Geo em revista 3ª Edição

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Editorial

A Bíblia como você ainda não conhecia

Quem faz Editor

Maria Fernanda Vigon

Jornalista responsável Marcos Simas (MTB 35185 RJ)

Redator

Marcos Stefano (MTB 35066 SP)

Diretor de arte Well Carvalho (zaghaz.com)

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Revisão

iva, eficaz e penetrante. Segundo Hebreus 4:12, essas são algumas das características mais poderosas da Palavra de Deus. Essa também é a sensação que temos ao conhecer a história da Nova Versão Internacional, a NVI, contada nesta terceira edição da GEO em Revista em várias reportagens especiais. Nos Estados Unidos, ela nasceu como o ideal de um homem que desejava aliar o compromisso aos textos originais com uma linguagem mais fácil e contemporânea, tornando-se uma das Bíblias mais lidas em todo o mundo. Por aqui, surgiu como um projeto totalmente original. Na verdade, o mais audacioso projeto de tradução das Escrituras para o português em todos os tempos, capaz de reunir os mais renomados especialistas em teologia, linguística, arqueologia, história e filosofia, durante toda uma década. Essa trajetória é contada em três matérias, que abordam as origens internacionais da NVI, sua chegada ao Brasil e mostram quem eram os tradutores e como faziam o trabalho. As reportagens também não fogem das polêmicas. Falam sobre as muitas críticas que a Bíblia sofreu e traz as respostas dos estudiosos a cada uma delas. A NVI é ainda objeto da atenção de Russell Shedd, em artigo escrito com exclusividade para esse terceiro número e um dos assuntos da entrevista concedida pelo pastor e professor Luiz Sayão, que ainda explica porque versões com linguagem mais atual são tão importantes para quem deseja se aprofundar na Palavra do Senhor. Apesar de alguns pregadores garantirem que “a Palavra de Deus se renova a cada manhã”, na verdade, são suas misericórdias que surgem de maneira nova a cada dia que começa. Quanto à Palavra, ela é sempre nova e nunca envelhece. Todavia, quem assim prega não está de todo errado. Novos produtos, estudos e recursos mostram aos leitores sempre uma faceta nova das Escrituras. Isso pode ser conferido na presente edição com a Bíblia Comparativa, a Trilíngue e a de estudo Novo Viver. Vale conferir e aproveitar ao máximo o Livro Sagrado. Aliás, falando na leitura da Bíblia, quem nunca ficou curioso com as histórias que ela não contou? Por exemplo, imaginar o que Jesus fez entre os 12 e os 30 anos ou como foi a vida de homens e mulheres antes e depois de seus encontros com o Mestre? É isso que faz o escritor Almir dos Santos Gonçalves Júnior em uma nova série de livros que a Geográfica está lançando. Sempre com criatividade mas também com pesquisas e fidelidade aos evangelhos. Sim, porque conhecimento sem prática é apenas pretexto para o erro. Descubra a Palavra e comece agora mesmo a experimentar o melhor de Deus para sua vida. Boa leitura e bons negócios!

Maria Fernanda Vigon

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Alzeli Simas Angela Baptista

Consultoria e produção Editorial Msimas Editora Ltda.

Fotos

Divulgação Geográfica IngImage Well Carvalho

Impressão Geográfica

Tiragem

10.000 exemplares

Caixa Postal 763 CEP 09380-340 geograficaeditora.com.br 3 18/07/14 16:02


Sumário Capa

Uma santa ousadia Pág 6

Há pouco mais de 50 anos, nascia o mais corajoso projeto de tradução da Bíblia em todos os tempos. Conheça a trajetória da New International Version, que levou ao surgimento da Nova Versão Internacional no Brasil

História

A palavra de Deus para o século 21 Pág 5

O objetivo era produzir uma tradução dos originais bíblicos que fosse fiel e ao mesmo tempo contemporânea. O que surgiu como o sonho de um homem se tornou a NVI, atualmente a Bíblia mais lida no mundo

Mundo da Bíblia

Os desafios de uma nova tradução Pág 18

Traduzir a Bíblia é fazer escolhas. Com a NVI, essas escolhas foram pautadas pela fidelidade aos originais e pelo objetivo de tornar as Escrituras mais compreensíveis à população

Discipulado

Manual da nova vida Pág 22

“Nascer de novo”, “ser batizado nas águas”, “praticar o fruto do Espírito”. A Bíblia de Estudo Novo Viver não é somente um dicionário para compreender o Texto Sagrado. É também um guia para se alcançar todas as bênçãos prometidas por Deus

Cultura

As muitas histórias da NVI

Entrevista

Luiz Sayão Pág 12

Referência quando o assunto é a tradução da Bíblia, o pastor e professor Luiz Sayão explica porque há tantas opções diferentes do Livro Sagrado em português

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Pág 26

Um grupo formado por respeitados estudiosos brasileiros e de outros países foi reunido para produzir uma nova tradução das Escrituras. Moderna, dinâmica e cercada de polêmicas

Legado

Quem vê cara, vê coração Pág 10

Formada pelos mais diversos especialistas, coube à Comissão de Tradução produzir a tão desejada e equilibrada versão bíblica, que não fosse nem muito erudita nem muito popular

Especial

Fiel e atual Pág 20

A Bíblia Edição Comparativa traz duas das melhores versões da Palavra de Deus em português e oferece ao leitor, lado a lado, um texto mais tradicional e outro mais contemporâneo

Destaque

Vida eterna e em línguas nada estranhas Pág 24

Prática e eficiente, a Bíblia Sagrada Edição Trilíngue traz em um único volume a Palavra de Deus em português, inglês e espanhol

Literatura

O que a Bíblia não contou Pág 29

Nova série leva o leitor a imaginar como teria sido a vida das pessoas antes e depois dos acontecimentos registrados nas Escrituras.

