O caráter específico dos processos emocionais

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O carĂĄter especĂ­fico dos processos emocionais


As emoções.. Pode dizer-se que, até à década de 70, as emoções estiveram afastadas do núcleo central da reflexão sobre o comportamento humano e sobre a sociedade. Eram encaradas como perturbadoras do modo de pensar e de agir, porque eram irracionais. O primado da racionalidade, que dominava não só a psicologia como as outras ciências humanas e sociais, levava a que as emoções fossem interpretadas como um ruído, um obstáculo ao funcionamento adequado da razão, do pensamento.



De facto, torna-se complicado esconder as emoções, por muito esforço que façamos acabamos por mostrar o que estamos a sentir através de um torcer de mãos, através do arqueamento das sobrancelhas, etc. As emoções apareceram na História da Humanidade muito antes da linguagem, como meio de comunicação.


As emoções ao longo da vida No início de vida, as emoções desempenham um papel fundamental, uma vez que, quando o ser humano nasce está desprovido da possibilidade de sobreviver sozinho, tornando-se dependente dos adultos. Como ainda não falam, os bebés comunicam com os seus progenitores através das emoções, manifestando os seus desejos e/ou necessidades.


Sinais emocionais São um sistema de comunicação precoce que permite ao bebé levar o adulto a participar na sua sensibilidade e a obter as respostas necessárias à sua sobrevivência e bemestar. Por sua vez, o adulto interpreta e responde.






As emoções têm então um valor adaptativo (são sinalizadoras de diferentes estados).

O código de comunicação que as constitui poderá ser menos preciso que o código linguístico, no entanto, a comunicação é mais rápida e poderosa.


O que são emoções? São processos desencadeados por um acontecimento, pessoa, situação, que é objeto de uma avaliação cognitiva, muitas vezes incosciente. São experiências subjetivas que podem ser acompanhadas por reações orgânicas (modificação do ritmo cardíaco, gestos, etc.). Estas caracterizam-se por…


☺possuírem um carácter positivo ou negativo, dão “graça” à nossa vida;

☺serem provocadas apenas por situações inéditas;

☺terem elevada intensidade e curta duração.


☺Têm causas e objetos a que se dirigem. Surgem a propósito de um acontecimento, pessoa, situação, recordação ou ideia; ☺São versáteis, pois aparecem e desaparecem rapidamente; ☺As emoções não são hábitos, uma vez que não se exprimem como parte de algum ciclo regular. São reações a experiências específicas. ☺Não são determinadas por factos, mas sim pela interpretação dos mesmos.


António Damásio É considerado um dos mais brilhantes investigadores do mundo na área do cérebro. Tem 66 anos. Vive na Califórnia. E dirige, com a mulher, Hanna Damásio, o Brain and Creativity Institute, na Universidade da Califórnia do Sul.


“A palavra emoção traz, em geral, à mente uma das seis emoções ditas primárias ou universais: alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa ou aversão[...]” DAMÁSIO, A., cit., pp. 71-72


Neste texto, António Damásio distingue diferentes tipos de emoções:

☺emoções primárias ou universais; ☺emoções secundárias; ☺emoções de fundo.


As primárias surgem na infância, são inatas e úteis para responder a situações que exigem reação imediata. Ex.: O medo, porque é um meio valioso para reagir ao perigo. O sistema límbico está encarregue de desencadear estas emoções.


Sistema lĂ­mbico


As emoções secundárias foram-se constituindo sobre as emoções primárias, sendo assim as que se experimentam mais tarde. Daí Damásio designá-las por emoções adultas ou secundárias. Estas implicam uma avaliação cognitiva das situações e o recurso a aprendizagens feitas. Neste tipo de emoções estão envolvidas as áreas do córtex pré-frontal.



Componentes das emoçþes


As emoções envolvem um conjunto de componentes que variam quer em número quer na ordem em que são apresentadas.


Componente cognitiva – refere-se ao conhecimento do facto que desencadeia a emoção.


Componente avaliativa – refere-se à influência que os nossos interesses, valores, objectivos e necessidades têm na formação da emoção. Quanto mais importante for para nós o acontecimento, maior e mais ampla vai ser a emoção desencadeada.


Componente fisiológica – refere-se às alterações corporais que se verificam no indivíduo aquando da demonstração da emoção, por exemplo: aumento do ritmo cardíaco, respiração ofegante, contração dos músculos, etc. (reações organicas).


