Caderno ABEA 28 - PROJETOS POLÍTICOS PEDAGÓGICOS: NOVAS EXPERIÊNCIAS – vol. 1

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Voltando á frase de Mies van der Rohe81, ela nos leva a refletir sobre o aspecto da adaptação dos projetos às reais necessidades do morador, sem que seja criada uma tipologia padrão, ou seja, a necessidade deste tipo de usuário é de espaços adequados para seus hábitos e acima de tudo às suas mudanças, sejam elas decorrentes de uma alteração econômica, de rotina familiar ou de trabalho. Em relação a esta temática, Tramontano escreve: “È claro que as reformas que os moradores costumam fazer nas casas populares brasileiras, às vezes antes mesmo de ocupá-las, são também conseqüência do fato de as unidades serem entregues em seu estado mais mínimo possível leia-se sem acabamentos e com áreas absolutamente reduzidas, principalmente por razões de custo. Mas é igualmente certo que a inadequação de seu desenho interno às necessidades dos usuários está longe de ser um fator desprezível no momento em que se decidem pelas alterações” (Tramontano, 1995, p. 01). Em relação ao conceito de moradia mínima explica Benevente, que seria capaz de conciliar boas condições de higiene com áreas e custos mínimos, mas o quadro habitacional brasileiro, principalmente de custos controlados, foi manipulado de forma a atender a interesses nem sempre coincidentes com o dos moradores. “Na promoção da casa pequena, mas eficiente, a padronização das soluções espaciais, dos materiais e utensílios, surge como sinônimo de racionalização”(Benevente, 2002, p.19)

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3. PROPOSTA DE TRABALHO PARA DESENVOLVIMENTO DO PROJETO HAB[A] As reflexões expostas anteriormente estimularam o desenvolvimento do projeto intitulado Hab[A] que têm como principal objetivo a elaboração e construção de uma unidade habitacional, sob a ótica da flexibilidade, com materiais tradicionalmente utilizados e custos controlados. Tem como objetivos secundários atender de maneira mais eficaz e significativa às novas solicitações da sociedade contemporânea sem alterar custos, através do levantamento de dados do orçamento global e dimensionamento dos materiais e técnicas tradicionalmente empregadas em unidades habitacionais de interesse social existentes, além de questionar os modelos tradicionais de habitação e de implantação de conjuntos habitacionais habitualmente ofertados à população de baixa renda na cidade de Ribeirão Preto – SP. A busca de uma melhor qualidade seja nos espaços privados ou coletivos habitacionais nos motivou a elaboração de tal proposta com a elaboração dos projetos e seus complementos, a construção do protótipo em escala real e sua verificação. A proposta deste projeto também é desenvolver um protótipo para unidade habitacional que considere o conceito de flexibilidade dos espaços internos da habitação, a possibilidade de ampliação, não deixando de considerar a racionalidade construtiva para esta edificação. 3.1. Metodologia

A exigüidade dos espaços e o arranjo inadequado aos novos modos de vida da sociedade tão freqüentemente encontrados nas habitações brasileiras de custos controlados acabam por gerar problemas de ordem comportamental como a excessiva sobreposição de funções e da privacidade. Para Cabrita estes problemas se agravam também para os de ordem psicossocial, incluindo a qualidade do habitat e da vida urbana. (Cabrita, 1995)

Para a completa realização dos objetivos elencados acima o trabalho foi dividido em três etapas principais: elaboração da proposta, construção da proposta e verificação de aceitação da proposta. Neste artigo concentramos nossa atenção à primeira etapa, da qual se refere à metodologia a seguir, já que as demais etapas encontram-se em fase de desenvolvimento.

Constituído em três etapas – elaboração do projeto, construção do projeto e verificação dos espaços-, esta experiência didática faz discutir na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo brasileira a necessidade da inserção das disciplinas de avaliação de desempenho dos ambientes construídos. Além de utilizarmos resultados de avaliações pós-ocupações de espaços habitacionais de interesse social bastante difundidas no nosso meio acadêmico em eventos como o ENTACs 82 e NUTAUs 83, inserimos na experiência a verificação da aceitação dos espaços executados. Trata-se da avaliação da impressão da população diante ao projeto executado.

