Comunicação, Jornalismo e Fronteiras Acadêmicas

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O poder da informação desempenha um papel importante a ponto de configurar a realidade, uma vez que o campo jornalístico se inter-relaciona e se impõe sobre os demais campos sociais exercendo influências que reformatam a sociedade e o próprio campo em questão. Segundo Bourdieu (1997), o campo jornalístico originou-se no século XIX, a partir da dicotomia entre os jornais sensacionalistas e aqueles considerados analíticos e que se propunham a ser objetivos. Mas foi no século seguinte que essa instância se tornou refém das regras do mercado e dependente da audiência e dos anunciantes. Tal lógica vai interferir diretamente no fazer jornalístico, buscando a novidade e o “furo”, num frenético empenho pela renovação e numa luta desenfreada contra o fator tempo. O texto jornalístico possui uma materialidade discursiva que expressa sentidos diversos. As palavras possuem intencionalidades e a maneira como são utilizadas pode revelar, omitir informações, conduzir o leitor a determinadas conclusões, ou simplesmente silenciar. O sentido do texto não está dado, mas é construído pelas enunciações, através de estratégias simbólico-discursivas. O discurso jornalístico constrói modelos de compreensão da realidade e, por isso, é ideológico e intervém de maneira simbólica no social. Ideologia entendida aqui como um conjunto de ideias e conceitos que permeia os valores sociais, atua no discurso e no comportamento dos indivíduos, ou seja, é um mecanismo de produção de sentidos. O discurso jornalístico é também um dispositivo de poder que se articula a uma rede de instituições e circunscreve-se em um campo no qual as palavras operam e abrem-se a construções imaginárias, a relações sociais, produz significados e sujeitos e também possibilita a disciplina e o controle. As formas como esse poder é exercido através dos tempos variam conforme os interesses dos grupos dominantes e as condições sóciohistóricas, porém, cada vez mais, tendem a tornarem-se formas de controle tão persuasivas que passam a ser introjetadas e “naturalizadas”. Esse processo de “naturalização” pode ser entendido a partir da noção de poder simbólico (BOURDIEU, 1998). O jornal exibe um recorte da realidade, publicando a notícia de acordo sob um ponto de vista e como se este se constituísse no retrato real dos fatos, portanto, a verdade. Afinal, as produções simbólicas funcionam como instrumentos de dominação e demarcação e envolvem relações de poder. As tensões entre os campos sociais são enquadradas pelo discurso Comunicação, Jornalismo e Fronteiras Acadêmicas | 33


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