Hoje Macau 2 MAI 2017 #3803

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MOP$10

TERÇA-FEIRA 2 DE MAIO DE 2017 • ANO XVI • Nº 3803

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

HOJE MACAU

PUB

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ

hojemacau

ZHANG DEJIANG | VISITA

Na hora da despedida PÁGINA 4

SODA CITY EXPERIMENTAL WORKSHOP

Vem comigo para a rua EVENTOS

AVES | MERCADO

www.hojemacau.com.mo•facebook/hojemacau•twitter/hojemacau

Vidas proibidas

h PÁGINA 6

O riso e o absurdo PAULO JOSÉ MIRANDA

FRONTEIRA

Democrata devolvido PÁGINA 5

PRIMEIRO DE MAIO | PEARL HORIZON

A casa dos protestos PUB

PÁGINA 7

NORMAS DA DISCÓRDIA GRANDE PLANO

GCS

CAEAL


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INSTRUCOES, A QUEM OBRIGAS A ˜

“Quanto a terceiros – como sejam os candidatos, os mandatários das candidaturas, (...) os próprios eleitores, etc. –, julga-se aquelas instruções correm o risco de serem qualificadas como ilegais.” PARECER N.º 5/III/2008 DA 1.ª COMISSÃO PERMANENTE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

FINAL, a quem se dirigem as instruções da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL)? Como se diz em Direito: a doutrina divide-se. Para ser mais específico, a separação doutrinária é entre a referida comissão, a própria lei, pareceres de comissões permanentes da Assembleia Legislativa (AL) e a opinião de juristas. Na passada semana, o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, reiterou que as instruções vinculativas são para cumprir por todos os agentes envolvidos nas eleições. Candidatos, eleitores, comunicação social, até prestadores de serviços de Internet. As declarações do dirigente da comissão eleitoral acentuaram as preocupações que se vinham avolumando nos últimos meses. A posição de Tong Hio Fong tem sido muito criticada, com as oposições a fazerem eco, inclusive, de pareceres de comissões permanentes da própria AL. Mesmo com incongruências ao nível da hierarquia normativa, este é um problema que decorre da própria revisão legal que veio reforçar os poderes da CAEAL. “Como tem sido notório, a CAEAL tem-se empenhado em escalpelizar a Lei Eleitoral revista a fim de determinar aquilo que

poderá ou deverá fazer no âmbito da sua aplicação. O certo é que, à medida que essa dissecação avança, vai adoptando um tom mais agressivo e intimidatório”, interpreta António Katchi. O jurista considera que não é de estranhar esta actuação do organismo, uma vez que a comissão está a desempenhar, “fiel e eficazmente, a missão que lhe foi confiada”. Como é do domínio público, a CAEAL tem efectuado várias reuniões internas, mas o académico afirma não saber, nem afastar a hipótese, de a comissão ter reunido, igualmente, com entidades externas, “nomeadamente com representantes do Governo Central”. Na opinião de António Katchi, a CAEAL “vai-se habituando ao estatuto de polícia política eleitoral – estatuto que o Governo, com o beneplácito da maioria oligárquica da AL, claramente lhe quis atribuir, quiçá sob sugestão ou pressão do Governo Central”.

Mas, dentro do órgão legislativo, existem opiniões que contrariam a posição do organismo presidido por Tong Hio Fong. No parecer n.º 5/III/2008 da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, a visão que os deputados mostraram na interpretação do espírito da lei não deixa lugar para equívocos. No ponto 29 do dito parecer pode-se ler: “Perante a redacção apresentada, não restam muitas dúvidas que os trabalhadores da Função Pública designados pelo Director dos Serviços de Administração e Função Pública, para secretariar a CAEAL, bem como aqueles que sejam designados pela CAEAL para desempenharem as funções de membros das assembleias de voto, de escrutinadores e de pessoal de apoio, devem obediência às instruções emitidas pelos membros da CAEAL. Mas quanto a terceiros – como sejam os candidatos, os mandatários das candidaturas, os mandatários

“Os pareceres elaborados na AL, embora não sejam vinculativos e não constituam o único elemento de interpretação de uma lei, são obviamente importantes, constituem elementos históricos de interpretação das leis.”

das comissões de candidatura, os delegados das candidaturas na assembleia de voto, os próprios eleitores, etc. –, julga-se aquelas instruções correm o risco de serem qualificadas como ilegais.” É acrescentado ainda no ponto 30 do mesmo parecer da AL que “contra a alínea 10) não será difícil esgrimir o argumento que a sua deficiente formulação acarreta a sua eventual impotência face a terceiros que não sejam trabalhadores da Função Pública designados pela CAEAL. As exigências do princípio da legalidade serão aqui objecto de particular atenção e escrutínio.” Em relação a este parecer, assim como ao parecer 3/III/2008 da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa, o presidente da CAEAL limitou-se a categorizá-los como “opiniões de algumas pessoas”. Tong Hio Fong acrescentou ainda que “a comissão entende que a lei permite que tenhamos este tipo de instruções”. SOFIA MARGARIDA MOTA

Na semana passada, o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, insistiu na ideia de que as instruções vinculativas que o órgão a que preside abrangem um vasto leque de actores sociais. Esta posição contraria o estipulado em pareceres jurídicos de comissões permanentes da Assembleia Legislativa. O HM analisa, com a ajuda do jurista António Katchi, a polémica em questão

ELEIÇÕES EXTENSÃO LEGAL DOS PODERES DA CAEAL

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GRANDE PLANO


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GCS

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Apesar de não serem vinculativos, os pareceres têm um valor que não é despiciendo, ainda para mais quando emanados de uma comissão permanente de um órgão legislativo que acompanha a “feitura” de leis. “Os pareceres elaborados na AL, embora não sejam vinculativos e não constituam o único elemento de interpretação de uma lei, são obviamente importantes, constituem elementos históricos de interpretação das leis”, esclarece António Katchi.

PROBLEMA DE GÉNESE

Para o jurista, o problema começou com a própria lei eleitoral,

nomeadamente, com as novas disposições legais acrescentadas na última revisão, que “implicam restrições excessivas à liberdade de expressão e a outros direitos fundamentais”. Em questão, no entender do académico, a revisão legal teve um alcance “excessivo por não respeitar os princípios da necessidade, adequação e proporcionalidade e talvez, nalguns casos, nem sequer o princípio da salvaguarda do conteúdo essencial”. Mesmo à luz da letra da Lei Eleitoral, os poderes conferidos à CAEAL para “emitir instruções vinculativas necessárias à exe-

“Não encontrei na Lei Eleitoral nenhum fundamento jurídico suficiente para ordenar a remoção de conteúdos da Internet, nomeadamente por veicularem propaganda eleitoral durante o período de defeso.” ANTÓNIO KATCHI JURISTA

cução” dos preceitos do referido diploma necessitam seguir esse pressuposto de necessidade. Na óptica de António Katchi, “as instruções têm de ser ‘necessárias’, e não simplesmente úteis ou convenientes, muito menos inúteis, inconvenientes ou mesmo contraproducentes, nomeadamente por gerarem incerteza ou confusão”. Outro aspecto é que as instruções devem ter como objectivo a execução de certas e determinadas disposições da lei, ali enumeradas, e não de quaisquer outras deixadas ao arbítrio de uma comissão eleitoral. Nesse sentido, o jurista não vê como a própria lei eleitoral poderá servir de sustento à posição assumida pela CAEAL. “Tanto quanto eu me tenha apercebido, não está incluído neste âmbito o preceito relativo à propaganda antes do início do período oficial de campanha eleitoral; está, sim, o preceito referente à propaganda no próprio dia da eleição nas imediações das mesas e assembleias de voto”, esclarece.

No artigo 10.º da Lei Eleitoral é feito um elenco das matérias que podem ser alvo das instruções vinculativas que tanta tinta têm feito correr. Porém, não é elencado o artigo 188.º-A, ou seja, o preceito legal correspondente à propaganda eleitoral antes do início da campanha eleitoral. Para António Katchi, a questão não deixa dúvidas: “A CAEAL não tem competência para emitir instruções vinculativas acerca desta questão”.

CRIME E CASTIGO

Em declarações à comunicação social, Tong Hio Fong deu como exemplo a possibilidade de a CAEAL ordenar a retirada de conteúdos de páginas de Internet. Neste aspecto, António Katchi não entende a posição do presidente da CAEAL. “Não encontrei na Lei Eleitoral nenhum fundamento jurídico suficiente para ordenar a remoção de conteúdos da Internet, nomeadamente por veicularem propaganda eleitoral durante o período de defeso”, explica o jurista.

Em entrevista ao HM, o constitucionalista Paulo Cardinal, assessor da Assembleia Legislativa desde 1992, criticou a posição da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. “É importante para Macau ter uma comissão eleitoral que se saiba pautar pelo escrupuloso cumprimento do princípio da legalidade. E também que não entre em considerandos que fogem da área da legalidade e entram mais na área de uma espécie de moralismo ou moralidade. Não é essa a função da comissão eleitoral.” As palavras do constitucionalista vão ao encontro de uma vasta preocupação relativa à actuação da CAEAL, que já deu origem a pedidos de esclarecimento e comunicados da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau. Vejamos o que se segue nos próximos capítulos de uma novela que ganha contornos nebulosos. João Luz

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4 POLÍTICA

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O presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional chega a Macau na próxima segundafeira. Zhang Dejiang é o homem de Pequim responsável pelas duas regiões administrativas especiais, mas deverá afastar-se da política ainda este ano

Visita ZHANG DEJIANG EM MACAU ENTRE OS DIAS 8 E 10

A viagem da despedida “Será sobretudo uma visita de cortesia”, observa Arnaldo Gonçalves, especialista em relações internacionais. Salientando que Zhang Dejiang “é a pessoa que, nestes últimos anos, tem acompanhado a situação política das duas regiões administrativas especiais”, o analista recorda que, “por via da regra não escrita dos

68 anos, deverá ser substituído no congresso do PCC em Novembro”. Assim sendo, “é natural que se queira despedir e que venha a Macau nesse sentido”. Considerado próximo de Hu Jintao, o presidente do Comité Permanente da APN foi chefe do PCC na província de Guangdong entre 2002 e 2008. Foi nessa qua-

lidade que veio a Macau, em 2004, numa altura em que se começou a atribuir particular importância à questão da integração regional.

