iDeia Templuz - Edição 01

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Editorial Na história mundial, percebemos que a maior parte dos grandes acontecimentos sociais estão vinculados às mudanças econômicas. Em todas as fases da evolução da sociedade, sempre houve um símbolo que representava o poder. No mundo contemporâneo, a informação e o conhecimento são as grandes fontes de poder e de riqueza mundial. Temos vários exemplos disso, como a Google, que em apenas uma década conquistou um em cada seis habitantes do planeta e tornou-se símbolo empresarial do século XXI. Outro exemplo é a Microsoft, que possuí um ativo tangível de U$ 37 bilhões e um intangível, de mais ou menos, U$300 bilhões.

Expediente: Editor Camilo Belchior Jornalista Responsável:

Se pararmos para pensar, o conteúdo de nossa mente é o único patrimônio real que possuímos e aquele profissional que insiste em guardar para si o que sabe, estará fora do mercado em pouco tempo. Isso é comprovado por pesquisas que afirmam que, em 2020, muitas profissões deixarão de existir, por que os conhecimentos estão se associando, se fundindo.

Cilene Imperizieri 5236/MG Jornalistas: Ana Cláudia Ulhôa Clarissa Damas Danilo Borges Michael Eudes

Na atual fase que nos encontramos, o sucesso das empresas não está mais ligado à capacidade de produção das máquinas, mas sim a de produzir ideias e soluções criativas e inovadoras para os problemas e/ou desafios que surgem a todo instante. Mas, o que é ser criativo? Para nós é ter ideias novas, que tragam respostas para o que buscamos. E ser inovador? É tornar essas ideias reais, praticáveis, possíveis dentro de nossa realidade econômica, social e cultural.

Projeto gráfico e coordenação gráfica Cláudio Valentin Capa: Ludmila Loureiro Impressão: Hiper Graphic Digital

Esse é nosso objetivo com o lançamento da Revista iDeia: poder, de uma forma criativa, interessante e gostosa, compartilhar conhecimento. iDeia pretende ser um canal de comunicação inteligente com os clientes da Templuz e, porque não, com toda sociedade interessada nos assuntos abordados. Eles serão compostos por entrevistas e matérias, além da abordagem de diversos assuntos por um “time de ouro”, formado por grandes profissionais atuantes em vários segmentos, que abraçaram nossa iDeia e se dispuseram, generosamente, a contribuir com parte do conhecimento de cada um. Uma verdadeira co-criação. iDeia é uma publicação integral da Templuz. Sua periodicidade será semestral, nos meses de maio e novembro, sendo entregue gratuitamente aos clientes da Templuz e de seus parceiros. Boa leitura, Camilo Belchior

Revista iDeia é uma publicação da Templuz, com distribuição gratuita. Contato: ideia@templuz.com


conheça nossos

ColaboRadoREs 1. Andre Naccache: Psicanalista consultora em processos de inovação e criatividade. 2. Claudia Brant: Trindade: Designer de Interiores, coordena o Setor de Estilo e Imagem da Prima Línea.

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3. Flávio Tofani: Palestrante, consultor de empresas, coordenador e professor em

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4. Guilherme Guerra: Diretor Executivo do Minas Marca, grupo especializado no mercado de comunicação e marketing de MG. 5. Laura Scofield: Laura Scofield é graduada em design gráfico pela Universidade Fumec (2010) e trabalha desde 2009 na Greco

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Design. 6. Gustavo Greco: Diretor regional da Abedesign, diretor de criação e gestor da empresa Greco Design. 7. Inácia Soares: Jornalista e apresentadora de programa de negócios. É palestrante, professora de pós-graduação, redatora e co-autora de 4 livros.

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8. Lígia fascioni: Além de palestrante e consultora, Lígia ministra cursos de pósgraduação nas áreas de marketing, design, inovação e atitude profissional. 9. Márcio Brant: Sound Designer, produtor musical e diretor artístico da NaTrilha Produções. Professor de Design Sonoro na Universidade Fumec.

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programas de pós-graduação na área de marketing.

10. Renata Rubim: Apaixonada por cores e superfícies, escreveu o 1º livro de design de superfície no Brasil. Profere palestras e ministra workshops em várias Instituições no Brasil e América Latina. 11. Rita Ribeiro: Rita Ribeiro é Doutora em Geografia, pesquisadora na área de culturas urbanas, líder do grupo de pesquisa Design e Representações Sociais e professora do Programa de Pós-Graduação em Design na UEMG.

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12. Roberta Vieira: Arquiteta, doutora em Engenharia Civil - conforto ambiental. Professora da Escola de Arquitetura da UFMG, coordenadora do Mestrado em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável. 13. Rusty Marcellini: Formado em Cinema e em Roteiro de Cinema nos E.U.A. É Comentarista de gastronomia da rádio CBN e diretor e apresentador do programa Trilhas

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do Sabor, da Rede Minas de Televisão. 14. Vinícius Margalhães: Jornalista, formado pelo Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH, editor do jornal Tribuna Lagoana, de Nova Era, além de cronista do periódico Leopoldinense. Atualmente trabalha na assessoria de imprensa do Centro Minas Design. Autor do livro “Poemas e Quinquilharias”.


lEIA

Miscelânia 08

nesta edição design em Voga 12

Giro cultural 26

Gastronomia 30

In Trade 34

Entrevista 40

Lighting 50

Vida tecnológica 54

arte & Companhia 66

Projetos 74

Ação Social 79

artigos 82


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por Vinícius Magalhães Nesta seção trazemos uma mistura de ideias e novidades que estão dando o que falar no mercado. São projetos inovadores nas áreas de Design, Arquitetura e Arte. Para quem gosta de se atualizar e conhecer o que os diversos profissionais do mundo andam produzindo, está aí uma mixórdia de obras para se entusiasmar. Inspire-se!

Imagens: divulgação

bolsas dos Quadrinhos

Desenho ou realidade? Quase não dá para acreditar, mas essas bolsas são mesmo de verdade. A ideia surpreende por trabalhar com um conceito de ilustrações bidimensionais. A criação dessas divertidas bolsas é da dupla de designers de Taiwan Chay Su e Rika Lin e foram inspiradas nas histórias em quadrinhos. Os desenhos animados saltaram do papel e aparecem agora no formato de bolsas. Utilizando cores brilhantes e alegres, a coleção abre um leque na imaginação e, ao mesmo tempo, dá um charme único para um produto que pode ser utilizado por homens e mulheres. O elegante projeto tem um interior espaçoso para acomodar pertences pessoais e até um laptop. O nome é sugestivo: JumpFromPaper. Quem se interessar em comprar, cada bolsa sai em média por 89 dólares. Mais informações no site www. jumpfrompaper.us. Muito original!

bolsas dos Quadrinhos Olha que legal! Uma cadeira para os carentes. Com o conceito de estar sempre de braços abertos para te receber a Arms Chair, do designer Oleksandr Shestakovych, de forma simples, sugere um eterno abraço aos que nela sentam. A cadeira não está à venda no momento, mas serve de inspiração aos designers e de conforto para quem quer um

Imagem: divulgação

aconchego. Outros trabalhos de Oleksandr no site shestakovych.com.


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luminária Comportada Mais uma luminária para entusiasmar quem quer decorar a casa ou deixá-la mais descontraída. Uma ideia bacana é a dessa lâmpada da empresa Graeme Bettles Design, a Sitting Lamp, da designer Natasha Graeme. Segundo a designer a ideia surgiu com um desapontamento com o que via de design em torno e resolveu fazer algo mais interativo, dando aos consumidores uma nova perspectiva sobre um produto comumente chato. “Minha inspiração veio especificamente de desenhos de personagens. Olhei para as posições em que você pode imaginar uma pessoa sentada. Simplifiquei as linhas do projeto para visualizar os movimentos e assim surgiu a personagem”, conta. O divertido produto é também o primeiro projeto da empossível encontrar a venda no México e, garante a designer, logo estará no Brasil. Além disso, Natasha afirma que outros trabalhos surgirão e que não serão estritamente luminárias. “Gosto de trabalhar que a ideia surge em diferentes áreas, seja em estantes, cadeiras entre outros”, disse.

Imagem: divulgação

presa e já começou a ser produzido devido ao sucesso. É

O produto, modelo pequeno, custa mais de mil reais. Os interessados em adquirir o site da designer www.produktofdesign.blogspot.com.br.

Chinelos ‘Marcadores’ Personalizados A Flip Side Flip Flops é uma empresa onde você pode encomendar seu ‘flip-flop’ (chinelo) personalizado com palavras e desenhos no solado para quando for à praia. Com diversas cores, os produtos fazem uma brincadeira para você deixar a sua pegada e poder mandar um recado momentâneo por onde passar.

Imagem: divulgação

Comumente comprado como presente, os chinelos são ótimos para casamentos na praia, bem como para presentear alguém querido. Uma ideia simples para quem gosta de ser diferente. O par de ‘flip flop’ custa 20 dólares e pode ser adquirido no site www.etsy.com/people/FlipSideFlipFlops.


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Imagens: divulgação

Amplificador Gelado

Aos músicos de plantão ou aos apaixonados por música, um produto da marca líder em amplificadores e a tudo que se refere a som – Marshall -, que acaba de lançar uma geladeira que muitos vão provavelmente querer ter no seu estúdio, escritório, sala, cozinha, entre outros cômodos da casa. É uma nova linha de atuação da Marshall. O produto se chama Marshall Fridge. O amplificador-freezer está à venda por 299 dólares. Um som em baixa temperatura e a vontade de comprar. O site da empresa é www.marshallfridge.com.

Cadeiras Pantone Já não é de hoje que vemos os mais variados produtos que fazem referência às cores Pantone. Mesmo assim esses objetos sempre chamam a atenção e atiçam o desejo consumista de muitas pessoas. Aos aficionados por tonalidades e que adoram dar uma colorida na casa, um produto para chamar a atenção. Cada cadeira custa em média 54 euros.

Imagem: divulgação

Pedidos através do site www.theholdingcompany.co.uk.


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Parque de tonéis O que fazer com cinco mil tonéis? Virariam lixo? Quem imaginaria que um aglomerado de tonéis poderia ganhar utilidade e ser atrativo para crianças? Um grupo de estudantes de arquitetura da pequena cidade de Greensboro, nos Estados Unidos, mostrou que até um parquinho para crianças pode ser ecológico ao utilizar essa matéria-prima. O Lions Park Playscape, inaugurado em setembro de 2011 no lugar de um parque bastante degradado, ganhou nova forma nas mãos dos estudantes da Rural Studio, da Universidade Auburn. Em dezembro do ano passado uma empresa americana doou para o grupo os cinco mil galões galvanizados, já que o fornecedor não poderia reutilizá-lo. Os arquitetos resolveram, como um desafio, incorporar o material ao playground. Eles criaram um espaço que incentiva a imaginação com os tonéis que eram usados para transportar óleo de hortelã. Além disso, foi também construída uma cobertura capaz de dar sombra para os infantes, garantindo a diversão e a prote-

Imagens: divulgação

ção do sol. O resultado vocês conferem nas fotos.

Navalha para homem moderno

Agora o barbear ficou bem mais interessante com um produto desses. O Mobius Shaver, projeto do designer Penghao Shan, é uma verdadeira maravilha da simplicidade e do minimalismo. Este barbeador feito com uma tira de aço inoxidável de 1 milímetro de espessura permite a adaptação de placas comerciais. Apesar de o seu design diferenciado parecer frágil, o produto não perde na ergonomia, na robustez e na qualidade na hora do uso. Um conceito de barbeador visualmente intrigante e deslumbrante. Por enquanto o produto não está à venda, mas já vale sonhar com um desses no

Imagens: divulgação

nécessaire. Uma bela criação!


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por Gustavo Greco e Laura Scofield A interdisciplinaridade é um tema recorrente nos dias de hoje apesar de muito já ter sido discutido sobre o assunto. Em 1969, Hilton Japiassú , já afirmava que “a exigência interdisciplinar impõe a cada especialista que transcenda sua própria especialidade, tomando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições das outras disciplinas. Uma epistemologia da complementaridade, ou melhor, da convergência, deve, pois, substituir a da dissociação. A totalização incoerente de palavras não compatíveis entre si, deve suceder a busca de uma palavra de unidade, expressão da reconciliação do ser humano consigo mesmo e com o mundo.” ¹ Como exercício prático de envolvimento e troca de diversas áreas do conhecimento para construção de um projeto, exemplificamos aqui a experiência do projeto Palíndromo, uma publicação que tem por objetivo divulgar o portfólio de serviços da Rona Editora, empresa tradicional no ramo gráfico de Minas Gerais. O pedido inicial do cliente foi uma revista em moldes tradicionais: formato, grid, matérias e diagramação constantes. A intenção era lançar o periódico no ano de comemoração dos 35 anos da empresa (2011). À equipe da Greco coube dar substância, nome e forma à publicação. O exercício criativo para conceber a Palíndromo exigiu da equipe de criação decidir como abordar os recursos disponíveis, escolher entre as possibilidades, buscar um sentido, formar a identidade, ou seja, organizar as relações entre uma série de circunstâncias heterogêneas em uma forma expressiva. Partiu-se, então, da razão de ser para a

¹ Hilton Japiassú. 1976. Filósofo e cientista brasileiro, um dos responsáveis por trazer os conceitos sobre interdisciplinaridade, discutidos em Nice, França.

Foto: Mineral

forma de se mostrar. A solução foi um formato


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Foto: Wéber Pádua

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cambiante, para o editorial, e a colaboração interdisciplinar, para a elaboração do conteúdo. A cada ano, a edição trará um novo tema, o qual será explorado e interpretado por profissionais de áreas diversas em um formato diferente, um novo caminho, uma nova forma de publicação de palavras e imagens, outro modo de “escrever” e de “ler”, de registrar e de apreender. Uma construção e reconstrução permanente do objeto. Os colaboradores são diferentes em cada número, oferecendo, a cada edição, outra percepção, uma nova experiência ao leitor. Dessa forma, o design, como disciplina articuladora, promove múltiplos olhares sobre um mesmo tema. A co-criação age diretamente no conjunto de variáveis que influenciaram no resultado formal do projeto. Quanto mais ampla a participação de especialistas diversos na elaboração de um conteúdo editorial, maior será o repertório a ser trabalhado pela equipe de criação, refletindo as circunstâncias culturais em que a publicação foi concebida.

Palíndromo

palavra vem do grego palindromos e significa repetição, volta. Na composição do termo, palin remete a novo, de novo, de volta; dromo faz referência a percurso, circuito. Ama, arara, asa, ele, esse, oco, osso, radar, raiar, reler e outras mais: você lê a palavra do começo para o fim e relê a palavra do fim para o começo. O percurso de volta traz o mesmo resultado. Nos temas abordados pela publicação o que ocorre não é espelho. A imagem que se vê não é refletida. É ela mesma, olhada de um outro jeito. Carrega o mesmo significado, seguindo, porém, um novo caminho. Assim, ao colocar seu ponto de vista sobre um tema, cada especialista lança seu olhar e recebe o olhar do outro. Da mesma forma, o leitor estabelece seu próprio percurso de ida e volta. A palavra ‘palíndromo’, título do primeiro número, foi ampliada para a sua segunda edição. A partir de agora, a cada ano uma palavra ou expressão formada por palíndromos farão a sugestão do tema. A expressão “Soa como Caos” foi escolhida para apresentar o tema “tempo”. Em uma breve consulta ao dicionário pode-se

O nome precisava comunicar a essência do periódico.

visualizar a quantidade de interpretações possíveis para a

Palíndromo foi o nome escolhido. Etimologicamente, essa

palavra: motivo de poesia, angústia, questionamentos e


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indagações que se confundem com a própria existência

cialmente para a Palíndromo. A edição de lançamento

humana.

da Palíndromo contou com a psicanalista Olímpia Helena que ficou a cargo de discorrer sobre o tema e teve suas

Relação e Tempo O tema escolhido para a primeira edição da Palíndromo foi relação. Nas interrogações iniciais, a questão do relacionamento entre a gráfica e seu mercado, foi recorrente. Ao discutir a relação, a publicação enfatiza em seu lançamento a interdisciplinaridade. Numa espécie de metalinguagem, especialistas se relacionam dando corpo, significados e amplitude ao tema. Assim, as vivências pessoais de cada indivíduo tornam-se também um fator relevante para a construção de

palavras interpretadas visualmente pela designer Márcia Larica. O arquiteto Gustavo Penna apresentou um ponto de vista incomum, ilustrado por fragmentos de sua arquitetura. O artista Rogério Fernandes presenteia os leitores com pôsteres exclusivamente criados para o tema. A escritora Mary Figueiredo estendeu suas palavras generosamente em uma crônica-carta. Ao relatar sua relação com o design, Alessandra Soares fez uma espécie de auto-retrato. O olhar apurado do fotógrafo Jomar Bragança revelou a relação

novos discursos.

em seus diversos significados. A estilista Tereza Santos mos-

Em um café da manhã, no final do outono de 2010, a

imagens da fotógrafa Telma Villas Boas. A publicidade vem

ideia foi semeada e entregue para os colaboradores o

no texto (e voz) de Carla Madeira. O professor Koji Pereira

desafio muitas vezes paralisador da página em branco.

discute a relação entre o papel e as novas tecnologias.

trou um jeito singular de se relacionar com a moda, com

Eles teriam a liberdade de fazer o que quisessem com as páginas de sua seção, devendo seguir apenas o tema

Para a segunda edição, “Soa como Caos” os novos cola-

e o formato definido para o primeiro exemplar. Coube à

boradores enfrentaram o desafio de responder a pergun-

equipe de criação articular as produções de todos, le-

ta colocada por Santo Agostinho: “O QUE É O TEMPO?

vando em consideração o papel de cada um, e encon-

SE NÃO ME PERGUNTAM SOBRE O TEMPO, SEI O QUE ELE

trar a melhor forma de apresentar o que foi criado espe-

É, QUANDO ME PERGUNTAM, NÃO SEI”. Ângela Dourado,


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Foto: Wéber Pádua

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Bernardo Lessa e Andréa Gomes, sob a ótica do design,

Em ambas edições os cadernos vêm separados para que

apresentou a resposta em forma de vale-tempo. Os

a ordem de leitura e armazenamento fique a critério do

fotógrafos Márcio Rodrigues e Marco Mendes revelou a

leitor, possibilitando uma relação pessoal e lúdica com

relação do tema com o sexo e com o passar do próprio

o objeto. Foram selecionados mais de vinte papéis e

tempo. Dan Zecchineli e Márcio Dott discutiram o tempo

acabamentos distintos, apresentando a diversidade dos

e a publicidade, e Angélica Adverse discutiu a moda por

serviços da gráfica e enfatizando a riqueza da discussão

meio do terno, eterno. Adriana Batista trabalha o tempo

em torno do tema proposto.

e a educação, o artista Jorge dos Anjos recorta o tempo no papel, enquanto Cau e Laís fazem da produção gráfica espaço para a perenidade de suas memórias. Carlos Falci escreve uma crônica sobre encontros no e com o tempo, e Bob Tostes discorre sobre o tema, com melodia. Já Sylvio de Podestá arquitetou a relação da poesia com um tempo em construção.

