Espaço da Palavra 5

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EDITORIAL 3

NELINHA: TEXTOS QUE REVELAM O COTIDIANO Maria Benedicta Lima Della Torre

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LYA LUFT: A VIDA COLADA AO LADO FATAL Maria Lucia Nascimento Capozzi

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CONVERSAS À PRESTAÇÃO Kátya Forti

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DOCE FEL Sílvia Regina Delázari Ferreira

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ESPAÇO LITERÁRIO 25 ANOS Maria Benedicta Lima Della Torre

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A SEMANA António Zoppi

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CELEBRAÇÃO Carmen Sílvia Martins

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MEMÓRIA FOTOGRÁFICA

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O ÁRDUO CAMINHO PARA A ALFABETIZAÇÃO Antonio Roberto Fava

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PLÍNIO ZABEU: “ESCREVO SOBRE FATOS” Antonio Roberto Fava

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SAUDADE Maria Mirian

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TRÊS VIRTUDES: AMOR - JUSTIÇA - CARIDADE Joana Ossuna

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MULHER ATUAL Jota de Oliveira

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COLCHA DE RETALHOS Eraldo Humberto Monteiro

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DICOTOMIA/OFERENDA/AUTOBIOGRAFIA Ariel Capozzi

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A ESCOLHA POR UM MUNDO MELHOR Amadeus Soares

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PÁGINA DE MINHA VIDA Wilma Lúcia da Silva Moraes

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JUNTOS Jacob Garcia Filho

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OBRA DE UM AMOR Vera Lúcia Sarette Seleto

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WALTHER FAÉ: “ESCREVER É O ALIMENTO QUE ME SUSTENTA” Antonio Roberto Fava

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DICAS DE LEITURA Antonio Roberto Fava

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OPINIÃO DO LEITOR Capa: Heloisa C. Pavan

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TEXTOS QUE EMOCIONAM Chegamos ao quinto número da Espaço da Palavra. Usamos este tempo para pensar sobre como fazer uma revista ainda mais bonita, cujo conteúdo fosse digno do leitor que a publicação vem conquistando. E isso, curiosamente, pudemos constatar nas conversas de rua, nas lojas e livrarias, quando nos encontramos com pessoas que a leram. Elogios, muitos, delicados, que demonstram interesse e nos incentivam a continuar o caminho que escolhemos. Críticas há, poucas. Mas quase sempre como sugestão para torná-la melhor. A matéria sobre o radialista Geraldo Pinhanelli, embora não fosse essa a intenção, arrancou lágrimas de pessoas sensíveis, como o Marcos, um velho amigo que há tempos eu não via. Escreveu só para contar. Chorou também o próprio Geraldo, conforme me contou sua esposa Sônia. Os elogios são tantos, que ocupariam espaço enorme aqui. Amigos da Unicamp aplaudem a matéria sobre os 53 anos da morte de Graciliano Ramos. Não faltaram elogios também, segundo participantes do grupo que faz a revista, ao ensaio sobre o poeta Mario Quintana. Mas nem tudo, porém, foi apenas elogio, certo? Certo. Estamos neste mundo para aprender e aprender com os nossos próprios erros. Aí me vem à mente uma frase de Galileu Galilei: “Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com sua ignorância”. Muitos foram os aplausos para os 25 anos de história do Espaço Literário. Mas também houve crítica. Uma delas de um professor. Disse que a publicação andava “um pouco fraca de idéias”. Sugeriu então que escrevêssemos sobre os grandes pensadores. Expliquei que a nossa revista não tem o propósito de desenvolver teses, de promover acirradas discussões, nem polemizar controvérsias sobre literatura ou o pensamento clássico. Até hoje o texto que prometera ainda não chegou. A Espaço da Palavra vai continuar ao que sempre se propôs: divulgar o que de melhor se faz na cidade em termos literários. É o que de melhor a gente pode oferecer aos leitores da revista. Lembrando Cora Coralina:“Feliz daquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”.

EXPEDIENTE Ano II nº 5 setembro 2006 - PUBLICAÇÃO: Espaço Literário “Nelly Rocha Galassi”. CONSELHO EDITORIAL: Maria Benedicta Lima Della Torre, Antonio Roberto Fava, Maria Lucia Nascimento Capozzi, Heloísa Cecília Pavan e João Rodella. PROJETO GRÁFICO: Heloísa C. Pavan. PRODUÇÃO EDITORIAL: Maria Lucia Nascimento Capozzi. IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Gráfica e Editora Adonis. JORNALISTA RESPONSÁVEL: Antonio Roberto Fava - Registro Profissional nº 11.713-SP


Textos que transmitem o bem, o belo e o justo

Teias de amor, teias de saudade, teias em prosa, teias em poesia, tecidas por alguém que por onde passa tece com fé, otimismo, disposição a tela de sua vida. Assim é Catharina Fortunato de Barros, a Nelinha, como é mais conhecida por todos. Nasceu num dia de luz, em janeiro de 1923, na então Vila Americana. Filha de Thomaz Fortunato, imigrante italiano que aqui se tornou, pela competência e esforço, próspero empresário, e de D. Olga Orlando Fortunato, filha de imigrantes. Nelinha fez em Americana seus primeiros estudos cursando o primário e o ginásio e, depois, como aluna interna do Colégio São José, em Limeira, cursou e concluiu o Curso Normal. Formada professora não se dedicou ao magistério e sim ao comércio e a família. Casada há mais de cinqüenta anos com Raymundo Soares de Barros, seu grande companheiro de vida, criaram e educaram seus três filhos: Tânia, Marcos e Kátia. Hoje, já contam também com sete netos. Em Americana há, no caminho para Praia dos Namorados, uma chácara com a indicação: “Chácara da Vó Olga”, e é ali, num ambiente de beleza e tranqüilidade, que o casal, Nelinha e Raymundo, mora. Ela sempre gostou de escrever. Suas cartas e cartões são lembranças que quando recebemos vale a pena guardar pela originalidade do texto e encanto das frases. Após vinte e cinco anos de comércio e já com os filhos formados e casados, Nelinha aceitou, com prazer, o convite que lhe fez Nelly Rocha Galassi para fazer parte do Espaço Literário, que naquela década de oitenta, dava seus primeiros passos. Foi uma das primeiras sócias. Freqüentando as reuniões e incentivada pelas colegas escritoras, Nelinha venceu a barreira de sua timidez e começou, com entusiasmo a escrever poesias, crônicas e contos. Em 1994 publicou o livro “Teias” e nele afirma que: “Teias nos envolve, pois através delas descobrimos caminhos e atalhos”. Sua linguagem é clara, direta, singela e retrata o cotidiano, os entes queridos, a vida em família, devaneios, lembranças e paisagens. Escreve com o coração, não para os críticos literários mas para todos aqueles que são sensíveis, aos singelos, verdadeiros e universais valores humanos. Nelinha é também pessoa atuante na vida da sua cidade.

“Semeou tanto amor quanto podia, Na certeza também de amor colher, E bens acumulou sem perceber, Formando seu tesouro de alegria.” Há quarenta e sete anos pertence e se dedica ao Lions Clube de Americana (Centro) e a Comunidade de Thomaz de Aquino, que ela e companheiros criaram no Bairro onde moram. Os olhos claros de Nelinha são sempre direcionados para tudo que é bom, belo e justo, trabalha e escreve procurando transmitir esses valores para todos e para tudo. São essas as teias que tece formando no entrelaçado da vida seu “tesouro de alegria”. Em homenagem à Nelinha por ocasião do lançamento de seu livro “Teias”, Maria Lucia N. Capozzi, nossa companheira do Espaço Literário, escreveu este belo poema: TEIAS DE AFETO Para Nelinha

Enquanto os paturis voam em bandos, perfilados, e rubras romãs amadurecem sob o sol, a Vida filtra-se por entretecidas teias de ternura e deságua nas tangências de ti mesma! Enquanto esperas as orquídeas de junho, em florescências, na casa de antigas memórias, glicínias reflorescem os portais e no aroma agreste dos manacás de tua história afinam-se as cordas das sonoras cantigas de ninar! Enquanto lapidas, pressurosa, tuas pedras preciosas com mãos maternas, de filha e de afetos teu coração melífero traceja retratos amoráveis e traz tégulas de sonhos às teias de esperanças! Que nestas teias, amiga, tecidas entre linhas trames as telas em entretelas de mil anjos que te mantem no ar, assim, sempre suspensa entre os amores da terra e tão próxima dos céus.

