Edição 0 Som à Letra

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O regresso do “bolachão”

Será que o vinil é uma tendência para ficar ou é apenas uma moda? Foi o que o Som à letra tentou descobrir através de uma visita ao mercado do vinil no Porto. p.2

ENTREVISTA “Gosto de música acima de tudo” p.8

Livro Português sobre Doors premiado em Londres p.7 Rui Pedro Silva é jornalista e autor do livro ”Contigo torno-me real “ . O anúncio dos vencedores foi feito no passado dia 10, mas a entrega dos prémios ocorreu no dia 17 de Dezembro .A obra

recebeu

PUB PUB

Motown celebra 50 anos p7

uma

menção honrosa na área de nãoficção.

António Lobo Antunes critica preços dos livros em Portugal p7

Música e bebés p14


DESTAQUE 2

om à letra

O regresso dos “bolachões” Uma visita ao mercado do vinil no Porto

As lojas são significativas e as vendas evoluíram positivamente

em

Portugal.

É

saudosismo?

A

curiosidade dos mais jovens? A suposta qualidade? Ou simplesmente porque o “bolachão” é muito mais

vendas é vinil”, apesar de apostar na venda de outros dispositivos. No site da

U

loja evidencia-se um comércio que abrange dispositivos como o vinil, mas também CD's e DVD's.

m mercado de nichos

Apesar da tendência actual de recurso ao vinil, o nosso país não pode deixar de negar a crise bonito? Foi o que o Som à Letra tentou descobrir, económica. Esta crise financeira repercute-se através de visitas a algumas lojas de música na nos “bolsos dos consumidores”. Nestas alturas, a primeira coisa a cortar são os cidade do Porto. gastos de luxo, onde a cultura se insere. Idas a teatros, compras em lojas culturais, são tidas como gastos superficiais numa moda apresenta tendências, verificáveis sobretudo no vestuário. época onde poupança deve ser a palavra de ordem. De facto, uma moda conflui estilos de anos que marcaram uma Por outro lado, existe um determinado tipo de comércio que não se época (nacional ou estrangeira). No enquadra nas lojas “comerciais” e que se encontra dependente de entanto, actualmente as tendências gostos selectivos, heterogéneos. Por consequência, na actualidade, este tipo de lojas apresentam uma dupla dificuldade: alcançar o Metade das nossas retrospectivas têm-se alargado a outros campos, público selectivo e enfrentar a actual crise económica. sendo a música um deles. O comércio do Porto vendas é vinil” Paulo Vinhas, funcionário de uma das duas lojas de vinil (vinil novo) do abarca na sua oferta estas duas tendências. Rui Quintela ,da loja edifício Artes em Partes reporta-se ao seu trabalho como “quase um Basta um olhar sobre a panóplia de lojas de roupa, negócio de risco, com alguma vanguarda”. Mas desdramatiza o actual mas também de lojas de música existentes, onde Louie,Louie contexto económico em paralelismo com a sua actividade:”Estamos em crise desde 1975. Nunca vivi noutro regime económico, e sempre para o vinil ocupa lugar de destaque. Não somente para um nicho de mercado”. a velha geração, mas também para os mais jovens.

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A Rua Miguel Bombarda é palco de vanguardismo artístico através das suas exposições, do centro comercial Miguel Bombarda, mas também através de um edifício subdividido em diferentes tipos de arte, onde o vinil também se

Moda e tendência para ficar

integra: o espaço Artes em Partes. Por outro lado, a Rua do Almada abraça igualmente uma variedade de lojas que apostam bastante no mercado do vinil:

Louie, Louie; Lost Underground; Retroparadise; Zona 6. Desde o início deste ano, a imprensa tem-se reportado ao recrudescimento de interesse pelo vinil.

O jornal Correio da Manhã, por exemplo, noticiava a 28 de

Agosto deste ano: “Vendas de discos em vinil disparam em Portugal”.” Os dados são da Associação Fonográfica Portuguesa: a venda de álbuns em formato de vinil aumentou 54.250%, enquanto o comércio de singles em vinil cresceu 1009%”.Além disso, a 15 de Setembro o Diário de Notícias noticiava que a “Música clássica já reage ao regresso dos discos de vinil”. Isto significa que existe uma preocupação em editar obras em vinil sob uma perspectiva comercial. “Ver álbuns de vinil no escaparate de uma loja de discos vai sendo, novamente, uma realidade cada vez mais frequente. O reencontro com o velho formato, que foi protagonista no mercado discográfico entre finais dos anos 40 e inícios de 90, deu-se com o pop/rock e, logo depois, com o jazz”, revela a notícia. Rui Quintela, que trabalha na loja de música Louie, Louie há quatro anos referiu que” metade das nossas

Ver reportagem áudio

somaletra.blogspot.com

A Rua Santa Catarina no Porto também proporciona um culto ao”bolachão”, de uma forma estilística. Lurdes Caldas vende acessórios nesta rua tradicional portuense. Um desses acessórios são as malas em vinil. As malas já estão à venda de acordo com a comerciante, desde o ano passado . E a adesão juvenil é significativa. No entanto , a comerciante refere que as malas em vinil “abraçam todos os estratos de idade”. Quanto à permanência do “bolachão” , não tem dúvidas :é para ficar. Até porque traduz muita história e por isso não pode ser esquecido. “Vai ficar para sempre como uma grande recordação” , acrescenta .


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DESTAQUE 3

ão é a FNAC que vai afectar o meu negócio:Não colidimos”

O contexto actual revela-se complexo não somente a nível económico, mas também a nível concorrencial. O concorrente mais directo é a FNAC, que absorve grande parte do mercado cultural. Esta constatação não é interpretada de forma igual pelos funcionários destas lojas. Paulo Vinhas refere que “é muito difícil as coisas sobreviverem. Mas não depende da FNAC, não depende de outros mega centros comerciais. Depende da estrutura cultural de um país apenas. Não é a FNAC que vai afectar o meu negócio: não colidimos”. Rui Quintela, apesar de integrar o vinil no seu negócio, não se considera de forma alguma ameaçado pela FNAC. Aliás, considera a sua loja equiparável ao nível da concorrência com a F, considerando o estabelecimento Louie, Louie uma “loja generalista e não de nichos”.

Paulo Vinhas da loja de vinil novo do edifício Artes em Partes revela-se céptico quanto à continuidade deste mercado `, “é muito difícil as coisas sobreviverem”

emos raridades, muitas, muitas mesmo. Só o tempo é que vai dar-lhes atenção”. De facto, enquanto a FNAC exibe em vinil trabalhos como o single “Umbrella” da Rhianna em parceria com o rapper Jay Z, deste ano, a loja Retroparadise por exemplo, possui a primeira prensagem do yellow submarine dos Beatles, entre outras raridades. “A grande diferença da FNAC para estas lojas é que segunda mão é sempre segunda mão. No novo não há comparação possível. Estamos a falar de reedições que a FNAC tem, que não são más, mas que estão um bocadinho aquém dos orignais e eu em particular procuro ter originais”, refere Rosali Speda, funcionária da loja Retroparadise. Paulo Vinhas acentua igualmente o carácter singular dos produtos que oferece:” A loja é de largo espectro musical, desde as coisas experimentais

Na loja retroparadise as raridades em vinil rodeiam a espaço inteiro

dos compact discs (CDs) prometeu maior capacidade, durabilidade e clareza sonora, sem ruídos, tornando os discos de vinil obsoletos. No entanto, apesar do quase desaparecimento do vinil, este actualmente emerge pelas suas intrínsecas vantagens: qualidade sonora, beleza, objecto de colecção, identificadas tanto por jovens como pelos mais “experientes”. ma questão de qualidade Manuel Silva, de 16 anos destaca a qualidade sonora:”é muito melhor mesmo”. “Eu em casa não consigo ouvir um CD, muito menos um mp3. Acho o mp3 A informação ocupa espaço. No caso da informação áudio ou vídeo o espaço é muito bom para uma pessoa fazer pesquisa e ficar a conhecer muitas bastante alargado. Nos finais dos anos 70, os engenheiros da Phillips músicas. Há uma rapidez de circulação de informação. Mas para quem gosta (holandesa) e da Sony (japonesa) tentavam desenvolver um sistema sonoro de ouvir música, os chamados audiófilos, preferem_ eu prefiro _ o vinil”, baseado num medium que fosse mais pequeno que o LP, que comportasse revela Rosali Sepeda. tantos ou mais minutos de música e cuja produção ficasse barata. Desenvolveram, mais ou menos em conjunto, o CD (compact-disc), um suporte que permitia conter até 74 minutos de música com qualidade. Assim, a partir da década de 80 e início da década de 1990, a invenção


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Já Paulo Vinhas acentua o carácter tangível do vinil em relação aos formatos actuais (digitais):”Tem a ver com o ser um objecto tangível ou não. O vinil é um objecto tridimensional, perdura no tempo, prolonga-se, enquanto os outros formatos são muito voláteis, não ocupam espaço, são muito portáteis, descartáveis “. Mariana Faria, funcionária da loja Zona 6, considera que o vinil possui todas as vantagens:” A nível do som, são duas coisas completamente diferentes. O CD é um som digital, mais frio. Não tem os mesmos baixos, graves, sub-graves. São completamente diferentes. O som do vinil é um som com muito mais corpo. É muito diferente ouvir um baixo num vinil e ouvir um baixo no CD. Quem passa música sabe desta realidade”.

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de colecção. Desde que apareceu o formato digital que o lado físico está em queda, e isso muito por culpa do CD. Agora como praticamente o formato digital deixou de ser físico, o vinil começou a ocupar esse espaço. Por isso, muitas pessoas,

parte dos jovens. No site é verificável esta situação:”Todas as semanas produtoras e bandas editam e comercializam os seus trabalhos de suporte analógico/vinil. Apesar das novas conquistas digitais, o CDJ ou os emuladores de Vinil, o suporte analógico está em alta nos meandros da Cultura Urbana”. Não obstante, a forma de sobrevivência no mercado efectua-se através de duas lojas distintas: uma na internet, outra na Rua do Almada. A loja na internet “trabalha com pessoas de quase todo o mundo. Temos um serviço único em Portugal, não o único no mundo. Mas temos bons preços face a outros produtores de vinil à unidade. Então não nos podemos queixar. Isto não é como vender música comercial”, acrescenta.

