Ambientalização dos Bancos e Financeirização da Natureza

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migração na fase da construção da UHE Belo Monte, estimada em mais de 100 mil pessoas, é um exemplo recente deste recorrente subdimensionamento. O resultado é o aumento exponencial da população e da ocupação desordenada dos aglomerados urbanos nos locais próximos à implantação da obra. Os problemas decorrentes são o aumento considerável da violência, de homicídios, do tráfico de drogas, da venda de bebidas, da prostituição (inclusive infantil), o colapso nos serviços e Alexis Bastos/Rioterra

espaços públicos (hospitais, ruas, escolas, postos de saúde, etc.), a elevação do custo de vida, entre outros. Estas violações “contribuem para a fragilização dos mecanismos de controle Antes mesmo do início das obras no Rio Madeira, a população já sofria os impactos: mercantilização da natureza

social conquistados pela sociedade civil e impactam de modo severo

seu entorno. Todas estas violações se avolumam na conta do

e, às vezes, irreversível o meio ambiente e as populações”13,

passivo das empresas financiadas pelo BNDES e, portanto, na

muitas destas já fragilizadas no campo dos direitos territoriais

conta do próprio Banco, o que o torna inquestionavelmente

e/ou socioambientais. Dentre outros feitos perversos da

corresponsável pelas violações.

implementação dos megaprojetos, destacam-se o das remoções

Este é o caso da migração de trabalhadores, recorrentemente subdimensionada nos Estudos de Impactos Ambientais

expropriação de populações das áreas rurais de seus meios de

(EIAs). Trata-se dos deslocamentos de expressivas massas de

produção, territórios e modos de viver, acentuando os níveis de

trabalhadores que ocorrem em função das ofertas temporárias

degradação ambiental e de pobreza. Este é o caso das populações

de empregos na fase de construção/implantação dos projetos.

que trabalham e vivem no meio rural em regime de economia

No entanto, após a finalização desta fase, os trabalhadores

familiar e relação comunitária, como os ribeirinhos, extrativistas,

ficam sem emprego e têm suas condições de vida agravadas no

pescadores, agricultores familiares, indígenas e quilombolas.

território que, via de regra, já é bastante limitado no provimento

Explicitamente, diversas categorias de trabalhadores envolvidos

dos serviços públicos. O subdimensionamento de problemas

nestes empreendimentos sofrem as mais variadas violações de

associados ao deslocamento de milhares de trabalhadores para

direitos, inclusive condições de trabalho análogo ao escravo,

as áreas atingidas, gerando inchaços urbanos, crescimento

conforme amplamente denunciado pelos movimentos sociais.

desordenado e falta de perspectivas, constitui uma característica comum a estes megaprojetos financiados pelo BNDES. A 22

compulsórias de comunidades urbanas empobrecidas e o da

Entre as características que compõem este quadro estão as chamadas “relações promíscuas” entre diversas escalas


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