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TECNOLOGIA NA DETECÇÃO DO CIO

GENÉTICA

Larissa Vieira

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Os ganhos com IATF

Uso da técnica vem crescendo na pecuária leiteira e traz impactos positivos relativos ao melhoramento genético, rentabilidade e sustentabilidade

Boa reprodução é a chave do sucesso de qualquer fazenda leiteira. E parece que o produtor rural brasileiro vem investindo mais em biotecnologias reprodutivas nos últimos anos. Vendas de sêmen e de protocolos de sincronização para emprego da Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF) crescem a taxas interessantes. De acordo com a Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), as vendas de sêmen das raças leiteiras no primeiro trimestre de 2021 cresceram 8% (4.344.395 doses) em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda no primeiro trimestre, o uso da inseminação artificial (leite e corte) nos municípios brasileiros cresceu 12,9%, atingindo 64,7% das cidades do País. O segmento já vem de um desempenho interessante em 2020, quando registrou aumento de 13% na comercialização de sêmen.

Parte dessas doses vendidas vão para a aplicação da IATF. Segundo a Asbia, das fazendas leiteiras que usam inseminação, mais de 35% já usam a tecnologia de tempo fixo. Levantamento feito pelo Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP) revela que o mercado da IATF (leite e corte) cresceu 30% em 2020, superando 21 milhões de procedimentos.

Já existe muito produtor fazendo as contas e trabalhando para melhorar a fertilidade do rebanho, pois além dos ganhos em rentabilidade, há consideráveis ganhos genéticos. “A pecuária brasileira ainda apresenta índices reprodutivos que podem ser melhorados. Utilizando tecnologia é possível produzir mais bezerros por matriz por ano e reduzir a idade ao primeiro parto. Em rebanhos de leite, estudos demonstraram redução de um mês no intervalo entre partos (IEP) em programas reprodutivos que utilizam IATF, quando comparado aos sistemas que empregam a detecção do cio para inseminação artificial ou a monta natural. A redução de um mês no IEP do rebanho aumenta 10% a produção anual de leite da propriedade”, esclarece o professor do Departamento de Reprodução Animal da FMVZ/USP, Pietro Baruselli.

Por meio da IATF é possível suprir as deficiências da inseminação

Professor da USP Pietro Baruselli tradicional, evitando falhas reprodutivas. O manejo reprodutivo da fazenda pode ser melhorado, concentrando as ações em períodos específicos, facilitando a logística e diminuindo os custos de produção, que é um grande gargalo do setor. Outra vantagem é a eliminação da necessidade de observação de cios nas vacas sincronizadas. Elas são inseminadas em horários pré-fixados, evitando-se as falhas de detecção e consegue-se induzir atividade ovariana em vacas em anestro. Com isso, é possível programar as inseminações, os nascimentos e, consequentemente, a produção leiteira, conforme a necessidade. Isso propicia manter a produção constante durante o ano ou aumentar a produção em períodos de entressafra.

Além dos benefícios para a produtividade, há o impacto econômico direto. “É uma tecnologia que aumenta consideravelmente o retorno econômico da pecuária. Em uma estimativa de impacto econômico da IATF sobre a cadeia de produção de carne e de leite que realizamos em 2018, os ganhos seriam de aproximadamente R$3,5 bilhões ao ano, quando comparada com a monta natural. Acreditamos que em 2021 os ganhos serão ainda superiores devido à maior utilização da IATF”, afirma Baruselli.

Para quem pretende adotar a IATF é preciso, antes de tudo, ter estrutura adequada na propriedade, com bom manejo sanitário e nutricional, pois vários fatores influenciam no resultado. As interferências vão desde raça do touro, lote, categoria de parto, ano, escore corporal das fêmeas até capacitação da equipe. A organização operacional do processo precisa ser boa, senão o criador terá resultados inconsistentes.

Vantagens da IATF

•Aumento da eficiência reprodutiva. •Ausência da necessidade de observação de cio, favorecendo a melhoria da qualidade de vida. •Aumento do número de vacas inseminadas. •Induz a ciclicidade de vacas em anestro (ausência de manifestação de cio). •Possibilita a inseminação de vacas paridas recentemente. •Aumenta a taxa de prenhez no início da estação reprodutiva. •Programa a ocorrência dos partos conforme a época do ano e a demanda do mercado. •Possibilita programar as inseminações em curto espaço de tempo. •Sincroniza as inseminações e parições.