NEM QUE PUDESSE

O facto de haver eleições legislativas marcadas para Setembro próximo não deverá ter qualquer influência na visita do emissário

do Governo Central, que lida com problemas mais complicados na região vizinha. “Vai fazer as declarações habituais acerca do desenvolvimento sustentado, falar da grande área de desenvolvimento do Sul da China. É uma visita cerimonial. Não lhe atribuo mais importância”, resume Arnaldo Gonçalves.

Zhang Dejiang “terá encontros com diversas personalidades dos diferentes sectores, estando previstas ainda declarações importantes”

O

convite partiu de Chui Sai On. Zhang Dejiang vai estar na próxima semana em Macau, entre os dias 8 e 10, “para se inteirar sobre o desenvolvimento actual” do território, indica uma nota do porta-voz do Governo. Membro do Comité Permanente do Politburo do Partido Comunista da China (PCC) e presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional, Zhang Dejiang ficará “a conhecer a realidade do desenvolvimento social de Macau e terá encontros com diversas personalidades dos diferentes sectores, estando previstas ainda declarações importantes”. Nascido em 1946, Zhang é o número três do Politburo do PCC. É vice-presidente da Comissão Nacional de Segurança e o principal responsável de Pequim pelos assuntos de Hong Kong e Macau.

A

reacção foi quase imediata: Pequim e Macau rejeitaram o relatório da União Europeia (UE), divulgado na passada semana, em que Bruxelas pede uma “maior participação da população” de Macau na eleição do Chefe do Executivo. Em comunicado, o Governo do território “rejeita veementemente o relatório anual da UE sobre Macau, emitido depois do estabelecimento da RAEM, do qual constam comentários irresponsáveis e que não estão conforme os factos, tratando-se de uma ingerência na política interna da China”. O Governo de Macau frisa ainda que a “estabilidade política, o desenvolvimento

Em Maio último, Zhang Dejiang esteve em Hong Kong. Na altura, encontrou-se com a ala pró-democrata da antiga colónia britânica. Citado pelo South China Morning Post, Au Kam San diz que não tem propriamente interesse em encontrar o político da China Continental, mesmo se houvesse essa oportunidade. “Se for apenas uma forma de nos dar um sermão, em vez de haver uma troca significativa de dias, não estou interessado”, afirmou. I.C.

Nunca estivemos tão bem Pequim e Macau refutam relatório de Bruxelas

económico, a harmonia social e a garantia dos direitos da população de Macau de acordo com a lei, ultrapassam quaisquer condições alguma vez registadas na história de Macau”. “Esta é uma realidade à vista de todos”, sublinha. Ainda antes da reacção do Executivo de Chui Sai On, o Governo Central tinha rejeitado o relatório da UE, que considera uma interferência nos assuntos internos chineses. A rejeição destes relatórios anuais é a reacção habitual de Pequim à divulgação do documento de Bruxelas.

“Instamos a UE a cessar a interferência nos assuntos de Hong Kong e Macau, e a contribuir mais para as relações China-UE”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang, de acordo com a agência oficial Xinhua. Geng elogiou ainda os desenvolvimentos verificados tanto em Macau, como em Hong Kong, ao abrigo do princípio “um país, dois sistemas”.

DIREITOS, POLÍTICA, MEDIA

No relatório anual sobre a evolução da situação de

Macau, a UE “incentiva as autoridades a estudar formas de promover uma maior participação da população no processo de eleição do chefe do Executivo, contribuindo assim para reforçar a legitimidade do cargo e a boa governação”. No documento, a UE alertou para “a importância do Estado de direito e respeito dos direitos humanos, bem como a necessidade de respeitar plenamente o direito internacional em matérias como os acordos de extradição”, lembrando uma proposta controversa de acordo de

extradição entre Macau, China continental e Hong Kong, que acabou por ser retirada. Em relação à comunicação social, o relatório europeu considerou existir “pluralismo suficiente” e “liberdade para exprimir uma variedade de pontos de vista sem restrições”, apesar de detectar “um certo nível de autocensura” sobretudo entre os media chineses. O documento criticou a recusa de entrada em Macau de jornalistas e membros de grupos políticos de Hong Kong. Em relação ao tráfico de seres humanos e apesar do trabalho desenvolvido pelas autoridades, na aplicação de medidas de prevenção

e protecção das vítimas, “o número de processos e condenações continua a ser reduzido”, alertou. Nas questões laborais, Macau “não aplicou de forma efectiva os princípios de liberdade de associação e de negociação colectiva”, sublinhou a UE. Os projectos de lei sindical foram repetidamente rejeitados na Assembleia Legislativa e, se os trabalhadores são “livres de participar em actividades sindicais e acções laborais, não estão ao abrigo de retaliações”, com a legislação a permitir aos “empregadores rescindir contratos de trabalho sem justa causa mediante uma compensação modesta”, destaca-se ainda no documento.


5 hoje macau terça-feira 2.5.2017

POLÍTICA

ELEIÇÕES ATFPM PEDE INSTRUÇÕES PARA EMPRESAS DE JOGO

HOJE MACAU

A Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) enviou uma carta à Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) a pedir a criação de instruções para as concessionárias de jogo cumprirem no contexto das eleições. Segundo o comunicado, é exigida a criação “de instruções vinculativas para as concessionárias de jogo, no sentido de se manter a neutralidade e imparcialidade das eleições”. Isto porque “desde as eleições de 2005, até às últimas eleições de 2013, altos responsáveis das concessionárias de jogo e dos casinos VIP intervieram directamente na campanha eleitoral, forçando, coagindo e prometendo vantagens de aumento salarial e outros benefícios aos seus trabalhadores para votarem numa determinada lista candidata”. Para a ATFPM, tais actos são “ilegais e prejudicam outras listas candidatas”.

IC INSTRUTOR PARA PROCESSO DISCIPLINAR NOMEADO

O Chefe do Executivo decidiu nomear um instrutor para iniciar o processo disciplinar que foi instaurado à anterior direcção do Instituto Cultural (IC), decisão tomada recentemente pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. Segundo um comunicado, o Chefe do Executivo assumiu esta posição “devido à relevância do caso”, sendo responsabilidade do instrutor encaminhar o relatório da investigação interna para o Comissariado contra a Corrupção. “O resultado dos processos disciplinares será divulgado oportunamente à sociedade”, aponta um comunicado oficial. O Chefe do Executivo aponta ainda que o Governo “vai aperfeiçoar de forma activa os mecanismos de fiscalização”, reforçando “a fiscalização relativamente à conduta íntegra de todos os dirigentes da Administração”.

Fronteira DEPUTADO DE HONG KONG IMPEDIDO DE ENTRAR EM MACAU

Mais um que fica à porta Há duas semanas, foi Kenneth Leung. Agora, chegou a vez de Andrew Wan, membro do Partido Democrático. Dizem ambos que as autoridades do território alegam a segurança interna para barrarem o acesso à RAEM. O mais recente deputado a ter de regressar a Hong Kong já pediu a intervenção de C.Y. Leung

F

OI o segundo caso em apenas 15 dias. O deputado de Hong Kong Andrew Wan, do Partido Democrático, foi impedido de entrar em Macau no passado domingo. Em declarações à estação pública de rádio da região vizinha, Wan diz estar “perplexo” com as razões alegadas pelas autoridades. O deputado já pediu ao Governo de Hong Kong que acompanhe o que se passou. Segundo relatou, foi barrado na fronteira por elementos dos Serviços de Migração que lhe disseram que “constitui uma ameaça à segurança interna de Macau”. Andrew Wan vinha passar o dia à cidade com um grupo de cerca de uma de dezena de amigos e familiares. Teve de regressar a casa – e, assim que voltou para Hong Kong, pediu ao Executivo local uma intervenção sobre o seu caso, mas também que apure por que razão a ala pró-democrata faz parte da lista negra das autoridades de Macau.

O membro do Conselho Legislativo afirma ainda que não encontra qualquer razão para ser considerado “uma ameaça à segurança interna e à estabilidade de Macau”. No passado dia 16, o deputado pró-democrata Kenneth Leung foi também impedido de entrar na RAEM, tendo sido de igual modo invocadas razões de segurança. Kenneth Leung disse à RTHK que ia visitar Macau com a família, mas foi impedido de entrar e ficou detido durante cerca de uma hora, antes de ser enviado de volta de barco para Hong Kong. O deputado considerou ridícula a rejeição de entrada, argumentando que nunca teve problemas para entrar em Macau, nem no interior da China.

HÁBITO COM PASSADO

No ano passado, os deputados Raymond Chan e Leung Kwok-hung – conhecido como ‘Long Hair’ ou ‘Cabelo Comprido’ –

também foram impedidos de entrar no território. As autoridades de Macau recusam-se a revelar o número de pessoas que proibiram de entrar na região, as razões pelas quais o fizeram ou a sua procedência, sob o argumento de que essas informações são confidenciais. O impedimento de entrada em Macau acontece com alguma regularidade, com a grande maioria dos casos a serem tornados públicos pelos próprios visados, muitos dos quais políticos ou activistas da região Hong Kong.

