Preview Cap. 01 - O Magnata do Tempo

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DANILO PASSOS

APRESENTAÇÃO DO PRÓLOGO E CAPÍTULO 01 Versão sem detalhes editoriais.



PRÓLOGO

Um Brinde àquele que esculpiu em meu rosto as marcas da vida, modelou em meu corpo as tragédias, revelou em meus olhos as mentiras e mostrou que a vida é um mar de segredos que se une ao oceano das vitórias e fracassos. Um Brinde ao Tempo. MANOEL MARTINS DE MELO



CAPÍTULO I – O VELHO E O TURISTA

ESTAVA LÁ, EM UMA DAS PRAÇAS MAIS movimentadas de Buenos Aires, capital que agrega o passado tenebroso dos regimes militares, ele, um senhor de cabelo branco, com os seus cinquenta e sete anos nas costas, vividos, sem ninguém ter o conhecimento de seu passado. Estava lá, com a mesma sacolinha de sempre, usando os típicos trajes de uma pessoa humilde, cabeça baixa, mas estampavase o sorriso branco em teu rosto. Como de costume, assentava-se no banco da praça, mendigando o pão que o diabo amassou, e pedindo esmolas para sua própria sobrevivência. As portas do comércio começavam a se levantar, os comerciantes olhavam para o mesmo ponto, para o senhor de cabelo branco, mendigando. Alguns desses comerciantes como eram de costume, ia abrindo o seu comércio, esbravejando um “bom dia” para o senhor assentado na praça, que retribuía com um “obrigado”, mas era apenas isto. Ninguém conhecia o pobre senhor, nem tinham conhecimento de seu passado, nem de onde viera.


Alguns temiam a presença dele na praça, o velho adorava crianças, mas os pais não permitiam seus filhos chegarem próximos ao “velho louco” como ficou conhecido. O Velho louco, de louco não tinha nada, apenas era um mendigo como outro qualquer, porém era um mendigo humilde, com trajes organizados e com um sorriso branco como a névoa da cordilheira dos Andes. Nessa rotina ia mantendo a sua própria vida, pessoas passavam por lá, davam-lhe uns trocados, ele retribuía com um “Deus lhe devolva em dobro”, ia juntando os trocados do dia, e quando o sol começava a se por, levantava de seu banco favorito e partia. Para onde ia? Ninguém sabia. Mas no outro dia, ao amanhecer, estava lá novamente, mendigando mais uma vez. Este senhor atendia pelo nome “Manoel”, era somente isso que os comerciantes da região sabiam sobre ele, apenas o primeiro nome e a simpatia que ele tinha com as pessoas embora não conversasse muito com as mesmas. Os comerciantes queriam saber até quando essa rotina ia continuar, pois passara pouco mais de um ano em que ele apareceu na capital, e nunca mais foi embora, porém, ninguém havia ousado investigar o passado do “Velho Louco”, e deixava seu Manoel, tomando conta de sua vidinha simples. Os donos dos restaurantes mais próximos serviam-lhe um café da manhã e um almoço, ele aceitava, e sempre com a mesma resposta: “Deus devolva a vocês em dobro”, uns faziam este gesto de caridade por dó, outros para se exibir, mas a maioria não ousava chegar perto do velho, porque achava que era um bandido disfarçado de mendigo e alguma coisa ruim iria fazer.


Como o mundo é movido de pessoas curiosas, que questionam a sua própria sobrevivência e nesse ritmo descobrem e desenvolvem maravilhas que passam a ajudar a humanidade, surge então um turista, que há pouco tempo hospedara-se em um dos hotéis tradicionais da cidade, e que todos os dias via seu Manoel no mesmo local de sempre. A curiosidade tamanha do turista, fez com que ele pedisse ajuda aos comerciantes locais para investigar o passado do velho, frustrado com a recusa da proposta, decidiu por si mesmo por o plano adiante. Em uma manhã ensolarada de sábado, ele passara pela praça onde seu Manoel estava, sagaz, sentou-se ao lado do velho. As pessoas começaram a olhar espantosas, pois ninguém ousara sentar ao lado de Manoel. O silêncio manifestava entre os dois, e após meados de trinta segundos, o turista tomou atitude. _Bom dia! – disse o turista pronunciando as palavras em espanhol. _Um ótimo dia! – respondeu sorridente o velho. O turista foi além. _O senhor está sempre por aqui? O velho com a cabeça baixa começou a levanta-la. _Estou aqui há mais de um ano. O turista fez uma cara de quem não entendera e o velho continuou.


