Desafio de quem acolhe cães e gatos abadonados

Page 1

Adoção

@jornalesquina

24

Saúde

Desafio de quem acolhe cães e gatos abandonados

Castração

A equação é simples: existem mais animais do que lares para abrigá-los. Em Brasília, não há serviço de castração gratuita, que é uma das soluções possíveis para a redução do número de animais de rua. Em busca de uma alternativa rápida, os Centros de Controle de Zoonoses (CCZs) recorrem à captura dos bichos e os condenam ao sacrifício. Milhares de animais são mortos, nem sempre de forma humanitária, mas por falta de informações, de incentivos e subsídios à castração. A superpopulação de animais abandonados é uma realidade no Distrito Federal. A médica veterinária Raquel Prater afirmou que a castração é o método mais eficaz para o controle de natalidade dos animais domésticos e para a diminuição da eutanásia. “A esterilização minimiza drasticamente as chances de doenças como tumores de mama e de próstata”, assegurou. Raquel Prater afirmou ainda que a castração é indicada quando o animal atinge a sua maturidade sexual (por volta de seis a oito meses tanto para cães como para gatos) o que não impede a castração de um animal mais velho. “Cães e gatos podem ser castrados com idade mais avançada, mas os benefícios como a diminuição da agressividade pode ser não satisfatório”, afirmou. A profissional esclareceu que a castração não deve ser visto como um método agressivo para o animal de estimação, mas sim como uma maneira de evitar doenças graves e prevenir o abandono de filhotes, impedindo as barrigadas indesejadas, praticando assim, a adoção responsável. Indiretamente, a castração também contribui para a diminuição do índice de abandono, pois quanto maior a população de animais, maior a impossibilidade de cuidar de todos adequadamente.

Protetores lutam por melhores condições de vida para animais de rua

Henrique Rufino

henrigarza@gmail.com

H

umanizados pelos filmes, glamourizados pelos comerciais, mas, principalmente, esquecidos pelas ruas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há cerca de 30 milhões de animais abandonados em todo o país, e 20 milhões são cachorros. Sem lar e sem carinho, esses bichos sofrem sob o sol escaldante do dia ou sob o frio agonizante da noite. A principal tarefa é correr atrás de alimento, seja rasgando sacolas de lixo ou atrás de qualquer sobra. Dependem dos seres humanos. Tem gente que doa um dia. Tem gente que doa a vida inteira. Para quem resgata, o desafio é encontrar um lar para aquele animal, de modo que ele não retorne para as ruas. Com olhares vazios e tristes, esses cães e gatos estão invisíveis aos olhos da sociedade, perambulando nas ruas e rodovias até serem recolhidos e encaminhados aos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs), onde são, na maioria das vezes, sacrificados. Esses centros de acolhimento são um estoque de animais de várias raças e tamanhos que foram, na maioria das vezes, rejeitados por seus donos. Ao Jornal Esquina, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que a Diretoria de Vigilância Ambiental (Dival) não possui dados de quantos animais existem no DF, mesmo os que estão em situação de abandono.

eventos para arrecadar verba que é revestida em alimentação e consultas médicas para os bichos. “Nós conseguimos um espaço em uma igreja e nele realizamos bazares com roupas doadas pelos membros do grupo. Essa ação beneficia tanto os animais quanto às pessoas que compram as peças. Os preços são baixos e os produtos muito bons”. Mayná contou, ainda, que há dificuldades em acolher os animais que, até agora, estão em situação de abandono, devido ao grande número de bichos já acolhidos e aptos para adoção. Outro grande problema identificado é a quantidade de

animais desnutridos ou com doenças que poderiam ser evitadas se eles estivessem vacinados. “Infelizmente hoje nós só resgatamos aqueles animais que, se não forem acolhidos, irão a óbito. No entanto, nós disponibilizamos água e ração na rua, para que os animais tenham o mínimo, que é a comida. A maioria dos resgatados, quando avaliados pelo médico veterinário, apresenta algum quadro de desnutrição”. Ela contou que apesar de bonito, o trabalho é sofrido. Há animais que falecem pelas péssimas condições em que são encontrados, mas a satisfação em poder salvar vidas, é enorme. “Para quem gosta, é impossível devolver um animal pra rua. Eles ficam com a gente. Você cria afeto, cria carinho. O nosso trabalho é esse: além de dar abrigo, dar amor”, finaliza.