Assim que voltou para Hong Kong, Andrew Wan pediu ao Executivo local uma intervenção sobre o seu caso

A PSP não tem por hábito apresentar motivos concretos, invocando, com frequência, razões de segurança. Em Outubro, quando da visita do primeiro-ministro da China, Li Keqiang, foram proibidos de passar a fronteira pelo menos dez residentes de Hong Kong, incluindo activistas, mas também um deputado e um cineasta. Em 2015, o caso mais notório foi o de Emily Lau, então deputada do Partido Democrático de Hong Kong, também impedida de passar a fronteira por motivos de segurança interna. Em declarações à Lusa, Emily Lau mostrou-se então “perplexa”, até porque a visita era de lazer e não havia figuras importantes da China a visitar Macau nem protestos a acontecer – factores que propiciam habitualmente um maior número de interdições.

CHUI SAI ON CAUTELOSO QUANTO À ECONOMIA

O

Chefe do Executivo de Macau alertou para um aumento dos factores de risco na economia do território, não se prevendo uma “perspectiva mais clara do desenvolvimento”. Chui Sai On falava na Federação das Associações dos Operários de Macau, no âmbito das comemorações do Dia Internacional do Trabalhador, de acordo com um comunicado.

O responsável acrescentou que se assiste a “um aumento de factores de risco e de dificuldades, persistindo uma sobreposição de problemas velhos e desafios novos”. A “conjuntura interna e externa continua complexa e inconstante, não se prevendo, ainda, uma perspectiva mais clara do desenvolvimento”, acrescentou. “A economia de Macau apresenta actualmente uma

tendência visível de crescimento contínuo”, que Chui Sai On atribuiu “aos bons resultados alcançados na fase preliminar” da aplicação do Plano Quinquenal de Desenvolvimento da RAEM. O Chefe do Executivo destacou a acção do Governo na formação de trabalhadores de elevada qualidade para impulsionar um desenvolvimento económico mais diversificado.

O Executivo vai continuar “empenhado em intensificar” o aperfeiçoamento do regime jurídico das relações de trabalho e legislação complementar, a optimização do mecanismo de gestão de importação de trabalhadores não residentes e o combate firme ao trabalho ilegal. Chui Sai On lembrou a aposta de Macau na construção de “um centro, uma pla-

taforma” (“centro mundial de turismo e lazer” e “plataforma de serviço comercial entre a China e os países de língua portuguesa), esperando que os vários sectores da sociedade local saibam aproveitar “as novas oportunidades” para conquistar um espaço mais alargado na cooperação regional, e apoiar o desenvolvimento sustentável da sociedade e economia do território.


6 SOCIEDADE

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Saúde pública VENDA DE AVES VIVAS PROIBIDA DESDE ONTEM

Remar contra a maré

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proibição de venda entrou ontem em vigor, com o fim de “todas as actividades de transacções comerciais e venda a retalho de aves vivas destinadas ao consumo humano”, anunciou José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). Há muito que a proibição da venda de aves vivas era discutida, por motivos de saúde pública, mas o Governo tinha vindo a adiar a medida, contestada pela população e pelos vendedores. “[Queremos] evitar qualquer instabilidade na nossa sociedade e proteger a saúde da população. A situação tornou-se cada vez mais crítica. A solução mais eficaz é o corte da cadeia de transmissão, para evitar um surto”, disse Ung Sao Hong, do conselho de administração do IACM. O responsável lembrou que, entre Dezembro do ano passado e Fevereiro deste ano, foram registados três casos. Os últimos cinco casos em que o vírus de subtipo H7 foi detectado em Macau resultaram no abate de cerca de 62 mil aves. As autoridades de Macau registaram um caso de infecção humana e outro importado, numa mulher contagiada na China, que se deslocou depois à cidade. Habitualmente, após cada caso, a venda de aves vivas era suspensa temporariamente.

GCS

O Governo proibiu a venda de aves vivas, depois de, em Dezembro passado, ter sido registado um caso de infecção humana de gripe aviária. A decisão não é consensual. A Administração não descarta ajudar financeiramente aqueles que ficaram sem negócio

Depois do último caso não foi retomada.

FUTURO EM DISCUSSÃO

O Governo vai compensar os cerca de 250 trabalhadores do sector de venda de aves de capoeira pelas perdas nos mais de 80 dias em que a venda esteve suspensa, mas ainda não foi acordada uma solução para o futuro. Por aquele período, cada trabalhador vai receber 200 patacas por dia, o que totaliza

um gasto de cerca de 4,3 milhões de patacas. Os vendedores vão ser ainda compensados pelas aves abatidas nos últimos três casos, no valor de 1,8 milhões de patacas. No próximo dia 15, o Governo vai voltar a encontrar-se com o sector, com quem já se reuniu duas vezes. “Temos uma proposta, mas queremos ouvir as deles”, disse José Tavares, sem adiantar que tipo de proposta está em cima da mesa.

“A situação tornou-se cada vez mais crítica. A solução mais eficaz é o corte da cadeia de transmissão, para evitar um surto.”

Um comunicado do IACM indicava que o Governo vai reunir-se com os representantes “para encontrar um plano razoável de subsídio e assistência”. O presidente do IACM afirmou que os vendedores têm insistido sempre na continuação da venda de aves vivas, garantindo não terem condições para substituir a sua venda pela de aves refrigeradas. Representantes da Associação dos Negociadores de Aves Domésticas estiveram na sede do IACM para manifestarem a sua oposição à medida. Em Junho passado, um estudo indicou que quatro em cada dez residentes de Macau se opunham à substituição de aves vivas por refrigeradas. O inquérito, destinado a avaliar a reacção do público à medida que o Governo aplicou agora, concluiu que 42,2 por cento dos 1026 inquiridos eram contra ou absolutamente contra a medida, 24,2 por cento exprimiram concordância ou absoluta concordância, e 33,3 por cento afirmaram serem indiferentes ao assunto. Em Janeiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou estar em alerta perante a propagação de surtos de gripe das aves, com casos reportados em cerca de 40 países desde Setembro passado.

UNG SAO HONG MEMBRO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO IACM

BEBÉ ABANDONADO EM CAIXOTE DO LIXO GERA REACÇÕES

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edição desta semana do programa Macau Fórum, da TDM, abordou o recente caso de um bebé encontrado no lixo, na zona da Areia Preta. Os pais, trabalhadores não residentes, são suspeitos de serem responsáveis pelo abandono do recém-nascido e já foram detidos. Lai Chon In, subdirecta do Centro do Bom Pastor, considerou que o caso está relacionado com a falta de apoio e prevenção de casos junto dos trabalhadores não residentes (TNR). Uma vez que os apoios a estas comunidades são dispersos, Lai Chon

In sugeriu a criação de um grupo organizado para lidar com estes casos. Erik, representante dos empregados de nacionalidade indonésia, revelou que, em dez anos, recebeu 19 pedidos de apoio em casos de gravidez. Já Ao Ieong Keong, presidente da União de Empregadores dos Serviços Domésticos de Macau, disse que o ano passado recebeu sete pedidos de ajuda na gravidez por parte de empregadas domésticas. Ao Ieong Keong sugeriu que o Governo estude a possibilidade das empregadas do-

mésticas ficarem a residir apenas na casa dos patrões, como já acontece em Hong Kong, de forma a reduzir o risco de gravidezes indesejadas. Esta ideia não foi, contudo, bem acolhida. Lai Choi In afastou esta possibilidade por considerar que as vidas dos TNR serão afectadas pela mudança, enquanto Paul Pun, secretário-geral da Caritas, disse que cabe ao Governo melhorar os trabalhos de apoio. Só no ano passado, a Caritas Macau ajudou 17 mil TNR, afirmou Paul Pun. HM

Sobe e desce

Governo só licenciou 20 por cento dos elevadores

A

Associação Choi In Tong Sam organizou recentemente um seminário sobre a segurança e o licenciamento dos elevadores nos edifícios. Segundo um comunicado, a deputada Ella Lei, que é também subdirectora desta associação, apontou que, nos últimos anos, têm ocorrido vários incidentes com elevadores, pelo que é necessário garantir a segurança pública. Chio Lan Ieng, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Norte, adiantou ainda que, em Macau, existem cerca de seis mil elevadores, mas as autoridades só terão emitido certificado a 1200, segundo dados oficiais de Junho de 2016. Perante estas informações, Chio Lan Ieng defende que o Governo deve dar maior atenção à eficácia das instruções para elevadores. Segundo o mesmo comunicado, os trabalhadores do sector falam de dificuldades e burocracias no processo de fiscalização dos elevadores. Foi referido que os procedimentos para entrega dos relatórios às autoridades são “complicados e incertos”. Há ainda relatos de que os departamentos públicos não seguem as novas instruções de igual forma. Os trabalhadores defendem, por isso, a criação de um grupo por parte do Governo encarregue exclusivamente da fiscalização dos elevadores, para a criação de novas instruções e critérios. Vários cidadãos presentes no seminário falaram da ocorrência de avarias constantes nos elevadores dos seus prédios, tendo exortado a criação urgente do grupo de fiscalização.

MAIOR EFICÁCIA

Também Ella Lei acredita que o Executivo deve rever a eficácia das “ Instruções para Apreciação, Aprovação, Vistoria e Operação dos Equipamentos de Elevadores”, aprovadas há cerca de dois anos pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e que determinam que as fiscalizações não são obrigatórias. A deputada defende uma mudança nos critérios por considerar que não são claros, alertando também para a necessidade de criar um departamento público para a monitorização destes casos. Ella Lei pede também que seja reforçada a formação dos trabalhadores, com o estabelecimento de um regime de exame e registo destes profissionais. HM


7 hoje macau terça-feira 2.5.2017

1º Maio INVESTIDORES DO PEARL HORIZON DOMINARAM PROTESTOS

Promessas por cumprir pormenores da candidatura, pelo que ainda não deu qualquer passo nesse sentido.