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História

A palavra de Deus para o século 21

O objetivo era produzir uma tradução dos originais bíblicos que fosse fiel e ao mesmo tempo contemporânea. O que surgiu como o sonho de um homem se tornou a Nova Versão Internacional (NVI), atualmente a Bíblia mais lida no mundo 1955 – Após uma tentativa fracassada de evangelizar com a tradicional King James Version, o engenheiro Howard Long, de Seattle, nos Estados Unidos, consegue o apoio de sua denominação, a Igreja Cristã Reformada (CRC, em inglês) e da Associação Nacional dos Evangélicos (NAE) para produzir uma versão mais contemporânea das Escrituras: a New International Version (NIV) 1965 – Um encontro interdenominacional é realizado em Chicago para iniciar os trabalhos. A ideia não é atualizar uma versão já existente, mas começar uma nova tradução do zero 1966 – Novo encontro entre líderes evangélicos e estudiosos estabelece a Comissão de Tradução da Nova Bíblia 1968 – A Sociedade Bíblica de Nova York (hoje Bíblica) entra no projeto, patrocinando a empreitada 1973 – O Novo Testamento na versão NIV é lançado nos Estados Unidos 1978 – Com mais de 1 milhão de exemplares, é publicada a Bíblia completa na versão NIV 1985 – São realizados os primeiros contatos para que uma nova versão da Bíblia seja produzida também em português 1987 – Começam os trabalhos preliminares no Brasil. O objetivo é produzir uma nova tradução para o português, a partir das línguas originais. Não se trata de uma tradução do inglês, como se tentou fazer no início da década para o espanhol. Será um trabalho independente e que seguirá alguns princípios do que foi feito na NIV 1990 – No mês de junho, começam os trabalhos da comissão de estudiosos evangélicos, teólogos e peritos nas línguas originais para tradução da Nova Versão Internacional (NVI). O projeto é capitaneado pela Bíblica (então conhecida no País como Sociedade Bíblica Internacional) e perdurará por quase uma década 1994 – É lançado o Novo Testamento na versão NVI 1999 – Publicação da Bíblia na Nueva Versión Internacional, tradução para o espanhol também feita diretamente dos textos hebraicos, aramaicos e gregos 2001 – É lançada a Bíblia completa em português na NVI. Superadas algumas resistências iniciais, a versão logo se populariza. Julho / Agosto / Setembro de 2014 Geo em revista - 03.indd 5

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Capa

Uma santa ousadia

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Há pouco mais de 50 anos, nascia o mais corajoso projeto de tradução da Bíblia em todos os tempos. Conheça a trajetória da New International Version, que levou ao surgimento da Nova Versão Internacional no Brasil Por Marcos Stefano

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er a Palavra de Deus na própria língua, em uma tradução acessível e ao mesmo tempo fiel, é uma pretensão que move o ser humano há milênios. Quando os judeus estiveram exilados na Babilônia, entre os anos 606 e 536 a.C., alguns deles já desafiavam a ideia de que o idioma original era sagrado para produzir os primeiros Targumim, que eram traduções, paráfrases e comentários sobre a Lei e os Profetas, e permitir ao povo, que não falava mais o hebraico e, sim, o aramaico, conhecer as orientações e promessas das Escrituras. Mais tarde, por volta do terceiro século antes de Cristo, uma equipe de 72 eruditos levaram os Textos Sagrados também para o grego, na versão que se tornou conhecida como Septuaginta. Já no fim do século IV e começo do V, foi a vez de Jerônimo produzir a Vulgata, em latim. A própria Reforma seria impensável sem o esforço de homens como Lutero, Tyndale, Wycliffe e Dalmatin, que verteram o Antigo e o Novo Testamentos para línguas comuns como o alemão, o inglês e o esloveno. Porém, aquele que talvez tenha sido o maior esforço de tradução da Bíblia em todos os tempos começou há apenas pouco mais de 50 anos. E resultou na New International Version (NIV), com mais de 450 milhões de cópias vendidas somente em inglês e a condição de versão mais lida em todo o mundo na atualidade. O sonho de produzir uma nova tradução das Escrituras que fosse ao mesmo tempo fiel aos originais e contemporânea surgiu com um engenheiro de Seattle, nos Estados Unidos, chamado Howard Long. Conhecido tanto pelas qualificações profissionais quanto pela paixão em compartilhar o Evangelho, Long era um admirador da Bíblia King James (KJV, em inglês). No entanto, certo dia, quando usou a Bíblia para falar sobre Jesus a uma pessoa que não era cristã, percebeu que seu interlocutor não conseguia entender o que ele estava dizendo. “Apesar de tantas qualidades, o inglês da KJV do século XVII não era capaz de se conectar com aquele homem. Logo, descobri que o mesmo se repetia com muita gente”, conta Long nos históricos sobre a NIV. Assim, em 1955, ele iniciou uma longa jornada para produzir uma tradução mais apropriada que comunicar as verdades eternas. A princípio, conseguiu o apoio de sua denominação, a Igreja Cristã Reformada, e da Associação Nacional de Evangélicos para a empreitada. No entanto, precisaria ainda de dez anos para convencer outros líderes e estudiosos a formar um movimento interdenominacional capaz de levar adiante a tarefa.

