Ebook Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde

Page 1


2

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Rio de Janeiro 2015


4

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECONOLÓGICA EM SAÚDE

Presidente da FIOCRUZ Paulo Gadelha Diretor do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde Umberto Trigueiros Lima Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde Paulo Roberto Borges de Souza Júnior


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

5

A ideia de que o conhecimento científico, de todos os tipos, deve ser compartilhado abertamente tão cedo quanto praticável no processo de descoberta Michael Nielsen


6

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional. FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO CIENTÍFICA E TECONOLÓGICA EM SAÚDE

Revisão e Supervisão Editorial Maria Cristina Soares Guimarães Revisão Linguística e Documental Alessandra dos Santos Rejane Ramos Machado Edição de Vídeo Alessandra dos Santos Paula Chagas Bortolon Diagramação Alexssandro da Silva

Catalogação na fonte: Biblioteca da Fundação Oswaldo Cruz X000x

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas / organizadores: Maria Cristina Soares Guimarães ... [et al.]. --- Rio de Janeiro: ICICT/FIOCRUZ, 2015. 000 p.: il. Inclui referências. ISBN 000-00-000-0000 1. Ciência cidadã. 2. Determinantes sociais da saúde. 3. Risco. I. Guimarães, Maria Cristina Soares (Org.).

000.0 CDD

FIOCRUZ (XX2015-000)


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

7

Sumário SUMÁRIO .....................................................................................................................7 PREFÁCIO ....................................................................................................................8 APRESENTAÇÃO ........................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................10 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................36


8

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Prefácio


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

9

Apresentação

O Seminário ‘Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas’ organizado pela turma de Doutorado do PPGICS 2014, na disciplina Seminários Avançados de Pesquisa I, ministrada pela Prof. Dra. Cristina Guimarães teve a pretensão de, a partir das falas dos Drs. Luis Castiel e Sarita Albagli e da moderação da Dra. Márcia Teixeira, promover o encontro das idéias exploradas na literatura de apoio da disciplina, da experiência dos componentes da mesa, dos anseios e participação dos presentes, e principalmente, dos projetos de pesquisa dos alunos. (Colocar no prefácio)


10

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Introdução A escolha do tema ciência cidadã e determinação social da saúde para o evento emergiu de uma discussão teórica inicial sobre a sociologia do risco, sociedade de risco e o próprio entendimento do significado de risco no seu aspecto positivo da diminuição de incertezas, ignorância entre outros. Alguns autores foram abordados tais como: Stirling (2003), que considera que o entendimento de risco não está separado das condições de incertezas e, se contrasta com os discursos da prevenção e da precaução. Stirling menciona que: “tanto a precaução e a prevenção estão preocupadas com a indeterminação intrínseca, a contingência social e a dependência de trajetórias em processos de inovação tecnológica”. Beck (1997) conceitua “sociedade de risco” como “uma fase no desenvolvimento da sociedade moderna, em que os riscos sociais, políticos, econômicos e individuais tendem cada vez mais a escapar das instituições para o controle da sociedade industrial” (p.15). Já para Giddens (1997) a “sociedade de riscos” introduz novas relações entre formas de conhecimentos, leigos e peritos, em um contexto em que avaliar os riscos se torna imponderável. A complexidade e diversidade de abordagens nos discursos científicos sobre risco, e a busca do entendimento do que seria para a sociedade, outros autores foram elencados nessa reflexão. Inicialmente com Irwin (1995, p.81) quando menciona de que forma as pessoas se sentem em “risco”. Irwin considera que na prática ou na experiência vivida a ocorrência de fatos originam formas de apropriação das diversas áreas do conhecimento. Outro sim, considera também que a construção da ciência se dá a partir da “visão cientifica do cidadão”. (IRWIN, 1995, p.22). Irwin considera que deve-se ter consciência das assunções sociais, ou seja, assumir responsabilidade, apropriar-se, e interagir com o mundo natural


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

11

e social, que estão “subjacentes às descrições científicas de questões de risco”. (p.93) Irwin ressalta que as “comunidades precisam ser ouvidas” (p.155) e serem participantes dos debates científicos. Essa construção não de superioridade aos conhecimentos da ciência, mas sim, uma forma mais equânime de debates, como forma de enriquecer os processos de tomada de decisão. Todas essas formas de lidar com o saber é o que o autor denomina de ‘ciência cidadã’. É importante ressaltar que os pontos abordados na discussão teórica do tema possibilitou um melhor entendimento de risco e o estabelecimento de uma ligação com ciência cidadã. A heterogeneidade dos interesses, temas e problemas de pesquisas dos alunos dessa turma do PPGICS com seus marcos teóricos e caminhos metodológicos convergiram em uma linha transversal de teorias e conceitos sobre risco e ciência cidadã, ampliando seus olhares e perspectivas de abordagem. No entanto, os projetos abordados pelos alunos se inserem mais no contexto da linha de pensamento de ciência cidadã adotado por Irwin, que traz um vínculo de pertencimento, de participação, de solidariedade, de democracia e de civismo. Uma estratégia na qual tanto os especialistas, quanto os próprios cidadãos, possam compartilhar o processo de construção do conhecimento científico, a partir da compreensão das necessidades locais, considerando seus valores e suas diferentes habilidades e experiências, em um contexto multidisciplinar. PAREI AQUI… COMPLETAR e FALTA DETERMINAÇÃO SOCIAL DA SAÚDE link com Sarita e Castiel

A heterogeneidade dos interesses, temas e problemas de pesquisas dos alunos dessa turma, do PPGICS com seus marcos teóricos


12

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

e caminhos metodológicos vieram a convergiram em uma possível linha transversal de teorias e conceitos sobre o risco e da ciência cidadã ampliando seus olhares e perspectivas de abordagem. O grupo de alunos com interesses de pesquisa ligados ao estudo da chamadas doenças da pobreza, da negligência e com propostas de diagnóstico para melhora ou construção de políticas públicas voltadas às populações expostas, compreende o risco como um fenômeno inerente à sociedade, relacionado à incerteza e à vulnerabilidade (física mas também simbólica) e que pede prevenção. É onde a A comunicação do risco hoje se insere: no campo de disputa entre o especialista e o leigo, um momento de tensão onde a compreensão pública da ciência fica comprometida, pois não existe uma relação clara entre a informação científica e sua aplicação na prática cotidiana, surgindo a necessidade de rediscutir o modo como se faz ciência e a construção de estratégias e ferramentas de comunicação científica participativa e colaborativa, que considere os tipos de conhecimentos e percepções desenvolvidos pelos cidadãos. É neste espaço que se insere o termo ciência cidadã discutido por Irwin (1995), onde integrando o compartilhamento do processo de construção do conhecimento científico e seu uso para tomada de decisão. nos termos da ciência cidadã de Irwin. De acordo com o autor, as competências locais não devem estar separadas dos caminhos formais da ciência, ou seja, “as comunidades precisam ser ouvidas”. Essa linha de pensamento difere um pouco das idéias praticadas pela ciência cidadã abordada por Albagli, apesar de reconhecer a importância da participação social na pesquisa científica e do compartilhamento do conhecimento científico, por meio do acesso à ciência aberta. Albagli e col. (2014) adotam uma abordagem mais voltada para os interesses da ciência, onde as pessoas consideradas leigas ou não-especialistas contribuem para o projeto científico disponibilizando seus próprios recursos, como tempo, habilidade, instrumentos, idéias, opiniões. Acrescenta-se ainda, a estratégia de espaços comunitários para a realização e colaboração cidadã nos projetos de pesquisa. Nessa categorização, se pode perceber que os