HOJE MACAU

Com pouca adesão, a habitual manifestação do Dia do Trabalhador acabou por ter como protagonista a União dos Proprietários do Pearl Horizon. Os investidores não põem de parte a realização de uma conferência de imprensa em Taiwan ou na China

EM TAIWAN OU NA CHINA

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ENOS associações, mais participantes. É esta a visão da Polícia de Segurança Pública (PSP) sobre a manifestação do 1º de Maio, Dia do Trabalhador, ocorrida ontem a partir das 15 horas, onde a União Geral dos Proprietários do Pearl Horizon foi protagonista. A PSP fala de um total de 2600 pessoas nas ruas, número mais elevado em relação ao ano passado, sendo que 250 polícias estiveram a acompanhar o percurso. Ainda assim, apenas três associações participaram, incluindo seis residentes. Um número bem mais baixo do que as 14 associações que se inscreveram o ano passado para participar no protesto. Segundo a PSP, todos os grupos se dirigiram à sede do Governo, enquanto que um

O

S casinos fecharam Abril com receitas de 20.162 milhões de patacas, um aumento de 16,3 por cento face ao período homólogo do ano passado. Segundo os dados publicados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os casinos registaram, no acumulado de Janeiro a Abril, receitas de 83.640 milhões de patacas, mais 13,8 por cento face

SOCIEDADE

A União dos Proprietários do Pearl Horizon promete não ficar por aqui no que diz respeito à luta. “Se calhar vamos fazer uma conferência de imprensa em Taiwan ou Pequim. Vamos fazer tudo para melhorar a nossa situação.”

outro conjunto de manifestantes apenas entregou uma carta dirigida ao Gabinete de Ligação do Governo Central. Os lesados do caso Pearl Horizon acabaram por dominar o protesto. Kou Meng Pok, presidente da associação, disse ao HM que voltaram às ruas para pedir as casas que compraram em regime de pré-venda à Polytec,

e para garantir que o Chefe do Executivo, Chui Sai On, cumpre a sua promessa. “O nosso slogan é simples. Se pagamos as prestações ou compramos as fracções, estas têm de ser garantidas”, apontou. “Temos receio que, daqui a um tempo, o Chefe do Executivo se esqueça disso, por isso viemos aqui recordá-lo e pedir que o Governo nos

Abril, patacas mil

Receitas dos casinos aumentam 16,3 por cento

aos primeiros quatro meses de 2016. Abril marcou o nono mês consecutivo de subida das receitas da indústria do jogo. As receitas iniciaram, em Junho de 2014, uma curva descendente, terminada em Agosto último, mês

que colocou então termo a 26 meses consecutivos de quedas anuais homólogas. Apesar da recuperação encetada, as receitas dos casinos caíram pelo terceiro ano consecutivo em 2016, registando uma queda de 3,3 por cento que se seguiu à diminuição de

devolva as fracções”, acrescentou o porta-voz. Kou Meng Pok voltou a frisar a sua intenção de candidatar-se a um assento de deputado na Assembleia Legislativa (AL), ideia que já tinha anunciado numa sessão de esclarecimento da Comissão dos Assuntos Eleitorais da AL (CAEAL). Contudo, afirmou estar ainda a analisar os

34,3 por cento em 2015 e de 2,6 por cento em 2014. Arrastada pelo desempenho do sector do jogo, a economia de Macau contraiu-se em 2016 pelo terceiro ano consecutivo e o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 2,1 por cento em termos reais, com a recuperação da indústria a ser insuficiente para permitir uma retoma. Este resultado representou uma significativa melhoria

Do lado de quem investiu, a esperança é pouca face às recentes iniciativas dos deputados para resolver o problema do Pearl Horizon. “Não percebemos o que é que esses deputados vão fazer em relação ao nosso caso. Falou-se muito na intenção legislativa [da lei de terras], e apoiamos. Mas não sabemos o que está a acontecer”, disse Kou Meng Pok. Por sua vez, Hong Cheng Tun, um participante, mostrou-se agradecido em relação à proposta que juntou 20 deputados. “A nossa esperança depende dos deputados, mas queremos que o Chefe do Executivo cumpra a sua promessa”, reiterou. A União dos Proprietários do Pearl Horizon promete não ficar por aqui no que diz respeito à luta. “Se calhar vamos fazer uma conferência de imprensa em Taiwan ou Pequim. Vamos fazer tudo para melhorar a nossa situação”, referiu Hong Cheng Tun. Grupos como a Associação dos Filhos Maiores e a Associação da Força dos Operários de Macau também estiveram nas ruas, mas contavam-se pelos dedos das mãos o número de participantes. A associação Poder do Povo chegou a anunciar a sua participação, mas cancelou-a posteriormente.

depois da quebra de 21,5 por cento em 2015.

DA QUEDA

Em 2014, o PIB de Macau caiu 1,2 por cento, em termos reais, de acordo com os dados revistos, naquela que foi a primeira queda desde a transferência do exercício de soberania de Portugal para a China em 1999, impulsionada pelo início da curva descendente das receitas dos casinos.

Vítor Ng (com A.S.S.) info@hojemacau.com.mo

Acontracção da economia foi menor do que a antecipada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) que esperava que o PIB de Macau sofresse um recuo de 4,7 por cento em 2016, antes de regressar a um crescimento positivo este ano. No último relatório, publicado em Fevereiro, o FMI reviu em alta a previsão de crescimento da economia de Macau, avançada em Outubro, de 0,2 por cento para 2,8 por cento.


8 Performance SODA CITY JUNTA YUBING LUO E CANDY KUOK NAS RUAS

A associação Soda City Experimental Workshop promove este fim-de-semana a iniciativa “Crosswork – Off Site”, que inclui duas performances na zona de Lam Mau e Praça Ponte e Horta. Este ano, e pela primeira vez, participa uma artista de fora de Macau, Yubing Luo

H

Á cinco anos que a associação cultural Soda City Experimental Workshop mostra os lugares de Macau de uma maneira diferente, através de performances desenvolvidas por artistas em contacto directo com a rua. Este ano a iniciativa “Crosswork – Off Site” decorre no próximo sábado e domingo nas zonas da doca de Lam Mau e Praça Ponte e Horta, respectivamente. A entrada é gratuita e entre as 12h00 e 18h00 o público poderá ver a performance da artista Candy Kuok. A acompanhá-la estará a artista chinesa Yubing Luo, actualmente a viver na Alemanha. Ambas as performances terão a duração de seis horas. Ao HM, Óscar Cheong, da associação Soda City, explicou o

CULTURAS DE B conceito por detrás da actividade. “Temos vindo a desenvolver nos últimos cinco anos a iniciativa ‘Off Site’, sempre com diferentes conceitos. Este ano decidimos mostrar os conceitos de ambos os artistas, e de como se pode relacionar o corpo com os cenários escolhidos para esta performance.” “Em termos individuais, como serão performances mais prolongadas, os artistas vão utilizar alguns materiais para enfatizar essa relação ou a história que está ligada ao local onde essa performance vai acontecer”, explicou um dos mentores do projecto. A ideia deste tipo de performance é mostrar ao público as características de cada bairro ou lugar. “O objectivo do projecto é sempre fomentar a consciência da história dos bairros de Macau, para mostrar ao público em geral. Vamos tentar não apenas promover mas mostrar o desenvolvimento desses lugares em específico”, acrescentou Óscar Cheong. “Os locais seleccionados já foram escolhidos antes por nós para a realização de performances. Mas a escolha dos locais também foi feita com base nas ideias dos artistas para aquele espaço em específico.”

SODA CITY EXPERIMENTAL WORKSHOP

EVENTOS

NOVAS EXPRESSÕES

O membro da associação Soda City explica porque é que este ano decidiram ir mais longe e convidar uma artista de fora para mostrar o seu trabalho no território. “Achamos muito interessante [o trabalho de Yubing Luo] e decidimos que iria fazer parte da nossa iniciativa este ano. Nos últimos anos convidamos artistas locais para participar, mas esta é a primeira vez que convidamos uma artista chinesa para colaborar connosco”, acrescentou.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA AS DUAS ÁGUAS DO MAR • Francisco José Viegas

Duas mortes ocorrem simultaneamente em lugares junto ao mar - uma em São Miguel, nos Açores; outra em Finisterra, num promontório do litoral galego. O que a princípio parece ser um conjunto de coincidências infelizes acaba por ser um enredo que uma investigação policial sui generis desmonta como uma história de vingança e ressentimento. Sobre este romance, que na época confirmou Francisco José Viegas como uma das vozes mais originais da moderna ficção portuguesa, escreveu o diário francês Le Monde: «A sua meteorologia atormentada transforma-se numa metáfora do destino humano.»

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SE EU FOSSE… NACIONALIDADES • Francisco José Viegas

Ilustrações de Rui Penedo Se Eu Fosse... Nacionalidades faz-nos descobrir a vida que o Lio teria se fosse Japonês, Brasileiro, Norueguês ou Italiano. Ilustrado a quatro cores, oferece às crianças, a partir dos 5 anos, a oportunidade de conhecer a realidade gastronómica, linguística e patrimonial de diferentes países. Humorada, lúdica e didáctica, é uma obra para ser lida com os pais e descobrir, em cada país, aquele pormenor, contribuindo para a construção da memória referencial das crianças relativamente às diferentes nacionalidades do mundo.