Componente expressiva – sendo a mais comunicativa das componentes, refere-se às alterações físicas que se verificam no indivíduo e que são visíveis aos outros: aumento do tom de voz, expressão facial mais aberta ou mais fechada, sorriso, choro, etc.

É a mais importante a nível social porque demonstra claramente o estado de espírito, sendo uma forma de comunicação.


Componente comportamental – o estado emocional pode desencadear um conjunto de comportamentos como por exemplo a agressão, a crítica verbal, a elevada gesticulação, os saltos de alegria, os gritos, etc.


Componente subjetiva – refere-se ao estado afetivo associado à emoção.


É importante salientar que a emoção não se pode limitar a uma única componente, dado que cada uma tem grande influência em todas as outras. Os psicólogos procuram conhecer melhor a natureza de cada uma delas para se avaliar o seu efeito em todas as outras.


Perspetivas sobre as emoçþes



Charles Darwin foi o criador da perspectiva evolutiva. Distingue seis emoções básicas, primárias ou universais: a tristeza, a surpresa, a cólera, o desgosto, a aversão e o medo. Considera que as emoções desempenham um papel adaptativo fundamental ao longo da História, podendo comprometer a sobrevivência.



Mais recentemente, Paul Ekman continuou esta teoria, tentando provar que indivíduos de culturas diferentes sentiriam diferentes emoções. Após testes na Nova Guiné e nos Estados Unidos, acabou por perceber que o que queria provar estava errado, já que havia emoções idênticas e com idêntica demonstração em ambas as culturas. Assim, constatou que há, efetivamente, emoções universais que não dependem da cultura, educação ou meio social. Ekman alarga um pouco a conceção de Darwin, resignando a influência da cultura na expressão das emoções.



William James avançou com a perspectiva fisiológica, onde defende que as emoções resultam das percepções do estado do corpo. Assim, eu tenho medo porque fujo e não o contrário como poderíamos pensar. Os estímulos do meio produzem alterações fisiológicas no organismo, cuja interpretação gera emoções. O mais interessante da teoria é a ligação corpo-mente que se estabelece e o facto de James ter considerado a emoção como estado subjectivo.


A perspectiva cognitivista defende que são factores cognitivos (perceções, recordações, aprendizagens, experiências) que explicam os estados emocionais. Assim, será o modo como o indivíduo encara, interpreta e avalia a situação e as suas consequências que causa a emoção.


Novamente enfatizado o carácter subjetivo das emoções, são a representação da situação e a avaliação pessoal dela que determinam as emoções. A interpretação feita é controlada pelos sistemas cognitivos internos. Algo que corrobora esta teoria é o facto de, se uma pessoa estiver mentalizada/preparada para sentir uma determinada emoção, esta manifestar-se-á em menor amplitude.


A perspectiva culturalista defende que as emoções são comportamentos apreendidos no processo de socialização. Tal como a linguagem, as emoções são uma construção social que exige aprendizagem e que, por isso, dependem da cultura em que o indivíduo está inserido e variam no espaço e no tempo.


O conjunto de regras de cada cultura especifica o tipo de emoções que se manifestam em cada situação e a forma como se devem demonstrar. Em cada cultura e para cada cultura há uma linguagem da emoção específica que é reconhecida por todos aqueles que nela estão inseridos.


Afetos


Os afetos exprimem-se através das emoções, sendo organizados pelas experiências emocionais, que se repetem. Constrõem-se ao longo do tempo e são estruturadores da nossa vida mental. Ligam-nos uns aos outros.


Apesar da origem genética, não se alteram, dependem das influências da sociedade que o rodeia. Enquanto os afetos remetem para o passado, a emoção concretiza-se no presente de forma intensa, manifestando-se através de modificações fisiológicas.



Os sentimentos, diferentemente das emoções, reportam-se ao nosso interior, são privados e prolongam-se no tempo. São menos intensos que as emoções: nestas últimas, reconhecemos o elemento que as desencadeou, enquanto que os sentimentos não se associam a uma causa imediata. Resultam dos afetos e das experiências emocionais.


A Razão e a Emoção As emoções e os sentimentos não são obstáculos ao pensamento. A razão precisa da emoção para a tomada de decisão. Quando é necessário tomar uma decisão, devemos: ter conhecimento da situação, conhecer as diferentes opções e conhecer as consequências de cada uma das opções a curto, médio e longo prazo.