Requisitos básicos

•Vacas com mais de 40 dias pós-parto ou após uma avaliação prévia de um médico-veterinário. •Vacas com bom escore corporal (2,5 ou mais, em uma escala de 1 a 5). •Aporte alimentar suficiente para evitar perdas de peso. •Controle sanitário eficiente (brucelose/ leptospirose/ IBR/ BVD/ Campilobacteriose/ etc). •Veterinário capacitado para implantar o programa de IATF. •Infraestrutura adequada (troncos/ currais/ etc.). •Contar com inseminadores experientes. •Mão de obra capacitada para execução dos protocolos. •Utilizar somente sêmen de touros com alta fertilidade. Fonte: Manual de Inseminação Artificial em Tempo Fixo do Senar/MG

REPRODUÇÃO

Tecnologia na detecção do cio

Medição do consumo de água e alimento de vacas permite identificar o cio com até seis horas de antecedência

Pesquisadora da Embrapa Mariana Magalhães Campo

A variação no consumo e comportamento de ingestão de água e alimento de uma vaca leiteira é capaz de revelar se ela irá entrar no cio com até seis horas de antecedência e garante maior precisão em relação à observação visual na fazenda. Foi o que comprovaram estudos feitos com sensores em cochos e bebedouros eletrônicos que coletam dados sobre o consumo das vacas. A pesquisa foi desenvolvida na Embrapa Gado de Leite, pelo mestrando em Zootecnia Frederico Correia Cairo, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em parceria com a Universidade de Wisconsin-Madison (Wisc), nos Estados Unidos, e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo o pesquisador da Embrapa, Luiz Gustavo Ribeiro Pereira, que orientou as pesquisas, esses sensores permitem identificar variações no consumo de alimento e água, causadas pela manifestação do estro (cio) em vacas leiteiras. Mudança no comportamento alimentar das vacas, quando estão próximas de manifestar o cio, foi a base para o desenvolvimento de modelos computacionais no laboratório do professor João Dórea, da Universidade de Wisconsin. De acordo com ele, esses modelos irão permitir a produção de sensores para a identificação precisa e acurada de cio nas fazendas leiteiras.

Para Mariana Magalhães Campos, coorientadora do estudo e também pesquisadora da Embrapa, a detecção rápida e acurada do cio é fundamental para o planejamento reprodutivo na fazenda. “A pecuária de precisão tem evoluído bastante nesse aspecto e o estudo confirma a possibilidade de inclusão da funcionalidade ‘detecção de estro (cio)’ em cochos e bebedouros eletrônicos”, declara a cientista.

Cairo, agora mestre em Zootecnia, diz que o estudo abre a possibilidade para o desenvolvimento de novos dispositivos e sensores que possibilitem identificar as variações do comportamento hídrico/alimentar causadas pelo estro. “Cochos e bebedouros eletrônicos que geram dados de forma automática ainda não apresentam a funcionalidade de gerar alertas de estro”, relata. Segundo ele, essa funcionalidade seria importante para melhorar o manejo reprodutivo na fazenda, evitando a perda de cios.

Vacas consomem menos no cio

Já era sabido que a manifestação de estro causa redução no consumo e comportamento alimentar. A pesquisa, realizada no campo experimental da Embrapa, em Coronel Pacheco/MG, avaliou como ocorrem essas alterações no comportamento do animal, além de desenvolver e avaliar modelos para a detecção antecipada do cio. Para tal, foram avaliados o consumo de alimento e água em dois ensaios com novilhas Holandês X Gir. A observação visual foi feita três vezes ao dia por 30 minutos (7h, meio-dia e 17h), enquanto o comportamento alimentar/hídrico das vacas era obtido por um sistema eletrônico de cochos e bebedouros. Durante a pesquisa foram observados 99 eventos de estro. Duas séries temporais de sete dias foram coletadas: uma representando sete dias incluindo o dia do estro e a outra por sete dias sem evento de estro.

Com o intuito de desenvolver modelos capazes de detectar o estro com horas de antecedência, as séries temporais foram fracionadas em intervalos de seis horas. Maria-

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