BAIRRO

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“O objectivo do projecto é sempre fomentar a consciência da história dos bairros de Macau.” ÓSCAR CHEONG SODA CITY Óscar Cheong explicou que a associação olhou sobretudo “para o seu trabalho individual, com um perfil de performance muito rico, com uma forma de expressão alternativa, com muito foco no corpo”. A associação Soda City explica que as duas artistas começam as suas performances a partir de locais diferentes, para se separarem e depois voltarem a encontrar-se de novo. “Vão traçar percursos com os seus corpos, alocando as suas posições e direcções na cidade”, explica o comunicado. A ideia é cada artista estabelecer a sua própria ligação com o lugar onde se encontra, mostrando ao público o significado que cada local tem para si. O objectivo é “aumentar a percepção do público em relação ao equilíbrio necessário entre o rápido desenvolvimento da cidade e a preservação cultural”, aponta o mesmo comunicado. Além desta iniciativa, a associação Soda City promove workshops em escolas, de forma a “levar os estudantes a compreender melhor as suas comunidades e os seus ambientes, para reforçar o seu sentido de identidade, amor e cuidado em relação à sua própria cultura local”. Andreia Sofia Silva

andreia.silva@hojemacau.com.mo

EVENTOS

A história dos livros Macau vai ter museu dedicado à literatura

O

Governo vai criar um Museu da Literatura de Macau. A ideia foi discutida na última reunião do Conselho para as Indústrias Culturais, tendo sido referido, segundo um comunicado, que a criação desse museu “continuará a promover o progresso da cena literária local e a apoiar o aparecimento de jovens escritores de Macau”. Além disso, foi anunciado que o Governo vai lançar, a partir de Maio e até final deste ano, o “Serviço de Coordenação de Pedidos de Filmagens”. A iniciativa vai estar sob alçada do Instituto Cultural (IC). Na prática, caberá ao IC a coordenação da recepção dos pedidos de filmagens e consultas sobre o assunto, ficando encarregue de encaminhar os pedidos para os diversos departamentos, que depois darão uma resposta ao candidato ou entidade requerente da filmagem. O serviço tem, para já, carácter experimental, mas, “depois de revisto e melhorado”, será lançado oficialmente em 2018. Para implementar esta medida, o IC irá trabalhar em conjunto com nove entidades públicas.

GASTRONOMIA E OUTRAS INDÚSTRIAS

Na mesma reunião do Conselho, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, explicou ainda que o processo de candidatura de Macau a “Cidade Gastronómica” da Rede das Cidades Criativas da UNESCO “está a avançar”, tendo sido proposta

a criação de um grupo especializado para “analisar este assunto e pronunciar-se no que respeita a recomendações”. Os três grupos de trabalho que compõem o Conselho defenderam ainda uma “revisão do actual quadro da política para o desenvolvimento das indústrias culturais”, tendo sido pedido ao Governo que disponibilize “um número adequado de recursos para desenvolver as indústrias, com potencial para se desenvolverem como tal”. Neste âmbito, o Instituto Politécnico de Macau apresentou “uma estratégia para desenvolvimento de talentos no que respeita a cultura e a criatividade”, através da Escola de Artes e do Centro Pedagógico e Científico para as Indústrias Culturais e Criativas da instituição de ensino superior. No encontro, Alexis Tam apontou que “o reconhecimento do desenvolvimento das indústrias culturais ajudará na reabilitação dos bairros antigos da cidade e a disponibilização de recursos para a cultura e histórias locais”, sendo “um meio de estimular os turistas a melhor conhecerem a comunidade local e a optimizar recursos turísticos”. Os três grupos de trabalham recomendam ainda que o Executivo “estabeleça um mecanismo regulatório relativamente ao leilão de antiguidades e obras de arte, de modo a permitir que esta indústria cresça em ambiente harmonioso”.

CINEMA INDIELISBOA COM PRESENÇA RECORDE PORTUGUESA

R

ETRATO actual do país a partir do universo particular de uma família lisboeta, “Colo” “é o sinalizador de uma competição nacional pela primeira vez constituída por seis longas metragens e dezoito curtas metragens, o maior contingente de sempre na competição nacional do IndieLisboa”, afirma a organização. No total, serão exibidos mais de quarenta filmes portugueses, a maioria em estreia nacional, entre os quais “Amor, Amor”, de Jorge Cramez, “Encontro silencioso”, primeira longa-metragem de ficção de Miguel Clara Vasconcelos, a partir da realidade das praxes académicas, e “Luz obscura”, documentário de Susana de Sousa Dias a partir dos arquivos da PIDE. Entre as curtas-metragens portuguesas contam-se, por exemplo,

a animação “Circo”, de André Ruivo, o documentário “Num globo de neve”, de André Gil Mata, a ficção “Tudo o que imagino”, de Leonor Noivo, o filme experimental “Ubi Sunt”, de Salomé Lamas, e “Cidade pequena”, que valeu o Urso de Ouro em Berlim a Diogo Costa Amarante. Destaque ainda para a exibição, fora de competição, de “Rosas de Ermera”, filme de Luís Filipe Rocha sobre a história familiar de Zeca Afonso. O IndieLisboa encerrará no dia 14 com o documentário “I am not your negro”, de Raoul Peck, nomeado para os Óscares, sobre racismo, afro-americanos e direitos civis, a partir a obra inacabada do escritor norte-americano James Baldwin, “Remember This House”.


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11 CHINA

hoje macau terça-feira 2.5.2017

ACTIVIDADE INDUSTRIAL DESACELEROU EM ABRIL

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ASEAN EVITA CRÍTICAS A PEQUIM SOBRE MAR DO SUL

Ondas de silêncio

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S líderes dos países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), reunidos no sábado numa cimeira, em Manila, abstiveram-se de condenar a política de Pequim no Mar do sul da China, no comunicado divulgado domingo. Rodrigo Duterte, chefe de Estado das Filipinas, país que ocupa a presidência rotativa do bloco, difundiu um comunicado de 25 páginas sobre a reunião de sábado que não contém, no entanto, mais do que declarações vagas sobre o contencioso do Mar do sul da China. “Tomámos nota das preocupações manifestadas por alguns dirigentes sobre os recentes desenvolvimentos na zona”, refere o comunicado da ASEAN, bloco formado pelas Filipinas, Birmânia (Myanmar), Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Singapura, Tailândia e Vietname. A nota, citada pela agência noticiosa francesa AFP, não faculta detalhes sobre a identidade dos líderes em causa ou a natureza das preocupações apresentadas.

DISPUTAS ANTIGAS

Pequim defende ter direitos de soberania sobre a quase totalidade do Mar do Sul da China, uma via marítima estratégica pela qual passam um terço do petróleo negociado internacionalmente, onde quatro membros da ASEAN (Brunei, Malásia, Filipinas

e Vietname) e Taiwan também têm reivindicações territoriais. Pequim, que usa como fundamento, uma linha que surge nos mapas chineses desde 1940, tem investido fortemente em grandes operações na zona, transformando recifes de corais em portos, pistas de aterragem e em outras infra-estruturas. Rodrigo Duterte tem adoptado uma postura diferente do seu antecessor, Benigno Aquino, que iniciou, aliás, um procedimento contra Pequim junto do Tribunal de Arbitragem Permanente de Haia em 2013 depois de, no ano anterior, a China ter tomado o controlo do atol Scarborough, tradicional zona de faina de pescadores filipinos, e face às disputas pelas ilhas Spratly, também localizadas no mar do Sul da China.

O comunicado divulgado este domingo “reafirma a importância da manutenção da paz, da estabilidade, da segurança e da liberdade de navegação e de voo” no mar do Sul da China

MONGÓLIA PELO MENOS 12 MORTOS EM ACIDENTE DE AUTOCARRO

Pelo menos 12 pessoas morreram e uma dezena de outras ficaram feridas na sequência de um acidente de autocarro, na tarde de sábado, na região da Mongólia Interior, no norte da China, informou domingo a agência oficial Xinhua. Segundo informações facultadas pelas autoridades locais, o acidente ocorreu cerca das 17:20 quando um automóvel colidiu com o autocarro numa estrada da cidade de Hulun Buir. Nove pessoas morreram no local, enquanto treze ficaram feridas, quatro das quais com gravidade, sendo que três acabaram por sucumbir posteriormente no hospital. As autoridades estão a investigar as causas do acidente.

Em Julho do ano passado, o tribunal deu razão às Filipinas, considerando ilegítimas as reivindicações chinesas sobre áreas que Manila considera parte da sua zona económica exclusiva. Contudo, pese embora o veredicto, Duterte optou por centrar-se no restabelecimento de laços com a segunda economia mundial. Tanto que antes da cimeira de chefes de Estado e de Governo da ASEAN afirmou desde logo que não iria levantar o tema da disputa territorial com Pequim, levando os seus críticos a acusá-lo de subserviência. O comunicado divulgado este domingo “reafirma a importância da manutenção da paz, da estabilidade, da segurança e da liberdade de navegação e de voo” no mar do Sul da China. Também coloca em evidência a necessidade de “contenção”, defendendo que deve ser “evitada qualquer acção susceptível de complicar a situação”. O próximo encontro dos líderes do bloco regional realiza-se em Novembro, estando prevista a presença do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Só os dez países da ASEAN formam um bloco de 625 milhões de habitantes (mais do que os cerca de 500 milhões da União Europeia), que pretende chegar a um Produto Interno Bruto conjunto de 4,7 mil milhões de dólares em 2020 (e tornar-se na quarta potência económica mundial dentro de 15 anos.

crescimento da actividade da indústria manufactureira da China abrandou em Abril, sinalizando uma recuperação instável na segunda maior economia mundial, de acordo com dados oficiais sábado divulgados. O índice que mede a actividade nas fábricas, oficinas e minas do país (PMI, na sigla em inglês), elaborado pela Federação de Logística e Aquisições da China, caiu para 51,2 pontos em Abril contra os 51,8 que tinham sido registados em Março. O PMI, tido como um importante indicador mensal da economia chinesa, baseia-se numa escala de 100 pontos: Quando se encontra acima dos 50, sugere uma ex-

pansão do sector e abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção do nível de actividade. Apesar do abrandamento, Abril marca o nono mês consecutivo de expansão, depois de em Março a actividade da indústria manufactureira da China ter recuperado para o nível mais alto em quase cinco anos. Pequim está a encetar uma reconfiguração no modelo económico da China, visando um maior ênfase do consumo interno, em detrimento das exportações e do investimento em grandes obras públicas. A economia chinesa cresceu 6,7% em 2016, o ritmo mais lento dos últimos 26 anos.

