Revista Caramanchão

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Projeto de pesquisa, revista de arte, construção de sentidos e redes. Santa Catarina/Brasil. Passeios, conversas, cinemas realizados em seis meses de 2014, na construção da primeira CARAMANCHÃO que se dedica a entender a arte como lugar de pensamento, reflexão e criação. A partir da soma de nossos mapas mentais traçamos este roteiro, cartografia construída com nossos desejos, curiosidades e dúvidas. Buscamos nos aproximar dos saber os modos de produção, do processo de cada qual destes convidados e percorrer estes ambientes de fazeres e estudo. Sendo assim, nesta revista estão nossas experiências por estes lugares-inspiração, propostas que decidimos conhecer, interagir, multiplicar.

Editorial CARAMANCHÃO


Garuva 05 V. do Ribeira 13 Garopaba 18 Anitápolis 24 Monte Cristo 26 Peixe Orgânico 30 Itacorubi 34 M. das Pedras 35 Campeche 37 L. da Conceição 38


Trindade 39 Canasvieiras 40 Receitas e mto + 41 Música 44 Alecrim 46 Flor Ratones 48 Çarakura Ratones 49 Conquista 50 Camping CARTAZ



Douglas Ladik Antunes

Arte Política e Cultura: Desafios e Afirmação na Contemporaneidade.


Para muitas comunidades tradicionais do Brasil a atual circunstância histórica envolve condições de grandes desafios para a continuidade de sua reprodução física e cultural. O que marca tais condições é centralmente o avanço das fronteiras do modelo de desenvolvimento capitalista em detrimento dos modelos endógenos de sobrevivência e resistência. Apesar do amparo constitucional e de diversos dispositivos jurídicos em prol de tais grupos sociais diferenciados, a ampliação do nível de capitalização de suas vidas desassociado de seus próprios modos de produção vem representando, em muitos casos, a desarticulação e a desmobilização de seus movimentos sociais. Essa breve discussão inicial, sem nenhuma pretensão em esgotar a complexidade de tais contextos, nem portanto a discussão temática do assunto, objetiva unicamente adiantar algumas condições atuais em que se encontram os sujeitos de nossa observação. Trataremos aqui sobre a Arte e o modo de vida de artesãos – cipozeiros, ou cipoeiros tradicionais, que vivem do extrativismo e manejo de recursos naturais na realização de suas vidas. Para essas pessoas, sua arte não se desloca de seu modo de vida, e, apesar da vida dura, ela ainda é permeada da criação, do ato inventivo. Certo que este ato inventivo fica condicionado à fatores determinados pela lógica comercial do artesanato “vendável”. Porém, a transgressão de tais rotas comerciais é uma tentativa de alguns desses cipozeiros e cipozeiras. A transformação de seus objetos de uso em mercadorias ocorreu na década de 1970, por forte influência do trânsito nas ro-

dovias locais, onde os cipozeiros vendiam frutas, produtos da roça e seu artesanato. A ampliação da comercialização foi fato ainda na década de 1970 com a presença dos atravessadores e algumas mudanças tecnológicas como o branqueamento em estufa com enxofre, a encomenda de mercadorias com formas vindas “de fora” como pequenas bandejas e caxepôs e com o uso dos fundos de compensado que agilizam e barateiam a produção, visto que no artesanato de fundo trançado há grande demanda de tempo e material para seu “tecido”, como no caso do fundo umbigo asterisco (Ribeiro, 1987). Neste período se fortalece o comércio do artesanato com material beneficiado (descascado, limpo, raspado e branqueado), não sendo valorizado o artesanato com cipó bruto (com casca). A conclusão desta “forma-valor” do artesanato se baseou na própria perspectiva da criação do grupo: ajustar à necessidade, à praticidade e função, mesmo que isso tenha significado o ajustamento da mercadoria ao seu restrito valor de troca, e mínimo valor de uso. A efemeridade das novas mercadorias enfatiza sua ênfase no valor de troca. Criar para cipozeiros e cipozeiras representa um ato de projetar, sem lápis, sem prancheta, mas que fundamentalmente articula profundos conhecimentos sobre forma e conteúdo. Sua arte não se desconecta de seu “fazer” concreto do dia a dia, neste contexto arte é artesanato – simplesmente por ser ato criativo. Não é preciso dizer aqui o quanto a mercadoria os afasta da arte. Seu ato criativo se baseia em alguns preceitos materiais e sua síntese em artefato é fruto de uma composição. O saber solidário do cipozeiro se


Foto: Gabriela Orofino

consubstancia a partir de uma necessidade, muitas vezes das mulheres cipozeiras, que se tornam como tais por intermédio de um processo de aprendizagem com alguém solidário à sua condição de vida. Mesmo que essa não seja a regra geral, podemos registrar aqui que a identidade de cipozeiro e cipozeira é uma identidade solidária – aprendida por intermédio de familiares, amigos e parentes. Seu manuseio e gestualidade é o processo incessante de aprendizado, que é direcionado a diferentes formas construtivas na estrutura formal do artesanato, chamaremos aqui tais formas construtivas de “unidades construtivas”. As unidades construtivas se resumem ao trançado (isso para falar somente do ato de “tecer”) de partes específicas da “arquitetura” do artefato. Entre as partes constituintes dos artefatos podemos compreender a permanente existência do “fundo”, do “arremate do fundo”, do urdume, da urdidura e do “arremate” de topo; isso sem falar da infinidade de unidades construtivas “anexas” como alças, tampas, e demais “alegorias”. Assim, aprender a tecer significa ter domínio pleno do “tecido” dessas unidades construtivas. Quando um cipozeiro afirma que “aprendeu a fazer tal peça com minha mãe” significa que ela o ensinou o domínio de todas as partes que constituem a “arquitetura” da dita peça. Aprendidas as técnicas referentes às unidades construtivas, a criação de uma peça nova segue a lógica de composição desta peça pela constituição de unidades construtivas previamente selecionadas. Mas é claro que a criação da peça nova pode gerar uma unidade nova. Historicamente pode-se observar que a “forma-mercadoria” seguiu um ajustamento fundado


neste processo de criação. Mas é claro que estamos falando por enquanto somente do “tecido” do artesanato. Ser cipozeiro é muito mais que ser artesão. Para tecer uma peça, por mais simples que ela seja, é necessário todo o trabalho de coleta e tratamento do conteúdo da peça. Essa é uma diferença fundamental entre ser cipozeiro e ser artesão, muitos artesãos tecem com materiais sintéticos – por uma nova exigência de “mercado” pela lógica asséptica da mercadoria. O cipozeiro tradicional vai pro mato, para a “malha de cipó”, identifica os fios adequados, seleciona-os cuidadosamente, corta-os com destreza, agrupa os fios cortados e monta o “feixe”; cada feixe pode chegar a ter cinquenta “kilos”, com algo aproximado entre cinquenta e sessenta fios de cipó. O trajeto entre a casa do cipozeiro e a malha de cipó pode chegar dez quilômetros de percurso, vencidos à pé, algumas vezes de barco, de bicicleta, ou qualquer outro meio que se demonstre mais “prático”. Após a coleta procedem-se todas as etapas de beneficiamento do material, caso queirase trabalhar com o chamado “cipó limpo”: descascamento, retirada do “limo”, secagem, partilhamento longitudinal e perfilhamento. Esse trabalho é árduo e representa grande parte da atribuição de valor de troca à matéria prima. Enquanto um kilograma de cipó bruto custa aproximadamente um real, o de cipó limpo custa aproximadamente dez reais. Eis que, atualmente, é de estratégia de alguns cipozeiros tradicionais não trabalhar com a limpeza e tecido do cipó, pois o trabalho avoluma-se significativamente, estando associado à categoria “trabalho sofrido”. Para estes, a rentabilidade da atividade se concentra na coleta de cipó.