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Maria Lucia Nascimento Capozzi

Nascida no dia 15 de setembro de 1938, em Santa Cruz do Sul, cidade típica de descendentes de imigrantes alemães vindos em 1825, a escritora gaúcha passou sua infância numa casa grande, com uma família divertida e, ao mesmo tempo, muito severa. Declarou algumas vezes que nela, como outras cidades de colonização alemã, se falava em “nós, os alemães, e eles, os brasileiros”, mesmo após estar há gerações no Brasil. Personalidade forte, contestadora, Lya era diferente das demais meninas e cedo afirmou: “Eu quero ser brasileira”. Jamais concordou com a afirmação generalizada que “no Sul do Brasil os brasileiros são meio europeus”. O preconceito para ela não tem nada de ingênuo ou inadvertido; a incomoda. Talvez por isso a escritora intimista escreva sem geografias, embora sempre admita a notável influência da cultura alemã em sua vida e obra: é grande e emocionada admiradora de Rilke, Grass, Bach e Beethoven. Sempre falou o idioma alemão (mas não o ensinou aos filhos), e cultiva suas raízes. Leu e traduziu muita literatura alemã. Aos 11 anos decorava longos poemas de Goethe e Schiller. Apaixonada pela biblioteca do pai, um intelectual, ensimesmada em seu mundo de ruídos e silêncios muito particulares, Lya ficava bom tempo olhando flores, totalmente absorta, tentando entender cada pequena coisa... Na juventude, foi estudar na capital, Porto Alegre, RS. Lá conheceu o professor de Português Celso Pedro Luft, de 40 anos. Lya tinha 21 anos. Quando abriu a porta da sala, numa prova de vestibular, deparou com “o homem mais bonito que já vi na vida”. O irmão marista Arnulfo, na época; ou Celso Luft, o filólogo. Estremeceu. Lya entrou, fez a prova, passou no vestibular e foi ser aluna do futuro marido durante três anos. Cursou Pedagogia, depois se formou em Letras anglogermânicas, fez mestrado em Lingüística, todos na PUC. Mais tarde, o mestrado em Literatura Brasileira e Portuguesa, na UFRGS. Em 1963, Celso Luft abandona a batina para se casar com Lya. O professor de português e lingüística foi o guru de Lya: paternal, companheiro, tranqüilo, sóbrio e intelectualmente afinado com a protegida. Tiveram três filhos: Suzana (1965); André (1966) e Eduardo (1969). O ingresso de Lya Luft na vida literária foi lento; não ambicionava ser escritora. Achava que a arte acontece na vida das pessoas. “Eu era uma boa aluna em redação e gostava muito de ler”. Na época da faculdade lia poesias em várias línguas. Tomada pelo sabor desse gênero, começou a criar poemas, participar de concursos de poesia, ser premiada. Por volta de 1964, Lya publicava crônicas, semanalmente, no antigo Correio do Povo. Publicou seus primeiros poemas no

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livro “Canções de Limiar”, em 1964. Em 1972, a coleção da Editora Sulina intitulada “Poetas hoje” publicou o segundo livro - “Flauta Doce”. Em 1976, escreveu alguns contos e enviou para o editor da Nova Fronteira. Ele respondeu que os contos eram todos “publicáveis”. No entanto, aconselhou Lya a escrever um romance, dizendo que ela era romancista. Dois anos depois ela escreveu “As Parceiras”. Em 1978 lançou seu primeiro livro de contos, “Matéria do Cotidiano”, no qual enfoca o percurso existencial de personagens femininas tentando se autodefinir entre recordações, temores, perdas e fantasmas pairando sobre o convívio familiar. A ficção entrou em sua vida dois anos depois de um acidente automobilístico quase fatal, em 1979. Após experimentar a visão muito próxima da morte, começou a fazer tudo que evitava. Assim, a partir do primeiro romance, em 1980 - quando estava com mais de 40 anos - passou a se considerar uma escritora. E não mais parou de escrever livros. Primeiro foram crônicas, com o lançamento de “As Parceiras”, em 1980; e “A Asa Esquerda do Anjo”, em 1981. Em 1982 publica “Reunião de Família”, no qual ela imerge profundamente nas origens da família burguesa e destrói falsas ilusões, disseca valores e contravalores de uma sociedade hipócrita. Em 1984, outros dois livros: “O Quarto Fechado” e “Mulher no Palco”. Em 1987, lança “Exílio”. Em 1989, publica o livro de poemas “O Lado Fatal”, revelador da grande dor causada pela perda do companheiro Hélio Pellegrino, com quem vivera os últimos três anos. Aliás, entre suas obras, é o a única autobiográfica: fala de sua vida com Hélio, das doçuras dessa convivência apaixonada, do drama da morte interferindo numa relação ideal, o corte súbito e fundo na felicidade alcançada. A ousada escritora gaúcha, que dos 25 aos 47 anos fora casada com Celso Pedro Luft, separara-se dele em 1985 para viver com o psicanalistaescritor, que morreu repentinamente. Em março de 1985, a escritora Nélida Piñon apresentara Lya ao psicanalista mineiro Hélio Pellegrino. O encontro casual virou uma paixão avassaladora, um vendaval. “Não tivemos o tempo da monotonia, do desgaste”, diz a autora. A morte inesperada do amado talvez tenha deixado como conforto a sensação de um amor intemporal e persistente e que parece eterno porque supera a vida e suas dilacerantes surpresas. A morte interrompera a cena. Restaram gestos inacabados, beijos colados nos silêncios dos lábios fechados. “Deus (ou foi a Morte?) golpeou com sua pesada foice/ o coração do meu amado (não se vê a ferida, mas rasgou o meu também)./ Ele abriu os olhos, com ar deslumbrado,/ disse bem alto meu nome no quarto de hospital e partiu.”


VIDA & OBRA

Em 1992, quatro anos depois da morte de Hélio, Lya aceitou a proposta de Celso para 'refazerem a vida' e voltou a casar-se com o primeiro marido. Voltou, então, para a casa do bairro Chácara das Pedras. Celso adoeceu meses depois e foi piorando até a morte, em dezembro de 1995. Em apenas oito anos Lya Luft sofreu duas perdas grandes demais. Em certa ocasião ela declarou: “O casamento com o Celso foi o fundamento da minha vida. Ele foi meu professor na faculdade. Era quase 20 anos mais velho do que eu. Devo muito ao Celso intelectualmente e emocionalmente. Ajudoume a crescer como ser humano, o que é muito importante numa relação. E o casamento com o Hélio foi de dois anos e pouco. Acho que tenho uma visão positiva do masculino. Os dois companheiros me ensinaram questões de vida e sobre mim mesma”. Em 1996, a consagrada escritora lançou “A Sentinela”, em que mais uma vez usa uma casa-labirinto como cenário, na qual uma mulher procura a saída, mas também tenta se decifrar ao longo do caminho e acaba se encontrando. Publica, também, o premiado livro “O Rio do Meio” (ensaios), considerado a melhor obra de ficção do ano. Em 1997, a “Secreta Mirada”, obra em que ela se deixou com ela mesma. Em 1999, “O Ponto Cego”; em 2000, outras duas obras: “Histórias do Tempo” e “Mar de dentro”, onde narra sua infância de forma leve, delicada, mas também irônica e intensa, repleta de memórias sensoriais: o cheiro da chuva, a terra morna, o vento nas folhas, o perfume da mãe, o som do mar, o silêncio das dunas de areia. A obra “Perdas e ganhos”, de 2002, foi absoluto sucesso, com mais de 500 mil exemplares em dois anos nas listas de mais vendidos. Em 2004, lança “Pensar é transgredir”, cujo conteúdo vai da preocupação com o social à inquietação pelo mistério da vida. Nele a autora revela seu lado bem-humorado e um pouco do cotidiano. Ainda nesse ano, Lya Luft envereda por um outro universo: o fantástico mundo do imaginário infantil, com “Histórias de Bruxa Boa”. Inspirada em histórias que contava para a neta Isabela, a escritora criou cinco histórias que incluem inusitadas e divertidas sugestões da menina, saídas diretamente da fantasia de uma criança. As ilustrações são da pintora e pediatra Susana Luft, mãe de Isabela e filha de Lya. Em 2005, a autora de vários best-sellers, que julgava já ter se casado e enviuvado demais, retornou à vida afetiva e à poesia com o livro “Para não dizer adeus”, repleto de delicadeza e sabedoria. Dedicado ao atual companheiro, Vicente, engenheiro carioca, a consagrada escritora desnuda em seus versos os mais profundos sentimentos ante a solidão, a morte, o amor, o assombramento, o encontro e o desencontro. Ela acredita que é possível amar mais de uma vez e que, na maturidade, a paixão é mais profunda, pois se vive mais intensamente. “Minha alma, guerreira ou mendiga,/inocente menina ou bruxa perversa,/faz dessa teia de caos e luz uma viagem/ com sempre um novo ponto de partida”.

