Rusticidade: memórias da nossa terra.

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Foto: JanaĂ­na Schvambach


Agradecimentos: FUNDESTE - Fundação Universitária do Desenvolvimento do Oeste - Presidente Vincenzo Mastrogiacomo REITOR - Prof. Odilon Luiz Poli VICE-REITORA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - Profª. Maria Aparecida Lucca Caovilla VICE-REITOR DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO - Prof. Claudio Alcides Jacoski VICE-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO - Prof. Antonio Zanin DIRETOR ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - Prof. Sady Mazzioni VICE- DIRETOS ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - Prof. Mariângela Torrescasana COORDENAÇÃO DE CURSO DESIGN DE MODA - Prof. Rachel Quadros Assistente Administrativo de Área - Área de Ciências Sociais Aplicadas - Jaqueline Klein Assistente de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Área de Ciências Sociais Aplicadas – Josiane Nunes Auxiliar de Coordenação Área de Ciências Sociais Aplicadas - Karine Rejane Keil Recepção Área de Ciências Sociais Aplicadas – Caroline Guindani Técnico em Fotogra a do Estúdio Foto Unochapecó – Henrique Zorzi CORPO DOCENTE DE CURSO DESIGN DE MODA Unochapecó Educandos do 2º, 4º, 6º e especial do 8º Períodos Curso design de Moda Unochapecó SETOR EVENTOS UNOCHAPECÓ – Aline Lemes da Silva Fontanella e equipe Divisão de Elaboração e Acompanhamento Orçamentário Divisão de Finanças e Contabilidade Unochapecó DIRETORIA DE MARKETING E COMUNICAÇÃO UNOCHAPECÓ DIVISÃO DE PUBLICIDADE UNOWEB TV APOIO OPERACIONAL UNOCHAPECÓ INFRESTRUTURA UNOCHAPECÓ Usina da Moda Unochapecó: Yalê Balzan e Fabieli Breier MAQUETARIA UNOCHAPECÓ PRONTO 3D Curso de Produção Áudio Visual Curso de Gastronomia NIVOC- Núcleo das Indústrias do Vestuário do Oeste Catarinense Fapesc – Fundação Amparo á Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina Ceom – Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina Arcus Indústria Grá ca Arte e cor serigra a Kozzer Maniquins e Maneiras Erva Daninha Tertúlia Erva Mate Bs Áudio TV RIC RECORD Camila Arruda Leila do Prado Pydd e toda equipe Bangalô Boutique de Flores A.R. Instalações Elétricas Barlavento Estúdio Criativo Maquimalhas Feito Beleza Turiscol Qãdôsh Hamilton Picolotto e Cia Ltda. Arcari e Ferronato e Cia Ltda. Hidroluz RW Casarão das Noivas O cina do Porongo – Tadeu Guerra e Ivanete Guerra Getúlio Narsizo Thiago Freitas Em especial e de forma muito carinhosa agradecemos aos nossos colaboradores que contribuíram na elaboração dos textos e que fazem nosso história do Oeste Catarinense

permanecer viva: Fase 01 - Raízes Indígenas – Kaingang - Ana Paula Narsizo – Representante Indígena Kaingang / Mestranda em Educação pela Unochapecó. Fase 02 – Processo de Imigrantes e Colonização (fator religioso) - Prof. Dra. Monica Hass - Doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina, Professora Universidade Federal da Fronteira Sul , autora do livro O linchamento que muitos querem esquecer. Fase 03 - Tomada de Terra e Guerra do Contestado – Prof. Dra. Arlene Renk. Doutora em Antropologia Social. Fase 04 - Balseiros e Ciclo da Madeira – Ademir Miguel Salini - Especialista em História pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e documentalista do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM/Unochapecó) e André Luiz Onghero - Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), técnico em pesquisa do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM/Unochapecó). Fase 05 – Ciclo da Erva Mate - Prof. Dra. Arlene Renk. Doutora em Antropologia Social. Fase 06 – Industrialização, Agroindústria e o homem do campo - Prof. Dra. Arlene Renk. Doutora em Antropologia Social. Fase 07- Arte e Cultura de Chapecó – Prof. Me. Janaina Schvambach – Mestre em Memória Social e Patrimônio Cultural/UFPEL Fase 08- Cidade das Rosas – Prof. Me.Rachel Quadros, Mestre em Fatores Humanos – Ergonomia – UDESC | Coordenadora Curso de Design de Moda Unochapecó. Ficha Técnica: Coordenação de evento - Prof. Me. Rachel Quadros. Professores Responsáveis - Fabio Vieira, Gisele dos Santos, Claudia Scopel, Fernanda Schnorr Grando, Elenir Stempkosky e Janaina Schvambach. Acadêmicos – Alice Fatima Duarte, Bruna Beatriz Lemes da Silva, Bruno Kaue Lemos Drebes Gerhardt, Carolina Floss da Veiga, Daiane Cristina Gohlke, Débora Augusta Hartmann., Débora Merisio, Emanoela Batistello, Emanuele Ferronato Poyer, Fabieli Diones Breier, Larissa Lira Bolzan, Laura Eliza Segatti Wolff, Loreni Fatima da Silva, Maiara da Silva, Mayra Camargo, Raquel Picolotto e Thiago Mateus Szatkowski Zaboenco Projeto Extensão do Evento - Prof. Me. Rachel Quadrose Prof. Esp. Fabio Vieira. Casting – Kozzer Manequins e Maneiras. Equipe Som e Iluminação - BS Áudio. Equipe de evento - Aline Lemes da Silva - Divisão de Eventos - Diretoria de Marketing e Comunicação Unochapecó Mestre de Cerimônia – Thiago Freitas. Direção de Arte – Prof. Me. Rachel Quadros. Produção de Moda - Claudia Scopel, Rachel Quadros e acadêmicos 8º Período Design de Moda Modelos – EDRIANE CRISTINA TELÓ, AMANDA ZANOTTO DE LIMA, CAROLINE MOCELLIN, THALITA CARLA L. DA SILVA, MILENA BALENA MARCON, RHILLARY LAURA C. MACIEL, NATALIA FERNANDA FORTES, NATALLYA RODRIGUES, ANDRESSA ALBERTI, ANDRESSA LOCATELLI, PIETRA PEZENATTO, ELAINE SALETE BIACELI, CAMILA ALFEN, YASMIM EMANUELE LUTINSKE, TAMA BRUSKE, ROBERTO CARLOS MACARI, JOSÉ JUNIOR SCHMITZ e JULIANO VALENTIN RITTER Beauty Artist – Rafael da Silva / Laura Wollf / Carolina Veiga / Emanuele Poyer Equipe Beauty Artist - Acadêmicos 8º periodo do curso de moda Unochapecó. Equipe de backstage: Ana Claudia Venancio, Ana Paula Grützmann, Andressa da Silva, Ariane Felzke Vorpagel, Bruna Sangalli, Camila Moro da Luz, Cibele Boeri, Douglas dos Santos David, Elisangela Nunes Leria, Fabiano Niederle Cabral, Felipe Chaves de Camargo, Francieli Schumann, Jean Cleiton Garcia, Karin Gabriéli Marques Kaminski, Laise Ziger, Letícia Thais Küttner, Rafael Felipe da Silva, Sueli Ana Pezenatto, Vanisse Baggio, Yale Balzan Schneider, Yoçanã Morais. Foto de capa: Janaina Schvambach Modelo de capa: Beatriz De Fortini Equipe de produção - Claudia Scopel, Rachel Quadros, Emanuele Poyer, Yalê Balzan, Local: Condomínio Residencial Villagos Foto de conteúdo: Henrique Zorzi Locação: Estúdio Fotográ co Unochapecó Modelos: Pietra Pezenatto / Edriane Cristina Teló / Roberto Carlos Macari /Thalita Carla L. da Silva Projeto Grá co, direção, arte e diagramação: Gisele dos Santos