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Governo da Região Administrativa Especial de Macau Serviços de Saúde

Aviso Para a comemoração do Dia Internacional do Enfermeiro 2017, Serviços de Saúde da RAEM, tem a honra de convidar todos os enfermeiros, alunos de enfermagem e enfermeiros reformados do território para o jantar de comemoração que se realizará no dia 5 de Maio, pelas 19:00H, no Restaurante “Plaza”. Contamos com a vossa presença. Local: Restaurante “Plaza” Data: 05/05/2017 (6a Feira) Hora: 19:00 (a partir das 15 horas a sala estará disponível para convívio). Programa: Jantar, sorteio, espectáculo de variedades, atribuição de prémio para os enfermeiros com 20 e 30 anos de serviço em prol do território Prazo de inscrição: até o dia 02/05/2017 (Inscrição esgota-se com o preenchimento dos lugares disponíveis) Inscrição e Contactos: - Os enfermeiros podem fazer as inscrições nas instituições que pertencem aos Serviços de Saúde, Hospital Kiang Wu, Hospital Universitário de Ciência e Tecnologia de Macau e Instituto Politécnico de Macau - Outras instituições : e-mail heidi@ssm.gov.mo - Os enfermeiros reformados podem contactar a enfermeira-chefe Lam Fong Ieng, nas horas de serviço 9h-13h, 14h30-17h (Tel: 63009297) Serviços de Saúde


h ARTES, LETRAS E IDEIAS

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Leitura para a Universidade dos Andes ACERCA DO RISO E DO LIVRO LA ENFERMIDAD FELIZ

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M Do Sentimento Trágico da Vida, Miguel de Unamumo escreve, logo nas primeiras páginas: “O homem, dizem, é um animal racional. Não sei porque não se diz que é um animal afectivo ou sentimental. Pois talvez o que nos diference dos outros animais seja muito mais o sentimento do que a razão. Já vi mais vezes um gato a raciocinar do que a rir ou a chorar. Talvez chore ou ria para dentro, mas para dentro talvez também o caranguejo resolva equações de segundo grau.” Estamos perante um definição de humano através do sentimento. Mas não é de um sentimento ou de sentimentos quaisquer que Unamuno fala. Pois ele não teria dificuldade em admitir que os animais sofrem ou sentem alguma espécie de contentamento. Os animais têm sentimentos, sem dúvida, mas aquilo que define o humano, segundo Unamuno, são as sensações ou sentimentos limite: o riso e o choro. Independentemente, e é aqui o que menos importa, da definição de humano, tentemos reflectir acerca do riso. Talvez o choro não seja tão difícil de definir, pois embora por vezes se possa rir de alegria ou de emoção por algo ou por alguém, a maioria das vezes o choro tem origem no sofrimento mais intenso, quer seja da perda de alguém até às nossas próprias dores físicas. E, por conseguinte, talvez também não nos seja difícil atribuir choro, ou alguma forma de choro, a alguns animais em sofrimento intenso. Mas o riso é mais difícil de entender e de explicar. Dito de outro modo: o choro tem quase sempre uma causa, o riso não. Em qualquer parte do planeta, um homem com uma bala no estômago chora, mas não podemos dizer que em qualquer parte do planeta nos rimos de uma anedota ou de um comentário engraçado. Luigi Pirandello, no seu ensaio Humorismo, escreve: “(...) é inegável que cada povo tem o seu humor; o erro começa quando este humor, naturalmente mutável em suas manifestações segundo os momentos e os ambientes, é considerado como humorismo (...)” A dor é universal, ou tende à universalidade, o riso não. Aliás, qualquer um de nós sabe bem que as relações pessoais ganham muito ao desenvolverem a sua própria linguagem de riso. As chamadas “private jokes” são do que melhor acontece entre os humanos, aquilo que mais liga os humanos. Isso e a partilha de sacrifícios. E uma vez mais temos como motor das ligações humanas o riso e o choro. Mas o riso, embora possa ser universal – no sentido em que todos se riem – tende para o particular. Muita amizade nasce no riso, na partilha do riso. Por outro lado, contrariamente ao choro, não sabemos de onde nasce o riso. De onde vem essa nossa necessidade de rir. E reparem noutra coisa interessante: raramente nos rimos sozinhos; as vezes em que o fazemos, relembramos episódios passados, vemos filmes ou peças de teatro ou assistimos a um acontecimento; e em todos estes exemplos há sempre o outro (já o filosofo francês, Henri Bergson, nos alertara para a necessidade de

eco do riso, o riso é sempre o riso de um grupo). No choro, não. A maioria das vezes choramos sozinhos. Aliás, quantas vezes não nos afastamos dos outros, precisamente para chorar, para chorarmos sozinhos. A relação entre riso e choro é estranha, e não poucas vezes nos leva a ficar diante do contraditório. Por exemplo, choramos sós, rimo-nos acompanhados, mas há mais metafísica no riso do que no choro. E é aqui que iremos lembrar Henri Bergson, que contrariamente ao filósofo espanhol, com que iniciámos esta leitura, diz que o riso é inteligência pura. Para o filósofo francês, para que o riso aconteça teríamos que anestesiar momentaneamente o coração. Para se rir há que não ter coração, por instantes, apenas inteligência (ainda que haja risos que nasçam sem qualquer migalha de inteligência, como se sabe). Independentemente de

O riso, embora possa ser universal – no sentido em que todos se riem – tende para o particular. Muita amizade nasce no riso, na partilha do riso. Por outro lado, contrariamente ao choro, não sabemos de onde nasce o riso. De onde vem essa nossa necessidade de rir concordarmos ou discordarmos desta posição de corte entre riso e emoção, por parte de Bergson, o que parece não causar dúvidas é a ligação necessária entre inteligência e riso. E não se veja aqui em inteligência uma medida do uso do cérebro, mas tão somente a capacidade de separar o que se conta (ou que assistimos) da nossa vida. A inteligência, num primeiro momento, separa. E para rir temos de separar a anedota da nossa vida. Quando nos rimos de alguém bêbado, estamos a conseguir separar o que está acontecer da vida. Não só da minha vida, como se isso não me acontecesse, mas também como se quem faz aquelas figuras não fosse uma pessoa, mas apenas um personagem. A empatia acaba com o riso. Se, ao nos rirmos de alguém que está bêbado e faz figuras caricatas, nos lembrarmos que podíamos ser nós, ou que essa pessoa tem filhos e mulher e que eles sofreriam se o vissem assim, paramos de rir. Ainda no seu ensaio Humorismo, Luigi Pirandello escreve: “Vejo uma velha senhora, com os cabelos retintos, untados não se sabe de qual pomada horrível, e depois toda ela torpemente pintada e vestida de roupas juvenis. Ponho-me a rir. Advirto que aquela velha senhora é o contrário do que uma velha e respeitável senhora deveria ser. Assim posso, à primeira


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máquina lírica

vista e superficialmente, deter-me nessa impressão cómica. O cómico é precisamente um advertimento do contrário. Mas se agora em mim intervém a reflexão e me sugere que aquela velha senhora não sente nenhum prazer em vestir-se como um papagaio, mas que talvez sofra por isso e o faz somente porque se engana piamente e pensa que, assim vestida, escondendo assim as rugas e as cãs, consegue reter o amor do marido, muito mais jovem do que ela, eis que já não posso mais rir disso como antes, porque precisamente a reflexão, trabalhando dentro de mim, me leva a ultrapassar aquela primeira advertência, ou antes, a entrar mais em seu interior: daquele primeiro advertimento do contrário ela me fez passar a esse sentimento do contrário. E aqui está toda a diferença entre cómico e humorístico.” Contrariamente ao que Unamuno escreveu, o riso realmente não é sentimento. O riso é muito mais uma reacção contra o sentimento do que um sentimento em si. O riso nasce da nossa consciência de sentirmos demasiado. O riso nasce da nossa necessidade de esquecimento da vida, ainda que através do humor se possa alcançar uma consciência ainda mais elevada da consciência da nossa situação no mundo. Richter escreveu que aquilo que leva ao riso é “a melancolia de um espírito superior que chega