Constata e comprova que há sempre um novo caminho quando se quer caminhar. Um novo ponto de partida e um novo tempo. Que assim como há perdas, há ganhos. E Lya

Luft, aos 66 anos, três filhos e sete netos, volta a apostar na vida e na literatura. Mudou-se da casa onde vivera nos últimos 33 anos e agora mora numa cobertura, em Porto Alegre, de frente para o Country Club, bem perto de onde vive a filha e ao lado de Vicente. Seu trabalho também pode ser notado em traduções de obras alemãs e em língua inglesa: “São mais de 30 anos de trabalho. Já perdi a conta de quantas obras traduzi. Acho que mais de 120 livros”, afirma a conceituada tradutora de Günter Grass, Bertolt Brecht, Virginia Woolf, Reiner Maria Rilke, Hermann Hesse, Doris Lessing, Botho Strauss, Thomas Mann e outros grandes da literatura universal. Hoje, Lya Luft busca a simplicidade e se considera mais romancista que poeta. Escreve depois de estruturar na cabeça, por um longo tempo, as matrizes de suas obras. Na poesia é contida, pessoal; no romance se expande, se universaliza. Seus textos são obsessivamente transparentes, sua linguagem deliberadamente limpa, as palavras sistematicamente claras. Lya nunca se preocupou e até hoje não se ocupa em filosofar, psicanalisar ou debruçar-se analiticamente sobre suas próprias obras. Paradoxalmente, mestrandos e doutorandos mergulham em sua obra e vasculham linha por linha seus livros, sondando os interditos e os avessos; perscrutando as escrituras feministas, o canto feminino; matrizes de gênero, representações, reclusões e repressões: o que é e o que não é 'luftiano'. Às vésperas de completar 68 anos, a escritora Lya Luft experimenta a serenidade daquele momento em que a quietude e a reflexão se instalam no cotidiano. “A maturidade me permite olhar com menos ilusões,/aceitar com menos sofrimento,/entender com mais tranqüilidade,/ querer com mais doçura./Às vezes é preciso recolher-se”.

Dona de uma prosa instigante e grande sensibilidade na poesia permeada de nitidez realista mas tranqüila, Lya Luft é uma das escritoras de maior sucesso do Brasil, na atualidade. A escritora gaúcha é conhecida por sua luta contra os estereótipos sociais. Não faz tarde de autógrafos, não gosta de discutir teorias literárias, nunca pensou em tradição literária, não quer fazer literatura regional, não quer ser representante de descendentes e nem pertencer a grupo algum. Quer mesmo é ser livre e ficar quieta no seu canto, com seu poderoso canto de mulher, que sempre permanecerá nas palavras, nos pensamentos, nos seus próprios “Limites”: “Abro a gaveta, e salta uma palavra:/dança sedutora sobre o meu cansaço,/veste-se de indefinições, vagueia/no labirinto das ambigüidades./Acha graça de mim, que espero à frente/encontrar a solução dos meus enigmas./ Tento uma geometria que a contenha/no espaço entre dois silêncios quaisquer,/mas ela decide meus passos; peso de fruta/no sono da semente, assiste à minha luta/quando a desejo aprisionar, e às vezes até finge/que sou eu a senhora, a domadora, a fonte,/As palavras riem dos poetas, pois são livres;/nós, mediação incompetente.” Maria Lucia Nascimento Capozzi editora, é autora de “Espelho de Mim”, Álbum de Retratos” e “A Literatura Possível”.

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O título desta crônica muito bem retrata uma realidade. Parece um “mal do século”, como diziam os literatos que deixaram como herança seus nomes nas páginas da história. Pela falta de tempo, o meio não nos permite outra alternativa que não seja deixar sempre um dedinho de prosa para a próxima ligação ou para o próximo encontro. Isso por um lado é bom, porque a prosa não termina nunca. Por outro aumenta a agonia daqueles que têm tanto para dizer e tão pouco tempo para externar o que estão sentindo ou o que está lhes acontecendo. Somos impedidos de dizer aos outros que nos preocupamos com eles, o quanto são importantes para nós. Enfim, é um paradoxo. Porque ouvimos prós e contras dos mais variados. Aqueles que passam semanas e até meses sem nos ver e nos cobram: “Nossa, você não liga mais pra mim, o que aconteceu?” Tempos depois encontramos a mesma criatura em um colóquio mais ou menos assim: “Oi, tudo bem? Que bom que você ligou! Me faz um favor: liga outra hora porque agora não dá pra falar com você. Desculpe.” Falta de tempo. Sinônimo do estresse cotidiano. Os anos passam cada vez mais rápido, os meses voam e os dias

Eram muitíssimo amigos. Aceitavam-se e compreendiam-se mutuamente. Eram confidentes, notas harmoniosas na sinfonia da vida. Até que um dia, ao voltarem a pé de uma quermesse em um bairro distante da cidade, viram-se pela primeira vez sob o olhar da lua feiticeira. Emerson percebeu uns olhos de amar em Letícia. Ela se encantou com uns olhos de paixão em Emerson. E foi assim a primeira vez em que suas mãos ficaram trêmulas, as respirações ofegantes, as palavras mudas e os corações a pulsar freneticamente. Beijaram-se. Sentiram-se queimar numa fogueira incandescente e descobriram o amor a brotar do âmago, feito flor de primavera. E continuaram se amando por longos dias... E viam-se belos... Letícia recebia flores e retribuía com ligações apaixonadas. Ouviam canções macias junto à lareira. Teciam longas e eternas declarações de amor, diziam ser um só ser, até que um dia, porque sempre chega um dia... Emerson pressentiu que os olhos de amar não eram

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então, amanhecem e anoitecem num piscar de olhos. O ser humano tornou-se um escravo do relógio, vive sob mira de um cronômetro inconveniente, que não dá trégua. O resultado disso são caixas e mais caixas de Lexotan, Dramin e outros medicamentos faixa preta que ao invés de amenizar o problema ajudam a “encapsular” cada vez mais o homem. Sinal dos tempos? Ou tendência de mal-estar do momento atual? Bom seria se pudéssemos de fato estar incluídos na tendência do bem-estar. Sem remédios, vivendo alegremente, sem estresse e sem culpas. É, provavelmente a vida seria bem diferente. Há quem defenda uma volta dos velhos tempos quando o jogo de dominó na pracinha do bairro era uma ótima pedida para colocar o papo em dia. Como o jogo era demorado - e muitos faziam questão que demorasse mesmo - a prosa ia longe, longe. Hoje, mal se tem tempo para o café sem açúcar, porque até o simples ato de despejar as duas colherinhas básicas na xícara já denota um sinal de atraso. Não se pode mais perder tempo. É tão salutar curtir um dedinho de prosa com uma pessoa amiga sem se preocupar com o momento seguinte. Como sonhar ainda não custa nada, ao invés de ficar contando carneirinhos na solidão da noite, faça de tudo para sonhar que está batendo altos papos com aqueles que você ama. Pelo menos acordará sorrindo. E isso fará uma grande diferença no seu dia. Com certeza! Katya Cristina Forti, psicopedagoga, é autora do livro “Alma em Flor”.

seus. Descobriu mais: que outros homens admiravam esses mesmos olhos de amar. E ele, então, já não falava de amor, fazia acusações ferinas e infundadas. Já nem a beijava de olhos fechados, mas com olhos semi-cerrados, desconfiados, condenados ao inferno ciumento. Não mais confidenciava suas dores, nem questionava como fora o dia de sua amada. Apenas a via como objeto de vitrine de outros tantos imaginários homens. Cego de ciúme, não mais se entregava ao sentimento nobre do amor, mas desacreditava amiúde da correspondência verdadeira. Ser-vassalo da dor, entregou-se a um diálogo interno conflitante, perguntava e respondia a si mesmo, um casmurro, mentiu-se e foi vítima de suas inquietações. Letícia tentou convencê-lo do amor que ainda sentia, mas foi em vão. O cego da alma não é capaz de enxergar as coisas belas e puras. E chegou um outro dia... Aquele em que depois de muito tempo um passa pelo outro, ambos fingindo não se conhecer, ambos alimentando dentro do peito uma estranha sensação, um misto de alegria e dor. Mas uma alegria que não lhes permitiu o sorriso e uma dor que também não lhes permitiu o perdão. Sílvia Regina Delázari Ferreira, professora de Língua Portuguesa, é autora dos livros infantis “Bichinhos Solidários” e “Um Porquinho Diferente”.