Formatos

Permanente Construção O projeto Palíndromo é um exercício prático da interdisciplinaridade, não só pelas relações estabelecidas entre os colaboradores com o tema. Nele, também se encontram os vínculos criados entre o design e o cliente; entre os componentes da equipe de criação; entre aquele que escreve e aquele que ilustra. O percurso da experiência estará, portanto, em permanente construção.

Por ser tratar de uma publicação para uma empresa

Primeiramente, pela própria categoria de periódico ao

gráfica, as técnicas de produção deveriam ser enfati-

qual o projeto pertence. E depois pelo fato de o processo

zadas e ainda, as dimensões físicas da empresa e sua

projetual ter na sua essência a interdisciplinaridade, o

capacidade produtiva. Uma publicação comemorativa

que trará para as novas edições infinitas combinações

aos 35 anos da gráfica não poderia se mostrar tímida ou

e formas de expressão. Finaliza-se este artigo com uma

modesta. A decisão para a primeira edição foi represen-

citação de Italo Calvino:

tar o peso da gráfica em uma publicação de 28,5cm x 42cm (formato fechado), o maior formato de impressão

(...) quem somos nós, quem é cada um de nós senão

possível dentro da Rona. Para a edição “Soa como Caos”

uma combinatória de experiências, de informações, de

os doze cadernos com proporção de 8/9, respeita a re-

leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopé-

lação da escala musical em alusão ao tempo da música

dia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amos-

no formato 19cm x 17cm.

tragem de estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis (CALVINO, 1990, p. 138).


04

01, 04 e 05 PalĂ­ndromo 2

Foto: Mineral

02 e 03 PalĂ­ndromo 1

Foto: Mineral

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Decoração e seu poder de

Transformação

por Cláudia brant Não imaginava, quando troquei o curso de Psicologia pelo de Design de ambientes, há 37 anos atrás, que iria trabalhar tanto com o universo interior das pessoas. Quando me formei, fui trabalhar em lojas de móveis, fazendo projetos de decoração para clientes que procuravam as lojas para “comprar mobília”. A maioria não sabia como funcionava um projeto, muitos pensavam que teriam que desfazer de tudo o que tinham e comprar tudo novo. Não era bem assim. Nas lojas, atende-se a um público muito diversificado (nível social, econômico, cultural e faixa etária diferentes). O volume de projetos, também, é grande, o que nos permite vivenciar realidades e necessidades bem diversas. Por este motivo, pude acompanhar de perto toda a evolução do nosso mercado nestes últimos anos. Partindo disso, fui recordando algumas histórias, onde uma nova decoração no ambiente motivou mudanças em hábitos, atitudes, hobbies e até no estilo de vida das pessoas. Certo dia um senhor, por volta de setenta e poucos anos, me ligou. Ele queria que eu o ajudasse a renovar alguns detalhes em sua casa. A princípio o tecido dos sofás que estavam bem surrados e as cortinas. Ele tinha ficado viúvo há pouco tempo, e sua esposa havia passado os últimos anos em cima de uma cama. Era fácil notar isto, quando se entrava na casa, apesar dos objetos de bom gosto e de valor, havia um ar de abandono. Somava-se a este cenário a tristeza que ele carregava e não conseguia disfarçar. “Só vou trocar o tecido dos sofás e as cortinas, o resto vai ficar do jeito que ela deixou”, dizia ele. Começamos por aí, mas, como uma coisa puxa a outra, em pouco tempo, tínhamos uma sala renovada, com outro astral. Isto se estendeu para o resto da casa e para o espírito dele. Casa pronta, espírito animado, namorada nova, foi correr o mundo e aproveitar a vida. Sempre me dizia “ Não há melhor remédio para depressão do que um projeto de decoração”. Continuei atendendo este cliente projeto trouxe a sua vida. Pelo menos, uma vez por ano, me chamava para alguma nova mudança. Acho que isto lhe fazia bem o animava, criando novas motivações.

Foto: divulgação

e a sua família por muitos anos, e presenciei o efeito positivo que o


Foto: divulgação

design em Voga

Outro caso foi de um cliente que Morava,

guindo a mesma linha, porém, adaptada

no interior do estado, trouxe a planta e

ao novo espaço e ao novo local que tem

fotos da casa que acabara de construir,

características bem diferentes. Hoje seu

queria decorá-la. Feito o projeto, chegou

envolvimento é muito maior, curtindo cada

o momento dos quadros, ele não tinha

detalhe, cada escolha, pois sabe o papel

nenhum ,nenhum mesmo. Mas me revelou

que a casa passou a representar na sua

um desejo: gostava de arte, mas não

vida e, segundo ele, isso o deixa muito feliz.

entendia nada do assunto. Não sabia nem onde, nem quem procurar. Apresentei-lhe

Quem não conhece alguém que desco-

uma grande galerista, que o iniciou no uni-

briu seus dotes culinários após uma nova

verso das artes. Passou a freqüentar gale-

cozinha? Que se inspirou com isso a entrar

rias, exposições e, hoje, tem uma coleção

no mundo dos temperos, das misturas e em

razoável, digna de um expert no assunto.

consequência na arte de receber amigos em volta de uma bela mesa? Daí para o

Há algum tempo fiz o apartamento de um

espaço gourmet foi um pulo. Um novo

cliente fora de B.H.. Um homem com uma

hobbie!

vida profissional de sucesso , trabalhando e viajando muito, não tinha o hábito de ficar

Há aqueles que aumentaram sua auto-

em casa. Há pouco tempo me procurou

-estima, ficaram mais vaidosos, começa-

para fazer um novo projeto, pois estava

ram a se cuidar mais, depois de um closed

sendo transferido para outra cidade. Para

bem projetado ou um banheiro agradável

meu espanto ele disse, “quero tudo igual

e bem equipado.

ao que tenho aqui, hoje meu maior prazer é ficar na minha casa, fazer as coisas que

Outros começaram a dormir melhor, se

gosto e trazer as pessoas para cá. Estamos

sentir melhor, quando passaram a usufruir

terminando seu novo apartamento, se-

de um quarto com todo conforto, um am-


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biente propício ao relaxamento e ao descanso.

nos apresentam significa algo para nós, ou, simplesmente,

Fotos: divulgação

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não combinam “com o espaço”. É aí que entra em cena Prazeres como ver um filme, ler um livro, jogar conversa

a nossa criatividade, criando suporte para esta história.

fora com os amigos, tomam uma nova dimensão se

Dando a ela a importância que o cliente espera que ela

estamos no ambiente apropriado, com luz certa, conforto

tenha.

na medida exata, acolhidos na harmonia e proporção dos volumes.

Devemos escutar com muita atenção o que o cliente tem a dizer, conhecer seus desejos, suas aspirações,

Gosto de lembrar também de clientes que passaram

aquilo que deseja manter no seu estilo de vida e também

a se interessar pela decoração depois de um projeto.

o que pretende mudar. Conhecer sua história, as peças

Pesquisando, procurando e garimpando peças, queren-

que lhe são caras, valorizá-las e respeitá-las, integrando-

do saber mais, observando os lugares que freqüentam,

-as ao projeto é nosso dever como profissional. Focar no

trazendo peças de viagens e sempre tendo um detalhe

bem viver do cliente deve ser nosso objetivo principal,

novo para contar ou uma foto para mostrar.

sem esquecer-se dos princípios da estética, pois, é para isso, que trabalhamos.

Pensando nisso, me vem à mente o tamanho da responsabilidade que temos ao projetar para nossos clientes. O

Depois de ouvi-lo, tem o próximo processo que é ajudá-

tempo do ambiente para ser fotografado para revista,

-lo a separar aquilo que, realmente, é importante daquilo

ou mostrar para os amigos já passou. A casa de hoje tem

que virou uma carga pesada na sua vida. Esta energia

a personalidade e a história de seus donos integradas à

precisa circular. Desfazer-se de algumas coisas, dando

decoração. Ela tem que acolher as pessoas e os sonhos

lugar ao novo, é também uma atitude muito positiva, que

delas. Temos que abrir espaço para acomodar os objetos

abre novas possibilidades.

de estimação que antes ficavam esquecidos num armário no fundo da casa. Tarefa difícil! Nem sempre o que

Vejo pela frente um tempo onde centenas de novos


design em Voga

Foto: divulgação

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clientes se deparam com a possibilidade de

alguém que não é da área. O que, na

“decorar”, pela primeira vez, a sua casa. É a

nossa cabeça já está pré definido desde

realização de um sonho e, nós profissionais

o projeto, na cabeça do cliente demo-

é que vamos acompanhá-lo nesta viagem,

ra tempo para maturar. O processo de

seremos seu guia, orientando o caminho

apresentação de um produto, mostrar seus

para tornar este sonho realidade.

atributos e a adequação dele ao projeto, é uma tarefa que requer compreensão e

Este cliente chega, muitas vezes, sem ter

paciência por parte do profissional. Nem

definido o que quer, sem muitas informa-

sempre fica a opção do projeto, às vezes

ções sobre produtos, materiais, sem sequer

temos que abrir mão de uma escolha e

pensar na transformações positivas que um

adaptarmos a outra preferida pelo cliente.

projeto pode trazer a sua vida, aos seus

Afinal este sonho é do cliente!

hábitos, as suas atitudes. Cabe a nós informar, orientar, mostrar-lhe todas as possibi-

Ter a consciência desse poder de transfor-

lidades, ajudando a fazer boas escolhas e

mação que podemos exercer no ambiente

muitas vezes dar mais asas a seus sonhos.

que projetamos e, consequentemente, na vida das pessoas que o ocupam, aumen-

Assim como o universo de clientes tem au-

ta a nossa responsabilidade. A busca por

mentado a cada dia, a oferta de produtos,

informações, conhecimento e atualização

estilos e opções no mercado aumentam

tem que ser constante, para estarmos melhor

numa proporção bem maior. É para os

preparados para orientar.

leigos uma missão quase impossível definir e escolher um produto. As variantes que

Não custa lembrar que, hoje, quando novas

devem ser analisadas, na simples escolha

tecnologias, novas máquinas, novos designs,

de uma poltona, tornam esta tarefa a prin-

novos produtos brotam vindo de todos os

cípio empolgante, logo depois cansativa,

lados, o protagonista da nossa história são as

podendo chegar a ser estressante para

pessoas . É para elas que devemos projetar!


design em Voga

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Identidade sonora

o som que

marca por Márcio Brant

Através do som diz-se algo, comunica uma ideia, transmite-se uma informação. Portanto, qualificamos o som como sendo as palavras componentes do que chamaremos de linguagem sonora. Através da percepção desta linguagem geramos emoções no outro, seja ao tocar uma música, a gerar um som qualquer no trânsito, ou mesmo falar. Ao usar esta linguagem estamos em contato com as pessoas de uma maneira muito peculiar, e conseguimos de formas inimagináveis tocá-las. Quem não se lembra de uma cena de filme em que a trilha sonora o fez chorar, ou até mesmo aquele grito da personagem ao tomar um susto em um filme de terror.

Entender o potencial que a linguagem sonora tem frente a qualquer meio é o que uma nova corrente (nem tão nova assim, visto que a nomenclatura foi usada em 1977 por Ben Burtt no filme “Guerra nas Estrelas”) traz para os designers e demais profissionais que procuram utilizar o som de forma significativa: o design sonoro. O som cada vez mais é responsável pelo entendimento de uma informação, ou até o fator que influencia em uma decisão. O som provoca sensações, nos faz chorar e rir, nos faz correr ou andar devagar, toca em lugares na mente que nos traz lembranças, torna espaços agradáveis ou estressantes.


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design em Voga

Cada vez mais os estudos do som têm apontado para

parte da experiência In Store, a música tem se tornado uma

uma preocupação e entendimento da funcionalidade

importante ferramenta competitiva para os donos de loja”. E é

dentro do ponto de venda (PDV), sejam lojas, restaurantes,

através de uma pesquisa feita por Jakob que iremos analisar a

academias e demais espaços em que o consumidor está

importância do design sonoro para a nossa realidade.

presente. Poucos são os estudos que analisam o ponto de venda sob a vertente da utilização da linguagem sonora.

A pesquisa feita com o público de alguns shoppings, e de diferentes lojas na capital sueca, Estocolmo, chegam à

O ponto de venda é o local em que todo o empresário quer ver

algumas conclusões, entre elas: 1) As pessoas consideram

o seu consumidor. É o local em que podemos transformar nosso

música como sendo uma das coisas mais difíceis de viver sem,

consumidor em fã da nossa marca. Não há outro lugar em que

mais que esportes, jornais e filmes; 2) Tocando a música certa no

este fã está mais embebido da nossa marca, do que na nossa

seu negócio, você faz com que o consumidor fique mais tempo

casa, ou melhor dizendo, no PDV. Para tanto ele deve se sentir

na loja; 3) A música tocada no seu negócio afeta a opinião do

aconchegado, se sentir em casa, nem que pra isso tenhamos

consumidor sobre a marca; 4) A música melhora o bem estar

que servir um café e deixá-lo ouvir sua música favorita.

entre funcionários no local de trabalho.

Um dos grandes pensadores da atualidade e que tem trazido

A música é uma das formas mais completas para analisarmos

à tona uma impressão coerente com o mercado brasileiro é o

o som. Ela comunica com o coração e a mente, nos conecta

sueco Jakob Lusensky que em seu livro “Sounds Like Branding”

com as emoções, nos faz relaxar e revigorar, sem contar sua

diz a seguinte frase: “Assim como design interior de uma loja faz

potência de ser memorável e transformadora. Por isso a música é uma ferramenta tão poderosa, por que nos faz reconhecer e associar acontecimentos da nossa vida. Não conseguimos viver sem, seja no trabalho, em casa, na academia, no carro, estamos com nossos iPods e criamos a trilha sonora de nossas vidas. Não seria diferente dentro do nosso negócio. E não podemos negar a importância desta ferramenta para a nossa marca. Como diria o teórico Martin Lindstrom em seu livro Brandsense, sucesso de vendas no mundo todo, “ Marca é identidade em todos os sentidos”, e, portanto, é hora de pensar sua marca sobre este ponto de vista, ou de escuta! Para tanto, além de criar uma boa lista de músicas, é importante pensar nas chamadas guidelines, ou seja, nos demais pontos de contato do consumidor com sua marca, como a espera telefônica, a música que é tocada nas propagandas e a assinatura sonora (momento de lembrar do plim plim da Globo e das notinhas da Intel). Desta forma, sempre que estivermos em contato com a marca, teremos o que chamamos de identidade sonora, que é uma linguagem sonora coesa e que diga sempre a mesma coisa, enaltecendo os valores da marca. Saber aconchegar nosso fã dentro da nossa casa é a alma do negócio, e estar certo do valor agregado que um projeto de sound design pode gerar para a sua marca é pensar estrategicamente e estar à frente no que tange à experiência, e o que chamamos de design de experiência. Estar em contato com o som e possibilitar essa experiência sonora é transportar o cliente a um mundo de sensações e tornar esse momento inesquecível.


design em Voga

pág. 24

I prefer drawing to talking. Drawing is faster, I prefer drawing to talking. Drawing is faster, and and leaves less room for lies. leaves less room for lies. (Le Corbusier) (Le Corbusier)

por Renata Rubim

Tapete ‘Jujuba’ Tapete ‘Jujuba’ 2006 2006

Desenho tapete, Renata Rubim, 4 anos Desenho tapete, Renata Rubim, 4 anos

Apresentamos o design de superfície comcom umauma história em quadrinhos. Apresentamos o design de superfície história em quadrinhos. Na natureza: Na natureza: 2

2

Camuflagem Camuflagem Camuflagem

1

1

Criação Criação 3

Na história: Na história:

3

Tribo Nazca, Peru 300 - 600 d.C Tribo Nazca, Peru 300 - 600 d.C

Parque Guell, Gaudí 1900 - 1914 Parque Guell, Gaudí 1900 - 1914

Tapete, Cáucaso 1870 Tapete, Cáucaso 1870

Willian Morris, 1879 Willian Morris, 1879


design em Voga

pág. 25

No Brasil: No Brasil:

Parede Athos Bulcão, Brasília Parede Athos Bulcão, Brasília 5

5

6

4

Cerâmica Karajás, Goiás Cerâmica Karajás, Goiás

4

Na contemporaneidade comcom as novas tecnologias: Na contemporaneidade as novas tecnologias:

6

Calçada RJ, Roberto Burle Marx 1969 Calçada RJ, Roberto Burle Marx 1969

Erwin Hauer Erwin Hauer

Tapete, Florian Pucher Tapete, Florian Pucher

Marc Koehler Marc Koehler

Razão de viver: Razão de viver:

Sirlei Chiminazzo Sirlei Chiminazzo e Liliane de los Santos e Liliane de los Santos

Crédito Imagens Crédito Imagens 1 - Tim Davis 1 - Tim Davis 2 - Luiz Carlos Felizardo 2 - Luiz Carlos Felizardo 3 - Han Hartzuiker 3 - Han Hartzuiker 4 - Foto sem crédito (Relatório anual Zivi S.A) 4 - Foto sem crédito (Relatório anual Zivi S.A) 5 - Daniella Duarte 5 - Daniella Duarte 6 - Bruno Veiga (livro O Rio que eu Piso, Iolanda Teixeira) 6 - Bruno Veiga (livro O Rio que eu Piso, Iolanda Teixeira)


Giro cultural

pág. 26

por Lígia Fascioni

Foto da construção inicial do Tacheles em 1907

Berlim é uma cidade surpreendente, um lugar onde a arte emerge em cada esquina. Além dos marcos históricos mais famosos – como o Portão de Brandemburgo, a Coluna da Vitória e o Parlamento Alemão – há tesouros escondidos que merecem ser olhados com mais atenção. Um dos lugares mais fantásticos e imperdíveis para quem curte arte alternativa é o edifício Tacheles, um espaço único no mundo, o qual, infelizmente, está com os dias contados.

Foto da tentativa de demolição após a queda do Muro de Berlim

Situado no centro da capital alemã, o Tacheles foi construído entre 1907 e 1908 para ser uma loja de departamentos. Seus cinco andares e 9.000 m2 de arquitetura moderna, misturam também elementos de estilo clássico e gótico. O prédio fica onde se localizava, na época, o bairro judeu (próximo da belíssima Sinagoga, na mesma rua). A ideia era transformar o local no “embrião” de uma loja de departamentos, com várias lojas de donos diferentes compartilhando a estrutura comum, inclusive com caixa único. Pena que o negócio faliu depois de 6 meses. Foi então arrendado em 1908 por um dono só e se manteve um sucesso até 1914, quando começou a guerra. Daí para frente a coisa foi bastante movimentada: a empresa de seus novos produtos (a primeira transmissão de TV da Alemanha aconteceu lá); os nazistas usaram o prédio como escritório e prisão; durante a segunda guerra, o edifício foi bombardeado e sofreu vários danos. Depois disso, vários negócios foram abertos e fechados, incluindo uma rádio e um teatro. Houve reformas para recuperar os danos maiores, mas como o Tacheles fica em uma área nobre da cidade, a partir de 1990, empreendedores ficaram de olho no negócio.