ÍNDICE

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INTRODUÇÃO

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FASE 5 Ciclo da Erva Mate

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FASE 6 Industrialização / Agroindústria e homem

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FASE 7 Arte e Cultura de Chapecó

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FASE 8 Cidade das Rosas

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DESIGNERS DE MODA 2015

COM A PALAVRA APRESENTAÇÃO FASE 1 Guarani / Kaingang

FASE 2 Processo de Imigrantes e Colonização Fator Religião

FASE 3 Tomada de Terras / Guerra do Contestado

FASE 4 Balseiros / Ciclo da Madeira


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INTRODUÇÃO

As pessoas questionam como o universo da moda transcende conceitos e consegue materializar ideias em produtos e ou serviços que despertam o desejo? A verdade, é que estas ideias perpassam por inúmeros pro ssionais que realizam estudos em suas especi cidades que vão desde o contexto tecnológico e técnico industrial até o contexto dos processos administrativos e comerciais ligados à moda. Criar é entrar no mundo da pesquisa, observação e imaginação. Cabe ao designer despertar o seu repertório e perceber os sinais do comportamento humano, identi cando quais são seus anseios e necessidades. A pesquisa é fundamental e essencial ao design, é o momento inicial de lançamento e coleta de ideias que precede a criação. Deve ser um processo experimental, um estudo para apoiar ou descobrir determinado assunto e fundamentar o discurso criativo. Criatividade em moda é a capacidade de gerar novas variantes e soluções para o problema de cobrir o corpo, e reinventar a fascinante percepção dele na contemporaneidade. Basta unir conhecimento com criatividade. O que isto pode alterar no processo criativo do produto de moda? O Brasil tinha como representação simbólica, de forma popularizada, “a roupa justa, colorida e sensual”,; que deu forma, nos últimos anos, a novas imagens. Não é que os brasileiros tenham aberto mão da sensualidade, mas aperfeiçoaram outras maneiras de expressão de estilo e de criação, e um gosto diferente tomou forma, desta vez moldado também pela noção de

conforto, leveza poética e qualidade da modelagem. Trata-se de um novo “design de raiz”, que con gura uma brasilidade já reconhecida globalmente: a riqueza do feito a mão, de nossas referências culturais como essência destas criações. Troca-se a ferramenta de CÓPIA pela da CRIAÇÃO: DEIXA-SE DE SER LITERAL PARA SER CRIATIVO. A moda, como fator e elemento de construção social, pode ser considerada não unicamente como informação estética/comercial. Em em seus signi cados e em sua representatividade são conceitos que vão além da imagem, resigni cam sua essência, perpassando a compreensão do comportamento humano e suas relações com os artefatos produzidos em uma determinada época, contextualizado por questões econômicas, sociais, políticas e principalmente culturais para construir uma identidade social cultural de moda. Para isso precisamos olhar para nossas memórias, nossas auto-referênciais, valorizando o que realmente tem valor, a nossa cultura enraizada por nossos antepassados. Enquanto designer, acredito que criar moda, é transcender alguns conceitos de percepção, é evidenciar a ideia em um contexto de signi cações, poéticas e líricas, e também acredito que a moda compreende elementos que transpõem uma con guração de valores subjetivos: uma mensagem implícita, por isso que a moda está na freqüência dos sonhos.

