Comunicação, Jornalismo e Fronteiras Acadêmicas

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XIX, identificado por Traquina (1993) como o século das luzes do jornalismo, também viu nascer a imprensa barata e a imprensa marrom, aquela cujas páginas eram preenchidas com histórias extraordinárias e escândalos os mais variados. Gabler (1999) afirma que desde o século XIX nos Estados Unidos e Europa, com o advento dos jornais baratos e da imprensa sensacionalista, o jornalismo se transformou no canal de disseminação daquilo que proporcionava às massas trabalhadoras uma espécie de fuga do cotidiano e de seus problemas. De acordo com Alsina (1996), a notícia não se esgota em sua produção — mas se define por e engloba, também, a sua circulação e o seu consumo. Qualquer crítica ao conteúdo oferecido pelos jornais e noticiários de meios audiovisuais deve levar em consideração os aspectos relativos ao meio em que é veiculada e aqueles que dizem respeito à audiência específica de cada conteúdo. Kunczik (1997:106), inclusive, afirma que a distinção entre jornalismo e entretenimento em um meio como a televisão, por exemplo, é dada em nível apenas dos produtores, não dos consumidores: para o receptor, o entretenimento é simplesmente aquilo que entretém, vale dizer, a ausência de tédio. Basicamente, a separação de informação e entretenimento, que ainda existe nos organogramas de muitas empresas dos meios de comunicação, não tem nenhum sentindo para os receptores. Para eles, o oposto da mensagem de entretenimento dos meios de comunicação não é o conhecimento informativo, mas o conteúdo que não lhes agrada.

O conteúdo que agrada ao público tende cada vez mais a ser espetáculo social mediado pelas imagens e, mais categoricamente, espetáculo construído sobre o social através das imagens do cotidiano. Limitado em seu poder de representação total da realidade, o jornalismo se encarrega de criar consenso em torno do que é constituído e mostrado como real. Desta forma, a representação passa a ser aquela do consenso. O consenso, acrescente-se, reduz a possibilidade de interpretações próprias por parte de uma audiência que é cada vez mais domesticada a aceitar o espetáculo que a mídia lhe oferece sem questionamentos. Para ficar em apenas um exemplo, não se questionou, em momento algum, a responsabilidade dos pais da garota no episódio. Afinal, o fato de uma criança de 12 anos receber autorização para namorar um homem de 19, que três anos depois se Comunicação, Jornalismo e Fronteiras Acadêmicas | 81


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