Revista Ética Cristã, 34

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Filiada à Associação de Editores Cristãos (Asec) Presidente

Eduardo Berzin Filho Gerente de oPerações

Eurico W. Berzin

EDITORIAL

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Oziel Alves • MTB 14794/RS editorial@eticacrista.com.br eQuiPe editoriaL

Alex Fajardo, Asaph Borba, Celso de Carvalho, Ediane Oliveira, Elis Amâncio, Fernando Garros, Juliano Westphal, Marcos Couto, Mayra Bondança, Nilbberth Silva, Poliane Latta, Robson Morais, Rogério Nascimento, Vinícius Cintra e Viviane Castanheira coLaboradores

Asaph Borba, Fabrício Cunha, Gerson Garros, Pedro Luís Baldoni, Solano Portela fotoGrafia

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Igor Guedes e Mauira Borja dePartaMento coMerciaL (11) 4081 1760 Gerente coMerciaL

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30 mil exemplares

É t i c a c r i s t ã • J U L H O /A G O S T O • 2011

Gráfica banGraf distribuidor excLusivo Para bancas de todo brasiL

FC Comercial e Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 – Parte Vila Isabel. CEP 20563-900 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (0xx11) 2195-3200 (0xx21) 2195-3200 revista Ética cristã

é uma publicação da EBF Comunicação em coedição com a Editora Minuano. A EBF Comunicações criou, produziu e realizou este projeto tendo inteira responsabilidade sobre a originalidade e autenticidade de seu conteúdo. Edição 35 • julho / agosto dE 2011

Redação e administração: Rua Otavio Passos, 190, 2º andar Atibaia, SP - CEP: 12942-590 Telefones: (11) 4081-1760 editorial@ebfeventos.com.br Ética cristã

não se responsabiliza pelo conteúdo e pelos conceitos emitidos nos artigos assinados que não representam necessariamente a opinião da revista. É proibida a reprodução, total ou parcial, do material editorial publicado em ÉTICA CRISTÃ sem autorização prévia e documentada pela EBF Comunicações.

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oziel alves, editor

Que o amor de Cristo prevaleça!

Editar um periódico qualquer, cujo público leitor seja de no mínimo 100 mil pessoas, convenhamos, não é uma tarefa fácil. A responsabilidade por cada palavra publicada, por vezes, gera insônia e não raro pesa à consciência de uma forma incrivelmente absurda. Quando o nome desta revista se chama Ética Cristã então, o peso implícito, isto é, que vem agregado ao nome, torna o trabalho ainda mais desafiador. Afinal, o que é mesmo “ética cristã”? Será possível ser editorialmente relevante e ético ao mesmo tempo? A ética jornalística pode ser compatível com a ética cristã? No caso do jornalismo religioso, ser ético é ser imparcial? Longe de descobrir qualquer resposta, por hora, topo o desafio de cabeça erguida, levando em consideração apenas a seguinte premissa: ética parece ser algo que está em falta na sociedade, nos dias atuais. Foram dias de trabalho para que este impresso chegasse até você. Reformular gráfica e editorialmente uma revista conceituada no mercado, como Ética Cristã (antiga Revista Igreja), cujo comando já esteve nas mãos de grandes editores, como Omar de Souza, (editor da Thomas Nelson Brasil) e Carlos Fernandes, (editor da Revista Cristianismo Hoje) é motivo de honra, mas ao mesmo tempo de intensa preocupação para mim. Seguir os passos destes mestres é mais outro daqueles desafios constantes que a gente não supera nunca, se limita a conviver. Nesta edição de estréia, sob a minha editoria - seguindo solicitação da direção da EBF Comunicações - desenvolvemos como matéria de capa uma visão mais abrangente da opinião evangélica brasileira sobre a tão popular Lei da Homofobia. Afinal, se por um lado cresce o número de evangélicos que guerreia ideologicamente contra a luta da militância gay pelo reconhecimento de suas proposições, é preciso lembrar que por outro, também cresce o número de evangélicos que discorda desta retaliação, pois acredita que ela, talvez, esteja sendo muito mais nociva do que mesmo auxiliadora, afastando do amor de Cristo, por pura falta de tolerância, aqueles que mais precisem da ajuda da Igreja.

Ao todo, foram manhãs, tardes, noites e madrugadas conversando com incansáveis repórteres, designers, colunistas, fontes, escrevendo reportagens, editando-as, balanceando posições ideológicas, afastando opiniões pessoais, nos esforçando ao máximo para que você, leitor, pudesse tirar suas próprias conclusões. Como não acredito em imparcialidade absoluta, deixo com vocês a minha opinião. A igreja precisa manifestar, de forma mais sábia, o amor. Mas não o amor “obrigatório” e “superficial” que dizemos oferecer. Precisamos do puro, único e verdadeiro amor de Deus. Não temos dúvidas de que a Igreja cresce, como é caso da reportagem sobre a Igreja no Oriente Médio; Que ela tem se empenhado na busca pela justiça social, aqui retratado numa excelente reportagem sobre o velho e bom evangelismo porta a porta; Que ela se desenvolve em conhecimento, como mostrado na matéria sobre os cursos de teologia. Mas é preciso lembrar do texto de Paulo aos Coríntios quando disse: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, se não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. Para finalizar, cabe uma das melhores citações do grande mestre Dr. John Stott, recentemente falecido: “Que no essencial, haja unidade; no não essencial, flexibilidade e em todas as coisas, o amor.” Boa leitura.


E D i Ç ã O

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/

a G O s t O

D E

2 01 1

04 EDITORIAL 06 CARTAS 07 GIRO NEWS

32 CAPA

Igreja Dividida? 4 linhas de pensamento separam os evangélicos quando o assunto é a lei da homofobia

Manoel Ferreira: Culpado ou Inocente?

GIRO NEWS BRASIL

08 IBOPE

Brasileiros devem gastar r$ 7,18 bilhões com livros em 2011

08 DINHEIRO

22 ENTREvISTA

Isenção fiscal a templos religiosos

10 NO SUL

LOURENçO STELIO REGA: “Poderiamos ter sido mais efetivos, se não tivéssemos reduzido o evangelho em salvação e ocupacionismo”.

Campanha pró-ateísmo é lançada em Porto Alegre

12 PENTECOSTALISMO

assembleia de Deus batiza 82 mil pessoas no mês do centenário

GIRO MUNDO

38 INTERNET

18 ESPORTE

Fogospel: uma torcida de fé

14 GAMES

#EuEscolhiEsperar movimento virtual pela abstinência sexual antes do casamento

Igreja no Facebook?

14 CIêNCIA

Cientísta afirma ter encontrado a cura para o envelhecimento

15 GERAL

Cerimônias de divórcio batem recorde no Japão

15 MUNDO ÁRABE

Talibã executa homem que se converteu ao cristianismo

15 POLÍTICA

NOSSOS COLUNISTAS

CADERNO EQUIPAR 16

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16 ASAPH BORBA / Louvor: Ontem e Hoje 30 GERSON GARROS / Aconselhamento Pastoral 42 PEDRO LUÍS BALDONI / Direito 48 SOLANO PORTELA / Entendimento Cristão 58 FABRÍCIO CUNHA / Pastorais Urbanas

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60 ILUMINAçãO

A nova estratégia na pregação do evangelho

61 PRATICIDADE E BEM-ESTAR

Igrejas investem em móveis especializados

62 FLANELóGRAFO MODERNO Tintas imãs trazem inovação às EBDs

63 NOvOS ADAPTADORES

Igrejas também devem se enquadrar ao novo padrão

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Parlamento do Nepal pode proibir conversões

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E-mails

FALE COM A REVISTA ÉTICA CRISTÃ Para fazer comentários sobre o conteúdo editorial, oferecer sugestões, fazer críticas às matérias ou solicitar informações relacionadas às reportagens envie e-mail para: editorial@eticacrista.com.br Twitter: @eticacrista • As mensagens devem ter nome completo, endereço e telefone.

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• Por razão de espaço e clareza, seus textos podem ser publicados resumidamente.

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Não tenho dúvidas que a Revista Ética Cristã está sendo um instrumento divino para informar e unir o povo de Deus no Brasil. Paulo Soares de Oliveira Igreja Batista Jardim Botânico Sinop, MT

Gostei muito das matérias da nova revista Ética Cristã. Algumas nos deixam muito tristes, mas não temos como ocultar a verdade. Parabéns pelo trabalho da equipe e que Deus continue dando graça e saberia a todos. Por Nilson Passarin Comunidade Resgate das Nações Blumenau, SC

Quero lhes parabenizá-los pelo belo nome escolhido para a Revista. Com a modernidade, o avanço tecnológico e a desagregação da família, a sociedade esta perdendo a ética cristã e isto esta influenciando, diretamente, a igreja. Precisamos, urgentemente, reverter essa situação. Pr. Flávio Silva Igreja Evangélica Deus para as Nações São Paulo, SP


Bispo Manoel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, se envolve em novas denúncias, mas nega as acusações

ROGÉRIO NASCIMENTO

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GIRO news

m recente reportagem publicada pela Revista Isto é (edição do dia 7/7/2011), o presidente da CONAMAD (Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil), bispo Manoel Ferreira, volta a se envolver em escândalos. Ele é acusado de usar laranja para fundar a Faculdade Evangélica de Brasília, dar golpe em sócios, além de sonegar impostos, demitir funcionários sem pagar direitos trabalhistas e de ameaçar os mesmos. A denúncia foi feita pelo pastor Donizetti Francisco Pereira, membro da CONAMAD, que juntamente com Ferreira foi fundador da Faculdade em 2003. Segundo Pereira, nos primeiros contratos ele possuía 20% das cotas, mas em 2007, foi realizada uma Assembleia Geral e a divisão destas cotas ficou entre dois sócios: Ricardo Pereira e a CONAMAD. Acontece que suas cotas foram vendidas por R$ 200 mil e Pereira recebeu quatro cheques de R$ 50 mil que não puderam ser sacados porque foram

sustados antes da compensação. A ata foi assinada por todos os sócios, constando até a assinatura do bispo - que não deveria ter assinado tornando-se uma espécie de sócio oculto. O advogado Eduardo Sampaio de Oliveira, outro laranja do bispo, segundo o denunciante, diz que Pereira nunca teve direito aos 20% apesar de constarem no contrato social, pois estas pertencem, na verdade, a CONAMAD. Donizette Pereira diz ter “sido apunhalado pelas costas”, e que agora está sem poder trabalhar, já que seu nome está sujo na praça. Em entrevista, ele diz que resolveu fazer as denuncias, porque o bispo se nega a fazer qualquer acordo. Ele diz também que outros professores, sócios e funcionários foram prejudicados, mas por medo de represálias, não se manifestam. Diz ainda que a faculdade, apesar de ter poucos anos de existência está afundada em dívidas, com 140 ações trabalhistas, 18 ações judiciais, pendências no serasa e 108 processos. Não é a primeira vez que o nome do bispo Manoel Ferreira se vê envolvido em denuncias e escândalos. Ele já foi acusado de promover encontros ecumênicos com a Igreja da Unificação, do Reverendo Moon, inclusive com vídeos que se tornaram muito populares na Internet. Em nota à imprensa Ferreira, nega todas as acusações, dizendo que tudo não passa de “devaneio” e que as informações não possuem “fundamento algum”. A nota diz também que a matéria tem como objetivo “atacar sua ilibada reputação.” Agora é aguardar para ver!

/ GIROBrasil

Campanha pró-ateísta lançada no RS Capital gaúcha se tornou a primeira cidade brasileira a exibir peças publicitárias em favor do ateísmo. Pág. 9

NOTíCIAS SOBRE O BRASIL E MuNDO VEJA MAIS NOTíCIAS NO pORTAL cREIO

• www.creio.com.br

/ GIROMundo Sagradas Escrituras Lei obriga bibliotecas do RJ a ter a Bíblia em seu acervo. Pág. 10

Games Jovens criam Igreja no Facebook. Pág. 14

Viver até os mil anos? Cientista afirma ter encontrado a “cura” para o envelhecimento Pág. 14

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Culpado ou Inocente?

GIRO

notícias

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GIRO

BRASIL

0 POLêMICA

IBOPE diz que os Brasileiros devem gastar R$ 7,18 bilhões com livros em 2011 DA REDAçãO

O É t i c a c r i s t ã • J U L H O /A G O S T O • 2011

expressivo número, recentemente divulgado pelo IBOPE Inteligência, afirma ainda que a região Sudeste é responsável por 57,9% de todos os livros comercializados no Brasil, o que equivale, em média um investimento anual de R$ 55,08 por habitante. A segunda região do País que mais compra livros é a região Sul, responsável por 15,28% do

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consumo. No Rio Grande do Sul, o gasto per capita é de R$ 46,7. Mas o que chama atenção destes dados é que grande parte dessa quantia será consumida com literatura evangélica. Dados revelados pelo Instituto Pró-Livro, em relação à 2009, afirmam que os evangélicos lêem uma média de 7,1 livros por ano, enquanto a média anual dos brasileiros em geral é de apenas 4,7 (incluindo o que se lê na escola).

crianças de Embu das Artes (Sp) recebem cartilha de educação sexual

C

erca de 20 alunos, de 9 a 10 anos, do 4º ano da Escola Municipal Elza Marreiro, foram surpreendidas com um livro de educação sexual. O material, com 16 páginas, contém ilustrações como a de um bebê tirando a fralda de outro, enquanto este se toca e de um menino e uma menina frente a frente, com as mãos nos respectivos órgãos sexuais. De acordo com a Secretaria de Educação de Embu das Artes, essa cartilha havia sido vetada no ano de sua elaboração, em 2005, por exatamente, conter material impróprio para crianças dessa faixa etária. A Secretaria ainda afirma que este material deveria ser encaminhado diretamente aos pais, e estes conversariam com os filhos a respeito do livro.

0 DINHEIRO

câmara analisa pLc que dá isenção fiscal a templos religiosos

C

âmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei Complementar 65/11, do deputado Audifax (PSB-ES), que cria regras para a concessão de isenção fiscal a templos religiosos. Segundo a proposta, só poderá receber o benefício o templo que cumprir uma

série de requisitos, como aplicar integralmente os ganhos no próprio país, ou mesmo respeitar as normas relativas ao direito de vizinhança. O deputado justifica sua proposta com o argumento de que tem sido observada a ocorrência de pessoas não

religiosas se utilizando dos benefícios fiscais e financeiros que a igreja recebe, burlando a fiscalização federal. O projeto será analisado pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania antes de ir ao Plenário.


0 NO SUL

campanha pró-ateísta é lançada em porto Alegre

D

esde o último dia 5 de junho, Porto Alegre se tornou a primeira cidade brasileira a exibir peças publicitárias em favor do ateísmo. A iniciativa, da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA), visa debater questões polêmicas como fé e moralidade. Em um dos trabalhos, Jesus é definido como “mito palestino”, enquanto outro descreve o ditador alemão Adolf Hitler como um crente em Deus e Charlie Chaplin, ateu, terminando com os seguintes dizeres: “Religião não define caráter”.

vapt-vupts A IGREJA TEM SuA PARCELA DE CONTRIBuIçãO O número de adolescentes grávidas caiu 37% nos últimos 11 anos em São Paulo. A Secretaria Estadual de Saúde atribui a queda, principalmente, aos profissionais de saúde que foram capacitados para lidar com o público jovem, mas todos sabem que a Igreja também tem a sua parcela de contribuição. É VER PARA CRER

LIVRO DENuNCIA PASTORES Gentil Lopes da Silva, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), lança livro polêmico que denuncia, o que, na sua opinião, é entendido como abuso religioso de diversos líderes.Lançado pela Letra Capital Editora o livro O Tao da Matemática denuncia nomes como Edir Macedo, Silas Malafaia, Valdemiro Santiago, R. R. Soares e até mesmo alguns padres como o Pe Léo e Pe Fabio.

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O Estado, cujo índice de crescimento dos evangélicos é o menor de todo o Brasil já havia sido alvo da ATEA no final do ano passado. À época, chegou a ser anunciado a veiculação de outdoors em alguns ônibus da capital gaúcha - assim como em Salvador-, mas as empresas, receosas com a repercussão, cancelaram o contrato. Ao todo, são quatro outdoors espalhados em diferentes pontos da cidade, e ficarão expostos por, no mínimo, um mês.

Depois de anos de perseguição religiosa, a Turquia, finalmente, aprovou uma emenda que visa acabar com a opressão que a minoria cristã do país vem sofrendo. A lei acrescentou um seguro “retorno” para as igrejas fazerem suas atividades dando maior proteção para aqueles que se autodenominam cristãos.

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GIRO

BRASIL

Sagradas Escrituras Lei obriga bibliotecas do RJ a ter a Bíblia em seu acervo

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esde o começo do mês de julho, todas as bibliotecas do Rio de Janeiro devem ter em seu acervo pelo menos um exemplar da Bíblia. O Diário Oficial do estado publicou a sanção governamental à lei 5.998/11, de autoria do deputado Edson Albertassi, do PMDB. Em caso de descumprimento, a multa será de mil Ufirs-RJ (unidades fiscais de referência do estado do Rio), o que equivale a 2.130 reais. Se houver reincidência, o valor dobra. A explicação do deputado estadual Albertassi para determinar que as cerca de três mil bibliotecas do Rio tenham a Bíblia entre os seus livros está no conteúdo. “A intenção é que as novas gerações conheçam a Bíblia. Ela proporciona a formação de caráter com nível de excelência”, diz o deputado. O parlamentar, evangélico, é diácono da Igreja Assembleia de Deus da Vila Mury, em Volta Re-

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0 ISENçãO DE IMPOStO

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Deputado propõe benefício para Igrejas com transparência nas contas

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deputado Audifax Barcelos (PSB-ES) protocolou o PLC (Projeto de Lei Complementar) 65/11 que regulamenta a isenção fiscal às religiões e concede o benefício somente aos templos que apresentarem transparência em sua contabilidade. Pela proposta, os templos deverão

donda. “O Brasil é um país cristão, e a Bíblia valoriza a família e os princípios de uma sociedade mais justa”, explica. Para o coordenador-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (Sepe), Danilo Serafim, o estado laico acaba de dar um passo para trás. “Nossa posição é de que isso é uma imposição e um absurdo. No momento em que falta tanto livro didático, obrigar as bibliotecas a ter a Bíblia é um retrocesso. Separar a religião do estado foi uma conquista histórica para o Brasil, com tamanha diversidade cultural e religiosa”, afirma. A professora da UERJ Miriam Paura, do setor de educação, não é contra a obrigatoriedade por se tratar de um livro universal, que, segundo ela, deve estar disponível aos alunos. Mas faz uma ressalva: ninguém tem que ser obrigado

registrar com “exatidão” em livros ou em meios digitais suas receitas e despesas. O PLC determina que as igrejas não poderão “distribuir [a terceiros] quaisquer parcelas de seu patrimônio ou de sua renda a qualquer título”. No caso de a congregação ser extinta, seu patrimônio – incluindo os templos -- será doado a outra entidade religiosa que atenda aos requisitos da lei. As religiões ficarão também obrigadas a aplicar seus recursos no Brasil de acordo com os objetivos registrados em seu estatuto ou contrato social. O PLC define como templo todo “edifício ou terreno dedicado ao culto religioso, todo o patrimônio imóvel, as edificações

A intenção é que as novas gerações conheçam a Bíblia. Ela proporciona a formação de caráter com nível de excelência.

a lê-lo. “Vamos dar a oportunidade para que todos tenham conhecimento sobre o livro. Falo mais em relação à questão histórica presente na Bíblia. A leitura, no entanto, não pode ser obrigatória”, explica. A secretaria estadual de Educação disse que só se pronunciará depois analisar detalhadamente a lei e sua regulamentação.

que permitam, direta ou indiretamente, a realização, manutenção ou extensão das atividades religiosas”. Barcelos afirmou que decidiu apresentar o PLC porque existem pessoas que se aproveitam da isenção fiscal para obter vantagens pessoais. “Elas tentam ocultar a ocorrência de fatos gerados de obrigações tributárias, mediante a utilização indevida de aparato religioso, visando a confundir a autoridade fiscal”. Para ser votado no plenário, o PLC terá de obter parecer favorável nas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania, além de sobrevir ao poderoso lobby no parlamento das religiões.


por acreditar em Jesus, mãe é morta pelo filho

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m adolescente de 17 anos assassinou sua própria mãe, de 48, na cidade de Aparecida do Taboado (MS), divisa com São Paulo. De acordo com o próprio rapaz, o crime foi cometido por ele ser adepto a seitas satânicas, enquanto a vítima era crente em Jesus, “uma criação do homem”. De

acordo com o registro policial, após mãe e filho discutirem sobre um vídeo que o adolescente afirma ter produzido sobre terrorismo, o rapaz entrou na cozinha, pegou uma faca e golpeou sete vezes no peito da vítima. A mulher morreu num posto de saúde, assim que recebia o atendimento médico. O rapaz foi localizado na manhã seguinte. Em outubro passado, o Corpo de Bombeiros foi acionado para socorrer o rapaz acusado de matar a mãe. À época, ele apresentava um quadro de depressão e esquizofrenia, segundo registro policial.

0 POLÍtICA

Marina Silva anuncia saída do pV

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ista como a candidata da (maioria) dos evangélicos na últimas eleições, Marina Silva desligou-se do Partido Verde (PV) no última dia 7 de julho. A saída, de certa maneira, não sur surpreende. Cristã evangélica, Marina enfrentava alguns conflitos ideológicos em relação ao liberalismo do PV, como, por exemplo, a legalização da maconha e do aborto. Em entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre, a acreana considerou a possibilidade de ser mais uma vez candidata à Presidência da República. “Se em 2014, com legitimidade, as circunstâncias da política do Brasil exigir um passo nesta direção, eu peço a Deus coragem para dá-lo. Neste momento eu não sei se serei candidata ou não”. A ex-senadora não definiu prazos para o anúncio de sua nova legenda.

EM BAIXA Colunista da Folha de São Paulo critica Marcha para Jesus... A proximidade entre a parada gay e a Marcha para Jesus, não poderia, obviamente, passar incólume aos comentários da grande mídia brasileira. Gilberto Dimenstein, colunista do jornal Folha de São Paulo (FSP), chegou à conclusão: “São Paulo é mais gay do que evangélica”. A razão? A civilidade do povo paulistano. De acordo com o evangéjornalista, ao contrário dos evangé railicos, que utilizam de um “ranço rai voso para se manifestar”, os gays se expressam através da alegria.

EM ALTA ...e jornalista da Veja responde: REInALDO AzEREI VEDO, notoriamente um jornalista conservador, respon respondeu, em seu blog, às insinuações da Folha. Item por item, Aze Azevedo desconstrói a argumen argumentação de Dimenstein. Entre os principais pontos do texto, Azevedo utiliza a seguinte afirmação do colunista da Folha “Os gays não querem tirar o direito dos evangélicos de serem respeitados. Já a parada evangélica não respeita os direitos dos gays” respondendo que “são os militantes gays que querem mandar os evangélicos para a cadeia, não o contrário”.