Profª Me. Rachel Quadros


Foto: Janaína Schvambach

Foto: Janaína Schvambach

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C O M A PA L A V R A

REITOR - Prof. Odilon Luiz Poli O Unochapecó Fashion Day é um exemplo de articulação positiva entre universidade e setor produtivo. Surgiu, inicialmente, como uma necessidade do curso de Moda. Mas, desde cedo foi assumido pelos representantes das indústrias do setor como uma oportunidade de dinamização da produção de moda em nossa região. E o resultado aí está: um evento consolidado, que já foi incorporado ao calendário dos grandes eventos da cidade e de fundamental importância tanto para o desenvolvimento do setor produtivo, quanto para a formação dos novos pro ssionais de moda. Está de parabéns o curso de moda e está de parabéns o NIVOC pela visão estratégica e proatividade.

Profª Me. Rachel Quadros Coordenadora do Curso de Design de Moda e do Unochapecó Fashion Day O Unochapecó Fashion Day, está em sua sétima edição, uma história de aprendizado e crescimento, muito sonhos passaram pelas passarelas deste evento, deixaram sua marca e criaram novos sonhos. O conceito de criação de moda é fundamentada no processo criativo delineado por tema de inspiração, com base nas pesquisas de macro tendências, apontados pelos maiores escritórios de moda do mundo. Esta inspiração é transformada pelos traços criativos de cada aluno que durante 4 meses, desenvolvem sua evolução criativa e perpassam pelas pesquisas do prognóstico de cores, formas, texturas, silhueta e volumes, até o planejamento e execução do evento, feito com muito pro ssionalismo e respeito de toda equipe da Unochapecó e do curso de moda: entre educandos, educadores, técnicos, amigos e parceiros do evento.


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Cláudio Miguel Teló - Presidente NIVOC O NIVOC (Núcleo das Indústrias do Vestuário do Oeste Catarinense) é uma entidade que agrupa empresas do setor têxtil do Oeste catarinense, objetivando fomentar ações e atividades que venham ao encontro do desenvolvimento das empresas. Em nossa região, temos a grata satisfação de contar com uma universidade que tem trabalhado com a nco para a formação de pro ssionais aptos a atuarem no ramo têxtil. Como forma de minimizar as barreiras existentes na interação universidade-empresa, o NIVOC, já pelo quinto ano é um dos apoiadores do projeto Unochapecó Fashion Day, desenvolvido pela Unochapecó, pois cremos ser de fundamental importância que os alunos egressos dos cursos, além do conhecimento criativo e teórico, tenham também noções da realidade vivida pelas empresas do setor. Outro grande ponto positivo desta proximidade é a transferência de tecnologia e conhecimento que é proporcionado às empresas que utilizam as parcerias, pois em nossa região não temos tradição no setor têxtil, e as empresas, em sua maioria, trabalham com pouco investimento em criação de moda. Frente ao mercado mundial, cada vez mais competitivo, as inovações tecnológicas e de criação, e a complexidade mercadológica, fazem com que as pesquisas sejam cada vez mais relevantes no cenário mundial, acentuando sua importância para a geração de riquezas e a melhoria da qualidade de vida da região.


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C O M U N I D A D E E N V O LV I D A

NIVOC – Moda no Oeste NÚCLEO DA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO DO OESTE CATARINENSE - Parceiro do Unochapecó Fashion Day, fruto de uma parceria entre a FACISC e o SEBRAE, que implantaram juntamente com as associações empresariais o Projeto Empreender, cuja nalidade é a organização dos segmentos produtivos em núcleos setoriais. Apresenta-se como a materialização desse ideal principalmente voltado ao setor produtivo de confecção e criativo de moda.

O cina do Porongo A O cina do Porongo, criada pelos talentosos artesãos Ivanete e Osmar T. Guerra em 2012, surgiu da necessidade de ter uma renda extra, somada à paixão pelo artesanato e seus estudos sobre a arte do Nordeste que os inspiram. Atualmente o mix de produtos desenvolvidos vão de personagens à cuias, oreiras e bijuteria na arte do porongo.


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Unochapecó Fashion Day Em 2012 as Mães de Nazeré, artesãs locais, em sinergia com os estudantes, desenvolveram detalhes em crochê e tricô para um look especial seguindo o tema. Homenageadas, abriram o des le e emocionaram o público que se sentiu mais próximo da Universidade.


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RUSTICIDADE: MEMÓRIAS DA NOSSA TERRA As macro tendências de comportamento de consumo, direcionam as criações do universo da moda e apontam tendências em curso. A percepção que se deu por meio de pesquisas atuais, é uma poética do manual, uma auto valorização e respeito pelo ateliê, condicionado ao feito a mão, pouco a pouco, o laboratório de ideias mágicas de fundo naturalista, crivadas de gosto pelo passado e apoiadas em uma estética natural de raiz, estão mais presentes no contexto social. Por entendermos que todo o processo de criação de moda implica em planejamento e pesquisa, a 7ª Edição do UNOCHAPECÓ FASHION DAY, foi planejada para ser produzido um espetáculo de moda. Os educandos do oitavo período de design de moda da Unochapecó realizaram seu processo criativo pelo direcionamento do tema: “RUSTICIDADE: Memórias da Nossa Terra”, as propostas das coleções foram harmonicamente elaboradas em virtude da criatividade aplicada principalmente nos seguintes elementos de linearidade: tecidos em sobreposição, tecidos com detalhes em acabamentos à mão: rendados, bordados, tricô, tramados e efeitos texturizados envelhecidos, alfaiataria como orientação nos clássicos, mistura de gramaturas leves x pesadas, modelagem ampla (colonos / caboclos / tropeiros), aviamentos e acessórios com uso de materiais naturais: sementes / palha, inspiração na tradição,