Fotos: www.kunsthaus-tacheles.de

elericidade AEG usou o espaço como showroom para mostrar

O que restou do Tacheles após a demolição


Logo após a queda do muro, no afã de construir uma nova Berlim, foi marcada a demolição do edifício (estrategicamente agendada para um final de semana, para não chamar atenção). Mas os explosivos utilizados não foram capazes de colocar abaixo a robusta extrutura do prédio, que se manteve de pé. Foi aí que um grupo de artistas autodenominado Künstlerinitative Tacheles (algo como “iniciativa artística Tacheles”), resolveu ocupar o Tacheles para salvá-lo da destruição, ciente de que um patrimônio histórico e arquitetônico de valor inestimável iria se perder em nome da especulação imobiliária. Algumas partes foram recuperadas e a ocupação começou. Criou-se uma associação e hoje o prédio abriga residências de artistas e ateliers abertos ao público. O edifício também abriga lojas, galerias, oficinas, grupos de teatro, música,

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

dança e apresentações performáticas, além de um bar/danceteria (que serviu, inclusive, de cenário para o ótimo filme “Adeus Lênin”). Atualmente, o lugar atrai turistas e artistas de todas as partes do mundo, tanto pela sua Esculturas de metal na entrada do Tacheles

história como por tudo o que lá é exposto.


Giro cultural

Foto: arquivo pessoal

pág. 28

Foto de uma das laterais do prédio Tacheles Conflitos entre os moradores não são incomuns, principalmente,

Pessoalmente, acredito que seja muito difícil convencer os

entre os originários da Alemanha ocidental versus antiga

moradores da cidade a se desfazer desse patrimônio artístico e

Alemanha oriental (a história ainda é muito recente), por

cultural da humanidade (alô, UNESCO?), mas, como já dizia o

causa dos diferentes pontos de vista. A discussão tem sucitado

visionário Caetano, como medir “a força da grana que constrói

debates interessantes e incessantes entre artistas, sociólogos,

e destrói coisas belas”?

arquitetos, políticos e pensadores – o que não deixa de ser apropriado, já que Tacheles, em iídiche, signica “conversa

Vamos torcer para que o Tacheles permaneça fervendo de

franca”.

ideias e contribuindvo para tornar Berlim tão encantadora. Mas se você puder visitar essa bela cidade cosmopolita e

Sempre há boatos de que o prédio finalmente será

capital dos bárbaros antes que tudo isso se acabe, anote aí o

demolido, e seu futuro é incerto. Artistas de várias partes

endereço: Oranienburgerstr. 54-56a 10117 Berlin.

do mundo, lá instalados, temem o desenrolar desse imbróglio, pois poderão ficar sem lugar para morar e trabalhar. O Tacheles já é um ponto turístico reconhecido na capital alemã e atrai curiosos do mundo inteiro. Subir e descer por suas escadas (sim, o prédio é cheio de corredores escuros e não tem elevador) é uma aventura babilônica.



pág. 30

Gastronomia

01

por Rusty Marcellini Carlos Drummond escreveu que “ninguém sabe Minas / só os mineiros sabem / e não dizem nem a si mesmos o / irrevelável segredo chamado Minas”. Mas será que não é hora de nós, mineiros, descortinarmos as montanhas que nos cercam para revelar a riqueza cultural e gastronômica de nossa terra? Afinal, temos a Festa do Maior Pé de Moleque do Mundo em Piranguinho, o Festival da Quitanda em Congonhas, a Festa Café com Biscoito em São Tiago, o Festival da Jabuticaba em Sabará. Podemos vivenciar a rotina dos produtores de queijo do Serro ou da Serra da Canastra, colher café do pé em Cristina, pescar trutas em Itamonte, aprender como se faz goiabada em Ponte Nova. E, entre uma atividade e outra, saborear frango com ora-pro-nobis, costelinha com angu de milho verde, tropeiro de feijão andu, pintado na brasa, pessegada e sorvetes de frutas do cerrado. Pena que muitos optam por viajar para cantos bem longe daqui ao invés de trocar miudezas com as senhorinhas de rostos enrugados, mãos duras como pedra, e sabedoria infinita. Pena que preferem os restaurantes de toalha de linho, talheres de prata e taças de cristal ao invés da mesa pelada de tábuas corridas debaixo da sombra de uma mangueira.

Por quê? A resposta não é simples, mas prefiro “desmineirar” a “esperar a cor da fumaça” como dizia Fernando Sabino. Se nós, mineiros, somos conhecidos nacionalmente pela desconfiança ou, como escreveu Sabino, por “não dizer o que faz, nem o que vai fazer”, creio que é o momento de começarmos a “meter a de “pregar prego sem estopa”. A verdade é que desconhecemos as festas e os festivais gastronômicos de nosso estado porque a maioria das cidades interioranas não possuem estrutura para receber o turista. Por

Foto: arquivo pessoal

mão na cumbuca”, de “dar um passo maior que as pernas” e


que devemos deslocar até Maria da Fé para aprender sobre a transformação da azeitona em azeite, para lá descobrir que não há um único restaurante aberto após as vinte horas em dias úteis? Por que ir até Medeiros para conhecer a produção do queijo canastra para lá encontrar um hotel que se assemelha a uma hospedaria de meados do século 20? Por que ir até Estiva, apelidada de “a capital do morango”, para lá verificar a inexistência de informações sobre visitas às fazendas que cultivam a fruta? É triste notar que o potencial turístico gastronômico em Minas Gerais seja, ao mesmo tempo, tão grande e tão mal explorado. Entretanto, como disse Sabino, ser mineiro também é ter “simplicidade e pureza, coragem e bravura”. Precisamos dar um basta no comodismo e passar a utilizar as virtudes de nosso povo em prol da divulgação das riquezas gastronômicas de nosso estado. Mas não sem antes nos estruturarmos para bem receber os futuros visitantes.

Modismo É comum os modismos gastronômicos em nossa cidade. Houve um ano em que casas de empadas pipocavam por tudo que é bairro. Outro em que as temakerias abriam em vários pontos de uma mesma região. A febre mais recente foram as sorveterias de iogurte natural. Agora parece que chegou a vez das parrillas. Por tudo que é esquina (e até dentro de shoppings) parece haver uma. Mas poucas realmente valem a pena. Destaco a Parrilla del Mercado (pioneira na cidade e que possui cortes de primeira qualidade), a Parrilla Los Hermanos (excelente custo-benefício), a Parrilla Urbana (agradável ambiente e cardápio que oferece papas soufflés, chinchulín e riñones), e o La Milonga (chimichurri equilibrado e gostoso palmito na brasa para acompanhar o asado de tira).

Travessa Depois de quinze anos de funcionamento, o Café da Travessa encerrou as atividades em março. Segundo Fábio Campos, proprietário da casa, “as obras de revitalização da Savassi tornaram-se, ao longo de sua execução, angústia e sofrimento dos lojistas, que viram o público se afastar pelo desconforto da situação”. É triste notar que a “revitalização” da Savassi resultou em muito cimento, pouco verde e nada de charme. E pior: as medonhas mesas e cadeiras de plástico ainda dominam a Rua Antônio de Albuquerque entre a Rua Paraíba e a Avenida Getúlio Vargas.


Gastronomia

pág. 32

02

Premiações Sobre as premiações de melhores “isto e aquilo” de Belo Horizonte, confesso não entender as razões que fazem alguns estabelecimentos serem agraciados em determinadas categorias, como as que premiam, por exemplo, os melhores salgados. O fato é que a maioria dos jurados não gosta de gastar as solas de sapato e, portanto, não visitam as inúmeras lanchonetes espalhadas pela cidade. A seguir meus destaques em quatro categorias de salgados:

Pastéis: Bar Mercado Central e Rick´s Pastelaria;

Coxinha: Léo´s Gourmet, Doce Meu, e Empório Vila Árabe;

Dona Diva, Pão de Queijo da Roça e Pão de Queijo Mania;

Empadas: Litoral Frutos do Mar, Empada Caipira, Ponto da Empada e Bar Redentor.

Foto: arquivo pessoal

Pão de Queijo:

03

sugestão Uma boa sugestão de passeio para uma manhã de sábado é ir até um antigo armazém de secos e molhados em Itabirito. Mas antes sugiro assistir ao vídeo “Mercearia Paraopeba” no Youtube, que narra a história do lugar. Lá, vende-se de tudo: mandiopã, umbigo de bananeira, broto de samambaia, doce de laranja em barra, gordura de porco, bala delícia, feijão andu, farinha de milho blocada, fubá de moinho d´água, canudinho de doce de leite e outras delícias. Visitar a Mercearia Paraopeba e conhecer Roninho, o seu dono, ter sido perdida em algum lugar do passado.

Foto: arquivo pessoal

é reviver uma época de gentilezas que parece


pág. 33

04

Gastronomia 01 Mesa de quitandas 02 Caixas de jabuticaba durante o Festival da Jabuticaba, que acontece anualmente em Sabará. 03 Mercearia Paraopeba, um orgulho dos mineiros que fica em Itabirito.

Foto: arquivo pessoal

04 Festival de Quitanda, que acontece anualmente no mês de maio em Congonhas


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In Trade

por Guilherme Guerra Desde a década de 1990, o mercado de produtos e serviços voltados à classe média brasileira tem recebido especial atenção das empresas e do ambiente acadêmico. Isto aconteceu porque, após a implementação do Plano Real, mesmo não havendo uma significativa melhoria na distribuição de renda no país, verificouse um aumento no poder aquisitivo da população brasileira, principalmente da classe C.

Mais de vinte anos depois, o que era apenas uma tendência virou realidade. De acordo com o estudo “O Observador Brasil 2011”, desenvolvido pela Cetelem BGN em parceria com a IPSOS–Public Affair, a classe C foi a única camada da população cuja renda média familiar cresceu em 2011. A evolução foi de 8%, atingindo R$ 1.450 mensais. Só no ano passado, a classe C foi incrementada com 2,7 milhões de brasileiros vindos das classes D e E. Hoje, 103 milhões de pessoas fazem parte dessa classe social.

últimos sete anos. O grupo que mais contribuiu para essa evolução foi a classe C, que representava 34% da população em 2005, e hoje já ocupa 54% do total de brasileiros. Estes dados nos ajudam a concluir que o mercado consumidor constituído pela nova classe média brasileira é a bola da vez. Portanto, é fundamental que as empresas reconheçam o potencial deste mercado e aproveitem as oportunidades advindas de um posicionamento estratégico adequado para um enorme número de consumidores de baixa renda, ávidos por adquirir produtos de qualidade e com preços compatíveis ao seu poder aquisitivo.

Imagem: Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (2005) Disney Buena Vista

A pesquisa mostra que 63,7 milhões de pessoas ascenderam socialmente no Brasil nos


In Trade

pág. 35

Dentro deste cenário, quem sempre fez bem o

distribuição e consequentemente, obter preços

dever de casa e está colhendo frutos do que

mais competitivos.

plantou são as marcas regionais. Outro ponto importante a ser destacado é que Há 20 anos, enquanto as grandes empresas

as marcas regionais, por conhecerem bem

nacionais e multinacionais só se interessavam

o seu público alvo, respeitam a identidade

pelas classes A e B (consideradas as grandes

local e compreendem muito melhor o que as

consumidoras brasileiras), as marcas regionais já

pessoas pensam e sentem, criando assim laços

desenvolviam

duradouros com as mesmas.

produtos de qualidade a preço acessível para as classes mais baixas da população.

A consequência desse trabalho muito bem feito pelas marcas regionais foi que, mesmo

Além disso, as marcas regionais têm outras

com o aumento do poder aquisitivo, os

vantagens competitivas que contribuem para

consumidores da nova classe média brasileira

o seu bom momento. Como as fábricas estão

se mantiveram fiéis a elas.

mais próximas do consumidor, as marcas regionais conseguem diminuir custos com 01

Essa fidelidade pode ser comprovada por meio 02

03

04


pág. 36

In Trade 01 Biscoito Aymoré, marca tradicional desde 1958 no mercado mineiro

de um estudo realizado pela ACNielsen em 2008, que mostra que as marcas regionais são destaques em todo o país. Entre os produtos regionais com maior volume de vendas, destacam-se as massas alimentícias, que concentraram 52% das vendas do mercado. Em relação à importância numérica, o Café em Pó regional representa 82% do faturamento da categoria. Em 2008, as marcas regionais já representavam 34% do faturamento total das categorias e, em algumas áreas do país, chegaram a representar mais da metade das vendas em valor. Em Minas Gerais, Espírito Santo e interior do Estado do Rio de Janeiro, esse número chegava a 63%. Vale lembrar que nessa área, 30% das marcas regionais eram ao menos 10% mais caras que as nacionais. Em 2010, o Grupo Troiano de Branding fez um mapeamento inédito e analisou cinco quesitos com relação à impressão que o consumidor tem das marcas: desconhecimento, rejeição, familiaridade

(quando o consumidor conhece, mas não tem opinião sobre a marca), preferência (o consumidor prefere aquela marca, ainda que nem sempre opte por ela) e idealização (quando ele só consome aquela marca). O resultado mostra a força das marcas que nasceram e se desenvolveram regionalmente. O dado que mais me chamou atenção neste estudo foi que, enquanto no Brasil, apenas 9%

02 Massas Vilma, fundada em 1923 por imigrante italiano em Belo Horizonte 03 Araujo, uma das marcas mais antigas na capital mineira com 106 anos de existência

das marcas são idealizadas, em Minas Gerais, 20% dos consumidores idealizam a Aymoré (biscoitos), 24% a Vilma (massas) e 39% a Drogaria Araujo. Isto tudo me faz crer que, apesar de vivermos em um mundo globalizado, dominado pelas grandes marcas, sempre haverá espaço na mente e no coração dos consumidores para as empresas que lhes escutam e respeitam, como no caso das marcas regionais.

04 Conhecidos como dinheiro de plástico, os cartões de crédito são hoje um dos facilitadores do consumo


pág. 37

In Trade

por Flávio Tófani (Tio Flávio) A sociedade está caminhando, de maneira acelerada, para uma nova economia, migrando da era da razão, em que os valores são definidos pelo custo e produto, para a economia espiritual, na qual se percebe a valorização dos aspectos não materiais da vida, como as emoções e aspirações individuais e, consequentemente, sociais. E essa evolução da mentalidade corporativa e social faz com que algumas pessoas e organizações tentem encontrar resposta para uma pergunta até então sem efeito ou que nunca havia sido feita: “para que estamos aqui?”, sugerida pelos autores do livro “Os segredos das empresas mais queridas”, Sheth, Sisodia e Wolfe. Além disso, a sociedade tem que começar a exercitar a análise proposta pelo escritor Simon Sinek, que defende que o objetivo das corporações não é fazer negócio com pessoas que precisam do “O QUE” você tem, mas inspirar aquelas que acreditam no “POR QUE” (motivo, razão, propósito) a empresa existe. Assim, Sinek defende que toda organização (ou a própria pessoa) deve partir não do que oferecer ao mercado, mas

“Cada organização no planeta sabe o que faz. Algumas sabem como fazem. Mas poucas, muito poucas pessoas ou organizações sabem o porquê fazem o que fazem. E por ‘por que’ não quero dizer ‘fazer lucros’. Isso é um resultado. Por ‘por que’ eu quero dizer: qual seu propósito? Qual é a causa? Qual é a sua crença? Por que sua organização existe? Por que você

Ilustração: Janaína Belchior

descobrir o seu real propósito de vida.


In Trade

pág. 38

sai da cama pela manhã? E por que alguém deveria se importar?” A forma como pensamos, agimos e nos comunicamos é de fora para dentro, ou seja, partimos da coisa mais clara para a mais densa. Porém, os líderes e organizações inspiradoras, independente de seu tamanho ou área de atuação, pensam, agem e comunicam de dentro para fora, afirma Sinek . Mas este movimento rumo à economia espiritual não é somente em nível corporativo. A Organização das Nações Unidas, ONU, em um esforço para melhorar o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), propõe que os países se capacitem e se preparem para medir o bem estar da sua população. Aí entra o FIB – Felicidade Interna Bruta, que é uma nova forma de mensurar o progresso das nações (e das empresas) e que avalia, dentre outros fatores, a sustentabilidade e o bem estar das pessoas. Tendo a sua origem registrada no reino do Butão, entre a Índia e a China, no limite oriental das Cordilheiras do Himalaia, o FIB vem crescendo em importância em diversos países, desde a França até o Brasil, por iniciativas de ONGs e até mesmo de instituições como a Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), que criou um núcleo para realizar estudos nesta área em terras tupiniquins. Segundo constatação de um grupo de cientistas sociais e matemáticos, em 2008, liderados pelo economista americano Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de 2001, o Produto Interno Bruto, PIB, que é o somatório de tudo aquilo que é produzido em um país, tem pontos cegos é medir a riqueza de um país sem levar em

Ilustração: Janaína Belchior

impossíveis de ignorar. A maior lacuna existente


In Trade

pág. 39

conta um dos principais objetivos de vida de

orientando-os para a valorização das pessoas

boa parte das pessoas: ser feliz, em primeiro

e da melhoria do ambiente organizacional.

lugar, e não necessariamente rico.

O objetivo é o comprometimento dos seus funcionários com os valores e a filosofia

“Alguns dos fatores que fazem a vida valer

da empresa, que devem ser entendidos e

a pena não estão à venda nem podem ser

compartilhados internamente, além de refletidos

contabilizados com instrumentos monetários”,

em seus momentos de contatos com todos os

concluíram Stiglitz e sua equipe.

stakeholders (grupos de interesse e influência).

Neste novo mercado as pessoas procuram

Porém, antes disso, foi necessário repensar o

algo que está além do que o dinheiro pode

próprio modo de ser da empresa, buscando

comprar. Buscam significado, felicidade e

conhecer características da sua identidade,

realização espiritual, segundo defende uma das

descobrindo a organização em sua essência.

maiores autoridades do Marketing, Philip Kotler, no livro Marketing 3.0. Além disso, é preciso

Em uma economia interligada, as organizações

entender que estamos vivendo uma nova era,

precisam colaborar umas com as outras,

que tem levado as pessoas a repensarem e

com os seus acionistas, com seus parceiros

reestruturarem suas vidas e seus negócios.

de canal, com seus empregados e com seus consumidores. O novo mercado representa

Porém, o desafio das organizações frente a esse

a colaboração de entidades de negócios

novo cenário indica que a busca da vantagem

que compartilham conjuntos semelhantes de

competitiva vai além do gerenciamento

valores e desejos.

tradicional até então praticado, caracterizado pela extrema timidez e amadorismo no que diz

Neste amplo contexto, descobre-se a

respeito às inovações e ainda muito preso às

importância do marketing interno como

práticas burocráticas.

estratégia que, juntamente com a gestão de pessoas, visa proporcionar a integração dos

Aquelas organizações que tinham a única e

funcionários aos objetivos organizacionais, mas

exclusiva preocupação com o lucro, através de

que vai além: busca a melhoria da empresa

uma maior participação dos seus produtos ou

como organismo social, conhecendo a sua

serviços no mercado, estão sendo convidadas

essência e promovendo as melhorias culturais

a repensar seus modelos administrativos, através

necessárias ao seu desenvolvimento.

do desenvolvimento de novas estratégias que lhes permitam assegurar uma posição de

O marketing interno ajudará a criar a

destaque numa nova realidade de mercado.

