Jesuíno Marcondes - Parte II

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Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira Fundado em 13 de fevereiro de 1955 Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos CNPJ 07.217.980/0001-28 Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955.

______________________________________________________________________________ JESUINO MARCONDES DE OLIVEIRA E SÁ “UM ILUSTRE FILHO DE PALMEIRA” Junho de 2013 - 186 anos do nascimento – Parte 2

Vera Lúcia de Oliveira Mayer1

Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, um dos mais ilustres e importantes vultos da história, não só de Palmeira, mas do Paraná e do Brasil: Ao exaltarmos Jesuíno Marcondes, não o faremos pelo viés do homem público, advogado ou político que foi, mas pelo prisma do ser humano, sem nos preocuparmos com as efemérides da sua trajetória. Como definiu Bourget2 que, quando nos aplicamos a deslindar as bases dos acontecimentos da nossa própria existência e a de outros, reconhecemos que a parte da história é muito menor do que parece, pois nos deparamos com fatos e acontecimentos lógicos, que nos fornecem energias latentes a uma mesma direção, o desejo verdadeiro de enumerar e pontuar o próprio destino, transformando-o em trajetória de vida. Nessa ótica a biografia verdadeira de um ser humano seria, pois, a história de suas idéias e de seus sentimentos, compreendendo seus efeitos e seus princípios, ou seja, o estudo de sua personalidade e do seu caráter. Assim pode se dizer que a biografia de Jesuíno Marcondes, está estampada em suas cartas familiares, porque delas ressaltam traços da sua personalidade, com as minúcias de idéias e sentimentos predominantes junto a família, na atividade da vida pública e privada não exatamente no que fez e no que ficou refletido em algumas circunstâncias, mas nas mensagens que emitiu.

Vera Lucia de Oliveira Mayer – Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira. Gestão 2012/2014. 1

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P. Bourget, Conflits, Paris, 1925.pg 79. Apud. Marcondes. Pae e Patrono, 1926.pg 137.

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A preciosa pesquisa que o seu próprio filho, Moysés Marcondes quando publicou a obra “Pae e Patrono” em 1926, enfatizou o lado afetivo, familiar, religioso e principalmente do homem bom, justo e honesto que foi Jesuíno Marcondes. Na reflexão do filho, estampou no personagem a veracidade de todos os momentos, numa analogia cheia de amor e sentimentos nobres, desde a gratidão e reconhecimento por seus pequenos ou grandes feitos, sem ocultar as peculiaridades. Jesuíno, nas suas minuciosas cartas e com incansável freqüência, transmitia o que sabia e o que sentia e pensava. Ninguém que lhe escrevesse ficara sem resposta, fosse quem fosse. Por isso as suas cartas, sejam as trocadas com a família, com os amigos ou com os políticos, deram tantas referências para a história do país, inúmeras pesquisas enfatizaram a sua existência com tanta solidez e veracidade, tanto no ponto de vista humano e emocional, como no plano social, político e administrativo. Historiadores paranaenses, como David Carneiro e Julio Estrela Moreira, pontuaram a existência de Jesuíno, como sendo um homem de visão naturalmente larga, e isso o levava a ver o futuro promissor. Jesuíno era dono de personalidade exemplar, ilustre e prudente, que empunhou as causas do Paraná na Corte, ora como deputado ou como ministro, ou ainda como potentado político e líder do partido liberal. A vida pública, consequentemente no seu envolvimento com a política nacional, a guerra com o Paraguai, a crise bancaria, o episódio das terras para os imigrantes alemães do Volga em Palmeira, o advento da república, levou-o com peso das circunstâncias a contrair certamente alguns opositores, e alguns de seus atos formam questionados, mas não suficientes para denegrir sua imagem. “Jesuíno Marcondes nos tantos anos vividos na estreiteza do meio aldeão, em Palmeira, sem convívio com os intelectuais ou sociais mais estimulantes, conservou-se sempre o mesmo homem, nas maneiras, na linguagem e nas curiosidades da inteligência, da vida universal e dos progressos humanos.” 3 No seio da comunidade e das coisas sociais ele mesmo disse: “Não gosto do luxo, mas aprecio a correção no trajar e nos estilos da boa sociedade, como sinal de respeito próprio e do que é devido às pessoas com quem se convive”. Jesuíno, um homem de gostos simples, porém elevados. A maneira com que ele relacionava entre si, o bem falar e o bem escrever, deixou expressa nestas duas pequenas frases em uma de suas cartas: “Escrever é falar para longe. Escrever é falar bem” 4. Isso explica não só a correção, mas também a naturalidade de seu estilo epistolar.