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mesmo que não tenham o vinil como eu, sentem a necessidade de comprar vinil só para terem em vez de um quadrado minúsculo, uma peça de colecção”. recrudescimento do interesse Rodrigo Vilela, outro jovem, visita a loja Lost Underground com o objectivo de pelo vinil por parte dos jovens encontrar”raridades em vinil, mas também pelos “Num tempo em que a música, através dos leitores CD´s e DVD´s”. Refere, contudo que ainda não erspectivas futuras mp3, conhece desmaterialização, o prazer do vinil sabe se esta tendência do interesse dos jovens regressou aos hábitos dos melómanos. pelo vinil seja para ficar, uma vez que denota no Curiosamente, é o público mais jovem quem está a seu meio ainda “muita dependência do mp3, CD e Uns lojistas são optimistas, outros mais cépticos e aderir em força à "nova" tendência”, noticiava o ipod”. outros realistas. É o caso de Rui Quintela que ao DN a 15 de Setembro deste ano. ser questionado sobre as perspectivas futuras, Esta realidade sente-se nas lojas visitadas. referiu: “Quem é que tem boas perspectivas Sabemos que os mais velhos (os contemporâneos futuras hoje em dia?”. Ainda assim, não considera do vinil) são a priori mais exigentes na compra que este mercado esteja condenado ao deste dispositivo áudio. A exigência ao nível desaparecimento, muito pelo contrário. da qualidade é um requisito comum entre Paulo Vinhas encontra-se mais céptico, uma vez estes velhos consumidores. “Em geral os que” este negócio pode sobreviver, mas é muito mais velhos têm mais preocupação de difícil. Aqui em Portugal é muito difícil. Somos um coleccionador, com edições especiais, país pequeno, periférico, o que dificulta”. estado dos discos. Os jovens interessam-se Rosali Speda, da loja Retro Paralise, refere que mais pela música do que o objecto em si este tipo de mercado pode sobreviver, “ a nível para coleccionar”, explica Francisco mais internacional se calhar, e a internet, a esse Afonso. nível, permite uma circulação mundial, refiro-me à Estabelecer paralelismo entre estes venda e compra para fora. Não há-de ser só diferentes tipos de consumidores revela-se nacional este mercado. O interesse era que o uma tarefa complexa para alguns lojistas fosse. “ desta área. Como refere Paulo Vinhas, “são “Não houve uma grande cultura aqui em Portugal a dois tipos de clientela, porque ofereço uma nível de música estrangeira. Há uma certa determinada estética para os novos e ignorância e desconhecimento de grandes nomes mantenho discos mais clássicos, mais que nem chegaram à Europa, ficaram-se apenas contemporâneos para os mais velhos. Não pelos EUA”, acrescenta. há comparação possível: são dois mundos Óscar Pinho considera que o mercado vai manter diferentes”. se no futuro, tal como está:” “é uma coisa muito Óscar Pinho, funcionário da loja Lost circunscrita: nichos, e acho que vai manter –se Underground refere que, “Os gostos variam assim. Não vai morrer nem vai crescer. Há pessoas bastante ao nível de exigências de qualidade de na 6-aposta na gravação que se vão interessar, outras que se vão material. Há pessoas exigentes, tanto numa desinteressar. Não auguro nenhum mau futuro, e venda do vinil camada como noutra. Não há propriamente uma nem grande “. demarcação”. Já Francisco Afonso refere que é possível este No site desta loja evidencia-se uma tentativa de Rosali Speda, por seu turno, apresenta uma mercado “manter-se, mas com dificuldades. singularização da mesma, dentro do mercado perspectiva diferente acerca do aumento do Crescer mais é difícil. Está no limite. Mas os que musical: “A zona 6 é muito mais do que uma loja, é padrão de exigência por parte dos jovens em existem, conseguem sobreviver”. um projecto de cultura urbana”. relação ao vinil: “Alguns jovens começam também a Mariana Faria, funcionária da loja Zona 6, refere ter essa preocupação, pelo simples facto de que “a nossa actividade principal, para além de ser Sugestão: começarem a trabalhar na área. Há muitos DJs uma loja de discos trabalha sobretudo com A Resistência do vinil agora de vinil. Há poucos de CD, porque é obvio que géneros urbanos. Estamos a falar de música Há-que retirar proveito das o vinil tem muito mais margem de manobra que o electrónica de hip hop, reggae. Temos um serviço CD“. potencialidades da internet. O youtube, direccionado à produção. Hoje em dia quem usa No entanto, nem só os jovens DJs se interessam vinil para gravar música são os DJs. Ora o conceito por exemplo exibe um documentário pelo ancestral “bolachão”. O jovem Luís Silva, por DJ está intimamente ligado ao de cultura urbana.” brasileiro “Resistência do Vinil”, cujos exemplo, há cerca de um ano decidiu explorar o É uma loja, ainda bastante recente (surgiu em lojistas e respectivos estabelecimentos se vinil. “Não tanto pelo vinil em si, mas mais pelo lado 2006) que representa uma aposta no vinil por

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om à letra

5 Luís Guerra colabora na revista musical Blitz. É um conhecedor de música em geral e de tudo o que a envolve. Quanto ao vinil, não tem um relacionamento directo. Os seus 31 anos não lhe permitem um background que acenda o saudosismo que envolve os contemporâneos do “bolachão”. Ainda assim, mostrou-se disponível para falar sobre esta actual “tendência” juvenil de adesão ao LP. Para o jornalista musical, o vinil não sai do mercado. Luís, encontra diferenças na audição em vinil em comparação com o CD ou mp3?

Quando ouvimos um som demasiado cristalino, pensamos imediatamente que foi obra de alguma cosmética de estúdio. Quando o som nos parece mais encorpado mais orgânico, temos a tendência para achar que era originalmente assim, e é isso que o vinil reproduz.

A loja Retroparadise inicialmente vendia roupa de várias décadas marcantes na história (60,70). No entanto , as tendências retro actuais acabaram com esta vertente de negócio da loja de música portuense.

Mas prefere o vinil em relação ao cd ou mp3?

Como não sou um purista do som, no sentido enquanto aspecto técnico, cedo à facilidade de

pegar no mp3 e ouvir a música que me interessa. Acho que o vinil tem um lado ritualístico que implica disponibilidade. Será óptimo no fim de um jantar pegar num disco de vinil com os amigos , perder três, quatro horas a ouvir música e a pegar nos vinis, etc. Mas, para mim não faz sentido, na minha profissão muito menos, onde tenho de ouvir discos com alguma regularidade. Não fará sentido todo esse protocolo. Em termos Acho que o vinil tem um funcionais é contraproducente. Mas lado ritualístico que implica noto de facto um reavivamento . Há uma tendência muito engraçada que disponibilidade. Para mim não faz vamos falar na próxima revista que é o sleeveface, por exemplo vamos pegar sentido, na minha profissão muito na capa do Prince e tentar criar uma menos, onde tenho de ouvir discos situação ambiente , vestuário adequado para aquela capa. Inclusive com alguma regularidade. Não saiu agora um livro sobre sleeveface.

fará sentido todo esse protocolo.

Actualmente verifica-se Em termos funcionais é um renovado interesse contraproducente. dos jovens pelo vinil. Considera que é uma tendência para ficar ou é simplesmente uma moda?

São várias as “raridades” que a loja Retroparadise disponibiliza, incompatíveis com a FNAC, como refere a funcionária da loja, Rosali Speda

Acho que não é uma coisa nem outra. Acho que não é uma moda. Não é algo que se sinta nas ruas, no dia-a-dia. Uma pessoa vai eventualmente a três, quatro blogues sobre música …eu pelo menos nunca verifiquei se aquela pessoa de 14, 15 anos tivesse comprado discos em vinil. As pessoas falam daquilo que vão tirando da internet, eventualmente dos cds que vão comprando. Mas não me parece que seja uma moda entendida como algo que se vê de forma imediata como tendência. Sei que há pessoas mais jovens que , eventualmente por terem até acesso às tendências musicais, é natural que haja um certo afecto por objectos vintage. O às mesmo acontece com a roupa, óculos. Vejo isso mais como uma procura de uma identidade. Dificilmente ouço hoje em dia alguém dizer que é melhor ouvir em vinil do que em cd.

Mas como caracteriza este renovado interesse juvenil pelo LP?

Tem passado por ser uma aposta estética , não tanto uma aposta ética, no sentido em que vamos lá julgar pela beleza do objecto , pela história que ele tem lá dentro, por um certo lado cool, retro, vintage, etc, do que propriamente pela sua qualidade. Não me parece que seja uma moda. Parece-me algo que existe em nichos, associado a uma banda, coleccionador, fetichista por objectos. Não me parece algo que seja do senso comum. Como qualquer objecto que passa de moda , volta depois a estar na “moda”.

Então não prevê o fim do vinil?

“Os jovens interessam-se mais pela música do que o objecto em si para coleccionar”, explica Francisco Afonso.

Não prevejo isso, porque haverá sempre gente interessada .A história da música pop rock não é tão longínqua quanto isso. Cada década que passa , introduz novidades , mas também apresenta revivals. Até porque o vinil já não se faz em grandes quantidades, eventualmente desde inícios dos anos 90. Já lá vão quase vinte anos. e se nesses vinte anos sobreviveu... Com todo este glamour do vinil acho difícil desaparecer.


NOTÍCIAS

om à letra

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CULTURA

Lobo Antunes critica preço dos livros em Portugal Irene leite leite.leit@gmail.com

fundações" como aquela a que está ligado o Clube Literário do Porto, a Fundação Dr. Luís de Araújo, defendeu.

O premio clube literário do Porto

António Lobo Antunes é o quarto autor Na cerimónia de entrega do distinguido pelo Clube Literário do Porto, depois de Mário Cláudio, prémio Clube Literário do Baptista Bastos e Miguel Sousa Tavares Porto, aproveitou para Pelo prémio, recebeu 25 mil euros que deu ás filhas. criticar os preços dos Lobo Antunes, de 68 anos, foi livros em Portugal apresentado pelo jornalista, Há países com maior poder de compra comentador e professor Carlos Magno como um autor que "escreve sobre a onde[os livros] são muito mais contemporaneidade como poucos o baratos” como Alemanha, Holanda e Noruega., refere o escritor português. fazem neste país", fazendo uso de uma "ironia absolutamente a toda a prova". Os portugueses vivem tão mal e os Ao receber das mãos do presidente da livros são “indecentemente Fundação Dr. Luís de Araújo, Augusto Morais, um elefante prateado, Lobo Antunes não deixou de recordar que quando escreveu o livro "Memória de Elefante", que foi o primeiro de uma longa bibliografia, lançado em 1979, ninguém, na altura, queria publicar este livro, que acabou por ser um êxito editorial.

caros”,.Aproveitou ainda para denunciar que “quem lê não são os classes altas , mas a classe média baixa, como se pode observar nas feiras do livro”. Lobo Antunes não deixou de afirmar que em Portugal, os governos pouco têm feito pela cultura desde o 25 de Abril de 1974.:”Quem tem trabalhado com a cultura são as autarquias e são

A ligação ao Porto

O escritor não esquece que tem, no seu entender, "uma dívida de gratidão muito grande para com a cidade", que vem do tempo em que esteve internado num hospital lisboeta, a lutar contra um cancro. "Quando há dois anos estive muito doente, recebi sete, oito mil cartas e a maior parte eram do Porto. Isso é uma coisa que nunca poderei pagar", explicou.