“nova empresa”, como sugere Wilson Cerqueira, estabelecendo um norte

O advento da globalização e o imperativo das

cultural sinérgico, que deverá contar com a

práticas de mercado colaborativas fizeram

participação representativa e proativa de

com que os gestores e empresários brasileiros

todos os envolvidos, melhorando não só a

dessem início a um replanejamento dos

produtividade, mas também a qualidade dos

modelos organizacionais vigentes até então,

produtos e das relações entre as pessoas.


pág. 40

Entrevista Maneco Quinderé

01

show por Michael Eudes Direto dos palcos de grandes espetáculos, o projeto luminotécnico migrou para as residências, conferindo charme, beleza e criatividade aos ambientes. Trazer toda doçura e encantamento da poesia por meio da luminotécnica para o interior das casas. Essa é a proposta de um dos mais respeitados iluminadores do Brasil. Manoel Castello Branco Neto, mais conhecido como Maneco Quinderé, traz as perspectivas e possibilidades da iluminação do palco de grandes espetáculos e shows para projetos residenciais, criando cenas extraordinárias. O profissional, descendente da segunda geração de iluminadores de Jorginho de Carvalho – pioneiro na iluminação moderna no Brasil, ganhou notoriedade a partir dos anos 1980 e, desde então, passou a se aventurar ora em produções comerciais, ora em trabalhos de cunho mais experimental. Nascido em Teresina, mas radicado no Rio de Janeiro, esse homem de talento inconfundível é sempre muito requisitado para grandes espetáculos dirigidos por profissionais como Miguel Falabela e Luiz Carlos Ripper, e estrelados por artistas como Fernanda Montenegro, entre outras grandes figuras da dramaturgia nacional. E não para por aí. O currículo é extenso. Maneco Quinderé também cria projetos para estabelecimentos comerciais, óperas, desfiles, ballet e demais eventos. E não é que ele também brilha quando o assunto é projetar a iluminação de shows musicais? Ele já cuidou da luminotécnica

Por falar em música, quem solicita os projetos luminotécnicos do lighting designer para deixar a casa com um toque especial fica bastante satisfeito. “É possível criar várias cenas, deixando a casa mais iluminada em um dado momento ou mais introspectiva em outras ocasiões. Dessa forma, dá para pensar a luz como música”, explica.

Foto: Diego Quinderé

do palco de Caetano Veloso, Chico Buarque, Djavan e Vanessa da Mata.


Foto: Diego Quinderé

Foto: Diego Quinderé

pág. 41 02

03


Foto: Diego Quinderé

04

Entretanto, para que essa técnica possa ser

é fácil. O cliente, na maioria das vezes, não

empregada também nas residências, são

gosta de uma coisa muito ousada”, ressalta

necessários vários estudos que analisem a

Maneco

05

melhor disposição dos elementos. É que são muitos os equipamentos usados para

Segundo ele, nesses casos, é necessário

criar esse show de luzes. Quem costuma

saber lidar com as pessoas, escutá-las e

ir ao teatro, por exemplo, já deve tê-los

adequar o projeto. “O profissional deve

visto. Eles são grandes, alguns são pesados,

saber até que ponto pode propor algo

e a localização tem influência direta no

novo sem deixar de lado as necessidades

resultado. “Tudo na arquitetura do local é

daquele que solicitou o serviço”, explica.

aproveitado para construir os mecanismos

Ele lembra ainda que “o trabalho de luz/

de iluminação”, observa Maneco.

arquitetura está muito ligado à estética”. Isso faz com que o cliente seja mais

O público que procura esse tipo de trabalho

rigoroso.

não apenas se empenhar em criar uma

No entanto, as residências não são os

luminotécnica bonita, mas projetar uma

únicos locais que podem abrigar tal

iluminação que tenha identificação com o

modelo de iluminação, característico dos

cliente. “Agradar esse público tão específico,

palcos. Bares, restaurantes e discotecas,

assim como nos espetáculos teatrais, não

também recebem esse recurso.

Foto: Diego Quinderé

também é muito exigente. Por isso, é preciso


01 Residência Valorização do relevo da parede com iluminação wall washer, dando um efeito intimista. 02 Maneco Quinderé. 03 Iluminação Downlight, pode ser utilizada também para dar a sensação de aconchego. 04 Valorização da sala de jantar através de uma iluminação focalizada. 05 Iluminação com várias técnicas , possibilitando a valorização de cada elemento em especial.

“Ambientes assim permitem uma liberdade de criação maior, pois oferecem mais descontração”, ressalta o iluminador. Seja para projetos residenciais ou comerciais, um fator é muito importante para quem quer deixar o ambiente mais bonito e agradável sem pesar no bolso: as lâmpadas LED (diodo emissor de Luz), sinônimo de economia certa. Quem adere a esse tipo de luminotécnica pode ter a certeza de que o ambiente ficará mais versátil, belo e cheio de possibilidades. Além, é claro, de brilhar muito. Um verdadeiro show de luzes.


Entrevista John Thackara

pág. 44

design Sustentável:

a nova forma de pensar o Mundo

por Michael Eudes Desenvolver medidas econômicas e buscar materiais que não agridam o meio ambiente são os principais objetivos e valores das corporações contemporâneas. E, no design, há a mesma preocupação com a preservação do Planeta. O filósofo e escritor inglês John Thackara é símbolo desse novo modus operandis do setor e pioneiro em soluções sustentáveis. Desde a Revolução Industrial, no século XVIII, o homem intensificou a exploração dos recursos naturais. A tecnologia trouxe benefícios – avanços significativos aos mecanismos de produção na indústria. Em contrapartida, a natureza ficou em segundo plano, sendo devastada com avidez. Agora, ela dá climáticas causam fenômenos naturais nocivos ao homem. Por isso, mais do que nunca, é chegado o momento de repensar as ferramentas de produção e aliar a estas ações de desenvolvimento, soluções que causem menos estragos ao

Foto: Jan Bijl.com

constantes sinais de que está no limite. Diversas mudanças

meio ambiente. como elas devem viver. Não sou favorável à ideia de que o Por falar em Revolução Industrial, coincidência ou não, foi

design possa alterar o comportamento das pessoas. O que

justamente onde nasceu esse movimento, em Middlesbrough,

pode ser feito, no entanto, é criar ferramentas e plataformas

na Inglaterra, que surgiu outra prática, contrária à primeira.

que possibilitem às pessoas partilhar recursos, como: energia,

Nessa cidade, localizada no nordeste da Inglaterra, John

tempo, matéria, habilidade, softwares, espaços, ou até mesmo

Thackara fez do seu trabalho vitrine para outros continentes

comida”, pondera o escritor.

do mundo. Ele conseguiu, por meio de estratégias bem elaboradas, plantar alimentos em quantidade suficiente para

O profissional acredita que, para haver maior difusão da

atender a população local. O povo foi orientado e conseguiu

sustentabilidade, é necessário popularizar, ou seja, facilitar

aproveitar bem cada espaço disponível ao plantio. Resultado:

o acesso das pessoas de várias classes sociais ao design.

em apenas um ano, foram produzidos alimentos suficientes

“Acredito que o design deve deixar de ser uma ferramenta

para sete dos 142 mil habitantes da cidade.

disponível apenas para quem pode pagar. Ele precisa estar diretamente relacionado a valores explícitos, como respeito

O exemplo de Middlesbrough ressalta a importância de

incondicional pela vida e pelas condições que a suportam”,

atitudes sustentáveis. No entanto, John não acredita que deve,

salienta Thackara. Para ele, o problema está em acharmos que

obrigatoriamente, mudar os hábitos da população. “É sempre

o atual estado do planeta é culpa e responsabilidade de

um desastre quando designers tentam dizer a outras pessoas

outras pessoas.


pág. 45

01

Mesmo assim, não basta que apenas os designers se preocupem com a preservação do mundo. As indústrias e o comércio, motores da economia, também precisam contribuir. De acordo com Thackara, esses setores devem criar mecanismos que encorajem atitudes de preservação. “Muitos designers e líderes de negócios estão se conscientizando da loucura do crescimento da economia industrial, e começando a buscar medidas, ainda modestas, para o desenvolvimento de uma economia regenerativa. É o início de um período de transformação”, garante. John destaca o trabalho de profissionais que se preocupam com a sustentabilidade: “É fantástico perceber que os designers estão sendo envolvidos em projetos que melhoram o acesso à água potável. É inspirador ver engenheiros descobrindo maneiras de reduzir o custo de equipamentos médicos ou agrícolas. E o design de comunicação, questões sociais urgentes, desempenha um papel genuinamente crítico da vida em desenvolvimento”. O futuro é, de fato, uma das bases de trabalho

Foto: arquivo pessoal

aumentando a conscientização sobre

da política de sustentabilidade. Por isso,

A necessidade imediata de mudança da

despertar o interesse dos jovens para essa

qual se refere o britânico encontra um grande

questão também é um fator imprescindível.

obstáculo: o excesso de produção industrial.

Segundo Thackara, muitos estudantes e

John é enfático ao descrever os exageros: “No

jovens designers estão em busca de uma

ano passado, um novo produto foi lançado em

nova direção. Porém, em muitas escolas, as

algum lugar do mundo, a cada três minutos.

ações estão restritas apenas a cartazes sobre

A maioria dessas mercadorias envolveu a

o assunto. “A transição para a sustentabilidade

utilização de energia, água e recursos naturais.

não é mais sobre mensagens, e sim, sobre

Cada produto, assim, contribuiu para os 70

atitudes e ações. Não tenho dúvida, a escolha

milhões de toneladas de C02 que é emitido

é muito clara! Se você não for a favor da

para a atmosfera terrestre, a cada 24 horas,

biosfera, você é contra ela, não tem meio

como resultado da atividade humana. Nós não

termo” alerta.

precisamos de mais produtos!”.

01 Fazendas de Zurique que distribuem seus produtos através de suas próprias lojas. Vinte novos projetos foram lançados, no oeste da Suíça só nos últimos tempos. Um exemplo é o de Ortoloco (abaixo) é uma fazenda auto-gerida cooperativa com 200 membros ativos. (John Thackara)


Entrevista John Thackara

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Design no Brasil Confira um bate papo rápido sobre o olhar do inglês em relação ao Brasil:

04

Você conhece algum projeto no Brasil que está caminhando de acordo com o que você Eu fui ao Brasil apenas algumas vezes, então não sou um expert no mundo do design brasileiro. Mas, como uma reação instantânea, eu diria que todos os projetos que podem levar o país em direção à forma antiga de industrialização - a produção de carros particulares, agronegócio, supermercados, grandes hotéis, são uma forma ruim de desenvolvimento, do ponto de vista dos interesses da biosfera. Há alguma figura da área de design, em

Foto: arquivo pessoal

acredita ser o correto? Pode nos dizer qual?

02 e 03 Empresa de Zurique que com apenas 02 entregadores fornece produtos orgânicos a bares da cidade, com 40 diferentes tipos de sopa, tudo sem aditivos, completamente orgânico. (John Thackara)

04 Visitei uma fazenda inspiradora, Akur, onde Thordur Halldorsson e Karolina Gunnarsdo ttir passaram os últimos 20 anos criando o protótipo de um mercado auto-suficiente. (John Thackara)

especial, que você admira no país? O que mantém meus olhos atentos, e que sempre apoio, são exemplos de profissionais que ajudam a desenvolver novas possibilidades para atender às necessidades da vida diária.

02

Uma inspiração recente, em minha opinião, é o novo livro de Adélia Borges “Design +

Foto: arquivo pessoal

Artesanato: O Caminho Brasileiro”. Ela reúne

03

uma série gloriosa de artefatos coletadas em cada região brasileira. Algo importante que o livro traz são os artesãos, o papel deles como especialistas em técnicas e administradores das possibilidades agrícolas e artesanais de suas regiões. Como o design pode contribuir no caso do Brasil? Uma das possibilidades importantes é poder colaborar com a economia regenerativa, que é agora emergente, é descobrir quais os bens e

Foto: arquivo pessoal

recursos já estão lá, no seu território. Os recursos naturais, como o vento, o sol, com potencial para gerar energias limpas, materiais diversos, e as habilidades necessárias para usá-los se tornam matéria-prima do design para uma nova economia.


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Entrevista Ivo Faria

Ivo Faria

Um sucesso na gastronomia por Ana Cláudia Ulhôa

Desde muito cedo Ivo Faria, já mostrava aptidão para a cozinha. O dono do restaurante Vecchio Sogno preparou seus primeiros pratos quando ainda tinha 14 anos, ao ingressar no curso técnico do Senac. Para complementar a formação, o chef mineiro estudou em diversas instituições do Brasil e do mundo. Cursou Nutrição, Dietética e passou pelo Centro Internacional de Glion, na Suíça. Durante sua trajetória participou de vários festivais de gastronomia e recebeu prêmios de revistas especializadas, como Veja, Gula e Wine Spectator. Em entrevista para a Revista Ideia, Ivo Faria conta como a união entre sabor e design pode

Revista Ideia: Como você pensa o design de um prato? Ivo Faria: Quando você pensa em um prato, antes de mais nada, você tem que pensar no equilíbrio. A primeira coisa é harmonizar os alimentos, depois vem a cor e, por último, a

Foto: divulgação

colaborar para uma carreira de sucesso.

montagem propriamente dita. Não adianta nada criar um prato

RI: Já teve algum prato, em especial, que você achou magnífico

sem sabor e sem vida. Você tem que escolher os ingredientes

e se arrependeu de não ter registrado?

certos, o molho que vai dar presença e a louça que vai terminar

IF: O magnífico é por pouco tempo. Você pode fazer um prato

de compor. Agora, muitas vezes, isso nasce na hora que você

hoje que é perfeito e depois não achá-lo tão interessante mais.

está compondo. Vem da alma. Tem prato que você cria uma

Tem pratos que eu fiz há mais tempo e que hoje eu não faria

vez só e não consegue reproduzir nunca mais.

do mesmo jeito, porque as coisas vão evoluindo. Então, daqui a seis meses, aquilo que você criou já passou, você quer mudar. A

RI: O que você costuma fazer para não esquecer o prato que

criação é uma coisa de momento.

acabou de criar? IF: Eu registro muita coisa, porque normalmente eu dou cursos.

RI: Existem comidas que são mais complicadas de trabalhar. O

As receitas do dia a dia também são mais fáceis. Você tem o

que você faz nesses casos?

prato no cardápio, então, todos os dias, ele é montado da

IF: Alguns pratos têm um sabor muito bom, mas, muitas vezes,

mesma forma. Só que no horário de movimento do restaurante,

não te dão condições de realizar uma apresentação legal.

é complicado. Quando um cliente pede um prato, é comum

Nesses casos, você tem que buscar elementos que possam te

você pegar um produto que te interessa ali, outro aqui, executar

auxiliar, como uma louça ou uma taça. Eles vão te ajudar a criar

e no dia seguinte falar: gente, aquele prato ficou maravilhoso.

uma certa beleza, uma certa estrutura. Existe também aquela

Mas você não registrou.

comida que é difícil de apresentar beleza, mas vai sempre


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agradar o paladar. Essa é a comida tradicional. É aquela que nós já temos dentro da nossa memória gustativa. Ela não precisa ser muito bonita, porque você já possui uma referência sobre ela. Quando ela aparece na sua frente, o desejo de comer já é despertado. O frango caipira com quiabo, a feijoada, o tropeiro, já estão gravados no subconsciente. A comida da mãe não precisa ser tão bonita. Nesse caso, a beleza é o frescor do alimento, é a lembrança. Agora, quando o prato não faz parte das referências do cliente, ele tem que surpreender mais do que os outros. RI: O Vecchio Sogno é um restaurante de comida italiana. Como você faz para trabalhar essas referências culturais? IF: O que nós fazemos muito é misturar a comida do dia a dia com os pratos mais sofisticados. Porém, essa harmonização não pode agredir o paladar do cliente. Podemos também pegar pratos tradicionais e fazer uma apresentação diferente. Por exemplo, se o cliente pedir um tutu, ao invés de servir solto, de taioba, com um torresminho por cima, um lombo grelhado do lado e arroz. Quando você faz isso, você muda o conceito. O produto é o mesmo, você só modificou a forma de

Foto: divulgação

você pode colocá-lo dentro de uma trouxinha

apresentar. Mas, ao fazer isso, você mexe com

humano. Antigamente, a comida era mais

o cliente, com a sua criatividade.

pesada, hoje existe gente que não come fritura. Quando eu era jovem, aprendi a usar todos

RI: A gastronomia sempre veio acompanhada

esses ingredientes. Hoje eu não faço mais esses

dessa preocupação com a estética?

pratos, porém eles me servem de base para

IF: Antigamente, os chefes montavam

executar as receita.

bandejas e buffets. Hoje, trabalhamos muito com pratos e pequenas porções. Mas, nos

RI: Qual é o efeito do lado estético na pessoa

dois casos, há uma preocupação com o lado

que recebe o prato?

visual. O que houve foi uma modificação na

IF: Se o maitre descrever um prato de uma

maneira como montamos e preparamos a

maneira e ele vier de outra você já derruba

comida.

50% do desejo do cliente. A beleza cria um impacto, mas ela não pode ser uma beleza

RI: Como foi essa evolução da gastronomia?

exagerada, ela tem que mexer com todos

IF: A mudança começa na preparação da

os sentidos, tem que dar vontade de comer.

comida. Se você lembrar dos seus avós, eles

A mesma coisa quando você cria um prato,

comiam pratos preparados com banha,

se ele é todo linear, todo chapado, você

com toucinho. Com o tempo veio a banha

não vê nenhum detalhe. Então, você tem

pronta, depois o óleo, a manteiga, o azeite.

que realçar cores, desníveis e contornos.