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0 DIAbO vS jESUS

em baixa em alta

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GIRO

BRASIL

0 PENtECOStALISMO

Batismo Coletivo

0 POLÍtICA

no paraná, evangélicos criam escola para vereador

82 mil novos crentes se batizaram durante mês do centenário da AD

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ão é somente o número 100, de centenário, motivo de comemoração da Assembleia de Deus no Brasil, mas também o número de batizados durante o mês de junho, período em que é comemorado o centésimo ano de existência da maior denominação do país e que continua em expansão após 82 mil novos crentes descerem às águas batismais. Para ser exato foram 82.424 mil batizados durante o Batismo do Centenário, o maior em águas já feito por uma denominação no país em um único período. Os números totais ainda não são conhecidos, mas até a última parcial da contagem, 19 Convenções regionais e mais 243 igrejas e ministérios da AD (Assembleia de Deus) em diversos Estados já haviam enviado dados à Redação do jornal “Mensageiro da Paz”. A data oficial do Batismo do Centenário, conforme programação estabelecida pela CGADB ano passado foi 12 de junho. A maioria esmagadora das igrejas que realizaram Batismo do Centenário fez a cerimônia nessa data. Já as demais igrejas que participaram, devido a circunstâncias locais, realizaram a cerimônia alguns dias antes ou depois da data oficial, mas todas dentro do mês de junho. A Convenção regional da AD cujas igrejas mais batizaram crentes foi a Convenção Fraternal e Interestadual das Assembleias de Deus do Ministério do Belém – SP (Confradesp), liderada pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa, com 15.592 batizados (os números da Confradesp ainda não são

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m Ponta Grossa, um movimento suprapartidário inédito das igrejas evangélicas irá realizar um curso preparatório para candidatos a vereador em 2012. A intenção é eleger três candidatos, contando com o apoio dos cerca de 50 mil evangélicos na cidade, de um total de 210 mil eleitores. O coordenador do movimento, Pastor Rawlinson Rangel, da Igreja Restauração, explica que qualquer pessoa que comungue dos ideais cristãos poderá participar do curso, que segue até dezembro. “Não são apenas pastores, mas toda pessoa que siga a ética bíblica pode participar”, comenta.

definitivos, portanto o número pode aumentar). A segunda foi a Convenção das ADs no Estado do Pará (Comieadepa), presidida pelo pastor Gilberto Marques, com 12.320 batizados. A meta da Convenção Geral era batizar pelo menos 100 mil novos crentes no mês de junho em todas as ADs ligadas à CGADB. Como os dados ainda não são definitivos, pode-se ter chegado a esse número ou até o ultrapassado. Independente disso, o número parcial de mais de 82,4 mil batizados em um único mês por uma única denominação no país já é um marco sem precedentes na história da igreja evangélica brasileira. A lista completa do número de batizados no Batismo do Centenário por Convenções, igrejas e ministérios ligados à CGADB será publicada na edição de agosto do jornal Mensageiro da Paz.

0 FILHO DE tEStEMUNHAS DE jEOvá Médicos ganham na justiça direito a transfusão de sangue em bebê. Embora o bebê tenha nascido prematuro e com insuficiência renal e anemia grave, seus pais, Testemunhas de Jeová se recusaram a autorizar uma transfusão de sangue. Por intermédio da AGu (Advocacia-Geral da união), médicos do Hospital das Clínicas da universidade Fede-

ral de Goiás recorreram, à Justiça com o pedido de autorização para salvar o bebê, de apenas 29 dias. A Justiça Federal da 8ª Vara de Goiás concedeu uma liminar autorizando a transfusão e demais procedimentos médicos. A sentença afirma que “o princípio do direito à vida deve prevalecer sobre o princípio de liberdade de crença”.


corinthians lança campanha com “vela on-line” Até que ponto isso compromete a fé dos torcedores evangélicos?

É

de domínio público que um dos maiores símbolos do Corinthians é a figura de São Jorge, santo que, segundo o conto mitológico, mata um dragão e salva a princesa. Agora chegou a vez do Timão capitalizar com a figura católica. Juntamente com a compra do terceiro uniforme do clube, que possui a imagem do santo estampada em formato “marca d’agua”, na altura do peito, torcedores poderão acender uma

0 IGREjAS

pastor Jabes de Alencar comemora 30 anos de ministério

O

tradicional café da manhã dos membros do Conselho Estadual de pastores de São Paulo foi palco de uma grande homenagem: Os trinta anos de ministério do Pastor Jabes de Alencar. Pastor da Igreja Assembleia de Deus de Bom Retiro, Jabes de Alencar, que também é presidente do Conselho Estadual de Pastores, recebeu homenagens

“vela on-line”, endereçadas ao padroeiro corinthiano. A iniciativa, na opinião do gerente de marketing do Timão Caio Campos, não deve causar nenhum tipo de rejeição entre os evangélicos. “Aqui estamos falando de outra religião, o corintianismo, que é a religião mais popular na Republica Popular do Corinthians. Para os cidadãos da república não importa o credo e sim o amor pelo Timão e sua história”, justifica. Para fazer o pedido on-line, o torcedor deve comprar a camiseta roxa, número 3, no site shoptimao.com.br. A aquisição lhe dará um código que terá de ser usado na hora de cadastrar o pedido, na página oficial do clube. Aí então, basta escolher a vela - e sua prece-, e esperar a benção chegar. Em pouco mais de dez dias de comercialização, o site já atingiu mais de 90 mil acessos, além de 800 velas acesas.

de diversas personalidades pastorais, como Silas Malafaia e Samuel Ferreira. Emocionado com a data, o pastor agradeceu o carinho. “Eu sou um privilegiado. Tenho um Deus poderoso, uma família abençoada. Meus pais, pastores por tantos anos, me criaram nos caminhos do Senhor. uma igreja abençoadíssima, amigos e muita gente querida. Realmente, só tenho a agradecer à Deus”, comemora.

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0 ESPORtES

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GIRO

M BR uA NSDI O L

0 INtERNEt

Igreja no Facebook

Será que a brincadeira é positiva?

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0 CIêNCIA

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Viver até os mil anos? Cientista afirma ter encontrado a “cura” para o envelhecimento

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primeira pessoa a viver até os mil anos está a menos de vinte anos de nascer. Isto é, pelo menos, no que o cientista Aubrey de Grey acredita. Coordenador de pesquisas sobre envelhecimento da universidade de Cambridge, na Inglaterra, de Grey é autor de uma controversa teoria que afirma que processo de envelhecimento é

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epois de hospedar jogos controversos para a fé cristã como “PotVille”, onde o usuário precisa cultivar uma plantação de maconha, ou do “Máfia”, cujo objetivo é realizar negócios escusos e viver no submundo do tráfico, chegou a vez dos jovens cristãos, desopilarem na rede social e, ainda assim, pregarem a palavra de Deus. Ainda em versão de teste, HolyTown (Cidade Santa, em inglês), está disponível desde junho e já conta com mais de 25 mil “likes”. O jogo – totalmente em inglês - consiste, basicamente, em criar uma igreja e desenvolvê-la. Existe uma opção chamada “Preach” (pregar), e é através dela que o usuário começa a montar seu ministério, digitando palavras relacionadas ao evangelho, como, por exemplo, “saviour” (salvador) ou “sacriface” (sacrifício) até cinco vezes por dia. Outra maneira de angariar fundos é publicando versículos na plataforma. Quanto mais moedas receber, maior será sua capacidade de investimento, o que propicia ao usuário a possibilidade de comprar templos maiores ou móveis para a sua igreja virtual. Em entrevista ao portal “The Christian Post”, o criador do jogo, Maiko Martin, de 21 anos, afirma que a ideia foi sugestão de uma tia. “Durante uma conversa com a minha família, minha tia disse que seria uma grande ideia usar nossa habilidade para criar um jogo cristão. Como eu já desenvolvia jogos para o Facebook, tinha experiência de como as coisas funcionariam na plataforma”.

causado por sete tipos de danos a nível celular, no organismo. Se esses danos forem bloqueados a vida poderá estender-se por um tempo incalculável e o envelhecimento poderá ser tratado como uma doença. Através de técnicas de “medicina regenerativa” será possível evitar a degradação das células, causadora das principais doenças que surgem com a idade avançada, por exemplo “Alzheimer, Parkinson e problemas cardiovasculares”. Por dia, mais de 100 mil pessoas morrem em decorrência da velhice.


0 POLÍtICA

parlamento do nepal pode proibir conversões

cerimônias de divórcio batem recorde no Japão diador, convidados, refeições, e até vestimentas especiais para a futura ex-mulher. Os casais japoneses vêem a celebração como uma maneira de terminar o relacionamento, mas preservando a amizade e o respeito mútuo. Na opinião do criador do serviço, HirokTerai (31), que nunca se casou, os acontecimentos no Japão fizeram muitos reverem seus conceitos. “Alguns acham que o trabalho tem uma prioridade maior que a família, e estas cerimônias ajudam as pessoas a terem mais confiança na hora do divórcio”, opina.

Governo Nepalês pode estar em vias de proibir as conversões, alertam as agências internacionais de missões. Desde 2006 sendo um estado secular, o parlamento nacional estuda a promulgação da lei que proíbe qualquer tipo de conversão. De acordo com o artigo 160 da nova constituição (ainda a ser aprovada), “não será permitido a ninguém fazer qualquer coisa que provoque a perda da fé de pessoas de qualquer casta, comunidade ou credo”. Ou seja, os cerca de 140 mil cristãos (cerca de 0,6% da população) que vivem no Nepal, podem ser proibidos de professarem a fé em Jesus Cristo, sob risco de serem punidos com até cinco anos de prisão, além de uma multa equivalente a pouco mais de R$ 1200,00, o que é um valor considerável, considerando-se a renda per capita da população. Caso o transgressor seja não-nepalês, ele terá sete dias para deixar o país. Em contrapartida, locais hindus acusam os protestantes de promover o ódio com àqueles que não aceitam a Jesus.

0 MUNDO áRAbE

Talibã executa homem que se converteu ao cristianismo

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o Afeganistão, Abdul Latif, um homem de, aproximadamente, 40 anos, foi seqüestrado e decapitado por quatro homens que se declaravam como forças do Talibã, grupo extremista islâmico. um vídeo obtido pela revista americana “World Magazine” mostra a chocante cena.

O vídeo, de quase dois minutos de duração, mostra os seqüestradores vestindo roupas próprias de soldados suicidas, além de cobrirem os rostos. Enquanto recita-

vam versos do Alcorão, levavam o rosto de Abdul ao chão. “Você se juntou aos pagãos. Sua sentença é a decapitação”, declarou um dos sequestradores, antes de completar, “qualquer um que troca de religião deve ser executado”. Abdul chega a lutar com seus sequestradores, mas sem obter sucesso. O homem passa seus últimos momentos gritando “Allahu Akhbar”, isto é “Deus é bom”.

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magine uma cerimônia onde o que é celebrado não é o início, mas o fim de um relacionamento. Pois no Japão, a nova febre entre os casais que sofrem com as agruras do mundo moderno são as “cerimônias de divórcio”. Desde março, quando um tsunami e uma série de terremotos devastaram o país asiático, o numero de festas do tipo triplicou. A cerimônia, que custa o equivalente a cerca de mil reais, é marcada pela destruição das alianças com um martelo, atividade esta realizada pelo próprio casal. Além disso, também há a recepção da festa, além de um me-

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LOuVOR: ONTEM E HOJE

Asaph Borba

Asaph Borba

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Considerado o pai do canto congregacional brasileiro, Asaph é ministro de louvor há 35 anos, tem 70 discos gravados, mais de 2 milhões de cópias vendidas e viaja o Brasil e o mundo pregando o evangelho através do louvor.

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Expressão do coração ou produto de consumo? A influência da música gospel estrangeira tem estancado a riqueza de estilos e o fluir genuíno da adoração brasileira

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tempo frio e chuvoso, na cidade de Ponta Grossa no estado do Paraná, não impedia que minha mãe pegasse seus quatro filhos, ainda pequenos, e os levasse às reuniões de quarta feira, na Igreja Congregação Cristã do Brasil, aonde um dirigente com um acordeom vermelho ensinava os “corinhos”de louvor e adoração, impressos na contracapa do novo hinário da denominação. Foi ali, a primeira vez que me deparei com este estilo de música, diferente dos antigos hinos, que se define hoje no meio evangélico, como Louvor e Adoração. Meu entendimento sobre o tema foi crescendo, depois de minha conversão em 1974. Comecei compor cânticos, e conheci outros que o faziam. Uma noite na Igreja Metodista Institucional, conheci o grupo cristão de maior influência na época, Vencedores por Cristo. O local estava abarrotado de gente, o que demonstrava a expectativa e sede, de gente que, como eu, estava buscando uma nova maneira de expressar-se diante de Deus. Para minha surpresa, o pastor da igreja, me chamou para uma canção inicial junto com o grupo. Que emoção! O que ficou gravado em meu coração, entretanto, não foi apenas a alegria de ter tocado com Na minha época aqueles irmãos, mas foi o ambiente de de adolescente e depois louvor. Eu disse a Deus, que era aquijovem cristão, cheio lo que eu queria para minha vida. As músicas cantadas por aquele grupo, de músicas de louvor entre elas “Se eu fosse contar”, nunca e adoração, o que eu mais saíram de meu coração. mais queria era jorrar Depois disso, muito aconteceu o vinho novo que Deus em minha vida e na Igreja, princiquando se fala de louvor e gerava em minha vida. palmente adoração. Agradeço a Deus que me A música deixou de ser uma simples expressão do coração para se torpermitiu ter pastores nar um produto de consumo de um que abriram espaço grande segmento de mercado, fruto para isso. do crescimento natural da Igreja bra-

sileira. Uma parte dos novos músicos, foram gradativamente deixando de fazer algo para adorar a Deus, mas para satisfazer a este público consumidor. Isto fez com que muito da riqueza de estilos que temos, se perdesse em meio a uma música com cara de importado que estancou o fluir genuíno da adoração brasileira. Esta influência estrangeira é um outro aspecto. No Brasil tem-se a tendência de se achar que o que vem de fora é o melhor. Não tenho nenhuma barreira com a música de outros povos. Sou um incentivador pessoal da música cristã das nações. Porém, ao andar pelo mundo, tomo o cuidado de estar atento ao que Deus está fazendo. Sei o quão importante é valorizar os compositores, os ritmos e a cultura de cada local, para que não aconteça o que tem aconteceu com nossas expressões musicais. Temos a capacidade de assimilar o estrangeiro com facilidade ao ponto de deixar nossa rica expressão musical de lado, fazendo com que a cultura musical cristã valorize o importada e deixe de lado o que é nacional. Podemos pontuar também a tendência de manter as formas dogmáticas e ritualistas que criam estruturas engessadas, que roubam a simplicidade e riqueza de tudo que é novo e espontâneo. Não me refiro àquilo que já é definido nos rituais dos cultos cristãos históricos, mas falo também dos novos rituais que as igrejas mais novas tem criado, que se mostram tão inflexíveis quanto as mais tradicionais, dificultando a abertura ao novo. Na minha época de adolescente e depois jovem cristão, cheio de músicas de louvor e adoração, o que eu mais queria era jorrar o vinho novo que Deus gerava em minha vida. Agradeço a Deus que me permitiu ter pastores que abriram espaço para isso. Hoje, vejo que ainda há muito a ser feito mas, com a graça de Deus, o louvor e a adoração não vão cessar, pois acima de tudo, está o coração de cada adorador que Deus procura.

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ESPORTE

Torcida de

Torcedores evangélicos do Botafogo (RJ) criam a “Fogospel”, torcida organizada que canta, pula e até ora unida ROBSON MORAES

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“Botafogo, Botafogo, campeão desde 1910. // Foste herói em cada jogo, Botafogo, por isso é que tu és.” Este hino passaria despercebido em meio aos milhares de torcedores que comparecem ao Estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro, casa do Botafogo, não fosse pelo fato de que a torcida organizada é composta por cristãos alvinegros que uniram seus dois maiores prazeres, a paixão pelo futebol e o amor ao evangelho.

udo começou em 12 de outubro de 2009, na partida que terminou empatada em 2 a 2 entre Botafogo e o catarinense Avaí. Um grupo de torcedores liderado por Hercules Martins, pastor há 19 anos, líder da Comunidade Evangélica Torre Forte em Olaria, Rio de Janeiro, exibia uma simples faixa na arquibancada dando início ao projeto. Dali pra frente, centenas de amantes do futebol se mobilizariam em prol do evangelho. “Comecei com uma comunidade despretensiosa no Orkut. Fiz a faixa e fui para o jogo. Para minha surpresa a aceitação foi maciça. Dezenas de torcedores vinham até nós para tirar fotos. Muitos manifestavam apoio e interesse em fazer parte do movimento”. Alvinegro de nascimento, Hercules

cresceu ouvindo do pai as histórias do clube carioca, que na época era repleta de craques, base da Seleção Brasileira, e que contava com um dos melhores jogadores de todos os tempos: Manoel dos Santos, mais conhecido pelas canelas tortas e pelo apelido de Mané Garrincha. A paixão do pastor pelo “glorioso” não encontrou obstáculos diante das histórias místicas envolvendo o clube. No meio esportivo, o clube tem a fama de ser “azarado”, especialmente em razão de impensáveis derrotas para adversários bastante inferiores, além do longo jejum de 21 anos sem títulos. “Há coisas que só acontecem com o Botafogo”, diz um velho ditado esportivo. Nos jogos, a tática é sempre a mesma. Reunidos no setor Leste Superior,

o grupo estende a faixa e veste a camisa que os identifica como cristãos. Devidamente uniformizados, os mais de 50 membros ajudam a divulgar a proposta por meio de mensagens e panfletos informativos. Na frente, o escudo do time amado e, no verso, testemunhos de torcedores e também ex-atletas do clube, hoje servos de Deus. “Já chegamos nos principais jogadores do Botafogo, como Loco Abreu, o goleiro da Seleção Jefferson, Bruno Tiago e os craques do passado Túlio Maravilha e Sergio Manoel. Todos cultivam um carinho especial pela torcida” conta o pastor. O grupo, que torce sem palavrões nem cerveja, aos poucos, chama a atenção de outros torcedores, e o número de adeptos só cresce. A cada rodada do campeonato, Her-


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Culto da Fogospel, realizado no último mês de julho No estádio do Engenhão O jogador Bruno Tiago, Pr. Hercules e Alex Gonzaga, vocalista da banda Novo Som

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apenas boas lembranças. “Foi cules conta que os mais curiosos se muito bom. Quando os conheci mostram interessados em ingresQuando os estava afastado da casa de Deus, sar no grupo. “Eu fico impressioconheci estava mas com o apoio deles voltei a nado com o número de desviados afastado da casa congregar e me firmar nos camique encontramos nos estádios e nhos do Senhor”, comemora. nas redes sociais. Há alguns casos de Deus, mas com Hercules faz uma reflexão de pessoas que se despertaram o apoio da Fogospel quanto ao poder de transformapra voltar pra igreja, através da voltei a congregar ção que iniciativas como a Fogostorcida.”. Entre os membros, popel podem trazer às arquibancarém, a torcida organizada não é o e me firmar nos das do futebol nacional. “Tenho principal foco. “Cada um de nós caminhos do me encontrado inclusive com prioriza a Igreja e tem de cumprir Senhor. torcedores de outras equipes com as responsabilidades de crisdo Rio, para difundir por lá esta tão, seja pastor, líder de louvor ou Bruno Tiago, jogador do Botafogo proposta. As principais torcidas membro. Por isso, caminhamos a organizadas são tidas como viopassos calmos”. lentas, agressivas e em alguns casos até criminoTambém fora de campo, o pastor teve outra sas. É este quadro que queremos ajudar a mudar”, ideia inusitada: um culto, devidamente caracteexplica. O movimento conta com mais de 3200 rizado com as cores e uniformes do Botafogo. O seguidores no Twitter, 1800 no Facebook e uma evento acontece todo mês e, apesar da aparência, comunidade no Orkut com mais de 1400 inteHercules garante que a tônica ali não é o futebol. grantes. Além do reconhecimento da diretoria do Nas reuniões, a presença de “famosos” é consBotafogo, das torcidas organizadas tradicionais tante. Uma delas é a do cantor Alex Gonzaga, do do clube e de torcedores de outros times, o grupo Novo Som. “Eu estava no Engenhão assistindo pretende expandir essa ideia para outros clubes. um jogo do Botafogo quando vi a faixa da Fogos“Estamos nesse momento apoiando o nascimenpel e pensei: Preciso conhecer essa torcida, esse to de uma torcida gospel do Flamengo, a Gospel projeto”, lembra. Fla”. Bruno Tiago, jogador da equipe profissional Como diz o canto da torcida botafoguense, do clube é outro que já deu as caras no culto. Sobre “que ninguém cale esse nosso amor...” a experiência, o meio-campista de 22 anos tem

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EnTREVISTA

Guardião da ética cristã no Brasil ROGÉRIO NASCIMENTO, OZIEL ALVES GETÚLIO CAMARGO

Adepto do Evangelho Integral e crítico ferrenho do reducionismo teológico, Lourenço Stelio Rega, fala sobre ética cristã direcionada a assuntos como liderança, sexo, política e preparação ministerial

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m tempos onde a moral e a ética parecem ter desaparecido, Deus tem levantado pessoas para falar com clareza e coerência sobre este tema, nos mais diversos níveis da sociedade. Lourenço Stelio Rega é o nome que se notabiliza como referencial, num cenário onde muito se discute sobre o assunto, mas pouco se põe em prática. São 35 anos dedicados aos estudos, aprendendo e ensinando - como mestre e conferencista - sobre teologia, sexualidade, ética e bioética, em todo o território nacional. Em um de seus mais conhecidos livros “Dando um jeito no jeitinho” Rega fala sobre a questão cultural do “jeitinho”, não só no Brasil, mas em outros países, também. “Parece-me que muitos líderes querem resultados imediatos e práticos, mas nem sempre querem investir em pesquisa e busca de soluções aos dilemas modernos”, destaca. Para Rega, as pessoas precisam amar mais, ao invés de julgar. Salienta que é preciso rever o que está sendo ensinado para as lideranças no Brasil. Como cristãos ele enfatiza que “temos sido mais reativos do que proativos”. Acredita ainda, que é preciso preparar lideranças para atuarem em várias esferas da sociedade, inclusive na política. “Um dos papéis da igreja é ser sal da terra e luz do mundo por meio de seus membros e isto ultrapassa o templo, o domingo que, aliás, deveria ser o dia de celebração, dia do descanso, mas acabou se tornando o dia do cansaço e da agitação ocupacionista”. Lourenço Stelio Rega é sobrevivente de

uma linha de pensamento que tomou evidência no Brasil há cerca de 20 anos. Na década de 90 houve um grande movimento que clamava por comprometimento, seriedade e credibilidade entre as lideranças evangélicas. A grande bomba veio quando muitos líderes deste movimento se viram envolvidos naquilo que eles próprios denunciavam: corrupção, adultério, divórcio etc. Rega continuou como que “clamando no deserto”, pregando uma liderança comprometida, fiel e ética, sem os reducionismos que, cada vez mais, tem caracterizado a mensagem evangélica nos últimos anos. Educador renomado e teólogo Batista consagrado, Rega é hoje Diretor Geral da Faculdade Teológica Batista de São Paulo, onde iniciou sua carreira como aluno em 1975. Além da graduação em Teologia, Rega especializou em Ética e História da Educação, fez mestrado em Educação, Teologia e por fim doutorado em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Escritor de obras conhecidas, dentre elas “Dando um Jeito no Jeitinho” da Editora Mundo Cristão e “Noções do Grego Bíblico” da Edições Vida Nova, ganhou notoriedade por ser uma referência a tratar de assuntos que tem sido extremamente relevantes para a sociedade como um todo, mas sobretudo à Igreja. Nesta entrevista exclusiva concedida à Revista Ética Cristã, Rega fala “para a igreja” e não “em nome dela”.