Motown celebra 50 anos Irene Leie Leite.leit@gmail.com

A editora reveladora de talentos da soul criada por Berry Gordy está prestes a cumprir meio século em Janeiro O legado construído pela Motown

Livro português sobre Doors ganha menção honrosa no Festival do Livro de Londres Irene Leite leite.leit@gmail.com

Rui Pedro Silva é jornalista e

participações de músicos portugueses, que falam da importância dos Doors na sua formação musical, como Zé Pedro, Pedro Abrunhosa, Jorge Palma, Rui Reininho, Tiago Bettencourt e a fadista Mariza. O autor, com formação em jornalismo e eleito em 2003 o maior fã português dos Doors, dedicou seis anos de trabalho ao grupo norte-americano, focando as diferentes facetas da banda e reunindo vários testemunhos.

autor do livro ”Contigo tornome real “ . O anúncio dos vencedores

foi

feito

no

passado dia 10, mas a entrega dos prémios ocorreu no dia 17 de Dezembro em Londres. A obra recebeu uma menção honrosa na área de nãoficção. Rui Pedro Silva, 32 anos, considerou esta menção honrosa uma "agradável surpresa", até porque o livro foi apresentado a concurso em edição portuguesa. "Contigo torno-me real" foi editado em Portugal em 2003 pela editora Afrontamento como uma obra sobre o culto a Jim Morrison, vocalista do grupo norte-americano Doors, falecido em 1971 aos 27 anos. Em Março deste ano, Rui Pedro Silva reeditou uma segunda versão desta obra. Aí para além de contar a história de Jim Morrison foca também a dos Doors, através de testemunhos e documentos . A obra ultrapassa as 500 páginas. "Deste ponto de vista acho que o livro é único no mundo, porque reúne depoimentos inéditos", sublinhou Rui Pedro Silva. Entre eles contam-se, por exemplo, os de Bill Siddons, agente dos Doors entre 1968 e 1972, e de Jac Holzman, fundador da Elektra Records, que lançou o grupo, e que assina o prefácio do livro. Há ainda

Motown moldou a música americana da década de 1960, definiu o presente e traçou o futuro da soul, a casa de Marvin Gaye, Stevie Wonder, Temptations, Smokey Robinson & The Miracles, Supremes, Jackson 5 ou Martha & The Vandellas. O seu slogan, "The sound of young America" (o som da América jovem), apontava a uma geração para quem a segregação racial era violência sem sentido. “A raça nunca importou. Éramos como uma família :tocávamos juntos, PUB saíamos juntos, partilhávamos experiências juntos. A Motown era daltónica “, refere Dennis Coffey , guitarrista dos Funk Brothers. É classificada como a editora que levou a música negra ao público branco, mas essa é apenas parte de uma história iniciada em Janeiro de 1959, quando Berry Gordy contrai junto de familiares um empréstimo de 800 dólares. Entre 1961 e 1981 a Motown produziu 110 êxitos de top 10_quase um por mês, o que ia ao encontro de fábrica imparável de sucessos. Actualmente, a Motown pertence à Universal Music e tem no seu catálogo nomes como Erykah Badhu ou Q-Tip. Amy Whinehouse tirou inspiração para o álbum Back to Black nos melhores singles desta editora.

Apesar de ser admirador dos Doors - "já faz parte do meu ADN" -, Rui Pedro Silva disse que este livro não foi feito na perspectiva de um fã, mas com um sentido factual, "com um forte sentido de jornalismo de investigação". "Os Doors foram uma banda muito completa. Não era só a música, havia também o cinema, a forte influência literária, de Rimbaud, de William Blake, da Beat Generation, e pouca gente sabe disso. A morte prematura de Jim Morrison fez com que se falasse apenas dos PUB


om à letra

ENTREVISTA 7

“Gosto de música acima de tudo”

“Dedos na ficha” foi a frase que Isidro Lisboa, locutor na Rádio Nova, do Porto, escolheu para caracterizar a sua vida. O Som à letra foi tentar descobrir o outro lado deste profissional, durante a sua emissão da tarde nesta rádio da invicta. Será que existem dois Isidros completamente diferentes (um pessoal e outro profissional) ou, pelo contrário completam-se?

Entrevista de Irene Leite


ENTREVISTA

om à letra

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stava um dia chuvoso, para uma caminhada na rua João de Barros. Ainda assim, correu-se o risco. Valia a pena. Três da tarde. Chegada ao edifício da Rádio Nova. Só se ouvia o telefone a tocar. Mas, no meio de toda aquela azáfama diária, característica de qualquer rádio, estava o locutor Isidro Lisboa, completamente disposto a demonstrar um lado que os ouvintes raramente têm acesso: o seu lado pessoal. O desafio foi aceite. Com o olhar dividido entre os ouvintes e o gravador, Isidro Lisboa, respondeu a TUDO que lhe foi questionado.

“Acho

que já não existem pessoas como eu”

Deixando de parte o Isidro profissional, como se define como pessoa? [hesitação] É um tipo dinâmico, pelo menos ele gosta de o ser. Não se sente bem estagnado, parado, impávido e sereno. Não…gosto de estar em plena actividade. Profissionalmente sempre foi assim. Enquanto estudava, meti-me na rádio. Ou seja, tenho que arranjar sempre algo mais àquilo que faço. Sinto-me bem quando consigo uma fasquia bem elevada de actividade. Profissionalmente acho que sou também um bocado esquizofrénico. Gosto de estar aqui, mas daqui um bocado gosto de estar ali [aponta para outro ponto da sala], a fazer outra coisa dentro do mesmo ambiente, mas às tantas completamente diferente.

O Isidro profissional é completamente diferente do Isidro social? Ou existe paralelismo? Existe algum paralelismo. [pausa] Sou um pouco eléctrico. E quando estou em contacto com as pessoas, há sempre aquela ideia de falar muitas coisas, muito rápido, de falar isto e aquilo e ramificar para todos os lados. É um pouco isso. Não há uma grande diferença. Eu costumo dizer que sou uma pessoa extremamente honesta. Às vezes tramo-me por isso. Mas vem de família. Somos muito frontais, muito lúcidos, muito transparentes, mas muito honestos também. E naquilo que faço, seja na televisão, na rádio, seja a escrever, seja em público, isto é, no meu âmbito profissional, não vejo grande alteração. Quando estou em contacto com as pessoas ou com a família, não me apercebo de grandes alterações. Existe por vezes, enquanto profissional, da rádio, da televisão, uma postura que se eleva, um nariz que se levanta, um umbigo que cresce. [com ar pensativo] Acho que já não existem pessoas como eu …(risos) …Estou a brincar (risos), mas é um pouco isso. Eu há pouco quando dizia que às vezes me tramo por ser honesto, passa um pouco por isso… Não consigo pôr uma máscara e fazer agora de o senhor profissional da rádio, técnico da comunicação, e manter uma postura mais formal e séria. Nem vou falar em estrelato, não tem nada a ver com isso. Mas não, acho que a minha simplicidade e a minha forma de estar enquanto pessoa, acho que está também presente quando

abro o microfone e quando digo alguma coisa às pessoas.

tendências/estilos) que andei a ouvir num dia inteiro “DJango” Reinhardt , eles começam a olhar para mim de lado como a dizer :”Este tipo não é normal” (risos). Mas tão depressa posso estar Desde quando a música está presente na ouvir Reinhardt como o novo álbum, por exemplo do sua vida, de uma forma mais séria, diria até mesmo apaixonada? Houve influência de Camané que acho que é um disco tremendo, fantástico, ou como também posso estar a ouvir a alguém em especial? coisa mais ruidosa como o último disco dos AC-DC. A paixão surgiu por volta dos oito, nove Não posso dizer um estilo em concreto anos. [breve hesitação] Houve uma influência do meu tio-padrinho. Mas… existem alguns estilos que não gosto Era baixista numa banda de uma espécie de rock tanto, como um rock mais duro, um heavy metal, progressivo, uma coisa estranha para a altura. Ele mais aquelas variantes. pôs-me lá em casa um gira-discos portátil, algo que Em resumo, tenho uns “filtros“ muito não devia ter feito. Devia-me ter oferecido às largos (risos). tantas uma bola, ou uma bicicleta. Começou, sobretudo a partir daí. Já havia Tem algum hobbie que queira destacar em uma ligação. Lembro-me que já ouvia muito rádio. particular? Não sei explicar porquê. Mas lembro-me de ouvir Passo discos em bares e em discotecas. É um muito rádio . gozo tremendo fazer com que as pessoas se Mas acho que o meu tio-padrinho é um dos agitem um bocadinho. Pegando na resposta anterior, a forma como principais culpados. Ele tinha uma série de profissões, entre elas era cabeleireiro. Lembro-me eu organizo as músicas abrange vários estilos diferentes entre si. Eu tento manter um de estar na barbearia, ele tocava para lá umas ambiente de festa. músicas e pedia-me para cantar. Eram aquelas Mas, tanto posso passar uma música da músicas infantis, tipo “atirei o pau ao gato”. (risos) década de setenta, como posso estar a passar Depois, há desde logo uma ligação precoce algo perfeitamente actual. E gosto de fazer essa oscilação. Pegar quem sabe, numa peça com os discos, e a possibilidade de me deixarem pequena de dois, três minutos dos anos trinta, mexer neles, riscá-los e partir agulhas. quarenta, festiva, e encaixar com alguma Acho que sempre me senti muito tocado sanidade ali. Não sou rocker, louco por pop ou pela música, e nem tanto pelos livros. por heavy metal. Gosto de música acima de tudo.

Na adolescência verifica-se um verdadeiro culto à música e a um estilo em específico. Sentiu essa realidade actual, na sua adolescência?

[hesitação] Essa paixão pela música levoume a um desejo de conquista, de querer saber mais, de me aproximar de diferentes estilos e não um em particular. Acho que nunca consegui fazer uma triagem dos diferentes estilos, nem de ter a minha “prateleira”. Eu consigo ouvir de tudo. Posso dizer, por exemplo, que no último fim-de-semana ouvi uma colecção das primeiras ramificações jazzísticas à base do Jean "DJango" Reinhardt, que é um dos nomes que eu gosto imenso, pelo ritmo e pela execução da guitarra. Se eu comentar com os meus amigos mais próximos (que sabem que eu ando sempre à procura das músicas novas, para onde a música electrónica vai, quais são as novas

Não teve nenhum CD que o tenha incitado cada vez mais à investigação musical, ou que o tenha marcado de alguma forma?

[breve hesitação] Essa é complicada... é a velha história. Para quem gosta tanto de música, devora tantos discos… Eu vou dar um exemplo: eu tenho em casa uns largos milhares de títulos em vinil e em CD. Se há discos marcantes …há. Posso dizer que na altura dos oito, nove anos, quando apareceu o gira-discos, que havia um vizinho meu mais velho que me ofereceu L.A Woman dos Doors. Posso dizer que foi um disco marcante, porque foi algo estranho. Imaginese um catraio a ouvir este disco, difícil, Outros exemplos…talvez os Pixies. Inglaterra, América… Dos Pixies é difícil dizer um disco marcante. A banda em si marcou-me muito, e continua a ser das minhas favoritas.


om à letra

ENTREVISTA

o ,u”. Como fazer um REC num leitor de gravação. Eu sempre duvidei muito das nossas instituições, e [pausa] Naquela fase da de quem está à frente pirataria, ilegalidade dos alvarás deste sector. em que me contratam para Mas acha que para passar discos, e para ser o ser locutor de rádio é “DJ”de uma discoteca pequena no concelho de Castelo de Paiva. necessário ter Nessa altura estava também qualidades inatas, ou com remuneração, e já com um é algo moldável com o estatuto profissional enquanto tempo? radialista. Com uma Não acredito na velha remuneração muito mais interessante. Era como hoje em história da vocação. Acho que naturalmente as dia se pode chamar um “Super coisas cultivam-se. Star DJ”, num circuito muito Gostava que existissem pequeno. Percebi que gostava uns centros de formação imenso do que estava a fazer. para as pessoas virem Estava a fazer rádio. Gostava daquela sensação de ser ouvido para o mercado ou, pelo menos para o estágio, já por muitas pessoas. E depois com umas bases bem com esse lado profissional de estruturadas. E o que me perceber que , quer numa actividade quer noutra, era bem parece é que não. remunerado. Principalmente nas Bem, eu vou admitir aqui uma discotecas. Lembro-me da minha coisa, que para quem já está no meio jornalístico, não deve ser mãe estranhar pagarem-me novidade nenhuma. Percebi a tanto nas discotecas, numa determinada altura quando altura em que eu só tinha dezasseis anos. Eles vinham-me estava em Paredes, que me fizeram alguma pressão para buscar, arranjavam-me obter a carteira profissional de apartamento, uma série de jornalista. Porque já tinha alguns regalias. Eu comecei a pensar: eu gosto de fazer isto, estamos anos de redacção, experiência. Eles disseram: isto é simples, a divertir-nos e ainda por cima passamos aqui dois requisitos a estes tipos pagam-me. É esta parte. É o objectivo de qualquer confirmar que existem anos de experiência com as assinaturas pessoa. Estar a fazer o que dos directores, e para a semana gosta e a ser bem remunerado tens aqui a tua carteira de por isso. Mas a verdade é que as pessoas jornalista. Eu disse que não, lá está, a velha questão da olham para nós e acham: é pá… honestidade. estes tipos têm uma profissão Eu não sei se realmente sou fantástica, estão ali a passar bom ou mau jornalista, se tive uns discos e pagam-lhes bem. formação suficiente. Não (risos) Bem, foi mesmo por esta altura, frequentei nenhum curso superior de Jornalismo. Comecei dos meus dezasseis anos que senti realmente que me ia baldar a fazer rádio muito cedo. Mas o facto de andar só a frequentar aos estudos. Queria mesmo estar horas a fio a fazer rádio. rádio, não será o suficiente, confesso isso. Suguei muito dos Investiu na formação bons profissionais com quem profissional como radialista, trabalhei. Andava sempre atrás DJ? deles, de forma a saber a melhor maneira de elaborar uma Não. Eu vou dizer aqui umas notícia, de fazer um lançamento, coisas que as pessoas quando ou seja todas estas partes lerem, vão ficar a chamar-me técnicas. nomes… Por exemplo, aqui na Rádio Nova, Não tenho nenhuma formação apareceram muitos estagiários. jornalística. Mas sinto-me um bocado triste quando vejo Eu sei que os estágios servem pessoas que têm carteira de para as pessoas tomarem contacto com a actividade, com jornalista e quando na realidade às tantas… pronto é mau o que as máquinas. Mas achava estranhíssimo aparecer aqui uma vou dizer a seguir… de pessoas que para escrever um parágrafo estagiária de Jornalismo ou Ciências da Comunicação …eu não cometiam três, quatro erros ortográficos e, no entanto, eram queria dizer isto, mas é quase jornalistas licenciados. como ensinar-lhe o “a. e , i, o,