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

13

interesses não estão aplicados diretamente às necessidades e vozes da comunidade, e sim, à pesquisa científica. Os projetos abordados pelos alunos se inserem mais no contexto da linha de pensamento de ciência cidadã adotado por Irwin, que traz um vínculo de pertencimento, de participação, de solidariedade, de democracia e de civismo. Uma estratégia na qual tanto os especialistas, quanto os próprios cidadãos, possam compartilhar o processo de construção do conhecimento científico, a partir da compreensão das necessidades locais, considerando seus valores e suas diferentes habilidades e experiências, em um contexto multidisciplinar. Ao dar atenção às dinâmicas sociais, como processos que permitem expôr os problemas experienciados localmente e contribuir para equidade em saúde, levando em conta os diferentes modos e formas de vida de comunidades dentro dos mais variados contextos, e em diferentes escalas, surge em alguns temas de pesquisa a necessidade de análise dos fenômenos da interatividade e do compartilhamento do conhecimento científico. Neste sentido, nas redes sociais da internet, a interatividade aparece como força propulsora, pois oferece oportunidade da população participar. Entende-se as redes sociais virtuais como possíveis espaços de pesquisas qualitativas e produção de conhecimento em saúde, além de locais de definição de práticas para as políticas públicas de saúde. Essa possibilidade remete a necessidade de conhecimento sobre a informação indexada, qualificada e organizada em fontes de dados e informação sobre as doenças e agravos, incluindo seus diferentes aspectos, determinantes sociais, a prevenção e redução de seus riscos, o acesso e apropriação dessa informação pela população exposta. A remoção das barreiras de acesso às informações cientificas, objeto do movimento de acesso aberto e na proposta de produção do conhecimento socialmente distribuído, onde a produção científica não se limite aos espaços de laboratório, favorecendo o aumento do impacto social do trabalho dos pesquisadores e a reutilização dos conteúdos, se configura no modo 2 de produção do conhecimento de Gibbons (2002).


14

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Esse tipo de produção resulta na contaminação positiva da comunicação científica pela cultura do compartilhamento. Na perspectiva do abandono de uma visão disciplinar e naturalizada dos processos de saúde observados na interseção dos territórios da saúde, sociedade e meio ambiente, os paradigmas biomédicos influenciados pelas mudanças climáticas e globalização, também se mostram passíveis de análise sobre a ótica do risco e da ciência cidadã. Quando à É o caso da questão da seca que é cultural e cientificamente naturalizada e seus desdobramentos em saúde são ferramentas para vitimização da população exposta. Assemelha-se à esta questão, as “causas” das intoxicações domiciliares por escorpiões que são comunicadas, pelos sistemas de vigilância em saúde, de modo à responsabilização da população exposta. Observa-se aqui o modelo de comunicação de risco pelo amedrontamento e o monopólio de "soluções" pela fala científica tradicional, estereotipada e descontextualizada. Essa visão e uso opressivo do conceito de risco poderiam ser modificados pela criação de agenda para o empoderamento dos atores sociais que trouxesse para discussão, além de abordagem ética e de procedimentos democráticos, as conexões com a heterogeneidade dos contextos, políticos e econômicos, equilibrando a balança da tomada de decisão sobre risco em saúde, hoje ancorada em um operativo instrumental técnico-científico obediente à lógica da racionalidade científica que considera os grupos sociais como ignorantes ou desprovidos de conhecimento. Esse olhar discriminatório da ciência oficial (normal ?) é ainda mais acentuado sobre grupos sociais considerados como “minorias”, como indígenas, populações ribeirinhas, pequenos produtores rurais, povos excluídos do “mainstream" social por sua historicidade, a exemplo dos ciganos e dos nordestinos que convivem com a seca. A determinação de sua da condição de saúde desses grupos e do pouco poder político que se insere em seus contextos socioeconômico, fazem demandam com que ferramentas de comunicação produzidas e


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

15

engajadas com movimentos sociais que garantam a circulação de suas vozes, se configurem como um destacado objeto empírico para pesquisas em comunicação e informação em saúde. E ainda Ainda no campo do tensionamento entre o conhecimento científico tradicional e as chamadas “minorias”, onde é possível a intervenção da ciência cidadã, se configuram como objeto de pesquisa também as políticas públicas voltadas ao povo cigano no Brasil e Portugal. Pressupõe-se que essas políticas sejam traduzidas pelas próprias pessoas ciganas e sua identidade cultural, a expressão de saberes e resistências, a produção, circulação e apropriação de informação e suas relações com as pessoas que trabalham na “ponta” dos sistemas de saúde, onde se concretizaria na prática, o atendimento e atenção universais prevista nos preceitos do SUS. Conforme os argumentos de Irwin "Frequentemente os grupos públicos são tratados como ignorantes e irracionais em relação ao progresso científico" (Alan Irwin, 1995) e de Albagli que questiona o uso da ciência "Quê Ciência? Para quê e para quem?”, como os grupos sociais abordados nestes objetos de pesquisa são vistos ou contemplados mediante o uso e conhecimento científico para seu bem próprio? A renegociação construtiva entre a ciência, as decisões públicas e as necessidades dos cidadãos seria um importante componente da consolidação de um modelo de gestão em saúde orientado para a efetividade do cuidado. Mas para tanto o modelo de governança da informação também deve ser problematizado. A governança da informação como prática de democracia participativa, onde a informação deve ser livre para as pessoas sem restrições legais, tecnológicas ou sociais privilegiando investigações científicas, que de fato auxiliem problemas concretos cunhados em necessidades identificadas promoveria a recolocação da importância do uso do dado e da informação, dos fluxos e processos em detrimento ao estoque e armazenamento de informações, o que implicaria também em rever a noção de ‘abertura’.


16

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Considerando que a comunicação da ciência deve ser vista como elemento necessário para construção do sentido social e da tomada de decisões, seja individual ou coletiva, assim como para a formulação de políticas públicas, questões referentes às diferenças de grau de desenvolvimento da sociedade e organização social devem ser reconhecidas no processo de transformação e tradução da ciência. Abordagem das pesquisas As propostas das pesquisas se relacionam a temas diversificados, que têm em comum a ciência, a saúde e o cidadão, trazendo os valores sociais emergentes para o delineamento do conhecimento científico e a construção de novas políticas públicas. Os temas das 11 pesquisas abordadas se referem a: Informação sobre Doenças em Populações Pobres; Comunicação Científica Através de Práticas Interativas na Internet; Uso da Informação Científica nas Redes Sociais da Internet; Uso e Gestão da Informação em Saúde; A Comunicação e a Informação sobre o Escorpionismo no Brasil; Compreensão dos Impactos da Seca sobre a Saúde; Programa Saúde na Escola e violência: uma análise dos veículos de comunicação online e redes sociais; Políticas Públicas para uma Minoria Tradicionalmente Excluída: os ciganos; nome da pesquisa de Marina; Gestão de Riscos; nome da pesquisa de Renato. OBS.: A PARTIR DAQUI (SUGERIDO RETIRAR E DEIXAR SOMENTE O TEXTO ACIMA), TODOS DEVERIAM REVISAR SUA PARTE PARA VER SE FOI CONTEMPLADO. Rejane Partindo do princípio que em uma sociedade dita normal a ciência está distanciada da sociedade, existe então uma diversidade de abordagens sobre o tema ciência cidadã e determinação social da saúde. Assim, os diversos caminhos de entendimento desse tema leva à busca de conceitos teóricos e ou construídos na prática, na dimensão da ciência, da tecnologia que está ligada às relações interpessoais, do comportamento institucional, entre outros.