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MARCONDES, Moysés, Pae e Patrono. 1926. pg.141 MARCONDES, Moysés, Pae e Patrono. 1926. pg. 160

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Não houve assunto que estivesse transcorrendo no país e no mundo, que Jesuíno não tenha versado, sempre transparecendo o espírito cristão, sua boa índole, dotado dos princípios de um homem da boa educação e principalmente bem intencionado. E não foi por acaso ou por mera condecoração que ele foi considerado “Conselheiro”, na pura acepção da palavra, e o seu fundo psíquico cristão, religioso da fé católica, fizeram de Jesuíno um homem notável em todas as circunstâncias. O amor pela terra natal e pelas tradições familiares, encontrou sempre nele sua mais elevada expressão na constante e firme devoção à Padroeira de Palmeira – Nossa Senhora da Conceição. De perto ou de longe confiou em suas preces, como a mais certa intercessora e protetora da sua terra e da sua família, relatando exercer este sentimento como a mais valiosa herança de seus pais, por quem tinha comovida admiração pelas virtudes exemplares, mais precisamente de sua mãe que o ensinou a rezar, elevar e entregar a Deus todas as passagens de sua vida. Da convivência com a esposa ele próprio afirmou: “Foi o passo mais acertado da minha vida”. Encontradas em várias cartas, lindas declarações de amor, ternura e afeto, em nítidas manifestações de homem romântico e apaixonado. Em outras circunstâncias, situações de compreensão e muito estímulo para que ela pudesse estar inteiramente ligada à família e à sociedade, e pudesse dedicar-se à música, pois foi Domitilla quem recebeu de presente do marido o primeiro piano a subir a serra. Tudo isso na época em que as mulheres em geral, eram extremamente submissas dos seus senhores maridos e dedicavam-se basicamente à educação dos filhos e às coisas da casa. Quase cinqüenta anos da mais completa felicidade conjugal confirmam e justificam este acerto, tendo sido Domitilla a sua incomparável companheira, confirmando o ditopopular: “Ao lado de um grande homem, existe sempre uma grande mulher”. Na relação com os filhos e netos, a estes se reportava como “filinhos”, não havendo incompatibilidade entre amor e respeito, mesmo quando estes mereciam repreensão, ela vinha em forma de conselho com tom de brandura. Pela influência de sua esclarecida experiência e saber, acabava sempre por convencer, deixando boas sementes plantadas com a profundidade de um verdadeiro educador, que nunca perde a oportunidade de sugerir boas idéias e bons princípios. Jesuíno foi sempre respeitoso e respeitado, todos o acercavam com satisfação e confiança, e retribuíam-lhe a ternura e apreço. Certa ocasião disse: “As fortunas ganham-se e perdem-se. Só a virtude dura. O que peço a Deus para os meus descendentes é que sejam honrados e bons. Tudo mais é secundário. Não ambiciono para os meus

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nem grandes talentos, nem grandes riquezas, mas rogo a Deus é que dê a cada um deles uma alma nobre e pura”. 5 Jesuíno reunia a família anualmente na Suíça, quanto tinha um contentamento maior ao ver de perto todos os seus. Embora já bem doente, tinha a ilusão confortativa de uma normalidade saudável, porém a resistência ia baixando progressivamente. Depois de receber com comovida satisfação, os sacramentos da sua igreja e de sua fé ardente, num ar de serenidade teve uma morte cristã, ocorrida em 7 de outubro de 1903. Jesuíno Marcondes faleceu na Suíça, mas antes pediu para que no seu caixão mortuário se colocasse uma almofada com flores secas, dos campos da Palmeira. O filho Moysés realizou o desejo do Pai. Flores da Palmeira foram para o silêncio da sepultura. Deixou o ato registrado em versos: “Forrei a urna que encerra Meu pai na terra estrangeira Com flores da nossa terra Lá dos campos da Palmeira Pobres flores sem frescura Flores secas, confortai Esta fria sepultura Onde jazeis com meu pai! Emprestai, patrícias flores A fria terra estrangeiras Um bafejo de calores Lá dos campos da Palmeira”.

Sua esposa Domitilla veio a falecer, também em Genebra com sessenta e cinco anos, tempos depois. O Conselheiro Imperial Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá, deixou para história um legado ímpar de informações onde se pode ajuizar com exatidão sua verdadeira conduta. Sem sombra de dúvidas ocupa em nossa história o brilhantismo de um dos mais importantes filhos de Palmeira. Por esta razão é que o Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira dedicou o 6º encontro do Povo Palmeirense como homenagem póstuma. 6

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MARCONDES, Moysés. Pae e Patrono. 1926. pg. 242

Homenageado pela “Honorífica Ordem da Freguesia Nova”, chancelada pelo nosso Instituto Histórico e Geográfico, quando da efetivação do 6º encontro do Povo Palmeirense em de 27 de julho de 2007, data comemorativa aos 180 anos de nascimento. 6

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REFERÊNCIAS CARNEIRO, David. D.PEDRO II NA PROVÍNCIA DO PARANÁ 1880– 1943. HISTÓRIA DO PARANÁ Vol. I e II – GRAFIPAR- Gráfica Editora Paraná Cultural Ltda , 1969 FREITAS, Astrogildo de. PALMEIRA REMINISCÊNCIAS E TRADIÇÕES II, Editora Líterotécnica-1984. MARCONDES, Moysés. PAE E PATRONO, Typographia do Annuario do Brasil, 1926. MAYER, Teresa Wansovicz – MEMÓRIAS DE PALMEIRA, Departamento de Educação – Prefeitura de Palmeira – 1992 MOREIRA, Júlio Estrela. FREGUESIA DA PALMEIRA, Editora A.M. CAVALCANTE e CIA LTDA – 1975. NEGRÃO, Francisco. GENEALOGIA PARANAENSE, Impressora Paranaense, Curitiba – 1926. ROMAGUERA NETTO, Luiz – GERTRUDES E O PADRE CAMARGO, Repro-Ste Indústria Gráfica Ltda – 1992.

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