valorizando pontos básicos da malharia, como as tranças e as variações das tramas, couros, camurça, algodão cru, sarja e denim. RUSTICIDADE: Memórias da Nossa terra, rege no sentido de apresentar uma grande coleção têxtil, dividia por Capsule Colletions: coleções cápsulas, onde a técnica de criatividade foi o STORY TELLING, ou seja, contar uma história mediante um roteiro conceitual proposto. O roteiro proposto foi de explorar as potencialidades e a história da região oeste catarinense, foram 8 subgrupos, apresentando propostas têxteis, no decorrer da linha do tempo: -Fase 1: Guarani / Kaingang; -Fase 2: Processo de Imigrantes e Colonização (Fator religião); - Fase 3: Processo de Tomada de Terras / guerra do Contestado; - Fase 4: Balseiros e Ciclo da Madeira; - Fase 5: Ciclo da Erva Mate; - Fase 6: Processo de Industrialização / Agroindústria e homem do campo; - Fase 7: Arte e Cultura de Chapecó - homenagem aos artistas de Chapecó; - Fase 8: Cidade das Rosas. Profª Me. Rachel Quadros


Foto: JanaĂ­na Schvambach

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FA S E 1

O guerreiro indígena kaingang é hoje, antes de tudo, um intelectual. A atividade do guerreiro indígena kaingang, antigamente, era defender sua comunidade dos ataques de guerreiros de outras etnias, e após o contato com invasores e caçadores de indígenas para a escravidão. Atualmente, a atividade do guerreiro continua similar, porém ele não utiliza m a i s co n h e c i m e nto s b é l i co s, a rco e e c h a s, bordunas, armadilhas; mas, antes de tudo, a inteligência, o discurso e, cada vez mais, pautado em seus direitos. Hoje em dia percebemos enquanto indígenas, que os povos foram vistos somente “objeto de estudo” e nada mais. Retrospectivamente temos uma história de longa duração na qual os povos indígenas sempre foram vistos como um problema, e a única resposta que se conseguiu foram à formulação de politicas para que deixassem de ser o que eram, uma aculturação que deixou lacunas em nossa cultura, mas não perdemos nossa identidade. Na qual a nossa pintura a nossa forma de relação com a natureza ainda esta presente no nosso dia a dia. Vale ressaltar que somos o povo kaingang do sul e oeste de Santa Catarina, atualmente temos cinco terras indígenas Kaingang com uma população aproximada de 7.000 indígenas e que precisamos minimamente de respeito para com a nossa cultura e também a dignidade para que as nossas crianças tenham um futuro melhor. S omos indígenas kaingang e passamos por uma trans guração que se dá pela gestação de uma etnia nova, que foi uni cando, na língua e nos costumes. ”Era o brasileiro que surgia, construído com os tijolos dessas matrizes à medida que elas iam sendo desfeita” como cita Ribeiro (2004, p.30). Ana Paula Narsizo – Kaigang e Mestranda em Educação pela UNOCHAPECÓ.

Acima: Índios Kaingang. Abaixo: Indígena em caíco. Chapecó, década de 1980. Acervo CEOM/Unochapecó.

Foto: Janaína Schvambach

Guarani / Kaingang


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Alice Duarte Toda coleção foi pensada na valorização pela identidade da cultura indígena, seguida por valores e crenças. A simplicidade da cultura é aliada ao estilo rústico, trazendo a alegria e a proximidade com o trabalho artesanal, feito à mão. Seguido por uma cartela de cores, as peças trazem texturas contrastantes e elementos de ir regular idade. Consiste em uma modelagem ampla, com traços grosseiros. A associação dos acessórios traz a valorização dos elementos da terra, como as sementes e o trabalho minucioso dos tramados. A predominância nos tons cru e das pinturas simbólicas lida com as questões de herança cultural, se referindo aos aspectos e in uências da cultura indígena. A proposta é acentuar o aconchego e contato pelos tecidos, com silhuetas desestruturadas, prevalecendo as inspirações no tricot e saias alongadas.


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Bruna Lemes A Rusticidade nos remete ao passado, às lembranças e aos ensinamentos familiares, tendo a delicadeza e a simplicidade representada na simbologia feita à mão. Na coleção Cestaria, inspirada nas tribos Kaingang e Guarani, nos traz o tramado das palhas em tecidos de linho, sarja e algodão,os tons terrosos e as cores vibrantes como amarelo, verde, vermelho, rosa e lilás, mostrando a natureza através do gra smo e as sementes t r a n s fo r m a d a s e m a c e s s ó r i o s. A s p e ç a s transmitem a silhueta irregular e a imperfeição dos tramados nos mostrando as formas através dos artesanatos, onde é a maneira de contar historia e caracterizar a identidade da pessoa.


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FA S E 2

A pequena cidade madeireira de Chapecó foi palco, em outubro de 1950, de um linchamento de quatro pessoas, após o incêndio da igreja católica local. Num tempo em que o mandonismo local, com resquícios do sistema coronelista, utilizava-se, basicamente, da violência e da fé religiosa no seu processo de dominação, veri ca-se a participação ou conivência dos principais poderes da cidade no crime: o policial, o judicial, o político e o religioso. Tempos sombrios viveram esta comunidade que teve a sua povoação patrocinada por empresas colonizadoras que trouxeram imigrantes, principalmente do Rio Grande do Sul, em busca de sonhos de melhoria de vida no oeste catarinense. Respaldados nos valores da fé católica e do trabalho e insu ados por membros da elite política e do poder religioso, moradores da cidade e do interior, zeram justiça com as “próprias mãos”, eliminando os forasteiros que na sua visão, representavam uma ameaça a comunidade produtiva e cristã chapecoense.