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EnTREVISTA

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Tanto o jeitinho positivo está na igreja, quanto o negativo. O positivo pode ser exemplificado como a criatividade, inventividade ou mesmo o lado solidário em servir à comunidade. O lado negativo pode ser exemplificado em softwares piratas que podem estar rodando nos computadores dos crentes e mesmo da igreja, cópias em PDF de livros evangélicos publicados com direitos autorais e distribuídos livremente na internet.

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Lourenço Stelio Rega EC - Falar sobre ética cristã, ainda é relevante? Sem dúvida. Mas a percepção que tenho é que, de modo geral, não há tanta preocupação com temas éticos na agenda temática de muitos líderes, pastores e igrejas. O que tenho visto na prática é que, como igreja e líderes, em geral temos sido mais reativos do que proativos no tratamento das questões éticas. Para fazermos um teste convido o caro leitor a fazer um levantamento dos enfoques dos sermões que ouve dominicalmente para observar se esta minha percepção está correta. Em muitos casos você vai ter muitas surpresas. Ouvimos muito falar sobre a salvação, mas nem sempre sobre como deve ser essa vida salva a não ser por meio de ênfases do “dever”, mas sem a devida consideração de nossa impotência diante dos elevados ideais éticos bíblicos. Reduzimos o evangelho de modo a tornar a ética algo sem muita importância. EC - O senhor escreveu um livro chamado “Dando um jeito no jeitinho” que foi um marco na reflexão sobre o assunto. O que caracteriza o “jeitinho brasileiro” e como ele está presente na igreja? O jeitinho não é necessariamente brasileiro, é universal. Toda cultura tem, pois está na natureza humana o desejo de buscar uma saída para uma situação que não se pode ter uma saída, ou não se quer a saída natural. Há culturas em que isso é explícito – Brasil, Peru, México, Romênia, Rússia, Argentina, etc. – mas há culturas em que isso se torna uma exceção, isto porque a ação de órgãos fiscalizadores e a punição são severas ou porque a cultura foi construída de modo a levar as pessoas a serem mais leais às leis. Por outro lado, o jeitinho não é só negativo e ligado à corrupção ou “levar vantagem”, em meu livro menciono também o lado positivo do jeitinho, tal como a criatividade/ inventividade, a solidariedade e o sentimento vicário. Tanto o jeitinho positivo está na igreja, quanto o negativo. O positivo pode ser exemplificado como a criatividade, inventividade ou mesmo o lado solidário em servir à comunidade em que a igreja está inserida, por exemplo. O lado negativo pode ser exemplificado em softwares piratas que podem estar rodando nos computadores dos crentes

e mesmo da igreja, cópias em PDF de livros evangélicos publicados com direitos autorais e distribuídos livremente na internet. EC - Nos anos 90, através da AEVB (Associação Evangélica Brasileira), um grupo de líderes procurou criar uma distinção entre os evangélicos éticos e os não éticos. Pelo que se viu alguns dos principais líderes daquele movimento acabaram envolvidos em escândalos gravíssimos. Como chegamos a isto? Me perdoe a brincadeira, mas achei divertida aquela situação. Mais me pareceu o trabalho de anjos tentando separar o joio do trigo. Não é esse o nosso papel. Jesus ensinou que “pelos seus frutos os conhecereis” e ele mostra que a qualidade dos frutos, depende da qualidade da árvore, assim, o próprio tempo e a história vão indicando a qualidade dos líderes. Não é nosso papel julgar as pessoas, mas amá-las, sem amar seus pecados. Falamos contra a discriminação, mas podemos estar sendo vorazes discriminadores. Como será que Jesus, vivendo sem pecado entre os pecadores, seria encarado? EC - Os líderes perdem a ética e o bom senso por má formação ou é o status que os leva a decadência?


DANDO UM JEITO NO JEITINHO  Editora Mundo Cristão 248 páginas • ano: 2000

Creio que as duas coisas. O poder não corrompe, mas revela. Necessitamos rever o currículo de formação de liderança e incluir a formação do caráter como conteúdo (não apenas teórico, mas também prático) fundamental. Aqui na Teológica (Faculdade Teológica Batista de São Paulo) que dirijo, adotamos o que eu chamo de “Pedagogia Integral”, a partir do conceito de integralidade de Lausanne I (1974). Neste caso, não pensamos em nossos alunos como meros obreiros ou futuros “operários” da igreja ou reino de Deus, mas líderes. Um líder – homem ou mulher – deve ser exemplo de vida e de caráter, deve ter “fibra” para vencer (por meio da graça de Cristo) as provações e tentações e para semear a estabilidade e esperança em momentos emergenciais e de crise. Para isso, torna-se necessário que consideremos o aluno de forma integral, não apenas o seu lado cognitivo (SER), mas também construtivo (REFLETIR). Como ele vai ter de lidar com situações conflitivas e de fronteira, deve ter fibra afetiva, sendo emocionalmente estável (SENTIR)

e ser um especialista em relacionamentos (CONVIVER). Acima de tudo ser um exemplo de integridade de vida (SER). Levamos isso a sério na formação de nossos alunos e tudo passou a ser aula para nossos alunos – até os guichês de atendimento, a cantina, o estacionamento, a maneira de se comunicar nos e-mails, etc. Até nossos funcionários necessitaram ser recapacitados e isso influencia até na escolha de colaboradores da equipe. EC - Este envolvimento político da igreja é positivo e significa que realmente a igreja, hoje, é influente e relevante, socialmente, ou é um oportunismo populista de alguns líderes? O envolvimento político, seguindo-se valores éticos cristãos, é sadio. Não penso que o papel do cristão se resuma apenas em votar na época de eleições. Necessitamos formar líderes políticos cristãos, deputados, senadores, governadores, vereadores, prefeitos, etc. cristãos e que levem em conta valores éticos cristãos no exercício de seu papel político. Novamente, me preocupa que isso é

NOçÕES DO GREGO BÍBLICO  Editora Vida noVa LourEnço stELio rEga E JohannEs BErgMann 410 páginas Nestes tempos de mensagens ao gosto do consumidor religioso e de pregações psicológicas, onde raramente é feito um estudo exegético, esta obra é fundamental para quem deseja sair da superficialidade e se aprofundar no texto bíblico.

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u “Não é nosso papel julgar as pessoas, mas amá-las, sem amar seus pecados. Falamos contra a discriminação, mas podemos estar sendo vorazes discriminadores”, diz Lourenço.

Nesta obra, ao mesmo tempo em que o autor leva o leitor a uma reflexão profunda sobre o famoso jeitinho brasileiro, presente inclusive dentro da Igreja, também desafia ao viver ético, condenando a cultura da esperteza ou do levar vantagem as custas do outro . A boa notícia é que neste jeitinho, nem tudo é negativo.

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MATéRIA EnTREVISTA

Lourenço Stelio Rega raríssimo ver nas igrejas. O tema da política é “muito profano” e pode sujar os púlpitos talvez pensem alguns líderes. Mas no fim, as leis que são votadas, os instrumentos jurídicos que são expedidos por juízes, é que comandam o cotidiano.

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Um dos papéis da igreja é ser sal da terra e luz do mundo por meio de seus membros e isto ultrapassa o templo, o domingo que, aliás, deveria ser o dia de celebração, dia do descanso e se tornou o dia do cansaço, da agitação ocupacionista.

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EC – Recentemente, houve uma manifestação em Brasília contra o PLC 122. Foi um protesto pacífico. Considerando que a igreja é uma instituição divina e que na sua história sempre enfrentou a oposição do mundo, ela tem agido de modo correto com relação a estas ameaças? Minha preocupação é que nós estamos andando a reboque da realidade política do país. Milhares de e-mails atolam nossas caixas de correio eletrônico a cada ameaça de votação de alguma lei que impeça a pregação do evangelho (salvação), demonstrando que geralmente acordamos quando os projetos de lei já estão em tramitação. Se tivéssemos mais políticos cristãos, não poderíamos agir na gênese ou semeadura destes projetos? Parece-me que estamos sendo reativos em vez de proativos. EC – Há pouco tempo, Brian McClaren escreveu que quando a Igreja Americana quer impor sua agenda passa a divulgar em seus programas que o aborto, o movimento gay e até o terrorismo são uma ameaça tão grande que ele considera um terrorismo psicológico feito por estes pregadores. O senhor não acha que isto está acontecendo aqui ? Pode ser, mas prefiro pensar também, por outro lado, que hoje há muitos cristãos e líderes mais esclarecidos quanto ao papel do cristão no mundo. Me preocupa se essa atitude não seria um tipo de messianismo moderno que quer movimentar as massas e mostrar que “temos força”. Me lembro aqui de Christian Schwartz que, em seu livro “O desenvolvimento natural da igreja”, ensina que o desenvolvimento da igreja (não estou falando aqui no movimento de crescimento da igreja da década de 70 e 80) se dá naturalmente por oito elementos e que não devemos impedir esse desenvolvimento. Um dos papéis da igreja é ser sal da terra e luz do mundo por meio de seus membros e isto ultrapassa o templo, o domingo que, aliás, deveria ser o dia de celebração, dia do descanso e se tornou o dia do cansaço, da agitação ocupacionista. Ao reduzirmos o evangelho em salvação e trabalho na igreja conseguimos enfra-

quecer esse lado influenciador da igreja, esse papel terapêutico diante do mundo. Movimento de massa sem vida cristã é apenas agitação. EC - A agenda gay e outras agendas anti-cristãs são uma ameaça à igreja, ou a igreja nunca é ameaçada? Sem dúvida, uma ameaça. mas prefiro pensar que poderíamos ter sido mais efetivos em nosso papel se não tivéssemos reduzido o evangelho em salvação e ocupacionismo. Aqui necessito dizer que não devemos cair num legalismo destrutivo, lutando contra as pessoas (nossa luta não é contra carne e sangue – Efésios 6), mas buscando viver os valores cristãos e demonstrar ao mundo a beleza da vida cristã. Outro dia li um artigo num importante jornal aqui de São Paulo em que o articulista teve a coragem de afirmar que a heterossexualidade era como que uma imposição da cultura sobre nós. Li também a lamentável frase de um ministro do Supremo que afirmava que o órgão sexual era um “plus”, um regalo da natureza. Escrevi um artigo sobre isso demonstrando o sofisma destes argumentos. Devemos amá-los, mas mostrar seu erro. Infelizmente a redução do evangelho em salvação e ativismo (de novo falo nisso) acabou levando pastores, líderes e igrejas a se empobrecer no estudo da ética, da Bíblia, da Teologia. Parece-me que muitos líderes querem resultados imediatos e práticos, mas nem sempre querem investir em pesquisa e busca de soluções aos dilemas modernos. Enfim, a igreja permanecerá apesar das pressões, mas cabe a nós ajudá-la a sobreviver neste mundo caótico e sem Deus. EC - Até o inicio dos anos 90 os tele-evangelistas americanos eram tidos como ídolos quase incontestáveis, mas passaram a ostentar um estilo de vida de riqueza e luxo e logo entraram em decadência. O senhor acha que estamos repetindo a cultura evangélica americana? É possível que sim, mas a natureza humana é a mesma em todo tempo e não apenas após os dilemas vividos por estes líderes norte-americanos. Penso que muitos líderes evangélicos brasileiros podem estar vivendo o deslumbre do poder e muitos podem até estar imaginando que “sem mim nada podereis fazer”. Mas também há muitos líderes evangélicos brasileiros que estão buscando ser exemplares.


EC - O senhor escreveu um livreto chamado Libertação e Sexualidade discordando do autor Robinson Cavalcanti que escreveu sobre o cristão e o sexo. Sua tese era que o autor não havia usado os fundamentos bíblicos para o sexo, mas a cultura. Você mantém a sua posição? Sim, escrevi e acredito que hoje poderia até me aprofundar mais naquela tese defendida pelo colega, com outros argumentos. Mas vejo que hoje ele tem sido um baluarte na defesa da fé e que se torna desnecessária outra versão do livreto. Vejo que ele tem bravamente sido uma luz em sua denominação e devemos valorizar o seu papel. Aliás, no tema da política ele nos deu diversos exemplos sadios e até saiu a campo, pena que não conseguiu muitos seguidores.

EC - Como um casal cristão pode saber o que é pecado e o que não é na vida sexual? Se pudermos deixar de lado o reducionismo que conseguimos dar ao evangelho e estudarmos o tema mais à luz da Bíblia, Teologia, Ética e, a partir disso, considerando a Psicologia, Sociologia, poderemos ajudar os casais a encontrar os princípios e valores éticos cristãos sobre o assunto. Por exemplo, Romanos capítulo 1 fala em “uso natural” o que isso pode dar ideia sobre a sexualidade? Há poucos livros que possuem a coragem de tratar do tema a partir desse insight.

EC - O que podemos dizer aos jovens solteiros sobre sexo diante de tanta liberdade e apelo existente hoje? Há pouco falei sobre o sentido mais profundo da sexualidade e como isso pode ser concretizado de forma mais completa dentro do ambiente matrimonial. Por outro lado, torna-se necessário, também, considerar as variáveis de hoje que determinam o tempo para a realização do casamento (casa própria, salário suficiente, etc.). Neste caso será necessário ajudar os jovens a planejar o seu futuro e não apenas a usar seus órgãos genitais. EC - É dito que os pregadores, hoje, usam muito mais de recursos psicológicos e auto-ajuda do que propriamente da teologia saudável e bíblica. O resultado, aparentemente, é uma igreja utilitarista. É isso mesmo? No passado um jovem se formava no seminário e entrava no curso de Direito. Se formava no curso de Direito e transformava o púlpito numa tribuna. Hoje, muitos se formam em Teologia e vão fazer Psicologia e podem acabar transformando o púlpito em divã. Aqui se torna necessário saber colocar cada coisa em seu devido lugar. Necessitamos valorizar a Psicologia, mas temos também que interpretá-la à luz da Teologia. Não falo aqui nas psicopatologias (embora haja alguns que não acreditam nisso),

A igreja permanecerá apesar das pressões, mas cabe a nós ajudá-la a sobreviver neste mundo caótico e sem Deus. É t i c a c r i s t ã • J U L H O /A G O S T O • 2011

EC - O sexo deixou de ser o principal motivo de escândalo entre os evangélicos ou realmente há menos pecado nesta área? Não penso que a intensidade haja diminuído. Creio que o tema acabou caindo na agenda comum. Antigamente as jovens eram excluídas da igreja porque ficavam grávidas. Se não aparecia a gravidez, ninguém ficava sabendo e nada acontecia. Hoje o uso da pílula, do preservativo se tornou comum, então, o mecanismo de exclusão ficou sem sentido. Devemos buscar dentro dos valores cristãos o significado da sexualidade para descobrir que ela é mais do que uma função bio-psicológica, do que carícias e junção dos órgãos sexuais. Por trás da sexualidade estão elementos que só podem ser vividos em toda sua inteireza no ambiente matrimonial. Se, por um lado, falava-se em sexo na igreja num tom de repressão, por outro lado, será que hoje esse tema deixa de estar presente para não afugentar os jovens da igreja?

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EnTREVISTA

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mas quando vamos lidar com os relacionamentos, com a valorização da vida.

Torço por eles, mas desafio seus pastores a serem seus discipuladores.

EC - A falta de profundidade entre os evangélicos, tanto no povo quanto nos pregadores, que o senhor em um artigo chamado “Santa Ignorância” chamou de geração “Power Point” é uma realidade. Quais os sintomas desta desintelectualização do Evangelho? Fraqueza espiritual, doutrinária e pobreza em interpretar as ideologias que nos dominam. Aliás, quem não reflete, se torna vítima das ideologias e talvez seja isso que está acontecendo com muitos líderes e igrejas. Necessitamos entender o mundo em que vivemos (sermos sóbrios, na linguagem bíblica), necessitamos entender as mudanças geracionais e como essas gerações encaram as decisões da vida. Infelizmente tratamos todos como iguais, mas são diferentes.

EC - O índice da população que faz uma opção sexual diferente como os homossexuais, lésbicas e travestis tem crescido, consideravelmente, e inevitavelmente estes irão “invadir” as igrejas em busca de salvação e benção como todos os outros. O que fazer ou como fazer afinal? Muitos pastores estão recriminando de púlpito, pois seu papel é profético e admoestativo, Mas o que os teólogos estão dizendo sobre o assunto para a igreja? O que estão fazendo em termos concretos na sociedade? Os teólogos necessitam “sair da toca” e de seus gabinetes de cristal, fazer teologia para a igreja e ajudar a igreja a discutir com mais profundidade temas como estes.

EC - Na sua visão o que a igreja evangélica brasileira perdeu e o que precisa resgatar em termos de referenciais bíblicos? Penso que Lausanne I pode nos ajudar muito se resgatarmos o conceito original de missão integral da igreja, não na visão terceiro-mundista que acabou também reduzindo esse conceito de missão integral apenas na missão social e política da igreja. Aliás, penso que isso foi reação contra a proposta Teologia da Libertação (TL), isto é, foi a resposta aparentemente bíblica ao marxismo da TL. Para poder falar desse conceito original de Lausanne I eu estou me valendo de dois adjetivos – missão integral ampla. Para ver se estou certo nisso, é só ver a prioridade que Lausanne II e III deu aos teólogos latino-americanos. Se ficaram em evidência ou ficaram à margem nesses conclaves. EC - O senhor acha que os políticos evangélicos atendem bem as demandas essenciais e representam bem os evangélicos no Congresso? Creio que é um bom começo, mas se não forem discipulados dentro dos valores cristãos poderão cair na mesmice.

EC - Diante toda esta efervescência que tem acontecido com relação aos gays e lésbicas, O senhor acha que a igreja está preparada para recebê-los? Em termos gerais creio que a Igreja não está preparada, nem para lidar com eles como pessoas, nem sobre o assunto. EC - Qual deve ser a posição cristã sobre os avanços científicos da bio-medicina como pesquisa em célula-tronco? Será que vamos continuar omissos sobre isso? Muitas vezes sou consultado sobre estes temas e outros da Bioética, mas só quando surgem os dilemas ou quando a situação já é crônica. Quantos livros há sobre o tema entre os evangélicos? Tenho de me valer de livros de origem católica, pois podemos não estar dando o devido valor a esta temática. Por outro lado, não há investimento em pesquisa e em pesquisadores, temos de nos virar sozinhos trabalhando para o sustento e nas madrugadas e horas de folga trabalhar no tema. Penso que os avanços científicos são resultado do que Deus determinou no Éden que Adão e Eva deveriam dominar a natureza. A pesquisa científica, especialmente que diz respeito à vida,

ao ambiente, deverá ser balizada pelos valores cristãos. Muito se tem conquistado, por exemplo, com a terapia genética. Teremos muita novidade fantástica nesse campo. Por um lado devemos evitar o triunfalismo, por outro lado, o pessimismo. EC - A vida social dos cristãos é muito diferente de tempos passados quando até a roupa do cristão era diferente. Como diferenciar, hoje, a vida santificada e a vida mundana? Penso que no passado confundíamos ética com estética. Lembro-me que deixei a minha barba crescer em abril de 79 e descobri que lá pela década de 70 e 80 um jovem barbudo não podia ser considerado santo. No começo, isso criou um conflito em mim. A barba acabou ficando até hoje e se eu tirar pode ser que eu perca minha identidade facial para muita gente. Hoje, já é possível descobrir que a santidade vai mais além da estética. Ampliando mais o assunto, em quantas igrejas o culto tem um momento de contrição e arrependimento? Outro dia perguntei aos alunos aqui da Teológica se eles ainda lembravam-se de confessar seus pecados. Parece-me que a tecnologia, a vida virtual e a velocidade com que as coisas acontecem hoje, cauterizaram nossa consciência. Enfim, como será que é possível diferenciar a vida santificada e a vida mundana? Para responder pergunto: será que alguém hoje viveria os valores éticos cristãos não por dever, mas por prazer, voluntariamente e por alegria em viver incondicionalmente para Deus, sem dele exigir nada? Será que, diante de uma tentação irresistível, seria possível, pela graça de Cristo e dentro dessa visão de voluntariado, a pessoa dizer “estou optando voluntariamente em viver para meu Rei, quero agradá-lo, portanto, deixo essa tentação em seu altar de Deus?” É o que Paulo nos ensinou em Gálatas 2.20 – vivo não mais eu ... Não é uma esquizofrenia espiritual, mas simplesmente uma opção de vida.


ESpEcIAL

Teólogo: profissional Cresce o número de faculdades evangélicas regulamentadas pelo MEC. Mas quando o assunto é reconhecimento educacional do Governo, ainda existe polêmica entre líderes religiosos e instituições de ensino no Brasil

ALEX FAJARDO

N

os EUA e Europa, o curso de Teologia foi o pontapé inicial para que as grandes universidades como Harvard, Princeton, Yale e Oxford existissem ou ganhassem notabilidade. Reconhecido como uma ciência no exterior a teologia é debatida entre grandes pensadores, filósofos e professores de distintas áreas nestas universidades. Por lá, em diversos momentos a teologia é chamada a dar esclarecimentos acerca dos temas debatidos no momento, como é o caso dos assuntos ligados a bio-

ética que atualmente estão em pauta nos radares acadêmicos. No entanto, se no exterior a teologia é reconhecida e debatida como ciência, no Brasil seu conceito na acadêmico ainda é um debate que esta em discussão dentro da própria igreja. A questão que norteia o debate é: para que serve o reconhecimento do Ministério da Educação (MEC) dado aos cursos de Teologia no Brasil, se para ser pastor basta ter o chamado divino? Ainda hoje, 10 anos depois que o primeiro curso de teologia do país, o da Faculdade de Luterana de São Leopoldo (RS), obteve o reconhecimento do

MEC, o assunto segue sua via polêmica. A Tensão se dá pelo fato de que por um lado há alunos ávidos pelo diploma reconhecido, já que os mesmos desejam ir atrás de uma pós ou prestar concursos para professores no ensino religioso, por outro estão as igrejas que não querem perder o controle teológico de seus seminários, em detrimento de disciplinas novas e ideias que possam contaminar seus futuros pastores. Segundo o MEC, atualmente mais de 120 cursos de teologia estão em atividades no país. A maioria deles é ligado à tradição evangélica. O número de seminários livres é praticamente impossível calcular, podendo se falar na casa dos milhares, pois além dos seminários para preparação de pastores, a grande maioria das igrejas no país, mantém cursos de teologia para educação e desenvolvimento do simples membro, conhecido como leigo. Nas igrejas de linha tradicional/históricas, o membro que se sente vocacio-

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no mercado ou um pastor no púlpito?