Maria Benedicta Lima Della Torre A palavra se transmuda em beleza, Quando com alma a elabora o escritor, E o nosso Espaço Literário, na certeza, Pode hoje, realizado, celebrar o seu valor! Vinte e cinco anos de completa existência, Vinte cinco anos de ideal e de união! Irmanados todos em bela convivência Podemos demonstrar já extensa produção. Aos que plantaram a fértil semente, Sonhando vê-la germinar e crescer, Onde estiverem agora, estarão contentes, Vendo a grande árvore, em frutos, florescer! Vinte e cinco anos o Espaço comemora, Vida que se fez em prosa e poesia, Dos ideais do ontem e do agora, Páginas escritas já em nossa história. Todos os sócios do passado e do presente Foram os baluartes de nossas vitórias, Saudades nos deixaram aqueles já ausentes, Nas páginas escritas em nossas memórias. Felizes, juntos vamos brindar o aniversário, Sabendo que é preciso, ao futuro prosseguir, Que Deus abençoe o nosso Espaço Literário Para que possa, sempre, crescer e reflorir! M. B. L. Della Torre é professora e escritora.

Segunda, terça, quarta, quinta e sexta, e sábado e domingo, eis a semana que corre tão veloz como uma besta e passa como o vento na savana. Os dias são porções de porcelana atiradas ao fundo de uma cesta. Não tem arte sagrada nem profana que as junte, nem com fogo de uma Vesta. Os dias são pedaços de uma vida que se perdem no tempo inutilmente, como cacos de cântara partida. E assim se decompõe cada semana. E os dias se desmancham finalmente, tal como se desmancha a vida humana. António Zoppi (†20/08/2000) foi jornalista, co-fundador do jornal “O Liberal”. Autor de onze livros de poesia, o brilhante sonetista foi sócio-honorário do Espaço Literário “Nelly Rocha Galassi”.

Carmem Sílvia Martins

Brilha uma luz de lua cheia e me traz uma mensagem dizendo que estás voltando. Saudades vêm na bagagem! Em raios de sol me douro escancaro o coração. Abro os braços e te abraço num gesto de proteção. E num amor sem medida confiro teus sentimentos. E celebro nossa vida que é feita desses momentos. Carmem Sílvia Martins é professora e pedagoga.


Sarau 25 anos

Regina Gouvea Gonçalves e Roberta Helena Suzigan Adamson

JosĂŠ Barichelo e Therezinha Rocha Poles

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Sueli e Eraldo Humberto Monteiro com a presidente Maria Benedicta Lima Della Torre

Clarinha Almeida e Nagiba Maria Risek Maluf

Ariel Capozzi

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Magali Berggren Comelato e Divina Maria Diniz Bertalia


Raymundo e Nelinha Soares de Barros Prof. Severino Moreira Barbosa e Sílvia Segatto

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Durante homenagem à fundadora Ivanise Pântano, a família presente: Anelise (neta), Rosamaria e Sílvia (filhas) e Maria Sílvia (nora).

Em clima de “Brasil Campeão (?)” Maria Moraes, M.B.L.Della Torre e Maria Lucia N. Capozzi em junho de 2006.

Raimundo Gonçalves de Aguiar, Ana Maria Volpato Jensen, Wilma Moraes, João Rodella, Jota de Oliveira, Gal Furlan e Bêne Barichelo. Sônia de Barros Cerântola

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Brasil registra (ainda) um índice de 16 milhões de analfabetos Antonio Roberto Fava Maxilar descansando sobre a palma da mão, a criança olha fixamente para a professora à sua frente. Apenas a olha, distraída, porque se tem a impressão de estar olhando para o nada à sua frente e ouvindo um amontoado de palavras sem sentido. Se a professora então lhe passa um texto qualquer, dificilmente consegue interpretar ou detectar as informações nele contidas, por mais simples que possam ser para a idade dela. A cena é muito comum em muitos estabelecimentos de ensino brasileiros. E não precisam ser escolas de Estados menos evoluídos. Bem próximas da gente há situações dessa natureza. Por incrível que possa parecer, o Brasil tem ainda hoje cerca de 16 milhões de analfabetos, metade deles concentrando-se em apenas 10% dos municípios brasileiros, segundo informações do MEC (Ministério da Educação). Recentemente o Instituto Ação Educacional/ Ibope desenvolveu pesquisa, em nível nacional, com pessoas com idade entre 15 e 64 anos. O resultado revela que apenas 25% dos brasileiros têm “habilidades mais refinadas”, como dizem os educadores, para ler um texto e compreendê-lo, digamos, de maneira mais ou menos eficiente. A pouco tempo o MEC divulgou que 52% das crianças têm dificuldades profundas com relação às quatro operações aritméticas. São vários os problemas que as levam a adquirir esse tipo de dificuldade. A pobreza da família, dizem os técnicos, não pode ser como uma das causas primordiais para que a criança não assimile o ensino da matemática ou do letramento. Embora o governo Federal tenha investido maciçamente em campanhas de rádio, televisão e jornais, principalmente às vésperas das eleições, os índices de analfabetismo absoluto e de analfabetismo funcional representam, respectivamente, 9% e 25%. Índices considerados altos para o país. De acordo com autoridades “entendidas” no assunto, um fator que precisa ser revisto é o tempo de escolaridade do indivíduo preconizado pela Unesco, de quatro anos, como indicador do chamado analfabetismo funcional. Observa-se que para se tornar um leitor de textos

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mais básicos do cotidiano, e incorporar isso às suas práticas sociais, são necessários pelo menos oito anos de escolaridade básica. Uma tarefa bastante difícil, uma vez que pelos dados de pesquisas recentes, 50% dos brasileiros não têm o ensino fundamental. Isso vale dizer que existe uma forte correlação entre escolarização e habilidade para o desenvolvido da leitura.

NÃO SE PODE COMPARAR BRASIL E ESTADOS UNIDOS Uma saída para isso, costumam dizer os especialistas, seria investir fortemente na garantia do ensino fundamental para todos, inclusive para aqueles que já passaram da idade digamos adequada. Para amenizar o problema da falta de leitura, ou ao baixo nível de leitores, seria a democratização do acesso aos materiais impressos como o primeiro passo para mudar esse quadro. De que forma isso poderá ser feito? Promovendo de maneira eficaz a distribuição de jornais, revistas e livros, não permitir que sejam desviados para locais nunca sabidos, como recentemente aconteceu no País de Lula, em escolas e centros comunitários, e atualizando acervos de bibliotecas públicas, que são, na maioria das vezes, espaços anacrônicos. É preciso despertar na criança o gosto pela leitura. (E não seguir o exemplo do presidente Lula que há alguns meses revelou que não gosta de ler). No entanto, verifica-se que pesquisas recentes revelam: o consumo de livros no Brasil vem apresentando índices consideráveis. Constata-se que o consumo brasileiro atual está em torno de dois livros per capita por ano. Isso não significa, necessariamente, um bom indicador do quanto as pessoas estão lendo. Mas um número relativamente baixo se comparado com outros países como Estados Unidos, França e Inglaterra, por exemplo, cujos índices de consumo são, em média, de 10 unidades por pessoa por ano. Em relação ao quanto o brasileiro lê, não apenas livros, revistas, gibis, jornais e outras publicações


populares, verifica-se que há um senso comum que vem se reproduzindo há muito tempo pela mídia, não apenas no Brasil, mas também em outros países da Europa. Tal raciocínio revela que as pessoas hoje lêem pouco, mas que antes liam mais; e há aquele público que deverá ler mais, caso encontre prazer na obra que vai manusear. Esses argumentos se configuram em mitos, axiomas falsos, que representam o senso comum e que, infelizmente, a mídia vem sistematicamente reproduzindo esse discurso cansativo, que o brasileiro não é afeito aos livros, ou que não gosta de ler. Torna-se necessário salientar que o Brasil possui um dos maiores parques gráficos do mundo, o que não quer dizer que por aqui esteja tudo bem, maravilhoso, e, com isso, o brasileiro se transforme num grande consumidor de livros.

