, cuja função entendida é principalmente receber e acomodar visitas, mesmo que não seja esse o uso predominante. Muitas pessoas desse grupo não têm o costume de utilizá-lo sozinhas, apesar de saberem que outras o fazem, preferindo a cama para atividades como leitura e descanso. Em ambos os grupos os participantes comentaram que o sofá é o que permite que a sala seja “de estar”, pois acomoda visitas que não poderiam ser recebidas em outros cômodos como o quarto de dormir, o que seria constrangedor por ser um ambiente mais íntimo. Outras observações são comuns a famílias de ambos os grupos. É unânime a percepção de que o sofá forma uma dupla com a televisão, sendo posicionado sempre em função da localização desta (Figuras 4 e 5), em geral determinada pela disponibilidade da antena ou pela configuração do cômodo, considerando-se o tamanho das paredes e a posição das janelas (que podem causar reflexos na televisão). A posição da televisão define também o modo de sentar dos moradores. Quando o sofá fica perpendicular a ela, as pessoas deitam no sentido longitudinal, apoiando a cabeça no braço do móvel. Quando o sofá fica diante da televisão, é mais comum que as pessoas se sentem, apoiando os pés em bancos, cadeiras ou pufes para esticar as pernas.

Figura 5: planta-baixa da casa de uma família do grupo I, na Penha, na zona norte do Rio de Janeiro.

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