9

E quando sentiu que a sua vida profissional estaria ligada à música?

Agora também colaboro na área da

Gostava que existissem uns centros de formação para as

publicidade. Nós temos que ganhar a vida (risos). Já agora (risos) não é compatível com a profissão de jornalista gravar campanhas de publicidade.

Qual é a importância da rádio na sua vida?

pessoas virem para o mercado ou, pelo menos para o estágio , já com bases bem

Não queria dizer coisas más, coisas estranhas agora (risos). Porque eu entretanto casei, tenho as duas maiores empresas lá em casa que são os meus filhos, com quem eu me divirto imenso. Ganhei outro interesse pela vida, altera muito. Mas a rádio, a música... Todo este universo, todo este contacto com as pessoas, os discos, os músicos, os concertos. Toda esta loucura…Eu acho que ainda não sou o zombie, porque existem uns que se dizem melómanos, que querem saber todas as informações dos músicos. Acho que ainda não sou maradinho . Gosto de saber as novidades, de estar informado. Por outro lado, uma boa percentagem das pessoas com quem convivo, também estão ligadas ao meio, seja na vertente jornajornalística, sejam profissionais ligados ao som [pausa]. A rádio tem um peso muito forte na minha vida. Ocupa uma

No que diz respeito à rádio, houve uma fase complicada. Andei cerca de dois, três anos a fazer o chamado a fazer o chamado “morning Acho que fui conseguindo. schow”, a manhã um, e a Mas é complicado quando ter de acordar às cinco há rádio, os bares, as da manhã para estar na discotecas e noitadas. rádio às sete. O Mas de uma forma objectivo central consciente ou consiste em fazer três inconsciente, não sei, fui horas de velocidade tentando manter algum total, pelo menos é esse o equilíbrio. Mas, se estou a meu conceito de rádio passar discos até às matinal. É necessário tantas da manhã, tenho alguém que esteja muito que me deitar cedo e bem acordado. Aqui corta adiar por exemplo um muito o social. A pessoa jogo de futebol com o às tantas quer ir ao meu filho. cinema ou a um jantar, e Hoje em dia a situação é depois pensa que no dia diferente porque tento seguinte tem de acordar marcar menos datas nas mais cedo. Talvez nessa discotecas. Assim, altura andasse um pouco consigo ter tempo para A rádio tem um peso muito dormir umas horas forte na minha vida. Ocupa uma e sair com o posição tremenda... meu filho.

Domina ainda a rádio, ou já consegue estabelecer algum equilíbrio com a vida familiar?


ENTREVISTA

om à letra Aqui corta muito o social. A pessoa às tantas quer ir ao cinema ou a um jantar, e depois pensa que no dia seguinte tem de acordar mais cedo. Talvez nessa altura andasse um pouco em desequilíbrio. Mas este horário não representa grande problema. Repare-se que é um horário das 14.00h às 18.00h. De manhã deixo o rapaz na escola e a mais pequena na avó. Ou seja, consigo conciliar as coisas mais ou menos. O caso de ontem é um exemplo. O meu puto anda a dar uns pontapés na bola e ontem ainda tive tempo para assistir ao resto do jogo, ir buscá-lo, levá-lo para casa… dá para conciliar. Nós, às vezes é que perdemo-nos um bocadinho… No caso dos festivais de verão por exemplo, querse ver os dias todos, mas é difícil.

Consegue imaginar-se noutra profissão?

10 Quais são para si as vantagens da rádio relativamente a outros media?

A rapidez… continua a ser por muito que não se queira admitir. Se estiver-se na Avenida dos Aliados e rebentar uma conduta, num espaço de segundos consegue-se transmitir a informação para os ouvintes. A televisão não consegue fazer isso, pelo menos não com imagem. Depois, o facto de a rádio ser só com som…acho que dá mais trabalho, mas é um desafio simultaneamente. Claro que mudaram-se os tempos, mudaram-se os hábitos de ouvir, informar... Eu discordo muito da rádio que agora temos aqui em Portugal.

Porquê?

Ensinaram-me desde muito novo que a rádio deveria formar, informar e vice-versa. Informar para formar sociedades…. Tal não se efectua hoje em dia. Acho que actualmente estamos a atrofiar cada vez mais as rádios. Existe cada vez mais censura, em todos os aspectos. Há tanta música para as pessoas conhecerem, e nós estamos a passar sempre as mesmas. E não muda. É algo complicadíssimo. As rádios tornaram-se empresas. Está presente a lei do menor esforço e o “não vamos ser ousados”. É como se a base de dados estivesse atrofiada (risos). Ainda assim, a Rádio Nova, no meio de toda esta postura comercial, consegue dar uma lufada de ar fresco com a transmissão por exemplo, da nova música do Beck. De qualquer das formas, o português comum não tem a noção dos discos que saem.

Não me consigo imaginar à frente da caixa de um banco, de uma secretária, ou de uma caixa registadora de um supermercado. Estar sem música para mim… eu explico. Quando acordo às sete, a primeira coisa que faço é ligar um dos trinta, quarenta rádios que existem em casa, para saber o que tem acontecido enquanto estive a dormir. Se não sou eu, agora são os miúdos. Chego ao carro. Hoje obrigam-me a conhecer músicas infantis, como a galinha patareca do Serafim e Companhia, o hit que roda lá no carro (risos). De uma forma ou de outra está sempre presente a música. O leitor de mp3 tornou-se moda na nossa sociedade. Eu sou do tempo das cassetes. Eu passava vinil para cassete, e andava com o walkman. Quando faço uma viagem de autocarro, o Qual seria para si o uso ideal deste mp3 serve. Sempre que é necessário ouvir música veículo? O investimento na nova, adianta serviço. Não palavra. Uma Acho que uma larga parte dos dá para fugir. Há sempre rádio que tivesse a música presente. muita gente, que Eu por exemplo, acabei de portugueses não tem pudesse lançar sair de uma consulta de otorrinolaringologia, e o possibilidade para gastar cerca novos discos, que permitisse a novas meu médico cravou-me bandas cantarem para dar uma ajuda numa de 15 euros por mês num disco. POR ao vivo para os festa das comemorações ouvintes, mostrar do centenário do sector, o seu talento. com voz off e até trabalhar o som ambiente.

Portanto, há sempre uma ligação. Eu também não a quero evitar. (risos)

Recorda-se da primeira emissora de rádio onde trabalhou?

Sim, ao todo foram sete já. Lembro-me que comecei a dizer as minhas primeiras asneiras, os meus primeiros erros ortográficos, os meus pontapés na gramática na rádio Independente de Castelo de Paiva, muito cedo, talvez pelos meus 16 anos, um pouco antes das autorizações das rádios por volta de 1986,1987. Passei também pela rádio Penafiel, uma contratação milionária (risos) já depois das autorizações. Estive também numa rádio em Cinfães. Depois precisava de mais agitação, actividade, e estive em Paredes na rádio Terra Verde cerca de 7 anos. Depois a Rádio Nova Era comprou a estação onde estive. Trabalhei lá cerca de um ano. Depois envolvi-me num projecto brasileiro em Vila nova de Gaia, onde estive também cerca de um ano. Uma rádio com um formato meio brasileiro, mas dinâmica. Nessa altura foram os euros que falaram mais alto. Depois essa rádio foi comprada por uma seita qualquer e eu vim parar aqui à Rádio Nova.

Actualmente verificou-se um recrudescimento de interesse pelo vinil por parte dos jovens. Acha que é apenas uma moda, ou veio para ficar?

promocionais. Mandam apenas um link para se descarregar a música em formato mp3. Muitas vezes tem-se uma capa do CD-R, uma cópia, quando se abre um envelope promocional de uma editora. Para mim é uma coisa estranha… (risos) Não vou descansar enquanto não substituir esse CD-R, essa coisa estranha, pelo CD original, com as fotografias, as letras, todo aquele trabalho que está ligado à edição de um disco.

É contra a pirataria? Não completamente. Acho que os preços dos discos são uma tristeza. Acho que uma larga parte dos portugueses não tem possibilidade para gastar cerca de 15 euros por mês num disco. Por isso, façam downloads, ao menos têm acesso às músicas que não passam nas rádios. Agora, sou fã de objectos físicos, dos originais, sejam em vinil ou CD.

Mas apresenta alguma predilecção pelo CD em relação ao vinil, ou vice-versa?

[pausa] Depois também… é o lado prático das coisas. Por exemplo, para se deslocar para longe, de forma a passar músicas, torna-se complicado levar tudo. Se reunir as músicas em compilações legais … num pequeno saco, leva-se tudo. Mas, havendo capacidade financeira para se ter bons equipamentos de som e tirar partido da envolvência que é ouvir um disco em vinil… se houver essa possibilidade é óptimo. O prazer é diferente. O perito refere que se o CD tiver a masterização quase não se nota a diferença… Não sou tão tradicionalista quanto isso. Mas, há ali mais qualquer coisa. Tirar o plástico, tirar o vinil dentro da sua capa, tirar a agulha, são mecânicas que me acompanharam desde sempre.

Mas como DJ, prefere o vinil em relação ao CD? Lá está, é a questão prática de novo. Hoje em dia há leitores de CD que permitem grande velocidade. Gosto de levar tudo alinhado e consegue-se tirar um CD e pôr outro. Mas se estiver numa postura mais descontraída, venha o vinil.

Como DJ, em 2006 foi um dos responsáveis pelo bar disco volante. Qual é o balanço deste projecto que entretanto terminou?