PROFESSOR NÃO LÊ. COMO EXIGIR QUE O ALUNO LEIA? No entanto, é necessário que professores, não apenas os das redes Municipal e Estadual, também os de escolas particulares e de universidades, priorizem a leitura e a escrita, e se dediquem menos ao ensino de regras gramaticais. É preciso salientar que, como já se constatou, existem professores, tanto da rede pública quanto da particular, que não lêem literatura, ficção, romance, coisas que não ditam nenhum tipo de regra ou doutrina didática, cujo conteúdo tem a tarefa do lazer, do entretenimento e, sobretudo, fazer o leitor pensar e tecer considerações.

O que a grande maioria dos professores de hoje faz? Limitam-se à obra puramente didática. Como que esse professor pode exigir que seu aluno leia? É preciso desmistificar, por outro lado, a questão da escrita, que é um dever do Estado e um direito de todo cidadão, mas que ficou reservado às elites durante muito tempo. No entanto, verifica-se que há um equívoco, que começa com a idéia de que, para ler, falar e comunicar-se bem, o indivíduo precisa conhecer todas as regras da gramática normativa. Não é bem assim. As pessoas podem fazer tudo isso sem precisar saber o que uma oração subordinada substantiva objetiva direta, indireta ou a listinha de dígrafos, aquele grupo de duas letras que representa um único som ou articulação. Em síntese é o seguinte: aprender a ler e escrever depende do contato que o indivíduo tem com a leitura e com a escrita. Estudos desenvolvidos recentemente pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) revelam que 59% das crianças da quarta série do Ensino Fundamental não possuem os conhecimentos básicos de leitura e de letramento, termo utilizado para designar essa concepção mais ampla de conhecimentos e habilidades para a idade. Um resultado bastante negativo para o Brasil. Mas que não chega a surpreender professores e técnicos ligados à área de educação. Vale dizer que são crianças não-alfabetizadas ou semialfabetizadas com seus problemas de leitura, que não conseguem interpretar um texto ou detectar as informações nele contidas, por mais simples que sejam para a idade delas.

Dizem os editores que o mercado editorial nacional experimenta um crescimento sem precedentes: o país ocupa hoje o oitavo lugar em produção de livros no ranking mundial, o que não significa, de acordo especialistas da área, que o brasileiro está lendo mais. O que pregam os entendidos no assunto, editores, professores e pesquisadores, é que a leitura precisa ser uma atividade prazerosa. Para amenizar o problema da falta de leitura ou ao baixo nível de leitores, seria, digamos, promover a democratização do acesso aos materiais impressos como o primeiro passo para mudar esse quadro, promovendo a distribuição de jornais, revistas e livros em escolas e centros públicos, que são, na maioria das vezes, espaços anacrônicos. No entanto, verifica-se que pesquisas recentes revelam: o consumo de livros no Brasil apresenta “índices consideráveis”, que dá uma média de consumo de dois livros per capita por ano. O que é, de longe, satisfatório, se for levado em conta que o brasileiro não tem (ainda) o hábito de ler.

Antonio Roberto Fava é jornalista e escritor.

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Antonio Roberto Fava Embora goste de ler e escrever, hábito que conserva desde a adolescência, o médico ortopedista Plínio Zabeu diz que fazer literatura é algo que nunca lhe passou pela cabeça. Pelo menos por enquanto. O que prefere é a crônica, que não deixa de ser um gênero literário uma vez que seus escritos revelam, quase sempre, a descrição de fatos relacionados ao atual cenário político brasileiro. E mais: sua crônica manifesta-se, também, sobre fatos corriqueiros do dia-a-dia, coisas que viveu na infância e que, por alguma razão, ficaram gravadas em sua memória. Mas o que se pode observar pelos textos veiculados pelo O Liberal, a tônica de seus artigos tem sido de fato a política nacional. E nesse aspecto Zabeu tem se revelado um articulista que não tem papas na língua, embora seus textos tenham sido sempre elegantes e bem escritos. “Escrevo por impulso, a qualquer hora do dia ou da noite. Basta que eu tenha um tempinho disponível, uma idéia ou um bom motivo para isso”, diz. Nota-se que atualmente seus textos versam, mais notadamente, sobre a política nacional, em virtude da “minha preocupação para com o meu país”, explica. Uma maneira de participar mais da vida política e social do Brasil, e não ficar apenas assistindo de camarote. Os textos de Plínio Zabeu são velozes, o que não quer dizer que sejam ocos e sem conteúdo. Pergunto se tem o hábito de reescrevê-los. “Não. Não reescrevo nunca. Tenho a idéia e vou para o computador. E não tenho o hábito de fazer rascunho antes do texto definitivo”, diz. Quero saber então porque um homem que escreve tanto e tão bem, que lê um bocado, não enveredou ainda pelos caminhos da literatura. E a resposta vem de maneira peremptória: “Não, isso eu não faço. Não consigo imaginar situações que possam render material para um conto, ou romance. Gosto de escrever sobre fatos reais, acontecimentos, sobre coisas que vivi na infância, por exemplo”, revela. E não é só: com freqüência Plínio se vê às voltas com textos destinados a publicações científicas, nos quais expressa seus conhecimentos a respeito de observações pessoais. “Só escrevo quando há assuntos importantes para o desenvolvimento da medicina. Como os estudos sobre o surgimento recente das células-tronco”, argumenta. Revela ainda que, como sempre gostou da área de hematologia, procura sempre aprofundar-se em tudo o que se relaciona ao tema. “Como sempre gostei dessa área, procuro ler e pesquisá-la de maneira mais profunda”. Salienta, contudo, que já pensou em esquecer um pouco da política para se dedicar ao texto científico. Roupa nova e sorvete - Formado pela a USP (Universidade de São Paulo) em 1962, Plínio é casado com Claudete Amim Zabeu, educadora de Saúde Pública, com quem teve quatro filhos: Maria Cristina, engenheira de eletricidade; José Luiz, ortopedista; Luciana, ginecologista; e Rosana, advogada. Confessa que gostaria de ler muitos outros

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livros. Mas diz que não tem tempo para isso. Conta que às vezes lê até dois livros por mês, literatura mesmo. (No dia da entrevista estava lendo Portões de Fogo, de Steven Pressfield). Mas admite que há ocasiões que não lê tanto. Já os chamados livros técnicos, “relacionados à minha área de atuação, leio sempre”. Diz que agora com a Internet adquiriu o hábito de ler resumos de obras de sua área, entrando em detalhes apenas quando o assunto é novo ou que revele algo interessante. No entanto, os artigos que redige para O Liberal são também enviados para o blogger organizado por Adriana Vendoni, denominado Argumento & Prosa (http:// argumentoeprosa.blogspot.com/). Plínio conta que nasceu no interior do Estado, na pequena São Manuel, mas, ainda de colo, a família mudou-se para Getulina, “uma cidade pequenininha perdida lá na zona Noroeste”. Diz que a cidade não tinha sequer escola. Por isso mesmo foi obrigado a fazer uma série de cursos por correspondência. Entre eles os de correspondência comercial, rádio e mecânica. Desde os 17 anos, já no ginásio, passou a escrever para o Getulina Jornal, fundado em 1951. Ficou sem escrever para o jornal quando foi estudar em São Paulo. (No entanto, há quinze anos voltou a colaborar com o semanário). Zabeu revela que recebeu o diploma do primário aos onze anos, “com direito a roupa nova e sorvete à vontade”. No dia seguinte o pai lhe chamou e disse: “Você já está desmamado. Agora, para seu próprio bem, arrume um emprego, porque só assim é que se vive honestamente”, relembra. Seu pai lhe disse isso às sete horas e às onze já estava empregado como faxineiro. “Então quando vejo o estatuto da criança e do adolescente, que só possibilita direitos, me revolto. A criança tem que trabalhar, ter obrigações. Isso não quer dizer que devam ser exploradas. Por isso é que se vive com esse desenfreado índice de crimes praticados por adolescentes”. Por outro lado, diz que o número de médicos hoje no Brasil é incrivelmente maior do que o país precisa. Há hoje 160 escolas de medicina no Brasil, quando apenas 40 delas seriam suficientes para formar profissionais capacitados para exercer a profissão. “Temos mais estabelecimentos de ensino que a China, que possui uma população superior a l bilhão de habitantes. Superamos os Estados Unidos”. “No Brasil são onze mil médicos que se formam todos os anos. Desses, pelo menos seis mil não entendem nada de medicina, são mal formados porque são originários de escolas sem infra-estrutura adequada, sem equipamentos, não há professores gabaritados, muito menos locais onde possam fazer residência médica”, reflete. Para ele, existem médicos que saem com diplomas, prontos para clinicar. Só que não possuem a menor segurança e treinamento suficiente para desenvolver bem o seu trabalho. “Medicina é muito difícil. É uma ciência que exige prática, perícia e treinamento constante”. Plínio e seus quatro filhos consomem um terço do que ganham em cursos de atualização. Hoje apenas 50% dos médicos brasileiros sobrevivem com o trabalho em consultórios. 95% deles dependem de planos de saúde, de empregos públicos e plantões. “Foi-se o tempo em que o médico ganhava bem”, afirma Plínio. Antonio Roberto Fava é jornalista e escritor.