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O principal questionamento que se fazia naquele momento era se, diante de tantas versões já existentes, uma nova e com essas características era realmente necessária. Tudo bem que comunicar ensinos antigos de maneira mais compreensível era para as novas gerações importante, mas certamente seria também trabalhoso e muito dispendioso. Mas esse não era o único argumento que Long e seus parceiros tinham. “Nos últimos tempos, novas descobertas arqueológicas e históricas trouxeram várias implicações para o texto bíblico. Além delas, manuscritos antigos foram encontrados. Também não podem ser ignorados os estudos linguísticos. Línguas são dinâmicas e não estáticas. O modo de falar e os vocábulos mudam com o passar do tempo e o local e precisam de constante atualização”, explica o teólogo e tradutor Luiz Alberto Teixeira Sayão, coordenador da tradução da Nova Versão Internacional em português e um dos mais conceituados especialistas no assunto na atualidade. Entre os principais achados citados por Sayão, vários deles são arqueológicos. A Pedra Roseta, por exemplo, permitiu aos especialistas decifrar o egípcio antigo. Já documentos como as tábuas de Ebla e as cartas de Mária deram contribuições para se entender os costumes e a vida patriarcal. Ruínas, como as do templo de Diana, na antiga Éfeso, jogaram novas luzes em relatos bíblicos como os do capítulo 19 de Atos dos Apóstolos. Tão importante quanto estes são os papiros e pergaminhos do Novo Testamento que foram descobertos ou melhor divulgados mais recentemente e entre os quais figuram os códices Sinaítico e Vaticano, e os papiros Bodmer, Chester Beatty e John Rylands, com fragmentos e textos datados desde 130 d.C.. Assim como o Códice Cairense, o Papiro Nash e os manuscritos do Mar Morto, que revelaram textos do Velho Testamento cerca de mil anos mais antigos do que os textos massoréticos até então conhecidos. Nada disso estava à disposição quando a King James ou mesmo a portuguesa versão de Almeida foram produzidas.

Jogo de palavras Somente em 1965, Long e seus parceiros conseguiram viabilizar um encontro interdenominacional de estudiosos evangélicos, próximo a Chicago, para debater mais a fundo a questão. E os debates se revelaram promissores. Em vez de apenas atualizar uma tradução existente, como a King James, eles optaram por começar do zero, usando os melhores manuscritos disponíveis nos originais hebrai-

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cos, aramaicos e gregos para produzir uma nova versão. O Projeto NIV começava a ganhar força. Um ano depois, em novo encontro que dessa vez reuniu 80 pesquisadores e líderes de ministérios e igrejas protestantes, foi criada a Comissão de Tradução da Bíblia, o organismo central e cérebro de todo o processo. Mesmo com tantos avanços, ainda faltavam recursos para tirar o projeto do papel. Eles só chegariam após mais dois anos, quando a Bíblica (então Sociedade Bíblica de Nova York) hipotecou seus escritórios em Manhattan e em Nova Jersey para entrar na iniciativa como patrocinadora da tradução. Dessa forma, os trabalhos começaram oficialmente em 1968. Mesmo com os melhores recursos financeiros e técnicos, transformar sonho em realidade não seria obra das mais simples. Diferente de línguas modernas, como inglês, português ou francês, muito usadas na atualidade e que possuem bastante semelhança em estrutura e vocabulário, os idiomas bíblicos, bem mais antigos e alicerçados em outros tipos de culturas, possuem um campo semântico bastante particular e até estranho para os ocidentais. Tanto que as palavras nem sempre encontram os correspondentes adequados no inglês e no português. Caso do termo sheol, um dos mais importantes do Antigo Testamento. Algumas versões mais antigas traziam

essa palavra traduzida como “inferno” em quase todas as passagens nas quais aparecia. O problema é que o termo é mais amplo, referindo-se ao “mundo dos mortos” e, em muitos contextos, mais especificamente à “sepultura”, já que o hebraico é baseado em uma visão mais concreta do que abstrata. Nesse sentido, até o equivalente grego, o hades, dificulta o entendimento, que no mundo gentílico era um reino dominado por um deus pagão. Sheol e hades acabam tendo várias possibilidades de tradução, que vão de “morte” e “sepultura” a “profundezas”, “mundo dos mortos” e “inferno”. Qual escolher? “A opção por um ou outro, assim como o tempo verbal, deverão ser feitas mais pelo contexto”, ensina Sayão. Ou seja, a tradução literal é insuficiente para oferecer o significado. O alerta vale para quase todo o texto hebraico, marcado por sua concisão. Sim, porque os antigos hebreus usavam poucas palavras para dizer muito, dispensando verbos de ligação, embutindo os pronomes pessoais na maioria das formas verbais e anexando preposições e sufixos de posse a alguns substantivos. Literalmente, o Salmo 15:2 deveria ser traduzido da seguinte forma: “Andante integramente e praticante (da) justiça e falante (da) verdade no seu co-