A Doença da Felicidade, além de ser um livro irónico, é um livro que nasce da noção de que o absurdo é estar vivo, não saber nada sobre a existência, ainda que se saiba como fazer uma jangada para ir à Lua, e estar continuamente a viver segundo mandamentos até a divertir-se com aquilo que o entristece.” Como, por exemplo, naquela célebre tira de Quino, em que um homem está perdido no deserto, diante de uma placa que diz: “Agora, você está precisamente aqui.” [“En este momento usted se encuentra exactamente aquí”.] Imediatamente nos rimos. Mas se pensarmos que essa é a nossa situação na vida, o riso vai esmorecendo, como no exemplo dado atrás por Pirandello. Pois acerca do nossa vida, que sabemos nós, além de que “agora, estamos exactamente aqui”? E é agora, com a ajuda de Quino, que passamos a falar do absurdo. E de como o absurdo está inequivocamente ligado ao riso. No livro Sobre o Riso e a Loucura, do célebre médico da Grécia Antiga, é narrada uma suposta viagem de Hipócrates à cidade de Abdera para curar o filósofo Demócrito, que, rindo de tudo e de todos, é considerado louco pela população da cidade. Demócrito, no diálogo com Hipócrates, zomba da condição humana de seu tempo, especialmente da ganância e dos grandes vícios. Condição humana que continua igual, passados quase três milénios. O que estava em causa no riso de Demócrito era o sem sentido do mundo e da existência. Esse sem sentido levava-o a viver com o único propósito de estar bem

Paulo José Miranda

disposto. Tudo o fazia rir, porque ele sabia que tudo era nada, que tudo conduzia a nada. Para Demócrito, a existência é um absurdo. E absurdo, como a palavra mesmo diz em latim, ab surdo, é algo que não se consegue escutar. É algo que está para além do entendimento, algo que não faz sentido. Mas o absurdo não é a existência, é antes que ela exista e nós não saibamos nada acerca dela, a não ser que se nasce e que se morre. Da existência, sabemos o mesmo que o homem perdido no deserto sabe, na tira do Quino: agora, estamos precisamente aqui. Este estar vivo e não saber nem porquê e nem para quê é que fez nascer o riso. O riso é filho da ignorância e do saber. Da ignorância, porque nós realmente não sabemos o que se passa; do saber, porque é a tomada de consciência desse não saber. E é daqui que nasce o riso. Chegados aqui, entramos na minha novela. A Doença da Felicidade é uma alegoria acerca de um dos conceitos que menos sabemos e de que mais falamos: a felicidade. Assim, e para levar a ironia, porque é de ironia que se trata, a ironia é o veículo que transporta as palavras desta novela, ao extremo, fiz da felicidade um objecto de estudo das chamadas ciências exactas, criando inclusivamente toda uma história dessa ciência, a eudaimonologia. Eudaimonologia, ciência que na novela estuda a felicidade, deriva da palavra Grega Antiga “eudaimonia”, que quer dizer, um “bom deus”, “um bom daimon”, isto é, que alguém tinha um bom deus a interceder por ele, ou simplesmente ele tinha “felicidade”. Neste contexto, crio também a palavra “eudaimonina”, que deriva de “eudaimonia” e da partícula “ina”, que no Grego Antigo é indicativo de toxicidade, como por exemplo nas palavras “caféina”, “cocaína”, “heroína” e “nicotina”. E a eudaimonina é a substância responsável por querer ser feliz ou ser feliz. E querer ser feliz é muito pior do que ser feliz, como se pode ver no livro. Toda esta alegoria pretende alertar-nos para o absurdo da existência e para o absurdo de se traçar uma vida segundo valores que não sabemos de todo em todo o que são, o que querem dizer. Que quer dizer ser feliz? O que é ser feliz? São muitas as tentativas filosóficas ao longo do tempo, de dizer o que é a felicidade, e algumas contraditórias. E são ainda mais as tentativas burlescas, teorias de trazer por casa e pelas mesas de café, que só a rir, se pode falar disso. Só com ironia se pode falar disso. A Doença da Felicidade, além de ser um livro irónico, é um livro que nasce da noção de que o absurdo é estar vivo, não saber nada sobre a existência, ainda que se saiba como fazer uma jangada para ir à Lua, e estar continuamente a viver segundo mandamentos, regras que são tão válidas como esta, que o narrador de A Doença da Felicidade escreve às páginas 51-2: “CANTAR PODER PREJUDICIAL? [a quem contraiu a doença] A actividade de cantar deve ser administrada com muito cuidado. E, tal como com fazer amor, muda de caso para caso. Se uma pessoa canta muito mal, cantar não prejudica o tratamento. Se canta muito bem, tal pode ser um entrave ao tratamento. No fundo, o mesmo se aplica para qualquer actividade artística. De modo geral, meu pai proibia aos seus pacientes envolverem-se nessas actividades durante o tratamento.” E eu, para terminar, diria: se está vivo, evite seguir regras, pois elas foram feitas por alguém que muito provavelmente não sabe mais acerca da existência do que você.


14 (F)UTILIDADES TEMPO

MUITO

hoje macau terça-feira 2.5.2017

?

NUBLADO

O QUE FAZER ESTA SEMANA Sexta-feira

MUSIC SESSIONS COM BANDA 80 E TAL Pousada de Coloane | Das 19h00 às 21h00

MIN

22

MAX

26

HUM

80-98%

EURO

8.74

BAHT

PERFORMANCE NAS RUAS “CROSSWORK OFF SITE”, DO GRUPO SODA CITY EXPERIMENTAL WORKSHOPS Zona da Doca de Lam Mau | 12h00 às 18h00

Domingo

PERFORMANCE NAS RUAS “CROSSWORK OFF SITE”, DO GRUPO SODA CITY EXPERIMENTAL WORKSHOPS Ponte Horta e Costa | 12h00 às 28h00

O CARTOON STEPH

EXPOSIÇÃO “I AM 038: UMA EXPOSIÇÃO DE UM ARTISTA AUTISTA” Torre de Macau | Até 14/5 INSTALAÇÃO “SEARCHING FOR SPIRITUAL HOME II”, DE YEN-HUA LEE Armazém do Boi | Até 7/5 INSTALAÇÃO “FLUXO DE TONS” DE PAN JIN LING E PAN JIN XIA| Pavilhão de Chun Chou Tong | Até 7/5 EXPOSIÇÃO “VIAGEM SEM TÍTULO” Museu de Arte de Macau | Até 14/5

SOLUÇÃO DO PROBLEMA 27

EXPOSIÇÃO “AD LIB” DE KONSTANTIN BESSMERTNY Museu de Arte de Macau (Até 05/2017)

UM DVD HOJE

C I N E M A

PROBLEMA 28

SUDOKU

DE

EXPOSIÇÃO DE AGUARELAS DE CHU JIAN & HERMAN PEKEL Fundação Rui Cunha | Até 25/5

Cineteatro

1.16

APOCALIPSE URBANO

Sábado

Diariamente

YUAN

AQUI HÁ GATO

ZOOM POP-UP BAZAR Lax Café | A partir das 18h30

JAZZ SUNDAY SESSIONS Live Music Association | A partir das 20h00

0.23

O saco abre-se no meio da rua e bate-me na perna. Outro saco arranca-me os headphones à força e vejo-me obrigado a apanhar o pequeno aparelho que dá música aos meus ouvidos. De repente, um cotovelo, mais uma mão no ar, e um guia com um grupo de turistas. O meu pequenino espaço na transversal é subitamente invadido por um senhor velhinho e com ar cansado que carrega uma quantidade inacreditável de coisas. São objectos de cartão, madeira. Não sei para que serve tudo aquilo mas surge de repente, atrapalhando o trânsito, como naquela canção do Chico. Agarro o aparelho que deixei cair, tudo está bem, mas começa a chover. O trânsito fica insuportável em cinco minutos (tornou-se mais insuportável do que antes), vejo uma quantidade enorme de guarda-chuvas a virem contra mim, escondo-me, quero fugir do apocalipse, não consigo. Movo-me, escolho ruas que ninguém conhece para me mexer, tento chegar a algum lado no meio do caos urbano que tenha lógica, que faça sentido, mas não consigo. Caminho mais um pouco, todos correm para se abrigar da chuva enquanto gritam ao mesmo tempo. Não percebo porque têm de gritar, dêem-me só um pedaço de silêncio, uma ausência de cheiros. Pu Yi

ELIS REGINA NO PROGRAMA ENSAIO | 1973

Elis Regina tinha acabado de gravar o segundo disco, em 1972, quando, no ano seguinte, pegou num punhado de canções e cantou-as ao vivo para o programa Ensaio, no Brasil. As gravações estão hoje disponíveis em DVD e mostram a relação e as emoções de uma grande cantora em relação à sua própria obra. É música em estado puro, num cenário a preto e branco, sempre com o fumo do cigarro. Andreia Sofia Silva

BRAIN ON FIRE SALA 1

SHOCK WAVE [C] Filme de: Herman Yau Com: Andy Lau, Jiang Wu, Philip Keung, Ron Ng, Song Jia 14.30, 16.45, 19.15, 21.30

THE BOSS BABY [B] FALADO EM CANTONENSE Fime de: Tom McGrath 17.00, 19.30 SALA 3

SALA 2

BRAIN ON FIRE [B]

Filme de: F. Gary Gray Com: Vin Diesel, Michelle Rodriguez, Dwayne Johnson 14.30, 21.15

Fime de: Gerard Barret Com: Chloe Grace Moretz, Thomas Mann, Carrie-Anne Moss 14.30, 16.30, 19.30, 21.30

FAST & FURIOUS 8 [C]

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Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Isabel Castro; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Sofia Margarida Mota Colaboradores António Cabrita; Anabela Canas; Amélia Vieira; António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; João Paulo Cotrim; João Maria Pegado; José Drummond; José Simões Morais; Julie O’Yang; Manuel Afonso Costa; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Paulo José Miranda; Paulo Maia e Carmo; Rui Cascais; Rui Filipe Torres; Sérgio Fonseca; Valério Romão Colunistas António Conceição Júnior; André Ritchie; David Chan; Fa Seong; Fernando Eloy; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho; Rui Flores; Tânia dos Santos Cartoonista Steph Grafismo Paulo Borges, Rómulo Santos Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva (publicidade@hojemacau.com.mo) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail info@hojemacau.com.mo Sítio www.hojemacau.com.mo