Joana Ossuna O amor é a primeira estrutura concreta. O amor desenvolve características pessoais, distinguindo e particularizando a criatura. Ao proporcionar-lhe vontade própria e independência, enseja que ela expanda horizontes e dissolva as barreiras onde o padrão e a generalização ergueram paredes. Através do amor desenvolve-se a caridade e se faz a justiça. Tudo está interligado. O amor nada pede, apenas doa, compreende e perdoa. É através desse caminho que se encontra a nossa evolução, Por isso devemos, sem perda de tempo, aderirmos à conquista dessas três virtudes: amar, ser justo e caridoso. Joana Ossuna é arquiteta, pintora e escultora.

25 anos de prosa e poesia

Não a dor física corpórea lacerante Mas a dor de algo que não se sabe De onde vem de quê ou de quem... Saudade... Não traz marca nem adorno Chega e nos invade inteiramente De alguém que nos foi caro Um pai, um irmão ou um amigo... O passado longínquo ou passado brevemente Mas que dilacera sem descanso o peito Um aperto no coração sufoca e falta o ar Incômodo sentimento sem razão de ser; Saudade de quê, de quem? Saudade de mim... De quando sorria De quando a vida me embalava De quando eu tinha o coração alegre De quando eu era a mulher serena E era simplesmente Maria... Maria Mirian é poetisa e membro Conselho de Cultura do Município.

O autor, cardiologista na cidade de Americana que escreve sob pseudônimo, faz sua estréia literária com ficção que mistura os escritores George Orwell de 1984 e Ray Bradbury de Farenheit 451 - livro em que François Truffaut se baseou para seu filme homônimo - e o também cineasta Jean-Luc Godard de Alphaville. A narrativa nos leva a 2914, tendo como locus uma imaginária região ao sul da Amazônia. Ali vivia uma população em estado edênico, até que se descobre que sua felicidade era pré-fabricada,

"AS TRÊS GRAÇAS" - Fragmento da obra “ALEGORIA À PRIMAVERA” - SANDRO BOTTICELLI - Galleria degli Uffizi, Florença, ITÁLIA

Palavra tão pequena e tão complexa Que me leva a lembrar de fatos passados Amigos que por mim passaram Alegrias, convivências partilhadas. Que em mim suas marcas deixaram... Lembranças desconexas Ou saudáveis recordações da infância Tantos caminhos percorridos Tantos sonhos que não se concretizaram Outros tantos que nem ouso lembrar Mas a saudade atuante e forte Invade-me a alma, o coração Torna-me calada, isolada... Penso nos que seguiram a morte Dos que seguiram nova estrada À procura de novos sonhos De novas idéias e novos amores... Ah! Saudade imensa, Que me faz pensar e pesar a vida Tudo que ficou no passado Que vem ao encontro a minha solidão Sentimentos arrebatados pelas dores

já que lhe fora subtraído o livre arbítrio. Um grupo se forma para redimi-la e o enredo vai ganhando ares que se assemelham aos de uma narrativa cinematográfica, dessas que viram blockbusters nas mãos de diretores do cinema americano. Resenha de João Sampaio publicada pelo jornal O Estado de São Paulo - Caderno 2 Cultura - Lançamentos no Brasil - pág.D4 Domingo, 30 de julho de 2006.


A mulher moderna em atividade Entrou de verdade na competição. Anda vestida de calça comprida E, na cabeça, chapéu tremendão. Bota de salto e fivela grande Ela se expande dentro do salão. Lá no rodeio tá sempre no meio E nunca faz feio em cima do alazão. A mulher que honra o seu nome Respeita o homem e a profissão. Onde ela entra, a festa acalenta E logo aumenta a animação. Toda mulher é uma flor silvestre Um ser terrestre de grande afeição. É uma jóia bela, pura e singela O homem por ela tem sua paixão. Uma mulher quando é completa Atinge a meta de seu coração. Ela é moderna, com beleza externa Porém da interna nasce a educação. Assim ela vence os trancos da vida É muito querida por sua atenção. Seu jeito elegante é tão cativante Num brilho constante, com fascinação. Com muito afago, deixo essas rimas Pela grande estima que tenho por ela. Mulher lutadora, brava e vencedora É conquistadora de uma vida bela. No lar ou na rua é muito valente Luta bravamente por seu ideal. Buscando a vitória, exalta com glória Ficando na história a mulher atual. Jota de Oliveira, metalúrgico aposentado, é autor dos livros “O Caboclo e o Doutor” e “Horas Preciosas de Lazer”.

Ele cerziu com encanto peça a peça a colcha de retalhos colorida que hoje me enfeita a cama e me aquece a vida. Que aconchego de lembranças! Os óculos repousados sobre o nariz o dedal empurrando a agulha o cigarro aceso e a fumaça que se esvaía no canto da sala onde sob magia ele tecia pecinhas geniais. Que gesto generoso! Rimava cores de flores em romaria buscando a perfeição da forma do ponto do jeito e mais que uma herança cerzia minha lembrança. Ele é meu pai Figura miúda de gigante. Eraldo Humberto Monteiro é formado em Administração de Empresas e gerente industrial.


O MAL, governador, não nasceu O MAL já mal feito, o MAL é um Estado temporário do imperfeito. O BEM, excelência, não nasceu O BEM, já bem feito, o BEM é um Estado permanente de conquista e de direito.

Trago aqui em minhas mãos as Luzes da noite por vir, na direita São pirilampos, na outra são estrelas. Pensei que num momento de saudade E solidão, se lhe ofertasse estes Brilhantes da vida, aí talvez distraída, Você ouvisse o bater do meu coração.

Por parte de pai, venho das terras baixas da Itália, de moura lembrança, de uma casta ancestral de barões e príncipes da velha igreja. Por parte de mãe, venho das terras frias da Escandinávia e da Helvécia, mestiço, repartido, metade viking, metade suíço. Por minha parte própria, sou daqui mesmo, desta terra das Palmeiras, deste Pindorama encantado, de tantas naturezas, tantos mistérios, de tantas belezas. Sou cidadão urbano, embora de alma andeja, sertaneja. Meu coração veio mesmo foi desta terra, por tanto que amo seus campos, suas chapadas, seus tabuleiros, suas colinas, amo seus vales, a morraria, suas campinas. Me encanta o quebrar das barras, quando o sol resplandece alumiando os gerais gotejados de lágrimas de orvalho. Sou cativo do sol que beija e aquece a vida na terra serenada. O mesmo sol que vai agora a tardinha descaindo por trás dos morros sombrejados pelas cores do outono. Me inspira o anoitecer silvestre, liberto das luzes postiças da cidade, quando boquiaberto espero pela lua rainha que majestosa vai prateando as brenhas, os campos, as matas, se espelhando nos rios, nas cascatas, cravejando o veludo noturno do céu, com seus brilhantes cintilantes, sua corte de estrelas. Me assanho quando a chuva cai molhando toda essa imensidão, e quando se vai, deixa o ar translúcido, lavado, e aí então da terra se alevanta um cio perfumado, que aspiro, embriagado por esse cheiro de chão. Ariel Capozzi é autor dos livros “Cheiro de Chão” e “Juca Cobra”.