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ESpEcIAL

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u Ao lado: aula no Seminario Presbiteriano do Norte em Recife. Formacao com foco apenas pastoral, sem o reconhecimento do diploma pelo MEC. Abaixo: Auditório do Seminário Servo de Cristo em busca do processo de autorizaçao do MEC

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nado por Deus para o exercício do ministério, precisa freqüentar pelo menos quatro anos de seminário para ser ordenado pastor. Porém até que ponto os vocacionados ao pastoreio precisam de um reconhecimento do diploma pelo governo federal? Segundo o seminarista Tiago Nogueira, que está no último ano do curso livre de teologia no seminário e já pretende buscar uma validação (ver Box) em uma faculdade reconhecida “Vocação e pastoreio não precisam de um curso validado pelo MEC, mas creio que uma continuação dos estudos é uma ferramenta poderosa para o pastoreio. Por isso, busco a validação. Pretendo posteriormente fazer uma pós-graduação” diz Tiago que atualmente pastoreia a Congregação do Parque Oziel da igreja Presbiteriana Independente na cidade

de Campinas (SP). Uma das instituições de ensino em busca do reconhecimento do MEC é o Seminário Teológico Servo de Cristo na cidade de São Paulo, que já esta com toda papelada preenchida para entregar ao Ministério, faltando apenas questões de infraestrutura para serem resolvidas. Segundo o coordenador acadêmico do seminário, o teólogo Robinson Jacinto de Souza, a importância de se ter o diploma reconhecido passa pela questão da excelência nos processos acadêmicos, seja pedagógico ou didático: “independente da instituição ser ou não reconhecida é necessário que se tenha excelência no processo acadêmico e isso não interfere em nada na prática ministerial, pelo contrário. Se todas as instituições teológicas levarem seus programas pelo lado da excelência,

cOMO VALIDAR SEU DIpLOMA pELO MEc A convalidação do diploma de teologia, (Parecer do MEC CNE/ CES 0063/2004) diz que quem estudou teologia em algum seminário livre por pelo menos 1.600horas/aula e que tenha o certificado de conclusão do curso, poderá procurar uma faculdade reconhe-

teremos diversos ministérios bem sucedidos e frutíferos”. Robinson chama a atenção para o que ele nomeou de analfabetismo funcional acerca de leituras e releituras para uma práxis cristã no mundo por meio da igreja. Acerca da tensão entre seminaristas querendo o diploma para continuar os estudos em uma pós-graduação, mestrado ou doutorado, o coordenador é enfático ao dizer que: “se você quer apenas o diploma para lhe impulsionar a uma pós-graduação futura em outra área, esse aperfeiçoamento será muito tecnicista, mas se você é muito bem convicto da sua vocação, não importa se a instituição é ou não reconhecida pelo MEC, importa o ferramental de primeira que você pode ter em mãos para ser bem utilizado em seu ministério”. Na outra ponta da discussão exis-

cida e realizar um período de complementação do curso (em geral, um ano) e assim obter a validação de seu diploma pelo MEC. Além destes documentos, também se exigi-se o certificado de conclusão do ensino médio. Entretanto o parecer pode ser suspenso, pois sua real finalidade foi de proporcionar o reconhecimento àqueles que estudaram teologia antes da regulamentação do curso em 1999.


VALIDAnDO O cURSO DE TEOLOgIA pELO MEc

tem seminários ligados a igrejas que não querem seus cursos reconhecidos pelo MEC. Este é o caso da Igreja Presbiteriana do Brasil que em sua última reunião do Supremo Concílio da Igreja, em 2010, afirmou que seus oito seminários espalhados pelo Brasil, continuarão com o foco no “chamado e vocação para futuros pastores da Presbiteriana”, assim pode-se manter o controle teológico do seminário para formação exclusiva de pastores dentro de uma visão reformada. Para aqueles que querem um diploma reconhecido, a sugestão da própria Igreja é que se matriculem em um curso reconhecido, que no caso da própria Presbiteriana, tem o curso validado pelo MEC apenas em São Paulo na Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Apenas faculdades de teologia podem oferecer cursos de bacharelado em teologia, pois ao seu final o aluno tem o diploma reconhecido pelo MEC. Seminários devem utilizar a nomenclatura de cursos livres de teologia. Acesse o site do MEC (www.mec.gov.br) para saber de fato qual faculdade tem seu curso reconhecido, antes de se matricular e não comprar gato por lebre. Para os seminários que desejam entrar com pedido de regulamentação no Ministério da Educação, o processo passa por três etapas. credenciamento da mantenedora, autorização do curso e reconhecimento do curso.

1. Qualquer instituição para oferecer

um curso superior deve, em primeiro lugar, credenciar a sua mantenedora no MEC.

2. O MEC enviará avaliadores para o local

afim de verificar as informações prestadas pela instituição, como infraestrutura, professores mestres/ doutores, e biblioteca. Com isto feito, o curso é autorizado a funcionar. Mas ainda não esta reconhecido, que será o passo seguinte.

3. Quando o curso é autorizado, a

instituição pode requerer o reconhecimento do curso após a metade do tempo previsto para a sua conclusão. Um novo relatório processual é aberto e novamente o MEC retorna ao local para averiguar as condições do curso.

4. Sendo reconhecido, o curso deverá

passar, posteriormente, por períodos de renovação do reconhecimento.

O aluno que ingressar em um curso não-autorizado ou apenas autorizado não possui nenhuma garantia de ao final conseguir um diploma reconhecido. Entretanto, um curso já autorizado tem grandes chances de ser reconhecido, mesmo assim não existe garantia por parte do MEC que todo curso autorizado, será automaticamente reconhecido. Este processo funciona não apenas para os cursos de teologia, mas para qualquer faculdade que abre um novo curso. A Vantagem das universidades, é que o processo de autorização não existe, elas podem abrir o curso e no decorrer o MEC avaliará se pode ou não ser reconhecido.

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vocação e pastoreio não precisam de um curso validado pelo MEC.

Caminho inverso fez a Igreja Presbiteriana Independente, que mantinha três seminários no Brasil: São Paulo, Fortaleza e Londrina. Estes, seminários quase que centenários para a história da Igreja, foram fechados no ano de 2007. A decisão fez parte da proposta de aglutinar todos os interessados na Faculdade de Teologia de São Paulo da Igreja Presbiteriana Independente (FATIPI), que em 2009 recebeu a autorização do MEC. Na época o processo e a decisão foram tomados sob fortes debates e críticas, pois os locais onde funcionavam os seminários em Londrina e Fortaleza acabaram sendo vendidos para que investimentos na recém criada faculdade em São Paulo, pudessem ser feitos. Outra instituição que optou por manter o seu curso livre foi a Escola de Educação Teológica das Assembléias de Deus (EETAD), trazida para o Brasil em 1979 pelo missionário Bernhard Johnson. Funcionando em Campinas, nas últimas três décadas, a Escola já formou mais de 40 mil alunos em diversos campus espalhados pelo mundo. Sua posição oficial declarada em editorial em sua revista interna é a de que os seus cursos não buscarão reconhecimento, pois suas aulas existem para preparar seus alunos para o ministério sacerdotal e não como profissionais da religião. Uma das justificativas para a não validação do curso é a de que o MEC exige que qualquer pessoa de qualquer religião possa se matricular. Essas exigências e outras, tais como alteração no currículo de algumas disciplinas, geraram desconforto e pesaram na balança para que a EETAD decidisse manter o lema do seminário que é: “Treinando e aperfeiçoando obreiros e leigos para a Seara do Mestre”. Os dados para uma busca de ensino reconhecido são de maior vantagem para quem esta interessado em continuar na vida acadêmica. Neste caso, o melhor fazer é procurar uma faculdade de teologia reconhecida.

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ACONSELHAMENTO PASTORAL

Gerson Garros

Gerson Garros

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é pastor, formado em Jornalismo pela PUC-RS, em Teologia pelo Seminário Batista do RS e Mestre em Divindade pelo Seminário de Sioux Falls, South Dakota, (EUA). Atualmente mora no estado de Wisconsin (EUA), onde trabalha como Capelão Hospitalar, cursa Clinica Pastoral e conclui o Doutorado em Ministério.

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Teologia correta não garante cura Ouvir uma confissão pode gerar confusão

M

inha experiência no trabalho diário em capelania hospitalar tem me surpreendido com o número de pessoas que atribuem sua enfermidade a um castigo divino. Recentemente fui chamado para ver uma jovem senhora que estava muito aflita antes da cirurgia. Indagada sobre a origem de seu pavor, foi direta em declarar que tinha medo que a operação revelasse que o corpo estranho que tinha em seu abdômen fosse câncer. Pedi que me descrevesse o que sabia sobre câncer. Sua resposta foi que todas as pessoas que conhecia que tiveram câncer morreram. Admitiu que associava câncer com morte. Gentilmente questionei sua pressuposição, apresentando dados que indicam o contrário – percentagem de pacientes que recebem tratamento e são curados, por exemplo. Ainda assim, gostaria de saber da qualidade de suporte que ela teria caso seus temores se confirmassem. Perguntei acerca de sua fé. “Acredita que Deus estará contigo, neste momento?” As poucas lágrimas que havia derramado até então, se multiplicaram. “Eu não sei,” disse ela. “Eu fico só pensando que tudo isto está acontecendo comigo porque eu mereço. Sinto que Deus está me puninConfessem seus do com isso.” Na hora da dor ou sofripecados uns aos outros e mento, é natural procurarmos orem uns pelos outros para por explicações. Pensamos serem curados. que Deus permitiu esta doença ou tragédia com algum propósito em mente. Não são só os pacientes de hospital que acham que este propósito é o de punir por seus erros do passado. Afinal, Levíticos 26.14-17 não ensina que a desobediência é punida com “pavor repentino, doenças e febre que nos ti-

ram a visão e definham a vida?” Nossa tendencia evangélica é ir logo dizendo que não, que “isto é do Velho Testamento” e que Jesus desbancou esta teologia da retribuição direta em passagens como a do encontro com o cego em João 9. “Nem ele, nem seus pais pecaram,” disse o Mestre. Sem falar na historia de Jó. Embora verdade, o que não podemos fazer é simplesmente apresentar o que o Evangelho diz sobre a doutrina da retribuição e ignorar o sentimento de culpa que o outro pode estar carregando. O melhor a fazer é inquirir e escutar o que leva alguém a sentir que está sendo punido por Deus. E daí sabermos ouvir uma confissão. Reações de espanto ou oferecer frases do tipo “É, verdade, você não deveria ter feito isto. Trata de ir logo pedir perdão a Deus e reparar o seu erro”, não ajudam. Também não ajuda muito passar panos quentes, como “Não foi nada, errar é humano, somos imperfeitos. Deus já deve ter te perdoado.” Se o seu interlocutor começa a fazer uma confissão, crie um ambiente seguro e receptivo para que ele possa falar sem medo de ser julgado. Quem convence do pecado é o Espírito Santo e não o pastor ou conselheiro. Ao ouvirmos com o coração muito mais do que com a mente, podemos permitir que o nosso amigo se desfaça de um peso. Falamos do perdão de Cristo, mas muito mais ouvimos uma confissão para facilitar a cura. Tiago 5.16 é claro: “Confessem seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados.” O bom conselheiro pastoral sabe que desenvolver uma relação de escuta atenta vai produzir mais cura do que providenciar elaborada explicação para o sofrimento. Que Deus nos use neste sentido.


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56 milhões de evangélicos, divididos entre conservadores, moderados, liberais e inclusivos. Quando o assunto é a lei da homofobia, a opinião da Igreja brasileira vira um quebracabeça difícil de montar JuLIANO wESTPHAL

IGOR GuEDES

T

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odos sabem que qualquer discussão sobre a lei da homofobia rende intermináveis debates. Mesmo dentro das instituições evangélicas não há uniformidade, muito menos uma unidade de pensamento. Quando fatores éticos, políticos, religiosos, culturais e sociais são expostos, chegar a um consenso é quase uma utopia. Mas, afinal, o que pensam os evangélicos, em geral, sobre a lei da homofobia? Se não há unidade, quais são os pensamentos da comunidade cristã sobre este assunto? Tentando responder a estas perguntas, Ética Cristã fez um levantamento entre as principais instituições evangélicas do Brasil e chegou à conclusão de que existem, ao menos, quatro linhas ideológico-teológicas quando o assunto trata dos direitos que a comunidade GLBT vem tentando adquirir no decorrer dos anos: conservadores, moderados, liberais e inclusivos.

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Por um lado, os conservadores acham válidas pressões político-ideológicas e discussões públicas na crítica aos direitos homossexuais. Os moderados, embora definam homossexualidade como pecado, acreditam que o tema deve ser tratado de maneira cuidadosa, e –principalmente- com amor. Os liberais, por sua vez, defendem os direitos LGBT, afirmando que religião e Estado não devem se misturar. Finalmente, há também os inclusivos, que acreditam fazer parte de uma “nova reforma”, que visa incluir o homossexual, sem necessariamente exigir a mudança de sua orientação sexual. Há linhas de pensamento para todos os gostos. Cada um com seus próprios embasamentos bíblicos e com sua interpretação das Sagradas Escrituras. Independente da validade –ou não- de suas proposições, não cabe a nós, da Ética Cristã, conceituar a quem pertence a “verdade” ou a correta leitura da Bíblia. É nosso papel, unicamente, apontar a Igreja Evangélica no Brasil tem abordado esta questão, como um todo.

“O SENADO NãO VAI CRIAR O TERCEIRO SEXO”

Pioneiros na luta dos direitos dos evangélicos, os conservadores acreditam que os avanços dos direitos LGBT resultam em uma “homossexualização da socie-

dade”, e que esses direitos significam, na prática, uma afronta ao que a Bíblia ensina e –mais importante- uma afronta ao próprio Deus. Em contrapartida, os cristãos devem juntar suas forças e lutar por essa “batalha”. “Não é um enfrentamento pelo enfrentamento. É um enfrentamento na crença que Deus fez homem e mulher, Deus fez macho e fêmea, e o Senado não vai criar o terceiro sexo com uma lei.”, critica o Senador Magno Malta (PR-ES), em discurso no Auditório Petrônio Portela, no Senado Federal, durante o encontro do Fórum Nacional Evangélico de Ação Social e Política (Fenasp). Ainda durante o encontro, um abaixo-assinado com mais de um milhão de assinaturas, manifestando contrariedade à PLC 122/06 foi entregue ao presidente da casa, José Sarney. Além dos deputados e senadores da Frente Parlamentar Evangélica, o evento contou com a presença de líderes como Robson Rodovalho e Renê Terra Nova. Este último, aliás, levantou a já conhecida bandeira de “defensor da família” para criticar o projeto de lei. “O PL122 é uma convocação feita pela própria sociedade, que está reagindo. Não precisa


cha para Jesus, realizada em São Paulo (SP), no dia 23 de junho, Silas criticou a Rede Record, pelo twitter, por não cobrir o evento. “Essa emissora comprada com o dinheiro do povo de Deus está mais a serviço da causa homossexual do que do Reino de Deus”, acusou. Logo após, sugeriu a seus seguidores que enviassem e-mails ao senador Crivella, questionando a razão pela qual a emissora havia ignorado o maior evento evangélico brasileiro. Curiosamente, em 2010, Silas Malafaia fez campanha pela reeleição de Marcelo Crivella. Esta não foi a primeira vez que Silas Malafaia criticou, publicamente, outras figuras importantes do meio evangélico. Em maio deste ano, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou o reconhecimento da união estável homoafetiva no Brasil, enviou mensagens, via twitter, para cantores como os irmãos André e Ana Paula Valadão, além de Fernanda Brum e Aline Barros. O conteúdo dos tweets pedia uma manifestação pública dos artistas, mostrando contrariedade com a decisão. Sem obter resposta, porém, Malafaia não poupou críticas aos artistas: “Obrigado pela omissão de vocês em não (dar) RT para conclamar o povo de Deus a pressionar os ministros do STF num assunto tão fundamental que favorece os homossexuais. Se Twitter é para mostrar fotos e agenda é melhor acabar porque não presta pra nada”, disparou. De fato, o risco de uma opinião se traduzir em críticas faz com que quase inexistam manifestações públicas dos cantores. Segundo uma fonte não-revelada, “há um receio muito grande de que retaliações silenciosas passem a ocorrer se os artistas deixarem de concordar com uma determinada

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ser religioso para levantar a bandeira em prol da família, precisa ter caráter. Caráter sim é indispensável”, opina. Sem dúvida, a figura de maior destaque no evento - e entre os conservadores - é o pastor Silas Malafaia. Aproveitando-se de uma lacuna conservadora existente na sociedade brasileira (papel que, nos Estados Unidos, cabe ao Tea Party), ele acabou assumindo o posto de líder dos evangélicos, por uma simples questão de influência e visibilidade. Em Brasília, no último dia 1º de junho, após o encontro da Fenasp, deu grandes mostras do seu poder de arregimentação, levando, segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, mais de 20 mil pessoas a se manifestarem, contra a PLC 122/06, em frente ao Congresso Nacional. Na ocasião, chegou a rasgar uma cópia do projeto de lei, para delírio do público presente. Horas antes, havia deixado bem claro o papel de porta-voz dos evangélicos brasileiros, dando um aviso – indireto- a quem pensasse diferente. “Nem o senador Valter Pinheiro, nem o senador Magno Malta foram chamados. Eu não quero saber de acordo. O Crivella não esta autorizado a falar em nosso nome. Não está autorizado!”, vociferou, antes de completar. “Não tem conversa, não negocio e não abro mão. Quer conversar, chame os lideres políticos da câmara, evangélicos e católicos. Chame os senadores e chame as lideranças evangélicas.”, disparou. Desconsiderar o senador Marcelo Crivella (um dos redatores das alterações da Lei da homofobia) como liderança evangélica, tem como origem as diferenças de interpretação que ambos têm da lei. No entendimento do pastor da Assembléia de Deus, Crivella se equivoca ao negociar com Marta Suplicy e outros líderes pró-PLC 122/06, pois, além de pecado, a lei seria inconstitucional. Outro ponto de divergência é, inevitavelmente, as ligações do senador com Edir Macedo (de quem é sobrinho) e a Igreja Universal do Reino de Deus. Após a Mar-

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Linhas ideológicas

linha de pensamento”, afirma. Ainda que de forma velada, grande parte dos artistas brasileiros defendem uma linha moderada no trato da questão, o que, segundo a fonte, pode representar problemas profissionais para os artistas. “Uma simples opinião sobre esta famosa Lei da Homofobia pode ser suficiente para que convites para shows se escasseiem, assim como a redução na venda de CDs”, exemplifica. Único artista a aceitar falar com a Ética Cristã, o cantor Asaph Borba acredita que um dos deveres dos evangélicos é “encontrar uma maneira sadia de estender o amor de Cristo, tanto aos homossexuais quanto aos heterossexuais, e não rejeitar as pessoas que optam por este ou aquele estilo de vida”, opina. Ministro de louvor há trinta e cinco anos, Asaph entende que, biblicamente, não se pode concordar com a postura homossexual. “Eu creio pela palavra de Deus que ser efeminado é uma distorção. Se a Bíblia diz que ser efeminado é algo passível de correção, eu fico com a Bíblia. Conheço homens que eram homossexuais e até mesmo travestis e que deixaram Deus transformar e hoje são felizes e casados, pais de família heterossexuais”, afirma. Talvez, o discurso conciliar de Asaph seja o principal diferencial entre moderados e conservadores. Não que eles tenham receio de se manifestarem, mas porque descartam as pressões ideológicas e o discurso belicoso como forma de imposição de ideias. Outro exemplo de um posicionamento mais moderado é a da igreja O Brasil para Cristo, que através de sua Junta Nacional de Educação Cristã (Junec), respondeu à Ética Cristã. “O pecador deve ser tratado com respeito, educação e amor, seja ele quem for. Diferente disso, a Bíblia chama o pecado de “transgressão da lei ou vontade de Deus”, afirmam. De acordo com a Junec, são ações eclesiásticas, e não políticas que chamarão a atenção da comunidade LGBT. “É através da igreja e em sua postura exemplar que vidas poderão ser influenciadas. Caso contrário haverá apenas ‘doutrinação’ e consentimento com normas eclesiais. A pregação da Palavra com amor e o poder da oração cooperarão para a formação dos novos cristãos”, explica.

1. ConservAdores Grupo que condena a decisão, pois vêem tal ato como algo maléfico para a sociedade brasileira. Fazem passeatas contrárias à proposição, rasgam cópias do projeto de lei, interferem na política, acusam partidos e estabelecem alianças políticas, visando defender seus direitos e opiniões. Afirmam que caso a PLC 122/06 seja aprovada, a Igreja será perseguida e que serão obrigados a casarem casais gays. O grupo acredita combater a “homossexualização” da sociedade brasileira. Lutam com todas as armas possíveis para evitar qualquer avanço e direito alcançados pela comunidade LGBT.

2. moderAdos Grupo que entende que a homossexualidade, à luz das Escrituras, é pecado, e que é possível uma volta às práticas heterossexuais. Porém, para os moderados, o amor e a mensagem libertadora do evangelho são os responsáveis pela mudança de comportamento, não as pressões ideológicas e teológicas. Ao mesmo tempo, acreditam que a PLC 122/06 fere os princípios bíblicos e se mostram contrários à sua aprovação. Na opinião dos moderados, o mais importante é que os homossexuais ouçam a palavra de Deus.

“SOMOS uMA IGREJA INCLuSIVA, NãO EXCLuSIVA”

No oposto dessa relação estão as instituições adeptas das teologias inclusivas. Embora a grande maioria das igrejas tradicionais não as considere parte do corpo de Cristo, -e sem entrar no mérito de quem está com a razão- elas acreditam pregar a Palavra aos homossexuais, e, uma vez que consideram a prática aceitável, não exigem uma mudança comportamental. Sua primeira – e mais respeitada denominação, a Igreja da Comunidade Metropolitana, surgiu em meio à revolução sexual americana, em Los Angeles, no ano de 1968, enquanto no Brasil, apenas em 2005. Faz parte do Conselho Mundial de Igrejas (CMI) como observadora e, ao todo, possui cerca de 60 mil membros, divididos em 23 países.