Foi uma aventura assim um pouco estranha, mas que ia de encontro a uma série de sonhos. Lançaram-me o desafio de assumirmos [juntamente com Joaquim Horta] os bares do Acho que não...É óptimo em termos profissionais cinema batalha. Tínhamos o lado da música trabalhar-se com música em formato mp3, fantástico. Chega-se a qualquer lado. Por exemplo, enquanto ambiente sonoro, o lado do DJ, festas, aqui, antes era uma confusão de máquinas, cheio de lançamento de bandas. E com uma agravante, ter CD´s, vinil. Entretanto desapareceu tudo. Tem-se uma sala de espectáculos logo ao nosso lado. Foi aqui uma mesa de mistura, o monitor, microfone e durante algum tempo interessante, mas não atingiu sequer os mínimos do que nos tinham dito que iria uns auscultadores. É fantástico, de uma eficácia ser. Em termos financeiros preferimos afastarmotremenda. Facilitou imenso a vida. Causou muito desemprego, é claro para os técnicos. Por exemplo, nos deste projecto. Mas, de qualquer das formas, permitiu-me estar perto dos músicos. Constituiu aqui na Rádio Nova já não estão nem metade dos mais uma ligação nocturna. funcionários que estavam há dez anos. Agora, há o lado mau de tudo isto. Acredito que Consegue estabelecer comparações entre a tem-se actualmente muitos animadores de rádio profissão de DJ e a de radialista? A que às tantas anunciam um single sem visualizar a atitude por exemplo, ao nível da interacção capa do disco. com o público difere? Para quem gosta realmente da música, aprecia ter Na rádio mudou tudo. Na altura em que havia o lado físico. programas de autor, podíamos partilhar. Agora Uma das coisas que me tem desesperado hoje em não, é locução de continuidade. Antes tínhamos a dia, é o facto das editoras, com esta queda da sensação de que estávamos a contribuir para algo. indústria discográfica, deixarem de mandar os


om à letra

ENTREVISTA 11

NSINARAM-ME DESDE MUITO NOVO QUE A RÁDIO DEVERIA FORMAR, INFORMAR E VICE-VERSA. INFORMAR PARA FORMAR SOCIEDADES…. Tal não se efectua

ouvir rádio. Por outro lado, o grosso dos estudos É verdade. Tem que se levantar a pestana. Ver que revelam que a rádio está ligada às quatro rodas. tipo de pessoas tem-se à frente e adaptar. Às vezes o feedback até é exagerado (risos) Mas A questão da rádio companhia… gosto de explicar tudo, tenho o maior prazer. Sim.

Apresenta maior feedback como DJ…

No âmbito do seu percurso profissional, Houve algum músico/banda que o referiu a passagem pela televisão. Como foi desiludiram em particular? essa experiência? O Lenny Kravitz e o Ben Harper. Fiz, por exemplo, voz off durante dois anos no … (risos). Bem, vou admitir isto (risos), ainda na época do “reinado matinal “ do Manuel Luís Goucha. Introduzia o arranque da emissão. Referia os slides da programação das sete à uma da tarde.

Considera que a rádio vai acabar?

Para já não vejo tal como um dado adquirido. As novas tecnologias como o mp3, permitem sempre

O Lenny kravitz está mais formatado, “mais MTV” (risos). Inicialmente apresentava um lado mais noisy. Por isso gostei do primeiro e segundo discos deste cantor. Recordo-me da sua presença em Lisboa no estádio do Restelo por volta de 2002, 2003, numa conferência de imprensa onde eu estava presente, mais um conjunto de jornalistas, mulheres (risos). Quando concedeu

esta conferência de imprensa estava precisamente na sua fase “MTV”. Lembro-me de estar a um canto a observar as perguntas pertinentes das jornalistas, que não se relacionavam com a sua música, mas em outros aspectos (risos) e que correspondiam a um simples “OK” por parte do cantor. Recordo-me que na altura decidi intervir também com uma questão: se ele ultimamente estava em contacto com a alma de Jimmi Hendrix. Ele não me respondeu (risos). Já o Ben Harper, apanhei-o numa fase mais tardia. Assisti a um concerto dele e fiquei desapontado. Passou para o lado das bandazinhas e dos surfistas.

O Isidro apoia bastante as bandas de garagem. Considera que as suas hipóteses de divulgação têm evoluído ou estagnado?


ENTREVISTA

om à letra

12

PERFIL Temos agora, por exemplo, o programa Quilometro zero no canal dois. Finalmente um programa de divulgação. Pelo país também se vão fazendo pequenos espectáculos. A internet também ajuda com o myspace, por exemplo, apesar do problema da dispersão, porque são Isidro Lisboa tem 36 anos e é natural de Penafiel. muitas bandas a mostrar os seus talentos. Apresenta uma estatura média, e ostenta na sua face uma barba cerrada e escura. A sua robustez física

“ E ntre a esquizofrenia e os dedos na ficha ”

O que acha da iniciativa Rock Rendez worten?

É assim, eu apoio todas as iniciativas que divulguem as bandas, desde que haja sempre respeito pela sua dignidade. Nos festivais de Verão, por exemplo, nem sempre isso acontece. Actuam a horas pouco acessíveis a um canto normalmente, só com conhecidos ou familiares a vê-los.

Se pudesse resumir a sua vida numa palavra, qual escolhia? [hesitação] … Eu acho que vou para a esquizofrenia (risos).

Pode ser uma frase…

denota que tem “sobrevivido” à ditadura das noites, nos bares e discotecas. Não se pode negar o desgaste físico e psicológico que implica ser DJ e um habitué das noites no Porto. À primeira vista, ninguém diria que este homem fosse tão comunicativo. Regra-chave: para o ver na sua plenitude, basta incluir numa frase uma única palavra: música. Não lê muitos livros, prefere revistas internacionais por exemplo. Leu uma vez Miguel Torga porque o obrigaram. A paixão pela música surgiu ainda na infância por influência do seu tio- padrinho. Pedia dinheiro aos pais para comprar os LPS (que também eram mais baratos), o seu “vício” na altura. A sua primeira actividade profissional ligada à música foi como DJ ainda com treze, catorze anos. No exercício da sua profissão considera-se um pouco esquizofrénico, embora procure evitar mencionar esta palavra:” Enquanto falo em esquizofrenia… as pessoas até podem pensar que sofro de alguma patologia. Acho que sou uma pessoa até com uma certa sanidade”, menciona o animador, revelando talento na ironia.

É casado e tem dois filhos, o Rafael e a Maria, que lhe permitiram perspectivar a vida de outra forma. Ainda assim, a música não perde a importância que havia conquistado até agora. No entanto, a grande mudança

(risos) …Talvez “dedos na ficha”. É preciso explicar? (risos).

reside numa espécie de equilíbrio entre partes.

Sim…

activa e eléctrica, parecendo que tem sempre os “ dedos numa ficha de

Parece que ando na vida com as mãos sempre na

electricidade ” . Bastante divertido, extrovertido, seus olhos pretos brilham

electricidade. A minha vida foi sempre a bulir.

Considera que herdou da sua família a honestidade. É uma pessoa bastante

Às vezes os meus amigos perguntam-me: Isidro

quando fala dos filhos e dos hits infantis que tem de ouvir por força das

estás bem, parece que colocaste as mãos

crianças.

nalguma fica de electricidade… (risos).

A sua opinião é importante

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Sugestões musicais sempre actualizadas

Om à letra

Não consegue encontrar um estilo musical dominante, mas aponta bandas e cantores que aprecia em especial. É o caso dos Pixies, Happy Mondays, David Mathews, Bob Dylan ou Leonard Cohen. Gosta de “ um pop bem feito, isto é,

O SEU JORNAL NA INTERNET

aprecio uma canção pop, mas com uma boa pincelada” . Para o locutor, a ” rádio não tem que ser só música. Tem que ter palavra. Pareço um cuco que aparece de vez em quando para introduzir músicas” .


om à letra

MÚSICA E BEBÉS 13

Música e Bebés

Música e bebés são dois conceitos perfeitamente conciliáveis. O senso comum normalmente associa aos recémnascidos as famosas ” caixinhas de música “. Apesar desta ideia estar correcta , as pessoas não devem ter, contudo, a consciência que a explicação do recurso às caixinhas de música apresenta uma base científica. E que a música é um importante meio de relacionamento entre mãe e filho no período pré-natal

Texto de Irene Leite


MÚSICA E BEBÉS

om à letra

14 Todos os autores constatam que o desenvolvimento é dinâmico e que envolve inexoravelmente uma relação com outrem. Deste modo, a mãe surge, necessariamente como o primeiro agente através do qual a criança

De acordo com Inês de Barros Baptista, ex-colaboradora na revista Pais e Filhos, vários estudos e várias experiências levadas a cabo neste campo permitiram chegar à conclusão de que os fetos precisam acima de tudo de harmonia e Desenvolvimento e socialização são processos equílibrio emocional . simultâneos e interdependentes. Sabe-se, assim, que as composições de Mozart e Nos primeiros tempos de vida, o Vivaldi os acalmam, que Brahms e Beethoven universo social da criança centra-se na aumentam os seus movimentos e que a batida do figura da mãe. rock acelera notavelmente o pulsar dos seus O que é a psicologia do corações. É claro que isto não significa que, mais desenvolvimento tarde, já crianças ou jovens, não venham também a Conceito tradicional de gostar de músicas batidas, músicas mais mexidas e Ramo da psicologia que se dedica ao “cuidados maternos” mais divertidas, que os façam saltar e dançar... estudo da sequência do crescimento Dentro da barriga da mãe, no entanto, as Durante séculos, o papel de uma mãe fisiológico , psicológico e social desde preferências vão para os sons suaves e restringia-se à ocupação de tarefas o nascimento até a velhice .Uma das harmoniosos. Não apenas porque os fetos são caseiras e cuidados dos filhos. pequenos ouvintes, mais frágeis e mais fundamentais é a de Quando dava à luz, a mulher sabia, com t a r e f a s sensíveis, mas também porque a música serve caracterizar os diferentes estádios de bastante clareza, como lidar com o como elo de ligação entre o mundo uterino e o recém-nascido: alimentar, lavar, desenvolvimento. mundo exterior. E se, ao princípio, as melodias se agasalhar bem o bebé, manter o berço resumem a composições mais ou menos simples, em local quente e com pouca luz, para executadas pelos próprios órgãos maternos - o que pudesse dormir o maior número de bater ritmado do coração, o sangue que flui pelo horas possível. Acreditava-se que o bebé apenas intercambia com o meio, desenvolvendo com ele as cordão umbilical, a entrada e a saída de ar nos tinha estas necessidades, assemelhando-se a um primeiras relações afectivas e iniciando o seu pulmões - rapidamente entram em cena outros tubo digestivo desprovido de quaisquer processo de relacionamento com o mundo físico e sons mais elaborados. Sons que ultrapassam a capacidades que fossem para além da sucção, do social. barreira de líquido amniótico e se juntam para choro e pouco mais. Estas concepções contemporâneas acerca do que é formar uma espécie de orquestra. À voz da mãe (o a criança nos primeiros tempos acabaram por se elemento mais importante da «banda») juntam-se, O contributo da psicologia do reflectir no modo como a mãe tem de assumir os a pouco e pouco, outras vozes. E às outras vozes cuidados maternais, que ultrapassavam, de longe, o juntam-se outros ruídos. A água a correr, a buzina desenvolvimento papel que tradicionalmente desempenhava: a de um carro, a batedeira da sopa, um passarinho a Com o advento da psicologia do desenvolvimento, criança apresenta necessidades que não se cantar, a música, propriamente dita, um pouco por alterou-se a concepção do que era um “recémconfinam ao comer, dormir, estar limpa e todo o lado. nascido, que deixa de ser encarado como um agasalhada. “insuficiente” e passivo, a viver durante meses na Às necessidades fisiológicas juntam-se outras que, Um vínculo “musical” entre mãe e filho mais completa indiferença a tudo o que o rodeia, se não forem satisfeitas , comprometerão o para passar a ser considerado como um ser dotado desenvolvimento Através da música, mãe e filho podem de natureza activa, desperto para o mundo Mais calmos, mais sensíveis, mais harmonioso da criar desde muito cedo uma relação envolvente. Considera-se que é portador de inteligentes... Serão provavelmente personalidade profunda e os sons podem ser uma das necessidades específicas que exigem ser individual. assim os bebés que, desde cedo, se formas de a mãe (e o pai, porque não?) satisfeitas e de capacidades à espera de serem Numa contexto de transmitirem ao filho emoções e familiarizarem com a música. desenvolvidas. redefinição da sentimentos. relação mãe-filho, Acredita-se que escutar um tema A”nova”infância vários estudos têm-se efectuado sobre este especial ao longo da gravidez traz algumas vínculo afectivo existente entre mãe e bebé, vantagens, já que, para além de conseguir ouvi-lo, o Piaget, Freud e Erikson , cada um na sua mesmo antes do nascimento e as repercussões que feto consegue, a partir da trigésima segunda perspectiva chamaram à atenção para uma “nova” podem vir a ter na vida futura destes seres em semana de gestação, memorizá-lo. Assim, a mesma infância em que a criança, desde o momento do crescimento. Um desses meios de aproximação é a música não só o acalma ao longo da sua vida nascimento inicia e prossegue uma caminhada nas música . uterina, como vai ter o poder de continuar a vias intelectual, afectiva e social. acalmá-lo quando sair cá para fora e a tornar a Piaget apresenta o período sensorial motor como a ouvir, desta vez sem a barriga da mãe pelo meio. base de todo o desenvolvimento intelectual futuro. Se o efeito calmante da música nos fetos está De acordo com o psicólogo a criança nasce com comprovado através de várias experiências, o esquemas de acção que , desenvolvidos e mesmo se poderá dizer em relação ao seu poder na interiorizados , se transformam ,mais tarde, em estimulação da inteligência. Vários estudos esquemas de pensamento. iniciados na década de trinta vieram mostrar que Freud explora a capacidade da criança sentir composições como as de Mozart e de Vivaldi, por prazer e desprazer praticamente desde o terem um andamento semelhante ao das batidas do momento do nascimento. Centradas na coração materno, facilitavam a ligação das células amamentação, as primeiras vivências afectivas nervosas umas às outras. contribuem, de acordo com o psicólogo para o Provavelmente, não terá sido apenas este o factor lastro estruturador da personalidade, que tornou mais inteligentes os bebés que ouviram determinando o ulterior relacionamento emocional com as outras pessoas. Sabia que a música tem os dois compositores, mas não parecem existir dúvidas quanto ao poder da música em termos do Erikson defende que a confiança ou desconfiança um grande poder sobre nós? desenvolvimento do cérebro. que norteiam o relacionamento social radicam nas Mais calmos, mais sensíveis, mais inteligentes... experiências vividas durante os primeiros meses E que já o exerce mesmo Serão provavelmente assim os bebés que, desde de vida. O modo como o bebé resolve o primeiro antes de nascermos? cedo, se familiarizarem com a música. conflito existencial influencia o grau de esperança