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ração”. Bem diferente do resultado final, traduzido na NVI como: “Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo, que de seu coração fala a verdade”. Outra diferença marcante é entre a estrutura sintática das línguas originais e das modernas. A ordem comum na frase hebraica é inversa: começa com o verbo e só depois traz o sujeito. As conjunções apresentam funções diversificadas e com traduções diferentes. Já o grego usa textos longos e sem pontuação. Caso famoso é Efésios 1:3 a 14, que não tem pontos finais e exige uma completa reorganização. Sem falar nas chamadas figuras de linguagem que, ao pé da letra, fariam os textos bíblicos se tornarem absurdos. Ou alguém pensaria realmente que, em Gênesis 34:30, Jacó reclamou com Simeão e Levi que eles o fizeram “cheirar mal” entre os moradores da terra? Na verdade, “cheirar mal” é uma expressão típica e que significa “odiar”. O sentido real é que eles fizeram com que os habitantes daquela região odiassem o patriarca bíblico. Para superar tais obstáculos e garantir mais precisão e legibilidade, foi definido um rigoroso processo de tradução. Cada livro da Bíblia ficou sob a responsabilidade de uma equipe formada por dois tradutores, dois consultores e um revisor de estilo, quando necessário. Uma equipe de outros cinco estudiosos revisava o trabalho feito, fazendo comparações e tirando dúvidas. Por fim, cada texto foi aprovado por um comitê formado por oito a 12 especialistas. Ainda como parte da revisão final, críticos de fora, como pastores, estudantes e leigos, foram convidados para ler o material e dar um feedback. O objetivo era produzir um texto bíblico confiável, exato e de fácil entendimento. Buscando, por vezes, o que os peritos chamam de equivalência dinâmica ou funcional. Ou seja, não traduzindo palavra por palavra, mas buscando o sentido e tornando o texto mais compreensível e impactante. “A NIV não tinha corporações poderosas que a sustentassem, nem ricos investidores, nem patronos especiais, nem organizações bem equipadas. Tinha apenas cristãos comuns. Eles eram o povo de Deus que, na hora de Deus, estava atento e pronto. Nesse sentido, a New International Version foi de fato um projeto de Deus. Suas impressões digitais estão por toda parte, desde o sonho original até a publicação. Em retrospecto, podemos verificar que ele estava presente a cada passo do caminho – reunindo as pessoas, provendo os recursos financeiros e nunca deixando o sonho morrer. Até agora, isso acontece, pois a NIV está sempre sendo atualizada”, diz James R. Powell, ex-presidente da Bíblica, em carta enviada à equipe de tradução da versão em português, nos anos 1990. Para que uma atualização seja feita na Bíblia, é preciso o acordo de pelo menos 70% da comissão, representada ainda hoje por estudiosos independentes e de várias denominações. De 1968 a 1978, mais de 100 estudiosos e especialistas participaram do projeto. Em 1973, foi publicado o Novo Testamento. A Bíblia completa, em 1978, com mais de um milhão de cópias vendidas antecipadamente. Apesar de algumas críticas, principalmente por conta da omissão de textos e palavras, a NIV era um sucesso antes mesmo do lançamento. Sucesso tão grande que influenciaria novos trabalhos e levaria à tradução de outras versões, como a espanhola, em 1999, e a portuguesa, em 2001. Sempre, claro, com a máxima de que há muitas coisas contra as quais lutar com a Bíblia. Mas a tradução não deve ser uma delas.

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Legado

Quem vê cara, vê coração

Formada pelos mais diversos especialistas, coube à Comissão de Tradução produzir a tão desejada e equilibrada versão bíblica, que não fosse nem muito erudita nem muito popular Por Marcos Stefano

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reze anos após os primeiros exemplares chegarem às livrarias, a Nova Versão Internacional é uma realidade para o leitor em língua portuguesa, especialmente o brasileiro. Cercada de elogios por conta da fluência de seus textos, da maior facilidade de compreensão e do compromisso que conseguiu manter com os originais, a Bíblia parece ter vencido as críticas e desconfianças iniciais. Tanto que já vendeu mais de 3 milhões de exemplares somente nos últimos cinco anos, segundo dados da Bíblica. Graças à parceria com importantes grupos editoriais, como a Geográfica Editora, novos e diversificados produtos são lançados com a versão, levando a NVI a crianças, jovens e adultos. Há Bíblias em mais de uma língua, de estudo, populares e de luxo. Para vários gostos, necessidades e bolsos. E as editoras não param de anunciar novidades. “Levar a Palavra de Deus aos leitores de língua portuguesa, uma das mais importantes do mundo, é um desafio e tanto. Mas temos conseguido isso, com a força de Deus e o trabalho incansável de um grupo de homens e mulheres que aceitou participar dele com a Bíblica”, explica Enrique Baldeon, Diretor da Bíblica para a América

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Latina. Parte desse grupo trabalhou mais diretamente no projeto durante pouco mais de uma década. Foi a chamada Comissão ou Comitê de Tradução, formada por quase 20 especialistas e responsável por verter o hebraico, aramaico e grego bíblicos para o português contemporâneo. A identidade da NVI passa por cada um deles. Com o perdão do trocadilho e diferente do velho ditado, quem vê a cara deles, vê o coração da Bíblia. Esses peritos representavam os mais diversos segmentos denominacionais, dos mais tradicionais aos pentecostais. Em comum, todos deveriam estar convictos da inspiração e da autoridade das Escrituras. À erudição representada pelas especialidades teológicas e linguísticas, somou-se a diversidade. Além dos brasileiros, havia estrangeiros dos Estados Unidos, Inglaterra e Holanda. Alguns moravam no Brasil, mas outros em outras nações, como Portugal e Israel. A maioria era especialista nas línguas originais ou na interpretação do Antigo e do Novo Testamento, mas havia outras necessidades além destas. Uma delas era estilística. O texto da NVI deveria primar pela precisão, beleza, clareza e dignidade. Para isso, a comissão contou com os serviços de pessoas como o reverendo presbiteriano Odayr Olivetti, já falecido, e o pastor e jornalista assembleiano Abraão de Almeida. Noutra frente, foi necessário atualizar a linguagem de acordo com características próprias da Terra Santa e com as últimas descobertas arqueológicas. Para dar essa consultoria em geografia e arqueologia, foi chamado o teólogo Randall K. Cook, professor do Master´s College, nos EUA. Hoje professor de teologia na Faculdade Teológica Sul Americana, em Londrina, e na Unicesumar, em Maringá, ambas no Paraná, o pastor presbiteriano William Lacy Lane foi convidado a fazer parte da comissão em 1996, depois que o Novo Testamento já tinha sido publicado e os especialistas se debruçavam sobre o Antigo Testamento. “Cada membro ficou responsável por alguns livros bíblicos. A mim, coube a tradução de alguns dos profetas menores e de Isaías. Mas, a cada seis meses, o pessoal se reunia por uma a duas semanas para se dedicar integralmente à tradução e à revisão, assim como decidir sobre a melhor tradução para alguns termos e passagens. O ambiente dessas reuniões sempre foi muito amistoso e também edificante. Com gente capacitada de tantas igrejas e partes diferentes, cresci muito, inclusive, pessoalmente”, conta.