Não muito longe dali, olhos febris, raivosos e violentos os observavam atentamente, esgueirando-se por entre as altas folhagens, sorrateiros. Eram os herdeiros dos déspotas que algum dia assumiriam o comando ditatorial. Olhos ávidos e cérebros incrivelmente sedentos de ambição, sequiosos de poder e de vingança, Os demônios estão e estarão sempre à espreita. Como entender a dualidade humana? Feitos da mesma matéria e vindos do mesmo Criador, mas suscetíveis a ações tão distintas! Uns heróis, justos, capazes de atos de grandeza e sacrifício, enquanto outros, discípulos do vício, sócios das trevas, são capazes de devastar, poluir, ferir e fazer sangrar. Inconscientes dos milagres advindos de atitudes dignificantes para a humanidade, tampouco compreendem que são motores de suas vidas. O Homem e o Universo, com tanta beleza e desafios neles contidos, num cenário de oportunidades e

possibilidades de acertos. Muitos, entorpecidos, desdenham a utilização dessa energia; acomodam-se, não exploram o potencial neles existentes. Outros, já conscientes, a utilizam. Assim, têm sido os mentores e atores das ascensões e quedas das civilizações pregressas, protagonistas das incessantes e necessárias lutas entre o bem e o mal. Neste campo de batalha atemporal, após as devastações, voltam a tomar nas mãos os arados do Bem e do Mal. Então, revolvem as terras esgotadas, preparando-as para receberem novas semeaduras em busca da colheita de bons frutos dos quais, certamente, um dia se fartarão, até que deixem de sentir o seu sabor agridoce. E, nesta arena milenar habitada pelo Homem outra batalha será iniciada, cumprindo um novo ciclo da disputa permanente. Caberá a cada ser, somente ao indivíduo, sempre, a melhor escolha.

Faço das palavras o silêncio de uma noite de estrelas. Faço do poema meio de comunicação para expressar sentimentos, com versos livres ainda que brancos. Faço da imaginação uma linguagem cheia de segredos para serem descobertos por alguém que possua a chave do tato e da compreensão. Faço da vida breve um caminho longo a percorrer Que se for insuportável digo a mim mesmo: “Que é apenas aqui e agora, amanhã será diferente, é como um trabalho de parto, doloroso, mas não eterno”. Faço-me de contrastes e nuances, ângulos e concavidades, texturas e convexidades, como um mar revolto e cinzento, seguido de verde calmaria, que termine em branca espuma sobre as areias brilhantes da nossa praia. Faço do vendaval de uma paixão na eclosão de centelhas, rosas vermelhas e perfumadas, para o equilíbrio serenado da lembrança de uma amor perene. Faço de mim, página em branco para ser possuída por versos inacabados, atirados ao sabor dos ventos até que suas arestas sejam aplainadas e finalmente plasmados de forma livre e verdadeira, por inteira, nesta página de minha vida Wilma Lucia da Silva Moraes é médica e escritora.

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Amadeus Soares é autor do livro “A Escolha por um mundo melhor”.

Quando juntos ficam velhos, Nem um nem outro é sozinho, Souberam viver as fases, As crises pelo caminho; Puderam fazer das dores Um amor bem temperado, Valorizando a alegria, Estando de lado a lado. O céu muito mais perto Encurta qualquer distância... Os campos têm mais aroma, Os meninos, mais infância! Desde as aves às plantinhas Até os jardins de flores, Belezas em toda parte Agora somam valores! O velho nunca resmunga, A velha nada reclama, São bem felizes na mesa São carinhosos na cama... O casal quando é assim, Há uma só vida entre os dois, Quando um morre, certamente O outro vai... logo depois... Jacob Garcia Filho (†11/10/2005) foi compositor e escritor, autor de “Romances” (poesias).


Sua casa é um misto de residência, biblioteca e local de trabalho, onde, para se sentar, é preciso, antes, que se retirem alguns livros que acabam espalhados pela mesa e sofás. A casa é grande, aconchegante e, aos poucos, vai sendo ocupada por novos volumes, que o proprietário, viciado em literatura, vai adquirindo. E o homem que mora ali, Walther Faé, jornalista, escritor e poeta (que já foi tecelão, inspetor de alunos, professor e diretor de escola) ainda está à procura dos livros que ainda não tem. Ou não leu. Ansioso igual a um menino à procura de um brinquedo novo, ele busca, agora, um livrinho um tanto incomum, pelo menos por estas plagas: o Alcorão, uma pequena jóia cultuada pelo povo islâmico. Não é uma obra extensa, mas profunda. O livro, revelado ao profeta Maomé, constitui-se de 114 capítulos que compreende cerca de 6240 versículos. O Alcorão, em resumo, é “a palavra textual de Deus”, que pode ser lido como se fosse um poema ou oração. “Não sei bem porque eu quero fazer isso. Talvez levado pelos sucessivos conflitos que há tempos sacodem aquela região de Israel. Quero compreender um pouco mais o povo puro de Israel”, reflete. Autor de quase duas dezenas de livros entre poesias, crônicas, ensaios, contos e uma antologia, Faé, com sua barba e cabelos brancos e longos, que fazem lembrar Tolstoi, só que bem mais moço, revela sua rotina de trabalho. Não há, no verdadeiro sentido da palavra, uma rotina de trabalho: não tem horários para isso. “Toda hora é hora, de manhã, de tarde e de noite. Não sei se por obrigação, mas tenho que escrever todos os dias. Se não o fizer, fico com a sensação de que estou de estômago vazio. Escrever, para mim, é como se fosse um alimento que me sustenta o corpo e a mente”, confessa. Dorme pouco. Diz que vive “num constante processo de insônia”. É muito comum para ele levantar-se no meio da noite e ir para a máquina de escrever, ocasião em que consegue, quase sempre, produzir textos aproveitáveis. Walther explica o seu método de trabalho dizendo que não segue nenhum esquema específico para ordenar os seus escritos. “Sou um perdido”, brinca e ri. Para se ter uma idéia dessas, digamos, anarquias doméstico-literárias, basta dizer que o poeta-escritor atualmente trabalha em pelo menos cinco projetos. Um diferente do outro, e afirma que não sabe se vai ou não conseguir concluí-los, mas enfim... “Pelo menos eu tento”. Graciliano e Quintana - Livro/literatura, para o escritor, que já foi tecelão, professor e diretor de escola, é vida no seu mais exato sentido. “É minha vida e, acredito, a de todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, querem evoluir. Excluindo-se o livro não há evolução”, filosofa o autor de O prazer de partilhar (1996). E critica: “O Brasil, infelizmente, é um país atrasado. Em nossa cidade, para citar apenas um exemplo, é um absurdo haver só uma biblioteca, com um horário impraticável para a grande maioria da população”. (O horário de funcionamento da Biblioteca

Municipal em Americana é das 9 às 18 horas, de segunda a sexta, e das 9 até o meio-dia, aos sábados). Para ele, deveria haver outras cinco bibliotecas instaladas nos bairros, bem estruturadas, para desenvolver um atendimento no mínimo satisfatório à população da cidade, “e não apenas por interesses essencialmente políticos”, diz. Walther revela que aprecia as obras do português Fernando Pessoa ? O poeta é um fingidor/finge tão completamente/que chega a fingir que é dor/a dor que deveras sente ? e a de um poeta aqui da cidade: Jonas Rosa. “Este, um poeta clássico, exímio sonetista, generoso e muito educado. Dono de versos perfeitos, assim como seus sonetos, Jonas é um homem de muitos predicados, profundo conhecedor do idioma, da literatura, e para quem a rima não lhe oferece segredos. Dos poetas da cidade, Jonas é, seguramente, o mais importante e significativo”, elogia. Revela sua paixão pela poesia do gaúcho Mario Quintana (1906/1994), de quem leu todos os seus livros. E falando em Quintana vem à mente de Walther a antológica frase do poeta de Alegrete: “Os verdadeiros analfabetos são os que aprendem a ler, mas não lêem”. Elogia Graciliano Ramos (1892/1953), autor do clássico Vidas Secas (1938) que, segundo Walther, começou na literatura fazendo sonetos. “É um escritor primoroso que todo mundo, principalmente os jovens, deveria ler”, sugere. Faé aprecia ainda a obra poética de Carlos Drummond de Andrade (1902/1987), de Adélia Prado, Lia Luft, e da prosa intimista de Clarice Lispector (1920/1977), possivelmente uma das maiores escritoras do Brasil. O autor de Cristo na Praça (1988) não esconde sua admiração pelos poetas Mario Quintana e Jorge Luiz Borges (1899/1986), autor de, entre outras famosas obras, de O Aleph, contos, e Ficções, ambas de 1949. Obras do autor: Poesia: Espelho Fugaz (1955) - De Joelhos (1957) Sementeira de Luz (1959) - Horizonte nas Mãos (1961) - Paulistanamente (1969) - Canções para o teu Silêncio (1984) - Cristo na Praça (1988) - Além do Pó (psicografia 1996). Crônica: Koisas de Poeta & Outras Coisas (1978) - O Prazer de Partilhar (1996). Ensaio: Poesia e Estilo de Augusto dos Anjos (1975) Chico Xavier, D. Pedro II e o Brasil (1975) - Italianos no Rio Grande do Sul 1875/1975 (1975) - Mortos Vivos & Vivos-Mortos (1984) - Itinerário Humano & Poético de Antonio Zoppi, in “Reflexões do Caminho”, de Antonio Zoppi (1997). Ficção/Conto: Tecelã do Silêncio (1960). Antologia: Prosa & Poesia do Meu Tear (2000).

