Almanaque Socioambiental Parque Indígena do Xingu 50 anos

Page 34

o coração do brasil

RESISTÊNCIA A maior parte dos povos da costa leste do país foi dizimada pelos coloni­

capítulO 1 | parque indígena do xingu

a terra e os recursos naturais; modos de cantar, de dançar, de se pintar e enfeitar, de contar histórias, de se relacionar; formas de se alimentar, de respeitar os espíritos dos seres vivos e não vivos. Es­ ses conhecimentos são compartilhados há muito tempo e fazem com que cada cultura seja o que é e se renove sempre. Os povos que falam a língua do tronco linguístico macro Jê, por exem­ plo, como Xavante, Panará e Kayapó, localizados na região Centro­Oeste do Brasil, tinham o costume de sair de suas aldeias por longos períodos e andar com suas famílias por um vasto território para caçar e coletar frutos e cocos. No caminho, encontravam recursos naturais para confeccionar enfeites utilizados em grandes festas nas aldeias, como acontece ainda hoje. Naquelas expedi­ ções, encontravam pessoas de outras aldeias e de outros povos e a troca de conhecimentos entre culturas acontecia. Hoje, quando esses povos saem de suas aldeias e ultrapassam o limite de seus territórios, que até há pouco tempo não eram delimitados, eles se relacionam com a sociedade envolvente. Ela é com­ posta por migrantes não indígenas que ocuparam seus territórios tradicionais e formaram vilas e cidades. Nesse contexto, influenciados pela difusão da televisão, da religião e do consumo, os empréstimos culturais continuam e as culturas indíge­ nas se relacionam com a nova realidade.

zadores portugueses, que exportaram para a metrópole de origem os recursos naturais e matérias­primas daquela re­ gião. Hoje restam apenas 7% de Mata Atlântica. Mesmo após o genocídio dos povos da região Nordeste, lideranças Pataxó (BA) e Tingui Botó (AL) lutam pelo direito de garantir sua identidade, seus conhecimentos e modos de vida. Até agora foram demarcados apenas 20% dos territórios indígenas reivindi­ cados nessa região – e as terras demar­ cadas são muito pequenas. Não foi diferente com os povos do Sul e Sudeste do país – privados, por violên­ cia ou fraude, do direito sobre a terra. Os povos Krenak, Maxacali, Xacriabá e Xucuru de Minas Gerais e os Guarani M’Bya e Pankararu, de São Paulo, per­ deram grande parte de seus territórios tradicionais, mas ainda assim mantêm e transmitem seus conhecimentos para as novas gerações. O maior contingente indígena no Brasil está fixado nas regiões Norte e Centro­Oeste, e a maior extensão de área verde, manejada de maneira sustentável há séculos por essa população, está lo­ calizada em suas terras hoje demarcadas. No entanto, estão em franca expansão grandes empreendimentos como hidre­ létricas, estradas e hidrovias, e o agro­ negócio baseado na produção extensiva de grãos e de carne. Em consequência da ocupação desenfreada, em 2010 foi registrado o maior índice de queimadas na região Centro­Oeste e a maior seca dos últimos tempos na região Norte. Por conta disso, estamos assistindo à devastação

almanaque socioambiental parque indígena do xingu 50 anos

33


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.