O Rouxinol e o Imperador da China

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O Rouxinol

e o Imperador da China Obra de Hans Christian Andersen Adaptado e ilustrado por Gustavo Henrique de Lucca



H á muitos anos, na China, no luxuoso palácio do imperador, um rouxinol chamava a atenção de todos.


C antava tão bem que até o pobre pescador parava para escutar. - Meu Deus, como é lindo este canto! Todas as noites enquanto recolhia as redes, ouvia o rouxinol cantar e dizia a mesma coisa. - Meu Deus, que bonito!



C hegavam viajantes de todos os paĂ­ses para visitar e admirar a

cidade, mas todos, depois de ouvirem o rouxinol, achavam que o pĂĄssaro era o mais maravilhoso do lugar e ao chegarem nos seus paĂ­ses contavam sobre o que haviam visto e muitos escreviam poesias, livros e nunca se esqueciam do rouxinol.



A lguns livros chegaram ao conhecimento do imperador que lia satisfeito, pois falavam do

seu palácio, mas quando falavam do rouxinol dizendo que era o mais maravilhoso de todo o reino. Ficava surpreso, porque não conhecia este pássaro. Um dia, então mandou chamar o seu cavalheiro e perguntou: - Você conhece um pássaro que vive aqui neste reino e que tem um canto magnífico? - Nunca ouvi falar – disse o cavalheiro.




- Quero que ele venha ao palácio hoje à noite e cante para mim! – ordenou o imperador O cavalheiro perguntou a todos no reino e ninguém conhecia o rouxinol. Chegou até a falar para o imperador que deveria ser uma invenção. O imperador dizia: - Não é mentira! Quem enviou o livro foi o poderoso imperador do Japão. Ele tem de estar aqui esta noite! Se não vier, toda corte receberá socos na barriga, depois do jantar. Como ninguém queria receber socos na barriga, metade do reino começou a procurar.



Finalmente, encontraram uma moça pobre na cozinha que disse que conhecia o rouxinol:

- Tenho permissão de levar todas as noites restos de comida para minha mãe que mora lá embaixo na praia. Quando volto cansada e descanso um pouco na floresta, ouço o rouxinol cantar. Até choro quando ele canta de tão lindo que é. O cavalheiro prometeu a moça pobre um emprego de cozinheira, para levá-los onde o rouxinol ficava. Partiram e a pequena cozinheira dizia que logo o ouviriam. De repente, ela gritou:

O ! m u a ç ç u a O m ! Lá ! e l e

está ele!


Viram um pássaro muito simples, meio desbotado, amarronzado. - Meu rouxinolzinho, nosso imperador quer que cante para ele! - Com o maior prazer! – disse o rouxinol. Cantou que dava gosto de ouvir. Todos adoraram. Então o cavalheiro disse: – tenho o prazer de convidá–lo para cantar para o imperador em uma festa hoje à noite na corte. - As canções ficam mais bonitas aqui na mata – disse o rouxinol. Apesar de achar que as canções ficavam mais bonitas na mata, seguiu as pessoas da corte até o palácio já que o imperador assim o desejava.




O palácio estava todo arrumado para a festa. Bem no meio do salão estava o imperador e um poleiro de ouro para o rouxinol. Toda a corte estava ali reunida e a cozinheira teve permissão de ficar atrás da porta, pois tinha o título de cozinheira real. O imperador gostou tanto que queria recompensá-lo e dar o seu chinelo de ouro para pendurar no seu pescoço como colar. O rouxinol agradeceu e recusou, pois já fora recompensado vendo lágrimas nos olhos do imperador. Ficou decidido que ele devia ficar na corte, ter sua própria gaiola, poderia sair para passear duas vezes por dia e um vez a noite. Iam com ele doze criados, cada um segurando uma fita de seda bem amarrada na perninha dele. Toda cidade falava no pássaro extraordinário.



U m dia, o imperador recebeu um grande embrulho no qual estava escrito “rouxinol”.