Olhar feminino Apesar de serem maioria nas igrejas evangélicas do Brasil, apenas uma mulher integrou a Comissão de Tradução da NVI. Ainda assim, com extrema capacidade e grande habilidade, a professora inglesa Betty Bacon desenvolveu um trabalho fundamental, atuando na tradução de parte do Pentateuco, na literatura poética e em diversos livros proféticos. “Os outros eram todos pastores, cristãos maravilhosos, o que proporcionou muita comunhão. Claro, por ser a única mulher e não ser brasileira, eles brincavam comigo e faziam piadas. Mas isso só nos ajudou no entrosamento para o trabalho, que era feito em grande parte em casa. Quando nos reuníamos, comparávamos o resultado e fazíamos as alterações que se julgassem necessárias”, explica Betty, que é missionária e atualmente mora em Vitória (ES). Apaixonada pelas línguas bíblicas e pela exegese, a participação dela na Comissão de Tradução da NVI foi o ponto alto de uma

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carreira que começou com o simples desejo de compreender melhor o que Deus disse. “Sempre gostei de estudar línguas. Comecei a estudar o hebraico e o aramaico em casa, porque queria ler a Palavra no original. Há certa diversidade nas versões e queria avaliar o que, de fato, Deus disse”, lembra a professora. Certo dia, quando estava levando apostilas de hebraico que ela mesmo havia preparado para as aulas do Seminário Cristão Evangélico do Brasil, em Anápolis (GO), encontrou um convidado especial, que faria uma conferência na casa: o também missionário e professor Russell Shedd. “Quando ele viu o material, convidou-me a publicá-lo pelas Edições Vida Nova. Com explicações gramaticais, vocabulário e bastante exercícios para os alunos treinarem o hebraico, essas apostilas se transformaram no livro Exercícios na Bíblia Hebraica”, diz. Anos depois, também justificaram o convite para ingressar a equipe de especialistas e o projeto de tradução de uma nova versão bíblica dos originais para o português. Betty conta que todo o processo foi marcado pela seriedade e um certo temor. “Se alguém sugerisse qualquer modificação na tradução, teria que justificar muito bem o pedido. Foi um desafio, pois algumas palavras exigiam tradução diferente por causa de seu contexto”, recorda. Caso, por exemplo, do vocábulo hesed, uma palavra-chave na primeira parte das Escrituras. Segundo a professora, o termo significa basicamente “amor” ou “misericórdia”, mas geralmente apresenta o amor em contexto de aliança. Assim, muitas vezes, pode ser traduzido também como “amor fiel” ou mesmo “fidelidade”. Outro caso é o dos livros poéticos. “Trabalhando em Salmos, procurei manter algo do ritmo e formato do original, incluindo os títulos, quando havia, pois também faziam parte da Palavra inspirada. Nos profetas, tentávamos manter as partes poéticas como poesia mesmo. Um dos maiores profetas das Escrituras é Jeremias. A NVI traz vários trechos de seu livro como poemas mesmo”, completa a estudiosa. Para ela e para os outros membros da Comissão de Tradução, não se tratava apenas de um projeto, mas de uma experiência nova com Deus, até uma bênção, como dizem os evangélicos hoje. Importante era dizer e sentir o que falou Davi nos versículos 1 e 2 do Salmo 138: “Voltado para o teu santo templo, eu me prostrarei e renderei graças ao teu nome, por causa do teu amor e da tua fidelidade; pois exaltaste acima de todas as coisas o teu nome e a tua Palavra”.

Uma equipe de respeito Confira quem fez parte da Comissão de Tradução da NVI: Abraão de Almeida Antônio Gilberto Betty Bacon Carl J. Bosma Carlos Osvaldo Pinto Ênio R. Mueller Estevan F. Kirschner Humberto G. de Freitas Luiz Alberto T. Sayão Martin Weingaertner

Odayr Olivetti Paulo Mendes Randall K. Cook Richard J. Sturz Rubens C. Damião Rudi Zimmer Russell Shedd Valdemar Kroker William Lane

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Divulgação / Igreja Batista Nações Unidas

Entrevista

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ara muitos, ler e compreender a Bíblia em sua própria língua é um desafio. Então, o que dizer de ler e compreender os Textos Sagrados nos idiomas originais? Ou ainda mais: ler, compreender e verter esses escritos para o português contemporâneo, em uma linguagem fácil e moderna, mas extremamente fiel aos originais? Esse foi o desafio proposto a Luiz Alberto Teixeira Sayão no final dos anos 1980. Durante uma década inteira, ele coordenou o mais ambicioso projeto de tradução da Bíblia para o português em todos os tempos. Projeto que levou ao surgimento da Nova Versão Internacional, a NVI. Linguista e mestre na área de hebraico pela Universidade de São Paulo (USP), pastor batista e professor universitário, Sayão é referência quando se fala em tradução da Bíblia. Tanto que, recentemente, também coordenou o projeto de revisão de estilo e atualização das versões de João Ferreira de Almeida, a Almeida Século 21. Em conversa com a reportagem da Revista GEO, ele falou sobre todas essas experiências, avaliou as várias versões bíblicas disponíveis no Brasil e fez uma previsão sobre a Palavra de Deus: “A Bíblia é verdade. Tudo o que ela afirma que aconteceu, aconteceu. Mas devemos nos aprofundar mais, deixar de ser mais conservadores do que a Bíblia e parar de se envolver em discussões inúteis. Novas versões virão e elas sempre serão necessárias. Ouçamos o texto dentro das categorias do texto”.