_Sabe como é... Não tenho para onde ir, então me refugiei nesta praça, onde todos me acolheram de maneira gratificante. As pessoas passavam espantadas, pois a cena era mesmo de se surpreender. _Pelo que vejo não és argentino – arriscou o velho. _Não. Sou um Brasileiro, estou aqui em Buenos Aires faz quase dois meses, vim para estagiar em uma multinacional. _Verdade? Também sou um brasileiro. E você? Fala o português fluentemente? – perguntou o velho pronunciando as palavras em sua língua natal. _Sim, já que o Espanhol é a minha segunda língua, foram anos de aprendizagem - respondeu o Turista em seu idioma natural. O Silêncio percorreu entre os dois, e as pessoas continuavam a passar deixando uns trocados em uma caixa que ficava próximo aos humildes pés do velho. _Deixei minha família no Brasil, em busca de uma vida melhor aqui em Buenos Aires – continuou o turista – imagino que conseguirei um ótimo emprego e poderei trazer meus filhos para morarmos nesta cidade. _Família... – o velho começou a abaixar a cabeça, enquanto seus olhos lacrimejavam. O turista espantado começou a observar a reação do velho.


_O que há demais em „Família‟? – perguntou. _Nada, são lembranças de minha mente – assentiu Manoel – nada com que tenha de se preocupar. O Turista entendeu o espanto do velho, e com a ousadia de investigar seu passado foi além do previsto. _O senhor não tem Família? É isso? – perguntou. Seu Manoel tentou esconder o rosto, mas não foi o suficiente, viu que era preciso falar o motivo de sua reação. _Sim, tenho uma família – respondeu brevemente. O Turista ainda sem entender, continuou. _Se o senhor tem uma família por que ficou sentido quando lhe contei sobre minha família? _Já disse, são lembranças de minha mente, não há do que se preocupar – concluiu o velho. Essa resposta não foi o suficiente. _Vejo em teus olhos que algo lhe incomoda – disse o turista – pode me contar, sei guardar segredo. Após dizer essas palavras, seu Manoel entendera a presença do Brasileiro, que der repente começara a puxar assunto com ele. _Entendi a sua lógica – disse o velho – vieste aqui para descobrir sobre minha vida, almejando respostas que justifiquem o fato de eu ser um mendigo, por isso


começou a puxar assunto, e contou sobre seu projeto de vida. _Não... Bom... É que... – sem argumentos o turista gaguejou – eu sempre vejo o senhor por aqui e imaginei conhecê-lo, mas não sou um detetive, não estou aqui para espalhar tudo o que diz. O Velho levantou a cabeça novamente. _Qual o seu nome? Até agora não me dissesses. – perguntou. _Chamo-me Felipe Bartiolli de Melo – respondeu o Turista – naturalizado no Brasil. _Então Sr. Felipe Bartiolli – continuou o velho – pela primeira vez, aqui nesta cidade, um jovem vem conversar comigo e tentar saber sobre a minha vida. _Me desculpe seu... _Manoel. _Isso. Desculpe-me Manoel – continuou Felipe – se o senhor quiser eu vou embora e... _Não! – disse o velho – já que estás aqui, vamos conversar mais. O Turista abriu um sorriso cintilante em seu rosto. Felipe e Manoel começavam ali uma história de amizade e descobertas, ele, o jovem, queria saber sobre a vida do velho, e o velho estava disposto a abrir o seu passado, pela primeira vez. [x]


Lançamento oficial em 2012. Um romance de Danilo Passos Editora Perse – Brasil – 2012/direitos autorais reservados.

@DaniloPassos_


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