Revista Gestão de Resíduos nº 15

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dade quanto dos custos que serão gerados para o tratamento. “A fim de minimizar a quantidade de chorume nos aterros sanitários, cito, por exemplo, a redução da matéria orgânica colocada para a coleta domiciliar perante o munícipe. Esta conduta irá reduzir substancialmente a quantidade de líquido que será gerada no aterro sanitário”. Ele ainda dá outro exemplo. “A compactação do lixo, seja nos locais de transbordo ou antes de ser aterrado em aterros sanitários, com prensas. Assim o chorume, ainda com valores de contaminação menores, poderia ser tratado com custos inferiores ao chorume captado posteriormente no aterro sanitário, além de reduzir substancialmente o número de drenos e custos com equipamentos, como retro-escavadeiras, escavadeiras hidráulicas e pedra para execução da drenagem”. Devido à grande concentração de resíduos sólidos em decomposição que são destinados e lançados em aterros sanitários, cuidados especiais devem ser tomados para a captação de chorume, uma vez que a ineficiência na captação poderá trazer desastres catastróficos, como deslizamentos do aterro. Algumas dessas ações especiais incluem a implantação de piezômetros nos maciços, para controlar a altura do nível de água no maciço, o que mede assim a eficiência da drenagem executada. Já para Maria Rosí Melo Rodrigues, engenheira sanitarista que faz trabalhos de pesquisas junto com a 3R Ambiental, o chorume deve ser captado em sistemas de dreno, colocados no fundo do aterro e nas suas laterais, para cobrir assim toda a área de disposição dos resíduos que irão se decompor com o tempo. “Partindo destes drenos, seguem em canais até o sistema N° 15 • Julho / Agosto • 2008

de captação e tratamento adequado. Estes drenos e canais devem ser bem impermeabilizados, bem como todo o fundo do aterro, para evitar que haja contaminação do solo com este líquido. Após o tratamento, o chorume é lançado no corpo hídrico mais próximo”. Para captação e envio do chorume do ponto de sua geração até o tratamento, lembra Maria Rosí, o único equipamento que poderá ser necessário é um sistema de bombeamento, caso não se tenha gravidade suficiente para que o fluxo seja realizado naturalmente. “Já para o sistema de tratamento, no caso estudado na minha pesquisa, há necessidade de se instalar bombas para reciclo de lodo, sistemas de aeração por difusores e sopradores de ar, tanques em fibra de vidro com misturadores mecânicos e bombas dosadoras para diluição e dosagem de produtos químicos e ponte raspadora para facilitar a remoção de lodo dos decantadores secundários”. O diretor da Brasmetano, José Marcos Gryschek, dá outra alternativa. “Esse chorume também pode ser recolhido por bombeamento, nos poços de captação do biogás, ou poços especialmente abertos para essa função. Para volumes pequenos como até 100 ou 150 m³/ dia, o processo evaporativo se aplica com vantagens”. Mas ele alerta. “Os sistemas de tratamentos mais eficientes são aqueles que utilizam um pré-tratamento químico e um pós-tratamento biológico. Processos físicos de filtração podem ser adotados como acessórios ao tratamento biológico”. Além das formas tradicionais, outros métodos estão sendo utilizados, como uso de pneus e garrafas PET. Porém se adaptam em aterros de pequenas cidades e, mesmo as-

sim, devem ter inspeção contínua para assegurar a eficiência. Joaquim Neves conta que devido à grande extensão geográfica do Brasil, com diferentes tipos de climas, é necessário um estudo do tipo de tratamento de chorume a ser utilizado para cada município e, por isso, temos variações tanto de vazões quanto do líquido gerado. “O tratamento de chorume atualmente passa por simples lagoas de captação, lagoas facultativas, aeróbicas e anaeróbicas, recirculação, tratamentos físico-químicos, biorreatores de membranas externas, reatores biológicos, processo de absorção com carvão ativado, nanofiltração e osmose reversa e tratamento por evaporação através de evaporadores utilizando como combustível o próprio biogás gerado no aterro. Como vemos, um tratamento eficiente depende diretamente das análises iniciais e dos custos envolvidos em cada projeto, uma vez que a diversidade de tratamentos é muito grande”. Quando um processo é aplicado de forma pioneira a um produto complicado, complexo e difícil como o chorume gerado em aterros, o problema não está na idéia ou no princípio de base, que normalmente são seguros, porque são técnicas conhecidas, originadas em outras aplicações fora da área ambiental. O verdadeiro desafio consiste em garantir a empresa geradora do chorume uma solução tecnológica que funcione 24 horas por dia com total confiabilidade. Porque o chorume, pela característica intrínseca de ser um produto indefinido na composição, oriundo de uma série de processos biológicos, químicos e físicos que acontecem dentro da absurda composição de um aterro, é um elemento difícil de ser tratado e recusa soluções simplistas. Gestão de Resíduos

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