Tudo foi passando por um processo de

Você tem que destacar tudo isso para que

refinamento, a partir da exigência do ser

a pessoa possa sentir.


pág. 49

Involtino de parma com caprino e folhas Ingredientes (10 pessoas) 1 pé alface crespa 2 pés de frizes ½ maço de rúcula ½ pé alface americano 1 pé radichio 1 maço salsa comum 200 gr queijo de cabra fresco 40 ml creme de leite 12 fatias de presunto parma (fatiado longo) 150 gr raiz de funcho (cubos pequenos) 150 gr pêra (cubos pequenos) 1 unidade manga haden (cubos pequenos) Limão Azeite extra virgem Aceto balsâmico reduzido com açúcar ou mel Preparação: 1)Rasgar as folhas maiores em 4 pedaços. 2)Fatiar o presunto parma em laminas finas e dispor 5 fatias longas uma ao lado da outra, sobre um plástico. 3)Dispor as folhas sobre o par-

RI: Qual dica você daria para quem deseja

ma colocar o queijo caprino

aprender a fazer um prato com uma boa

amolecido com o creme de

apresentação? IF: Essa pessoa pode pesquisar elementos que estejam dentro dos hábitos alimentares dela, e depois tentar executar as receitas. Você nunca vai conseguir fazer nada se não tentar. Ao testar uma, duas, três vezes, você tem condições de aprimorar o seu trabalho. Buscar conhecimento também é importante. Faça cursos, leia e busque receitas novas.

Confira a receita que o chef preparou e tente fazer em casa

leite formando um bastão cilíndrico e colocar sobre as folhas. 4)Enrolar as fatias de parma fazendo rolos de 7 cm de diâmetro. 5)Cortar cada porção em 8 cm de altura 6)Fazer um vinagrete com a raiz de funcho, a pêra e a manga cortados em pequenos cubinhos com azeite e limão. Montagem: 1.Quadricular o prato com redução de aceto balsâmico. 2.Colocar o involtino de parma no centro, o vinagrete ao lado.


Foto: Artcurial, Paris. (C) Ingo Maurer GmbH, Munique.

Ingo Mauer

e o design da luz por clarissa damas


Lighting

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O alemão Ingo Maurer pode ser considerado um homem “de luz”. Ele é, atualmente, um dos principais lighting designers do mundo, reconhecido internacionalmente e agraciado com oito grandes prêmios em sua carreira.

01

Ao realizar um trabalho que é, ao mesmo tempo, simples e elaborado, inovador e vanguardista, o artista tem seu acervo espalhado por locais como o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e o Museu Stedelik , em Amsterdã. Sua mais recente exposição integrou o 51º Salão do Móvel de Milão, realizado na Itália, no mês de abril. Nessa matéria, vamos contar um pouco da vida desse artista tão único e “iluminado”, além de falar sobre seus principais trabalhos.

Trajetória de sucesso Filho de pescadores e nascido no Lago de Constança, em 1932, Maurer aprendeu tipografia e estudou design gráfico em Munique. No ano de1960, mudou-se da Alemanha para os Estados Unidos. Morou nas cidades de Nova York e São Francisco, onde trabalhou como designer freelancer. Cansado da vida na América, três anos depois, Maurer voltou para a Alemanha e fundou sua empresa, a M Design – que mais tarde passaria a se chamar Ingo Maurer GmbH. Voltada para o desenvolvimento e fabricação de lâmpadas, a empresa cresceu e ganhou destaque. Em 1966, uma das primeiras criações de Maurer conquistou os críticos mundiais e foi aceita para integrar a coleção de design do MoMa. De lá prá cá, veio o sucesso. Em 1984, ele foi convidado a expor em Paris, ao desenvolver o sistema de fio de baixa tensão YaYaHo, consistindo de dois cabos de aço fixados horizontalmente e uma série de elementos de iluminação ajustáveis com lâmpadas halógenas. Essa obra, intitulada “Lumieres je vous Pense um”, ficou exposta no Centro Georges Pompidou e no Institut Francais d’Architecture de Paris, além da Villa Medici, em Roma. Já em 1989, a Fundação Cartier de Arte Contemporânea, também na França, organizou a exposição Ingo Maurer: Reflexão Possibilidade Luz. Na ocasião, pela primeira vez, Maurer, criou objetos de iluminação e de instalação que não foram feitos

Desde então, trabalhos do designer foram apresentados em várias exposições na Europa, Estados Unidos e Japão. Apesar do grande sucesso tanto como artista quanto como empresário, já que suas criações extrapolam os museus e chegam, também às prateleiras, Maurer decidiu atuar também no campo

Foto: divulgação

para produção em série.


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02

da utilidade pública. Em Munique, ele foi responsável pelo projeto de instalação de luz na estação de metrô de Westfriedhof e da renovação do conceito de iluminação da estação de Freiheit. Além disso, redesenhou a área subterrânea de transporte público U-Bahn, também em Munique, mostrando que o design é sim essencial e pode tornar os espaços melhores e mais funcionais.

Trabalhos com LED Apesar da vasta experiência, foi só em 1996 que Maurer começou a trabalhar com o que, anos mais tarde, se tornaria sua marca registrada: o LED (diodo emissor de luz). Seus experimentos com essa tecnologia revolucionaram o ligthing design tanto de espaços públicos quanto das casas das pessoas, trazendo mudanças aplicáveis ao dia a dia. Entre um dos mais recentes trabalhos de destaque, está o papel de parede iluminado, em que pontos de LED foram instalados no revestimento de papel, simulando uma verdadeira constelação. Sucesso entre as crianças, o trabalho colocou Maurer no patamar dos mais vendidos em todo o mundo, rendendo capas de revistas de arquitetura e design, exposições e grande procura do público em geral. Além desse trabalho, merece destaque a criação de um banco de LED, chamado de Bench, e de um candeeiro de mesa, todos com edição limitada. Aplicando o LED a elementos do cotidiano, Maurer cria peças únicas, inusitadas e que levam, literalmente, luz para os lares.

Premiaçães Ao longo dos mais de 50 anos de carreira, Maurer recebeu oito prêmios de destaque internacional: Prêmio Designer Lucky Strike de Raymond Loewy Foundation, Alemanha (2002), Prêmio de Excelência Collab Design, Philadelphia Museum of Art (2003), Georg Jensen Prêmio, Copenhagen (2003), Prêmio Oribe, Japão(2003), Designer Real da Indústria, a honorário do Royal College of Art , em Londres(2006), Prêmio de Design da República Federal da Alemanha (2010). Em 2011, o artista recebeu ainda o Compasso d’Oro.

Foto: divulgação

Royal Society of Arts, London (2005), Doutorado


03

04

01 Da+Dort Detail 2012 02 e 03 Zak Zarak 2012 04 JBSchmetterling 2011

Foto: divulgação

05

Foto: divulgação

Foto: divulgação

05 Luce Volante 2012


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Vida Tecnologica

Uma casa

conectada por danilo borges

Controlar um Home Cinema utilizando apenas um Ipad; utilizar o celular para observar as câmeras de vigilância e abrir o portão de casa à distância; criar variadas “cenas” de iluminação para um ambiente e poder mudá-las com um só toque. Graças ao avanço das tecnologias de transmissão de dados e a modernos softwares de automação, tais possibilidades já não são apenas fantasias de filmes futuristas. Integrar os mais diversos aparelhos de uma casa, criando ambientes personalizados, tornou-se uma realidade cada vez mais presente na vida das pessoas. A demanda por projetos de automação residencial – capazes de concentrar, num só dispositivo, o controle de televisões, luminárias, persianas, etc. – tem crescido e se tornado cada vez mais acessível no país. Utilizando softwares e equipamentos específicos, designers e engenheiros criam uma moderna rede de comunicação que pode envolver todos os dispositivos eletrônicos de uma casa, tornando possível comandá-los à distância e em conjunto. “O grau de integração em cada projeto é personalizado de acordo com o gosto e a necessidade do cliente. Podemos automatizar desde uma fechadura até a casa toda,” afirma Tadeu Cardoso, diretor da Ikeise, empresa especializada em tecnologias integradas e parceira da Templuz. Como parte do cabeamento, dos equipamentos de áudio e iluminação precisa ser imbutida no teto e nas paredes, o ideal é que os interessados em ter uma “casa conectada” procurem empresas especializadas antes de começar a construção. Mas a instalação também pode ser feita com o imóvel pronto – desde que o cliente não se importe em fazer algumas reformas nos ambientes. Nesse caso, a transmissão wire-less também

Foto: Mariana Neto

Projetos de automação proporcionam praticidade ao integrar os incontáveis dispositivos existentes numa residência

Home Theater - Templuz


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Vida Tecnologica

pode ser uma alternativa. O problema é que essa tecnologia

Mas as possibilidades de integração não se restringem à

ainda não é muito eficiente em alguns casos, como na

parte luminotécnica. Para demonstrar o que os sistemas de

projeção de filmes em 3D. Além disso, o custo de um projeto

automação podem fazer, a Templuz e a Ikeise desenvolveram

sem fios pode ser consideravelmente superior ao convencional.

showrooms totalmente integrados. Um deles é um homecinema que reúne, entre outras tecnologias, um projetor 3D,

Automatizar a iluminação da casa é uma das maiores

um media center, sistema de som 7.1 e tratamento acústico.

demandas, conta a gerente da Templuz, Junea Mattos.

Na sala, o único trabalho do espectador é selecionar, utilizando

A empresa, especializada em iluminação e tecnologias

um iPad, o filme que gostaria de assistir. Além de substituir os

integradas, realiza cerca de 50 atendimentos diários. Em geral,

cinco ou seis controles remotos que seriam necessários para

os clientes procuram projetos luminotécnicos que possibilitem

operar todos aqueles equipamentos, o tablet possui interfaces

a criação de várias “cenas” de iluminação, que podem ser

extremamente amigáveis, familiares a qualquer usuário

acionadas de acordo com a ocasião: um jantar romântico,

acostumado com os smartphones.

uma reunião de família ou uma sessão de TV. A instalação é feita paralelamente à caixa de energia e utiliza um módulo

Escolhida a programação, tudo no espaço é ajustado

de integração que é configurado segundo as preferências do

automaticamente para combinar com a atração escolhida:

cliente. Cada uma das “cenas” escolhidas recebe um botão

no caso de um filme romântico, por exemplo, a temperatura

correspondente no interruptor do ambiente. Ao contrário dos

ambiente, a iluminação, o sistema de áudio, claridade da tela

interruptores convencionais – que controlam mecanicamente

etc. serão regulados para criar uma “cena” mais aconhegante.

a passagem de energia, o funcionamento desse sistema é

Se o usuário decidir mudar do romance para um filme de

eletrônico.

ação, basta selecionar a configuração correspondente que


Vida Tecnologica

pág. 56

toda a “cena” será alterada para fazer com

01

que ele “sinta na pele” toda a movimentação dos protagonistas. “No Home-cinema, temos basicamente a integração dos sistemas de iluminação, de temperatura e de mídia. Aqui os configuramos para atuar em conjunto, mas cada um também pode ser operado separadamente”, explica Tadeu. Além de oferecer praticidade, a integração também torna os ambientes mais versáteis, como mostra o outro showroom. À primeira vista, o ambiente lembra uma sala de jantar conjugada com um living. De fato, para que o local seja um agradável espaço para refeições, só é preciso escolher, no iPad, o cenário “jantar”. O sistema, então, encarrega-se de

02

colocar um som ambiente e uma iluminação adequada para a ocasião. Ainda utilizando o tablet, é possível transformar o espaço numa sala de TV: as persianas se fecham, a iluminação é reduzida e uma televisão de tela plana desce de um nicho que se abre no teto. Terminado o horário de lazer, basta outro comando no iPad para que a televisão se recolha novamente, a iluminação se intensifique. Tem-se, então, um perfeito escritório de trabalho. Ter em casa um projeto de integração completo, tal como o dos showrooms, ainda não é muito acessível. Para ter um homecinema totalmente automatizado, o cliente pode ter de desembolsar até R$ 60 mil. No entanto, boa parte desse custo se deve à aquisição dos aparelhos de projeção, de som etc. Afinal, é preciso utilizar dispositivos tecnologicamente mais sofisticados, dotados de sistemas que possibilitem a comunicação remota e a programação eletrônica de suas funções. Mas o desenvolvimento e a execução do projeto de automação em si responde por cerca de R$ 5 mil, ou seja, aproximadamente 10% do valor total. No caso de projetos luminotécnicos, é possível integrar sistemas de iluminação gastando-se R$ 2 mil, incluídos na conta os equipamentos necessários para a automação (módulos, interruptores etc.) e a instalação. Comparado ao orçamento total de uma construção, o investimento em design e automação residencial é razoável, considerada a praticidade que ele proporciona.

01 Software especial para controle da automação.

02 Home Theater Templuz - detalhe painel acústico.


Vida Tecnologica

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01

Sustentabiliade e eficência energética em edifícios:

é para você

também? por Roberta Viera

Muito se fala de aquecimento global, mudanças climáticas e das possíveis soluções para a mitigação dos problemas gerados por eles. Soluções que nos edifícios estão atreladas à incorporação de práticas de sustentabilidade e eficiência energética. A sustentabilidade nos chama a rever processos e a analisar nossa maneira de viver de forma a diminuir os impactos da presença humana no planeta. Um dos principais agentes destes impactos está diretamento ligado ao uso intensivo de energia, cada vez mais presente nos processos produtivos de nossa sociedade. Hoje há diversos sistemas de avaliação do nível de sustentabilidade de edifícios e diversas leis e regulamentos foram elaborados no sentido de se mitigar as mudanças climáticas e se reduzir o uso de energia neste setor. O Brasil mais especificamente vê incorporado à realidade da construção civil processos internacionais de selos verdes e processos nacionais de etiquetagem do nível de eficiência energética para edifícios. Os selos verdes, como o LEED (de origem americana, tropicalizado para o Brasil) e o AQUA (brasileiro, mas adaptado do selo francês HQE), tratam de questões mais amplas que vão do impacto da edificação na vizinhança ao uso de materiais e à manutenção da qualidade interna do ar, passando por questões de uso de energia e água. Já o processo etiquetagem

brasileiro

desenvolvido

tanto

para

edifícios comerciais, de serviços e públicos, quanto para edifícios residenciais está mais focado no uso da energia elétrica e também da água, pois este é um regulamento desenvolvido, especificamente, pela ELETROBRÁS em parceria com o INMETRO (Instituto de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), visando racionalizar o consumo de energia elétrica nos edifícios. Há também em Belo Horizonte o Selo BH de Sustentabilidade, que terá seus

Foto: Messe Frankfurt - Michel Charlot

de


pág. 58

Vida Tecnologica

primeiros prédios certificados ainda este

estéticos e de preço, mas também de

ano. De acordo com a PBH, o programa

manutenção e operação ao longo do

tem como objetivo promover a redução

tempo. E neste quesito todos podemos

do consumo de água e de energia, a

fazer a nossa parte.

redução/reciclagem dos resíduos sólidos e das emissões de gases de efeito estufa. Selo Leed – classificações de certificado a platinum http://usgbc.org/D

Conhecer as condições de avaliação destes sistemas pode ser útil, mesmo

Mas será que estes novos processos

para quem não vai conseguir o selo ou a

de edifícios verdes, sustentáveis e

etiqueta. Esses requisitos podem ser usados

eficientes que estão tão em voga, são

como um check-list de itens a serem

aplicáveis para todos os profissionais

considerados na hora de projetar.

do setor da construção civil? Para o arquiteto que projeta casas, para o

Quando se fala mais especificamente de

designer de interiores? Ou são realidades

energia elétrica, tem-se que os edifícios são

ainda longínquas do dia a dia destes

responsáveis por aproximadamente 45% do

profissionais?

seu consumo no Brasil. Este consumo pode ser dividido basicamente em iluminação,

Selo AQUA http://vanzolini.org.br

São estes processos acessíveis apenas

condicionamento de ar e equipamentos

a prédios de alto padrão, a imponentes

para o setor de edifícios comerciais,

edifícios coorporativos, a empresas com

de serviços e públicos. Para o setor de

ações na bolsa de valores ou podemos

edificícios residenciais, que possuem uma

usá-los em nosso cotiadiano?

matriz energética mais diversificada, boa parte do consumo está vinculado ao uso

Os processos de avaliação para rotulagem

de equipamentos eletroeletrônicos e ao

de edifícios, seja a certificação verde

aquecimento de água.

ou a etiquetagem, tem metodologias

Etiqueta PROCEL para edifícios comerciais de serviços e públicos http://procelinfo.com.br/

Certificação em sustentabilidade ambiental. http://cesa.pbh.gov.br/ scsae/pdf/manual.pdf

diferenciadas, mas com o mesmo foco

Em um prédio comercial contar

em comum: tornar mais viável a existência

com uma equipe capacitada de

do ambiente urbano e dos processos

projetistas pode fazer uma diferença

produtivos necessários à manutenção de

significativa na especificação e no

nossa qualidade de vida.

dimensionamento de sistemas. Deve-se sempre optar por empresas ou profissionais

O que os sistemas de rotulagem nos

especializados para o correto projeto de

chamam é a refletir sobre nossa prática

condicionamento de ar, de automação,

e nossas atitudes na hora de projetar

iluminação artificial, etc. A consultoria

edifícios que sejam mais adaptados ao

com profissionais capacitados evita

meio em que estão inseridos e especificar

o superdimensionamento de sistemas

produtos e equipamentos que levem

e garante a escolha do produto mais

em consideração não apenas aspectos

adequado para cada situação.


pág. 59

Vida Tecnologica 01 A maior feira de iluminação e tecnologias relacionadas do mundo – Light + Building em sua edição para 2012, teve como tema a Eficiência Enérgica, focando a iluminação como um dos fatores primordiais para o sucesso de uma economia inteligente.