Profª Dra. Monica Hass

Foto: Janaína Schvambach

Processo de Imigrantes e Colonização

Acima Igreja Santo Antônio em Passo dos Índios, Chapecó, onde pode se observar pessoas em procissão, na década de 1930. Ao lado Igreja Matriz de Chapecó-SC na década de 1940. Acervo CEOM/Unochapecó.


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Bruno Gerhardt Resgatar e neutralizar! Resgatar refere-se ao resgate das nossas raízes, o início de tudo, nossa essência. Neutralizar perpetua por uma disfunção de gêneros, uma vez que a barreira que separa masculino e feminino vem sendo derrubada, tornando-a em uma linha tênue que toma sua forma híbrida. Inspirada no resgate histórico de Xapecó, ainda escrito com “X”, onde caboclos viviam, coronéis mandavam e militantes religiosos obedeciam e no linchamento, resultado da queima da igreja matriz. Tons terrosos em seus contrastes foram as cores escolhidas tendo como ponto de luz o caramelo. Formas simples e toques de modernidade unidos à silhueta com sobreposição. Efeitos de ação do tempo unem-se a delicadeza do feito à mão e ao aspecto manual trazido pela tecnologia têxtil formando a cartela de texturas.


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Carolina Floss da Veiga A coleção Miscigenação traz como referência a produção feita à mão. Produtos confeccionados na região que possuem valor cultural, vez que, resultam do ensinamento da "mãe para lha". Como a inspiração da coleção veio através de um assunto pouco comentado, o l i n c h a m e n t o q u e o c o r re u n a c i d a d e d e Chapecó-SC, foi utilizado essa construção para a coleção, trazendo diferentes etnias, caboclos e imigrantes italianos, presentes naquele momento, e os religiosos. As peças desenvolvidas têm os tons terrosos, com um ponto de luz alaranjado, as quais possuem silhuetas de sobreposição, sendo essa destacada pelas capas, feitas em estilo reto e exuberante. As texturas caram por do tecido sobreposto, da juta e do tricô, o que é o diferencial da coleção.


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FA S E 3

O Oeste Catarinense, anterior à colonização, não era um vazio demográ co ou social. Indígenas, caboclos, tropeiros e aventureiros construíram esse território. Os modos de vida, as crenças, os modos de criar os animais, de plantio, as concepções de tempo e espaço, os diferenciava em relação aos colonizadores que entraram a partir da década de vinte do século passado. A territorialidade cabocla, não concebia a terra como propriedade, tampouco como objeto de compra e venda. Para alguns destes caboclos, a terra era “de Deus”, para outros era “do Brasil”. Não era comprada, era apossada. Era o espaço das relações sociais, de onde se retirava o sustento, onde realizavam as festas, as trocas, as relações de reciprocidade, num mundo com raras relações monetárias. Quando “enjoavam”, trocavam por outra, dado a vastidão de terras. Muitos caboclos deslocavam-se com seus animais e seus plantios. Deixando em repouso a terra que já os acolhera. Por ocasião da colonização, que cortou os lotes em linha reta, essa desprezou as posses, impediu a itinerância, con nou os caboclos, expulsou-se das terras ocupadas e não escrituradas, empurrando-os às áreas íngremes e às barracas dos rios. “As terras de Deus” e “ do Brasil” passaram a ter donos que devastaram matos e expulsaram os antigos moradores, agora transformados em intrusos. Rompe-se a territorialidade anterior e muitas das relações são matéria da memória, transmitida a lhos, netos e aos curiosos e estudiosos daquele modo de vida. Profª Dra. Arlene Renk

Grupo de homens com instrumentos de medição de terras . Acervo CEOM/Unochapecó.

Foto: Janaína Schvambach

Tomada de Terras / Guerra do Contestado


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Daiane Gohlke A coleção Sertão Guerreiro é inspirada na história e essência de nosso povo caboclo e personagens marcantes, durante a Tomada das Terras e Guerra do Contestado, transmitindo através de formas e modelagem mais reta, silhueta mais ampla, texturas sensoriais, e cores entre tons terrosos, caramelos e vermelhos, uma mística aventura pelo passado esquecido. De forma guerreira vamos nos transportar ao passado com símbolos e elementos da Guerra do Contestado para vivenciar sensações inimagináveis com apresentação das três linhas, a 1ª inspirada nos monges, 2ª inspirada nas virgens e a 3ª inspirada nos caboclos. Com premissa de simplicidade e conforto, feito para mulheres modernas e cosmopolitas que sabem como um look demonstra sua personalidade e mantém suas raízes.


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Debora Hartmann O resgate de nossas raízes e a trama da nossa história, dá abertura para uma narração que será contada em forma de moda, o sofrimento que a Guerra do Contestado causou. Não irá reparar mas a população precisa saber como se deu inicio a nossa geração. Tudo começou com a disputa de terra dos estados do Paraná e Santa Catarina, e se agravou com a construção da ferrovia norte –sul que tirou a moradia dos camponeses que caram sem terra para trabalhar. Os camponeses ganharam força por meio do beato José Maria, que pregava a esperança de um mundo novo, muito sangue derramado e sonhos destruídos, neste sentido monges, camponeses, e virgens foram as inspirações da coleção, com silhuetas amplas e sobreposições com tons terrosos, vermelhos e caramelos.