A relação precoce mãe-bebe

?

Música e bebés

num futuro relacionamento social gratificante.


om à letra

MÚSICA E BEBÉS 15

Assim, comunicar carinho, cuidado e emoções positivas ou negativas, a amor faz com que o pequeno ser se música relaxante ou o rock pesado sinta mais sereno e equilibrado. podem modificar os cristais de De acordo com Maria Lúcia Bicudo, água. investigadores (Masaru Segundo Verney: “ É importante o meio ambiente do feto é rico em Emoto, pesquisador japonês – o seu mostrar que os acontecimentos têm estimulação acústica proveniente do trabalho está centra-se na sobre nós uma repercussão interior do investigação diferente nos primeiros estágios de Maria Lúcia Bicudo é enferneira, fonoaudióloga e corpo da mãe vida. Um adulto, e num grau menor socióloga. A sua dissertação de mestrado defendida das energias através do uma criança, tem sempre tempo de subtis da em 2005, “A importância do som na harmonização seu comer, natureza e do elaborar defesas e reacções. Ele do ser e sua religação com o sagrado” beber, pode amenizar os efeitos do que ele homem em respirar, dos batimentos cardíacos, sua relação com a consciência experimenta, coisa de que o feto é de suas vocalizações e dos ruídos incapaz. Nada vem atenuar ou humana – até o momento não há ambientais atenuados. Porém, o som publicações em português, apenas desviar o impacto da experiência. mais frequente que o feto ouve é o publicações secundárias) da pulsação da principal artéria envolveram as amostras abdominal e o segundo mais de água com papéis, nos ...o meio ambiente do feto é rico em frequente é o da voz da mãe. quais escreveram a estimulação acústica proveniente do palavra “obrigado” em interior do corpo da mãe através do seu inglês e em japonês, os Estudos efectuados sobre comer , beber, respirar , dos batimentos cristais resultantes foram cardíacos , da suas vocalizações e dos ruídos audição perfeitos, belos e ambientais atenuados, intraluminosos. Porém, o som mais frequente que o feto ouve é uterina o da pulsação da principal artéria abdominal Já com a palavra Maria Lúcia “estúpido”, a água não e o segundo mais frequente é o som da mae.. Bicudo , no conseguiu formar cristais âmbito do Mária Lúcia Bicudo regulares. Quando a estudo amostra de água ficou desta exposta à “Sinfonia Pastoral”, de temática Essa é a razão pela qual as emoções Beethoven ou a uma canção da encontrou da mãe gravam-se tão compositora Enya, os cristais sustentação teórica. profundamente na sua mente e seus resultantes também foram belos, A relevância da experiência auditiva efeitos continuam a se fazer sentir perfeitos e luminosos, apesar de pré-natal tem sido demonstrada com tanta força ao longo da vida.” diferentes. pelos estudos conhecidos de De Portugal e a musicoterapia Casper e seus colaboradores que De acordo com Cláudia Madeira , Mas, quando as amostras de água provaram a preferência do bebé ficaram expostas ao rock pesado ou psicóloga com formação em pela voz familiar da mãe, o efeito musicoterapia (e também membro ao heavy metal, as mesmas tranquilizador da exposição ao som da direcção psyhealthylife) “A apresentaram uma dos batimentos cardíacos da mesma “desustruturação” de seus cristais, Música reúne o encontro com a após o harmonia, exercendo efeitos A Música reúne o encontro um “turbilhão nascimento terapêuticos. É um meio de confuso” – imagens com a harmonia, exercendo ea expressão, de comunicação, de de águas poluídas, preferência efeitos terapêuticos. estruturação e de análise da como diz um revelada relação. Os seus efeitos crescem na investigador Cláudia Madeira pelo bebé relação entre o utente, a música e o japonês. para ouvir o terapeuta. Promove o bem estar som de histórias familiares que físico, emocional, cognitivo e Apesar desse estudo se limitar a haviam sido lidas pela mãe antes do fotografar os efeitos das palavras, social.”A sociedade reprime a nascimento. expressão de afectos, tornando o dos sons, dos pensamentos, da indivíduo cada vez mais inibido ou música nos cristais de água, se o Feijo observou as consequências da até ausente de afectos. É desde a transportarmos para o líquido associação de um trecho musical vida intra-uterina que estes nascem amniótico, quais seriam os apresentado durante doze minutos resultados?, questiona Maria Lúcia e devem ser desenvolvidos e com relaxamento materno acompanhados ao longo da vida sem Bicudo Fica claro, até este profundo. Esse mesmo trecho foi momento da pesquisa, que o bom e o os colocar de parte ou mesmo tocado em intervalos diferentes esquecidos… belo centra e organiza, enquanto o durante a gravidez. Feijo constatou Assim, através do som, o ser contrário, desestrutura e que o feto respondia muito mais humano poderá alcançar um autodesorganiza. cedo a esta estimulação familiar e conhecimento que permite dar e Os sons são importantes na vida interpretou essa reacção como uma receber. Através da expressão intra-uterina, assim como a antecipação do estado de conforto corporal, o indivíduo facilita a comunicação das vibrações induzido pela estimulação materna. expressão de emoções e dá a emocionais e os pensamentos da A vibração é o estímulo mais conhecê-las sem linguagem verbal mãe para o bebé. No feto, o potente e é capaz de induzir coração começa a pulsar antes do mudanças na motilidade fetal, bem A psyhealthy life cérebro se formar. Os cientistas como na frequência dos batimentos ainda não sabem o que exactamente É uma empresa especializada na cardíacos do feto, além de produzir o faz começar a pulsar. Portanto, há prestação de serviços de saúde e reacções aversivas. no feto um cérebro emocional bem bem estar desde a vida in útero até Estudos recentes mostram o quanto antes de haver um cérebro racional. ao idoso. os pensamentos, as palavras, as

Os sons na vida intrauterina

outros objectivos: compreender as próprias emoções e do outro; desenvolvimento da criatividade; melhorar a auto-estima; aprender a comunicar.

O projecto entrelaços

Entrelaços é um projecto desenvolvido com o objectivo de proporcionar aos interessados de todas as idades, um conjunto de actividades e eventos enquadrados no vasto universo musicológico – Científico, Pedagógico, Terapêutico, Lúdico, Artístico, Cultural e Social. Entrelaços contempla as vertentes clínica e de divulgação das potencialidades da Musicoterapia, de forma a proporcionar à população um conjunto de iniciativas e programas planeados tendo em consideração as características e necessidades específicas da população. Nas instalações do projecto entrelaços com sede no Porto realiza-se: -Atendimento Clínico em Musicoterapia e Psicopedagogia. - Organização de Congressos, Seminários e Encontros no âmbito da Musicoterapia - Orientação Metodológica e Tratamento Estatístico (Psicologia, Psicopedagogia, Enfermagem, entre outras áreas) desenvolvem também programas específicos a serem realizados externamente (Infantários, Escolas, ATL, Centros de Reabilitação Psicossocial, Lares, Centros de Dia), desde que se verifiquem as condições necessárias para .