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GEO – Como o senhor avalia a qualidade das traduções bíblicas hoje existentes no mercado brasileiro? Luiz Sayão – Muito boa. A língua portuguesa é privilegiada. Já temos dezenas de versões, se contarmos todas as revisadas. Temos uma variedade, desde as mais literais às mais dinâmicas. Essa riqueza é muito boa. As versões mais antigas têm passado por revisões importantes e valiosas. São respeitadas do ponto de vista técnico e linguístico, tanto as evangélicas quanto as católicas, e até mesmo as versões judaicas, ainda que menos conhecidas do público em geral. Mesmo depois de tantas adequações, por que há novas revisões nas versões bíblicas? Mesmo revisões que não são apenas ortográficas? Além das descobertas arqueológicas e dos avanços no conhecimento dos estudos técnicos a respeito da Bíblia, que por si só exigem uma revisão permanente do Texto Sagrado, temos exigências da própria língua portuguesa. A língua não é estática. A maneira de falar muda constantemente. Há mais de 15 séculos os habitantes de Portugal, da Espanha, da Romênia, da França e da Itália falavam latim. Com o tempo, o latim passou a ser falado de modo diferente em cada lugar, a ponto de eles não entenderem mais uns aos outros. As mudanças naturais e culturais deram origem às diversas línguas neolatinas. Esse mesmo fenômeno continua acontecendo com a língua portuguesa hoje. Por isso, o que

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“Para entender a Bíblia com profundidade, as versões mais atuais são essenciais” Referência quando o assunto é a tradução da Bíblia, o pastor e professor Luiz Sayão explica porque há tantas opções diferentes do Livro Sagrado em português Por Marcos Stefano comunicava bem no passado já não é entendido perfeitamente hoje. Várias são as mudanças na língua que exigem revisões e novas traduções da Bíblia. Palavras caíram em desuso e não são mais entendidas. Quem usa termos como “rebuçar”, “alígera”, “coscorão”, “opróbrio”, “chocarrice” ou “concupiscência”? Mas também há palavras que mudaram de sentido. Podemos destacar termos como “jornaleiro” (sinônimo de diarista), “vagabundo” (sinônimo de peregrino, andarilho), “fazenda” (sinônimo de bens ou riquezas no linguajar comum), “buzina” (sinônimo de trombeta). E outras que adquiriram sentido pejorativo ou chulo, como “fezes”, que significava resíduo em geral; ou “bostela”, que queria dizer mancha na pele. Sem falar nas palavras novas, reformas ortográficas e de sintaxe. Atualmente, prefere-se períodos mais curtos e as conjunções são menos empregadas do que há algumas décadas. Houve também mudanças de preferência quanto à regência de verbos e de outras classes de palavras. Diversas disciplinas, como linguística, arqueologia, história, filosofia e, naturalmente, teologia, são utilizadas quando o assunto é tradução das Escrituras Sagradas. Como o tradutor se aproveita delas? Vou tentar responder de forma resumida, pois não é fácil. É necessário acompanhar os bons recursos na área. O importante é estar informado e atualizado. E ter condições de pesquisar em inglês, alemão e francês, principalmente. Os comentários técnicos

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tem focos específicos: exegese, teologia, linguística, arqueologia e história, aplicação prática etc. Quando se traduz um texto é preciso descobrir onde está o ponto difícil daquele texto. Os comentários revelam. Pode ser crítica textual, pode ser um problema semântico, pode ser a dificuldade tradutológica... Às vezes, a questão esbarra na compreensão do público que irá ler o texto. É muito difícil. Por isso, usamos notas de diversos tipos. Recomento a leitura do livro NVI: a Bíblia do Século 21. Lá tudo isso é tratado com mais detalhe. A tradução, muitas vezes, é uma arte de juntar fragmentos oriundos de diversas fontes. Como pode o cristão, que deposita a base de sua fé nas Sagradas Escrituras, ter a certeza de que a Bíblia que tem em mãos é fidedigna, em termos de conteúdo e inspiração, em relação aos originais? O importante nessa história toda é que a mensagem geral da Bíblia não é alterada nessas traduções. Todavia, é preciso saber que perfeitos e inspirados são só os originais. Todo o nosso trabalho é tentar compreender o texto original a partir do conhecimento que temos. Podemos afirmar que a mensagem fundamental tem sido preservada pelas boas versões da Bíblia, incluindo a obra de Almeida. Mas, para quem quer entender o texto com profundidade e compreender detalhes e elementos pormenorizados, a versão atual faz muita diferença. A outra questão é que a língua muda. Quando os primeiros leitores de