FA S E 4 Balseiros / Ciclo da Madeira

No século XX, com a chegada dos colonizadores a partir da segunda década, a madeira tornou-se um produto rentável que contribuiu de nitivamente para a formação da região. Neste contexto, ao mesmo tempo em que a chegada de novos moradores trazia a necessidade de materiais para construção das moradias, galpões, igrejas, pontes e outras instalações, além da abertura de áreas para o plantio. A atividade extrativa propiciava também a criação de núcleos de povoamento, mesmo que temporários, além de caminhos, que também davam acesso às terras que estavam sendo comercializadas. Para a derrubada das árvores, o machado e o serrote eram as principais ferramentas, exigindo muito esforço físico. Da área de extração até as serrarias e depois, para os pontos de embarque nas encostas do Rio Uruguai, a madeira era transportada principalmente por meio da tração animal, já que poucos madeireiros possuíam caminhões e raras eram as estradas que permitiam sua rodagem. O transporte da madeira destinada à exportação era realizado por meio da balsa, uma estrutura construída com a própria madeira a ser comercializada, dotada de aparatos que permitiam sua navegação, sempre no mesmo sentido da correnteza, mas somente quando o rio apresentasse condições adequadas, o que só ocorria em períodos chuvosos. O comércio da madeira era destinado aos portos platinos, principalmente para a República da Argentina.

Esp. Ademir Miguel Salini Ms. André Luiz Onghero

Foto: Janaína Schvambach

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Balsas e balseiros no Rio Uruguai na década de 1940. Acervo CEOM/Unochapecó.


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Debora Merísio A coleção Uruguai Transbordou, traduz em linhas retas e tecidos rmes, toda a história dos balseiros do rio Uruguai e do ciclo da madeira. Todas as peças foram desenvolvidas com o conceito rmado em resgatar as texturas e formas das balsas, da madeira, dos emaranhados que as uniam, bem como das pessoas que viajavam para tão longe em busca do dinheiro tão necessário. A beleza de contrastes entre a uidez da água e a rigidez da madeira a ora a rusticidade para a coleção, elemento e unidade que mostra a beleza das peças. As cores iniciam entre marrons, beges e cru, e terminam em tons de turquesa. A proposta da coleção é resgatar toda a história que por vezes se perde durante o tempo.


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Emanuele Ferronato Poyer A coleção Sonhos de Balseiros possui três linhas, a 1ª linha é inspirada nos balseiros, que cruzavam o rio Uruguai levando em suas balsas as madeiras para venda, arriscando suas vidas na enchente, nas correntezas e nas surpresas que o rio os armava, a 2ª é inspirada nas viagens, nos sonhos e nas maravilhas que os balseiros descobriam e a 3ª e mais so sticada, tem como inspiração a balsa e o valor da madeira. Essa coleção tem como conceito a rusticidade, que representa o rústico mesclado com o urbano, detalhes artesanais, do feito à mão, o tramado da tecelagem com a costura de alfaiataria. Inspiradas nas madeiras e na água do rio, as cores trazem tons de marrons com contraste em tons de azul turquesa. A coleção possui formas e uma modelagem mais ampla, linhas mais retas e texturas distintas.


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Foto: Janaína Schvambach

FA S E 5 Ciclo da Erva Mate

A erva-mate foi uma das riquezas da região do oeste catarinense. Nas primeiras décadas do século passado, dado as lonjuras entre ervais e soques, os próprios extratores realizavam o processo de extração e bene ciamento. Posteriormente essa erva era vendida a comerciante, em troca de itens para alimentação ou outros itens de necessidades. Naquele momento, o grande mercado da erva-mate era a Argentina e havia uma série de normas higiênicas impostas para o processo de fabricação. Isso propiciou o fechamento de barbaquás (soque de bene ciamento) artesanais e a instalação de barbaquás mecânicos. O processo de colonização implicou a expropriação dos ervais nativos, impedindo a extração do modo realizado anteriormente e contribuiu para a instalação de grandes fábricas de bene ciamento de erva-mate. Instaura-se uma divisão étnica do trabalho. As terras com ervais e as fábricas pertencem aos colonizadores, aos descendentes de alemães, italianos e poloneses e a mãode-obra para a extração de erva é cabocla. Esta é a última atividade no rol do ofício. Passa a ser uma atividade étnica estigmatizada, exclusiva de quem não encontra outra ocupação. A remuneração é paga por tarefa, ou seja, pela quantidade de erva colhida. Para torná-la mais precária, é um ofício sazonal, com dois períodos de corte ao ano, a safra, no inverno e a safrinha, no verão. No período de entressafra, a população ca desempregada. Se a vida no emprego já e rala, quem dirá no interregno? Profª Dra. Arlene Renk

Cultivo da erva mate em Chapecó na década de 1950. Acervo CEOM/Unochapecó.


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Emanuela Batistello O nostálgico retorno às raízes, repensar quem somos, nossas tradições e costumes, conceitua a coleção Requinte da Tradição. Embasada no tema Rusticidade e ciclo da erva-mate, inspirase na evolução da cultura e indumentária gaúcha, no chimar rão que, presente no cotidiano do Oeste Catarinense carrega em seu apreciado sabor amargo o labor árduo da colheita da erva-mate, partilhada na cuia, de mão em mão, torna próximas as pessoas em tempo de individualidades. Em consonância à temática, a paleta de cores traz tons de verde marrom e cinza. Formas contrastantes da silhueta ampla com cintura marcada, palas, ponchos, cintos, combinação de texturas entre tecidos e couros, o tricô e crochê manual em peças que representam a mulher contemporânea apreciadora da adesão entre modernidade e tradição.