António Damásio defende que há um mecanismo que cria um reportório que orienta as diferentes opções para a selecção. Se as decisões fossem tomadas sem recorrer às emoções, ou seja, só com a interferência do raciocínio, levaríamos um tempo indeterminado a analisar logicamente todas as opções e respectivas consequências, o que tornaria a tomada de decisão completamente inviável.


Contudo, a emoção, por si só, não permite a tomada de decisão. Aliás, muitas vezes, as emoções são tão fortes e intensas que nos perturbam ao ponto de influenciarem negativamente uma decisão. No entanto, este é um risco que temos que correr.


A emoção bem dirigida é o sistema de apoio que permite um eficaz funcionamento da razão. Logo, ambos estão na base do processo de tomada de decisão, levando a que esta possa ser suportada por duas vias complementares: ☺a representação das consequências das opções (fruto do raciocínio); ☺a activação de experiências emocionais através da percepção da situação e consequente comparação com acontecimentos anteriores (fruto da emoção). As emoções são, então, processos indispensáveis no ato de decidir.


Segundo António Damásio, a tomada de decisões seria suportada por um mecanismo automático, a que chamou marcador somático.


O marcador somático diz respeito às áreas préfrontais do nosso cérebro que se encontram relacionadas com as emoções. Com efeito, as experiências emocionais que cada individuo vivencia ficam então como que, “marcadas” nesta zona cerebral.


Assim, numa dada tomada de decisão, decorre uma ligação entre o estado corporal e o tipo de situação presenciada.


O marcador somático serve, deste modo, para restringir as opções possíveis, visto fazer uma análise lógica. Se “não existisse” marcador somático, as opções misturar-se-iam com as consequências e o raciocínio demoraria uma infinidade de tempo a analisar estes pares opções/consequências. O marcador somático suporta as nossas decisões.


O papel das emoçþes na vida do ser humano


António Damásio afirma que as emoções são omnipresentes na vida de um ser humano. Independentemente da idade, do sexo, da cultura ou da condição, é impossível desprezar as emoções devido à sua íntima relação com os valores, as ideias e os princípios. Paralelamente à racionalidade, a emoção no Homem tem um sentido único que o distingue enquanto espécie.


A complexidade das emoções existe na relação contínua que elas estabelecem com a nossa história pessoal, com os significados que, individualmente, atribuímos às situações, às pessoas e aos lugares. Do mesmo modo que o fazemos recorrendo à linguagem, as emoções são rápidos e poderosos meios de comunicação, sendo a melhor forma de mostrar os estados interiores do indivíduo.


As emoções no filme “A Ilha” No filme, inicialmente pensa-se que os clones não têm sentimentos humanos, que estão desprovidos de certas emoções. Contudo com o desenrolar dos acontecimentos, descobre-se que não é assim. Que os clones são, em tudo, iguais aos humanos. Apesar de se pensar que se tratavam apenas de “produtos”, os clones mostraram possuir emoções, só precisavam de as desenvolver.


As emoções no filme “Nell” As “crianças selvagens” crescem isoladas do contacto com os outros, sendo o seu comportamento feito na ausência de qualquer contacto social. Por isso, não tiveram qualquer tipo de aprendizagem relativamente a comportamentos, normas, práticas e valores de uma determinada sociedade, ou seja, não usufruíram de um processo de socialização.


Assim, a única forma destas crianças comunicarem com outros seres humanos é através da expressão das suas emoções, ou então, através de uma linguagem que só elas entendem.


Curiosidades ☺ A emoção que é primeiramente sentida pelo o humano é a raiva; ☺ As pessoas envergonhadas são consideradas pessoas mais simpáticas; ☺ Estudos observados demonstram que um recluso que se mostre envergonhado apanha menos anos de pena; ☺ Cuidado com aqueles que nunca se irritam; ☺ As emoções são intermináveis, quanto mais as exprimimos, mais maneiras temos de as exprimir.


Conclusão A emoção humana não se cinge ao prazer ou ao medo, é a vontade de justiça, o terror à tortura, a sensibilidade à poesia, à música ou a um quadro.

A emoção humana acontece pelas mais pequenas coisas que não parecem importantes, mas que despertam em nós novos estados de espírito.


“A emoção pela emoção é a finalidade da arte, a emoção pela acção é a finalidade da vida e é dessa organização da vida a que chamamos sociedade.”


Trabalho elaborado por: Fátima Martins Nº06 e Luciana Pinto Nº09 Ano/Turma: 12ºB Disciplina: Psicologia B Prof.ª da Disciplina: Glória Sousa Ano letivo 2012/2013


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