As atividades foram bastante relevantes para a formação dos estagiários graduandos envolvidos no projeto, pois permitiu aos mesmos vivenciar o desenvolvimento do projeto em todas as suas etapas, o que nem sempre é possível de ocorrer ao longo do ano letivo e mesmo do próprio curso. Igualmente, os alunos aprenderam a realizar atividades do cotidiano profissional que são importantes e até desafiadoras para o desempenho profissional.

Há alguns anos, pesquisadores vêm utilizando técnicas e métodos de avaliação pósocupação de ambientes construídos para identificação não somente dos problemas de ordem técnico-construtivas, materiais, conforto, energia -, como também dos de ordem comportamental e das condições de habitabilidade das unidades (Ornstein, 2002). No momento da avaliação dos resultados de tais pesquisas evidencia-se a necessidade do redesenho da habitação social e da participação do arquiteto de maneira mais efetiva e decisiva na elaboração de propostas condizentes às novas demandas e solicitações de uma sociedade contemporânea.

x Discussão quanto aos fundamentos dos modos de habitar contemporâneo com ênfase para a habitação popular;

Neste sentido, instituição de ensino deve fomentar e estimular tais reflexões que possam, sempre, propor ao aluno a integração de métodos teóricos e práticos, vislumbrando inclusive, parcerias com a comunidade e uma participação mais efetiva junto à sociedade.

x

Além disso, temas como os estudos de avaliação pós-ocupação e da relação ambientecomportamento se fazem necessários no ambiente acadêmico devido a sua importância para a compreensão ampla e completa das fases da edificação: programação, projeto, uso e pós-ocupação, realimentando futuros exercícios profissionais.

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Publicado em Die Form nº 7, junho de 1931. Citado por Quetglas, J. Habitar. Campinas: Revista Óculum, nº 7/8, 1996, p. 94. ENTAC – Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído (www.antac.org.br) NUTAU – Núcleo de Pesquisas em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo (www.usp.br/nutau) TEMA III – ARQUITETURA PÚBLICA, ESCRITÓRIOS MODELOS E OUTRAS PRÁTICAS DE EXTENSÃO - INTEGRAÇÃO ENTRE A ATIVIDADE CURRICULAR E A DE EXTENSÃO: a experiência didática HAB[A] 82

As atividades elaboradas pelo grupo durante o ano de 2003 compreenderam:

x

Concepção arquitetônica de um protótipo para este modelo de habitação popular;

x Desenvolvimento de todo o arcabouço envolvido em um projeto completo para este produto; considerando o projeto arquitetônico, os projetos de subsistemas, a compatibilização dos mesmos com a elaboração do orçamento e memorial descritivo do protótipo, e por fim, a elaboração de cronograma de obras para o protótipo; e Contatos para busca e recursos materiais para a construção do protótipo.

Desta maneira, o planejamento das atividades necessárias para a concretização deste projeto considerou as atividades de pesquisa sobre habitações de interesse social, a flexibilidade de seus espaços, a pesquisa de materiais passíveis de serem utilizados, o desenvolvimento do projeto do protótipo propriamente dito, e, finalmente, a elaboração de orçamento do protótipo para fins de planejamento financeiro e de cronograma de obra. 3.2. Desenvolvimento das etapas de trabalho 1. As atividades iniciaram-se por uma organização geral da pesquisa e do espaço físico de trabalho na unidade de ensino do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Barão de Mauá.

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TEMA III – ARQUITETURA PÚBLICA, ESCRITÓRIOS MODELOS E OUTRAS PRÁTICAS DE EXTENSÃO - INTEGRAÇÃO ENTRE A ATIVIDADE CURRICULAR E A DE EXTENSÃO: a experiência didática HAB[A]


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