Mas para ser cipozeiro tradicional não basta lidar com cipó imbé. Ser cipozeiros está associado à praticas tradicionais de manejo e uso de uma vastidão de recursos naturais. “Andar no mato” está longe de se restringir ao objetivo da “malha de cipó”. O mato dispõe de recursos associados a diversas necessidades “necessárias” (minimizadas dos requintes do desejo), como a alimentação e aos objetos de uso. Os aspectos ligados à alimentação continuam representar grande importância atualmente pois alivia os gastos com gêneros alimentícios, sem contar com a importância simbólica deste tipo de alimentação; quanto aos objetos de uso, gradativamente vem sendo substituídos por bens manufaturados e industrializados, por decorrência de sua ampla existência nos mais variados rincões, e mesmo por toda a fetichização do ato do consumo. Ser cipozeiro articula outros saberes associa-


dos, como pesca e à organizam materiais

aqueles relacionados à roça, à caça. Por sua vez, tais práticas um compêndio de conhecimentos e imateriais. Entre a prática do extrativismo no grupo social d o s cipozeiros (mesmo não sendo um grupo “coeso”, permeado pela noção contínua de comunidade, visto que estes residem “pulverizados” em um amplo território) verificamos com certa frequência a referência a materiais como: o cipó liaça ou timbopeva (antigamente utilizada na confecção de balaios para roça, e atualmente muito empregada na confecção de vassouras), o “baraço” que são cipós contorcidos (atualmente utilizados em arranjos de floricultura), a palha de guaricana (antigamente utilizada na confecção de telhados, e atualmente em arranjos de floricultura), o perí e a tabôa (que antigamente eram muito utilizadas na confecção de esteiras e tapetes), a imbira (antigamente muito utilizadas na amarração de tapetes e esterias), o tucum (antigamente utilizado na confecção de linhas e suas redes de pesca), as taquaras e bambus (utilizados em artefatos de pesca, como as armadilhas tipo covo, entre outras); isso só para falar em fibras. Não prolongaremos aqui a lista de gêneros alimentícios e medicinais. A tradição expressa em sua nominação e objeto de auto identificação entre seus iguais, além de algo imaterial reconstruído historicamente, guarda em si o sentido político do pertencimento identitário. A ameaça à reprodução cultural desta tradição representa a esses sujeitos à

sua própria ameaça física. Assim, a mercadoria atual – que os desloca das práticas culturalmente construídas – representa seu próprio estranhamento, sua alienação aos aspectos territoriais que os significaram quanto sujeitos políticos. As formas de antagonismos sociais vividas pelos cipozeiros são variadas e os defrontam com sujeitos como fazendeiros, pistoleiros, caçadores esportivos, palmiteiros, entre outros, fisicamente presentes em seu território ou não. Muitos antagonistas expressam sua força utilizando a caneta como arma, e mesmo pela ausência da caneta, com a falta de reconhecimento e políticas públicas que poderiam minimamente respeitar as formas de desenvolvimento orientadas às práticas culturais. O novo capítulo desta história está para ser escrito, ainda que pautada na luta social, seus desafios podem encontrar conforto na superação através da ARTE, da arte política. Eis o desafio e sentido da vida: a luta.



Fotos: Camila argenta Mãezeira de cipó imbé (Philodendron Corcovadense Kunth - Araceae)

Rebrotes do cipó cortado

Seleção dos fios maduros de cipó-imbé Método de manejo



Felipe Almeida Biguzzi

Apresentação do estudo realizado na associação Cooperafloresta o manejo de sistemas agroflorestais


A Associação de Agricultores Agroflorestais de Barra do Turvo e Adrianópolis - Cooperafloresta - é uma das mais exitosas iniciativas envolvendo agricultura familiar e sistemas agroflorestais no Brasil. A Cooperafloresta está localizada no Vale do Ribeira, região predominantemente montanhosa que abriga a maior reserva da Mata Atlântica na costa Sul do Brasil. O Vale do Ribeira é a região mais pobre do Estado de São Paulo e uma das mais pobres do Estado do Paraná (PNUD, 2012). Devido as suas características edafoclimáticas permanece economicamente deprimida, sendo composta por agricultura itinerante de derruba-e-queima e por pastos extensivos formados após o rápido esgotamento dos terrenos pela lavoura. Inserida nesse contexto a Cooperafloresta, hoje com mais de uma centena de famílias associadas, acumula densa experiência em mais de 18 anos de manejo agroflorestal fazendo convergir avanços na produção agrícola, nas condições socioeconômicas e contribuindo com a proteção ambiental. A proposta de manejo agroflorestal, promovido pela Associação baseia-se no modelo de agrofloresta sucessional biodiversa pioneiramente desenvolvido na região cacaueira da Bahia por Ernst Götsch, engenheiro florestal suíço radicado no Brasil. Nesse sistema as plantas são organizadas e manejadas visando à mimetização estrutural e funcional das florestas. Emprega-se considerável diversidade botânica, através da consorciação de várias espécies dentro da mesma área de cultivo, em busca de interações benéficas entre plantas com diferentes ciclos, portes e funções

(Young, 1997; Sanchez, 1995). Hortaliças, cultivos anuais, semiperenes e perenes com fins de produção de alimentos e de fertilização são cultivados simultaneamente na mesma área de plantio. A regeneração natural também é utilizada com esses mesmos propósitos. Com o desenvolvimento do sistema, muitas plantas são colhidas, abrindo espaço para outras sucessivamente de modo que, em sua maturidade, os sistemas exibem uma estrutura com dosséis arbóreos em diferentes estratos. Visando aprimorar os sistemas em curso na Cooperafloresta e ampliar a base de conhecimentos disponível para a difusão desses sistemas para outras famílias e em outras regiões foi realizado um projeto de pesquisa de doutorado com o objetivo de descrever e analisar a configuração das áreas de cultivo desenvolvidas pelos agricultores da Cooperafloresta. Como a estrutura e o manejo das agroflorestas resultam das percepções e decisões dos agricultores é preciso compreender a lógica que orienta suas ações. Assim, para compreensão das agroflorestas na perspectiva dos agricultores, duas preocupações nortearam as análises feitas pelos pesquisadores: a confiabilidade das informações e o desafio de tratá-las de modo que a correlação entre os fatores mais relevantes fosse evidenciada. De dezembro de 2011 a maio de 2012, três períodos de imersão no cotidiano dos agricultores. Nesse tempo, em média 20 dias por período de imersão, trabalhou-se com os agricultores nas atividades do dia a dia dedicando as tardes para entrevistas em ambiente informal e amistoso. Após cada período as informações coletadas eram sistematizadas e analisadas.


As entrevistas foram orientadas por roteiros que continham pontos-chave a serem explorados. Listou-se questões relativas ao histórico da área tais como: - Qualidade da terra - Distância da área de cultivo Os agricultores foram questionados sobre em relação à casa quais seriam os pontos positivos e nega- Manejo agrícola tivos de cada uma das suas áreas de cul- Produção agrícola (renda) tivo. Essa abordagem demonstrou, em escala - Diversidade das plantas de importância, as características mais cultivadas relevantes das agroflorestas independente- Espécies de cultivo predomente de terem sido qualificadas de forma minantes na área positiva ou negativa. (Figura 1). As mais frequentemente citadas foram: - Localização - Qualidade da terra - Manejo - Produção

Figura 1: Características das agroflorestas segundo a percepção dos 14 agricultores entrevistados (n = 57 áreas)

O destaque dado pelos agricultores à localização e à qualidade da terra provavelmente se deve à influência desses fatores no rendimento do trabalho e no tipo de atividade exigida pelo sistema. Ou seja, esses fatores influenciam na renda e no esforço físico realizado pelo agricultor durante o processo de produção. A característica “manejo” revela outra situação interessante. Os agricultores declaram que gostam de manejar, porém em apenas 3% das agroflorestas o manejo é considerado um ponto positivo, isto é, está sendo bem feito. Em contrapartida em 13% das agroflorestas o manejo é considerado ponto negativo (Figura 1).