O imperador pensou que fosse outro livro mas não era, era um rouxinol artificial. Dava-se corda no rouxinol artificial e ele cantava. Tiveram de cantar juntos, mas não deu certo. O rouxinol verdadeiro cantava de um jeito, e o pássaro artificial de outro. O mestre de música disse que o novo não tinha culpa e estava perfeitamente afinado. Deixaram o pássaro artificial cantar sozinho. Fez tanto sucesso como o verdadeiro, e, além disso, era muito mais bonito de se olhar porque era brilhante.


Trinta e três vezes cantou a mesma música, sem se cansar. O imperador disse que era a vez do rouxinol vivo, mas aonde ele estava? Sem que alguém o notasse, saíra voando pela janela aberta. O pássaro artificial teve de cantar de novo, pela trigésima quarta vez a mesma canção, entretanto todos comentavam que o pássaro verdadeiro quando cantava era surpresa, enquanto que o artificial estava tudo definido.


- Pรกssaro ingrato!

Disseram todos.


O mestre de música teve permissão para mostrar ao povo o pássaro e todos ouviram e ficaram muito alegres e todos aprovaram. Mas os pescadores pobres disseram “ Cantou muito bonito, mas o canto do verdadeiro rouxinol é melhor”. O verdadeiro rouxinol foi expulso da terra e do reino. O pássaro artificial ficava ao lado direito da cama do imperador. O mestre de música escreveu muitos livros sobre o pássaro mecânico. A obra era muito difícil e longa, porém todas as pessoas diziam que a tinham lido e entendido para não serem punidos com socos na barriga.

l o in

x u ro

o r i e d a verd

melhor



Passou-se um ano. O imperador, a corte e todos os outros chineses sabiam de cor cada pio da canção do pássaro artificial e passaram a gostar mais dele.

Uma noite quando o pássaro artificial cantava para o imperador, houve um barulho dentro do pássaro. Alguma coisa quebrou. Todas as rodinhas giravam e a música parou. O imperador pulou da cama e mandou chamar o médico da corte, o médico não pode fazer nada. Então mandou chamar o relojoeiro, Este após examinar conseguiu fazer mais ou menos o pássaro funcionar, mas disse que deveria poupá-lo, pois estava muito gasto nos eixos e não era possível colocar novos eixos O pássaro poderia cantar apenas uma vez por ano e assim mesmo tomando cuidado. Todos ficaram chateados.




Passaram-se cinco anos e o imperador estava doente e todos estavam muito tristes, pois gostavam dele e dizia-se que ele iria morrer. Foi eleito um novo imperador.

O imperador estava frio e pálido na sua luxuosa cama, Toda a corte achava que estava morto. Foram estendidos panos nas salas, corredores, para não ouvirem os passos das pessoas, mas o imperador não estava morto. Resistindo a doença, bem no alto, uma janela estava aberta, e a luz brilhava sobre o imperador e o pássaro artificial. O coitado do imperador não conseguia respirar direito. De repente, perto da janela pousado no ramo lá fora, o pequeno rouxinol verdadeiro cantava uma doce canção.


- Obrigado! Obrigado! - Disse o imperador – Divino pássaro. Como posso recompensar-te? - Já me deu uma recompensa – disse o rouxinol – fiz lágrimas saírem dos teus olhos a primeira vez que cantei. - Ficarás comigo para sempre – disse o imperador. – Cantarás apenas quando tiver vontade e quebrarei o pássaro artificial. - Não faça isso – disse o rouxinol. Fique com ele. Eu não posso morar no palácio, porém deixa-me vir sempre que eu tiver vontade, Cantarei as alegrias dos venturosos e as penas dos que sofrem e contarei como vivem os pescadores pobres e os camponeses para que possa saber tudo que está acontecendo fora do seu reino. Quero o teu coração, não a tua coroa. Mas peço apenas uma coisa. - Tudo! – Disse o imperador.




- Peço que não conte a ninguém que tens um passarinho que tudo te conta, será melhor assim. E o rouxinol bateu as asas e desapareceu. Os criados entraram, para ver o imperador morto. Ficaram assustados quando ele, de pé, os recebeu dizendo-lhes: - Bom dia!





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