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

17

Nesse cenário, pode-se considerar que a compreensão pública da ciência fica comprometida quando não existe uma relação entre a informação científica e a prática. Portanto, pode-se afirmar que existem competências e conhecimentos locais nos variados contextos, que não devem estar separados dos caminhos formais da ciência. Para Irwin, as “comunidades precisam ser ouvidas” (IRWIN, 1995, p.155) e serem incluídas e participantes dos debates científicos. Essa construção, não de superioridade aos conhecimentos da ciência, mas sim, uma forma mais equânime de debates, é essencial como forma de enriquecer os processos de tomada de decisão. Uma questão mencionada por Castiel é a determinação social do risco. De que forma as pessoas se sentem em risco. Na prática ou na ‘experiência vivida’ mencionada por Irwin (1995), a ocorrência de fatos origina formas de apropriação das diversas áreas do conhecimento. Para o autor, o que vale é o compromisso de tratar risco não como uma coisa perigosa e opressiva, com desfecho negativo, mas sim, o que produz inovação, que nos tira da caixa, e nos dá possibilidades de fazer outras propostas. Os fatores de mudança nos fazem inovar, dando uma nova ordem de movimento, com vida própria. Ambos os autores, Castiel e Albagli, consideram que atualmente se discute o modelo de desenvolvimento que está sendo proposto, ou seja, a ciência cidadã que é diferenciada da ciência democrática. Quanto ao risco, o seu entendimento não está separado das condições de incertezas e, se contrasta com os discursos da prevenção e da precaução. Stirling menciona que: “tanto a precaução e a prevenção estão preocupadas com a indeterminação intrínseca, a contingência social e a dependência de trajetórias em processos de inovação tecnológica”. Apesar do contraste possuem “tendências semelhantes em relação à ampliação do engajamento metodológico institucional e sóciocultural”. Com esse olhar, os dois princípios “oferecem a perspectiva de tecnologias socialmente mais ajustáveis”. (STIRLING, 2003, p.25) Consoante com o exposto, o que se pretende discutir no projeto de pesquisa sobre ‘Informação sobre Doenças em Populações Pobres’ é


18

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

a necessidade de se conhecer a informação que está indexada, qualificada e organizada em fontes de informação sobre as doenças, incluindo a prevenção e redução de riscos, para ser acessada pelos cidadãos de um modo geral. São informações que contém formas de prevenção e controle das doenças, pela população em estado de pobreza. Dito de outra maneira, o que se está discutindo é sobre o uso social da tecnologia de forma sustentável, adaptada, ou adequada que possa fornecer informações sobre saúde. Entendendo que, em uma sociedade democrática as tecnologias voltadas para os cidadãos devem resultar da escuta das demandas desses atores, e não ficar restrita tão somente a profissionais especializados. Com isso, espera-se obter como resultado uma mudança na relação do governo com o cidadão. O cidadão que passa a ter possibilidades de exercer a sua cidadania, a partir do entendimento de informações de seu ambiente aliado às articulações de ideias. Além disso, a ciência cidadã deve ser feita com rigor, com qualidade, onde se ouve os atores e se preocupa em fazer com que a demanda desses atores seja traduzida em proposições ou sugestões, para melhorar as tecnologias que vão disseminar as informações em vista das necessidades e da importância, no cenário local a partir da compreensão desse cenário. Alessandra Inicialmente, o norte das reflexões para este seminário foi o conceito de “risco”, de Andy Stirling (2003), que defende que o risco é inerente à sociedade que estamos vivendo, que é algo relacionado à incerteza, à ignorância, e que pede prevenção. Levando em consideração esse conceito, como o risco poderia dialogar com o objeto de investigação relacionado ao Plano Brasil Sem Miséria (BSM), que se refere à ‘Comunicação Científica Através de Práticas Interativas na Internet’, usando avaliações de tipo bottom-up? Como observado, a comunicação pode ser vista, ela mesma como um risco, pelo modo como ela tenciona o fluxo e suas práticas de comunicação. Quando avaliamos a sua relação com a sociedade e a tomada de decisão, essa “comunicação de risco” entraria no campo do


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

19

conflito do especialista/expert e do leigo/desinformado. O maior risco desta pesquisa seria então, tentar mostrar como isso acontece. Após reflexões sobre alguns conceitos que se relacionam com o empoderamento; e que trazem um vínculo de pertencimento, de participação, de solidariedade, de democracia e de civismo, chegou-se ao conceito de ciência cidadã, defendido por Alan Irwin (1995). Ao aproximar este projeto do conceito abordado sobre ciência cidadã, acredita-se que a estratégia de uma comunicação científica participativa e colaborativa, distribuída nas redes da Internet, seria uma estratégia na qual tanto os especialistas, quanto os próprios cidadãos, possam compartilhar o processo de construção do conhecimento científico, considerando suas diferentes habilidades e experiências, em um contexto multidisciplinar. Esta participação conjunta, tem como propósito diminuir ou solucionar um determinado problema da sociedade. Isso iria de encontro ao que afirma Michael Gibbons (2002), em seu “Modo 2 de produção de conhecimento”, quando fala sobre a produção do conhecimento ser cada vez mais um processo socialmente distribuído. Dessa forma, como este projeto está inserido no contexto da comunicação e da informação sobre as doenças negligenciadas, do programa BSM, ressalta-se a tarefa de dar atenção ao processo social e às dinâmicas sociais da determinação social. Um processo que permite expor os problemas experienciados localmente e contribuir para uma equidade em saúde sustentável, levando em conta os diferentes modos e formas de vida de comunidades dentro dos mais variados contextos, em escalas macro, mezzo e micro (SPIEGEL et al, 2015). Esses são, portanto, alguns dos grandes desafios deste projeto de pesquisa, porque trazem novos elementos para se pensar a ciência e a construção do conhecimento, como por exemplo, as discussões no âmbito das inovações, ou nas disputas e na interlocução da ciência com outros saberes, outros atores cognitivos e outros espaços-tempos. Paula Ainda tendo levando em consideração o uso da internet para disseminar o conhecimento, o tema de pesquisa ‘Uso da Informação


20

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Científica nas Redes Sociais da Internet’ reflete sobre o seguinte argumento. A Ciência pode ser entendida como uma descrição de uma realidade que se concebe, para fins de replicação. Uma forma de representar, com objetivos práticos, algo que imaginamos enquanto indivíduos ou grupos. Ela é uma das formas, mas não a única forma de conhecimento, produzida pelo homem ao longo de sua história, sendo determinada pelas condições materiais do homem. Araújo (2010) lembra que, em sociedades mais remotas, a ciência se traduzia como uma tentativa do homem de compreender e explicar racionalmente a natureza, que muda de tempos em tempos. Na sociedade contemporânea, estamos diante de um novo contexto político, no que tange ao conhecimento. Vivenciamos uma necessidade de rediscutir o modo como se faz ciência, para quem, com que olhar e com quais indagações. Considerar os tipos de conhecimentos e percepções desenvolvidos pelos cidadãos, em face das afirmações de verdade da ciência, se faz necessário. É justamente neste espaço, que considera o conhecimento dos cidadãos e inclui sua participação no debate científico, que atua a ciência cidadã, buscando justamente resgatar outras formas de conhecimento não especializados e, parece ser um bom caminho para uma ciência mais aberta e participativa (IRWIN, 1995). A resposta sobre como os grupos de cidadãos podem ser ativos no processo de disseminação e de desenvolvimento do conhecimento implica que se entenda as diferentes formas de conhecimento, elaboradas por estes grupos de cidadãos e, não apenas pelos modos institucionalizados de se fazer ciência (IRWIN, 1995). Para Albagli (2014), a ciência cidadã também inclui iniciativas de crowd science, relacionadas tanto à busca de contribuições de variados tipos junto a não-cientistas para ajudar na pesquisa, até iniciativas voltadas para ampliar a participação social nos rumos da ciência. Para a pesquisadora, a interação entre cientistas e cidadãos, por meio da internet, na qual indivíduos não especialistas podem colaborar com suas opiniões e ideias, também é ciência cidadã.