02

Foto: divulgação

02 Complexo empresarial Rochaverá - um conglomerado auto-sustentável

Em uma residência, deve-se verificar a eficiência dos

etiqueta do PBE.

equipamentos antes de definir sua especificação. O PBE, Programa Brasileiro de Etiquetagem, fornece informação

E a geladeira deve ser outro foco primordial, pois seu

sobre a eficiência de geladeiras, fogões, lâmpadas,

consumo pode representar 1/3 de toda energia usada.

chuveiros, máquinas de lavar roupa, condicionadores

Hoje grande parte das geladeiras disponíveis no mercado

de ar, coletores solares, etc. Basta acessar o site http://

possuem etiqueta nível “A”, pois esta foi uma indústria

www.inmetro.gov.br/consumidor/tabelas.asp e verificar

que obteve grandes melhorias no desempenho de seus

quais os aparelhos possuem melhor classificação, ou seja,

produtos. Dessa forma, escolher aparelhos que tenham

possuem Etiqueta nível “A”. Sempre que possível procure

o selo PROCEL pode fazer diferença significativa no

pelos equipamentos que tenham o Selo PROCEL, dado

consumo final de uma residência.

anualmente aos melhores representantes dentro do nível “A” de cada categoria de produtos. Comprar apenas pelo

A iluminação, responsável no setor por 1/10 do consumo,

menor preço pode não ser econômico em longo prazo.

deve ser especificada de forma a usar-se sempre que possível lâmpadas fluorescentes que são de 5 a 6 vezes

Em especial, deve-se atentar para um estudo de

mais eficientes que as lâmpadas incandescentes comuns

viabilidade do uso de correto dimensionamento de

e pelo menos 4 vezes mais eficientes que as lâmpadas

sistemas de aquecimento de água que podem ser

dicróicas. No mercado já existem luminárias que

responsáveis por 1/5 de todo o consumo de energia

permitem embutir estas lâmpadas que, por incorporar

elétrica de uma residência. Hoje Belo Horizonte é

em si o reator, são mais longas que as lâmpadas

considerada a capital do uso de energia solar para este

incandescentes tradicionais ou, em casos em que o

fim. Mas os sistemas devem ser bem dimensionados tanto

tamanho seja essencial, pode-se pensar na opção do

em sua área de captação (número de coletores) quanto

uso do LED (diodo emissor de luz). Há uma vasta gama

no dimensionamento dos reservatórios para acumulação

de produtos que podem ser especificados pelo lighting

de água quente, lembrando que todos os componentes

designer sem que haja perdas na reprodução de cores

do sistema devem ter adequado isolamento e devem

ou na temperatura de cor, responsável pela ambiência

ter sido testados em sua eficiência quando não tiverem

de um determinado local.


pรกg. 60


pág. 61

Vida Tecnologica

Mangueira de sucção acoplada em placa de conexão, dispostas em pontos na residência.

por Michael Eudes A aspiração centralizada é uma alternativa que traz tecnologia de última geração para a limpeza do lar

Imagine: você varre a sujeira da sala para o canto do rodapé e tudo é sugado por um vão que se abre na parede. Parece cena de filme de ficção científica, mas não é. Trata-se de uma das utilidades oferecidas pelo sistema de aspiração centralizada. Esse mecanismo confere mais velocidade na limpeza, menos ruído, máxima higiene, boa estética, economia e praticidade. Comodidade e conforto pensados para auxiliar a higienização de ambientes, combatendo doenças respiratórias e alérgicas. Os ácaros, geralmente presentes na poeira doméstica, podem ser os causadores de diversas doenças. Na maioria dos casos, são responsáveis por variadas manifestações alérgicas do aparelho respiratório humano, incluindo a asma. Estima-se que, em cada cama, exista mais de um milhão e meio de ácaros que se alimentam de células mortas da pele humana e precisam de umidade para sobreviver. Para evitar esse inimigo invisível, é recomendada a correta higienização do ambiente, principalmente com o uso de aspiradores de pó. A aspiração centralizada chegou ao mercado para oferecer às donas de casa uma maneira moderna de realizar a limpeza dos espaços. Trata-se da evolução dos aspiradores tradicionais. “Esse sistema consiste em uma rede de tubos de PVC instalados no interior das paredes, em cima de forros ou sob o piso, e que transportam partir de tomadas instaladas em pontos estratégicos. Para ativálo, basta plugar a mangueira na tomada mais próxima e pronto, já estará funcionando, sem ruídos, sem incômodos”, explica o projetista Eduardo Feliciano, da Templuz.

Foto: divulgação

a sujeira até uma central colocada em um ambiente externo a


Vida Tecnologica

Imagem: divulgação

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Placa de conexão da mangueira de succão A máxima higienização do local é garantida

Além de funcional, a aspiração centralizada,

pela potência e pelo filtro de poliéster de

de tecnologia italiana, é também bonita e

alto rendimento, ideal para reter as partículas

discreta. “O impacto estético do sistema é

mais finas. Esse sistema garante ainda que o

muito agradável, pois o único detalhe visível é

ar insalubre circule novamente no ambiente,

a tomada de aspiração, que terá o design que

protegendo a saúde das pessoas presentes e

você escolher”, esclarece Eduardo. A Templuz

proporcionando mais comodidade. Livrar-

é a única loja que comercializa este produto

se da sujeira também é simples. O filtro de

em Minas Gerais.

grande superfície, feito de poliéster, pode ser limpo e reaproveitado, e o material recolhido

A empresa buscou o novo conceito em

no depósito de plástico pode ser facilmente

limpeza para atender a demanda dos

esvaziado.

mineiros – que não querem perder tempo com a limpeza da casa. A moderna solução

As vantagens desse aparelho em relação aos

atende às necessidades dos consumidores. É

aspiradores de pó comuns são inúmeras, como

prática e de fácil manutenção, ideal para os

a eliminação do ruído do motor no ambiente.

lares que, cada vez mais, estão recheados

Além disso, as peças são de fácil manutenção.

de recursos inteligentes que facilitam o dia a

Eduardo destaca outros benefícios:

dia das famílias.

equipamentos pelo local da limpeza, além

Qualquer semelhança com alguma cena

de eliminar os ácaros que normalmente

do desenho dos Jetsons não é mera

passam pelos filtros dos aspiradores comuns

coincidência. Isso é a realidade. Isso é o

e acabam piorando a qualidade do ar”.

futuro. E ele já chegou!

De fato, estudos comprovam que a limpeza a vácuo retira 100% do pó aspirado sem retorná-lo ao ambiente.

Foto: Mariana Neto

“Esse mecanismo evita o passeio com


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por Ana Cláudia Ulhôa Índices de criminalidade contribuem para a popularização dos dispositivos de segurança

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de

Basta dar uma volta pelas ruas de Belo Horizonte para

Atualmente, existem várias soluções voltadas para a

notar como as cercas elétricas, câmeras de segurança e

segurança de imóveis. Entre as mais populares estão os

alarmes estão cada vez mais presentes no cenário urbano.

circuitos fechados de televisão, com 43% da preferência

Hoje, tanto os imóveis comerciais quanto os residenciais já

dos clientes, os sistemas de alarmes contra intrusos, com

usufruem de recursos variados para inibição de furtos. O

24%, o controle de acesso, também com 24%, segundo a

motivo é a insegurança gerada pelo aumento do índice

Abase.

Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abase), esse mercado tem crescido, em média, 11% ao ano, chegando a faturar 1,830 bilhão US$ em 2011.

de criminalidade. Para Thiago, a opção mais segura é a que utiliza alarmes e Segundo o último balanço da Secretaria de Estado de

circuito fechado de televisão de maneira integrada. Nesse

Defesa Social de Minas Gerais (Seds), somente no primeiro

caso, o sistema funciona da seguinte maneira: sempre que

trimestre de 2012 foram registrados 7,2 mil crimes violentos em

o alarme toca, as sirenes são disparadas e uma ligação

todo o estado. No ano passado, os homicídios, sequestros,

é direcionada automaticamente para um celular ou

roubos, estupros e extorsões já haviam crescido 10%.

telefone fixo. Ao receber essa chamada, o cliente pode entrar na internet, através de notebooks, Iphones, Ipods ou

Thiago de Souza Matos, do setor de Tecnologia da

Ipads, e verificar o que está acontecendo.

Fotos: Ludimila Loureiro

Templuz, conta que a divulgação de dados como esses refletem diretamente na venda de equipamentos de

A comodidade dessa solução foi o que mais chamou a

segurança. “Após a publicação dos números referentes

atenção da designer de interiores Ana Regina Bittencourt.

à violência, vemos, normalmente, uma ampliação do

Ao iniciar a reforma da casa, Ana decidiu aumentar a

volume de vendas. Se a segurança pública deixa a

segurança dos cômodos, realizando um projeto que

desejar, as pessoas procuram outros métodos para se

contou com câmeras, sensores, TVs e um no-break. “Os

01

proteger”, comenta.

dispositivos são de fácil acesso e compreensão. É um


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Vida Tecnologica 01

02

Kit vídeo porteiro color sense com câmera pinhole (oculta). 02

Câmera infravermelho lente varifocal ccd1/3 sony externa 03

Controle total do sistema de segurança através de monitores distribuídos na residência.

03

sistema completo, tenho uma visão perfeita de toda a minha residência, mesmo quando não estou em casa”, avalia. Thiago lembra que, antes de optar por qualquer solução, é preciso realizar uma análise do imóvel. “O estudo é necessário para identificar os pontos de vulnerabilidade do local. Através dele, nós escolhemos os equipamentos adequados para cada situação”, completa. A quantia que cada cliente deseja investir também pode ser levada em consideração na hora de elaborar o projeto. “Muitas vezes, as pessoas deixam de proteger as suas casas por imaginar que os custos dos dispositivos são muito altos, mas hoje existem aplicações

Fotos: Ludimila Loureiro

residenciais para todos os bolsos”, conclui Souza Matos.


arte & companhia

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01

por Ana Cláudia Ulhôa Projeto expõe obras em um dos corredores mais movimentados de Belo Horizonte. A imagem de ilustrações, fotografias e outras formas de artes visuais dividindo espaço com prédios, casas e estabelecimentos comerciais ainda é pouco difundida na capital mineira. Atualmente, as manifestações artísticas

02

em espaços públicos acontecem apenas em pontos específicos da capital, como no prédio do Espaço 104 ou na sede do Grupo O Corpo. Com o intuito de promover a disseminação e a valorização desse tipo de arte, a Templuz, em parceria com a Hiper Graphic Digital, realiza a segunda edição do Mural Templuz. Durante todo ano, o projeto apresentará 12 obras de arte contemporânea. Cada uma delas ficará exposta por 30 dias, através de plotagem, no paredão frontal da loja, que possui 5,3m de largura x 6,5m de altura e está localizada na Avenida Nossa Senhora do Carmo, em Belo Horizonte. A ideia do Mural surgiu quando a diretoria da loja percebeu o tamanho da área inutilizada que possuía.

artistas Sonia Burgareli e Tatiana Tameirão, que participam

“Nós tínhamos uma enorme parede em branco, em um

pela segunda vez do projeto.

corredor por onde passa, em média, 95 mil carros por dia. Pensamos: por que não aproveitar esse espaço de uma

De acordo com Junea, o que mais chama a atenção

maneira produtiva?”, explica Junea Mattos, gerente da

nos trabalhos escolhidos é a diversidade. “Os murais

Templuz.

selecionados são muito ecléticos. Temos colagens, ilustrações, fotografias e projetos de arte digital. A origem

“O projeto foi criado porque reconhecemos a importância

também é variada. Recebemos obras da Costa Rica,

de tornar a arte acessível e dar oportunidade para que

França, São Paulo e toda Minas Gerais”, comenta.

novos artistas mostrem seu trabalho”, completa Paulo Henrique Sampaio, diretor da Hiper Graphic, empresa

A primeira obra exposta foi “Dois Feridos” da costa-

responsável pela impressão dos painéis em lona e

riquenha Nancy Mora, que mescla aquarela e colagem

instalação.

sobre papel. A artista conta que a proposta de retirar a arte do seu lugar tradicional foi o que mais a atraiu. “A

Para a segunda edição do Mural Templuz, foram

ideia é maravilhosa, porque você está deslocando a arte.

selecionados os painéis de Caio Rodrigues, Deia Quintino,

Só pelo fato de estar na rua, levanta questionamentos.

Leonardo Mathias, Madu Dorella, Nancy Maíra, Nati

As pessoas vão se perguntar sobre a técnica utilizada, o

Loureiro, Rodrigo Magno Vieira, Thais Conde, além das

sentido e o artista que realizou aquele trabalho”.


arte & companhia

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03

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06

07

08


arte & companhia

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Espaços Públicos As 12 propostas artísticas que compõem o projeto Mural Templuz são apenas um exemplo das possíveis formas de manifestação da arte urbana. De acordo com Maria Luiza Viana, professora do curso de Arquitetura da UFMG, além do muralismo, stickers, grafites, cartazes e desenhos, que muitas vezes são confundidos com propagandas, podem ser classificados como tal. “A arte urbana é composta por formas expressivas fixadas na rua para provocar e chamar a atenção dos transeuntes. O objetivo é levar as pessoas a refletirem sobre os outros sentidos presentes na cidade, além dos econômicos e comerciais”. Para a professora, a presença do objeto artístico nos espaços públicos é fundamental por possibilitar a facilidade de acesso e uma nova compreensão do trabalho exposto. “Quando uma obra está na rua, ela se volta diretamente para o público, deixa de ser disponível somente para um grupo restrito, para atingir uma quantidade imensurável de pessoas. Na rua a arte está apta a dialogar de forma mais direta com as pessoas, com a arquitetura, com o espaço urbano e com os interesses sociais”. 09

10

01 Caio Rodrigues “Adorando” 02 Deia Quintino “Música“ 03 Deia Quintino “Tempo“ 04 Leonardo Mathias “Entremeios“ 05 Madu Dorella “Quadrilhe“ 06 Nancy Mora “Dois feridos“ 07 Nati Loureiro “Bike“ 08 Rodrigo Magno Vieira “Máquina de cor” 09 Sônia Burgareli “Arara Vermelha do Brasil“ 10 Tatiana Tameirão “Bubles“

11

12

11 Tatiana Tameirão “Dans Ma Fenêtre“ 12 Thais Conde “Germinação“



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arte & companhia

01

Rogério Fernandes por danilo borges

No ateliê de Rogério Fernandes, situado numa tranquila rua da zona sul de Belo Horizonte, tudo parece ter a marca do artista. Além de ocuparem as dezenas de telas espalhadas pelas paredes, as gravuras de Fernandes, conhecidas por suas referências à cultura nordestina, ilustram copos, peças de vestuário, garrafas decorativas e até a geladeira do espaço – que ele resolveu pintar “só por diversão” numa noite, enquanto bebia com amigos. Com formação em design e pós-graduação em gravura, Rogério se considera um artista pragmático: aprendeu, desde cedo, a lidar com o mercado e a utilizar a arte como forma de agregar valor aos produtos. Por isso mesmo, o artista já foi solicitado para produzir estampas para bolsa, ilustrações para chinelo de dedo, embalagem de café e até a fachada de prédios da capital mineira. Ao som de sucessos do rock dos anos 80 e hits do grunge da década de 90 (o artista costuma pintar com trilha sonora), Rogério conversou com a revista iDeia sobre a carreira, o design e as relações entre arte e produto. Como foi o começo de sua carreira? Comecei trabalhando como designer. O design começou muito cedo na minha vida, foi à primeira faculdade que fiz. Cheguei a trabalhar numa época em que design era bem conceitual, um trabalho mais artístico, de pesquisa etc.. Estudei na Fundação Mineira de Arte (FUMA, hoje foi uma experiência muito boa, pois o design e a arte ensinados na antiga FUMA fugiam um pouco do ensino de artes plásticas convencional, em que se ficava apenas no estudo da história da arte, movimentos artísticos, técnicas. A arte às vezes é muito acadêmica.

Fotos: arquivo pessoal

UEMG), então ligada à Escola de Artes Plásticas. Essa


arte & companhia 01

02

Teaser da ilustração para embalagem do novo produto da marca Café Barão. 02

Rogério Fernandes, durante a criação de uma das obras da série “Chanel do Sertão”, que esteve em exposição no “beChic loft”, em Madrid. 03

Fotos: Emília Brandão

Detalhe da tela pintada por Fernandes para a mostra “wallmania”, que acompanhou a turnê “The wall”, do baixista Roger Waters, ex-Pink Floyd. 04

E o design?

e escritório também me ajudaram muito,

O design é mais prático. Os acadêmicos

pois aprendi como funcionava o mercado,

no Brasil se concentram em estudar

como atender um cliente, ou seja, a ser um

muito as diferentes escolas e acaba

profissional como outro qualquer.

não sobrando tempo para explorar, na universidade, a criatividade como artista.

Muitas vezes o artista plástico é visto como

Por isso, sou muito grato por ter caído no

um verdadeiro “autista”, alguém que vive

design. Trabalhei por muito tempo com

isolado, sujo de tinta, pintando. Acho esse

design e foi uma experiência boa, porque,

estereótipo muito estranho, já que, na

além de tudo, foi uma forma de conseguir

história da arte, os grandes artistas foram os

ganhar dinheiro mais rápido, o que não é

pragmáticos: Picasso, Matisse, entre outros.

fácil nas artes plásticas.

Picasso nem tinha galeria. Ele pintava em casa, vendia as obras e tomava conta, ele

Quais foram suas primeiras experiências

mesmo, da sua carreira.

profissionais? Eu fazia ilustrações. Desde criança

Quando resolvi retomar minha carreira

eu sempre desenhei e acabei me

de artista, decidi estudar fora, fazer pós-

descobrindo como artista de forma muito

graduação em Londres. Quando voltei,

empírica: fazendo trabalhos de design,

continuei fazendo trabalhos de design, mas

rendering etc. Comecei num escritório de

com menor frequência. E ser pragmático

design com 17 anos.

me ajudou bastante nesse começo. Montei, com amigos, um ateliê em São

Quando você começou a migrar do design

Paulo, comprei uma prensa de gravura,

para as artes plásticas?

que ninguém aqui usava, comecei a fazer

Quando eu voltei para Belo Horizonte,

palestras e cursos sobre gravura, etc.

depois de um tempo fora, há uns 10 anos, foi aí que as coisas começaram a

Aliás, meu primeiro produto de arte foi

acontecer. E eu sou muito grato à cidade

a gravura, que é uma reprodução de

por isso. Minhas experiências em agência

uma matriz, que tem uma série cara de

Pinguins de geladeira assinados pelo artista, criados para o dia das mães.


arte & companhia

pág. 72

produto. É mais barato comprar uma

contrato de exclusividade com uma

a cabeça”. Essa peça tem um conceito

gravura do que uma obra, que é única.

galeria, mas só valia para obras únicas.

de design muito forte e, ao mesmo tempo,

Quem não tem condições de comprar

E não é fácil depender das vendas de

é uma obra de arte, porque é assinada,

um quadro, pode comprar uma gravura

galeria. Gravuras e produtos foi uma

única. Eu poderia pegar essa garrafa e

assinada pelo artista. Quando comecei

brecha que encontrei, e resolvi investir nisso.

vendê-la a uma empresa de design para

a fazer as gravuras e pensei: “tenho

que eles a reproduzissem mil vezes. Vejo

que criar alguma coisa para carregar

Você pode citar alguns produtos?

a aplicabilidade dos meus trabalhos em

as imagens, preciso de umas pastas”.

Fiz pinguins para o Shopping Del Rey,

produtos como uma tridimensionalização

Aí desenvolvi umas pastas legais para

ilustrações para as havaianas, estampas

do meu trabalho. Porque geralmente meu

colocar a gravura, comecei a cuidar da

para a Ador, exposições temáticas do

trabalho é muito 2D.

embalagem do produto, que também é

dia dos namorados para o Diamondmall,

muito importante.

champanheira para o BH Shopping...