“Gostar de manejar” e avaliar o manejo como ponto negativo não significa necessariamente uma contradição. Isso pode indicar um processo de aprendizagem com os “erros” de manejo ou pode estar relacionado a viabilidade econômica e/ou laborais. O fato de o manejo ser de responsabilidade exclusiva do agricultor, e de apresentar a possibilidade de ser melhorado em curto prazo, resulta numa avaliação mais rigorosa comparada as outras características. Essas características geram agroflorestas com diferentes configurações que foram observadas e agrupadas conforme a complexidade estrutural, composição botânica, padrão de manejo e rendimento agrícola. Essa diferenciação é resultado da capacidade e habilidade de trabalho das famílias, do potencial de geração de renda das espécies cultivadas comercialmente e da distância das agroflorestas em relação à casa. Em relação a capacidade de trabalho, as dificuldades e limitações físicas dos trabalhadores induzem o cultivo de produtos de maior valor monetário por unidade de peso, de modo a reduzir, também, o esforço no transporte. Somado a isso, a dificuldade de poda para manejar copadas altas resulta em agroflorestas sem árvores altas ou no abandono da área quando as árvores crescem além de certo limite. Quanto ao potencial econômico, a banana é o produto de maior destaque. É pouco provável que qualquer espécie possa se rivalizar com ela, devido ao conjunto de atributos agronômicos, mercadológicos e de rendimento do trabalho. Embora distante, o cultivo de pupunheira para palmito é o que tem atributos que mais se aproximam]do cultivo da bananeira. Nas agroflorestas de instalação mais recente esse conjunto de fatores tem criado

Agrofloresta simplificada com predominância de bananeiras (vegetação verde clara na parte inferior) contrastando com a paisagem da vegetação espontânea (capoeira, vegetação verde escura na parte superior).

Cultivo sucessional e biodiverso. 1- roçada, preparo e plantio das linhas de cultivo e dos corredores para as plantas adubadeiras. 2- primeiras plantas da sucessão nascendo nas linhas de cultivo e capim elefante no corredor de adubadreiras (primeiros meses).

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dois padrões distintos. Nas proximidades das casas as agroflorestas têm manejo mais intensivo, com mais agrodiversidade e maior rendimento agrícola e de renda por área. Em áreas mais distantes cultivam-se agroflorestas mais simplificadas, com menor agrodiversidade, concentradas na produção de banana e organizadas para o favorecimento do rendimento do trabalho. Na prática, a combinação desse conjunto de características faz com que cada agrofloresta seja única e com dinâmica relativamente diferente uma da outra, embora inspiradas sob a orientação de um único modelo de estruturação e funcionamento. Quanto a difusão desse sistema para outros grupos de agricultores e em outras regiões, espera-se que os temas levantados e discutidos neste estudo contribuam para a elaboração de propostas com elevado potencial de adesão e de acerto agronômico, cultural e econômico.

Agrofloresta diversificada (vegetação verde clara, ao redor da casa, na parte inferior), se assemelhando a paisagem da vegetação espontânea (capoeira, vegetação verde escura na parte superior).

3- predomínio de plantas anuais como a mandioca nas linhas 4- Presença de bananeiras, palmeiras e outras árvores pequenas. fante vai sendo suprimido pelas plantas da linha de cultivo e pelas em estágio avançado

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de cultivo e capim elefante podado no corredor de adubadeiras (primeiro ano). Perda da estrutura em linhas de cultivo e corredor de adubadeiras. capim elepodas consecutivas (entre o segundo e terceiro ano). 5- Sistema agroflorestal com espécies vegetais ocupando diferentes extratos (15 anos aproximadamente).

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Julia Vieira da Cunha テ」ila

Comunidades quilombolas do litoral de Santa Catarina: percepテァテオes sobre saberes e uso do territテウrio


Quando ouvimos o termo quilombola é comum pensarmos em descendentes de escravos fugitivos, que vivem em locais de difícil acesso. Você também pode ter pensado em algo assim. Esse grupo étnico que, apesar de ter grande influência na história do Brasil, é pouco conhecido e reconhecido, sendo pouco abordado no ambiente escolar e nos meios de comunicação. [Para garantir a preservação da identidade cultural dos remanescentes das comunidades dos quilombolas o decreto nº 4.887, de 20 de novembro de 2003, também preconiza que o Ministério da Cultura, através da Fundação Palmares, é responsável por fazer a certificação das comunidades quilombolas e o INCRA é o órgão responsável pelas suas regularizações fundiárias. Em Santa Catarina, até o momento 12 comunidades já foram reconhecidas como Remanescentes de Quilombos. Apesar desse reconhecimento, apenas a comunidade Invernada dos Negros (Campos Novos–SC) possui algumas terras já demarcadas, estando as demais comunidades em diferentes etapas do processo de titulação.] Desde 2013 a Universidade Federal de Santa Catarina desenvolve estudos etnobotânicos nas comunidades Quilombolas Santa Cruz, também chamada de Toca (Paulo Lopes), Aldeia (Garopaba) e Morro do Fortunato (Garopaba), através de projetos de mestrado e doutorado de pesquisadores do laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica (Departamento de Ecologia e Zoologia, UFSC). Em meu mestrado, faço parte desse grupo de pesquisa, analisando a relação dos quilombolas com o território que habitam. Membros destas comunidades sofreram muito preconceito, em geral estudaram até o ensino fundamental e quem trabalha fora da comunidade atua no comércio ou com prestação de serviços, mas, como seus antepassados, vários moradores cultivam roças de mandioca, milho, frutas e ervas e dependem das plantas

que cultivam e coletam de várias maneiras. Os quilombolas são um grupo étnico-racial: eles mesmos se denominam quilombolas. Seus ancestrais negros resistiram à opressão histórica sofrida pela escravidão. Eles são fruto dessa história e possuem uma relação com o território em que vivem de forma bem específica. Esses grupos se originaram de várias maneiras. Algumas comunidades são formadas por grupos que continuaram em fazendas que faliram ou foram abandonadas, outros conseguiram suas terras em troca de favores ou trabalhos. Existem ainda comunidades que receberam as terras como herança de seus senhores. Os quilombolas, assim como os grupos indígenas, ribeirinhos, seringueiros e outros, são diversas vezes idealizados com base em informações antigas. É comum que exista uma resistência em reconhecer uma comunidade como tradicional quando ela passa a incorporar valores e modos de vida de outras culturas: acredita-se que isso os descaracteriza. Contudo, o congelamento de seus modos de vida idealizados perpetua injustiças sociais ao longo do tempo. A cultura é um elemento social dinâmico e aderir e criar novos valores é natural. Como o sociólogo Boaventura Souza Santos explica “Temos o direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”. A Etnobotânica é uma ciência que busca compreender como se dão as interações de pessoas de diversas culturas com as plantas. Para isso, diferentes metodologias são utilizadas na coleta de dados em pesquisas etnobotânica, como entrevistas, coleta e identificação das plantas e métodos participativos. Através das pesquisas nas co-


munidades quilombolas em questão, percebese que essas comunidades, independentemente de sua localização, grau de urbanização e histórico, atualmente fazem uso de plantas para diversas finalidades, como alimentação, práticas de saúde, artesanato, ornamentação, entre outros, e consideram importante registrar e valorizar esses saberes. A maioria das plantas citadas são obtidas nos quintais, sendo usadas principalmente como alimentícias, com maiores citações para a banana, alface, milho, goiaba e limão e também medicinais, como a laranja (Citrus sinensis (L.) Osbeck), erva cidreira (Melissa officinalis L.) e hortelã (Mentha spp.). Além disso, eles também coletam e cultivam plantas em áreas dentro e fora das comunidades, que foram identificadas nos trabalhos através de mapeamentos participativos. Espécies como o Cipó-de-São-João Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Mier) e a palha de Butiá (Butia catarinensis Noblick & Lorenzi) são coletados nas matas e usados para a confecções de artesanatos. Esse mapeamento poderá contribuir para que as comunidades possam ter maior clareza sobre as áreas atualmente utilizadas para realização de práticas tradicionais. O cultivo das plantas nos quintais contribui na segurança alimentar familiar, favorecendo uma alimentação saudável, orgânica e com maior diversidade para a população que, independente de sua situação econômica, pode ter acesso a produtos de qualidade. Além dessa contribuição à saúde provinda dos alimentos, ao longo de diversas gerações, foram cultivadas nos quintais plantas medicinais nativas e exóticas que são usadas para tratar enfermidades físicas, emocionais e espirituais. Esse cultivo também preserva variedades


locais de plantas, por exemplo as ramas de mandioca, que são cultivadas há muitas gerações. Essa agrobiodiversidade carrega diferentes informações genéticas e têm capacidades distintas de resistir às condições climáticas e biológicas. Assim, perpetuar o cultivo dessas variedades contribui para que as comunidades tenham acesso aos recursos vegetais mesmo diante de mudanças, tais como mudanças climáticas ou socioambientais. Mais recentemente, conforme desejam, os membros dessas comunidades estão se inserindo no mercado de trabalho. Isso é um avanço importante, pois não podemos esquecer que há cerca de meio século uma corda no meio dos bailes locais separava os brancos dos negros e, em certos estabelecimentos nas regiões de Garopaba e Paulo Lopes, os negros eram proibidos de entrar. Muito ainda deve ser feito no sentido de dar visibilidade e valorização a essas populações, para que tenham igualdade de direitos e melhores condições de vida. Algumas pessoas das comunidades conseguem conciliar o cultivo de plantas nos quintais e roças com os trabalhos dentro de casa e na cidade. Assim, alguns quintais e roças na comunidade, que recebem mais atenção, passam a se destacar no fornecimento de plantas para a comunidade. Podemos salientar, quanto à obtenção das plantas, tanto para alimentação, quanto para usos medicinais que, apesar de diversas plantas serem compradas, a importância cultural de tais práticas é grande e é de interesse das comunidades perpetuá-las. Como seus territórios ainda não foram demarcados, durante as pesquisas buscamos conhecer as áreas usadas para cultivo e coleta de plantas e as áreas de criação de animais, bem como os locais que as co-