Evolução da causa LGBT É t i c a c r i s t ã • J U L H O /A G O S T O • 2011

1990

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Organização Mundial de Saúde (OMS) retira o homossexualismo da sua lista de doenças mentais

1800 1830

Criação do Código Penal do Império Brasileiro, que exclui o crime de sodomia

1900 1985

A partir deste ano, o Conselho Federal de Medicina deixa de considerar o homossexualismo como desvio sexual

1996

1988

1993

A Organização Mundial de Saúde (OMS) passa a adotar “homossexualidade” como nomenclatura oficial, ao invés de “homossexualismo”

Rio Grande do Sul determina aos cartórios de Títulos e Documentos que registrem uniões homoafetivas

23 de novembro de 2006 Projeto de Lei nº 5003/01, da deputada federal Iara Bernardi, é encaminhado ao Senado Federal, onde recebe o número PLC 122/06;

2000

Década de 90 Expressão “orientação sexual” tem a sua entrada vetada durante a redação da Assembléia Nacional Constituinte

2004

Primeira Parada Gay acontece em São Paulo

1995

Marta Suplicy propõe o projeto de lei 1151, relativo à união civil. É arquivado em 2003

2000

O INSS é obrigado pela Justiça Federal a conceder pensão por morte e auxílio-reclusão ao companheiro homossexual

2001

Criação do Projeto de Lei nº 5003/01, de autoria da deputada federal Iara Bernardi. O projeto torna crime a discriminação contra homossexuais

2006

É sancionada a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), primeira lei federal no país a prever a união homoafetiva. Art. 2º: “Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana;

2007

Primeira audiência pública, no Senado Federal, sobre a PLC 122/06.


07

eira audia pública, enado eral, sobre C 122/06.

“É O QuE JESuS FARIA”

Essa discussão ideológica sobre a homossexualidade passa longe dos liberais, que encaram a necessidade de pregação em relação a estas práticas, algo secundário, menos relevante para a salvação do que um sermão sobre a graça Divina. Mais do que isso, para eles, a discussão quanto à aprovação do projeto de lei ou da união estável entre casais homoafetivos é uma questão do Estado, isto é, não religiosa. “Minhas convicções teológicas ou pessoais não podem intervir no ordenamento das leis. Em um Estado laico, a lei não pode marginalizar, excluir ou distinguir como devassos, promíscuos ou pecadores, homens e mulheres que se declaram homoafetivos e buscam constituir relacionamentos estáveis”, declarou, em carta aberta em seu site pessoal, o pastor Ricardo Gondim. Em abril deste ano, o pastor concedeu entrevista para a revista Carta Capital. Nela, defendeu a união homoafetiva e criticou o conservadorismo das igrejas tradicionais. Sua posição resultou no desligamento da Revista Ultimato, publicação na qual escreveu por 20 anos. Ética Cristã tentou contato com o pastor, mas, cansado de tantas retaliações, preferiu não se manifestar sobre o assunto, ainda que tenha deixado claro que mantém a mesma posição de seus textos publicados em seu site. “Não levanto a bandeira homossexual. Ela não é minha, eu não sou homossexual. Levanto o estandarte do direito. Ele diz respeito não só aos homossexuais, mas aos religiosos, aos ateus, aos ciganos, aos deficientes. Quando a lei protege um segmento da socieda-

2009

Relatório da então senadora Fátima Cleide é votado e aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS) no dia 10 de novembro de 2009. Evangélicos

2008começam a agir 2008

Em 11 de março, a ex-senadora Fátima Cleide reapresenta seu parecer, pela aprovação da proposta da PLC 122/06. A bancada evangélica, entretanto, consegue o adiamento da votação.

2010

2010

PLC 122 é deixada de lado e arquivada.

2010

O Ministério da Fazenda, através de uma portaria, estende o direito de declaração conjunta para os casais homoafetivos.

Linhas ideológicas 3. liBerAis Grupo que defende a causa LGBT, não necessariamente porque concordam, mas porque entendem que os direitos civis devem alcançar todos os segmentos da sociedade. Trazendo a questão ao ambiente religioso, os liberais defendem os direitos LGBT porque acreditam que Jesus assim o faria, visto que Ele andava com os marginalizados e excluídos. Baseiam-se em uma interpretação libertadora do evangelho, não apenas por modismo. Os liberais não encaram a questão como “é ou não é” pecado, mas algo que passa longe de ser fundamental para definir a salvação de uma pessoa.

4. inClusivos As igrejas “inclusivas” são as denominações que acreditam que a prática da homossexualidade é algo inerente ao ser humano. Em geral, suas pregações possuem uma temática voltada à inserção de homossexuais na igreja. Em razão disso, grande parte de sua membresia é formada por homossexuais e parentes. Templos são decorados com cores do arco-íris (símbolo do movimento LGBT) e gays e lésbicas ordenadas ministros da palavra. Ao mesmo tempo, seguem as mesmas linhas ideológicas das igrejas já existentes. Suas bandeiras ideológicas variam entre ecumênicas, pentecostalistas tradicionais (profecias, cura, batismo no Espírito Santo) ou até o neopentecostalistas, (quebra de maldição, libertação, prosperidade financeira).

2010

Governo Federal e MEC anunciam a criação de um “Kit Escola sem Homofobia”, a ser distribuído nas escolas. Além de cinco vídeos em DvD, o kit incluía um caderno com orientações para professores, uma carta para o diretor da escola, além cartazes de divulgação nos murais do colégio e seis boletins para distribuição aos alunos em sala de aula. Ideia do MEC é distribuir o guia em 6.000 escolas em todo o Brasil, para estudantes entre 14 e 18 anos.

Maio de 2011

Após pressões da Frente Parlamentar Evangélica, Presidente Dilma Rousseff decide suspender a produção do “kit anti-homofobia”.

2011

Fevereiro de 2011 Senadora Martha Suplicy desengaveta o PLC 122/06.

Março de 2011 Supremo Tribunal Federal (STF) aprova

o reconhecimento da união estável gay no Brasil. Discordando da decisão, o pastor Silas Malafaia conclama, via twitter, artistas como Ana Paula valadão, Fernanda Brum e Aline Barros a se manifestarem, sem obter resposta, porém. Revoltado, o pastor critica abertamente as artistas: “Obrigado pela omissão de vocês em não (dar) RT para conclamar o povo de Deus a pressionar os ministros do STF num assunto tão fundamental que favorece os homossexuais. Se Twitter é para mostrar fotos e agenda é melhor acabar porque não presta pra nada”, disparou.

1º de Junho de 2011

Pastor Silas Malafaia organiza, em Brasília, a “Marcha da Família”, defendendo os valores cristãos e contra a PLC 122/06. Mais de 25 mil pessoas prestigiam o evento.Senador Magno Malta afirma, em entrevista, que caso a PLC 122/06 seja aprovada, ele renunciará ao cargo. Marta Suplicy, Demóstenes Torres e Marcelo Crivella são os escolhidos para redigirem a nova versão da PLC.

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Homossexual assumido e ferrenho opositor da linha conservadora, o reverendo Márcio Retamero, da Comunidade Betel do Rio de Janeiro, -vinculada à ICM- diz que a vocação profética da igreja independe da orientação sexual dos seus membros. Para ele, a igreja inclusiva não é sinônimo de igreja voltada para gays. “Isso seria reduzir demais os nossos objetivos, visão, missão e valores. A igreja inclusiva tem por objetivo reunir todos os excluídos das demais igrejas, independente de sexo, gênero, orientação sexual, cor, raça... Somos almas sobreviventes. Cristãos, apesar da Igreja. Somos a Nova Reforma Protestante.”, declara. Aproximadamente, 80% dos membros da igreja do reverendo Márcio Retamero são homossexuais. Ainda assim, ele faz questão de fomentar o aumento do alcance de sua instituição. “Estamos trabalhando no sentido de fazer entender que somos igreja inclusiva, não exclusiva, apenas de gays”, afirma.

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Quem é quem

flete na maneira como os evangélicos se cominimiGos dos GlBts? portam diante da complexidade do debate acerca da PLC 122/06. “Em termos gerais creio que a Pelo segundo ano consecutiIgreja não está preparada, nem para lidar com eles vo, a revista “Lado A”, voltada como pessoas, nem sobre o assunto”. para o público LGBT, publicou Essa visão é compartilhada pelo pastor Ivan uma lista com os 10 inimigos Nunes, presidente da Igreja O Brasil para Cristo. (sic) públicos dos gays no Bra“Penso que a igreja deve se apaixonar pelas ‘boas sil em 2011. Destes, sete são novas – o evangelho do Senhor Jesus’ e não criar evangélicos. uma situação para ‘brigar’ com os pecadores. O li1º mite está no cuidado em como abordar o tema e no Jair Bolsonaro modo como tratar os pecadores”, afirmou o pas(Deputado Federal) tor. Ainda segundo Nunes, o teor dos argumentos 2º precisa ser diferente do que vem sido amplamenSilas Malafaia te divulgado nos meios de comunicação. Para ele, (Pastor) “um discurso apaixonado de conteúdo condena3º Jonathan L. Rodrigues tório não propiciará a proclamação da verdade, (Agressor) algo tão necessário. A missão da igreja sempre se voltou a restaurar pecadores, logo, o pecador é o 4º nosso alvo.”, completa. Nelson Jobim (ex-Ministro da Defesa) Mas há, pelo menos, um ponto em comum a todas as denominações, inclusive entre as não5º Magno Malta -evangélicas: O amor. Todos, sem exceção, afir(Senador) mam que amam os homossexuais, mas odeiam o pecado. Na prática, porém, a questão é bem mais 6º Eduardo Cunha complexa do que repetir o velho jargão. Em seu (Deputado Federal) programa televisivo, o padre e cantor Fábio de 7º Melo deu uma grande prova de que essa discusCarlos Apolinário são acerca de “o que é amar” não livra nem a igreja (Vereador de São Paulo) católica do debate. “O que nós não podemos ad8º mitir é que nosso discurso religioso possa ferir a Beto Richa dignidade humana, mesmo quando queremos ser (Governador do Paraná) proféticos. Há uma forma de ser profeta, sem ferir 9º a dignidade do outro”, afirmou o cantor, que seEdino Fonseca guidamente é visto ao lado de artistas evangélicos, (Deputado Estadual) como Ana Paula Valadão e Ludmila Ferber. NO QuE A IGREJA TEM ERRADO? 10º Na Bíblia, por exemplo, o apóstolo Paulo diz Preferências ideológicas à parte, um dos Júlio Severo (blogueiro) que a “verdade deve ser dita com amor”, enquanto principais pontos da questão diz respeito à Salomão compara a palavra dita na hora oportuna forma como os evangélicos estão lidando com como uma “maçã de ouro em uma salva de prata”. o assunto. Os excessos –e faltas- de cuidado Ou seja, o cuidado no falar é um dom muito precioso. E Ética na maneira em que a questão é debatida dentro dos ambientes Cristã colabora com essa discussão mostrando como os evangéeclesiásticos, tem tido papel importantíssimo na profundidalicos brasileiros pensam. Entretanto, o que está em questão é o de –e relevância- do que é falado pelos evangélicos. Em enquanto a igreja está preparada para lidar com o diferente, indetrevista exclusiva à Ética Cristã, o Diretor Geral da Faculdade pendente da definição que se dê para alguém “diferente”. Mais do Teológica Batista de São Paulo, Lourenço Stelio Rega (confique nunca, cabe a Igreja de Cristo lembrar-se do Apóstolo Paulo ra entrevista completa entre as páginas 20-26), acredita e de sua primeira carta aos Coríntios, no capítulo 13. “Ainda que que a principal falha da igreja está na falta de iniciativa eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, nas discussões. “Minha preocupação é que nós estaseria como o metal que soa ou como o sino que retine”. Nenhumos andando a reboque da realidade política ma luta é valida, para os cristãos, se não houver amor no pensar, do país. Parece-me que estamos senfalar, tratar. Para toda a sociedade, e especial para os cristãos, do reativos em vez de proativos.”, apesar das diferenças ideológicas o amor deve permear todas as opina. Para Lourenço, esse relações. tipo de comportamento rede, acaba por alcançar os que não fazem parte daquele segmento, também. Por que insisto em fazê-lo? Porque acredito que Jesus, o meu Senhor e Salvador, o faria”, afirmou, no texto intitulado “Carta Aberta”. Fazendo coro a este posicionamento está Anivaldo Padilha. Um dos ícones evangélicos na luta contra a ditadura e árduo defensor da igreja como instrumento de justiça social, também é membro do comitê “Evangélicos pela Justiça”, além de ser coordenador da “Frente Religiosa Contra a Homofobia”. Inicialmente criada para manifestar apoio à comunidade LGBT especialmente em razão da parada gay, a frente tomou grandes proporções, tanto que, em agosto, deve ser confirmada como uma ação nacional e permanente. Na opinião de Anivaldo, que é pai do ministro da Saúde Alexandre Padilha, ser um seguidor de Jesus é se preocupar com as minorias. “Como cristão, acredito que temos que agir em solidariedade com qualquer grupo social que seja discriminado. Tenho certeza de que essa seria a atitude de Jesus, pois foi assim que ele agiu durante seu ministério entre nós. Ele acolheu todos os excluídos e estigmatizados do seu tempo”, argumenta. Além da questão religiosa, Padilha vê a PLC 122/06 como instrumento de cidadania. “Defender os direitos LGBT, para mim, é uma questão democrática. A comunidade LGBT é formada por cidadãos brasileiros como qualquer outra comunidade em nosso país. Portanto, os membros dessa comunidade têm que ter os seus direitos garantidos plenamente da mesma forma que os outros setores da nossa sociedade”, defende ele.



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#EuEscolhi ESpErAr Movimento virtual a favor da abstinência sexual antes do casamento fica em primeiro lugar nos Trend Topics Brasil do Twitter e chama atenção da mídia secular FERNANDO GARROS

EuESCOLHIESPERAR


jovens, passou a transmitir via web, conversas ao vivo com diversos artistas evangélicos apoiadores do projeto – entre eles Lucas Souza e a banda Palavra Antiga -, no sentido de influenciar ainda mais aqueles jovens que vêem nestes artistas um exemplo a seguir. Por trás do Eu Escolhi Esperar (EEE) está a Rede de Mobilização Social (MOB), ONG organizada por pastores sediados em Vila Velha (ES), que usa estratégias de marketing nas redes sociais para promover valores cristãos, além de realizar seminários para solteiros. Na contra-mão de muitas igrejas, o ONG tenta tratar a sexualidade sob um outro viés, o da transparência total. “A igreja evangélica de um modo geral, não conhece a vida sexual dos seus jovens e muitas vezes não aborda o assunto, corretamente”, diz Nelson Júnior, pastor responsável pela MOB que é enfático ao dizer que quando aborda, geralmente faz malfeito. “Conheço centenas de pessoas que passaram pelo constrangimento da exposição depois que foram pegas na prática do pecado sexual. Foi traumático e muitas delas não passaram por mudanças”, explica o pastor, que trabalha há 20 anos com adolescentes e jovens.

“A virgindade torna-se a conseqüência na vida daqueles que buscam santidade.” www.euescolhiesperar.com.br

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ão é de hoje que a fornicação e o apelo ao sexo sem compromisso estão presentes nas discussões sobre comportamento e fé. No entanto, na atualidade, a abstinência sexual, principalmente para os adolescentes e jovens cristãos, tem sido, cada vez mais, motivo de constantes tensionamentos. Afinal, o que fazer quando tudo, lá fora, contribui para que os jovens desenvolvam uma vida sexual precoce, enquanto a Igreja prega a abstinência de uma forma desinteressante? Foi pensando nisso e talvez cansados de esperar por programas que falassem sua linguagem, que um grupo de jovens brasileiros decidiu agir por conta própria aderindo ao movimento“#EuEscolhiEsperar”, uma versão dos movimentos americanos de abstinência sexual, que recentemente fez um grande barulho na rede social twitter, ao deflagar uma campanha que recebeu ferrenha oposição. Enquanto milhares de jovens tuitavam frase com hashtag #EuEscolhiEsperar, um número maior ainda, tuitava frases com a hashtag #EuEscolhiFornicar. A inusitada guerra surgiu por conta deste movimento, que tentando promover uma sexualidade pura entre os

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O foco do EEE trata da importância de se viver toda uma vida sexual e emocional de forma pura e santa. “A virgindade torna-se a conseqüência na vida daqueles que buscam santidade”, diz a página da internet, onde também é possível ler e postar depoimentos, além de comprar brindes com a logomarca da campanha. Em seu perfil no Twitter, o movimento também divulga mensagens de encorajamento e exortação. As estratégias estimulam os jovens a declarar sem qualquer tipo de vergonha suas crenças. É o caso de Anita Drika, que postou em seu perfil: “Mais um dia com uma forte decisão: #EuEscolhiEsperar , pois Deus está cuidando e me dando forças para isso!” A usuária Ligia Rael fez uma profissão de fé: “quem ama confia, quem confia entrega, quem entrega descansa”. Jaque Alves de Faria faz coro: “Podem me chamar de careta, mas prefiro ser careta do que ser mercadoria na mão do inimigo... #EuescolhiEsperar”. Talvez a grande arma do movimento seja esta franqueza, atípica no meio religioso. Assim como os Alcoólicos Anônimos, que reconhecem “Acredito que muitos que é muito difícil parar, #Euperceberão, mesmo que EscolhiEsperar reconhece que é muito difícil não comesomente em parte, o çar. Em seu site e nas converquanto esperar pelo sexo sas via TwitCam - um recurso depois do casamento traz das redes sociais que permite transmissões ao vivo - seus orbenefícios de longo prazo ganizadores falam abertamente para o relacionamento.” das dificuldades de um solteiro manter-se fiel aos ensinamenLucas Souza tos bíblicos de abstinência sexual. “É muito difícil. A decisão de “esperar no Senhor”, não é nada fácil. E para alguns, manter o compromisso de esperar se torna um fardo pesado demais”. E eles vão além ao confrontar a banalização dos relacionamentos entre os jovens cristãos brasileiros: “O comportamento entre alguns solteiros cristãos, que optam pelo caminho do chamado “Test Drive”, é fruto de uma cultura, que está dentro de muitos filhos de Deus. São sofismas e fortalezas que influenciam a mente e o coração de muitos adolescentes e jovens afirmam. Além de declarações convictas, a rede de mobilizações tem recebido dezenas de testemunhos diários de jovens contando terem sido abençoados. É o caso do usuário Rodrigo Proença: “Eu escolhi esperar. Não sou convertido, mas a partir de hoje vou ver as coisas de uma outra forma!

Castidade beneficia o casamento? Pesquisa feita Brigham Young, ligada à igreja Mórmon americana, vê benefícios na castidade. Os pesquisadores entrevistaram 2.035 pessoas, com idade entre 19 e 71 anos e com períodos de casamento que variavam de 6 meses a 20 anos. Os casais, independente de ter ou não religião, que disseram não ter feito sexo antes do matrimônio relataran um relacionamento melhor em quatro aspectos: comunicação, satisfação com o relacionamento, percepção da estabilidade e qualidade sexual. A pesquisa recebeu críticas porque não explicou como escolheu os entrevistados. Fonte: The Economist

Obrigado!” “Declarações como essa são mais gratificantes do que estar nos TTs” conta Nelson Júnior. Mas ele não levanta uma bandeira fácil. Segundo Nelson, a principal dificuldade consiste em desmontar conceitos errados de pureza sexual na cabeça dos jovens. “Às vezes somos apenas moralistas e não puros. Além disso, falar sobre sexualidade é muito íntimo e isso faz com que o assunto fique escondido. As pessoas não se sentem a vontade para falar, muito menos para procurar ajuda”. É claro que o movimento também encontrou ceticismo no Twitter: “Respeito o povo do #euescolhiesperar, mas duvido que metade deles esperaria mais de 3 meses de namoro se a química fosse boa”, disse Beatriz, usuária que adota o nome de Killbiah. “Chega de hipocrisia. Até parece que alguém em sã consciência consegue esperar. Não há nada de errado nisso” disse Flávio Junior, outro adepto do movimento #euescolhifornicar”. “Que coisa mais sem graça esse tal de #euescolhiesperar! Eu não espero por nada! Eu faço! #euescolhinaoesperar”, tuitou Bruno Emanuel. “Além dessas, houve muitas reações furiosas! Deboches, xingamentos, palavras agressivas”, conta Nelson Júnior. “Mas muita gente não cristã reprovou a hashtag de apologia ao sexo”, acrescenta.

#


É verdade que essa não é uma bandeira fácil de ser levantada, pois no mundo pós-moderno e individualista em que vivemos, esta é uma abordagem que talvez tenha a maior rejeição. Uma coisa são princípios éticos que o mundo secularizado aceita, como honra, respeito, ajuda aos necessitados, democracia, abominação aos vícios, gentileza, educação no trânsito, etc. Outra coisa bem diferente é tocar em algo que mexe com o as escolhas pessoais. Segundo o senso comum secularizado, fazer ou não fazer sexo antes do casamento é uma decisão arbritária do indivíduo e assim como a fé, depende de uma convicção pessoal. Quando o assunto vem à tona atachado a uma convicção religiosa/cristã, tem tudo para sofrer boa dose de chacota e preconceito. Porém, ao abordar o as-

sunto como uma forma de respeito ao próximo (garota ou garoto), valorizando a decisão por um casamento sadio e ajudando a evitar, de certa forma, uma gravidez indesejada, #EuEscolhiEsperar pode mostrar-se eficiente, também, fora dos círculos cristãos. “Acredito que muitos perceberão, mesmo que somente em parte, o quanto esperar pelo sexo depois do casamento traz benefícios de longo prazo para o relacionamento”, diz o cantor Lucas Souza. Tomara que auxiliados por todos estes fatores, o movimento ganhe força e não seja uma moda evangélica e sim uma verdadeira forma de testemunho moderno de uma geração que quer encontrar voz para suas lutas e angústias” conclui. Resta esperar. Que o movimento influencie mais e mais pessoas.

O movimento pró-castidade é forte nos Estados unidos. Ganhou espaço durante o governo do evangélico George W. Bush, que destinou uS$ 191 milhões a mais de 700 programas de educação sexual que defendiam a abstinência. Em festas de 15 anos, adolescentes passaram a anunciar a castidade e adotar um anel para simbolizar o compromisso. O movimento ganhou adesão de ídolos teen, como os três Jonas Brothers e a cantora Miley Cyrus . Mas, mesmo com incentivo, foi difícil manter votos de castidade. Miley Cirus e dois dos irmãos Jonas tiraram o anel que simbolizava a campanha.

#euescolhiesperar

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Abstinência nos Estados Unidos

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DIREITO

Pedro luís Baldoni

Pedro Luís Baldoni

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é formado em Administração de Empresas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em Direito pelas Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, com pós-graduação em Direito Empresarial pela PUC/SP, advogado atuante e sócio fundador do Baldoni & Baldoni Advogados Associados. Pastor da Igreja Apostólica Renascer em Cristo – Sede Internacional.

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Quem tem ouvidos, ouça... Liberdade de culto ou desrespeito às normas?