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

21

Nas redes sociais da internet, a interatividade aparece como força propulsora neste sentido, pois, como neste ambiente não há distinção de raça, cor, credo, ou grau de conhecimento/instrução formal, a oportunidade de se manifestar é igual para todos. Assim, amplia-se a possibilidade da população participar na resolução de seus problemas e produzir conhecimento coletivamente: uma parte aprende com a outra (cientistas e leigos) e ambas podem ser beneficiadas com isso (SANTOS, 2007). É nesta perspectiva que entende-se as redes sociais virtuais como possíveis espaços de pesquisas qualitativas e produção de conhecimento em saúde, além de poderem ser locais de definição de práticas para as políticas públicas de saúde. Vanessa Quanto ao projeto de tese cujo tema é o ‘Uso e Gestão da Informação em Saúde’ para a tomada de decisão em prol do aprimoramento do cuidado hospitalar, parte do pressuposto de que a consolidação de um modelo de gestão em saúde orientado para a efetividade do cuidado pode utilizar como um dos métodos, a governança da informação e a tecnologia da informação em saúde. Esta governança seria expressa, sinteticamente, pela combinação entre o uso contínuo e sistematizado de informações em saúde pelos gestores e os processos adequados de planejamento, controle e processamento, através do ciclo de vida da informação. Esta combinação de fatores tem como intuito produzir informações, subsidiar e qualificar a tomada de decisão, reorientar as práticas e o cuidado em saúde e reestruturar os serviços de saúde. Nos temas abordados no seminário, a ‘governança’ é citada direta ou indiretamente mediante perspectivas diferentes. Albagli cita a governança como estilo de governo que adota na prática a democracia participativa, ainda utópica, com uma participação que, a partir de uma interlocução não hierárquica, admite a contribuição de voluntários, não especialistas, que detém uma compreensão do território local a partir do uso do desagregado – ‘smalldata’. O contexto desta fala está situado no conceito de ciência cidadã (ALBAGLI, 2014) propondo que o conhecimento científico deve ser livre para as pessoas usarem,


22

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

reutilizarem e distribuírem sem restrições legais, tecnológicas ou sociais. Há uma recolocação da importância do uso do dado e da informação, dos fluxos e dos processos, em detrimento ao estoque e armazenamento de informações, o que implica também em rever a noção de ‘abertura’, assim como de hierarquias, autoridades e as relações de poder. É um argumento que tem articulação ao que se propõe estudar como objeto de tese em torno da proposta conceitual de governança. Albagli evidencia também o conceito de ‘justiça cognitiva’, proposto por Santos (2010), que pressupõe superar a dominação e a exploração causadas não apenas pelo controle do modo de produção materialista, mas também pelo controle dos meios de produção do conhecimento, patrocinadas pelo favorecimento do modo de fazer científico hegemônico, pelo exercício do poder político do Estado regulador que, usualmente, contingencia a sociedade por meio de um pensamento abissal. Castiel, por sua vez, problematiza a ‘comunicação de risco’ e o entendimento público da incerteza (STIRLING, 1999) em Saúde Pública. Explora que a noção de risco cunhada pela Epidemiologia clássica elimina a incerteza, reduz a importância do contexto e supervaloriza a prevenção. De tal modo, propõe que a comunicação de risco seja utilizada de forma a usar a informação para empoderar agentes estatais ou não, sem restringir aquilo que é informado ou focado num causalismo e linearidade originados da epidemiologia clássica. O enfoque do uso da informação para decisão e ação, também se associa ao objeto deste pretendido. Relaciona-se assim à uma noção de governança caracterizada por um maior grau de interação e cooperação entre Estado e atores não estatais, no interior de redes decisórias mistas entre o público e o privado. É esta noção utilizada também pela Epidemiologia crítica proposta por Jaime Breihl, fruto das leituras da disciplina. Por fim, Irwin (1995) também contribui ao indicar um momento de busca e renegociação construtiva entre a ciência, as decisões públicas e as necessidades dos cidadãos. Acredita-se que para a


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

23

condução do sistema de saúde é preciso compreender a situação de saúde do local gerido, os problemas de saúde prioritários e as necessidades de saúde. De tal modo, a associação entre o Estado, as necessidades dos cidadãos e a ciência faz-se imprescindível no sentido de financiar investigações científicas que, de fato auxiliem problemas concretos cunhados em necessidades identificadas. Neste contexto, é importante esclarecer que a disciplina, as leituras e o seminário iluminaram o desenvolvimento deste projeto de tese, a partir das quatro vertentes (citadas acima), diferentes em seu nível de especialidade e de logos, porém relacionadas, na amplitude de sua aplicação e práticas, a temas relacionados à saúde e gestão da saúde em questão. Claudio Na proposta de pesquisa sobre ‘A Comunicação e a Informação sobre o Escorpionismo no Brasil’, o cenário apresentado no Seminário motiva ao abandono de uma abordagem puramente especializada para dar alcance à adoção de um olhar interdisciplinar, na tentativa de aprofundamento no entendimento dessa problemática. Se define escorpionismo como o agravo de saúde produzido no contato do homem com um escorpião e quando há inoculação de veneno e um conjunto de manifestações fisiopatológicas e clínicas que seguem esse fenômeno. Esses eventos deflagram no sistema de saúde respostas sob a forma de ações de atenção básica; da saúde coletiva; de vigilância ambiental. A base dessas ações são os dados dos sistemas oficiais de informação em saúde e em estratégias pré definidas e padronizadas de comunicação. Embora o Brasil seja um dos países com maior e mais sólida tradição na produção de conhecimento científico sobre diferentes aspectos biomédicos envolvidos no escorpionismo, suas curvas epidemiológicas em ascenção ininterrupta parecem indicar a incoordenação (no mínimo), ou um profundo hiato (em uma visão mais crítica) entre o arcabouço teórico-conceitual-metodológico utilizado na construção da política de enfrentamento ao problema e as reais necessidades, o contexto e as determinantes (determinações?) sociais envolvidas na dinâmica desse agravo (BRASIL, 2009).