Em 2011, realizei nos municípios de Imbituba e Garopaba um trabalho etnobotânico com os benzedores dessas regiões e seus atendidos, que também contou com a participação da benzedeira da comunidade Aldeia, a Dona Adelaide. A anciã possui notável conhecimento sobre as plantas com fins medicinais, ensinando seus saberes a quem precisa e realizando benzimentos com auxílio de plantas.“Saber as coisas é a coisa mais linda que tem, porque cura. Eu tenho fé. Os remédios são feitos das plantas”, diz a benzedeira. Para benzer a anciã usa qualquer planta, como sabugueiro, cidreira, alho, arruda e também benze cortando uma fruta com a faca. Adelaide diz que aprendeu a benzer aos 16 anos, com Deus:“só com a palavra de Deus”. Sua mãe e avó também realizavam essas práticas,“nunca vou arredar de benzer”. Ao longo do trabalho pode-se verificar como o uso das plantas, dos remédios e a procura pelas “benzeduras” são complementares no cuidado com a saúde. Para certas enfermidades as plantas e benzeduras são preferidas, para outras os remédios, indicando que as práticas tradicionais de saúde seguem ocorrendo ao longo do tempo apesar de suas transformações.


munidades consideram como seu território atualmente. Assim, foi possível identificar áreas de coleta e manejo que extrapolam a comunidade e são importantes para continuidade de práticas tradicionais. Na comunidade Aldeia, cuja região sofre forte especulação mobiliária, algumas áreas necessitam ser mais manejadas, havendo produção de roças e criação de animais em terrenos arrendados. Trocas de folhas, frutas, mudas de plantas e saberes são comuns nesses locais e acontecem principalmente entre pessoas de uma mesma comunidade, mas também entre comunidades, mostrando importantes relações de reciprocidade entre seus membros, que muitas vezes possuem algum grau de parentesco. Nesse ponto as benzedeiras ganham destaque, ensinando sobre as plantas medicinais àqueles que as procuram, tendo as plantas disponíveis em seus quintais ou muitas vezes sabendo onde encontrá-las. Por fim, uma questão a ser destacada é que as comunidades quilombolas estudadas estão aumentando, principalmente porque seus descendentes permanecem nas comunidades, mas também devido à vinda de pessoas de fora que passam a morar na área. O ambiente tranquilo e familiar, de ajuda mútua e o forte sentimento de comunidade, é uma busca constante desses grupos, que apesar das muitas dificuldades no seu dia-a-dia relatam que não conseguem imaginar viver em outros locais. A demarcação de seus territórios deve assim considerar que a área de construção de casas nas comunidades está se expandindo e que os quintais e outras áreas acessadas para obtenção e cultivo das plantas devem ser priorizados na organização espacial dessas comunidades, já que são áreas fundamentais para a manutenção de práticas culturais do grupo.

Na comunidade Santa Cruz são confeccionados “Brebes”. Os “Brebes” são instrumentos de proteção que podem ser feito de diversas maneiras: podem ser confeccionados com pequenos pedaços de pano, costurados em forma de pequenos sacos, que levam no seu interior plantas de proteção espiritual como arruda, alecrim e alho. Outras vezes as plantas podem ser colocadas com um alfinete diretamente na roupa da pessoa que será protegida ou embaixo do travesseiro. Assim, os “Brebes” muitas vezes são feitos para proteger as crianças contra mau olhado ou livrar pessoas que sofrem de enfermidades que se acredita que tenham a espiritualidade como causa.


Editorial Caramanchão

No percurso conhecemos o sítio do Jorge e Regina Silva, (fotos acima) propriedade permacultural, totalmente agroecológica, modelo de vida no campo, manejo sustentável, agricultura e preservação. Nas fotos, ao lado, uma das marcenarias da família Schüller, movida à roda d’água,

Fotos: Annaline Curado

Percurso: Anitápolis



Ana Karolina da Conceição

Sensibilização da Revolução dos Baldinhos


A Revolução dos Baldinhos é um projeto de gestão comunitária de resíduos orgânicos e agricultura urbana, que existe há 05 anos e começou por um grande problema, uma epidemia de ratos! Como solução, a gente viu que não adiantava só desratizar, tinha mesmo era que tirar a comida deles... Dessa forma a ideia foi distribuir um “baldinho” para cada família separar somente as sobras de comida, pois um ciclo precisava ser iniciado, surge assim uma revolução... Para fazermos a sensibilização precisamos de agentes comunitários locais, que fazem as visitas em casas, creches, escolas, pro-

jetos e outras comunidades, pois é muito importante que a separação dos Resíduos Orgânicos comece na fonte, nas cozinhas! Dessa forma, os agentes comunitários explicam o que pode ser separado para a reciclagem, como os restos de comida em geral, pó de café, erva do chimarrão, cascas de frutas e verduras, e informando que sacolas plásticas, fraldas, pilhas, quando é misturado ao resíduo orgânico, prejudica no resultado final do produto, pois é feito uma troca, onde os participantes separam os resíduos e recebem de volta em adubo e mudas, sejam elas flores, hortaliças, temperos ou chás... Quando já gostam de plantar o processo se torna mais fácil, e quando não tem o hábito, aos poucos eles acabam convencidos pelas mudas e o adubo e nosso incentivo, com mutirões, e com tudo isso temos a certeza que estamos comendo um alimento de qualidade. Através do nosso projeto, nossa alta estima é outra, pois a comunidade Chico Mendes é conhecida como uma comunidade com alto índice de violência, mas com a Revolução dos Baldinhos podemos abrir as portas da comunidade e contar a diferença do lixo que virou nosso OURO NEGRO, pois não adianta ficar parado esperando, temos que correr atrás e fazer acontecer, pois são pequenos gestos como o nosso que farão a diferença no Mundo. Corra atrás de seus sonhos como estamos correndo, nos capacitando para montarmos nossa cooperativa ou associação. Faça a diferença na sua comunidade, também separe seu resíduo orgânico, faça compostagem, adote a revolução dos baldinhos no seu bairro. Venha conhecer nosso projeto, na Servidão dos Pinheiros, nº 165. Bairro Monte Cristo - Florianópolis 48-98105776


PASSO A PASSO DA REVOLUÇÃO Separação do Lixo Lavação das bombonas as famílias do bairro

Reunião de grupo - trabalho e organização PEV’s - Pontos de entrega voluntária Limpeza do Pátio

Comunidade

de agricultura urbana - hortas verticais

Peneiração

Sensibilização comunidade

Virada das bombonas

Compostagem

Venda do adubo e entrega do composto para

Hortas escolares - Palestras - Encontro com as famílias - Oficina Capacitação

Reunião de Grupo



Fábio Fialho

Coletivo Peixe Orgânico, uma experiência urbana na produção de alimentos


Alunos da UFSC produzem peixes e hortaliças em carcaça de geladeira Peixes, hortaliças, minhocas e lemnas. Tudo isso cultivado em sucata de geladeira, e dá pra acomodar no quintal de casa... Parece estranho a princípio, e a reação do público é sempre de admiração e curiosidade. As ideias são simples, porém, inspiradas em sistemas produtivos complexos: piscicultura em sistema de recirculação de água, compostagem e ciclagem de nutrientes, hidroponia... Sem falar no aproveitamento das carcaças de geladeira, normalmente descartadas no aterro sanitário, pois o desmanche não é viável para as usinas de reciclagem. O protótipo funciona assim: tudo começa com o minhocário, onde é depositado o lixo orgânico da casa, então você alimenta os peixes com as minhocas produzidas ali, e o chorume é coletado para nutrir um tanque com lemnas (plantas aquáticas) que também vão servir de alimento para os peixes. Bem,

depois você utiliza a água dos peixes que é rica em nutrientes para irrigar as hortaliças. As hortaliças por sua vez filtram a água que retorna limpinha para o tanque dos peixes. O ciclo está fechado!!! Tudo começou com as geladeiras, que um dos participantes do grupo trouxe para o pátio da universidade. Na época, um dos professores, então supervisor das atividades do pátio de compostagem, havia cedido o espaço para a experimentação dos alunos. Essa liberdade na ocupação do espaço permitiu várias iniciativas: criação de peixes, uma coleção de plantas aquáticas, jardins verticais, aquecimento de água utilizando o calor da pilha de compostagem, e vários sistemas integrando peixes e plantas, culminando no protótipo com minhocas, peixes, hortaliças e lemnas.