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o sentar-me à frente do computador para escrever este artigo sobre um assunto que ainda divide bastante a opinião das pessoas, veio à lembrança o texto bíblico em que se afirma: “Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela...” (Rm 13.3). Vamos tratar aqui, exatamente, desse tema: a autoridade municipal dentro do universo das igrejas evangélicas em São Paulo. Gostaria de iniciar, dizendo que, parte da questão gira em torno de um problema corriqueiro, mas que tem prejudicado diretamente as igrejas locais: o barulho produzido durante os cultos. Sabe-se também que esta situação tem sido uma das causas do fechamento de muitas igrejas, fato que deve gerar em cada um de nós – e não apenas nos líderes das denominações - uma reflexão a respeito dessa indesejável situação. A intenção deste artigo não é debater questões relacionadas à proibição de uso de aparelhos eletrônicos nos cultos religiosos, os métodos de fiscalização da municipalidade ou parcialidade dos órgãos públicos no exercício do poder de polícia. A nossa conversa aqui deve girar em torno da observância da lei. Alguns princípios básicos devem fazer parte da vida de todos aqueles que desejam seguir a Cristo, transformando-os em notórios cumpridores da lei. Se de um lado, a Constituição Federal (art. 5º, VI a VIII) garante a todo cidadão brasileiro a liberdade religiosa e de culto, de outro lado, leis federais (Código Civil) e municipais (Lei de Zoneamento e Lei do Silêncio), regulam as “relações de vizinhança” e estabelecem limites ao uso da propriedade e dos níveis de poluição sonora. Portanto, não me parece adequado, sob o argumento da garantia constitucional da “liberdade de culto”, deixar de observar os limites impostos pela lei e fazer um uso anormal da propriedade e assim prejudicar a segurança, o sossego e a saúde da vizinhança!

Além disso, para que o evangelho seja pregado sem nenhum impedimento e com intrepidez (At 28:31) não é necessário o desrespeito às leis estabelecidas. Um bom testemunho produzirá uma grande colheita. Neste sentido, arrisco algumas orientações que parecem fundamentais: 1. Priorize investimentos na estrutura física do templo – vazamentos do som, através de portas janelas ou qualquer outra estrutura física são comuns e podem afetar os prédios vizinhos; 2. Invista na estrutura interna da igreja – Projeto acústico, revestimento interno, projeto de som, equipamentos adequados ao espaço, treinamento dos técnicos de som; 3. Conheça as leis – busque auxílio de um profissional. Existem diversas leis que disciplinam a matéria: Código Civil, Lei do Silêncio, Lei de Zoneamento de São Paulo, Programa de Silêncio Urbano - PSIU, Resoluções do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e as normas da ABNT; 4. Estabeleça horários adequados para os ensaios, vigílias, atividades que envolvam a utilização dos equipamentos de som da igreja; 5. Crie um canal de comunicação com a sua vizinhança. A melhor maneira de resolver disputas, em primeiro lugar, ainda é uma boa conversa. Penso que, adotando um plano estratégico e gradual de implantação dessas melhorias, a igreja local estará cumprindo seu papel de agente transformador e agregador da coletividade, dando bom testemunho a que o Apóstolo Paulo se referiu em uma de suas cartas deixadas a igreja: “Pelo contrário, é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo.”


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ARQuIVO PESSOAL

s 71 quilômetros que separam Juiz de Fora (MG) do pequeno município de Lima Duarte (MG) deveriam ser percorridos em uma hora e dez minutos. No entanto, se você não tem um carro (e um bom GPS) à disposição, prepare-se para esperar por até quatro horas para chegar ao lugarejo de 16 mil habitantes, aos pés da Serra da Ibitipoca, uma das paisagens mais belas da Zona da Mata mineira. Da rodoviária de Juiz de Fora (MG) saem nove ônibus por dia que levam ao destino da nossa viagem missionária. Dentro do ônibus há velhinhas pacatas, senhores enrugados e de mãos calejadas – aparentemente agricultores – e muitos jovens retornando às suas casas depois de uma semana de trabalho e estudo na “enorme” Juiz de Fora. Parecem especialmente animados com o carnaval do calçadão, que toma conta do centro da cidade nessa época do ano. A chegada a Lima Duarte não é bem em uma rodoviária: na verdade trata-se de uma pequena bomboniere com um guichê de passagens e um ponto de ônibus na frente. São mais ou menos 11 e meia da manhã de um sábado ensolarado. Mala pesada em uma mão, procuro no aplicativo do celular informações sobre o lugar da cidade onde ficarei hospedado, mas o que aparece é um grande va-

Evangelismo puro e simples no interior de Minas Gerais


LIMA DuARTE, MG uM RAIO-X

HISTóRIA: Lima Duarte nasceu durante o século 17 como um ponto de parada e reabastescimento de bandeirantes que passavam pela região em busca de ouro. O povoado cresceu ao redor da igreja de Nossa Senhora das Dores, edificada no ponto mais alto da cidade. Em 1884 foi elevada ao status de cidade.

BELO HORIzONTE

REGIãO: Zona da mata mineira, próximo a Juiz de Fora POPuLAçãO: 16.149 habitantes (3786 na zona rural) DOMICíLIOS: 7531 TERRITóRIO: 848 km2

PIB PER CAPITAL: R$ 6.912,00 (média nacional: R$ 18.023,00) BANCOS: 1 agência INCIDêNCIA DE POBREZA: 35,4% íNDICE DE DESIGuALDADE (quanto mais perto de 100, maior a concentração de renda): 44

MOTIVOS DE ORAçãO A equipe de missionários em Lima Duarte pede oração pelas seguintes causas: • pelo controle do alcoolismo e do uso de drogas, que têm destruído cada vez mais famílias. • pela contenção das drogas ilícitas, que estão ganhando cada vez mais espaço. • pela construção de equipamentos públicos de lazer e de projetos esportivos, para livrar a juventude das drogas e da prostituição. • pelo fim da cultura da idolatria e do comodismo na cidade • pelos trabalhos missionários estabelecidos no lugar Mais informações sobre o trabalho missionário e como contribuir: www. entrejovens.com.br ou contato@ entrejovens.com.br

zio no mapa. Para o Google, nem ruas existem no lugar.

uM LuGAR PARADO NO TEMPO

O povo de Lima Duarte (MG) parece respirar esquecimento e baixa auto-estima. Quem conta a história da cultura do município é Thiago de Souza Pires, de 25 anos. Cristão, carioca e formado em publicidade pela ESPM, Thiago sempre teve muitas ligações com o município de de 16 mil habitantes. Sua avó materna cresceu na cidade e o seu avô já liderou a igreja Batista por lá: “sempre estive em Lima Duarte com a minha família. Meu avô ia pregar nos presídios, visitava as casas e se tornou bastante conhecido no lugar”, conta, “Faltam praças, parques e opções saudáveis de lazer. Muitos jovens migram pra Juiz de Fora em busca de uma condição de vida melhor. É todo mundo muito desconfiado e falta disposição para o compromisso com Deus em todas as faixas etárias. Não só as igrejas evangélicas percebem isso, mas as católicas também”. Além da miséria espiritual, há muita pobreza econômica, especialmente nos bairros rurais mais afastados da sede municipal (Lima Duarte tem quase 4000 pessoas vivendo da roça).

Thiago é líder do ministério de jovens “Entre Jovens”, que começou no ano de 2007 como uma atividade semanal para a juventude da Primeira Igreja Batista de Moça Bonita,subúrbio do Rio de Janeiro. “Deus me deu uma visão de um cálice em pleno deserto, que recebia água que vinha do céu e transbordava, e por onde a água caia nasciam flores e frutos”. Desde a visão, Thiago passou a motivar jovens da sua idade a se juntarem ao grupo e usar todo o tipo de linguagem possível para influenciar outros jovens. O Entre Jovens visita igrejas, canta, dança, prega, faz visitas em lares, orfanatos, asilos, entrega folhetos, cuida de crianças, arrecada donativos, manda cartas... se adapta à necessidade do lugar que visita.

A uNIãO DE HISTóRIAS DE CARêNCIA

E DISPOSIçãO PRA SERVIR Depois de mais de três anos visitando igrejas e desenvolvendo atividades evangelísticas em regiões carentes do Rio de Janeiro, Thiago e sua equipe (agora não mais só de uma igreja local, mas de diversas partes do Rio de Janeiro) sentiram a necessidade de investir mais em missões. Foi nesse momento que a realidade carente de Lima Duarte

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DENSIDADE DEMOGRáFICA: 19 habitantes por quilômetro quadrado

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MISSÕES

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u Marcelo cortando cabelo na ação social realizada no bairro Poço da Pedra.

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u Durante o carnaval deste ano, a maior parte do trabalho foi feito debaixo de chuva!

(MG) encontrou-se com a disponibilidade dos jovens carioca. “Deus começou a falar comigo sobre investir mais em Lima Duarte (MG) e eu comecei a pedir sinais, já havíamos estado uma única vez lá em 2009, mas sem nenhuma intenção de fazer um trabalho mais aprofundado”, conta. Foi nessa busca por sinais divinos que, no final do ano de 2010, Thiago teve uma conversa com o casal Marcelo e Jorgete, também da PIB Moça Bonita. Unidos há 18 anos e convertidos ao evangelho há apenas 3 (ambos vinham de um envolvimento muito profundo com a igreja católica), o casal trazia consigo a forte impressão de que Deus queria usá-los na obra missionária. Foi na confraternização de fim de ano que Thiago e Marcelo conversaram sobre o assunto, e um teve a certeza de que era a resposta de Deus para o outro. Apenas 20 dias depois Jorgete e Marcelo já estavam em Lima Duarte pra fazer uma visita. “Quando eu desci lá pela primeira vez, já me senti parte do lugar”, emociona-se Jorgete, que voltou para o Rio de Janeiro com a matrícula feita para os seus dois filhos: “meu maior medo era a reação da Rayane, a mais velha, mas ela entendeu que era a vontade de Deus pra nós”. Foi o suficiente para ambos abandonarem seus empregos e partirem de vez pra Lima Duarte. Desde a mudança do casal, no mês de janeiro, a equipe de Thiago e os missionários estabeleceram uma parceria simples: o grupo de jovens do Rio de Janeiro visita a cidade mais ou menos de dois em dois meses e promove, em 2 ou 3 dias, ações de evangelismo e aproximação da população local. O papel dos missionários residentes é continuar o trabalho depois que o grupo do Rio de Janeiro vai embora.

paz de lutar a luta de todos, mas andamos todos juntos, compartilhamos nossas dificuldades e tentações, somos amigos”, revela Thiago Pires. Unido, o grupo assumiu para si a conquista de pessoas em Lima Duarte como uma comissão específica dada por Deus. Durante as viagens, o grupo carrega uma grande bandeira do município, e ora por ela. Também tiram um tempo para ir ao morro onde está estabelecida a igreja matriz – lugar onde a cidade nasceu – para orar e profetizar sobre o resto do lugar. O jovem Paulo Suarez, de 23 anos, está com a equipe do Entre Jovens desde 2009, e gosta tanto de Lima Duarte que planeja morar lá daqui a alguns anos, como missionário: “as praças desse lugar estão abandonadas, as pessoas acreditam em Jesus, mas não sabem nada sobre ele, pecam por falta de conhecimento”.

EVANGELISMO QuE NãO SE SEPARA DE AçãO

SOCIAL Por fim, o grupo sai para fazer evangelismo corpo a corpo - com folhetos próprios de design moderno e linguagem acessível – sempre associando a pregação a alguma iniciativa que atraia a confiança da população local e traga benefícios pra ela. Nas chamadas “ações sociais”, por exemplo, há palhaços para as crianças, oficina de desenho, aplicação de flúor e corte de cabelo. Enquanto uns trabalham para aproximar a população, outros abordam, batem papo e constroem um laço de amizade. No evangelismo porta a porta, o grupo aplica uma pequena pesquisa para entender a necessidade daquele lar e atendê-lo dentro do possível: “já visitamos um rapaz que nos disse que queria muito ir à igreja, mas tinha vergonha, pois não tinha

PEQuENOS DETALHES QuE FAZEM O

EVANGELISMO SIMPLES E EFICAZ Aparentemente, a estratégia do “Entre Jovens” para Lima Duarte não trás nada de novo, no entanto, o apego do grupo a certos princípios têm feito toda a diferença no pequeno município. Na visita que fizemos à uma das campanha do grupo, foi notável que a liderança é próxima dos liderados. A pouca idade de todos, que poderia ser um empecilho, acaba sendo usada como um trunfo: “Eu sei que não sou ca-

u Brincadeira com as crianças do bairro vila Cruzeiro.


O que mais chama a atenção no ministério “Entre Jovens” é o fato de QuE praticamente todas as pessoas que fazem o ministério acontecer tem entre 20 e 30 anos. um dos segredos do sucesso do grupo é justamente contar com mentores e conselheiros mais velhos. Thiago Pires e seus amigos de

sapatos. Naquele instante um de nossos jovens deu os seus próprios sapatos e ficou descalço. Há também crianças com cáries, com piolhos, sem roupas pra vestir”, compartilha Thiago. Quando não é possível atender alguma necessidade da família imediatamente, o grupo arrecada donativos no Rio de Janeiro e leva na viagem seguinte. “Uma vez um senhor me disse que estava muito feliz com a nossa visita, porque Deus estava se lembrando de Lima Duarte. O povo não tem esperança, acham que foram esquecidos por Deus”.

ATENçãO ESPECIAL PARA AS

CRIANçAS As crianças ocupam lugar especial na obra missionária. Há programações exclusivas pra elas na igreja Batista local, com música, teatro infantil, distri-

ministério já voam com as próprias asas, mas não abrem mão de prestarem contas a alguém. “O pastor Roberto, da PIB Moça Bonita, sempre nos incentivou a viver o evangelho além dos encontros dentro das quatro paredes. De certa forma, o Entre Jovens é fruto desse pastoreio”, conta Thiago. O Pastor Gustavo Legal, que é ex vocalista da banda Nazaritos e conhecido nas igrejas do Rio por participar de debates nas principais rádios, também é um parcei-

buição de doces e material escolar. Os pais que levam os seus filhos recebem uma palestra a respeito da importância de mantê-los matriculados na escola. Quando a equipe do Rio vai embora, Jorgete e Marcelo continuam o trabalho de ensino. De carro, Marcelo passa pelos bairros da cidade pegando as crianças, Jorgete – professora nata – dá aulas de princípios bíblicos para a criançada: “procuro ensinar mais que histórias bíblicas, procuro incutir valores na mente da criançada”. O método didático é baseado em três pilares: o que a criança deve saber, sentir e responder. Na aula sobre a Bíblia, por exemplo, Jorgete procura informar as crianças sobre a importância desse livro, fazê-las sentir amor por Jesus e pela palavra, e responder indo à Igreja e convidando a Família. “Aos poucos o vínculo de amizade com a população começa a ser fortalecido, e as pessoas começam a nos dar permissão pra entrarmos no universo delas, orarmos juntos e irmos à Igreja”, conta Jorgete. Elizangela Aparecida, de 29 anos, é um dos exemplos mais bem sucedidos da obra de Lima Duarte. Aos 19 anos ela sofreu um grave acidente de trânsito que a deixou em coma por 9 meses. Muito traumatizada, acabou enviada pela família para Lima Duarte, onde casou e teve quatro filhos. Desnorteada e depressiva, Elizangela passou a perambular sem rumo pela cidade, fumando e bebendo. “Parecia que o mundo inteiro havia se esquecia de mim, em casa não havia paz, pois eu vivia discutindo com o meu marido”.

ro do Entre Jovens: “eu sou um entusiasta do ministério de jovens, e tenho convicção que eles podem ser mais comprometidos do que muita gente mais velha”, declara. “No entanto, um princípio essencial é que eles tenham alguém mais experiente para prestar contas, e que possa auxiliar nas situações mais difíceis, e é essa tem sido a minha contribuição no ministério Entre Jovens”.

As coisas começaram a mudar depois que Elizangela foi atraída à igreja por um evento voltado às crianças, organizado pela equipe do Entre Jovens: “no começo, o que mais me deixou satisfeita foi ver o tratamento que os meus filhos receberam”. Da amizade com Jorgete nasceu o interesse de conhecer mais a Deus. “Hoje minha maior alegria é louvar. Eu levanto de manhã e já começo a conversar com Deus. Ouço hinos, oro pela minha família, peço bênçãos e agradeço muito pelo que Deus já fez”, testemunha Elizangela. “O relacionamento com o marido também tem melhorado, sei que no tempo certo ele também vai aceitar a Jesus”. Os missionários Marcelo e Jorgete não se incomodam em admitir que o evangelismo que fazem há sete meses não tem o propósito de atingir a maior quantidade possível de pessoas em menos tempo: “queremos fazer um trabalho minucioso, formando cristãos com qualidade. Afinal,não nos importamos com números”. Se a paixão pela cidade no coração é grande, a visão é realista. “Não sabemos por quanto tempo estaremos aqui”, confessa Thiago, “e não queremos criar cristãos dependentes de nós. Queremos formar pessoas que sejam missionárias em sua própria cidade, e continuem frutificando muito depois de termos ido embora”. No que depender do comprometimento da equipe com um trabalho missionário realista e relevante, as chances de frutos em longo prazo são grandes...

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Liderança jovem é possível

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ENTENDIMENTO CRISTãO

solano Portela

Solano Portela

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é graduado em matemática aplicada, pelo Shelton, mestre em teologia pelo Biblical Theological Seminary, autor de vários livros, professor de teologia e ética cristã, tradutor, palestrante, conferencista e presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, em Santo Amaro, SP

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Crente não se suicida? Reexaminando um antigo dogma

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m uma ocasião, fazendo uma pesquisa para um artigo sobre eutanásia, verifiquei que muito do que aprendemos sobre esta prática se aplica ao suicídio. Nas duas situações lidamos com a questão da valorização da vida. Apesar da Bíblia não tratar especificamente sobre o assunto, ela nos traz alguma luz e pode colocar em cheque algumas das posições éticas que cristãos têm adotado sem muita reflexão. Alguns apontam a morte de Sansão (Jz 16. 29-31) como sendo um exemplo de um servo de Deus que se suicidou. Mas observo que a posição de Sansão não pode ser vista como normativa ou até exemplificativa desse tema. Sansão era mais um prisioneiro de guerra, do que qualquer outra coisa. Ele e o país se achavam em uma situação emergencial de conflito, como descrevem os capítulos 13 a 16 do livro de Juízes. Vemos, em sua ação, não um suicídio por desespero, pelo fato de estar cego, mas um ato de um guerreiro que não hesita em sacrificar sua vida em função de uma grande vitória - o seu brado final comprova isso (“morra eu com os filisteus!”). Outra passagem pertinente é Jó 6.11. Ali vemos retratado o sentimento e desespero de Jó, Será que não no qual ele aventa o suicídio. No existem outros contextos entanto, não o faz e não segue explicativos, tais como perda o “conselho” dos seus amigos, da capacidade de raciocínio, apesar de clamar: “Por que esperar, se já não tenho forças? Por ou distorção da capacidade que prolongar a vida, se o meu adequada de julgamento, fim é certo?”. O apóstolo Paulo, em cercausada por pressão intensa ta situação, diz preferir a morte circunstancial, etc. que mais do que a vida (Fl 1.23-24), possam levar um crente ao mas ele faz uma avaliação raciosuicídio? nal da situação e verifica que a prioridade não é o alívio de suas

dificuldades, que adviria com a morte, mas a fidelidade à sua missão na terra: “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. Mas, por vossa causa, é mais necessário permanecer na carne”. Mas e se a lucidez, que contextualizou as observações de Jó e de Paulo estiver momentaneamente, ou permanentemente, ausente? Será que uma pessoa, crente, não pode ser levada ao suicídio, em situações como esta? Outra questão a ponderar: não temos exemplo de suicídio consciente e aprovado nas Escrituras, mas, quando alguma pessoa coloca a sua vida em risco não dizemos: “isso é suicídio” – ou seja, se alguém sabe que a vida está em risco e não faz nada para impedir o risco e preservar à vida, interpretamos como suicídio. Mas e o caso do Senhor Jesus, que mesmo sabendo que iria morrer, seguiu o caminho da morte? Ele disse que ninguém tirava a vida dEle, Ele a dava voluntariamente. É lógico que temos todos os qualificativos desse ato, bem como os aspectos de expiação e substituição vicária do plano de redenção. Esse pano de fundo nos faz não considerar a morte de Cristo como “suicídio”. Entretanto, será que não existem outros contextos explicativos, tais como perda da capacidade de raciocínio, ou distorção da capacidade adequada de julgamento, causada por pressão intensa circunstancial, etc. que possam levar um crente a este estágio? Não tenho as respostas, mas não encontrando uma passagem explícita, nas Escrituras, que indique que o Espírito Santo impedirá que nossa natureza pecaminosa e o pecado do mundo se concretize em tal situação, tenho que deixar a possibilidade aberta e examinar caso a caso, em vez de fechar questão e categoricamente dizer: “crente não se suicida”, como tenho ouvido, desde pequeno.


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MISSÕES

u Igreja Evangélica de Abu Dhabi

Islã e Cristianismo convivência pacífica? Primeiros sinais de tolerância entre o governo Islâmico e a comunidade cristã começam a surgir em algumas cidades dos Emirados Árabes, mas as supostas demonstrações de amor, ainda são vistas com desconfiança por alguns

ASAPH BORBA

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SóSTENES MENDES

uem chega ao centro de Abu Dhabi, a badalada e rica capital dos Emirados Árabes Unidos pode ver, em meio aos suntuosos prédios pós-modernos e minaretes de mesquitas, uma cruz. O símbolo máximo do cristianismo tenta mostrar à opinião pública mundial, que agora existe um convívio pacífico entre a minoria cristã e a maioria muçulmana. No entanto, apesar da aparente tolerância que as autoridades locais tentam passar, missionários baseados no país, preferem ser cautelosos e afirmam que esse convívio pode não ser tão pacífico assim. A cidade, de quase dois milhões de habitantes, cuja economia e prosperidade são baseadas no petróleo, abriga imigrantes oriundos de diversas nações. De acordo com o missionário Osvaldo (nome fictício), o governo de Abu Dhabi dá maior abertura ao cristianismo, por interesse, não por pacificação. “O que eles querem é turismo, dinheiro, pois temem que o petróleo não continue como principal fonte de renda do país. Por isso, abrem espaço para outras culturas e inibem a perseguição

religiosa. Um teatro para atrair turistas principalmente americanos”, declara o missionário que não pode se identificar por motivos de segurança. Para ele, as manifestações que estão acontecendo na região não são verdadeiras. “O que acontece é que muçulmanos tem, de certa forma, forjado a paz, tentando abafar a perseguição religiosa sofrida nos locais. Já passei por países como Síria, Iraque, Omã, Jordânia e Iêmen. Na verdade, o Estado reconhece o cristão como cidadão, mas o impede de pregar. Pode ser cristão, mas não pode falar de Deus. Se isso acontecer, estamos sujeitos a punição”, revela o missionário. Segundo “Osvaldo”, O pior país é a Arábia Saudita. “Nestes lugares elaboramos verdadeiras estratégias de guerra para não sermos pegos e torturados. Pregamos para pequenos grupos e sempre com discrição. Se pegos pelo governo, não corremos risco de morte, mas a ONU autoriza as autoridades dos países islâmicos a nos darem 10 dias de tortura sem punição”, conta.