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Maiara Silva de Castro A coleção Maravilhas do Sul, é inspirada no costume da cultura sulista de tomar chimarrão, vindo do tema “Ciclo da Erva Mate”. A coleção tráz sua atmosfera voltada à moda festa, lembrando os bailes de C TG (Centro de Tradições Gaúchas) e trazendo a so sticação dos detalhes como fator de desejo, provocando s ens a çõ es ún i c a s a o re s gat a r m em ó r i a s caboclas e o trabalho feito à mão herdado durante gerações pelo povo colonizador da região. A coleção apresenta formas e texturas que transpassam o tecido com os bordados manuais de pedraria e renda guipir, juntamente com o crochê e a semitransparência. Expõe cores em tons de verde e contrastes com marrom e cinza. Evidencia a silhueta ampla, inspirada na vestimenta gaúcha e dos costumes de mateada. Buscando a estética capaz de expressar identidade e inovação em design de moda.


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Laura Segatti Wolff Conta uma lenda que existia uma índia que se chamava Yarií, ao receber um viajante e o tratálor com muita bondade, ele agradeceu a ela dando um galho de Caa, e ao plantar, Yarií se tornou Caa-Yarií, a deusa da erva-mate, e sua tribo ao beber o mate, se tornou mais valente e alegre. O conceito da coleção Caa-Yarií é o rústico contemporâneo contemplando as origens gaúchas e da colheita da erva mate na região de Chapecó. Como inspiração: os trajes da tradição gaúcha, como os ponchos, os vestidos de prenda, a pilcha, a guaiaca e a própria erva-mate. As cores usadas foram o verde para retratar a erva mate e o cinza e marrom para contraste. A silhueta com a cintura marcada e as texturas relembram a árvore da erva mate e a própria erva.


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FA S E 6 Industrialização / Agroindústria e homem

Profª Dra. Arlene Renk

Vista aérea de uma propriedade que cava onde hoje é o atual Bairro Colato ou Efapi em Chapecó-SC na década de 1970.

Criação de peru numa propriedade rural em Chapecó na década de 1970. Acervo CEOM/Unochapecó.

Foto: Janaína Schvambach

O pequeno agricultor, nos anos iniciais da colonização, vivia em regime de policultura. Plantavam e colhiam grande parte do que consumiam na propriedade. Os recursos monetários, em sua maioria, advinham da suinocultora, principalmente dos suínos de banha. Era banha nossa de cada dia na mesa do agricultor. Consideraram a a gr i c u l t u ra a t ra s a d a . I n t ro d u z i ra m p a co te s tecncológicos. Modernizaram-na. Nem todos os agricultores a acompanharam. Nesse pacote surgiu a gura de uma peste suína, que dizimou as varas de porcos na região. Contam os relatos que o Exército foi chamado para matar os suínos. As raças anteriores foram substituídas por novas, não mais indicadas para banha, mas sim para carnes. O que importava agora era carne. Pequenos abatedouros dão lugar a grandes plantas industriais. Os agricultores passaram a trabalhar em regime de parceria com a agroindústria, algo totalmente novo para eles. O ritmo, a quantidade de suínos e aves, o modo de criar é ditado pela agroindústria. Filhos de agricultores migraram para trabalhar nos frigorí cos. As agroindústrias exportam pelo mundo afora as carnes produzidas pelos agricultores. Aviários e pocilgas são tecnologizados, como convém para aves e suínos exportados, em nome do bem-estar animal. Hoje, nas agroindústrias temos a presença de haitianos e indígenas, como força laboral, mudando a con guração do meio ambiente do trabalho.


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Fabieli Breier Esta coleção retrata através de silhueta limpa, reta e geometrizada, a história dos grandes produtores rurais que com seu prestígio, grandes armazéns, campos as vezes verdinhos, muitas vezes cor do ouro que enche nossos olhos e nos faz enxergar o poder da agroindústria. Com estética de alfaiataria, as texturas das tricolines trabalhadas com superfícies porosas e encorpadas, a coleção traduz todo o trabalho que os pequenos produtores tiveram para movimentar a economia da região, crescer, gerar empregos e projetar a cidade para o futuro. As cores utilizadas para representar essa etapa da história iniciam entre marrons e verdes, passando pelo amarelo, com nuances de cinza e gelo. O objetivo é retratar através da moda a importância do agricultor na economia e na vida das pessoas.


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Loreni da Silva Com a atenção voltada àquilo que a vida tem de mais belo, traduzindo sensações e a paixão pela vida das mulheres cheias de atitude. Evocando valores intimamente conectados as suas raízes onde menos é mais. Com inspiração na agricultura familiar e Grande Produtor de Chapecó transformando o cultivo de produtos em novas estéticas. Trazendo para um contexto mais contemporâneo as formas geométricas, cortes retos, cintura marcada. Tons de sementes e do campo: do milho/soja em contraste com tons: marrons/verdes olivas à cinzas/gelo, nos tecidos couro metalizado, linho, lã, jeans e cetim.


FA S E 7 Arte e Cultura de Chapecó

Foto: Janaína Schvambach

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As obras de Cyro Sosnoski se apresentam carregadas de histórias, desde a história dos materiais que ele utiliza à poética representada. A maioria de seus trabalhos são produzidos em madeira, galhos encontrados, pedras, rochas; algumas possuem resquícios de metais reutilizados. Sua temática mescla histórias pessoais, fé, seres fantásticos, monstros gurativos e a natureza. Ele foi um artista sensível, que através da sua personalidade cabocla e leve, transforma sua arte em matéria potente. Cyro foi um precursor, homem simples, que fez sua arte e contribuiu para fazer de Chapecó uma referência na produção artística da região oeste catarinense. Esse artista consegue unir de maneira simbólica a base dos nossos artistas contemporâneos chapecoenses: determinação, engajamento, investigação e sensibilidade para perceber as delicadezas simbólicas do dia a dia. Profª Me. Janaina Schvambach

Referências: A NATUREZA da obra de Cyro Sosnoski. Direção e roteiro: Carlos Henrique Tullio; Fotografia: Eleel Maia; Pesquisa: Sandra Abello; Narração: Paula Argenta Garcia; Produção executiva: Sandra Abello; Direção de Arte: Carlos Henrique Tullio; Captação de áudio: André Paulo Rodrigues; Edição: Paulo Meneghini. Chapecó/SC, 2002, Unochapeco, VHS.