A iniciativa foi muito bem recebida pelos colegas e professores, resultando na sua apresentação durante o VII Encontro Nacional de Hidroponia; na XI Semana de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC; no I Simpósio de Agricultura Urbana de Santa Catarina; e também no projeto Invenções Caseiras da 9ª Bienal do Mercosul com o vídeo de animação “Peixe Orgânico”, ganhando também uma dimensão artística. Foi assim que o coletivo “peixe orgânico” surgiu em 2012, no pátio de compostagem do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina. Atualmente o grupo está disperso, alguns alunos estão em vias de se formar ou já se formaram, outros estão envolvidos com a pós-graduação, outros trabalhando, porém os encontros ainda acontecem e existem propostas para levar o projeto adiante em parceria com o CEPAGRO (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura de Grupo) e com o LECERA (Laboratório de Educação do Campo e Estudos da Reforma Agrária).


E se a ideia inicial era utilizar as carcaças de geladeira para criar peixes e plantas aquáticas, o resultado é ainda um projeto em aberto onde cada um pode contribuir com sua pesquisa. O protótipo continua servindo à experimentação dos estudantes dos cursos de Eng.ª em Aquicultura, Agronomia e Zootecnia, e acessível às iniciativas interdisciplinares. [Fizeram parte deste trabalho: Augusto Lima, Bernardo José, Fábio Fialho, Francisco Pchara, Jeferson Mota, Marcos Blum, Mathias Pchara.] Contato: Fábio Fialho ffblue@hotmail.com

Assista o vídeo em: http://www.youtube.com/watch?v=XRkGUngFmH8


Editorial Caramanchão

Percurso: Itacorubi, Florianópolis

Nas fotos, acima, Associação dos Coletores de Materiais Recicláveis e a horta cuidada por funcionários da Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap). A Comcap oferece visitas guiadas, sendo um dos atrativo, o Museu do Lixo (foto acima), espaço cultural e educativo, com um acervo de livros, equipamentos, brinquedos, ferramentas, eletrodomésticos... muitos objetos que haviam sido descartados e são resignificados neste espaço que nos faz refletir sobre consumo exagerado e nossas atitudes cotidianas.

Na página da direita, fotos das casas que conhecemos durante nossos percursos, guiados por Marcos Abreu e Emília Vieira. Eles nos contaram o processo de construção das casas, a história dos materiais, muitos vindos dos avós, como janelas, assoalhos, vigas e pilares. Constituiram uma arqiutetura com teto verde, gerando conforto térmico, além de sempre ser um ambiente convidativo. Explorar entradas de luz natural é uma alternativa importante também, como clarabóias, garrafas, blindex. A escada, com entrada e saída para os dois lados, é feita com bancos de uma igreja. Este olhar afetivo, para além do fetiche dos móveis antigos e de demolição, mas ao reaproveitamento, a valorização e a delicadeza de abrigos que tentam gerar menos impacto e consolidam o uso de banheiros secos, composteiras, quintais agroflorestais, hortas, funcionando como corredores ecológicos urbanos, atraindo pássaros, morcegos...e aconchego!


Editorial Caramanch茫o

Percurso: M. das Pedras, Florian贸polis

Fotos: Gabriela Orofino e Julia Locatelli



Fred Gorski

Três plantas para compor um caramanchão

Thunbergia mysorensis, sapatinho-de-judia

http://jardimdecalateia.com.br/

A Thunbergia mysorensis ou sapatinhode-judia, é uma trepadeira semilelhosa, de crescimento rápido, com folhagens e flores ornamentais. A floração ocorre por meio de cachos, que pendem das ramificações, tornando-a, por isso, ideal para a cobertura de pérgolas e caramanchões.

Solanum betaceum, tamarilho Apesar de não ser uma trepadeira, o tamarilho é um arbusto de proporções adequadas para o Caramanchão e, além do mais, necessita de tutoramento para crescer e frutificar adequadamente. Seu fruto é uma espécie de tomate doce e de casca mais dura que a do tomate comum.

Caramanchão, pérgola ou pergolado é o nome dado a uma estrutura arquitetônica formada por vigas dispostas paralelamente de forma horizontal e que se veem apoiadas nas partes estruturais (ou pilares). Há uma diferença sutil entre as funções exercidas por uma pérgola e um caramanchão e que define o tipo de uso que se faz de cada estrutura. Enquanto a pérgola limita-se ao controle da iluminação solar, cobrindo apenas de

Clerodendrum thomsoniae, lágrima-de-cristo Lágrima-de-cristo é uma trepadeira semilenhosa com ramificação saliente e floração igualmente exuberante. As folhas são ovaladas e verde-escuras, com nervuras bem demarcadas e levemente brilhantes na parte superior. As flores brotam de cachos terminais, em que se destacam os cálices (parte basal da flor e que lhe serve como proteção) normalmente brancos ou com detalhes em rosa, ou ainda de um pálido violeta.

forma parcial o solo e, valendo-se, quando muito, timidamente da vegetação como ornamento, o caramanchão é suporte para ela. Se, por um lado, a pérgola apresentase como uma composição arquitetônica autônoma, servindo inclusive como lugar de passagem (corredor entre dois edifícios, por exemplo), o caramanchão, por outro, define-se como suporte para a vegetação. Suporte esse cuja função é gerar sombra em abundância, apresentando-se como lugar de repouso e reflexão, de convívio. Do ponto de vista da construção, o pergolado envolto pela vegetação é quase um paradoxo. É espaço construído que se apresenta como espaço natural. Substitui a necessidade de árvores valendo-se de trepadeiras e arbustos cuidadosamente tutorados. Mais do que uma construção, o caramanchão é um ornamento. Em sua composição, são utilizados normalmente plantas herbáceas trepadeiras ou arbustos prostrados.


Entrevistado Alesio dos Passos

...temos também uma cozinha experimental onde a gente trabalha com a produção de alguns alimentos. Temos uma coleção de frutas exóticas. Temos também uma horta bem desenhada, uma horta de verduras. Temos uma coleção de pitaia, conhecem a pitaia? Ela é do México. Temos uma estufa, com tudo, com pias, pro pessoal fazer mudas, pra guardar mudas no inverno. Então, a gente tem um projeto bem organizado lá, bem desenhado. Fica na Associação dos Funcionários Fiscais da Fazenda do Estado de Santa Catarina Então, lá eu sou coordenador do projeto também.

AFFESC.

Eu dou palestras pelo estado inteiro, em outros estados também. Viajo no domingo agora. Vou lá pro extremo do extremo oeste, lá na divisa com a Argentina, vão ser minhas palestras do final de semana. Começo em Descanso, um município depois vou para Mondaí, também. Não levo transparência, não levo nada. Minhas palestras são levando as plantas. Cheirar, mascar, comer, tocar na planta, é isso que é o exercício. Por que passar uma transparência é fácil, vou lá pego o livro, digito, faço a transparência e boto, mas fica uma coisa muito artificializada. Então eu gosto de trabalhar com as plantas. Aqui a gente vai ver algumas. O interesse vai ser de vocês, em perguntar sobre cada espécie, a gente vai ver bastante durante a caminhada. Eu moro aqui atrás. Naquela casa ali e monto hortas praticamente pelo estado inteiro. Algumas são jardins medicinais,

outras são jardins comestíveis, outras são relógios do corpo humano, outras são mandalas, pra circular mais energia. Na verdade a casa da gente devia ser redonda, e

não nesse modelo quadrado tipo um caixote. Mas isso a gente vai avançando de pouquinho em pouquinho. Vamos começar aqui pela frente... Que planta é essa daqui?

