Ambientalização dos Bancos e Financeirização da Natureza

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com os temas da ambientalização do financiamento e da

de todo este acúmulo e dos diversos ângulos de análise brindados

financeirização da natureza. Nesse contexto, merece destaque a

pelos autores. Ela também é reforçada em um contexto em que as

oficina “Serviços Ambientais, REDD e Fundos Verdes do BNDES:

estratégias e políticas socioambientais das instituições financeiras,

Salvação da Amazônia ou Armadilha do Capitalismo Verde?”.

longe de garantir os direitos das populações ou reconhecer

Realizada em Rio Branco, no Acre, em outubro de 2011, esta atividade

os direitos da natureza, representam novas formas de impor a

foi promovida com o apoio do Fórum da Amazônia Ocidental

velha ideologia neoliberal e implementar, ao mesmo tempo que

(Faoc), do Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação

mascarar, um novo ciclo de acumulação do capital. Tendo como

Popular (CDDHEP), da CLUA e da Fundação Heinrich Boell.

base o aprofundamento da apropriação dos espaços e serviços

Antecipada por visitas a campo, a oficina priorizou os testemunhos de organizações, pesquisadores, trabalhadores e trabalhadoras das diversas regiões da Amazônia. A partir dessa

dos bens comuns e da vida num sentido mais amplo. Neste momento de reconfiguração da economia, as mesmas

perspectiva, o debate abordou, principalmente, o distanciamento

instituições financeiras geradoras das crises se fortalecem,

entre os anseios e propostas populares para a sustentabilidade

apresentando-se como uma “solução”, a ponto de lograrem

na Amazônia e a real possibilidade de resguardo de direitos

em substituir a política e os direitos por suas condicionantes e

diante da implementação de projetos definidos pelas políticas

salvaguardas. Enquanto atuam para garantir privatizações, demissões

de aceleração do crescimento econômico, financiadas pelos

massivas, redução dos benefícios e perda dos direitos conquistados

bancos de desenvolvimento. Esta oficina também trouxe à tona o

pelos trabalhadores no Norte Global, avançam, no Sul, suas políticas

questionamento sobre a efetividade da estratégia de salvaguardas,

de privatização da gestão ambiental e de apropriação do intangível.

especialmente quando são definidas pelas instituições financeiras,

Através de reformas políticas e novas leis, permite-se classificar os

sem adequadas condições de participação e controle social e de

componentes da natureza como “capital natural” para que os bancos

respeito e incorporação das visões locais de desenvolvimento.

e as corporações os transformem em títulos financeiros que podem

A Rede Brasil, com base de definições de suas Assembleias de 2007, 2010 e 2012, como membro fundador da Plataforma BNDES

ser especulados em bolsas de valores. É, portanto, mais do que nunca necessário rever os velhos

e integrante do Grupo Operativo desta articulação, decidiu

discursos e formas de atuação das instituições financeiras e

focar sua contribuição nas estratégias de responsabilização do

fortalecer a resistência e a mobilização social no questionamento

BNDES. Neste sentido, ancora-se em sua própria experiência

do papel do Estado no atual modelo de desenvolvimento.

no monitoramento crítico das políticas e salvaguardas

Esperamos que as diversas contribuições deste estudo aportem na

socioambientais das IFMs, na articulação regional e internacional

reflexão das organizações, redes e movimentos sociais para além

com organizações sociais e redes parceiras para a denúncia dos

do âmbito da Rede Brasil e animem ações da Plataforma BNDES

impactos da atuação nacional e internacional do BNDES e no

no controle social e redirecionamento de um dos maiores bancos

papel deste Banco e das IFMs na geração de dívidas e violações

públicos na busca por justiça econômica, social e ambiental.

de direitos sociais e ambientais na implementação de projetos relacionados à infraestrutura e aos megaeventos esportivos. A tese da responsabilização subsidiária do BNDES, fortalecida nos debates realizados na IX Assembleia Geral da Rede Brasil, que contou com a presença do Ministério Público Estadual do Pará, além dos pesquisadores desta publicação, é defendida aqui a partir 8

públicos, este ciclo também se fundamenta na financeirização

* A partir de 17 de agosto de 2012, data de encerramento da IX Assembleia Geral da Rede Brasil, a sua Coordenação Nacional passou a ser composta das seguintes organizações: Amigos da Terra Brasil, Fórum da Amazônia Ocidental (Faoc), Fórum da Amazônia Oriental (Faor), Fórum em Defesa da Zona Costeira do Ceará e Instituto Mais Democracia. No entanto, é importante ressaltar que esta publicação foi concebida e produzida pela Coordenação anterior, composta por: Amigos da Terra Brasil, Centro de Pesquisa e Assessoria - Esplar, Fórum da Amazônia Ocidental (Faoc), Fórum da Amazônia Oriental (Faor), Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc), Instituto de Políticas Alternativas para o Cone Sul (Pacs) e Rede Alerta Contra o Deserto Verde.


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