Adoção

Resgatar cães e gatos parece ser uma tarefa onde ter amor por animais é o único pré-requisito exigido. Mas, nem sempre quem resgata bichos de rua têm dinheiro, local e tempo para cuidar deles. O lar temporário que abriga um animal abandonado é uma alternativa solidária para reduzir o número de cães e gatos desabrigados. Quem oferece a moradia, tem a responsabilidade de alimentar e cuidar da saúde e do bem estar do bichinho, até que ele encontre um lar definitivo. Oferecer um lar permite que protetores e Organizações não-Governamentais (ONGs) ajudem outros animais que precisam ser resgatados a encontrarem uma vaga em abrigos superlotados. A bióloga Cristiane Torres, 28 anos, oferece lar temporário sempre que pode. Atualmente ela cursa medicina veterinária e trabalha como pet sitter, cuidando de cães e gatos enquanto os donos estão viajando ou trabalhando. A profissional oferece, ainda, banhos em residências e passeios para os bichinhos. Ela contou que adora abrigar animais e não mede esforços pra isso. “Meu marido diz que eu vou ficar pobre por ajudar tantos bichos.

Cristiane é pet sitter, responsável pelo bem-estar de animais enquanto donos viajam ou trabalham www.uniceub.br/jornalesquina

Meu marido diz que eu vou ficar pobre por ajudar tantos bichos. Não tem problema, se eu conseguir salvar uma vida, vou ficar muito feliz”

- Cristiane Torres

Cristiane tem duas cadelas, ambas adotadas. Cherrie é a mais nova integrante da família. A resgatada é uma poodle com idade aproximada de 16 anos e possui catarata e cinomose. A bióloga contou que isso não faz diferença alguma, pois o fato dela ser um animal especial, a torna mais amada e querida. Da renda obtida com o serviço de pet sitter e com a venda de produtos como perfumes e shampoos, 10% é destinada ao abrigo de onde Cherrie foi resgatada. Para Cristiane, a vida sem animal é monótona e sem graça. “Eu não consigo viver sem animal. Não é carência, mas uma necessidade minha. É tão triste quando você chega à casa de alguém e não tem um animal. Sempre fico esperando algum bichinho me receber”, contou.

@jornalesquina

25

Alternativa solidária em Formosa - GO abriga em lar temporário Tunico, o cãozinho machucado

Legislação

O Brasil não possui leis concretas que protegem os animais, nem contra o abandono e nem contra maus-tratos. Enquanto não há punições severas, cabe a pessoas como Mayná e Cristiane, tentar minimizar o abandono, mesmo de maneira improvisada. O artigo 32 da Lei Federal 9.605/98 considera o abandono de animais como um tipo de mau-trato e prevê pena de seis meses a um ano, com acréscimo de um sexto do tempo em caso de reincidência.

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgada em junho deste ano traz dados atualizados sobre animais de estimação nos lares de todo o país. No ano de 2013, o percentual de domicílios que tinham pelo menos um cão de estimação era de 44,3%, o que equivale a 28,9 milhões de residências. Já os gatos estão presentes em 17,7% dos lares, seguindo o mesmo critério de pelo menos um felino por residência, totalizando 11,5 milhões de residências.

Foto: Arquivo Pessoal

Ativista cuida de cães e gatos desabrigados em condições precárias. Ela oferece casa, amor e carinho aos animais em área no entorno de Brasília

Foto: Henrique Rufino

A estudante Mayná Lamunier, 21 anos, é ativista na causa animal e participa do grupo “Esperança para as patinhas” criado no WhatsApp. Ela contou que o principal trabalho desenvolvido pela equipe é encontrar lares temporários para os bichos resgatados na cidade de Formosa, em Goiás. “Hoje nós estamos com mais de 100 animais disponíveis para adoção. Infelizmente, esse processo ainda é muito difícil, pois as pessoas pegam os animais e pouco tempo depois, eles estão na rua novamente”, disse. A jovem relatou que todo tratamento dos animais é pago pelo grupo. Não há ajuda de custo de nenhuma natureza jurídica ou social. Todas as despesas são de responsabilidade dos ativistas que promovem

Raquel Prater é especialista em tratamento de animais com célula-tronco e a única profissional habilitada em Brasília para realizar este procedimento. Mesmo sendo uma técnica pouco conhecida, a veterinária explicou que o uso deste recurso é adequado para animais com indicativo de eutanásia e que é uma alternativa viável para doenças graves, já que o índice de rejeição no animal é zero, evitando assim a sacrificação do animal.

