Democracia Viva 22

Page 12

onal Favelas

– além dos

1

“O que é uma favela?” A pergunta foi feita a pessoas de distintos grupos sociais e categorias profissionais, em uma enquete informal. As respostas revelaram opiniões surpreendentemente homogêneas. Com efeito, independentemente da posição política, da condição educacional, da perspectiva ética e religiosa, há um razoável acordo sobre o que seria a favela. Nesse sentido, há, em relação a esse espaço social e geográfico, praticamente uma unanimidade na forma como ele é representado.2 O eixo paradigmático da representação desse espaço popular é a noção de ausência. A favela é definida pelo que ela não é ou pelo que não tem. Nesse caso, é apreendida como um espaço destituído de infra-estrutura urbana: sem água, luz, esgoto e coleta de lixo, sem arruamento, sem ordem, sem lei, sem regras, sem moral, globalmente miserável. É, enfim, a expressão do caos. Outro elemento peculiar da representação usual das favelas é sua homogeneização. Existente em terrenos elevados e planos, reunindo de algumas centenas a milhares de habitantes, possuindo diferentes equipamentos e mobiliários urbanos, sendo constituída por casas e/ou apartamentos, com diferentes níveis de violência e presença do poder público,

1 Adaptação do texto “Um espaço em busca de seu lugar: as favelas para além dos estereótipos”, incluído no livro Território, territórios, publicado, em 2003, pelo Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Este artigo insere-se num processo de formulação coletiva que vem sendo desenvolvido em um projeto institucional deno­ minado Observatório de Favelas do Rio de Janeiro <www. observatoriodefavelas.org.br>. Nesse sentido, cabe ressaltar a valiosa contribuição de Jorge Luiz Barbosa, companheiro de caminhada socioaca­dêmica e interlocutor precioso, em especial no desenvolvimento deste artigo. 2 As representações são, no âmbito deste artigo, compreendidas como construções mentais sintéticas, decorrentes dos vínculos – em variados graus – estabelecidos, no cotidiano, por agentes em múltiplos campos: profissional, político, religioso, comunitário, educacional e/ou outros. Para um maior aprofundamento das diversas formas de se tratar a temática, ver Sá, 1996.

JUN 2004 / JUL 2004

11


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.