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Almeida leram a versão do século 17, ela era muito adequada e comunicava muito. Hoje, estamos no século 21. Precisamos do original traduzido na língua falada nos dias de hoje. É preciso considerar essa realidade. Em sua opinião, qual a importância de Almeida e sua tradução, para o evangelho no Brasil? Nos séculos 17 e 18, o mundo lusófono não desfrutava de muita liberdade de fé, particularmente para protestantes e evangélicos. O trabalho de Almeida, com o apoio dos evangélicos holandeses, foi fundamental para a primeira versão em português feita a partir dos originais, ainda que com limitações e de forma comparativa, com muita ajuda do que já havia em holandês. Marcou época e foi muito importante para a disseminação das Escrituras no Brasil, onde a igreja evangélica distribuiu a tão famosa e reconhecida Versão Almeida. Vale lembrar que Almeida nasceu próximo a Lisboa, em 1628, e começou sua obra magistral ainda muito jovem, com seus 16 ou 17 anos. A tradução do Novo Testamento foi encerrada em 1676, mas só foi publicada em 1681, na Holanda. Almeida faleceu em 1691, deixando o Antigo Testamento incompleto, traduzido até o livro de Ezequiel. Sua obra só pôde ser terminada devido ao trabalho de Jacobus op den Akker, da Batávia, em 1748. Somente em 1753 foi impressa a primeira Bíblia completa na língua portuguesa.

A importância foi muito grande. A verdade é que era época da 2ª Guerra Mundial, e o Brasil não podia continuar recebendo ajuda das sociedades bíblicas estrangeiras, particularmente da britânica. Foi nesse contexto que se proclamou uma espécie de “independência” do Brasil no que diz respeito à Bíblia em português. Além de ter sido necessário fazer uma revisão e adaptação para a realidade brasileira, pela primeira vez as Escrituras foram impressas no Brasil. Esse texto bíblico novo teve grande impacto na evangelização do interior do País, por meio dos colportores de Bíblias. Ainda assim, essa Versão Corrigida, foi criticada por ser muito “liberal” para a sua época. Mas como seria diferente? Já pensou ler o texto do Pai Nosso, de Mateus 6:9-13, no texto Almeida original? Pae nosso, que estás n’os Ceos, Santificado seia o teu Nome; Venha o teu Reyno; Sea feita a tua Vontade assi n’a Terra como n’o Ceo; O Paon nosso de cada Dia nos da hoje; E perdoao nos nossas Dividas; assi como nos perdoamos a os nossos Devedores; E naon nos metas em Tentazaon; Mas livra nos de Mal. Porque teu he o Reyno, e a Potencia, e a Gloria, para todo o sempre. Amen. Realmente, não dava.

Qual era o preparo dele e em que condições trabalhou? Os recursos eram aceitáveis para a época. Mas, de fato, pouquíssimos, se comparados com a realidade de hoje. Todas as versões antigas eram literalistas, baseavam-se muito no que se conhecia a partir do latim, e não contavam com 5% dos recursos que temos hoje. É como imaginar que um médico que usava sanguessugas para tirar a dor há três séculos fosse bom somente porque era sincero e bondoso. Quando comparado a um especialista, apoiado por ultrassonografia e exames de ressonância, a diferença é gigantesca. O médico de hoje é melhor, claro! Uma equipe de tradutores, todos experientes e falantes da língua nativa, com milhares de recursos eletrônicos, têm muito mais condição de traduzir um texto adequadamente hoje. Especialmente, depois de centenas de descobertas históricas e arqueológicas que nos ajudam a entender o texto mais adequadamente. Almeida foi importante, mas trabalhou com a limitação do seu contexto. Ele tinha poucos recursos disponíveis em termos de materiais técnicos dos originais. As melhores ferramentas de grego e hebraico ainda nem haviam sido escritas. Além do apoio dos holandeses, como Jacobus op den Akker, ele fez uso da Versão espanhola Reyna Valera (1569), a versão latina de Beza, a francesa dos reformados de Genebra (1588) e a conhecida versão italiana de Giovanni Diodati (1641). Foi um trabalho de um herói numa época muito difícil. A Versão Corrigida foi feita pela IBB no Brasil na década de 1940, com adaptações e adequações para o português brasileiro de então, e na grafia simplificada, para uma igreja que estava com menos de 100 anos no País, e que era então minoria. Era um momento em que ainda dependíamos das Bíblias que vinham do exterior. Qual foi sua importância naquela época?

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A Imprensa Bíblica Brasileira (Juerp/IBB) foi a primeira a imprimir a Bíblia em território brasileiro, ainda num tempo em que éramos menos de 5% da população. A impressão, distribuição e acesso à Bíblia de maneira nacional e mais barata, em sua opinião, auxiliou na evangelização e crescimento do protestantismo no país? Hoje sabemos que o trabalho dos colportores de Bíblia pelo interior do país foram fundamentais para a evangelização da pátria brasileira. A verdade é que não apenas batistas, mas também presbiterianos, metodistas, congregacionais e assembleianos tiveram seu crescimento diretamente ligado à disponibilização das Escrituras na Versão Corrigida, inicialmente publicada e distribuída pelo JUERP/IBB. Com certeza, essa Bíblia nacional foi a mola propulsora inicial para que os evangélicos saíssem de 4% para 22% da população em cerca de três gerações. Ainda hoje a Versão Almeida Revista e Corrigida é largamente utilizada por essas grandes denominações, Assembleia de Deus, Brasil para Cristo e Congregação Cristã que, juntas, correspondem a quase 40% dos crentes brasileiros. Na sua opinião, por que uma versão tão rebuscada para o leitor médio continua tão utilizada? Creio que faz parte da tradição. As pessoas aprenderam assim e é difícil mudar. É a versão do coração e da história da pessoa. É nostálgico. A verdade, porém, é que nenhuma delas usa a versão da década de 1940. Já foram incluídas mudanças e pequenas revisões. No passado, esse número chegava a 70%. Em breve deverá cair. Já há mudanças nas Assembleias de Deus e em outros

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grupos menores. Os novos convertidos e os mais jovens vão preferir versões que podem compreender. Quais as vantagens da chamada tradução literal, utilizada na Almeida Corrigida? Por que ela foi usada por Almeida, em sua opinião? A vantagem é literária. É possível acompanhar a forma do original e observar a estrutura do texto hebraico, aramaico e grego. Certos termos técnicos são repetidos coerentemente, o que tem valor para o estudo do texto. A verdade é que, no tempo de Almeida, traduzir era verter de forma literal. Mas, isso não dá certo em todos os casos, principalmente quando duas línguas são muito diferentes.