CONTROVÉRSIA

Alguns pastores, que estão baseados em Abu Dhabi, acreditam, porém, que a vocação pacífica da região é real e histórica. O pastor Maher Ab Saydi, do Centro Cristão de Abu Dhabi, conta que as igrejas nos Emirados Árabes não são perseguidas, pelo contrário, gozam de liberdade de culto. “Um dia – lá em 1994- o Califa chamou a todos os pastores conhecidos da cidade e falou sobre o seu desejo de construir um centro, que abrigaria escola, hospital, um templo para o culto ortodoxo e outro para o culto Cristão”, relata o pastor. Hoje, o resultado disso tudo está no suntuoso Centro Cristão que situa-se em uma zona nobre no centro da capital

A igreja Praticamente 100% dos cristãos nos EAu são estrangeiros. Há 33 igrejas no país e elas foram construídas em terrenos doados pelas famílias que governam os Emirados Árabes. É só desta forma que a denominação adquire o reconhecimento do Governo. Em função disso, hoje, dos sete emirados, quatro já têm escolas cristãs de ensino fundamental e médio.

dos Emirados e chama a atenção pela modernidade e beleza de sua arquitetura. A primeira parte da construção foi autorizada pelo Sheeik Califah e executada com fundos governamentais. No entanto, recentemente o espaço ganhou nova ampliação, desta vez, financiada com doações vindas de diversas partes do mundo. O mais interessante é que o centro não pertence a nenhuma igreja ou grupo específico. Ali, convivem cerca de 30 etnias oriundas de diferentes denominações evangélicas que, com os mesmos direitos, agendam seus cultos e ocupam os vários auditórios construídos naquele local.


u Irmãs da Índia no Centro Cristão de Abu Dhabi

A vizinha Dubai, a maior metrópole dos Emirados, também é considerada pacífica por alguns, já que o Sheik edificou para os cristãos um local onde são realizados cultos e eventos para as diferentes denominações.

PACIFICAçãO?

Ao olhar para a história da região, constantemente vê-se primeiro as atitudes de ódio e intolerância como o ponto principal. Entretanto, há uma pequena luz no fim do túnel. As revoltas que pipocam nos países islâmicos é um sinal de que mudanças estão a caminho. “Eles estão enfrentando uma crise, pois o Islã rachou. Ficaram expostos e foram afetados pela palavra de Deus que foi entregue a eles”, analisa o pastor David Botelho, líder da Missão Horizontes. Para Botelho, muitos muçulmanos convertidos estão dispostos a morrer pela fé alcançada em Jesus. “Nunca na história da Igreja, houve tantas conversões ao cristianismo como está havendo e isso está assustando os líderes muçulmanos”, afirma o pastor. De acordo com Vanessa Portella, Assessora de Imprensa da Agência Missionária Portas Abertas, o que está havendo no Oriente Médio é o questionamento das leis islâmicas, a chamada Sharia, pela

população. “Os movimentos e revoltas que estão ocorrendo em países como a Líbia e o Egito são prova disso, o povo está questionando as leis e o governo. Dessa forma, eles acabam ficando com o coração mais aberto para o cristianismo, para receber a Jesus” conclui.

NOS PAíSES MuçuLMANOS, O

EVANGELISMO É PROIBIDO Em alguns países do Oriente Médio, a conversão ao cristianismo pode resultar em morte, o que inibe em muito a atuação da igreja. Não se pode, contudo, dizer que não existem conversões nestes países. Segundo o músico e líder cristão jordaniano Maged Matalkita, muitos muçulmanos que se convertem são acompanhados por cristãos e mantém sua fé em segredo sem nunca irem a uma igreja. Por isso, os cristãos da região têm que ter as estratégias certas para compartilhar a fé. “Sempre quando há relacionamentos de amizade e respeito é possível a transmissão do amor de Cristo”, acrescenta. Alguns países como Egito e Líbano permitem programas de rádio e televisão sem restrições, e dão o direito às minorias de compartilhar assim sua crença. Outras nações como a Síria, não permitem rádio e Tv difusão, mas protegem os di-

reitos de culto e a realização de eventos, desde que não seja ofensivo ao Islã. Matalkita ressalta, no entanto, que todos devem agir com sabedoria para evitar a ampliação dos problemas de intolerâncias. “Aqui temos que ser verdadeiros cristãos e fazer o que Jesus ensinou, principalmente amar o próximo”. Os cristãos locais conhecem bem os limites. O que não ocorre com muitos estrangeiros que chegam aos países islâmicos desconhecendo as regras de convivência. O médico e músico brasileiro, Gerson Ortega, que há mais de 10 anos participa de eventos na região, acredita que a chave está em saber como portar-se, respeitando a cultura islâmica sem, contudo, deixar de agir de acordo com a palavra de Deus. “O que me leva ao Oriente Médio é o amor que tenho por todos os povos e nações. Eu vou sempre com o desejo de abençoar os muçulmanos, e estender a eles o amor de Cristo”, afirma Ortega. Todos almejam que cada vez mais o convívio seja balizado pelo respeito e tolerância de cada parte. Cristãos, judeus e muçulmanos devem buscar, não a imposição de sua própria verdade, mas a vivência daquilo que Deus tem para todos os homens criados à sua imagem e semelhança: o amor.

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u Igreja reunida no Centro Cristão de Dubai

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CULTURA

Sherwood Pictures a serviço do Reino

Projeto audiovisual que nasceu dentro da Primeira Igreja Batista Sherwood, no estado de Albany - EUA, arrecada milhões de dólares com produções que motivam o telespectador a desenvolver a moral cristã fernando garros

DESTAQUES SOBRE FILMES, LIVROS, CDS, DVDS E PEÇAS TEATRAIS QUE ENRIQUECEM O CENÁRIO DA CULTURA GOSPEL NO BRASIL

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E NO MUNDO.

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S

abe quando sua igreja se reúne e cria ministérios para dar espaço aos diferentes talentos que uma congregação possui? Pois uma igreja em Albany, no Estado americano da Geórgia levou isso até as últimas consequências. Os avanços das câmeras HD e máquinas como Cannon 5D Mark II e de programas de edição como Adobe Premier e Final CUT dão ares de grande pro-

dução a qualquer roteiro que tenha o mínimo de talento envolvido. Mas também muito se deve à produtora Sherwood Pictures, braço de multimidia da igreja batista de Sherwood. Ela é quem está por trás dos primeiros filmes tidos como “de conteúdo cristão” à alcançarem a marca dos milhões de dólares em arrecadação na história da sétima arte. O que era antes apenas um ministério da Primeira Igreja Batista Sherwood agora é uma poderosa ferramenta de evangelismo e fonte de dividendos. Tudo, graças à coragem e espírito empreendedor do seu criador, o roteirista, produtor e diretor Alex e seu irmão Stephen Kendrick. Alex fundou a produtora em 2002 quando ainda era pastor adjunto de mídia, com uma verba de US$ 20.000 em doações. Escreveu, dirigiu e atuou no primeiro filme, “Flywheel” (A virada) que contava a história de um vendedor de carros fracassado, que experimenta uma reviravolta em sua vida, ao deixar tudo nas mãos de Deus. Com a boa repercussão do filme nas salas regionais americanas e tendo a visão de um potencial de mercado, Alex faz seu segundo filme, “Facing Giants” ( Desafiando Gigantes). também atuando e dirigindo. Daí por diante, o milagre da multiplicação acontece: o filme produzido com apenas US$ 100.000 arrecada em apenas um final de semana US$ 1,3 milhões, e fatura mais de US$ 10 milhões em todas as suas apresentações. Uma obra acabou figurando na lista dos 15 melhores filmes de motivação empresarial de todos os tempos. A produção seguinte foi mais longe. “ Fireproof” ( Prova de fogo) teve um orçamento de U$$ 500 mil. Lançado em setembro de 2008, só na primeira semana de exibição – ele passou em mais 850 salas nos Estados Unidos – rendeu U$$ 8,1 milhões. No total, o filme levantou U$$ 28,3 milhões. Isso sem falar nos DVDs e livros vendidos para igrejas num mesmo pacote promocional. O livro que deriva do filme, “O desafio de amar” entrou para a lista dos mais vendidos do The New York Times nas semanas seguintes, vendendo 3 milhões de exemplares. Em 2011, a produtora lança seu quarto filme, denominado “Corageous” (Corajoso) , que conta a vida de quatro policiais de Albany que, ao darem o seu melhor no trabalho, falham na tarefa de serem bons pais. Uma tragédia que atinge a família de um dos oficiais, unindo os outros em torno dele.


falta de fé; o senso de que a realidade que vivemos não é boa e que deve haver outra proposta em outra dimensão, são alguns dos temas retratados pelo autor. Mas no cinema não há lugar – ou não havia – para a resposta do Evangelho a esses dilemas da contemporaneidade. Agora, uma voz de Albany se levanta e encoraja o espectador a refletir sobre uma outra saída para o divórcio, o adultério, os vícios, o fracasso, o estresse entre pais e filhos, a insegurança e o medo do futuro: a saída do amor de Deus. É nesse ponto que Sherwood Pictures tem seu trunfo. Na capacidade de dizer o simples, sem sutilezas, com exemplos de histórias que eu e você passamos todos os dias, mas com competência e qualidade. É t i c a c r i s t ã • J U L H O /A G O S T O • 2011

Talvez, o segredo por trás do sucesso da Sherwood e seus filmes está em duas coisas triviais, mas fundamentais: espírito comunitário e o foco. Tudo, absolutamente tudo, nas produções é feito em Albany, de forma voluntária, por um verdadeiro exército, formado pelos membros da comunidade e da igreja. Atores, figurantes, figurino e toda a produção é quase que amadora. Ou seja, não há gastos exorbitantes com locações, viagens, sindicatos, taxas, efeitos especiais ou grandes estrelas, valores que em geral, significam boa parte do orçamento dos grandes filmes em hollywood. Evidente que há profissionais gabaritados envolvidos nas áreas-chave, como fotografia, edição de som e montagem, mas todos eles, de alguma forma, estão envolvidos pelo espírito de um bem maior. E aí é que está o segundo segredo da produtora. Alex e sua equipe tem uma missão muito clara: a estrela

aqui é a mensagem, mas ela deve ser entregue com uma qualidade final impecável. Não há nenhum nome conhecido no elenco das produções da Sherwood, mas há um senso de compromisso e de união só comparado ao de uma escola de samba do Rio de Janeiro. O roteiro de seus filmes não é original, não tem a pretensão de desbravar uma nova forma de abordagem, não possui os diálogos de um Woody Allen. Pelo contrário, os temas são simples e o texto, embora fluido, é até ingênuo. Tudo gira em torno de família, responsabilidades e relacionamento com Deus. Mas, é justamente nesta forma trivial de olhar sobre os relacionamentos humanos que Alex e Cia são felizes. Há na cultura secular uma glamourização do extremo: o policial que cumpre a lei, mas não consegue ter voz em casa com a esposa; o herói que fraqueja pela

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CULTURA

o deUs PrÓdIgo THOMAS NELSON BRASIL / 173 págs.

Por Rogério Nascimento

ConfIssÕes de UM PasTor da reforMIssÃo

VenCendo o MUndo EDITORA FIEL / 214 págs.

TEMPO DE COLHEITA / 216 págs.

AUTOR

AUTOR

AUTOR

DO QUE TRATA?

DO QUE TRATA?

DO QUE TRATA?

POR QUE LER?

POR QUE LER?

POR QUE LER

A OBSERVAR

A OBSERVAR

A OBSERVAR

TRECHO

TRECHO

TRECHO

Timothy Keller é considerado hoje, o C.S. Lewis do Séc. XXI devido a sua profundidade e contemporaneidade no discurso. O escritor nasceu na Pensilvânia, mas desenvolveu o seu ministério, em Nova York, onde fundou, em 1989 a Igreja Presbiteriana Redeemer (Redentor).

O livro é uma analise contundente da Parábola do Filho Pródigo. O autor valoriza o texto bíblico, contextualizado-o ao ponto de torná-lo familiar à linguagem contemporânea. Uma obra sobre como resgatar a essência da fé Cristã na atualidade.

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Para compreender a essência da mensagem de Jesus contida nesta parábola e como cada personagem representa, diferentes maneiras de buscar a salvação. O pai que deixa o filho ir e depois o recebe de volta e o irmão, que reprova a atitude do pai, estão presentes no dia a dia da igreja.

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A profundidade da abordagem tanto teológica, como espiritual e até mesmo filosófica do autor. Deus, representado na pessoa do pai dos dois filhos é um “esbanjador” da graça. A salvação passa a ser um banquete e a fé é resgatada na sua essência.

“Jesus nos deu mais do que um relato tocante de uma redenção individual. Ele reconta a história de toda a raça humana, e promete nada menos do que esperança para o mundo todo.”

Considerado um Ícone da nova geração de pregadores e um dos 50 pastores mais influentes dos EUA, o polêmico Mark Driscol - pastor da Mars Hill Church, em Seattle, EUA - é um fenômeno midiático. O site de Driscoll é um dos mais visitados do mundo evangélico.

O livro conta a trajetória da inovadora Mars Hill de Seattle desde sua criação até conquistar a marca de 10 mil membros, uma das igrejas que mais cresce nos EUA, em um dos campos missionários mais difíceis do país.

Para entender o fenômeno da chamada Igreja Emergente que se define com uma linha Missional e Calvinista, mas com a missão de ser biblicamente conservadora, culturalmente liberal e que serve a cidade onde está localizada.

O profundo conhecimento da Bíblia, da teologia e da cultura do autor. Não se trata apenas de um livro sobre crescimento de igrejas, mas um relato sincero de um plantador de igrejas.

“As igrejas emergentes vêem a tarefa primária da igreja como sendo o envio de cristãos para fora da igreja e pra dentro da cultura, para servir como missionários através de relacionamentos, ao invés de trazer os perdidos para a igreja, para serem servidos através da programação”.

Autor e co-autor de mais de 50 livros, o teólogo americano Joel Beeke, Ph.D em Teologia, é pastor da igreja Heritage Reformed Congregation, em Grand Rapids, MI, EUA e presidente do Puritan Reformed Theological Seminary (Seminário Reformado Puritano).

O subtítulo “Graça para Vencer a Batalha Diária” revela o principal objetivo da obra de Joel Beeke: ser um guia de espiritualidade prática. Mais do que um tratado teológico, “Vencendo o Mundo” aborda os desafios da fé diante dos percalços do mundo.

Em tempos de best sellers e livros de auto-ajuda esta obra traz uma mensagem bíblica e teológica e ao mesmo tempo relevante para a vida prática. Além disso, há muitas referências aos mestres da espiritualidade calvinistas, principalmente dentro da linha conhecida como puritanismo.

A maneira como o livro foi dividido em tópicos, podendo ser lido de acordo com o tema escolhido é um diferencial e pode ser útil para quem deseja edificação pessoal ou para usar como referência para o ensino ou pregação.

“Somos vitoriosos porque pertencemos ao Vencedor. Que verdade maravilhosa a assimilarmos, quando estamos em guerra contra este mundo. Somos vencedores, não porque somos grandes guerreiros, e sim porque pertencemos Àquele que já triunfou.”


sIMPLesMenTe CrIsTÃo

a feLICIdade

a oBra de CrIsTo

AUTOR

AUTOR

AUTOR

DO QUE TRATA?

DO QUE TRATA?

DO QUE TRATA?

POR QUE LER?

POR QUE LER?

POR QUE LER?

A OBSERVAR

A OBSERVAR

A OBSERVAR

TRECHO

TRECHO

TRECHO

Autor de mais de 40 livros e um dos mais celebrados estudiosos do Novo Testamento da atualidade, N.T.Wright é bispo anglicano de Durhm, na Inglaterra. Foi professor em Cambridge e Oxford por vinte anos e hoje é professor visitante de diversas instituições de ensino.

Uma apaixonada defesa da fé cristã diante de um mundo cético, materialista de um lado e cheio de crendices e misticismo do outro. A obra tenta responder a pergunta muito pertinente e relevante: “Por que devo levar a sério a mensagem cristã?”

Porque a fé cristã precisa ser anunciada com mais clareza e objetividade. Wright pode não ser o mais ortodoxo dos teólogos, mas certamente contribui para tornar a mensagem cristã mais relevante para a mente atual.

A originalidade que Wright usa para transmitir verdades antigas com roupagem modernas e contextualizadas.

“Jesus de Nazaré ressuscitou corporalmente dentre os mortos, deixando o túmulo vazio. É por isso, principalmente, que cremos também que a morte de Jesus não foi um acidente trágico e confuso, mas a surpreendente vitória de Deus sobre as forças do mal.”

EDITORA PALAVRA / 285 págs.

Autor de mais de 40 livros, o escocês James Houston é um dos pioneiros no estudo da fé evangélica. Lecionou geografia por 27 anos e, em 1970, fundou o Regent College em Vancouver, Canadá, onde lecionou Teologia Espiritual até se aposentar em 2002.

Procura explicar por que todo mundo deseja ser feliz, mas poucos verdadeiramente o são. A satisfação que se busca com a conquista de coisas materiais pura e simplesmente não traz a felicidade, pois este sentimento baseia-se no egoísmo e na busca por reconhecimento.

Densa e intensa em todos os sentidos. Apesar de não ser uma leitura para “antes de dormir’ precisa ser conhecida. O capítulo que pergunta: O Universo é um lugar feliz? Traz uma reflexão bela e profunda sobre como a Doutrina da Santíssima Trindade nos ensina a nos relacionar com Deus.

A beleza da linguagem quase poética, a reflexão original, a fluidez dos raciocínios e a facilidade com que o autor transita entre a linguagem bíblica e as referências a vários ramos da cultura e da arte.

“Se nos recusamos a enfrentar nossa condição pecadora, continuaremos vivendo um tipo de meia-vida de fantasia, consumida pela idolatria e pelo vício.”

CULTURA CRISTÃ / 267 págs.

Estudioso da História da Teologia Cristã, Robert Lethan é especialista e profundo conhecedor da Cristologia Clássica, ex-professor de Doutrina Cristã no London Bíble College, é pastor da Igreja Presbiteriana Emanuel em Wilmington no Estado de Delaware (EUA).

A partir do tríplice ministério de Cristo esta obra aborda o difícil tema da cristologia, focando não a Pessoa propriamente de Cristo, mas sua obra. Neste sentido é objetiva e vai desde as primeiras teorias, passando pelos principais pensadores cristãos que abordaram o tema.

Por conta da busca do “Jesus Histórico”, a obra de Jesus na cruz como O Salvador foi esvaziada por muitos pensadores. Lethan resgata o estudo do Cristo Messiânico. Outro fato importante é o significado da obra de Cristo na cruz, ressaltado pelo autor.

Como um tema tão controverso, debatido e estudado ganha novo sabor, o texto surpreende pela percepção profunda e esclarecedora do assunto. A Obra de Cristo é apresentada com verdade, relevância e clareza.

“A realeza mediatória de Cristo que se estende à igreja inclui a salvação do individuo dentro da mesma, como a comunidade da ressurreição, a igreja é ao mesmo tempo tanto local como a portadora da salvação.”

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EDITORA ULTIMATO / 250 págs.

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CULTURA

Por Fernando Garros

5 perguntaS para o autor

LIVRO DESTAQUE

Teísmo aberto

Ética Cristã conversou com o autor de Teísmo Aberto - A teologia de um Deus limitado e extraiu dele algumas respostas para os assuntos abordados no livro.

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Um Deus que não é tão Deus assim.

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Talvez as duas maiores perguntas de todo o cristianismo sejam: por que Deus permite que soframos; e se Ele sabe o tudo o que vai acontecer, por que não intervém? É. Essas perguntas podem suscitar grandes dúvidas a respeito da essência da personalidade de Deus e é aí que entra o teísmo aberto. Uma linha de pensamento que tem acometido muitos cristãos, diante de possíveis “dubiedades” na relação de Deus com o tempo e o espaço e que pode estar causando estragos dentro da igreja moderna. Agora, mais um livro surge na tentativa de desmascarar este sofisma. Bruce Ware, o autor, é professor do Seminário Batista do Sul (EUA) e em sua obra Teísmo Aberto. A teologia de um Deus limitado (Editora Vida Nova), coloca argumentos fortes no combate a este viés que segundo ele, vem se entranhando em nossas igrejas de forma nem sempre tão sorrateira. O teísmo aberto acredita que o futuro não pode ser conhecido. Por isso, está “em aberto”. Portanto, Deus sabe tudo o que pode ser sabido – mas Ele não conhece o futuro. O teísmo aberto baseia estas crenças em Escrituras que descrevem Deus “mudando de ideia”, ou “sendo surpreendido”, ou ainda “parecendo adquirir conhecimento”. Os argumentos sustentados pela teoria são: (1) seres humanos são verdadeiramente livres, (2) se Deus soubesse o futuro, absolutamente, os seres humanos não poderiam ser verdadeiramente livres, (3) então, Deus não sabe, absolutamente, tudo sobre o futuro. Segundo esta vertente, nenhum relacionamento seria possível entre duas partes se uma conhecesse de antemão todas as reações e pensamentos da outra, antes mesmo des-

ta as praticar. Ware diz que todos os cristãos – evangélicos, ortodoxos e até mesmo os teístas abertos - afirmam que o Deus da Bíblia é onipresente, possui conhecimento perfeito e completo do passado e do presente. “(...) Deus conhece o futuro por completo, da maneira que ele será e isso inclui seu conhecimento prévio daquilo que pessoas livres deverão escolher fazer.” A partir desta premissa, o autor passa em revista vários trechos da Palavra testando com argumentos e referências os pontos que sustentam o teísmo aberto. A coisa fica mais interessante ainda quando chega na questão do sofrimento humano, onde as noções de um Deus bom, diante do sofrimento humano, tem a pretensão de serem questionadas. Com exemplos recheados de histórias trágicas, Ware nos confronta a acreditar que a soberania de Deus é inquestionável e tudo o que nos acontece faz parte de algo maior. O conceito do teísmo aberto não é, portanto, escritural. É, simplesmente, outra forma de o homem finito, com a sua mente finita, tentar entender um Deus infinito, da mesma forma que se tentasse beber um oceano inteiro. Segundo o autor, o teísmo aberto deve ser rejeitado pelos seguidores de Cristo. Mesmo que seja uma explicação para a relação entre o pré-conhecimento de Deus e o livre arbítrio humano – ele não é a explicação bíblica.