Chaia. Da República Dominicana. Serve para muitas situações e é usada na alimentação

http://quintadasplantas. blogspot.com.br/

em toda a América central. Como ela tem leite, a gente vê aqui ó, a gente quebra e ela tem leite, então a gente têm que desidratar, como a mandioca. Depois pode fazer pão, bolacha, chás e refogados, e em 29 situações de doenças a gente poderia usar ela. O nome científico e Chaia Mansa.


E essa daqui? Que planta é essa daqui Gabi? Não sabe? Gabi eu acho que você vai pra universidade só por causa de festas! Essa é uma planta brasileira, ela é da família da uva e da uma

frutinha igual a uva. É insulina vegetal. As folhas são usadas. Bem pesquisada, têm bastante monografias, trabalhos científicos, já é consagrado o uso dela. - Me diz uma coisa, eu enterro quanto, pra ela pegar? Ahh! um pedacinho e já tá pegando. Ela é invasora, logo não dá mais conta dela. A insulina vegetal é bem usada, se usa principalmente a folha dela, e como ela dá essa frutinha igual uva eu to tentando fazer geléia pra diabético. Ela é uma planta muito legal de usar, o único problema é que logo você não dá mais conta dela. A gente corta ela pra ela secar e ela vem, e a gente fica o tempo todo brigando. É tanto que o nome popular é também cortina de pobre.

A história das plantas são as coisas mais lindas. Atrás do nome popular, nome científico, ou do uso, tem uma história. Olha essa aqui, se chama bertalha do coração. É um alimento

não convencional. Por falar nisso hoje está sendo lançado um livro em São Paulo, com trezentas e poucas plantas alimentícias não convencionais, do Lorenzi e Kinupp. Essa é uma espécie de

dosa.

arnica, que é a wedélia palu-

Nós temos cinco plantas chamadas de arnica no Brasil. A arnica mais famosa é a arnica Montana, que está nas farmácias pra vender. Essa daqui é a mais especial pra mim, essa e a arnica da praia que é o pitoco. Esse aqui é o feijão andu, muito usado na cultura macrobiótica. Na verdade não é nativo, mas é espontânea já. Aquele margaridão amarelo vocês conhecem ele né? Eu vou pegar ele, esperem aí... então essa daqui é uma planta que a gente usa bastante em tratamento pra dependência química, pra quem fuma, quem bebe, ou usa todo tipo de droga. Ela é usada como uma planta hepática como fosse um boldo também. Tem o nome

mão de deus e o nome científico de tithonia diversifolia, também chamam de girassol mexicano, pois a

popular de


origem dela é o México. E como é que a gente usa ela pra um bom resultado? Se for um chá para dependência química é difícil, por que toma uma vez, outra vez, mas não quer tomar mais por que o chá é horrível. Então a gente transforma a folha em pó, e consome. Molha o dedo e coloca o dedo molhado no pózinho, daí é só colocar na ponta da língua que é um ponto de acupuntura que leva até o coração. *Texto transcrito de filmagem em visitação na casa de Alesio dos Passos

CONHEÇA: nas fotos acima, coleção de pitaia, grupo de visitantes e grupo de trabalho no viveiro da Quinta das Plantas/AFFESC/Canasvieiras. Abaixo, fazendo parte dos nossos percursos, fotos do horto didátido do Hospital Universitário coordenado por Cesar Simionato.

www.hortomedicinaldohu.ufsc.br/


Jorge Mascarenhas Menna Barreto Leandro Lopes de Souza Jefferson Pietroski Mota

Aquele alimento na fresta da calçada Sejamos como elas, espontâneas e que brotemos em qualquer lugar para embelezar e alimentar

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC’s), Plantas Alimentícias Alternativas, Plantas e Hortaliças Tradicionais ou, como preferimos chamar, as Plantas Alimentícias da Biodiversidade — uma vez que desejamos que elas estejam na mesa de todo brasileiro, como parte de uma dieta diversa e rica nutricionalmente — ocorrem em ambiente cultivados, florestas naturais e centros urbanos. Estão aí, aqui, lá, você gostando ou não. Nascem, produzem grande quantidade de sementes, morrem, são cortadas, são envenenadas com ‘’matamato’’ (um herbicida) e permanecem no ambiente. A agricultura convencional com a utilização de herbicidas tem se mostrado ineficiente no seu combate, uma vez que só nos EUA o valor que um agricultor gastava com esse produto em 2013 foi de U$$ 600,00/ha comparado ao de U$$ 30,00/ha em 2008. [Machado, Luiz Carlos Pinheiro. Machado Filho, Luiz Carlos Pinheiro. A Dialética da Agroecologia. Expressão Popular, 2014] Segundo os professores Valdely Kinupp e Ingrid B. Barros: “Na história da alimentação humana mundial há os modismos temporários e, obviamente, a alimentação sofre influências da mídia e dos interesses econômicos. Assim, nós humanos, acabamos optando pela especialização ao invés da diversificação alimentar. Muitas espécies atualmente denominadas “daninhas” por alguns vêm servindo de alimento para populações humanas desde o Paleolítico e outras que atualmente gozam de privilégios no


campo, na indústria, nos mercados e nas mesas dos consumidores eram até pouco tempo atrás consideradas “inços”, como o agriãod’água (Nasturtium officinale R.Br.) e a soja (Glycine max (L.)Merril).” [Kinupp, Valdely Ferreira. Inchausti, Ingrid Berg-

mann. Levantamento de Dados e Divulgação do Potencial das Plantas Alimentícias Alternativas no Brasil.]

A percepção do ambiente que nos cerca é fundamental para aprendermos a olhar para as espécies animais, vegetais e fúngicas. Comecemos pelos matos, inços e ervas daninhas: todos pejorativos, com o sentido ruim de estarem atrapalhando, enfiados naquela calçada concretada e sem graça. Onde, por sinal, os buracos que podem causar acidentes e dificultar a mobilidade são deixados de lado. Mas não o mato! Esse sim é considerado um problema que muitos ainda resolvem através da capina química, com agrotóxico, cujo uso é proibido nas cidades catarinenses segundo a lei estadual 14.734 de 17 de junho de 2009. [A lei estadual 14.734 de 17 de junho de 2009 proíbe a capina química em áreas urbanas em Santa Catarina. ALESC, 2009]

Chamamos esses matos de plantas espontâneas, pois nascem em nossas hortas, gramados, terrenos baldios e frestas de calçadas, sem semearmos. Os ‘’matos comestíveis’’ — como a falsaserralha, a crepis, a tansagem, o dente-deleão, a serralha e a beldroega — são apenas algumas das muitas plantas espontâneas que temos. Também encontramos as trepadeiras folhosas (bertalha, ora-pro-nóbis), as trepadeiras frutíferas (maracujás, pepininho, pepinículo), os arbustos (amoras, abacaxi de cerca, caraguatá, fisális, framboesas, maria preta, pixirica), as árvores frutíferas (araçá, bacupari, cereja, ca-

beludinha, grumixama, guabiroba, ingá, pitanga, jaracatiás), as palmeiras (butiá, gerivá, juçara, tucum), as aromáticas (pimenta rosa, aipo-chimarrão, erva-baleeira) e os cactos (tuna e arumbeva).

[Maria preta e Fisális pertencem a família SOLANACEA, e seus frutos não devem ser consumidos verdes, pois podem causar injúrias, os frutos da maria preta devem ser consumidos quando estiverem preto-arroxeados e o do fisális amarelo-alaranjados.]

Quantas dessas você conhece? Sabe onde ocorrem? A época em que frutificam? Elas estão nas feiras de bairro, nos minimercados e supermercados, restaurantes e padarias? “Temos uma alimentação cada vez mais pobre, e poucas pessoas se dão conta da relação entre os modelos agrícolas modernos e o padrão que nos é imposto e de suas consequências socioambientais: marginalização socioeconômica dos agricultores tradicionais e familiares, perda de segurança alimentar, erosão dos solos, devastação das florestas, desertificação, etc.” (Santilli)

[Pesce, Luna Camargo. Levantamento etnobotânico de plantas nativas e espontâneas no RS: conhecimento dos agricultores das feiras ecológicas de Porto Alegre. TCC. UFRGS, 2011]

Alimentar-se é, acima de tudo, um ato de saúde e se informar sobre a qualidade e a diversidade de alimentos que ingerimos diariamente é muito importante, pois tudo que vai pra boca possui um impacto social e ambiental que muitas vezes não percebemos, pois estamos habituados a comprar o que comemos ou porque nos já servem tudo pronto.


