Esta publicação é resultado do projeto de pesquisa em arte O Novo Já Nasce Velho: Dispositivos Móveis X Processos Poéticos, premiado na Bolsa de Pesquisa e Experimentação em Arte no ano de 2015 pela Fundação Cultural do Pará.
O trabalho com marrom - técnica fotográfica de cópia e reprodução de imagens que utiliza uma composição mixta de ferro e prata - chegou até mim em março de 2015, na Residência em Processos Fotográficos Artesanais do LABCLUBE [RJ], desde la, o dialogo com dispositivos móveis veio a tona, tornando consciente todo um campo de experimentação pautado na tradução, no hibridismo, entre a fotografia contemporânea e a história da fotografia, entre a tecnologia contemporânea, e a artesania química. O trabalho correu por essas vias. Esse intervalo me pareceu abrir muitas possibilidades de experimentação, seja no que diz respeito a uma pura investigação de linguagem - como inicialmente se propôs esse projeto - seja na associação desta a um conteúdo, a uma mensagem - como no que acabou resultando. Difícil não lembrar de Flusser e no jogo contra o aparelho, de Stieglitz para o qual o laboratório do fotógrafo é como o atelier do artista, de Artget e seu inventário de imagens parisienses, da paris na América dos trópicos em decadence, o velho e o novo se articulam nesses e ainda em outros trânsitos que no fim se configuram apenas como exercícios incompletos, despretensiosos, perigosos e divertidos.
Produzir uma obra, ou um conjunto de obras, e trazer junto o processo para que este pudesse servir de referência a pesquisas futuras. Esse duplo movimento de desejo que moveu desde a escritura do projeto até seu encerramento, me levou a considerar uma certa prática de inventário como modo de operação poética que fluiu em dois sentidos, um primeiro no que diz respeito a um exercício de mapeamento de espaços vagos na cidade de Belém, em muitos casos rastros de uma dita belle époque ou registros de um processo contemporâneo de especulação imobiliária, espaços abandonados que a fotografia de celular somada a técnicas esquecidas pudessem revelar. Segundo, no que diz respeito a catalogação desse processo de experimentação, compilação e organização dos resíduos desses seis meses de pesquisa, subjetivando tanto uma materialidade documental [como nesta publicação] como uma materialidade expositiva. No dia 17 de dezembro, um jogo entre Inventário Técnico X Invenção Poética foi aberto a visitação do público na Casa Das Artes, a exposição resultado do projeto trabalhava uma expografia nesses dois eixos, de um lado um inventário de imagens em marrontipia, do outro uma instalação composta por uma compilação de rastros processuais e itens de laboratório.
Estima-se que “dos mais de 5 mil imóveis no centro histórico de Belém [...] 10% a 12% estão em mau estado, abandonados ou sob risco de desabar” 1, o que significa que 500 á 600 casarões históricos estão ruindo, este dado não considera áreas descampadas, grandes prédios públicos ou privados. A verdade é que não existe um mapeamento que de conta dessas diversas áreas ocupadas. O diário oficial municipal de abril de 2016 nos dá outra pista, quando lista imóveis para os quais foram solicitadas visitas por parte do Departamento de Vigilância em Saúde. A lista conta com 519 endereços espalhados pela região metropolitana 2 . O crescimento do número de áreas ociosas é acompanhado pelo déficit de moradia bem como pelo crescimento das cidades satélites - dormitórios - ao redor da região central. Consequente exclusão dos trabalhadores ao acesso de serviços públicos e bens culturais, entraves no que diz respeito a mobilidade urbana, elitização, higienização e esvaziamento do centro da cidade. Se morar é luxo, ocupar é um direito. A fotografia tem o poder de revelar o visível em potência. A fotografia pode atravessar os muros sugerindo que também nós podemos fazer o mesmo.
------NOTAS 1 http://ormnews.com.br/noticia/imoveisabandonados-colocam-a-capital-paraense-emperigo 2 - https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j& q=&esrc=s&source=web&cd=6&cad=rja&uact=8&ved= 0ahUKEwjp89-Fut_MAhXJhZAKHX99AFkQFgg6MAU&url= http%3A%2F%2Fwww.belem.pa.gov.br%2Fdiarioom%2FbaixarDiario%3Fidd%3D8003&usg=AFQjCNGL3HBAs jSp5f37cl8UtT6-cINsgA
------MAIS IMAGENS EM https://www.flickr.com/photos/138572383@N05/ albums/72157665731865720
-------AGRADECIMENTOS LABCLUBE[RJ], Coletivo Filé de Peixe, Coletivo Câmera Aberta, Moisés Araújo, Ionaldo Rodrigues, Édne Maués, Elton Galdino, Casa das Artes, e a tdxs que estiveram mais ou menos envolvidos com a trajetória que me trouxe até aqui. Há Braços. ------https://onovojanascevelho.hotglue.me/
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