Foi nesse período que você começou a

Quais são os desafios de se fazer arte em

Acho que a arte nos produtos é uma

investir em outros produtos?

outros suportes?

coisa que surpreende as pessoas. O

Sim. Isso aconteceu em 2004, mais ou

Para mim, produto é uma plataforma

design no Brasil ainda é muito pobre em

menos. Nessa época também montei meu

como outra qualquer. Às vezes são

embalagens. O design de produto é mais

site. Fizemos um projeto grande, investimos

até mais interessantes, porque têm três

avançado, sobretudo o design oriundo

bastante para comprar os papéis.

dimensões. Apesar de trabalhar com

da arquitetura, como o trabalho dos

escultura, minha formação, meu estilo,

irmãos Campana, por exemplo. Esses são

Trabalhávamos com serigrafia,

é muito gráfico. Sou muito simbólico,

mais vanguarda. O problema é que o

xilogravura, litogravura. Aí pensei em

figurativo. Então é como se meu trabalho

mercado nacional demanda pouco dos

aplicar também em produtos. Comecei

fosse “aplicado” ao produto. Como essa

designers. Além disso, como competir

a fazer copinhos de cachaça, camisetas

garrafa de saquê, que pintei à mão. É

com o design japonês, por exemplo,

etc., tudo em edições limitadas e

uma obra de arte, mas também é um

que faz parte de uma cultura milenar

assinadas, como obras de arte mesmo,

trabalho de design. Fiz a garrafa, botei

extremamente ligada à estética? No

e coloquei à venda no site. Tinha um

numa caixinha e dei o título “o saquê faz

Japão, compor à mesa para o jantar é

Como a arte pode contribuir para os produtos?

Fotos: arquivo pessoal

03


pág. 73

arte & companhia

um verdadeiro ritual, enquanto o brasileiro

até usar o estúdio de um amigo para fazer

costuma colocar tudo meio “de qualquer

as imagens em alta definição, quero fazer

jeito”. Temos uma cultura que ainda não se

um filme meio “vanguarda”. Pensamos

ateve para a importância da estética, em

em filmar não só o processo de criação,

toda a vida da gente. Porque a estética é,

mas também de produção, impressão,

inclusive, uma questão de saúde.

montagem da embalagem, enfim, uma espécie de vídeo institucional diferenciado.

Recentemente você foi procurado para fazer a embalagem dos produtos de uma

Mas é claro que esse é um trabalho

marca de café em pó?

diferente, que exigiu muita pesquisa, pois

Quando me procuraram, todo meu

é um trabalho de arte que precisa ser

trabalho nessa área eu faço questão de

aplicável ao produto. Foi preciso pensar

assinar. Porque em trabalho de design

onde ficará cada um dos elementos da

muitas vezes não se dá o crédito ao

embalagem. E tudo foi feito em tamanho

artista. (...) Sempre achei isso um absurdo

real: quero que a tela vire uma grande

porque muita gente vê um trabalho legal

matriz, na qual só será preciso inserir as

de ilustração e acha que foi o escritório

informações, marca e pronto.

de design que criou porque não está assinado. E foi o escritório que contratou o

E as expectativas?

artista para ilustrar. Por isso, nada mais justo

São as melhores possíveis. Acho que esse

que dar o crédito ao artista.

trabalho terá um retorno muito grande não só para mim, como artista, mas para a marca

Quando me procuraram para fazer a embalagem de um novo produto do Café

Café Barão. Acho que vai ser muito legal. 04

Barão, achei uma ideia do c..., porque encomendar um trabalho desse a um artista já é um grande passo. Como eu irei assinar a embalagem, como faço com todos os produtos que ilustro, pensei em pintá-la segundo a visão que tenho do Café Barão. Por isso, propus uma ideia que o pessoal topou de imediato: quando me disseram que enviariam as referências de imagem, de cor etc., pedi a eles que não me enviassem nenhuma referência visual. Queria apenas palavras. Café não é sentido? Pois eu precisava era de referências de sentido: “natureza”, “especiaria”, “aroma”... queria palavras que remetessem ao “sentido” da embalagem. Não queria ficar influenciado por qualquer aspecto visual. Afinal, penso que quando me contrataram, queriam que eu colocasse minha visão pessoal sobre o produto da marca. Essa é, inclusive, a diferença entre o design e a arte aplicada ao design.

Para criar a ilustração, resolvi ampliar a embalagem, colocá-la numa tela e pintar como se fosse um quadro. Nunca vi nada parecido e, por isso filmei todo o processo, fazer uma espécie de making of. Pretendo

Foto: arquivo pessoal

E como foi o trabalho?


pág. 74

Projetos

Realidade virtual a

serviço da indústria por danilo borges

Para auxiliar no desenvolvimento de novos projetos, multinacional investe em sala de projeção 3D Reunidos numa sala, diretores de uma empresa observam a projeção tridimensional de uma determinada região e avaliam a viabilidade de um novo empreendimento no local. Vestindo óculos para visualização em três dimensões, os executivos têm diante dos olhos uma reprodução virtual do ambiente no qual pretendem investir: topografia, estradas, cobertura vegetal – tudo está ali representado como se eles estivessem a observar pessoalmente o cenário. cada vez mais comuns nos cinemas. Mas a tecnologia empregada nessa sala – utilizada por uma multinacional brasileira, que prefere não se identificar – vai muito além da utilizada pela indústria cinematográfica. Desenvolvida pela norte-americana Virtalis, o activewall é um sistema que combina projetores e softwares de última geração para criar reproduções as mais fidedignas possíveis de ambientes reais. O objetivo, segundo a companhia, é facilitar a visualização de projetos industriais, geológicos, de design etc., substituindo as tradicionais apresentações de slides (em duas dimensões) por simulações em realidade virtual.

Tecnologia e design de ambientes Para funcionar corretamente, a projeção em realidade virtual não depende só dos equipamentos desenvolvidos pela Vitralis. Foi preciso projetar ambientes que atendessem a condições específicas de iluminação e acústica, tarefa encomendada ao escritório Lazuli Arquitetura, de Belo Horizonte. Além da sala de exibição, foram projetadas uma cabine de operações, um depósito e uma antecâmara.

Foto: Ludimila Loureiro

A experiência tem certa semelhança com os filmes em 3D,

Sala de realidade virtual.


Projetos

pág. 75

Todas as paredes foram executadas em drywall – estruturas

no funcionamento do projetor, optou-se por fazer tudo com

de aço galvanizado e chapas de gesso acartonado –,

lâmpadas de LED (diodo emissor de luz) e fibra ótica.

preenchido internamente por lã de vidro, calculado para proporcionar o isolamento acústico da sala. O drywall

Na sala de exibição, a iluminação principal é feita por

foi a solução encontrada para atender ao cronograma

três luminárias, uniformemente distribuídas, compostas

elaborado pela empresa: todo o projeto deveria ser

por lâmpadas tubulares e PAR 30, ambas em LED, para

executado em, no máximo, dois meses.

proporcionar uma iluminação mais intensa, adequada para reuniões. Fitas de LED, instaladas nas sancas que

De acordo com Mariluce Duque, que coordenou o

contornam o perímetro da sala e nos painéis difusores,

trabalho, o projeto luminotécnico foi um dos maiores

iluminam o ambiente de forma indireta, ideal durante

desafios: “tivemos que desenvolver um projeto que pudesse

as projeções. No corredor que forma a antecâmara –

criar vários cenários em um só ambiente. Tivemos que

projetada para reduzir as interferências do ambiente

pensar numa iluminação capaz de atender tanto a uma

externo na projeção quando alguém entra ou deixa

reunião – ocasiões em que a luz precisa ser intensa – quanto

a sala –, optou-se pelo chamado “céu de estrelas”,

a uma projeção em 3D, quando a luminosidade pode

formado por dezenas de pontos de fibra ótica instalados

prejudicar a visualização”, explica a arquiteta. Como os

no teto. Todo material (luminárias e assessórios) foram

reatores utilizados em lâmpadas comuns poderiam interferir

fornecidos pela Templuz.


pág. 76

Projetos

por Michael Eudes Pode parecer controverso, mas no escurinho do cinema o projeto de iluminação é fator fundamental O cinema é a sétima arte. Portanto, é justo que o espaço onde são exibidos os filmes também seja uma obra de arte. Exemplo disso são as novas salas do Cineart, presentes no Minas Shopping, em Belo Horizonte. Projetado a partir de um estilo de arquitetura contemporânea, o novo ambiente agrega conforto, beleza e sofisticação, para deixar relaxados os espectadores da telona. A demanda para que o ambiente de exibição de filmes do Minas Shopping fosse reformado veio da necessidade de atender à região populosa onde o mall se localiza. Modernizar o espaço foi fator preponderante na solicitação do empreendimento, como explica Lucio Otoni, gerente do Cineart. “Precisávamos de um projeto inovador e confortável, com alguns diferenciais das outras salas de exibição da cidade. É necessário um ambiente confortável, com inclinação ideal e com uma logística de foyer, para que o cliente sempre conseguisse transitar com muita tranquilidade”, detalha. As novidades no local são muitas: tela EX WALL — que vai de uma parede a outra, com campo de visão muito maior para o espectador, salas de projeção digital 2D e 3D, poltronas de couro e conforto nas filas, além de ingressos vendidos pela internet. Já no lado estrutural de construção do espaço, a opção foi por um estilo contemporâneo, visando proporcionar maior

Foto: Renata Luisa

ecológico, banheiro família, amplo foyer para maior distribuição


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Projetos

Foto: Renata Luisa

Eficiente e econômica, a tecnologia LED foi a escolhida para compor o novo Cineart do Minas Shopping.

comodidade aos usuários. O fácil acesso às salas

Ao construir esse ambiente, avaliamos duas

e a preocupação com o isolamento sonoro e

tecnologias disponíveis no mercado. Trata-se da

tratamento acústico também foram

fibra ótica e o LED, que foi o sistema adotado. O

aspectos presentes no projeto, segundo o

kit é composto de um cristal iluminado por uma

arquiteto João de Paula. “O Cineart solicitou

lâmpada em cada ponto. A distribuição dos

que fizéssemos o melhor projeto de iluminação

cristais é aleatória no teto, sempre obedecendo

e que, ao mesmo tempo, fosse econômico e

à área de cobertura para que o céu não fique

adequado às reais necessidades das salas de

nem muito cheio ou excessivamente vazio.

cinema”, revela. “A maior dificuldade foi alinhar as Em parceria com a Templuz, o desenvolvimento

especificações dos produtos LED ao tempo

da reforma ocorreu de maneira satisfatória.

de obra. Foram quase dois anos trabalhando

Segundo Paola Duarte, lighting planner

neste projeto e, como esse tipo de tecnologia

da Templuz, “a proposta do projeto de

está em desenvolvimento mês a mês, surgiam

interiores sugerida pelo João de Paula era

novos produtos com novas possibilidades.

algo inusitado e totalmente diferente dos

Tudo isso implicou em uma intensa pesquisa de

cinemas existentes em Belo Horizonte. Para

fornecedores que oferecessem o melhor custo

acompanhar essas singularidades, foi decidido

benefício”, analisa a lighting planner.

ousar nas especificações de iluminação em

Após trabalho árduo, os resultados parecem

que a mesma integrasse e valorizasse a obra.

ter agradado tanto os espectadores quantos

Para isso, utilizamos bastante a tecnologia LED

os responsáveis pela reforma. “Recebemos na

disponível no mercado para causar impacto

loja, constantemente, clientes que comentam

na sensação do espectador”.

sobre o projeto e querem saber quais as especificações dos produtos que foram

Para o incremento do hall aplicamos o modo

utilizados para adotar em projetos residenciais”,

de iluminação em forma de céu de estrelas.

conta Paola Duarte. Já na visão de João


Projetos

Foto: Renata Luisa

pág. 78

Céu de estrelas criado com LED e fibra ótica para causar sensação de leveza.

de Paula, o casamento entre arquitetura e iluminação deu muito certo: “O resultado

A repercussão realmente foi imediata, pois apenas no

superou expectativas. O foyer do cinema tem

primeiro mês de operação, quase 100 mil espectadores

sido considerado pelos frequentadores como

passaram pelas novas instalações. “O objetivo de dar

um dos mais bonitos da cidade, principalmente

aos clientes conforto e sofisticação foi cumprido com

pelo céu de estrelas, pois as lâmpadas LED

grande êxito, já que recebemos elogios da equipe

criam reflexo no piso, causando sensação de

do shopping e, principalmente, dos frequentadores”,

leveza. Com certeza, as luzes do local foram um

conclui o arquiteto João de Paula.

dos elementos que mais contribuíram para o sucesso do trabalho”.


pág. 79

Ação social

por Clarissa damas Abílio Coelho tinha um sonho. Construir uma casa para abrigar crianças e adolescentes com paralisia cerebral e tratá-las apenas com doações e trabalho de voluntários. Treze anos atrás, esse sonho parecia distante, impossível. Mas Fernando Pessoa disse que “o homem é do tamanho de seu sonho”, e Abílio era um homem Grande. Ele lutou, batalhou e conseguiu um terreno no bairro Jardim Laguna, em Contagem. Conquistou a construção da casa, tijolo a tijolo, e conseguiu ver seu sonho realizado. Abílio inaugurou a sede do Projeto Assistencial Novo Céu, no dia 12 de dezembro de 1998. Dois meses depois da inauguração da casa, Abílio faleceu. Entretanto, seu sonho continuou vivendo por meio do trabalho de voluntários que se apaixonaram pela causa e decidiram levar adiante o projeto já iniciado. Atualmente, a casa cuida de 80 crianças, adolescentes e adultos que são totalmente dependentes do Novo Céu. De acordo com Cioli Stancioli, arquiteto e um dos voluntários no projeto, desde a fundação da casa, pais fazem filas pedindo para que seus filhos possam integrar a instituição, mas apenas aqueles cujas famílias não têm a mínima condição financeira ou emocional é que podem ser recebidos. “É uma questão matemática, temos que respeitar o espaço e a qualidade de vida dos que estão aqui. Oferecemos remédios, comida, cuidados de higiene pessoal, assistência médica e odontológica, fisioterapia e aulas de natação. Oferecemos uma vida melhor.


Ação social

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Fotos da estrutura fisica da instituição, como, fachada principal, carrinhos de locomoção, consultório odontológico, cozinha, rampas de acesso suave, lavanderia, telemarketing, entre outros. Fotos de Carlos Olímpia

Queríamos ampliar a capacidade da casa, mas não temos condição no momento”, explica o arquiteto. Atualmente, o Novo Céu recebe ajuda de várias formas. Todos os anos, é realizado um bingo beneficente no Iate Tênis Clube, em Belo Horizonte. O espaço é cedido pelo Iate e recebe cerca de 1500 pessoas. Além disso, são feitos bazares periódicos com objetos doados pela população e ofertados à comunidade da região. “Recebemos roupas, eletrodomésticos e objetos de uso pessoal, que são revendidos a preços baixos para quem mora no entorno do Novo Céu. Assim, ajudamos em dose dupla”, conta Cioli. O projeto precisa ainda de doação de tempo. “O principal é a ação voluntária. Precisamos de médicos, enfermeiros, dentistas, educadores e profissionais de diversas áreas que queiram nos ajudar na demanda diária da casa. Pessoas que querem apenas conversar ou dar carinho as crianças também são muito bemvindas”, conclui o arquiteto.


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Ação social Necessidades do Projeto Dietas Isosource1.5 Ensure Trophic Basic Nutranon1.5 Nutren1.0 Peptamen Nutri Enteral 1.0 Nutri Soya Materiais Fraldas geriátricas tamanho P/M/G; Fraldas desc. Tamanho Extra G Infantil; Luvas de procedimento tamanho M; Fita crepe; Gaze estéril e não estéril; Micropore 3M(25x10); Mucilon de milho/ arroz; Leite integral; Erva doce ou camomila;

Carlos Roberto Mirachi, diretor presidente voluntário e Cioli Stancioli, voluntário

Com um custo mensal médio de cada paciente em torno de R$ 1.500,00 e ainda contas a pagar como água, luz, e salários de funcionários da limpeza e manutenção, a despesa do novo céu é alta. “Precisamos muito de ajuda, de qualquer tipo de ajuda, para podermos continuar exercendo esse trabalho. Seja com doação de objetos ou alimentos, tempo ou dinheiro, o que faz o Novo Céu continuar é a solidariedade das pessoas. Contamos com isso e fico feliz em dizer que nosso projeto deu certo”, conclui o arquiteto.

Soja; Farinha láctea; Aveia; Neston; Gérmen de Trigo; Nutrilon; Xampu neutro; Desodorante s/ perfume; Sabonete branco; Sabão em pó; Sabonete Líquido; Cera Líquida Incolor; Toalhas de papel para banheiro; Doações diversas para o bazar (roupas, sapatos, móveis, eletrodomésticos em

apoio da família Toda criança precisa e tem direito a receber carinho da família. Por isso, no Novo Céu, pais, tios, avós, primos e amigos visitam os internos com frequência. “Aqui não tem regra quanto à visitação. Alguns pais trabalham o dia todo e só podem vir nos finais de semana, outros têm mais tempo e conseguem vir todos os dias. O que vemos é um grande empenho das famílias com as crianças, ninguém aqui fica em situação de abandono”, explica Cioli. Além das famílias, o novo Céu desenvolve ainda uma parceria com o Colégio Santo Agostinho. Alunos da instituição vão ao local, conhecem os internos e desenvolvem atividades com eles, no intuito de estimular tanto as crianças com paralisia cerebral, no sentido do desenvolvimento motor, quanto o senso de solidariedade e responsabilidade social entre os alunos do colégio.

bom estado, entre outros).

Outras formas de ajudar Através das contas COPASA/CEMIG, boleto bancário, carnês bancários (6 e 12 meses), apanha financeira, Projeto FIA (Fundo para Infância e Adolescência).

Contato: Karina Militão / Juliana Nobre Assessoria de Comunicação (31) 3368-6860 Site: http://www.novoceu.org.br


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artigos

O DESIGN

no cotidiano por Rita Ribeiro

Até há bem pouco tempo, não se falava em design. A não ser que quiséssemos nos referir a um modelo novo de carro. Então, em pleno século XXI, o termo começou a entrar em nossas vidas. Hoje existem designers de sobrancelhas, hair designers, personal designer. Mas de onde saíram todos? Na verdade, estamos cercados pelo design, praticamente, desde o momento em que acordamos. Certamente, nossas camas, colchões e mesmo os lençóis, foram projetados por profissionais que pensaram nos materiais, na ergonomia e nas tendências da estamparia. Se seguirmos o nosso percurso ao longo do dia, o modelo de chuveiro, a cafeteira elétrica, o nosso laptop e, fatalmente, o carro têm o trabalho de dezenas de designers por trás de suas concepções. E só chegamos no começo da manhã! Exatamente pelo fato de estarmos cercados de design, não nos damos conta de sua presença no cotidiano. Ou melhor, só nos apercebemos quando ele faz falta. Quem nunca reclamou de uma cadeira que é incômoda ao sentar, de um equipamento que se quebra com facilidade? Esses são todos projetos que carecem de um bom profissional para pensá-los. Mas o design não se restringe apenas aos objetos. Nossa forma de vestir também é influenciada por ele. Já observou como a cada estação são eleitas cores da moda? Em uma estação dominam os tons pasteis, em outra os cítricos. Cada tendência, que acaba por influenciar não apenas as roupas, mas calçados, maquiagem etc., advém de um estudo feito também por designers.


