Almanaque Socioambiental Parque Indígena do Xingu 50 anos

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povos indígenAs no pArque indígenA do xingu

A divisão do trabalho mehinaco tende a dispersar os homens para o mundo exterior, nas atividades de caça, de pesca e de manutenção das atividades sociais, e a manter as mulheres dentro e em torno da atividade doméstica. Os homens que passam muito tempo em suas casas são chamados de "mulheres" nas fofocas da aldeia. Os meninos que se demoram dentro de casa são postos para fora por seus pais. A maior fonte de alimentos dos Mehinako vem das roças, trabalho eminentemente feminino, depois da derrubada do local de cultivo, feita pelos homens. A pesca, atividade masculina, é a segunda fonte de alimentação e ocorre em pesqueiros ao longo do rio Curisevo. São os mais velhos que desfrutam de direitos exclusivos em relação a um grande número de cursos de água represáveis no tempo da seca e que repartem a pesca com os habitantes de sua casa e com seus parentes. O conjunto de indivíduos que moram numa casa é designado “os donos da casa”, expressão que não só identifica os residentes como também uma unidade significativa no discurso político, Ou seja, um chefe pode convidar “os donos da casa” de uma residência para participar de uma atividade coletiva. Para os Meinako, todos os povos altoxinguanos são putaka, ou seja, têm uma só origem, pois "comem as mesmas comidas". Os wajaiyu são os "índios selvagens", que vivem além das fronteiras do mundo altoxinguano, com os quais convivem desde a chegada dos irmãos Villas Bôas e a criação do Parque. No passado, os Mehinako sofreram ataques dos Ikpeng, Kisêdje e outros povos wajaiyu que haviam atacado os altoxinguanos em busca de mulheres e de vasos de cerâmica. Os Mehinako explicam as diferenças entre eles e os wajaiyu nos termos da mitologia. Em tempos remotos, o Sol fez os povos do Alto Xingu, dando a cada um deles um lugar para viver e um modo de vida. Os wajaiyu (apresentados, em muitos mitos, como prole de animais) jamais obtiveram os rituais, os implementos e a cultura dos altoxinguanos. Os wajaiyu são exemplos de tudo o que pode ser errado em relação ao comportamento humano.

Você sabia? S o espaço, a forma e a localização das coisas interessam especialmente aos Mehinako, o que se reflete em sua própria língua, na qual os substantivos indicam a forma dos objetos e alguns verbos devem ser modificados para mostrar a distância entre aquele que fala e o evento. Assim, coisas côncavas – como cestas, e mesmo a aldeia como um todo – levam o morfema (yaku), que as classifica como diferentes das coisas maciças. objetos lineares – cipós, gravatas, fios de algodão, bancos e cordas – levam o morfema (pi), que denota linearidade. Em qualquer língua há maneiras de expressar essas distinções, mas entre os Mehinako elas não são optativas. São exigidas pela gramática. S o tempo também é muitas vezes expresso espacialmente. À noite, os Mehinako dizem a hora indicando a localização da lua ou das constelações. durante o dia, pedem informações sobre as horas perguntando: “onde está o sol?” Habitualmente a resposta indica a altura do sol, a partir do horizonte mais próximo: “o sol acabou de nascer”, “o sol está bem para cima”, “o sol começou a se pôr“. A passagem do mês é definida pela posição da lua no crepúsculo e por seu tamanho variável.

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