24

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Olhar o escorpionismo como objeto de pesquisa e como um problema atual de saúde, considerado em seus aspectos individuais, sociais e ambientais, não parece possível com as ferramentas da ciência biomédica clássica, pois estas não oferecem fundamentos teóricos suficientes para entender a amplitude desses novos problemas (FUNTOWICZ e RAVETZ, 1997). Esse cenário motiva ao abandono de uma abordagem puramente especializada para dar alcance à adoção de um olhar interdisciplinar, na tentativa de aprofundamento no entendimento dessa problemática. (essa frase foi colocada no primeiro parágrafo) Muito da percepção científica sobre as causas desse agravo se apoia em questões da biologia reprodutiva do agente etiológico e sua capacidade de dispersão em áreas urbanas (BRASIL, 2009), resultando em práticas de enfrentamento que não observam a significância do “ir em frente”, sem saber exatamente qual o resultado da jornada ou a porosidade de experiências e vivências da sociedade, permitindo a “moldagem” de pensamentos e ações. O enfrentamento do escorpionismo é considerado, portanto, um processo permanente de ajustes e apropriação de outros saberes, o “libertar de vozes" de Irwin (2015). Essas vozes, neste estudo sobre escorpionismo, são as das pessoas diretamente afetadas pelo "problema da natureza” (dentro da perspectiva de que sociedade é natureza e natureza é sociedade (Beck, 1992 apud Irwin, 2015)). Aqui, desenha-se a possibilidade de diálogo desta proposta com a ciência cidadã. …” Nas palavras de Kuhn “ciência normal” significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas [paradigmas]. Essas realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica como proporcionando os fundamentos para a sua prática posterior…esse empreendimento parece ser uma tentativa de forçar a natureza a encaixar-se dentro dos limites preestabelecidos e relativamente inflexíveis


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

25

fornecidos pelo paradigma”… (Kuhn, 1978 apud Oliveira Mendonça, 2012, p. 537 e 538).

Não se aplica no discurso acadêmico corrente sobre o escorpionismo no Brasil, o conceito de determinantes sociais ou de saúde. As estratégias atuais de comunicação do risco sobre o escorpionismo são baseadas no “biopoder" e são utilizadas como método de culpabilidade e transferência de responsabilidade. Esse modelo também não nos basta. Comungamos da necessidade do engajamento da população envolvida e interessada nesse agravo e a criação de uma comunidade ampliada de pares para o estabelecimento do diálogo sobre a qualidade e a avaliação crítica das políticas públicas voltadas para um enfrentamento real do risco do escorpionismo, minimizando suas incertezas e promovendo a garantia ao direito à saúde, nosso preceito constitucional (FUNTOWICZ e RAVETZ, 1997; POPAY et al., 2007). Aderita Ainda em se tratando de uso e gestão de informação em saúde, para relacionar os temas de ciência cidadã e de determinação social com o objeto de pesquisa referente à ‘Compreensão dos Impactos da Seca sobre a Saúde’ e como estes impactos contribuem para o aumento da pobreza das populações que vivem na região do semiárido brasileiro, é importante problematizar algumas questões. A seca no semiárido é recorrente e de longa duração e ocorre numa região onde a população já é seriamente afetada por outros determinantes sociais, ambientais, econômicos e políticos, o que possibilita aumentar tanto as vulnerabilidades e os riscos da população em adoecer, quanto as desigualdades sociais. A ciência aberta significa que o conhecimento científico seja livre para o público em geral usar, reutilizar e distribuir, sem restrições legais, tecnológicas ou sociais, considerando que “o uso do conhecimento é importante para a defesa do bem comum, o fortalecimento da cidadania e a construção de sociedades mais justas e sustentáveis” (ALBAGLI et al, 2014). Esse discurso tece com o discurso da ciência cidadã, que deve ser desenvolvida e posta em prática pelos próprios cidadãos, num processo midiático e dialógico entre o


26

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

conhecimento científico e os seus próprios saberes na construção de novos conhecimentos, a fim de satisfazer suas necessidades e preocupações (IRWIN, 1995). Quanto à abordagem sobre risco, este deve ser visto como um fator decisivo e oportuno para o movimento de construção do processo de determinação social da saúde, e não somente como um fator de perigo (STIRLING, 1999; CASTIEL et al, 2010). Dessa forma, o risco e seus aspectos ambientais e sociais são elementos importantes para o entendimento da produção social sobre o processo saúde-doença-cuidado, assim como, para subsidiar a população na busca de seus direitos para uma nova realidade, no âmbito da promoção da saúde (IRWIN, 1995; CASTIEL et al, 2010). Neste contexto, a comunicação da ciência deve ser vista como elemento necessário para construção do sentido social e tomada de decisões, individuais e coletivas, tanto no âmbito da participação social, quanto na formulação de políticas de governo (ADDISON, 2009). Portanto, questões problematizadoras frente ao este objeto de pesquisa se referem a: a) Existe acesso livre ao conhecimento científico, de forma equitativa, justa e sustentável, para as populações que não dispõem de recursos tecnológicos, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida e saúde dessas populações?; b) Como engajar a participação social dessas comunidades na construção de um novo conhecimento, ou de um processo de mudança social, se elas não têm oportunidade de acesso ao conhecimento científico, principalmente, quanto ao processo de determinação social dos riscos que impactam em sua saúde? É importante reconhecer essas limitações, mas também entender que essas abordagens seriam significativas e estimuladoras para um processo de desenvolvimento sustentado nas comunidades do semiárido brasileiro. Monica O seguinte objeto de pesquisa, que também aborda determinado grupo específico, ‘Programa Saúde na Escola e violência: uma análise dos veículos de comunicação online e redes sociais’ relacionado ao Programa Saúde na Escola (PSE), política pública do Plano BSM no eixo de acesso aos serviços, visa, entre outras coisas, enfrentar as


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

27

vulnerabilidades que podem comprometer o desenvolvimento de crianças e jovens que estão nas creches e escolas da rede pública de ensino brasileiro. Será incluído também no projeto o Plano Juventude Viva, ligado ao PSE (BRASIL, 2015), que reúne ações de prevenção para reduzir, especialmente, a vulnerabilidade de jovens negros em situações de violência física e simbólica. A relação da determinação social da saúde com este projeto de pesquisa fica implícita quando se pensa em um universo estimado em 24 milhões de beneficiários do Programa Bolsa Família, e nos fatores de risco que podem enfrentar em seu cotidiano. São jovens que podem estar em situação de exposição à violência, que muitas vezes vivem em comunidades dominadas pelo tráfico, com precárias condições de saneamento básico e de habitação, e frágeis vínculos de emprego de seus familiares. Vulnerabilidade pressupõe risco. No contexto da pesquisa, a violência é um dos fatores de risco para os jovens. Segundo o Mapa da violência 2014 - Os jovens do Brasil, “… os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil, e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos” (BRASIL, Mapa da Violência, 2014, p.9). Beck (1997) conceitua “sociedade de risco” como “uma fase no desenvolvimento da sociedade moderna, em que os riscos sociais, políticos, econômicos e individuais tendem cada vez mais a escapar das instituições para o controle da sociedade industrial” (p. 15). Já para Giddens (1997) a “sociedade de riscos” introduz novas relações entre formas de conhecimentos, leigos e peritos, em um contexto em que avaliar os riscos se torna imponderável. No que se refere, portanto, à relação deste projeto de pesquisa com a Ciência Cidadã, segundo Irwin (1998), as pessoas possuem competências para atuar nos contextos em que desenvolvem suas atividades. Sendo assim, podem desempenhar um papel ativo. É possível, como questiona Irwin, que possam surgir relações novas de


28

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

conhecimento, que também incluam os cidadãos, na sociedade moderna tardia? Considerando os diversos saberes, a análise de conteúdo dos veículos comunicacionais online do PSE sobre violência pode proporcionar voz aos jovens, suas famílias e comunidades e aos profissionais de saúde e educação que com eles trabalham. As redes sociais são privilegiadas neste sentido, pois, através delas, pode ser possível uma troca compartilhada de informações sobre os temas do Componente 2 do PSE: Promoção da saúde e prevenção (a ser priorizado na pesquisa), e dos temas da Linha de ação: Promoção da cultura de paz e prevenção das violências. Cabe destacar ainda em relação à Ciência Cidadã e à equidade, alguns aspectos que são relevantes para a pesquisa. Os atores trazem para a cena da prática comunicativa em saúde: “... relações de poder, condições de vida, expectativas ... saberes e redes de pertencimento que, associados aos contextos situacionais, definem as possibilidades de circulação, compreensão e apropriação, básicas para qualquer estratégia comunicativa” (Araújo e Cardoso 2007, p.65).