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Ao andarmos pela cidade, podemos

ser usado e modificado pela atividade

observar como as distintas tribos urbanas se

humana. Na transição para o processo

comportam. Os skatistas, os garotos ligados

de industrialização criou-se então o termo

ao hip-hop, os roqueiros, os mods. Cada

produto, compreendido como um artefato

tribo urbana se revela, em primeiro lugar,

funcional, que age como uma ferramenta

pelas roupas que veste. O design de seus

útil na realização de tarefas. Ou seja, sem a

tipos é fruto de escolhas que têm a ver

intervenção do homem, não existe design.

com estilo musical, estilos de vida, definitivamente influenciados pelos design.

Os produtos foram se modificando,

Da mesma maneira, os artefatos que

principalmente, ao longo do século

escolhemos para compor nossas casas. O

passado, pois o desenvolvimento

design revela nas nossas escolhas, nossa

tecnológico foi determinante para as

personalidade. Casas mais clássicas, casas

transformações em diversos campos,

totalmente high tech.

inclusive no conceito de produto. A produção de bens deixa de lado seu

Mas como podemos entender o que é o

caráter apenas utilitário e começa a

design? O termo é objeto, ainda hoje, de

incorporar valores intangíveis. Os valores

discussões. Uma infinidade de definições

sociais tendem a ser traduzidos a partir de

foi utilizada ao longo dos séculos (sim

nossas escolhas de consumo e os objetos

séculos!) para descrever a tarefa do

retratam essas opções e criam também

homem de pensar, projetar e transformar

uma identificação com determinados

materiais em artefatos. Enquanto o objeto

modos de vida.

pode ser entendido como algo material, que pode ser visto e tocado, o artefato

Os objetos, cada vez mais, dizem quem

constitui-se como aquilo que é feito para

somos e como nos portamos frente ao


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mundo. Curiosamente, nossas escolhas, além de dizer quem somos também pretendem transmitir como queremos ser vistos pelos outros. Hoje vivemos um fenômeno denominado de hiperconsumo. Nunca tivemos acesso a tantos bens, com tamanha diversidade de escolhas como atualmente. Consumimos numa velocidade muito maior que o tempo de uso dos objetos. Ao entendermos o design como um processo de pensar, projetar e fabricar artefatos, a associação entre design e cultura permite-nos compreender parte dos mecanismos da organização social de uma determinada sociedade. A utilização dos artefatos criados pelo homem possibilita entender sua forma de estar no mundo, os valores e hierarquias sociais. Desde os primórdios da humanidade, alguns artefatos trazem atrelados a si, valores que lhes conferem um sentido para além do simples caráter utilitário. Assim, podemos interpretar esculturas sagradas, representações de santos, coroas que distinguem a realeza do homem comum. Hoje, no entanto, outros produtos conferem valor a seus usuários. Uma calça jeans de determinada grife, ou um celular de última geração são exemplos cotidianos de distinção social que agora é determinada mais pelos objetos que possuímos. E uma das tarefas do design é essa: criar vínculos com os objetos. Assim, ao escolher um determinado produto, é o design que está em ação: seja na funcionalidade, na aparência ou na embalagem. Quantas vezes compramos um produto apenas pela embalagem, que é linda, e fazemos questão de guardá-la por muito tempo? A atividade do design busca entender o que o consumidor deseja e como concretizar esse desejo em forma de produto. Por isso, temos tantos produtos e tantas opções de escolha. No entanto, cabe também ao designer pensar que produtos realmente são necessários, pois o consumo desenfreado nos convoca a pensar que nossas atitudes corroboram para a destruição da ida em nosso planeta. O design pode criar produtos menos prejudiciais e, ainda assim, lindos! Esse é um dos desafios que designers do mundo todo vêm enfrentando. Entender o design em nosso cotidiano parece uma tarefa simples, mas não é, pois ele faz parte de, praticamente, tudo o que fazemos. Mesmo de forma não intencional, nossas opções acabam sendo induzidas por ele. Por isso, tambémé importante pensar em como os produtos são fabricados, como poderemos desfrutar melhor deles. E quando se deparar com designers de diversas coisas, não se assuste, pois esse mundo, cada vez mais, é regido pelo design!



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artigos

por Inácia Soares Vejo muitas equipes entrarem em salas de reuniões com a missão de descobrir o furo que levou ao insucesso de uma estratégia. A conversa é sempre tensa, pois é preciso encontrar os culpados. Cada departamento coloca seu plano de metas na mesa, explica as ações que foram implementadas e confere os resultados. O primeiro é o Marketing, claro. Depois, o Comercial. Em seguida, a produção e depois a logística. O Departamento Financeiro costuma ficar só assistindo, como se não fizesse parte da execução do plano estratégico - mas isso é assunto para outro artigo. Não há como os gerentes evitarem o estresse de um momento desses. A carga emocional é forte. O processo de caça às bruxas é uma prática comum nas empresas brasileiras. Saber que o mal teve origem em apenas um departamento deixa a organização a salvo de uma derrocada geral. Apesar desse procedimento de buscas ser doloroso, e de causar uma instabilidade perigosa na equipe, ele permite que a empresa se mantenha no controle e estanque o mal que fragiliza a gestão

Depois da rodada em que todos apresentam seus argumentos, e se defendem, começa um esforço conjunto entre os gerentes que se unem para encontrar os pontos falhos na estratégia. Onde a percepção estava errada? Aquela tendência não se confirmou? Que comportamento do mercado nos surpreendeu? O que deixamos de fazer?

Ilustrações: Janaína Belchior

do negócio.


artigos

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Se gasta um bom tempo especulando sobre

Não é praxe, mas o designer responsável por

os furos do planejamento. Esse exercício de

esse projeto só se sentiria realizado quando

analisar o planejamento e tentar encontrar

visse o produto nas lojas e, de preferência,

as possíveis falhas seria até muito interessante

conquistando a preferência do consumidor.

se não tivesse sua origem no lugar errado:

Pois lá foi ele visitar a maior loja da rede

na certeza de ter havido um erro. Até que

daquele cliente. Quando chegou, procurou

existe uma boa dose de aprendizado na

pela poltrona que ilustrava a campanha, a

instabilidade. Quando temos que rever nossos

peça-chave de todo o projeto de design.

argumentos, eles tendem a se fortalecer se

Encontrou? Não. Não estava na vitrine e

forem devidamente fundamentados, ou

nem nos pontos de destaque da loja. Onde

podem parecer tolos, se tomados em uma

estaria a poltrona que personificava toda

análise precipitada.

a ideia da nova fase daquela indústria?

Após essas reuniões de confronto e análise,

Curioso, o designer perguntou a uma

nem sempre as empresas encontram a causa

vendedora, sem informar que ele era o

do insucesso da estratégia e tendem a debitar

autor do projeto, onde estava a peça que

esse custo sobre a cabeça de um gestor ou

ilustrava a campanha de comunicação que já

simplesmente colocam esse custo na conta do

chamava a atenção pelas ruas. Primeiramente,

imprevisível ser chamado mercado. Se o gestor

ela não se lembrou que peça era aquela.

sair perdendo, será demitido. Se o algoz for o

Depois de uma certa mímica e de quase ver o

mercado, serão ouvidas lamúrias contra a sorte.

designer desenhar no ar o modelo da poltrona, a vendedora fez uma expressão de quem

Se o problema não está na estratégia, onde

entendeu e foi em direção ao fundo da loja.

estará então? Vou suscitar uma afirmação

Fez sinal para o designer lhe acompanhar.

do grande consultor de empresas

Sabe onde estava a poltrona-símbolo da

considerado o pai da Administração

campanha publicitária? Escondida no fundo

Moderna: Peter Drucker. Ele disse que

da loja. Quando o designer perguntou qual a

“O mais importante na comunicação é

razão para aquela posição tão escondida, a

ouvir o que não é dito”. E por que trago

vendedora respondeu com toda a segurança:

essa provocação ao meu artigo? Para

“A coleção antiga é mais bonita”.

lembrar que a comunicação também faz parte da estratégia, mas as empresas não

O que temos nesse exemplo? O fracasso de

costumam se lembrar disso. Por traz de

uma estratégia comercial e de marketing

muitos erros empresariais, ou de estratégias

que tentou ampliar o share e fortalecer

aparentemente mal-sucedidas, pode haver

a marca, mas que foi reduzida a pó por

uma comunicação atropelada.

falta de comunicação. O design era ruim, o produto era mal feito, a loja era mal

Cheguei ao ponto que queria: cutucar as

localizada, a marca era desconhecida ou

empresas e convidá-las à reflexão. Para isso,

o catálogo ficou mal feito? Nada disso.

conto uma situação real que aconteceu com

Apenas faltou comunicar à equipe a nova

um designer que foi contratado para revitalizar

estratégia da empresa. Se a vendedora

a linha de produtos de uma indústria de móveis

tivesse sido treinada, se ela entendesse que

de médio porte. Depois de alguns meses de

a empresa havia feito investimentos vultosos

trabalho, e bastante autonomia para emplacar

na expectativa de ampliar as vendas e de

um novo conceito no mobiliário, finalmente, as

aumentar a participação no mercado, é

peças ficaram prontas. Depois das fotos e de

certo que a nova poltrona estaria na linha de

escolher a peça que ilustraria a campanha, o

frente da loja.

catálogo foi para a produção e os outdoors para as ruas. Era chegado o momento de

Erros simples como esse, e fáceis de evitar,

conferir a reação do mercado àquele grande

colocam em risco o sucesso de uma

investimento no design.

estratégia. A mesma situação vive aquela


Artigos

pág. 88

empresa que decidiu reduzir as horas extras,

chega, é um cuidado para aumentar a

mas que não se dedicou a entender as

segurança do trânsito de pedestres e de

razões que levam à extensão do horário

carretas pelo pátio.

de trabalho. Aparentemente, o excesso de demanda ou a falta de pessoal poderiam

No dia em que a equipe de vendas sai para

explicar a situação. Mas somente conhecer

visitar clientes e apresentar as novidades,

a dinâmica do processo de trabalho, as

ninguém confere como cada vendedor

necessidades dos clientes e a capacidade

entendeu as explicações sobre os atributos e

de produção instalada permitirá que o

características do produto. Percepções mudam

gestor tire algumas conclusões. Vi isso

conforme experiências pessoais e níveis de

ocorrer em uma empresa e ao contrário de

conhecimento. Gestores já se dão por satisfeitos

proibir as horas extras, o gestor habilmente

em explicar as coisas do jeito deles. Mas como

mostrou o custo que elas tinham para

será que cada um da equipe entenderá aquilo

a organização e porque deveriam ser

que foi explicado, se a bagagem que cada um

evitadas. A própria equipe buscou mais

traz é individual e inigualável? A solução para o problema não está em

A comunicação é uma das áreas mais

destacar apenas um responsável para a

esquecidas dos negócios. Em geral, ela só é

comunicação, pois ela tem que ser um hábito

lembrada no lançamento de campanhas

de toda a organização. Temos que aprender a

publicitárias, quando o entendimento do

ler os sinais das pessoas e entender que somos

mercado em relação a um novo produto ou

desiguais na forma de entender e interpretar.

serviço é crucial para o resultado.

E jamais devemos nos esquecer do óbvio:

Mas, no dia a dia de uma empresa, ninguém

cada cabeça, uma sentença. Essa expressão

confere se o porteiro entendeu exatamente

que os antigos usavam muito bem revela que

a importância de receber bem os clientes

antes que a sentença seja dada, na cabeça

e de tentar auxiliar os visitantes a estacionar

de cada de um, a comunicação deverá ser o

corretamente. Além de ser gentil com quem

instrumento da defesa de toda estratégia.



artigos

pág. 90

por Andréa Naccache Há quem diga que a humanidade prospera graças à loucura. Líderes “maníaco-depressivos” seriam mais capazes de unir os povos para construir um futuro. A depressão faria os líderes empáticos aos dramas da vida do povo. A mania faria o líder ter um fluxo intenso de idéias e cultivar utopias, incitando as pessoas ao trabalho dedicado. Falar assim é de uma psiquiatria simplista e ultrapassada. No entanto, o livro de Nassir Ghaemi, formado em Harvard, “A first-rate madness”- “Uma loucura de primeira linha”, circula desde 2011 pelo planeta e recebe créditos. Gostamos de pensar que a criação e a transformação tém uma raiz no tormento e na insanidade. Rondam-nos historietas sobre a agressividade profissional de Steve Jobs, de Anna Wintour, de diretores de teatro e cinema, de publicitários do horário nobre, com sua magia fazedora de vendas. Talvez ainda sejamos um pouco medievais. Ou desconfiamos dos benefícios da normalidade. Qualquer pessoa mais vivida sabe que as reviravoltas políticas

e

tecnológicas

andam

juntas,

e

mexem

nos costumes, deixando nas ruas uma sensação de anormalidade. A cada avanço, temos menos certeza do

O mundo normal tem divisões estáveis por geografia, classes,

línguas,

culturas,

tribos,

funções.

O

fato

extraordinário é que nos comove a reimaginar a vida e ser receptivo à visão do outro. O que une a humanidade, afinal, é a anormalidade.

Foto: arquivo pessoal

que pensar, de quem ouvir, em quê trabalhar.


artigos Mas a anormalidade que agrega os povos

Norte da África - que viveram sua Primavera

e os põe a criar o futuro, data venia,

revolucionária com a legitimidade de

Ghaemi, não precisa ser entendida em

fazerem o movimento juntos, seguros de

termos psiquiátricos. Só uma sociedade

estarem bem acompanhados.

que sobrevaloriza o indivíduo imagina

Há alguns meses, Zuckerberg foi

que a criação e o tormento são obras da

entrevistado sobre as vitórias que ajudou

personalidade de alguém. É ao mesmo

a alcançar nos totalitarismos norte-

tempo romântico e moderno, típico dos

africanos. “Revoluções do Facebook”,

séculos XVIII, XIX, e início do XX, falar em dom

diziam os jornalistas. O menino respondeu

pessoal, em artista e gênio criativo. Ideias de

com a delicadeza de quem reconhece

um tempo que está ficando para trás.

o ponto de vista dos outros: “o Facebook não foi nem necessário, nem suficiente”

O criador já foi considerado especial e, por

para os sucessos das revoluções. Uma

isso, solitário. O corpo consumido no ato

resposta arrepiante para qualquer “estrela

criativo era frágil e adoecia. O criador era

criativa” à moda antiga, habituada a

adulado, temido, protegido. Tuberculoso,

agradecer aplausos. Sinal de que uma

alcoólatra, intratável, caprichoso, sensível,

postura diferente é convocada dos líderes

elevado em sensualidade, incontido

contemporâneos.

em relacionamentos, infinito em amor. A doença e o sofrimento eram quase os

Agente de uma política virtuosa, referência

únicos aspectos que o aproximavam dos

em um mundo em que a anormalidade é

mortais. Fora isso, era comum o descaso

a norma, Zuckerberg responde sem mania,

completo do criador com os problemas

nem depressão. Sem agressividade, sem

da vida e do cotidiano de todos: ele não

créditos pessoais, sem arrogar-se o “gênio”,

ouvia ninguém, não perdia tempo com

sem desprezo pela realização dos outros.

os outros. Ele, em suas ocupações mais

Herói por acaso, diz-se, porque sua rede

elevadas. Mesmo se pisasse nos demais em

social, como tantos outros frutos da era

seu caminho, receberia palmas.

digital, foi um sucesso quase por acidente, na diversão de estudantes – e vale lembrar

Ainda hoje, essa figura está em cena, nos

que assim nasceu também o precioso

palcos, nos congressos internacionais,

sistema Linux, nas mãos de um outro menino

nas televisões, em altos cargos. Se ela

de 21 anos.

um dia comeu brioches em Versailles, agora transita pelas semanas de moda

No mundo atual, quando os agentes

do planeta. Estrela cadente. É grande

criativos vestem moletons (há de ser uma

a chance de que seja atropelada pelos

onda passageira, não?), as duras cenas de

novos tempos.

Meryl Streep e Anne Hathaway começam a ficar fora de moda. O diabo está nu.

Nem necessário, nem suficiente Ele tem 27 anos de idade, é bilionário e a

Grupos criativos

figura central do negócio mais badalado

A questão profissional então será: podemos

dos últimos anos. Um exemplo da

ser radicalmente inovadores sem agirmos

mudança. Hollywood conta sua história.

como Steve Jobs? Sem desmoralizar os

Mark Zuckerberg, criador do Facebook, tem

esforços dos colaboradores, sem demissões

a gratidão dos empresários, dos sociólogos,

de elevador, sem berros na sala da

dos economistas, de quem tem amigos de

presidência?

infância, dos namorados, dos solteiros, dos mochileiros, dos professores, dos agitadores

A crença de que o assédio estimula e

de festas. Talvez, mais que qualquer outra,

motiva é apenas “ilusão de ótica”. Nosso

ele tenha a gratidão dos povos submetidos

pensamento forma sentido sempre depois

a ditaduras, especialmente aqueles do

de colher os dados. Se o técnico gritou


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com a pequena ginasta, e ela venceu as olimpíadas, os gritos passam a ser considerados ingredientes do sucesso. Grande falácia. Estudando grupos criativos da Antiguidade à era da net, vemos alguns elementos cruciais à inovação sempre presentes. Os criadores e suas equipes mantêm diálogo com pessoas estimulantes, fazem laços intensos com o trabalho e seus parceiros, têm recursos e tempo aberto para a pesquisa aleatória, autônoma, com liberdade de tentativa e, especialmente, de erro. A pressão que sofrem é a de fazer um trabalho consequente para o mundo (há quem confunda isso com prazos estreitos), com a certeza de que seus frutos serão avaliados por critérios externos, até imponderáveis. A criação acontece com, sem ou apesar dos gritos dos líderes de projeto - jamais necessários. A rigor, o mérito criativo está em quem tem a doçura de suportar a agressividade na hierarquia. Os homens já foram donos de homens, para premiar e punir: na escravidão ou nos salários. Também já se acreditaram donos de idéias. Agora, não há mais lugar para narcisismo na criação. O criador contemporâneo assume ser levado por alguma “musa”, mais que por seu ego. Ninguém, em um mundo em rede, poderá negar suas influências e referências. As musas contemporâneas chamam-se creative commons, e são evocadas por banda larga. Elas são nossos parceiros globais de reflexão. Porque pensamos juntos hoje, a pós-modernidade nos faz “donos” apenas de nossas realizações e atitudes - em uma era que tende a refinar sua ética. Nas atitudes, vemos bem como as pessoas tocam as vidas de outras. Nasce uma sociedade mais responsável, cuidadosa dos resultados sociais, culturais, econômicos, ecológicos de cada gesto. Estamos cada vez menos donos e mais parceiros. Agora, até as crianças estão atentas. Logo será difícil alguém fazer o diabo, só porque

Foto: arquivo pessoal

Foto: arquivo pessoal

veste Prada.



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