Antonio Roberto Fava é jornalista e escritor.

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Criança, Produto de um amor, Feito com muito amor Que ao ser concebida Produziu o auge do prazer. Ao ser revelada Torna pleno todo o ambiente E aqueles parceiros Ao saberem o saldo de seu ato Sentiram o alívio repousante E o orgulho gratificante.

Criança Noites ensolaradas sem fim Dias de quase trevas Produzidas por cansaço Excitada por trabalhos contínuos Que para seus pais Não deixa sobrar Um instante sequer Mas seu sorriso Invade de alegrias Todos os seus instantes.

Criança, Que num plano especial Eleva sua pureza Numa fantasia sublime Que adormecida Seus sonhos a levam A um universo colorido Onde os brinquedos aclamam-na Rainha das brincadeiras Rei dos super-heróis O centro das atenções.

Criança, Produzida num enconto escuro Onde recebeu a luz divina Que através dessa luz Conseguiu captar energias Lhe transmitindo a força do viver Que ao se lançar ao mundo Envolve todo o ambiente Com a música da vida Produzindo sentimentos De esperança, medo e alegria.

Criança, Que com hábeis gestos carinhosos, Imita a perfeição dos anjos Atirada nos braços da ilusão Simplifica suas ações Isenta de culpas Marca sua passagem Com a inocência da paz. Através da imaginação Procura fáceis resoluções Sendo sábias suas decisões.

Criança, Que bom seria, meu Deus! Se como esta criança Todas as crianças viessem Num mundo de acolhimento De amor e paz Onde pudessem ter O alimento para o corpo O agasalho para o frio O aconchego para a alma Que bom seria, meu Deus! Vera Lúcia Sarette Seleto é coordenadora de escola e autora do livro infantil “Samira, a minhoca de sorte”.


O caçador de pipas, de Khaled Hosseini. O livro é considerado o maior sucesso dos últimos anos. Já vendeu mais de três milhões só nos Estados Unidos. No Brasil, há mais de 56 semanas na listas dos mais vendidos. O autor, médico, agora afastou-se de seu consultório para se dedicar a um novo projeto. O caçador de pipas conta a história da amizade de Amir e Hassan, dois garotos quase da mesma idade, que vivem vidas muito diferentes no Afeganistão dos anos 70. Amir é rico e bem criado, um pouco covarde, que sempre tem a proteção do pai. Hassam não sabe ler nem escrever, mas é conhecido por sua bondade e coragem. É durante um campeonato de pipas, no inverno de 75, que Hassam demonstra ao amigo Amir de ser um grande homem. Amir, fugindo da invasão soviética no Afeganistão, vai para os Estados Unidos. Volta vinte anos depois, Hassan e a pipa o fazem retornar para as terras destroçadas do Afeganistão. Os vagabundos iluminados, de Jack Kerouac. Do mesmo autor de On the road Pé na estrada (1957), o livro é considerado por especialistas e fãs da literatura beat como o melhor romance de Kerouac. Os vagabundos iluminados narra a história da busca pela verdade e pela “iluminação”, conforme acreditam os personagens da obra. O protagonista, Ray Smith, é um aspirante a escritor de San Francisco que anseia por algo mais na vida. Esse algo mais será apresentado a ele por Japhy Rider um jovem zen-budista adepto do montanhismo que vive com um mínimo de dinheiro, alheio à sociedade de consumo norte-americana. Participam de muita festa, bebedeiras, garotas, saraus poéticos, orgias zen-

contatos@espacoliterario.com

“É muito bom saber que temos pessoas talentosas na área da escrita em nossa cidade. A revista Espaço da Palavra, além de nos proporcionar novos e grandes conhecimentos na área da literatura, desperta nossa atenção em relação ao modo de pensar de pessoas próximas de nós, as quais se expressam por meio da arte de escrever. Parabenizo os organizadores e participantes que obtiveram esse belíssimo resultado e, como admiradora, fico na expectativa de que a revista cresça significativamente, conseguindo um número de leitores cada vez maior”. Aline Franco, pedagoga, Americana. “Cumprimento e felicito a plêiade que compõe a Espaço Literário “Nelly Rocha Galassi” pelos 25 anos de prosa e poesia, merecidamente comemorados com muita propriedade, brindando os amigos admiradores com a magnífica Espaço da Palavra. Concretização de sonhos, exercício pleno da vontade, vitória da persistência, resultado justo da pujança e trabalho intelectual, expressão maior do talento de cada um, mais a generosidade de compartilhá-lo. Que imenso prazer e aconchego ao coração me dão o

budistas e viagens. O estilo turbinado, superadjetivado e livre de Kerouac exala pela vida. Há no livro uma geração beat mais beatífica, mais otimista e mais tranqüila. Quer dizer: iluminada. Histórias de amor, de Adolfo Bioy Casares. Livro de 139 páginas, trás dez contos de um dos mestres da literatura contemporânea argentina. Considerado um dos maiores autores latino-americanos, autor de verdadeiros clássicos da literatura argentina, escreveu, entre outros, Seis problemas para D. Isidro Parodi e Crônicas de Bustos Domeq. Nesse Histórias de Amor, Casares, com sutil ceticismo e discreto humor, usa seu estilo refinado para tratar de um tema eterno que é o amor, numa grande variedade de situações. Em 1990 Casares recebeu o Prêmio Cervantes de Literatura. O idiota, de Dostoiévski. O livro, provavelmente do maior escritor russo que o mundo já teve, é de 1868. Começou a ser escrito, segundo especialistas em literatura russa, em 14 de setembro de 1867 em Genebra, Suíça, e foi concluído em 25 de janeiro de 1868, em Florença, na Itália. De acordo ainda com especialistas a obra teve uma elaboração extremamente difícil e torturada. É que em meio às dificuldades normalmente vividas pelo povo russo mais pobre, O idiota foi um livro escrito e reescrito diversas vezes até a redação final definitiva. De acordo com alguns críticos, a obra foi inspirada na figura de Dom Quixote, de Cervantes. O idiota é, talvez, o romance mais típico de Dostoiévski, que chegou a provocar perplexidade nos meios intelectuais da época. Tostói, outro grande escritor russo, autor de, entre outras obras, O malfeitor, elogiou o livro, considerando de “grande força dramática e beleza literária”. (Antonio Roberto Fava)

recebimento da mais elegante e bem-feita revista e a leitura do seu edificante conteúdo. Parabéns”. Acacir Mendes dos Reis, professora, Rio de Janeiro. “Estou emocionada. Não sei o que dizer, nem como agradecer. Recebi e li a revista Espaço da Palavra que fala sobre os 25 anos de prosa e poesia dos poetas que compõem o Espaço Literário “Nelly Rocha Galassi”. Sinto-me honrada em ter sido agraciada com uma poesia minha, numa edição tão especial, brilhante. É como ter sido premiada e estar entre as estrelas. Ainda não acredito. É demais para mim. Gente, milhões de vezes muito obrigada. E justo agora, que estou numa uma fase delicada, foi mesmo um presente de Deus entregue pelas mãos de vocês. Meus amigos queridos, que saudade, que vontade de poder abraçá-los neste momento. Muito obrigado e um grande abraço. Maria Helena P. de C. Ribeiro, professora, São Paulo. “Meu nome é Erick, sou estudante universitário, e gostaria de deixar registrado aqui os meus parabéns pela revista. Quero parabenizar toda equipe por esse excelente trabalho, e dizer que proporciona uma leitura agradável, pois vocês conseguem transmitir emoção e carinho em cada página. Gostaria, também, de parabenizar pelo site, bem organizado e de fácil entendimento. Um grande abraço. Erick Fernando de Oliveira , estudante, Americana.

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