Se Deus é onisciente, onipotente e infinitamente misericórdia, porque ele não evita as tragédias? Como a Bíblia explica isso? A Bíblia deixa claro que Deus tem o controle total de tudo que acontece na vida, incluindo as duras e difíceis experiências (ver, por exemplo, Isaias 45:57). Ele é infinitamente perfeito e sábio e sempre faz o que é certo (Deuteronômio 32:4). Mesmo quando não podemos entender os propósitos de Deus para as circunstâncias difíceis da vida, podemos saber que Ele não apenas está no controle das circunstâncias, mas que tem bons propósitos com isso. Deus opera todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade (Efésios 1:11). Lembre-se que Deus trouxe um dilúvio sobre o mundo inteiro quando Ele viu a sua maldade (Gn 6FF). O mundo hoje é tão merecedor deste mesmo julgamento divino, como foi nos dias de Noé.

Se Deus sabe que uma catástrofe “x” deve acontecer e não faz nada para impedir, isso é o mesmo que exercer um poder cruel ou impotência? Quando Paulo encontra uma pergunta semelhante, considerando o fato de que Deus endureceu o coração de Faraó e depois trouxe juízo sobre o povo egípcio, ele responde: “quem és tu, ó homem, que responde a Deus?” (Rm 9:20). O fato é que Deus não poderia manifestar as glórias de Sua misericórdia e da beleza da sua salvação, se não fosse por causa do pecado e do mal no mundo. E além do mais, este é o desígnio de Deus. Não temos direito de questioná-los.


Parte da dificuldade com esta questão é que ela pressupõe - ou seja, que tudo que Deus faz tem de ser amoroso. Mas se assim for, o que fazemos com Romanos 9:13? Deus é amor, mas isso não significa que todo ato de Deus deve manifestar o mesmo tipo de amor. Deus é livre para amar como Ele escolhe. Ou, como Deus diz: “terei misericórdia de quem eu quiser ter misericórdia” (Rm 9:15). Pode haver momentos em que as tragédias são trazidas para as pessoas, justamente, por causa do Seu amor por eles.

Se Deus conhece o fu turo, o futuro está escrito e nã o pode ser mudado, porque seu conhecimento é perfeito, isso não é fatalismo? Não, isso não é fatalismo, por duas razões: 1) O fatalismo sustenta que as coisas acontecem devido à mera natureza da realidade, e que não há nenhum propósito, plano ou projeto. Mas o Deus da Bíblia tem planos e propósitos em tudo o que ocorre. 2) O fatalismo sustenta que nossas escolhas e ações não fazem sentido, uma vez que tudo ocorre por algum determinismo fatalista. Mas o Deus da Bíblia ordenou que enquanto Ele, soberanamente, controla tudo o que ocorre, somos feitos agentes, moralmente responsáveis, pelas nossas escolhas e ações. Nós não somos robôs. Nós temos a verdadeira liberdade de escolher e agir de acordo com nossos mais fortes desejos. E agindo assim, somos responsáveis, perante Deus, pelo que fazemos.

Você realmente acha que podemos explicar Deus, apenas lendo a Bíblia? Não seria melhor admitir que não sabemos a resposta? Devemos ir tão longe quanto a Bíblia vai, mas devemos parar quando não temos garantia bíblica para propor quaisquer novas respostas. Alguns cristãos erram por não levar a sério toda a Escritura, e cometem o erro de parar muito cedo em sua exploração. Outros erram indo longe demais, entrando em especulações.

CDsRecomendamos FeRNaNDa BRum Glória / MK Quando se é uma peça-chave da música evangélica nacional como é Fernanda Brum, a responsabilidade de produzir uma obra que supere a outra é sempre maior. Mas Fernanda consegue isso muito bem, porque tem talento de sobra. Glória é o décimo álbum da cantora, num ano que a música evangélica vem tendo a maior exposição e conseqüente respeito pela mídia secular. Ao mesmo tempo, um ano difícil para a cantora. Criado durante toda gravidez da filha Laura, Glória foi um verdadeiro desafio. O álbum reúne baladas, rock e até um axé/afroreagge, todos com a temática da glória e o poder de Deus. “Pavão Pavãozinho” talvez seja a musica carro-chefe deste álbum, com uma pegada Rock N Roll e uma repicada baiana. Um álbum, certamente, marcante na carreira da cantora.

DeliRiOuS? Farewell in London / Oni Music 14 albúns lançados e quase 2 milhões de cópias vendidas. Sete músicas nos Top 40 do mercado geral britânico de singles e dois álbuns no Top 30 do mercado geral britânico, “Farewell Concert in London” é o registro ao vivo do último concerto da mais influente banda de rock cristão contemporâneo dos últimos 15 anos, e é item imprescindível para quem esteve vivo nesta última década. Um must-have que você não pode deixar de ter e rever, para lembrar de onde veio 50% do que você escuta, hoje na música evangélica.

CaSSiaNe Viva / Sony Music Você se sente traído? Você se sente amargurado? Rejeitado, angustiado? Pois a salvação está chegando através do trabalho que Deus prometeu que iria fazer na vida de cada um. Talvez o grande trunfo de Cassiane seja este: de falar exatamente o que as pessoas querem ouvir, de uma maneira fácil de entender e sentir. Nesse “ Vida” , a cantora , uma das divas do gospel nacional, não muda o rumo da prosa nem um momento sequer e apresenta um cd recheado de forte apelo à redenção de Deus para a vida do cristão.

aNDRé ValaDãO Minhas Canções / Graça Music André lança o que pode se chamar de mais o cd mais de sua carreira. Arejado, moderno e bem gravado (masterizado em New York por Tom Coyne, “capo” do Sterling Sound Studios e que trabalhou com ninguém menos do que Beyonce, Adele, Pink, Britney Spears e Justin Bieber), “Minhas canções” é fruto do bom gosto e do tiro certo num mercado de ouvintes que não se identificam, musicalmente, com o estilo “baladão” de muitos artistas evangélicos. Cheio de referências, André Valadão pode ter criado seu melhor trabalho até hoje, porque mirou sua artilharia criativa para o lado certo.

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O calvinista diz que tudo é causado por Deus, incluindo as tragédias. Não seria uma falta de amor e bondade?

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PASTORAIS URBANAS

Fabrício Cunha

Fabrício Cunha

é pastor da Comunidade Batista Vida Nova, em São José dos Campos (SP), um dos líderes do Fórum Jovem de Missão Integral, membro da Fraternidade Teológica Latino Americana. Casado com Miryana, com quem tem 3 filhos.

Sou Pastor Um árduo ofício, tão árduo, quanto belo.

o

Dividir o pão da ceia, servir o cálice, celelá. Estou muito feliz em poder comparbrar morte e vida, relembrar o sacrifício com tilhar textos sobre “Pastorais Urbanas” alegria contida pela reverência diante de algo por aqui. Começo com insights sobre tão grandioso, apesar de singelo, renova mio que é essencial à vocação pastoral de forma nha fé naquele que se deu por mim sendo pão mais abrangente. Nos vemos por aqui, a cada amassado e vinho derramado. edição. Visitar pessoas, orar com enfermos, comRealizo atos pastorais. Batizo, caso, oro pepartilhar as Escrituras são o alimento de cada los enfermos, visito pessoas, compartilho a Bídia. As visitas presenteiam-me com as históblia, celebro a eucaristia, faço velórios e ofícios rias que estão por detrás dos rostos. A oração fúnebres. pelo que sofre gera a compaixão que me aproSou um ser socialmente “irrelevante” que xima ao ponto de dividir a dor. participo dos momentos mais O compartilhar, alimenta ao que relevantes das pessoas. Valho ouve e ao que fala enquanto a mesa pouco para o mercado e para as posta das Sagradas Letras. macro estruturas, mas tenho um Já pensei em está“Encomendar” alguém que valor insubstituível para o cotidesistir meia dúzia parte nos põe diante do mistério diano das gentes. da morte, algo que nos assusta, Gosto muito do que faço, de vezes, mas nos violenta, tira de nós sem aviespecialmente porque não me não consegui. No so prévio ou licença àquele(a) que acostumei a nada disso. Apesar de fazer geralmente a mesma começo, achei que amamos. Sem a consciência da coisa, cada ato tem vida e impor- tinha um chamado. morte, não se dá o valor devido tância próprias, que têm o poder estava enganado. à vida. Sem a certeza de que ela, morte, não é detentora da última de me assustar e alumbrar. palavra, não se vive a esperança do Cada casamento que cele- Não tenho um bro, me lembra a mística cris- chamado, ele é que porvir. Poder lembrar as pessoas disso, enquanto choramos juntos, tã, onde um mais um é um. Um me tem. é um privilégio sem igual em meio casamento é o primeiro passo à dor. na direção da formação de uma É, sou pastor. A matéria prima família e a família é a expressão de meu ofício é o solo sagrado dos corações das mais característica da trindade, pessoas copessoas. Piso descalço, com extremo cuidado. existindo de forma tão harmônica a ponto de Minhas ferramentas de trabalho são as Escriparecerem um. turas, as orações, os abraços, os ouvidos e a Maravilho-me ao batizar alguém. A priboca de vez em quando. meira pessoa que batizei foi um jovem chaSim, sou pastor. Um árduo ofício, tão ármado Téo. Téo, Deus. O Deus que me batizou, duo, quanto belo. Já pensei em desistir meia convidando-me a batizá-lo. Ver alguém prodúzia de vezes, mas não consegui. No começo, fessando sua fé no Mestre, descendo às águas e achei que tinha um chamado. Estava enganado. ressurgindo, como símbolo de morte e ressurNão tenho um chamado, ele é que me tem. reição, faz-me continuar crendo na possibiliSou pastor. dade de qualquer pessoa, pela graça do Pai, ser transformada pela ação do Espírito.

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IGREJA Soluções em tecnologia e equipamentos para igrejas.

EFEITOS DE LUZ: Uma nova estratégia na pregação do evangelho É t i c a c r i s t ã • J U L H O /A G O S T O • 2011

FLAnELóGrAFO mODErnO Tintas imãs como solução para as eBDs PrATIcIDADE E BEm-ESTAr: móveis especializados para igrejas

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LANÇAMENTOS: Aiptek do Brasil lança Pocket Cinema V10, um Projetor Multimídia de bolso


IGREJA

iluminação: a nova estratégia na pregação do evangelho Igrejas evangélicas têm investido, cada vez mais, em aparelhos que controlam a intensidade da luz com intuito de melhorar a comunicação da Palavra de Deus durante os cultos Por edIane oLIVeIra

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parelhos de iluminação são a nova ferramenta usada pelas igrejas na pregação do evangelho. O preço é atrativo e os benefícios justificam o investimento já que a variedade na intensidade da luz em um ambiente como a igreja pode falar mais do que mil palavras. Além da questão econômica, a luminosidade bem trabalhada pode fazer toda a diferença nas apresentações artísticas e nos momentos mais intimistas do culto, como a oração e o apelo, sendo um instrumento capaz de trazer avançados resultados na operacionalização das reuniões. No mercado, já existem vários sistemas de iluminação que são usados nos templos evangélicos de todo o país, como os de luz contínua e os flashes. Eles produzem uma luz dura ou suave depende da vontade do operador e os elementos mais sofisticados podem até mesmo se assemelhar aos efeitos da luz solar. O circuito Dimmer é um desses instrumentos - muito requisitado e usado em cinemas, casas de shows e teatros - projetado para variar a luminosidade de lâmpadas incandescentes. Além do conforto, beleza e adaptação proporcionados pelo controle da luz, o aparelho possibilita a economia no consumo de energia. Em sua potencialidade, é capaz de aumentar ou

diminuir a intensidade luminosa a partir ma o pastor que mantém mais de 30 de um potenciômetro, responsável pela refletores de luz com dimmer e 8 moving operação. lights no templo de sua congregação. A luminosidade nos cultos – O que Carlito Paes conta que, hoje, a igreja tem chamado a atenção de líderes evantem investido em equipamentos de luz gélicos para esta inovação é o efeito que a intensidade da luz pode causar no ambiente, proporcionando, no contexto dos cultos, um conforto e A Revista Ética Cristã pesquisou valores e consultou técuma liberdade maior em nicos especializados em instalações de dimmers para momentos como o apelo conferir a praticidade desses novos equipamentos. ou a pregação. De acordo De acordo com Técnico em Eletrônica Bruno Fonseca, escom o Pr. Carlito Paes, pecializado em projetos microcontrolados e iluminação, o Pastor Sênior da Primeidimmer tem sido cada vez mais procurado por diferentes ra Igreja Batista de São organizações e possui bons benefícios ao ser adquirido: José dos Campos (SP), • Equipamento facilmente encontrado em lojas de equipauma igreja vive de comumentos elétricos e eletrônicos; nicação não apenas oral, • Preço acessível: em torno de 30 reais; mas visual também, e • tempo rápido de instalação: média de 20 minutos; neste ponto a iluminação • Valor de instalação: não custa mais que 100 reais; tem fundamental papel. • É simples para o uso e pode substituir o interruptor co“No momento do louvor mum; e em momentos de ou• Não necessita de acréscimo de fio e tomada; tras expressões de arte • Não necessita de técnico especializado: manuseio secomo dança, a boa ilumelhante a qualquer outro aparelho elétrico; minação traz um retorno • regula a intensidade da luz conforme a preferência. muito positivo, gerando toda uma atmosfera e ambiente especial”, afir-

Os benefícios


Praticidade e Bem-estar Igrejas investem em móveis especializados preocupados com a saúde física e mental de pastores e funcionários Por edIane oLIVeIra

u “No momento do louvor e em momentos de outras expressões de arte como dança, a boa iluminação traz um retorno muito positivo, gerando toda uma atmosfera e ambiente especial”, afirma o Pr. Carlito Paes da PiB de São José dos Campos

onforto e praticidade. Essa é a palavra de ordem dos fabricantes de móveis ajustáveis que tem invadido o mercado oferecendo uma série de produtos que prometem facilitar a vida dos brasileiros. Os médicos e fisioterapeutas são unânimes ao ressaltar que uma postura inadequada pode causar danos à coluna, dores no corpo e problemas musculares. Com o decorrer do tempo, diferentes fatores de risco trabalham em conjunto produzindo dores com a má postura, o esforço repetitivo, a mecânica anormal dos movimentos e o enfraquecimento da produção. Pensando na diminuição desses problemas, algumas empresas já possuem sistemas mobiliares corporais que auxiliam no melhor desempenho do encosto em cadeiras, com ajustes para braços, costas e alturas adequadas. Nas igrejas e escritórios pastorais, as cadeiras ajustáveis têm sido a grande vedete dessa linha de produtos, já que promovem o bem estar e são ideais para os pastores que passam horas preparando as pregações e realizando estudos bíblicos. De acordo com o pastor César Maranhão, da igreja tal, a rotina do trabalho administrativo nas igrejas exige tempo e concentração: “O pastor não apenas tem que atuar como administrador, mas como estudioso da palavra. O trabalho é dobrado”, explica o

pastor que está satisfeito com a aquisição de uma cadeira como esta. Para a fisioterapeuta Daniela Castro, manter a postura corporal é o ideal para desenvolver as tarefas diárias, e a cadeira ajustável é uma ferramenta importante, já que, boa parte da população trabalha sentada. Ela chama a atenção para o investimento em equipamentos especializados: “Com o uso de cadeiras ajustáveis, por exemplo, a diferença que o corpo sente é significativa. É como se o indivíduo trabalhasse muito menos do que em um assento comum”, esclarece a especialista. As cadeiras ajustáveis são disponibilizadas em diferentes formatos, cores e materiais de extrema praticidade e inovação. Um instrumento importante para o melhor desempenho do trabalho pastoral. Marcas disponíveis e especializadas: Bortolini, Mobilinea e Giroflex

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e som em seus quatro auditórios “Vamos continuar investindo muito, porque estamos longe do profissionalismo que a missão da igreja exige. Sabemos que tudo que puder contribuir para comunicarmos bem o evangelho, não pode ser dispensado. Custa caro, mas o retorno é garantido em todos os sentidos. A excelência honra os céus e abençoa a vida das pessoas”. Segundo o diretor de fotografia Paulo Aguiar, as pessoas, em geral, se sentem mais a vontade, até mesmo para tomar decisões, como dar um passo a frente, no momento do apelo, com uma luz um pouco mais baixa, pois torna o ambiente mais íntimo. “Não é à toa que em espetáculos artísticos, a luz possui pouca intensidade. Se ela estivesse em alta intensidade, poderia causar um clima menos mágico ou até desconfortável”, explica Aguiar. O que talvez muitos não saibam é que a tecnologia, cada vez mais avançada, tem possibilitado acessibilidade a esses novos produtos, o que não impede grande parte das igrejas a aderirem, em sua aparelhagem técnica, ao uso de dispositivos mais especializados em luz e sonorização.

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o n r e d o m o Flanelógraf s e são uma de colagens em parede e ad id ic at pr e ão aç ov trazem in As chamadas Tintas imãs s nas Escolas Bíblicas Dominical aula boa alternativa para as

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Você se lembra do flanelógrafo? Uma superfície rígida coberta por flanela, onde eram colocadas figuras das mais variadas histórias bíblicas. Pois bem, agora essas mesmas histórias podem ser contadas apenas fixando as personagens diretamente na parede. É a chamada tinta imã que há dois anos é produzida por empresas que investem na ideia de fixar objetos nas paredes, sem, contudo, danificá-la, tornando desnecessária a compra de quadros brancos, murais de avisos, cortinas ou outros materiais semelhantes. Colas, fitas adesivas, pregos e parafusos se tornam obsoletos diante dessa inovação. A tinta-imã prende pôsteres, fotografias, desenhos, rascunhos e diferentes objetos na parede sem a necessidade desses fixadores. O produto é um bom instrumento de praticidade e decoração em igrejas ou em casa. De acordo com a arquiteta Poliane Latta, a tinta imã possui grande qualidade, preços acessíveis e pode trazer um dinamismo maior aos ambientes didáticos das igrejas: “Além da praticidade em não furar a parede, tem-se a possibilidade de criar parede-painel, que possui muita utilidade para informes e recados, criando versatilidade em outras formas de uso, como nas escolas bíblicas, por exemplo”, explica a arquiteta.

aplicação fácil e prática

O sistema do produto foi otimizado para a adaptação com um rolo de espuma ou pincel, e as ferramentas utilizadas podem ser limpas com água abundante. O segredo da facilidade está na tinta que é feita de látex com chumbo, oferecida em diferentes tamanhos de embalagens. A Tinta Imã possui apenas uma cor, de fundo cinza e dá a possibilidade ao consumidor de passar sua cor desejada em cima da camada de tinta imã, sem prejudicar seu uso. Uma inovação que vem ganhando espaço em lares e instituições que buscam qualidade, agilidade e decoração contemporânea. Marcas que aderiram à tinta: Lukscolor, Suvinil e Tinta imã.


Novos adaptadores de tomadas elétricas Todos devem se enquadrar ao novo modelo para evitar danos financeiros e acidentes, inclusive as igrejas esde agosto de 2010, os plugues e as tomadas de equipamentos eletroeletrônicos começaram a ser substituídos pelo novo padrão através do Conmetro (Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial). Segundo a entidade, o novo padrão traz uma maior segurança contra choques elétricos e curtos-circuitos, pela ausência do contato com as partes energizadas, diferentes das antigas tomadas. As igrejas também precisam estar atentas a essa mudança, já que a maioria tem aparelhos elétricos e eletrônicos que são usados nos cultos e programações nos templos e fora dele também. De acordo com o engenheiro elétrico Giovane Oliveira, nas igrejas que

possuem a sonorização como um dos instrumentos essenciais para o bom funcionamento de seus cultos, o cuidado deve ser ainda maior: “É necessário fazer uma revisão geral dos adaptadores, mudando radicalmente para o novo padrão. Com isso, serão evitados prejuízos financeiros, acidentes e curtos-circuitos”, explicou. A mudança e a nova adaptação dos consumidores às novas tomadas podem acontecer em médio prazo. No entanto, as lojas de eletrodomésticos não vendem mais tomadas antigas.

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lançamentos /Projetor de alta definição O Powerlite X10+ é destinado a usuários que buscam um projetor de baixo custo com alto nível de resolução de imagens. As novidades deste projetor estão relacionadas ao novo brilho de 2600 ANSI Lumens e a entrada digital HDMI para conteúdos de alta definição, além da alta portabilidade (2,3 Kg) e lâmpada com maior durabilidade (4000H em alto brilho e 5000H em modo econômico).

/ microfone sem fio Shure

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/Projetor multimídia de bolso

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A Aiptek do Brasil lança no país o Pocket Cinema V10, um projetor multimídia portátil que promete revolucionar a maneira como são feitas as apresentações de negócios nas empresas, nas igrejas e também o entretenimento em casa. Do mesmo tamanho de um telefone celular, o aparelho é capaz de projetar em qualquer superfície plana imagens de até 50” a partir dos mais diversos dispositivos (notebook/PC, TV, DVD, celulares, videogames, entre outros) e da sua memória interna, com resolução VGA. Com design moderno e dimensões extremamente compactas, o Pocket Cinema V10 pesa apenas 160 gramas e cabe facilmente no bolso, podendo ser transportado para todos os lugares com facilidade. A bateria de Ion-Lítio recarregável tem duração média de 1 hora de uso contínuo.

Tecnologia sem fio, configuração automática, melhor som de sua categoria são algumas das combinações oferecidas pela Shure quando se fala no microfone sem fio pgx14/pg30. Com design extremamente discreto e leve o microfone Shure PGX14/PG30, é ideal para locuções em palcos, shows, palestras, igrejas, e outros eventos onde o locutor precisa de mobilidade, deixando suas mãos livres para melhor expressão e gesticulação.

/iluminação high tech Luminária de mesa, 127V, com base, cúpula e haste flexível em aço com acabamento cromado. Acompanha 1 lâmpada halógena bipino 12V 50W.


/móveis Salomão Os moveis Salomão são feitos sob medida, com tamanhos opcionais, cores e estampas da preferencia do cliente. A qualidade dos produtos e a excelência nos acabamentos são marca registrada dos moveis Salomão. A loja oferece tudo para decoração e personalização de ambientes sendo as igrejas seu público alvo.

/Púlpito Davi Madeira: Angelim pedra com espessura de 30mm, os móveis são sob medida e podem ser personalizados com o nome de sua igreja. Acabamento: Porta Bíblia e base Iluminada.

/Banco Jose do egito almofadado

/Cadeiras corporativas flexíveis A Flexform Green’s é a primeira cadeira corporativa em material 100% reciclável. Criação de Baldanzi & Novelli, a Green’s apresenta o sistema “Green’s Flex”, que permite a flexão do encosto, mobilidade de postura inédita em cadeiras monobloco. Uma ótima opção para quem presa conforto e praticidade.

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controle, muitas pessoas não encontram forças para prosseguir. Plano B ensina como enfrentar ocasiões em que você se vê obrigado a abandonar seus projetos originais e a seguir em frente. Este livro revela que Deus tem um plano incomparavelmente melhor para você.

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