Aluizio As três frases a seguir, sintetizam a força conceitual do que foi elaborado no seminário, principalmente, a qualidade das abordagens acerca do papel da ciência e sua relação com a cidadania, as quais enriquecem a experiência de trabalho frente ao objeto de pesquisa referente às ‘Políticas Públicas para uma Minoria Tradicionalmente Excluída: os ciganos’. "Frequentemente os grupos públicos são tratados como ignorantes e irracionais em relação ao progresso científico". (Alan Irwin, 1995)


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

29

"Quê Ciência? Para quê, para quem? O que tem que se abrir é a ciência. Os cientistas é que devem dialogar!" (Sarita Albagli, 2015) "A Ciência que nega a magnitude do outro não se sustenta". (Luis Castiel, 2015). É de muito valor a discussão intelectual que foi feita ao longo do curso, proporcionadas pelas leituras, principalmente, a visão da Ciência Cidadã, trazida por Alan Irwin (1995), cuja proposta põe em foco não apenas a teoria, mas também a intervenção (prática), na construção de uma ciência que, ao mesmo tempo, tem como ponto de partida, e é feita com a participação dos grupos pesquisados (no caso, o cidadão). Para Irwin, é fundamental que discutamos a relação entre os grupos públicos e a ciência, mas não apenas da perspectiva da racionalidade científica, puramente que tem se tornado ambígua e contraditória, na medida em que considera os grupos sociais como ignorantes ou desprovidos de conhecimento e fornece esses padrões como uma moldura para o pensamento social. Contrapondo esta realidade, seria necessário construir ‘um equilíbrio mais justo entre a especialização científica e as necessidades e conhecimentos dos cidadãos’. Na opinião do autor, "essa forma de racionalidade pode nos impedir de ver modos alternativos de nos valorizarmos e de valorizarmos o mundo que nos cerca", especialmente no caso desta pesquisa, onde o pesquisador está completamente imbricado na cultura das pessoas que pesquisa, pois, por um lado, é cigano, e, por outro, atua profissionalmente na circulação (comunicação) das políticas públicas de saúde do Ministério da Saúde. Neste cenário, foram consideradas as reflexões preciosas feitas pelos palestrantes Sarita Albagli e Luis Castiel. As falas deles, a mediação feita pela professora Márcia Teixeira e o rico debate que se seguiu, certamente permitiram novos horizontes epistemológicos (teórico-metodólogicos), ampliando o leque de perspectivas ao tema e objetivos desta investigação, que enfoca as práticas de comunicação (divulgação, circulação e apropriação) de políticas públicas de saúde


30

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

para ciganos no Brasil. Nesta investigação também será feita uma comparação com o mesmo processo em Portugal. Albagli, por exemplo, expôs várias questões que tangenciam essa problemática (que Irwin toca), na qual se instala junto às mediações e estratégias dos grupos ciganos, primeiro na sua formulação e, depois, na apropriação das políticas públicas de saúde. Um deles é a tensão existente entre os conhecimentos especializados e os conhecimentos tradicionais. A autora ainda apontou para o fato de que, atualmente, vivemos um novo processo de conhecimento, que discute a livre circulação de informação e conhecimento, para além das redes, revelando o prisma de uma ciência aberta e em construção em todos os sentidos, ampliando as possibilidades aos grupos sociais. Nesta visão, há também a preocupação do estabelecimento de um diálogo que amplia a proximidade entre a ciência e cientistas de outros saberes (que não científicos) e campos sociais, na sinergia e articulação de outros conhecimentos possíveis, possibilitando voz a outros autores. Neste sentido, segundo Albagli, poderíamos falar em duas vertentes da Ciência Cidadã: "contribuição dos não-especialistas para ciência; e participação e empoderamento cidadão, aliado a cogestão dos processos". Castiel aponta para a necessidade de revalorização dos contextos na relação entre a ciência e a sociedade. Partindo desta premissa, pensar o termo cidadão, é essencialmente, pensar o termo consumidor, já que ambos se relacionam. E, mais que isso, é necessário problematizar a ciência, ou seriam - levando-se em conta a amplitude do conceito e as ramificações disciplinares, - as ciências? Levando em conta essas questões, que emergiram no seminário e durante as discussões em sala de aula, observa-se que ao mesmo tempo, que o pesquisador deste tema que é sujeito e objeto da pesquisa, pois atua como cigano e como profissional da comunicação e saúde, está então em suspenso como pesquisador da própria realidade. Portanto, deve-se prestar atenção nessas reflexões para tentar colocar em prática uma ciência aberta e cidadã, inclusive na etapa de campo, ouvindo esses


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

31

os dois lados, pois eles estão em contato diário com a prática, ora com os familiares ciganos e os temas que os afligem enquanto um grupo étnico, tanto no Brasil, quanto em Portugal; ora como trabalhador da saúde, que convive com as dificuldades do Sistema Único de Saúde (SUS). Mais que isso, é preciso também partir do ponto de vista dos ciganos. Neste sentido, se propõe a seguinte pergunta, que se traduz em desafio: se como Irwin afirmou, "é preciso construir uma visão da ciência da perspectiva dos cidadãos, em vez de uma visão científica dos cidadãos (considerados ignorantes, mal orientados, ou simplesmente adversários)", como deve ser a construção desta pesquisa que dialoga com ciganos, grupos que durante os mais de 500 anos de contato com o Ocidente nunca conseguiram conquistar a identidade cidadã? Dito de outro modo: como falar de ciência cidadã com pessoas que, de fato, nunca foram tratadas como cidadãos, com todos os direitos e deveres, que ai se enquadram? Ou como diria Irwin (1995): "De que forma será possível fazer ouvir suas vozes? (neste caso, grupos ciganos que sempre foram marginalizados e excluídos, tendo sua cidadania negada, silenciada e seus saberes apagados?) Quais consequências para instituições e processos sociais (políticas de saúde e sua circulação e apropriação pelos grupos ciganos)? Sem esgotá-las, mantenho em pauta a possibilidade de que na pesquisa de campo, se não respondê-las, ao menos iluminar alguns de seus ângulos, para que de alguma forma sejam traduzidas pelas próprias pessoas ciganas e sua identidade cultural, que expressa saberes e resistências, bem como nas relações das pessoas ciganas com as pessoas que trabalham na ponta da saúde, concretizando o atendimento na prática. Afinal, como destaca Raymond Willians (apud Irwin, 1995), ao falar sobre a cultura vulgar, e que Irwin relaciona à cultura tecnológica, como oportunidades para uma reaproximação entre a ciência, a cidadania, a democracia e a vida cotidiana: "Cultura são significados comuns, produtos de todo um povo, e significados