Foto: Arquivo Pessoal

Resgatar é preciso

Eutanásia

“Muitas doenças das quais tratamos com o uso de célula-tronco são resultado de animais não vacinados, como é o caso da cinomose. São bichos que possuem pouca qualidade de vida e que têm doenças degenerativas. Tratamos ainda doenças renais crônicas, artrite, artrose, entre outras patologias que tendem a aumentar o número de animais sacrificados”, afirmou. A veterinária contou que as células possuem origem de tecidos gordurosos de animais saudáveis, com idade aproximada de seis meses. As fêmeas têm preferência, desde que não tenham tido o primeiro cio. “A fêmea é submetida a uma intervenção cirúrgica para a castração, nessa situação é retirada uma porção de tecido adiposo que é avaliado no laboratório de microbiologia e se tiver apto, o tecido é processado até conseguir uma porção concentrada de células-tronco congelada no nitrogênio”. A ação das células têm poder anti-inf lamatório. Com a técnica, o animal deixa de sentir dor após 24 horas da aplicação. Em 48 horas, o animal já consegue andar sozinho, têm controle das fezes e da urina e outras recuperações notáveis. Com esse procedimento, a profissional realiza mensalmente o tratamento de dois animais resgatados do abandono de forma gratuita. Em parceria com ONGs e protetores fidedignos, são realizados exames para saber se os bichos escolhidos estão aptos para receber a terapia. “Infelizmente, nem todos os animais doentes podem receber célulatronco, como é o caso de cães com câncer maligno. Há fatores que são impeditivos à nossa terapia”.

SETEMBRO • 2015

Foto: Arquivo Pessoal

SETEMBRO • 2015

Saúde

#ajudaleão

Estrutural, 8h20, trânsito inverso sentido Plano Piloto, velocidade média de 80 Km/h. Essa é a rotina que a publicitária Caroline Morais, 32 anos, enfrenta para chegar ao trabalho todos os dias saindo da cidade satélite de Taguatinga. Em outubro de 2014, ela avistou um cachorro da raça chowchow de aproximadamente cinco anos, no canteiro central da rodovia. O peludo estava assustado, com fome, sede e dor. Caroline conta que ao passar pelo local, viu o cão atento ao movimento dos carros, mas seguiu em direção ao trabalho. “Eu não consegui trabalhar direito, o meu pensamento estava o tempo inteiro no cachorro. Comentei com um amigo que se dispôs a ir resgatá-lo comigo. Era o que eu precisava ouvir naquele momento”, contou Caroline. O amigo Luís Carlos Aragão ajudou a levar o resgatado para o hospital veterinário onde foi medicado e está internado até hoje. Na hora de preencher a ficha médica, o peludinho foi apelidado de Leão, devido à semelhança com o silvestre. Caroline não esperava que o bichinho trazia consigo vários problemas ortopédicos. “Eu imaginei que ele fosse ficar em observação e no outro dia seria liberado. Mas ele está internado até hoje. Já foram cinco cirurgias e provavelmente, para Página na rede social Facebook #AjudaLeão foi criada para contribuir nos custos do tratamento do cachorro ele voltar a andar, mais duas terão que ser realizadas. Em um desses procedimentos, ele também foi castrado”. O chow-chow foi diagnosticado com um corte no dorso, dentes quebrados, úmero fragmentado, joelho torcido, luxação no fêmur e na 13ª vértebra da coluna. Para custear o tratamento do Leão, a publicitária preparou rifas e criou um blog para arrecadar fundos e ajudar nas despesas. A primeira cirurgia foi feita no dia seguinte à internação.

Eu não ligo para raça de “ cachorro. Amor não tem raça” Caroline Moraes

www.uniceub.br/jornalesquina

A página ganhou o nome de #AjudaLeão e passou a ser atualizada diariamente para que todos pudessem ter conhecimento do resgate e ajudar da forma como achassem melhor. “As pessoas acham que só voltei e peguei porque era um cachorro de raça. Mas não foi por isso, eu não ligo para raça de cachorro. Amor não tem raça”. Carolina contou que o valor da rifa era 15 reais, mas também disponibilizou no blog a lista de medicamentos para quem preferisse contribuir dessa forma. Além disso, colocou o número da conta e do celular, para quem quisesse fazer doação bancária. “Certa vez, me assustei quando um rapaz me ligou avisando que havia feito um depósito de 300 reais. Fiquei irradiante de felicidade”, lembrou. Assim, Caroline tenta amenizar os custos com o Leão até hoje. Ela conta com a colaboração de conhecidos e amigos, que sempre doam utensílios para serem rifados. Todas as quartas-feiras ela visita o peludo no hospital que ele está internado. O próximo passo, após as próximas cirurgias, será conseguir um lar pra acolher o animal. “A intenção é dar o mínimo de qualidade de vida que ele merece. Na verdade não foi eu quem resgatei ele, ele quem me resgatou. Andamos tão descrentes da humanidade, em um mundo onde as pessoas maltratam os animais por nada, pelo simples prazer de maltratar e de repente você se vê nessa situação onde você encontra pessoas solidárias querendo ajudar a todo custo. Isso é lindo”, finalizou. Para saber mais sobre o resgate do Leão, acesse: http://www.ajudaleao.blogspot.com


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.