15 hoje macau terça-feira 2.5.2017

OPINIÃO

macau visto de hong kong

A morte do gangster

BRIAN DE PALMA, SCARFACE

DAVID CHAN

N

O passado dia 19 a televisão de Hong Kong difundiu a notícia da morte de Yip Kai Foon, conhecido como o Rei dos Ladrões. Yip morreu de cancro no Hospital Queen Mary. Yip Kai Foon nasceu em 1961 em Haifeng, na China. Ganhou fama como gangster especializado no roubo de joalharias, que assaltava empunhando espingardas AK-47. Foi o primeiro assaltante a usar este tipo de armas em Hong Kong. O seu primeiro assalto remonta a 1984. Yip e outros cinco cúmplices roubaram duas joalharias e arrecadaram 2 milhões de dólares de Hong Kong. Foi preso e considerado culpado de quatro acusações (duas de assalto, uma por cada uma das lojas, uma por posse de armas de fogo e outra por uso de arma para resistir à detenção). Foi condenado a 18 anos de prisão. A 24 de Agosto de 1989 conseguiu evadir-se depois de ter simulado uma crise de apendicite e de ter sido transferido para

A detenção de Yip foi um caso espantoso. Cometeu vários assaltos e conseguiu sempre escapar. Mesmo quando foi preso em 84 acabou por se evadir. Nessa altura as pessoas achavam que era impossível prendê-lo. Acabaram por ser dois polícias, que não faziam ideia de ter perante si o Rei dos Ladrões, que o detiveram o Hospital Queen Mary. Aí, atacou dois guardas na casa de banho com uma garrafa partida e conseguiu fugir numa carrinha estacionada à entrada do Hospital. Furtou o veículo e arrancou com os dois ocupantes lá dentro, um homem de 37 anos e o filho de seis. Depois obrigou o homem a tirar a roupa para ficar com ela. Saiu em Wong Chuk Hang e apanhou um autocarro. Presume-se que a seguir tenha apanhado um avião para a China continental. A 9 de Junho de 1991, Yip e o seu bando, armados com AK-47s e com pistolas, assaltaram cinco ourivesarias situadas na “Dourada” Rua Mut Wah em Kwun Tong. Dispararam 54 tiros contra a polícia e fugiram com ouro e jóias no valor de 5,7 milhões de Hong Kong dólares. Yip também esteve ligado ao roubo de duas joalharias em Tai Po Road e em Sham Shui Po, a 10 de Março de 1992. Dessa vez,

o bando disparou 67 tiros contra a polícia e contra transeuntes. O produto desse assalto foi avaliado em 3 milhões de Hong Kong dólares. Pensa-se que Yip também esteve envolvido no assalto a uma joalharia situada na Nathan Road, em Mong Kok. Neste assalto, na sequência de múltiplos disparos, uma mulher que ia a passar foi morta. Durante a perseguição que se seguiu, um dos assaltantes foi morto pela polícia; os outros lançaram o corpo para o meio da rua e conseguiram fugir de carro. A polícia de Macau suspeita que Yip esteve envolvido no assalto ao Hyatt Regency Hotel, na Taipa, que ocorreu em Abril de 1994. Desta vez foram roubadas fichas de jogo no valor de 40 milhões de Hong Kong dólares. Em 1995, Yip passou a actuar em Shenzhen e, em Janeiro desse ano, participou no

rapto e no assassinato de um empresário de Tianjin e em Novembro na morte de um informador da polícia. Estima-se que o total do produto dos seus furtos ascenda a 20 milhões de Hong Kong dólares (aproximadamente $2,576,920 de dólares americanos). Mas a 13 de Maio de 1996 a carreira de Yip chegava ao fim, quando foi preso na sequência de um tiroteio na Kennedy Town. Nesta troca de tiros com a polícia Yip foi atingido na espinha dorsal e ficou paralisado da cintura para baixo. Dois polícias tinham surpreendido Yip e o seu bando numa travessa perto do cais. Tinham acabado de sair de um barco, e os agentes suspeitaram que fossem imigrantes ilegais e pediram-lhes a identificação. O resto do bando conseguiu fugir, mas Yip sacou de uma arma que trazia na mala e começou a disparar. Quando mais tarde testemunharam, os polícias disseram que o tinham exortado sem êxito a depor a arma. Yip continuou a disparar. Mas, de repente, a arma encravou. Um dos polícias disparou contra ele e a bala atingiu-lhe a coluna. Yip caiu de imediato e foi preso. A bala que o atingiu nunca chegou a ser tirada porque os médicos perceberam que a remoção ainda ia provocar mais danos na espinha dorsal. Desde essa altura Yip ficou confinado a uma cadeira de rodas e a uma sentença para a vida. Foi condenado, no acumulado das acusações, a uma pena de 41 anos de prisão. A detenção de Yip foi um caso espantoso. Como pudemos ver, cometeu vários assaltos e conseguiu sempre escapar. Mesmo quando foi preso em 84 acabou por se evadir. Nessa altura as pessoas achavam que era impossível prendê-lo. Acabaram por ser dois polícias, que não faziam ideia de ter perante si o Rei dos Ladrões, que o detiveram. E é preciso não esquecer que um destes agentes era um recém-graduado, acabado de sair da Escola de Polícia. Prender Yip nestas circunstâncias há-de ter sido qualquer coisa de inacreditável. Depois do tiroteio Yip ficou paralisado. Mais tarde na prisão foi-lhe diagnosticado um cancro que o veio a matar. A fase final da vida de Yip foi muito triste. Preso, paralisado e a sofrer de cancro fatal. Nem sequer podia receber os cuidados da família. Duma certa forma, antes de morrer teve apenas por companhia a doença e os seus erros. Os chineses têm um ditado que diz, “O nosso destino decide-se numa dimensão invisível.” Talvez a forma como foi preso seja disso um sinal. O cancro, a solidão e o peso dos seus erros serão outro. Talvez, nas sombras onde vive, o destino ajude a lei a atingir o objectivo de manter a ordem e a justiça social. Professor Associado do IPM Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Jazz legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog


Se as guerras dão dinheiro, porquê acabar com elas? Atlântido

ENSINO ALEXIS TAM REUNIU COM REITORA DA UNIVERSIDADE CATÓLICA

GONÇALO LOBO PINHEIRO

O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, reuniu com a reitora da Universidade Católica Portuguesa, Isabel Capeloa Gil. Segundo um comunicado oficial, o secretário afirmou que “o investimento na formação da língua portuguesa e a formação de quadros bilingues são grandes prioridades governativas”, algo que “tem justificado um grande investimento de recursos”. Quanto ao novo campus da Universidade de São José (USJ), actualmente em construção na Ilha Verde, Alexis Tam apontou que irá permitir “melhorar e expandir a qualidade de ensino” da USJ.

Alexis Tam PUB

O

director da CIA, Mike Pompeo, estava ontem na Coreia do Sul para uma “reunião interna” e não para reunir com dirigentes sul-coreanos, afirmou a embaixada dos Estados Unidos, numa altura de tensão na península. O jornal sul-coreano Chosun Ilbo tinha noticiado que Pompeo, que foi nomeado em Fevereiro para liderar os serviços secretos norte-americanos, tinha chegado durante o fim de semana a Seul e tinha participado em reuniões à porta fechada com o chefe dos serviços secretos sul-coreanos e representantes da presidência. Citando várias fontes próximas dos serviços secretos, o jornal escreveu que o director da CIA informou os seus homólogos sobre a política norte-coreana da administração Trump e avaliou a situação interna da administração norte-coreana. O Chosun Ilbo também refere que Pompeo falou sobre as perspectivas da relação americana-coreana na sequência das eleições presidenciais sul-coreanas agendadas para 9 de Maio. Um responsável da embaixada dos Estados Unidos confirmou que o director da CIA estava na Coreia do Sul, mas informou que o seu programa era muito limitado.

Visita relâmpago Director da CIA em Seul para “reunião interna”

“O director da CIA e a sua mulher estão em Seul para uma reunião interna com as forças norte-americanas na Coreia do Sul e responsáveis da embaixada.” EMBAIXADA DOS EUA “O director da CIA e a sua mulher estão em Seul para uma reunião interna com as forças norte-americanas na Coreia do Sul e responsáveis da embaixada”, disse.

“Ele não se vai encontrar com nenhum responsável da Casa Azul nem nenhum candidato”, acrescentou, sem adiantar detalhes sobre o programa de Pompeo. A

terça-feira 2.5.2017

Casa Azul é o local da presidência sul-coreana.

TEMPOS DIFÍCEIS

Esta visita decorre num clima de tensão relacionado com os programas nuclear e balístico de Pyongyang, numa altura em que a Coreia do Norte, que voltou a lançar novo míssil no sábado, poderia estar a preparar um sexto teste nuclear. Estas tensões são igualmente alimentadas pela retórica incendiária de Donald Trump, que disse estar preparado para “tratar” sozinho do problema norte-coreano se a China não controlasse o seu vizinho turbulento. O Presidente norte-americano suscitou igualmente a consternação em Seul, ao indicar que a Coreia do Sul devia pagar pelo sistema antimísseis norte-americano actualmente em fase de instalação. A implantação do THAAD suscitou a forte oposição de parte da opinião pública sul-coreana e a irritação da China, que vê o dispositivo como um atentado à sua própria soberania. “Há questões bem mais importantes do que o dinheiro”, refere um editorial do Chosun Ilbo, que acusa Trump de “minar a confiança” com as suas exigências financeiras.


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