32

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

individuais propostos, produto de toda experimentação empenhada, pessoal e social de um homem. É estúpido e arrogante supor-se que qualquer destes significados pode, possivelmente, ser descrito; eles obtêm-se vivendo, numa alteração constante que não é possível prever". (Willians, apud Irwin, 1995) Marina O seguinte objeto de pesquisa referente à....(nome da pesquisa de Marina) delineia também uma temática que aborda aspectos culturais e políticos de grupos específicos. As diversas etapas de construção do Seminário trouxe a compreensão de algumas definições. Um exemplo foi a discussão trazida por Irwin (1995) sobre a função social da ciência, as configurações dos processos de construção do conhecimento científico nas sociedades ocidentais e suas relações com os processos sociais do neocolonialismo (Sousa Santos, 2006). Tais reflexões mobilizaram o interesse na compreensão do contexto e do papel do objeto empírico da proposta de estudo desta tese, tais como, documentários e vídeos que são produzidos em um conjunto de experiências e espaços de articulação, que envolvem instituições e pesquisadores que vêm atuando de forma engajada junto com movimentos sociais do campo, da floresta e das águas. Tais populações são ameaçadas, dentre outras coisas, pela expansão do agronegócio, mais especificamente, por problemas de saúde relacionados aos agrotóxicos, ao mesmo tempo em que são envolvidas com alternativas de agroecologia. Neste cenário, os pesquisadores assumem uma proposta de ciência cidadã com práticas engajadas e adoção da pesquisa-ação. Tratase de uma concepção simultaneamente oposta e complementar à ciência clássica ou normal, na medida em que se propõe a confrontar as complexidades, reconhecer as incertezas, os interesses políticos e as concepções de sociedade em jogo. Tal concepção articula os sujeitos


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

33

produtores de conhecimento através de conceitos como ecologia de saberes (Sousa Santos, 2006), e que se vincula à ideia de uma “comunidade ampliada de pares” (Funtowicz e Ravetz, 2008) ou de “pesquisa-ação” (Porto, et al., 2012). É nesta perspectiva que este estudo pretende compreender até que ponto os documentários e vídeos produzidos neste contexto contribuem para a realização de uma ciência sensível e ética, quando os mesmos circulam para uso e publicação de dados de interesse da sociedade. Na fala de Albagli, ela ressaltou, sem desqualificar a importância das mudanças na maneira de se praticar a atividade científica, que são as relações entre ciência e sociedade – mais especificamente entre saber e poder – que precisam ser aprofundadas. Nesse sentido, a transformação mais relevante a ser feita não se daria no plano da ciência em si – esta sempre em movimento -, mas na forma como a sociedade a aplica em função do nível democrático existente. Para a autora este movimento em direção a uma ciência aberta parece ser uma tendência irreversível, pois cada vez mais a sociedade entende que processos democráticos só podem se dar em ambientes de transparência. Neste âmbito, os movimentos sociais, assim como os do campo, floresta e águas, sujeitos desta pesquisa, têm no uso de dados abertos, uma importante ferramenta para analisar o contexto em que vivem e melhor embasar suas reivindicações por direitos. Além disso, a publicação de dados produzidos por eles permite que sejam contadas histórias distintas daquelas oficiais (Tygel, 2015). Na reflexão desenvolvida pelo professor Castiel, ele também aponta para a necessidade de revalorização dos contextos na relação entre ciência e sociedade. Porém, argumenta que aspectos da insegurança que atingem as sociedades contemporâneas formam uma questão pertinente no âmbito da saúde pública, sendo que as instâncias de informação e comunicação pública fornecem e divulgam conteúdos importantes ligados aos riscos à saúde. Ele defende que numa perspectiva democrática há a necessidade do desenvolvimento de uma ética global voltada para problemas de saúde pública que enfatize as


34

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

desigualdades e vulnerabilidades sociais de parcelas expressivas das populações em escala mundial. A partir destas argumentações e algumas leituras complementares, pode-se concluir temporariamente, que para enfrentar os desafios e contradições das iniquidades em saúde, seja necessário revelar como certas abordagens deixam de questionar os procedimentos de produção e reprodução das iniqüidades, como parte constitutiva do sistema-mundo capitalista, já que velam a compreensão de processos sociais mais profundos que conformam as determinações sociais e suas manifestações no campo da saúde. Alexssandro Quanto à aproximação dos temas abordados no Seminário com o objeto de pesquisa que tem como temática ‘Gestão de Riscos’, em um primeiro momento, apresentava-se como utópico, pois seria impensável possibilitar que os atores usuários pudessem participar das decisões de um campo que sua eficácia é predominantemente instrumental tecnocientífica, com processo decisório alicerçado na relação entre probabilidade e severidade do desfecho inadequado. Ao apropriar-se da ideia de riscos apresentada por Stirling (1999; 2003), da ciência pós-normal de Funtowicz e Ravetz (1997; 2008), da nova produção de conhecimentos de Gibbons (2002) e dos mecanismos de engajamento público de Rowe e Frewer (2005), aguçouse a percepção de produzir ciência implicada em uma cultura do compartilhamento, onde os conceitos são construídos da heterogeneidade dos atores. Nesse contexto, uma nova agenda precisaria ser criada, de forma que o empoderamento favorecesse um conceito menos opressivo de riscos, que trouxesse para discussão as inevitáveis conexões com o atual contexto social, histórico, político e econômico. Percebe-se ainda, que o projeto de pesquisa com a inclusão desse novo olhar, ao trazer para a discussão os atores de riscos e da ciência participativa de engajamento público, dará um salto de qualidade. Nesse sentido, Nordocci (2002) reforça a temática ao incluir uma abordagem ética e de procedimentos democráticos, e não apenas de considerações técnico-científicas, nos critérios fundamentais para as


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

35

políticas de risco. Segundo este autor, devem ser incluídas todas as decisões e escolhas sociais, políticas e culturais que se relacionam, direta e indiretamente, com as questões de risco na nossa sociedade. Sendo necessário ampliar o debate no Brasil, não apenas dos critérios e ferramentas, como também das suas implicações sociais, políticas e éticas envolvidas na tomada de decisão sobre a aceitabilidade de riscos. De forma geral, não será fácil aproximar a ciência de riscos ao contexto e participação social, pois é uma inserção que ainda está sendo construída, mas diante do que foi dito por Castiel, acredita-se que mesmo com uma mudança distante, a priori, a resistência possibilitará uma discussão aberta e participativa no projeto de pesquisa. Renato Por fim, finalizamos as abordagens das pesquisas com o tema sobre ‘....’ (nome da pesquisa de Renato). Segundo Albagli, a ciência aberta é um termo guarda-chuva que abarca diferentes significado, práticas e iniciativas, englobando desde a disponibilização livre e irrestrita dos resultados de pesquisa, até a valorização e participação dos não especialistas no fazer ciência – a ciência cidadã (ALBAGLI, CLINIO, RAYCHTOCK, 2014). A ciência cidadã considera o conhecimento não especializado (conhecimento dos cidadãos comuns) e inclui sua participação no debate científico. Segundo Irwin (1995), a ciência cidadã busca resgatar outras formas de fazer ciência, através do conhecimento não especializado, parecendo este um bom caminho para uma ciência mais aberta e participativa. O movimento de acesso aberto, temática do objeto desta pesquisa, busca remover as barreiras de acesso às informações científicas, favorecendo o aumento do impacto do trabalho dos pesquisadores e propiciando a reutilização dos conteúdos. Dentre os benefícios que o movimento de acesso livre defende, destaca-se o aumento da visibilidade das pesquisas e sua utilização pelo maior número possível de interessados, o que promove, em última instância, o desenvolvimento da ciência.