Obras de Cyro Sosnoski. Fotogra a Janaina Schvambach, acervo Prefeitura Municipal de Chapecó.


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Mayra Camargo A coleção Brutalidade Branda teve como inspiração as obras do artista Cyro Sonsnoskyi ressaltando a arte e cultura da cidade de Chapecó. O conceito parte da brutalidade das obras do artista, mas também da suavidade com que retrata as mulheres e os peixes, de modo natural, sem se importar com as formas reais de tais guras. As inspirações vieram das curvas das mulheres retratadas pelo artista, assim como as caudas e nadadeiras dos peixes, ambos lembrados por sua leveza. As cores em evidência são os tons terrosos para destaque das obras feitas em arenito e galhos de árvores e como ponto de luz o laranja, que simboliza a ascendência do artista na região. Formas que lembram membros dos peixes e volumes que destacam as obras de Cyro estão presentes nas peças, assim como uma silhueta orgânica. Materiais com texturas rústicas, aveludadas e naturais compõem a coleção.


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Raquel Picolotto A coleção Esculpidos, foi inspirada no artista e escultor Cyro Sonsnoskyi. Cyro é gaúcho de Antônio Prado, mas mudou-se para Chapecó em 1973. Em Chapecó, Cyro cou conhecido como "homem coelho", pois ajudou a nomear o bairro Vila Páscoa onde ele fez uma escultura de coelho para representar o bairro. A coleção busca lembrar as obras de Cyro trazendo elementos de sua arte para as peças, com uma silhueta orgânica e leve, trabalhada com rendas e crochê que lembram a delicadeza necessária para esculpir uma pedra. As cores utilizadas são marrons das pedras em contraste com laranjas vivos. A estética de alfaiataria traz o toque de elegância e so sticação para a coleção.


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FA S E 8

Ao chegarmos na fase 08, denominada simbolicamente/metaforicamente: Ciclo das Rosas, é um momento de pedir um minuto para re etir... o que realmente somos.... quais são nossas verdadeiras raízes, e isto é algo muito particular do ponto de vista sociológico. Cada um constrói suas memórias por meio de suas experiências, vivências e lembranças, o que nos torna seres humanos únicos, carregados de identidade cultural, de valores e princípios, pois acreditamos que a preciosidade de ser quem realmente você é, está na simplicidade de sua própria história, do legado imaterial de seus antepassados. Chapecó cidade das rosas, simbolicamente referência umas das ores mais signi cativas da cultura mística, a Rosa, em algumas crenças, representam o símbolo do "desabrochar ao autoconhecimento", e o que é o autoconhecimento, se não soubermos quem somos e de onde viemos? Quando se tem um passado, uma memória ou uma grande sentimento de saudosismo, ambos sentimentos coexistem dentro do seu coração e re etem em uma sociedade mais tenra, unida e enraizada por princípios e valores fortalecidos. Por que paramos de pensar Chapecó cidade das rosas, ou melhor, porque estamos dando valor àquilo que não tem valor?

Profª Me. Rachel Quadros

Avenida Getúlio Vargas em Chapecó-SC na década de 1970. Acervo CEOM/Unochapecó.

Foto: Janaína Schvambach

Cidade das Rosas


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Thiago Zaboenco No nal da década de 70, a cidade de Chapecó começou a ser conhecida como cidade das rosas, devido às suas grandes praças e jardins. Fama essa, que durou até a década de 90, em que a arborização deu lugar a elementos contemporâneos. O nascimento da coleção Rosa Cruz, se deu a partir do equilíbrio entre a tradição e o design contemporâneo. Assim a temática da coleção, cidade das rosas, surge através dos seguintes elementos: cor (tons de rosas e branco), formas (circulares) e texturas (tramados) interpretadas para uma coleção com elementos tradicionais da indumentária masculina atrelado ao desejo do homem contemporâneo de se destacar na imensidão mundana.


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Larissa Lira A coleção “Rosália” vem com a proposta de que design, artesanato e rosas podem render belas peças de roupas e acessórios. Com inspiração na cidade de Chapecó, que entre os anos de 1977 e 1990 cou conhecida como “Cidade das Rosas”. Nessa coleção é valorizado o amor do trabalho manual, passado de geração em geração entre mães e lhas. A delicadeza e a feminilidade são traduzidas pelas rosas, que t r a z e m o s i g n i c a d o d e a m o r, c a r i n h o, admiração, felicidade e gratidão. A coleção traz roupas de shape amplo com texturas do tricô e crochê feitos manualmente. Em uma cartela de cores que vai do rosa pink ao branco, e a criação de acessórios como bolsas, sapatos e bijuterias que remetem lembranças das nossas gerações passadas.


DESIGNERS DE MODA 2015

Laura Segatti Wolf, Mayra Camargo, Larissa Lira, Emanoela Batistello, Alice Duarte, Thiago Zaboenco, Loreni da Silva, Raquel Picolotto, Maiara Silva de Castro, Carolina Floss da Veiga, Bruno Gerhard, Debora Hartmann, Debora Merisio, Bruna Lemes, Daiane Gohlke, Emanuele Ferronato Poyer e Fabiele Breier.

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