A musicoterapia

De acordo com a definição da Federação Mundial de Musicoterapia (WFMT), a Musicoterapia é a utilização da música e/ ou de seus elementos (som, ritmo, melodia e harmonia), por um musicoterapeuta qualificado, num processo sistematizado de forma a facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão, e organização de processos psíquicos de um ou mais indivíduos para que ele(s) recupere as suas funções, desenvolva(m) o seu potencial e adquira(m) melhor qualidade de vida. A intervenção da musicoterapia , de acordo com o site deste projecto:”pode ser feita individualmente ou em grupo e envolve actividades musicais (escuta musical, canto, improvisação vocal e instrumental, expressão corporal e outras que envolvam música som e movimento), num processo planificado e continuado no tempo, tendo em conta as necessidades especificas de cada pessoa, levado a cabo por um profissional com formação específica. Um conjunto de actividades musicais, por si só, não poderão ser consideradas musicoterapia porque a musicoterapia existe somente como resultado de um processo, ou seja, de uma interacção entre musicoterapeuta e paciente. Dentro da musicoterapia são várias as aplicações clínicas, nomeadamente: Hiperactividade,


PRESTES A SAIR DA GARAGEM

om à letra

16

The Happy Mothers

Rock Rendez Worten. A participação neste concurso , de acordo com Pedro Adriano Carlos, o A origem dos Happy Mothers remonta a 1999 vocalista , não foi das mais positivas . como InsideSuicide. Ao nível dos media actuaram no Porto Canal. Inside Suicide referia-se a uma mensagem que a Aguardam actualmente banda, num plano inicial uma chamada para a A fixar: pretendia divulgar.” Era tentar segunda fase do personificar algo que nunca é Os happy mothers como forma de programa da 2 personificado. Nós já vimos Quilómetro zero. divulgação do seu trabalho recorrem filmes em que a morte é

Slideshow evolutivo da banda somaletra.blogspot.com

1999

personificada, mas não com o também ao popular youtube. suicídio e a nós isso interessouA internet como www.mysapce.com/insidesuicide nos”. meio de difusão Fizeram a primeira demo em www.myspace.com/happymothers Actualmente existe uma 2000 (um pequeno registo utilização crescente homónimo com apenas 5 músicas. deste novo medium. Para Em 2004, após vários concertos as bandas revela-se o ao vivo em diversos pontos do país, lançaram o seu meio central para a divulgação do seu trabalho. Os segundo registo, um EP conceptual com 6 músicas Happy mothers não fogem à regra. designado Six steps to Insanity. O myspace pode ser prejudicial. Entre tanta oferta, dificulta-se a descoberta dos grandes Porquê Happy Mothers? talentos. Mas, Miguel desdramatiza a situação: “aproveitamos mais as vantagens que as "É uma crítica aquilo que mais move as pessoas: as desvantagens, desta nova forma de mães. Mãe aqui num sentido metafórico. Aquelas 2004 fazer e distribuir música. mães que se fazem felizes naquilo que fazem, mas Por agora, restam os ensaios para que na realidade não o são, refere Miguel Martins, um grupo de amigos que pretende viver guitarrista na banda. unicamente da música. Constituiu uma viragem não só a nível musical como também ao nível da atitude da banda para com o A situação actual seu trabalho. Como Happy Mothers participaram no Rock rendez Ao longo de quase dez anos as influências são 2006 worten .Arrependem-se da múltiplas :Nirvana, Metalica, Pearl Jeam, Pink experiência porque consideraram que não Floyd, entre outros. avaliavam correctamente as bandas..”centrava-se apenas em angariar o mais votos possíveis, e quem As oportunidades de divulgação do tinha mais ganhava”, revela Pedro Adriano Carlos, vocalista. trabalho Gravaram a maquete em 2000 com quatro músicas, Actualmente não têm baterista. 2007 ainda em analógico. Foi num estúdio muito amador, A banda é composta por Miguel Martins na guitarra e voz , Pedro onde um indivíduo gravava para bandas de Adriano Carlos como vocalista e . Carlos Aráujo garagem. "Pagamos um preço bastante alto para baixista e voz . uma qualidade bastante medíocre. Fomos um São quase dez anos a tocar para o público jovem, bocado enganados pela nossa juventude, e pela a participar em concursos Obtiveram confirmação vontade de gravarmos qualquer coisa. Mas conta para constarem num DVD (não quiseram sempre como experiência. Para além disso, ainda 2008 nos serviu para marcar alguns concertos", refere o adiantar mais) que vai sair no mercado internacional . guitarrista. Seguiram-se concertos, concursos como o Rockastrus , Guitarmageddom ou o mais recente Festival do Avante onde a banda venceu a finalíssima Norte do Concurso de bandas deste Festival . De destacar a participação no concurso

Maio de 2008 , Grandes mudanças :OS Inside Suicide passam a The Happy Mothers

Como projecto de mestrado estão a elaborar um novo álbum. Restam por enquanto ensaios .

Começaram como Inside Suicide, influenciados por ideias mais negras . O tema da morte

Participação no art arena. A euforia era notória.

Participação no evento Guitarmaggedom organizado pela FEUP .É um espectáculo que divulga bandas de garagem

Rockastrus Um dos últimos eventos como Inside Suicide

Participação no Rock Rendez Worten,


OPINIÃO

om à letra

17

Editorial

Crónica

Vintage e Vanguardismo

“A

Carpe Diem

I

Irene Leite venda de álbuns em formato de vinil aumentou

54.250%, enquanto o comércio de singles em vinil cresceu 1009%, noticiava o Correio da Manha em Agosto deste ano , citando dados da Associação Fonográfica Portuguesa. São dados animadores ,mas , sobretudo surpreendentes. De facto , numa época em que a música ganha progressivamente cada vez mais desmaterialização (atente-se na elevada quantidade de downloads efectuadas na internet) é praticamente impensável recorrer a um suporte “enorme” como é o vinil. Mas de acordo com estes dados da associação fonográfica portuguesa ele está muito bem e, aliás, recomenda-se . O que podemos apreender destes dados? Que há muito tema a explorar no «âmbito musical e que a imprensa portuguesa

Se não arriscarmos em algo , nunca poderemos saber as pouco ou nada suas consequências. E é neste concede atenção. contexto que surge o jornal Som à especializada

Estes dados vieram de

alguma forma reavivar a memória dos portugueses e a imprensa portuguesa despertou (finalmente) e já começa a explorar outros conteúdos que não somente os ditos “comerciais”(bandas famosíssimas , escândalos dos famosos (número um: Amy Whinehouse) , os discos que mais venderam , etc. O jornalismo musical em Portugal é uma área muito frágil (constitui um mercado de nichos), mas ao mesmo tempo tem muitas potencialidades. O vinil também é um mercado de nichos e ao que parece as suas vendas não vão nada mal... Se não arriscarmos em algo , nunca poderemos saber as suas consequências. E é neste contexto que surge o jornal Som à Letra. No entanto , estamos convictos que o Som à Letra não é uma moda mas sim uma tendência para ficar. Esta primeira edição surge precisamente do objectivo de fundir o novo com o velho (o vintage), isto é , compromete-se a focar o passado tendo em conta as repercussões futuras. Daí o investimento em matérias científicas onde a música se insere , os objectos que marcaram uma época (o “bolachão” por exemplo) e as novas bandas que vão permitir uma continuidade de todo o legado deixado pelos grandes nomes nacionais e internacionais. Com uma aposta no fotojornalismo e nas tendências gráficas do jornalismo actual (em contínua mutação) o Som à Letra nasce com um compromisso (que infelizmente a imprensa especializada não cumpre da melhor forma) que se resume em dois conceitos:

PUB

nauguro este meu espaço neste jornal com um tema : a existência humana e a música . Que bela forma de inaugurar este meu espaço neste jornal (não fosse esta uma publicação periódica ligada à música). Tal escolha não se deveu (ao contrário do que vocês possam pensar, por se tratar de um jornal musical … mas depois de ter lido uma obra tocante , inquietante e penetrante não só nas nossas mentes mas também nos nossos ouvidos, não podia de deixar de colocar aqui a minha reflexão. Agora imagino a cara dos leitores de surpresa a pensarem: Como é que é possível , só se comprou um livro com versão em áudio…. Não, isto neste contexto soaria ilógico... digo penetrante porque a meu ver , a grande leitura é aquela que nos ascende a uma apoteose de tal magnitude que nos extasia e transporta para mundos à parte , recriando a história ao seu ínfimo pormenor. A história de Muoth (do livro Gertrud , de Hermann Hesse) um estudante que no auge da sua juventude e de uma paixão avassaladora tem um grande acidente na neve ficando manco para sempre. tal “marca” levou-o a grandes melancolias relacionadas com a perda da rapidez e vivacidade juvenil. No entanto , com o passar do tempo, tal acidente permitiu conduzi-lo para uma nova filosofia de vida centrada num único conceito: a música. A ideia de criação musical levou

este músico novamente a uma felicidade que julgava esquecida. Aqui está um efeito da música que em tempos de crise deve ser especialmente tido em conta.

não é o melhor remédio (é chorar), escolhe-se antes uma abstracção musical .

T

endo em conta a filosofia de Ricardo Reis , em vez de pensarmos nas contas do De facto, numa época de próximo mês, na falência informação monocromática estranha de um novo (peço o termo emprestado banco , nos aumentos a Alexandre Pais) um inconcebíveis no pouco de cor musical vem a combustível que podem calhar. aparecer a qualquer momento , nos encargos A febre renovada pelos financeiros da mais recente Ac-DC paixão do Rui Ricardo

AC-DC é agora explicada: libertação de tensão, traduzida numa forma de estar(diria melhor , dançar) efémera , afastada do que é socialmente aceitável.

primeiro ministro (o Magalhães) , debruçarmonos antes no dia actual, no “hoje”. É a filosofia do Carpe Diem, que aconselho vivamente a ser adoptada.

Eu, como não sou música nem cantora (nem me No caso de Muoth, a personagem encontrava na aventuro por tais caminhos , não se música um espelho dos preocupem…) cinjo-me a seus sentimentos...melancólicos, uma audição mais apreciativa, reflexiva e algo , portanto, clássico. De qualquer das formas, a calma da música. Por enquanto não cedo aos música apresentava uma excessos do puro rock ´n finalidade : o factor roll. No entanto , como terapêutico. estamos em crise…

P

or isso, seja rock , seja heavy metal, seja fado , seja pop, o importante é que surja uma abstracção e em tempos de crise como rir

Irene Leite


CRÍTICA MUSICAL

om A letra

18 JUKEBOX-A SUGESTÃO DO

REPESCAGEM DO MÊS

SOM À LETRA

Nesta sua primeira edição, o Som à letra The gift não se afasta a nível ideológico foi recuperar um CD da banda australiana (contestação políticas) do que a banda INXS (ver brinde). Data de 1993 e

divulgava inicialmente. Basta

constituiu na altura uma grande mudança

reportarmo-nos a canções como “original

relativamente ao que a banda produzia .

sin” ou “dancing on the jetty”. As músicas

Full moon dirty years reflecte uma

deste CD apresentam , contudo, a força

tentativa por parte do grupo, bem

do movimento grunge . De facto , uma das

sucedida apenas a nível sonoro ,( não

particularidades desta nova sonoridade

comercialmente) , de entrada no grunge

era a revolta contra a situação política do

que invadiu os anos 90. Nova década,

país. Era uma música pesada que marcou

novas sonoridades .

uma década.

1993

Ainda assim , nas músicas presentes

Apesar de já ter 16 anos , não deixa de

Mercury Records

neste CD , ainda é possível verificar a

ser um CD actual , mas não aconselhável ,

sonoridade típica a INXS. Basta referir

porém, para os que querem conhecer a

o tom provocatório de “I´m only looking

essência musical da banda.. Full moon

“e comparar a Strange Desire” do

dirty years corresponde a uma fase que

anterior “welcome to wherever you are”

deve ser ouvida , depois de toda uma

ou “Taste it “(do álbum X)

contextualização (ainda que breve ). IL

DESTAQUE DO ANO Foi um dos ábuns mais esperados Rolling Stone , existem muitas influências do

ano.

Atente-se

que

no

de dos U2. Na minha opinião, a música

dia

lançamento, só no Reino Unido foram Starwberry

swing

também

apresenta

vendidos 125000 de discos. Portugal não influências da banda irlandesa dos anos 80. Basta

foi excepção.

estarmos

atentos

ao

som

da

No entanto, é de referir que esta guitarra. A mim parecia-me o edge (U2) a foi uma aposta, ou melhor um salto no tocar … Apesar deste CD ser diferente

desconhecido efectuado pela banda. O

disco

apresenta

facto, relativamente

de

aos

quatro

anteriores,

diferenças relativamente ao anterior X &Y continuo a identificar a técnica de refrões lançado

em

demonstrar,

Junho basta

de

2005.

Para

reportarmo-nos

o melódicos que penetram no nosso ouvido. aos “Lost” é um claro exemplo desta situação.

2008

grandes investimentos ao nível sonoro que

Capitol

avanço),

se

efectuou.