36

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

Levando em consideração que grande parte das pesquisas no Brasil é financiada com recursos públicos, via agências de fomento, o acesso aberto propicia que os resultados de pesquisa estejam disponíveis para todos os cidadãos. O movimento de acesso aberto e ciência cidadã vão ao encontro das afirmativas de Gibbons (2002) ao explicitar seu modo 2 de produção de conhecimento, onde a produção do conhecimento deve ser um processo cada vez mais socialmente distribuído. Porém, como fazer a produção do conhecimento deste processo cada vez mais socialmente distribuído? Como prover acesso às informações científicas que em sua maioria são publicadas em periódicos cujo acesso é restrito? O caminho para se chegar a essas respostas encontra-se na tríade ciência, estado e sociedade, abordada por ambos os palestrantes. Esta é a grande questão, tanto no movimento de acesso aberto, quanto no modelo de ciência cidadã. Qual o papel das agências de fomento brasileiras, financiadora de grande parte das pesquisas científicas no Brasil, no movimento de aceso aberto? Qual seu papel para se fazer uma ciência cada vez mais aberta? Qual o papel da sociedade na instituição ciência? Devemos pensar e repensar em novas formas de fazer ciência, onde a produção científica não se limite aos espaços de laboratório, e a comunicação científica seja contaminada pela cultura do compartilhamento. Conforme destacado por Castiel, o grande problema é que no Brasil, quando se pensa em uma nova ciência, uma ciência mais aberta e participativa, e de como a sociedade pode participar da ciência, esquecemos de pensar na Política! Precisamos reaver e rediscutir o espaço da política com “P” maiúsculo. Devemos parar de pensar e nos debruçar em micro políticas (politicagem) e ter a coragem e disponibilidade para fazer Política. Referências


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

37

ADDISON, C. Communicating Research: more than a need, a necessity. Danish Development Research Network. August, 2009. Aderita ALBAGLI, S., CLINIO, A; RAYCHTOCK, Ciência Aberta: correntes interpretativas e tipos de ação. Liinc em Revista, Rio de Janeiro, v.10, n.2, p. 434-450, novembro 2014. http://www.ibict.br/liinc Vanessa, Paula, Aderita, Marina, Renato

ARAUJO, RR. Os paradigmas da ciência e suas influências na constituição do sujeito: a intersubjetividade na construção conhecimento. São Paulo: Editora UNESP, 2010. Diponível em: http://books.scielo.org/id/zz66x/pdf/camargo-9788579831263-07.pdf Paula

ARAUJO, I. S. e CARDOSO, J. M. Comunicação e saúde. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2007. Monica BECK, U. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: BECK, U.; GIDDENS, A.; LASCH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997. Monica BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de controle de escorpiões. Brasília. 2009. Claudio BRASIL. Mapa da Violência 2014. Os jovens do Brasil. Disponível em: <http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil. pdf>. Acesso em 26 jun 2015. Monica BRASIL. Plano Juventude Viva. Disponível em <http://www.juventude.gov.br/juventudeviva/o-plano>. Acesso em 27 jun 2015. Monica


38

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

CASTIEL, L.D; GUILAM, M.C.; FERREIRA, M.S. Correndo o risco: uma introdução aos riscos em saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2010. 134p. (Coleção Temas em Saúde). ISBN: 978-95-8547-117-0. Aderita, Marina FUNTOWICZ, S. e RAVETZ, J.: ‘Ciência pós-normal e comunidades ampliadas de pares face aos desafios ambientais’. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, IV(2): 219-230, jul.-out. 1997 Alexssandro e Claudio FUNTOWICZ, S. e RAVETZ, J. (2008) Post-Normal Science. In COSTANZA, R. Encyclopedia of Earth. Washington DC: Eds. Cutler Environmental Information Coalition, National Council for Science and the Environment), 2008. Alexssandro e Marina

GIBBONS, Michael. Governance and the new production of knowledge. In: LA MOTHE, John de (Ed.). Science, technology and governance. New York: Routledge, 2002. p. 33-49. Alessandra, Alexssandro e Renato GUIDDENS, A. A vida em uma sociedade pós-tradicional. In: BECK, U.; GIDDENS, A.; LASCH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997. Monica IRWIN, A. Ciência cidadã: um estudo das pessoas especialização e desenvolvimento sustentável. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. Rejane, Alessandra, Vanessa, Paula, Aderita, Marina, Renato IRWIN, A. Ciência cidadã, Lisboa, Instituto Piaget. 1998. Monica IRWIN, A., Ciência Cidadã. Instituto Piaget Editora. 2015. Claudio


Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

39

NORDOCCI, A. C. Gerenciamento social de riscos: Revista de Direito Sanitário, São Paulo, p. 64-78, mar. 2002. Alexssandro POPAY, J., Attree P., Hornby D., Milton, B., Whitehead M., French, B., Kowarzik U., Simpson N. and Povall, S. Community engagement in initiatives addressing the wider socialdeterminants of health A rapid review of evidence on impact, experience and process. CE6&7 – 3 Social Determinants Effectiveness Review. 2007. Claudio PORTO, M. F. de S. ET AL. Produção compartilhada de conhecimento e cidadania: a experiência da comunidade ampliada de pesquisa-ação do Laboratório Territorial de Manguinhos, RJ. In: Toledo, R.F. e Jacobi, P.R. (orgs.). A pesquisa-ação na interface da saúde, educação e ambiente: princípios, desafios e experiências interdisciplinares. São Paulo: Annablume; FEUSP, PROCAM, FAPESP, 2012, p. 193-229. (Coleção Cidadania e Meio Ambiente). Marina ROWE, G; FREWER, L. J.A Typology of Public Engagement Mechanisms. Science, Technology, & Human Values, v.30, n.2, pp. 251-290, 2005.Alexssandro SOUSA SANTOS, B A gramática do tempo: para uma nova cultura política. S. Paulo, Porto : Cortez Ed., Afrontamento, 2006. Marina SANTOS, Boaventura de Sousa. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010. Vanessa SANTOS, N.B. dos, 2007. Comunidades Virtuais e Popularização da Saúde. X Reunión de la Red de Popularización de la Ciencia y la Tecnología en América Latina y el Caribe. pp. 1-11. Disponível em: http://www.next.wiki.br/repositorio/sites/arquivos.next.icict.fiocruz.br/fi les/BR-NiltonSantos.pdf Paula


40

Ciência Cidadã e Determinação Social da Saúde: desafios e perspectivas

SPIEGEL et al. Why language matters: insights and challenges in applying a social determination of health approach in a North-South collaborative research program. Globalization and Health, 11; 9. 2015 Alessandra STIRLING, A. Risk, uncertainty and precaution: some instrumental implications from the social sciences. In: Negotiating environmental change. Edward Elgar 2003. p.33-76 Alexssandro , Rejane e Alessandra STIRLING, A. Risk at a Turning Point? J. Environ. Med. 1: 119–126 (1999). Alexssandro , Vanessa, Aderita TYGEL, A. Ferramentas para uso e publicação de dados abertos por Movimentos Sociais: uma abordagem participativa. (Doutorado em Informática) - Universidade Federal do Rio de Janeiro 2015. Marina Faltam as referencias do Aluízio. Tem uma referencia do Claudio faltando (Oliveira Mendonça, 2012, p. 537 e 538).)

Rowe e Frewer,


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.