1- Smufie de Falsa-serralha -

um punhado de falsa-serralha 2 mangas 600ml de suco de laranja ou bergamota gelo

Bater bem e servir sem coar. Uma sugestão é polvilhar o suco com canela antes de servir. Tome de manhã bem cedinho, depois da sua caminhada e antes de tomar o seu café-da-manhã.

Nome popular: Tansagem, tanchagem Nome cinetífico: Plantago major Família: PLANTAGINACEAE

Erva perene com folhas em forma de roseta com tamanho de 5 a 30 cm de largura por 5 a 15 cm de comprimento, em forma ovada elíptica e contendo pelos. Pendúculo floral de 10 a 50 cm de altura, onde se encontram as espigas com as minúsculas sementes amarelas que também podem ser consumidas. Possui vitamina A e C. As folhas são consumidas cruas, refogadas e fritas.

Nome popular: Falsa-serralha, pincel de estudante, serralinha, emilia Some científico: Emilia fosbergii Família: ASTERACEAE (Alface, girassol, almeirão)

Erva perene em Florianópolis, cujo tamanho varia de 10 a 40 cm. As primeiras folhas são ovadas e as superiores oval-lanceoladas e pontudas. São folhas levemente serrilhadas, com um pouco de pelo na face inferior, e que muitas vezes possuem coloração arroxeada. Sua flores são rosadas e são consumidas cruas ou refogadas, assim como as folhas.

2- Sorvete de Crepis Japonica - um punhado de crepis japonica - 4 bananas grandes bem maduras e congeladas - 1/2 xícara de mamão - 1 xícara de água ou água de coco

Para ajudar o liquidificador, pique a banana em pequenos pedaços. mesmo congelada, é possível cortá-la. use uma cenoura ou pepino como socador para ajudar a liquidificação. na hora de servir, enfeite com amoras, figo, morango, pitanga ou outra frutinha silvestre. Excelente sobremesa!

3- Smufie de tansagem -

um punhado de tansagem um punhado de hortelã ou menta 2 goiabas 2 bananas bem maduras 1/2 manga 500 ml de água de coco gelo a gosto

Como uma alternativa para o gelo, use a manga congelada em pequenos pedaços. Bata tudo e não precisa coar. Ótimo lanche da tarde!

Nome popular: Crepis ou Barba de falcão Nome científico: Crepis japonica Família: ASTERACEAE

Erva anual encontrada em alguns locais de Florianópolis o ano todo em forma de roseta, ereta, caule liso de até 30 cm de altura. As suas folhas lembram as da rúcula, sendo oblongas, serrilhadas-ovaladas e macias. Sua flor é amarela medindo cerca de 2cm de diâmetro. Apresenta látex (leite) nas folhas, assim como a alface que pertence a mesma família. As folhas são consumidas cruas ou refogadas.


Destino, Madeira e magia

O Sol e a Lua feitos em Ouro e Prata, contém a energia dos minerais, Lápitus. O Sol representa o Fogo. A Lua simboliza a Água.

Fotos: Annaline Curado

Rafael Mateo Heide


As cravelhas esculpidas em flor são a Terra. A madeira contém a energia dos vegetais, Polian. O elemento Ar está numa coruja esculpida na pestana. A ponte feita em osso, agrega a energia dos animais, Sulfan. A mão de obra impregna o instrumento de Prana, a dos humanos. As tecnologias de construção têm influência dos violinos e sua família. A estética elegante tem inspiração no trabalho de stradivarius - alquimista que se baseou na proporção áurea.


Grupo Alecrim

horta urbana


O grupo surgiu do interesse de algumas pessoas em cultivar os próprios alimentos para garantir um consumo mais saudável. Iniciamos a horta em agosto de 2013, sob a orientação das agrônomas do CAAUP (Centro de Apoio à Agricultura Urbana e Periurbana ) da UFSC e em pouco tempo já colhíamos verduras e legumes. Motivadas pelo resultado positivo do trabalho, decidimos contribuir para que ainda mais pessoas se interessem em ter uma horta em casa ou plantar de forma coletiva. Para tanto, produzimos mudas e distribuímos nos eventos locais, promovemos oficinas de compostagem, semeadura, preparo de alimentos; e oficinas para crianças de pintura de placas identificando plantas e confecção de floreiras de garrafa pet. Temos também a produção de sabão artesanal feito a partir da reciclagem do óleo de cozinha que coletamos no bairro, no Rio Vermelho, em Flo-

rianópolis. Através da comercialização do sabão garantimos recurso financeiro para a compra de insumos e equipamentos necessários para a manutenção da horta. O grupo Alecrim trabalha dentro dos princípios da sustentabilidade, agroecologia e economia solidária. Além do suporte técnico do CAAUP, contamos com as parcerias do CEPAGRO (Centro de Estudos e Promoção da Agricultura em Grupo), da Escola Básica Municipal Antônio Paschoal Apóstolo, da RECID (Rede de Educação Cidadã); e com a orientação e apoio da Cáritas Brasileira na gestão solidária dos recursos financeiros. Pertencem ao grupo: Agnis Silvestrelli, Danieli Figueiredo, Denise Rodrigues, Diana Massis, Iraci Barbosa, Malu Mena Barreto, Márcia Brincas, Marlei Albrecht, Maslova Ribeiro Maragno, Nara Miaci

alecrim.horta@facebook.com


Editorial Caramanchão

Percurso: Ratones, Florianópolis Sítio Flor de Ouro, espaço de agroecologia, meliponicultura e educação Ambiental. Possui um mecanismo diferenciado de produção, atendendo uma quantidade x de pessoas, que são parceiras da iniciativa e semanalmente recebem as cestas com os itens selecionados pelos agricultores do sítio. Uma nova agriCULTURA que se estabelece. Os clientes recebem alimentos saúdaveis, diversificados, frescos, da época, produzidos localmente, gerando o estreitamento das relações produtor/consumidor, além de serem plantados com entusiasmo, autonomia, proporcionada pela segurança e comprometimento destes parceiros. Liberdade para produzir biodiversidade, o que alimenta a alma!


Instituto Çarakura - continuando a caminhada pelo Bairro Ratones, chegamos a este espaço encantado, que proporciona vivências e aprendizados únicos. No site podemos encontrar descrições como: “desenvolve projetos de educação ambiental e ações referentes à pesquisa científica e tecnológica que facilita a aplicação de tecnologias sociais, ou seja, simples, eficientes, de baixo custo e baixo impacto ambiental, além de desenvolver e aplicar programas ambientais em cumprimento das condicionantes de licenciamentos ambientais”. O Çarakura nos demonstra que educação é antes de tudo amor e doação, e esta revista é extremamente grata ao Instituto!


Coletivo de Jovens Sidnei Sher Lucas Kinceler Gustavo Tirelli

Aviรกrio das Artes


Iniciou em agosto de 2013 e atualmente está em andamento a partir dos seguintes eixos norteadores: Arte na escola; Artes na Comunidade; Práticas Teatrais; Práticas Musicais e Práticas de Artes Visuais. Sua estrutura metodológica divide-se em “Tempo Escola” e “Tempo Comunidade”. O “Tempo Escola” é destinado aos módulos mensais que contém as disciplinas do curso. Já o “Tempo Comunidade” corresponde ao período entre módulos e proporciona atuações práticas em diferentes assentamentos da reforma agrária de Santa Catarina. Deste modo diferentes grupos de alunos foram formados para a atuação na comunidade. Em nosso caso fomos enviados para realizar o trabalho junto ao Coletivo de Jovens Sidnei Scher no Assentamento Conquista na Fronteira em Dionísio Cerqueira, SC. O Assentamento, está localizado no extremo-oeste de Santa Catarina, no município de Dionísio Cerqueira

