Revista de História da Arte (n.º7 / 2009)

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va r i a · i m ag e n s d e a z u l

portugal. museu municipal de silves. prato fundo. faiança portuguesa. segunda metade do século xvi. emprego do óxido de cobalto, bastante diluído, sobre o branco de estanho a estrutura decorativa deste género de peças, anuncia a decoração exuberante dos pratos de aranhões de faiança portuguesa do século xvii

26. Estas cinzas não devem ser confundidas com o “mazacoto” – cinza alcalina empregue para o fabrico do vidro – o qual se obtém das cinzas da fornalha após a combustão de determinados arbustos. Por outro lado, as cinzas referidas no documento são em reduzida quantidade e peso o que, para ser o “mazacoto” produzido em trinta anos, as quantidades deveriam ser mais elevadas. 27. As olarias régias de Lisboa eram oficinas que possuíam nas suas portas as armas reais. Viterbo Vol. V, 254-255; 163 -168. Cfr. Apêndice Documental. Doc. 7.

possivelmente já utilizado em tempos medievais na melhoria do vidrado estanífero25. O arsénio de cor branco acinzentado será então o produto referido como as “cimzas”; doutro modo não haveria necessidade de o referir nem de o vender26. Parece assim demonstrado o fabrico em Portugal, no primeiro quarto do século XVI, de azul de cobalto, o qual foi essencial para a produção de louça azul e branca dentro da técnica da proto-majólica e da majólica portuguesa. O destino deste azul seria certamente as olarias de Beja, Coimbra e as olarias régias de Lisboa27. Quanto à personagem de Jorge Afonso, pintor régio, coaduna-se com o perfil do pintor da Renascença, o qual reunia em si os três pilares herdados dos sistemas artísticos medievais: o conhecimento da arte e a sua execução; o conhecimento dos materiais e o seu manuseamento alquímico. Na cerâmica de construção produzida em Alcobaça nos séculos XIV e XV, a cor do azul escuro ou azul azeviche é bem visível numa enorme quantidade de peças que em tempos lajeavam várias alas da abadia. Numa primeira análise, tais peças suscitam no investigador uma ambiguidade técnica, já que aplicar azul em materiais de construção não parece muito razoável. Porém, este azul é dado pelo tipo de pastas argilosas recolhidas em depósitos de margas da era geológica do Secundário, as quais, após a cozedura, ganhavam cor azulada que era mais avivada com o acabamento de fundente transparente. Digna de interesse sobre o uso do azul de cobalto na cerâmica, apresenta-se ainda a

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