“Viollet

demonstra

Hill”

(single

precisamente

A alternância de melodias na

de mesma música (atente-se na música death essa and all his friends) confere um ecletismo

vontade em mudar a sonoridade (torná-la ao CD que o torna capaz de despoletar no mais

irreverente,

forte,

Só gosto de ti-Heróis do Mar Erasure-Sometimes Under pressure-Fred Mercury e DavId Bowie Anzol-Radio Macau China Girl-David Bowie Modern love-David Bowie Sinal de ti-Sétima legião Michael Jackson-Thriller Losing my religion-REM Don´T Stand-The Police Africa-Toto Kiss the dirt-falling down to the mountain Bily Idol-eyes without a face

frenética, ouvinte diferentes emoções, ora

emotiva). Mas as inovações não param por profundamente melancólicas, ora aqui, uma vez que o CD apresenta uma frenéticas, efusivas. É de facto um corte faixa que se subdivide em duas categorias: relativamente ao já tão longínquo “in my “Lovers in Japan” - “Reign for love”. que de place”, ou “clocks” e até mesmo “speed of acordo com a crítica realizada pela revista sound”.mas aconselhável até aos mais PUB

Numa época de culto aos anos 80 faz sentido revisitar alguns dos êxitos nacionais e estrangeiros da época doirada da pop. Os anos 80 corresponderam a uma libertação enérgica da pop. Muitas bandas e cantores lançaram mas do que um sucesso.

It´s Kind of Magic-Queen TrueStrangelove-Depeche mode Pride-U2 Wonderful life-Black Cavalos de Corrida-UHF Sweet dreams-Eurythmics Whai I´m looking for-U2

Estou além-António Variações Chiclet-Taxi Red red wine-UB40


CRÍTICA CINEMA/LITERÁRIA 19

om A letra

se uma preocupação em criar-se um fio condutor

Musical Mammma Mia!

em toda a história , tendo com pano de fundo músicas dos ABBA .Cda fase distinta da história

Ver Meryl streep , Piers Brosnan a cantarem é narrada por uma música dos ABBA. A meu ver, ABBA é um acto no mínimo caricato (no máximo foi uma boa conjugação. surreal) mas bem conseguido. É um filme bem-disposto que põe à prova , em particular a ainda excelente

performance

de

Meryl Streep , que demonstrou de

facto

ser

uma

artista

Torna-se portanto , um filme interessante para visionar, não só pelo leque de actores presentes mas

também

pela

ideia

de

revisitar

na

CURIOSIDADE DO MÊS

?

SOMOS O QUE OUVIMOS

contemporaneidade uma banda que marcou os anos 70, com um pop descomprometida.

A música exerce grande influência sobre nós enquanto seres humanos. Vários investigadores já têm sistematizado

versátilL. Ela canta, dança e Quanto ao desempenho geral dos actores , o assume uma p o s t u r a balanço é positivo. De facto , a versatilidade dos

sobre esta realidade.

descontraída e “colorida” bem ao retrato dos actores evidencia-se na capacidade de oscilarem entre a atitude mais desproporcional e a mais ABBA.

Um

exemplo

No que concerne a organização do filme , denota-

preferências musicais.

situação

é

desta

o

STOMP,

séria. E , com todo o respeito a Pires Brosnan (que não tinha uma voz muito afinada…) ou Colin

De

teste sobre

acordo

com

psicólogos,

os

Peter

vista e expectativas dos nosso editores”, alerta Conversas Sobre Bom Jornalismo_ Os cínicos não servem para este ofício-é Kapuscinski.

J.Rentfrow e Samuel

um livro da autoria de Ryszard

universidade do Texas

Kapuscinski, jornalista e escritor , falecido no inicio de Janeiro de 2007. Para quem quer ser jornalista é um manual indispensável. A nota introdutória apresentada por Maria Nodoti funciona como cartão de visita à viagem a um jornalismo longínquo (ancestral) na forma de fazer mas não na forma de pensar. Descreve sucintamente a “personagem” central: Kapuscinski e a sua forma de fazer jornalismo:”a regra número um parece ser saber camuflar-se , renunciar aos discutíveis e narcisistas da hipervisibilidade a favor das vantagens bastante mais úteis do anonimato”;”A história de Kapuscinski é construída a partir de baixo . Uma história atenta às pequenas coisas , aos pormenores , aos humores. […]História /relato centrada nos conteúdos , mas também na técnica da narrativa , no acto da própria escrita.” Através de um estilo informal (uma simples conversa) Kapuscinski dá uma lição sobre jornalismo . No que concerne à organização dos conteúdos do livro , optou-se (correctamente a meu ver) por uma segmentação de conteúdos em três partes , correspondentes a situações distintas. Tal de facto facilita a leitura , tornando-a ,mais segmentada e por conseguinte mais clara. Na primeira parte efectua-se uma reflexão importante sobre a profissão jornalística , as capacidades a desenvolver (destaco a empatia) e os problemas a enfrentar:”A nossa profissão é uma luta constante entre o nosso sonho, a nossa vontade de sermos completamente independentes e as circunstâncias reais em que nos encontramos , que nos obrigam a ser , ao invés ,dependentes dos interesses dos pontos de

Na segunda parte Kapuscinski estabelece uma contextualização sobre África , o contexto político, económico que encontrou aquando do seu trabalho jornalístico que não era fácil:”Eu era um escravo, do meu trabalho obsessivo. Era o correspondente de uma agência noticiosa e tinha de fazer a cobertura de todo o continente”. Aí está uma diferença em relação ao jornalismo actual , que apresenta também graves problemas. Kapuscinski é directo:”A imprensa internacional é manipulada”. O exemplo do repórter polaco conduz a uma reflexão aos aspirantes a jornalistas sobre a evolução desta profissão, as suas dificuldades , as suas desilusões (salário baixo, pressões dos chefes), mas também sobre a sua importância num contexto cada vez mais tecnológico. Na terceira parte entre um elogio mútuo (entre Kapuscinski e Berger) evidencia-se uma reflexão sobre o modo de contar estórias . De destcar também a problematização referente às vantagens e desvantagens da tecnologia.”Assistimos a enormes mudanças no campo tecnológico e ,, na esfera da política, as mudanças são muito dramatizadas. A informação passou a ser um bombardeamento contínuo.[…] Omundo tornou-se imenso”, continua Berger. Só há um aspecto que pretendo destacar. :concordo com a forma de fazer jornalismo de Kapuscinski , a questão da empatia , de viver a situação das pessoas alvos de notícia , o anonimato (dentro de algumas ressalvas , a questão do abuso da boa fé das pessoas)e reportagem , sempre, contudo, com a ressalva da objectividade. Objectividade a 100% é impossível, no entanto , há -que estabelecer sempre um esforço para tal. Também na forma de escrita (noticiosa) ter sempre cuidado para não se cair num discurso valorativo decorrente de uma aproximação , uma promiscuidade( muitas vezes difícil de controlar) entre fontes e jornalistas. Através da leitura deste livro tais

G o s l i n g

… d a

(autores

do

STOMP),

é

teste possível

definir a personalidade de um indivíduo em função do estilo de música que prefere. Um outro investigador, Adrian North, da Universidade de Leicester realizou uma sondagem pormenorizada em 2006 junto de mais de 2500 indivíduos

escolhidos

universitários,

centros

ao

acaso

em

comerciais

e

meios

estações

ferroviárias do Reino Unido. No questionário, incluíam-se perguntas sobre os gostos musicais, mas também sobre as habilitações literárias, situação laboral, relações pessoais, rendimentos anuais, crenças e hábitos de consumo.

Os resultados foram curiosos: ♦ ♦

Os que mais viajam são fãs de dance e house Os amantes de rock e da música pop dos anos

60

são

mais

atingidos

pelo

desemprego que os restantes, mas isso poderá estar relacionado com a sua faixa etária ♦

Os apreciadores de ópera são os que lavam o cabelo com menos frequência

Os consumidores de música electrónica são os que mais exercício praticam

,

seguidos dos adeptos do rap e da música indie ♦

Quem menos bebe são os fãs de filmes musicais

que

juntamente

com

os

apreciades de ópera , costuma preferir o vinho à cerveja e fumam pouco

PUB

Os

maiores

índices

de

criminalidade

foram encontrados entre os que ouvem


om A letra

PUBLICIDADE 20


om A letra

JOGOS/DICAS 21

Sopa de letras

PUB

Soluções

Dá que pensar…

“Jesus era fixe, mas os

descípulos eramm mesquinhos” Jonh Lennon em 1966

“Aviso-vos , com paz e amor :tenho mais que fazer, acabou-se o correio de fãs” Ringo Starr num vídeo publicado no site oficial

“Nas nossas cabeças somos punk” Michael Stpe sobre os REM, em 1994

Ficha técnica: Directora: Irene Leite Editora: Irene Leite Fotografia :Irene


Os INXS são uma banda dos anos 80. Surgiram em 1977 com o nome “The “Farriss Brothers”. Tocavam inicialmente em pubs e bares. Contudo, logo após o lançamento do primeiro CD

homónimo em 1980, alteram para INXS (abreviatura

de in excess), nome que se mantém até à actualidade. Adoptaram ao longo dos anos um estilo eclético ao nível das produções e estilos musicais. Efectivamente, na sua música evidencia-se uma panóplia de estilos musicais como o new wave, rock (atente-se, na sua acepção mais pura), até às baladas melancólicas (onde a influência do rock não é abandonada). Never tear us apart enquadra-se na última categoria. Apesar da banda ter surgido em finais dos anos 70, só em meados dos anos 80 alcançou a notoriedade e visibilidade tão ambicionadas (nomeadamente a nível internacional) junto do público. Desta época constam sucessos como, Suicide

Blonde, Disapear, New sensation, By My side, e como não, poderia deixar de ser: Never tear us apart. O álbum mais bem sucedido da banda foi KIck em 1987 com sucessos como new sensation, need you tonight e curiosamente Never tear us

apart. Todos estes sucessos deram origem, no inicio dos anos 90, ao espectáculo Live Baby Live, até hoje relembrado pela sua magnitude. De acordo com o site “ O Portal do Rock”, os INXS venderam mais de 25 milhões de discos em todo o mundo, inúmeros prémios, discos de platina e apresentam por conseguinte uma carreira cheia de realizações. São vários os discos gravados : INXS" (1980), "Underneath The Colours" (1981), "INXSive 1980-1982" (1982), "Shabooh Shoobah" (1982), "The Swing" (1984), "Listen Like Thieves" (1985), "Kick" (1987), "X" (1990), "Live Baby Live" (1991), "Welcome To Wherever You Are" (1992), "Full Moon Dirty Hearts" - o presente poster data precisamente desta fase da banda com um ar mais “grunge”-(1993), "Greatest Hits" (1994) e "Elegantly Wasted" (1997). A banda, contudo, em 1997, atravessou uma fase complicada com a morte do vocalista Michael Hutchense que suicidou-se . O regresso aos palcos só deu-se em 2000: com Jimmy Barnes e Terence Trent D'Arby como vocalistas temporários. Jon Stevens começou a cantar com os INXS em 2000, e foi nomeado integrante oficial em 2002. Todavia, deixou a banda em 2003 após gravar somente uma canção: I

get up. Os INXS voltaram a ser notícia em 2004 quando foi anunciado que um novo reality show chamado "Rock Star" apresentaria um concurso para encontrar um novo vocalista para a banda. E, foi a vez de J.D Fortune , que até aos dias de hoje acompanha a banda (sem o sucesso que apresentava com Michael Hutchense). Chegaram a lançar um cd: ”Switch” com pequenos êxitos como “afterglow”.



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