Fotos: Lucas Kinceler

O presente texto tem como objetivo compartilhar experiências entorno do Projeto “Aviário das Artes”. Este projeto está sendo um desdobramento dentro do Curso de Especialização Lato Sensu em Arte no Campo UDESC /MST. “O curso tem como objetivo formar profissionais capacitados para ampliar a inserção da arte na vida dos assentamentos rurais da reforma agrária, enquanto um recurso poético e pedagógico que possa empoderar seus moradores, contribuir para a expressão de seus diferentes segmentos e articulá-los no enfrentamento de seus problemas.” Em: [https://artenocampo.wordpress.com/]

e foi formado em 1988. Após superar as dificuldades no processo de formação, optaram pelo caminho do trabalho coletivo. O espírito de união e cooperação está enraizado no Assentamento que é modelo para o Brasil e para o Mundo. Neste contexto a juventude da comunidade se organizou em 1995 formando o Coletivo de Jovens Sidnei Scher. O Coletivo inicialmente era formado por cerca de 48 jovens, atualmente é composto por 21 jovens entre 15 e 25 anos. O grupo que é majoritariamente constituído por jovens que nasceram no Assentamento, possuem naturalmente em seu cotidiano valores de união, cooperação e coletividade. A partir dos primeiros encontros percebemos uma lacuna frente à ações relacionadas à arte e a falta de um espaço físico para atividades artísticas e autônomo para os jovens. Assim surgiu a idéia de transformarmos um dos 12 aviários atualmente desativados em um espaço cultural comunitário que foi então nomeado de “Aviário das Artes”. A partir de Abril de 2014 iniciámos a realização de encontros mensais no local. A cada encontro vem ocorrendo diferentes tipos de oficinas e práticas que visam incentivar e compartilhar a criatividade, a imaginação, o convívio, experiências e trocas de saberes junto ao Coletivo de Jovens e o Assentamento. O processo todo está ocorrendo de forma colaborativa e transdiciplinar, a partir da mistura de diferentes linguagens e saberes. Ações como o Cine Aviário, Oficinas de Cerâmica, a partir da preparação de argilas do próprio local, a construção



de um forno cerâmico, a inauguração do espaço como “mais uma conquista coletiva” e o reconhecimento frente ao Assentamento, a construção de instrumentos musicais, fotografia Light Painting, macramê, práticas musicais, etc. Assim, está sendo de grande importância realizar um trabalho onde se valorizem e fortaleçam, ainda mais, tais atitudes, desenvolvendo ações em arte colaborativa, onde o ato criativo possa ser compartilhado em todas as etapas. Um espaço aberto à germinar novas ideias, a partir do desejo de cada participante e sua articulação com o coletivo. Um espaço para a troca de saberes entre a própria comunidade.


aviariodasartes.wix.com/aviariodasartes

O Aviário das artes enquanto proposta de um espaço coletivo que aproxime a comunidade assentada (jovens, homens, mulheres e crianças), propiciou um despertar artístico, onde cada sujeito se permite experimentar o novo, criando e recriando seu fazer. Inicialmente pensou-se trabalhar junto aos jovens, atividades em cerâmica, música, reciclagem criativa e construção de instrumentos, e aos poucos a comunidade como um todo foi despertando e participando junto cm a juventude de cada novo encontro e atividade do Aviário das Artes. Em meio a tanta novidade inicia-se uma discussão entre a juventude e comunidade assentada entorno de duas questões: Por que precisamos de um espaço assim em nosso assentamento? E, em que as artes podem contribuir e acrescentar na nossa luta? As respostas para esses questionamentos se mostram e se vivenciam dia a dia. O Aviário das Artes vem sendo uma construção coletiva e contínua, dos desejos e sonhos da comunidade e principalmente dos jovens. O Aviário permitiu nesse “despertar coletivo”, materializar na argila, na música, nos instrumentos, pinturas, conversas... os sentimentos, as alegrias, os desejos, e vontades cotidianas de cada sujeito envolvido. Quando pensamos na arte, na nossa arte frente a luta e a nossa organização, pode-se perceber claramente onde esse espaço contribui, sendo na organização da juventude e comunidade, na sensibilização frente as questões cotidianas, na compreensão da sociedade, possibilitando refletir e pensar nossa atuação frente a isso. Estamos super animados com as perspectivas e projeções do Aviário das Artes. Esperamos potencializá-lo e estender nossa experiência para outros espaços de nossa organização, trocando experiências e conhecimentos, construindo e fortalecendo a nossa identidade Sem Terra. Coletivo Sidnei Sher

Anderson Luiz Draszevski, Ariane de Oliveira, Bruna Luiza Cezar, Camilo Miotto, Cladis Chiquelero, Elivandro Assis, Elizandra do Rosário, Gian Carlos da Silva Binder, Gilson Névio Viera, Jonas Andrei da Silva Binder, Karise de Lima Rodrigues, Kellen de Lima Rodrigues, Lidiane Cezar, Luana Cristina da Silva Binder, Marcelo Martin Weber, Mathias Cristoff Weber, Milena Matt, Silvana de Vargas, Sônia Mara Chiquelero, Thalia Angélica dos Santos, Tiago José Casarin.


O processo todo está ocorrendo de forma colaborativa. A cada encontro ocorrem diferentes tipos de oficinas e práticas que visam incentivar e compartilhar a criatividade, a imaginação, o convívio, experiências e trocas de saberes junto ao Coletivo de Jovens e o Assentamento. Sinto um constante processo de aprendizagem recíproco. A partir destes momentos de troca, estou formando com o Coletivo e a comunidade uma amizade preciosa. Destaco também que para mim este movimento esta sendo possível pois a Comunidade nos acolheu como uma família, nos fazendo sentir em casa e confiando em nosso trabalho desde o primeiro momento.” Lucas Kinceler Desenvolve as potencialidades criativas, resgata e cria a identidade do jovem do campo contribuindo para sua permanência no campo. Um espaço de práticas colaborativas, lúdicas e de experimentação social. Através dos desejos e necessidades notados fomos criando uma plataforma de ação onde o uso e reuso dos equipamentos já existentes, foi mostrando a possibilidade de juntarmos todas as ações que pretendemos realizar, em um espaço, criado e gestionado pelos próprios jovens do assentamento. Assim é que ocupamos o aviário e transformamos no Aviário das Artes. É a partir deste percurso que pretendemos desenvolver uma sistematização das ações do Aviário. De modo que da mesma forma que levantamos, mapeamos as necessidades e desejos construímos juntos os caminhos pelo qual pretendemos suprir tais faltas. Gustavo Tirelli






|EXPEDIENTE

Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura - Fundação Catarinense de Cultura Governo de Santa Catarina - Secretária de Turismo, Cultura e Esporte Projeto de pesquisa em artes visuais Concepção Camila Argenta Editorial do CARAMANCHÃO Annaline Curado, Camila Argenta, Gabriel Scapinelli, Gabriela Orofino, Julia Locatelli Colaboradores Elis Rigoni, Lucas Kinceler, Gustavo Jefferson Mota, Jorge Menna Barreto, André Martins, CEPAGRO, Nara Miaci, Flor de Ouro, Jorge e Regina Silva,

Tirelli e o Coletivo de Jovens Sidnei Scher, Douglas Antunes, Fabio Fialho, Leandro Lopes, Felipe Biguzzi, Fred Gorski, Julia Ávila, Pedro Palermo, ALECRIM, Rafael Heide, Revolução dos Baldinhos, Pedro Gonçalves e o Sítio Instituto Çarakura, Andrea de Oliveira, Percy Ney, Alesio dos Passos

Projeto Gráfico e Diagramação Camila Argenta Ilustradores Muriel Machado [adesivos e texto Fred], Gabriel Scapinelli [cartaz, desenho do alesio], Annaline Curado [ciclo cipó], Leandro Lopes [texto panc’s] e Gabriela Orofino [texto douglas] Mapa Sumário Camila Argenta e Gabriel Scapinelli Calendário Biodinâmico 2015 Instituto Çarakura | www.institutocarakura.org.br Tiragem 1000 exemplares

Impressão Gráfica Mayer | Pomerode-SC

Produção Sara Push | Sutil Produções SITE caramanchao.hotglue.me Agradecimentos Especiais do CARAMANCHÃO Todos os Colaborados! A Erika Díaz, Bruna Maresch, José Kinceler, Nara Milioli, Lucas Mondadori, Tomaz São Thiago, Diego Capixaba, Marianne Manjavachi, Otávio Dutra, D. Maria de souza e Samir de souza, Dona Judith Lopes.




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