A mensagem geral da Bíblia não é alterada nas traduções. Todavia, é preciso saber que perfeitos e inspirados são só os originais. Todo o nosso trabalho é tentar compreender o texto original a partir do conhecimento que temos

Mesmo com a aceitação da ARC e a produção da ARA, novo investimento foi realizado para fazer a Almeida Século 21. Por quê? Qual o diferencial dessa tradução? A versão Almeida Século 21 surgiu do consenso de que foi constatado que a maioria da Igreja brasileira não usaria uma NVI na época em que foi lançada, por seu aspecto muito contemporâneo. Todavia, as versões mais tradicionais são de fato muito difíceis de ler. É como dirigir por uma estrada cheia de lombadas. Assim, a ideia da A21 foi produzir um texto que fosse tradicional, sem os problemas dos textos tradicionais. Ela passou por revisão exegética, manteve o sabor da tradição no vernáculo, mas passou a ter fluência, em função de uma excelente revisão de estilo. Tem o seu lugar e tem sido muito bem aceita.

O senhor coordenou a Comissão de Tradução da NVI. Pouca gente entende o que isso significa em termos de trabalho. Como era a rotina de vocês? A comissão decidia uma série de questões de ordem tradutológica que deveriam normatizar o texto. Cada tradutor trabalhava o texto com base nessas decisões. Depois o texto era trabalhado por uma equipe, sob minha coordenação, no escritório central. Fazíamos o alinhamento do texto (coerência e adequação às decisões gerais). Em seguida, o texto passava por um aprimoramento de estilo, depois voltava para uma leitura final da coordenação. Nessa leitura, eram levantadas as novas questões pertinentes à decisão da comissão. Tudo era separado e, depois, discutido e decidido pela comissão. Era um trabalho árduo. Geralmente trabalhávamos dez horas por dia, nos dez a doze dias de reuniões da comissão. Foi um trabalho de quase uma década.

A NVI foi concebida como uma tradução diferenciada, atualizada segundo as mais recentes descobertas arqueológicas, feita numa linguagem mais moderna e fluente e procurando ser fiel aos originais. Hoje, qual continua sendo a importância dessa Bíblia? A fidelidade da NVI está no sentido do original, e não na simples conservação irrefletida da forma, que muitas vezes nada comunica. Todavia, a NVI não rejeita a forma do texto original desnecessariamente. Na verdade, o alvo da NVI é comunicar a Palavra de Deus ao leitor moderno com tanta clareza e impacto. Creio que esse diferencial permanece. Não há outra versão semelhante. Temos versões tradicionais, da família Almeida, e versões mais livres como a Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) e a Mensagem. A NVI só tem paralelos em outros contextos. Há uma versão em Portugal, a Bíblia em Português Corrente, que é semelhante na abordagem contemporânea, mas não serve para o Brasil. Outra versão contemporânea, com outro enfoque, é a Bíblia Pastoral, ligada à Teologia da Libertação católica. Não tem interação com a realidade evangélica. Creio que a NVI, que está passando por revisão para melhorar ainda mais, continua com seu diferencial e impacto.

Nos últimos tempos, têm surgido muitos questionamentos acerca da veracidade de fatos narrados na Bíblia, como a queda do homem, o dilúvio, e torre de Babel etc. Muitos intérpretes do texto bíblico argumentam que tais eventos não aconteceram de fato, sendo apenas alegorias com base na cultura da época e que contêm lições morais e religiosas. Qual é a sua opinião? A Bíblia é verdade. Tudo o que ela afirma que aconteceu, aconteceu. O homem pecou contra Deus historicamente. A queda é um fato. O dilúvio aconteceu de verdade. A torre de Babel é uma realidade, como demonstram os zigurates babilônicos. O problema nosso é ler o texto com olhos ocidentais, muito iluministas. Os mais radicias tentam forçar o texto a ser “científico”, no padrão europeu e americano do século 19. O original não está preocupado com isso. É o problema dos que são mais conservadores do que a Bíblia. Por outro lado, filhos do mesmo racionalismo iluminista, os liberais negam o texto por falta de alinhamento com as exigências deles. Os autores do texto original tinham outras exigências, outros enfoques, outra abordagem. Às vezes, importamos discussões inúteis, que nunca foram o foco do autor, e perdemos a mensagem pretendida pelo texto. Ouçamos o texto dentro das categorias do texto. Deus nos abençoe.

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Mundo da Bíblia

Os desafios de uma nova tradução Traduzir a Bíblia é fazer escolhas. Com a NVI, essas escolhas foram pautadas pela fidelidade aos originais e pelo objetivo de tornar as Escrituras mais compreensíveis à população Por Russel Philip Shedd

O

interesse em preparar uma nova versão da Bíblia em português se originou no Brasil pela primeira vez em novembro de 1987. Durante o Congresso Missionário Ibero-Americano (Comibam), em São Paulo, nesse ano, John Cruz, representante da Sociedade Bíblica Internacional (SBI), sediada em New Jersey, Estados Unidos, ventilou comigo pela primeira vez a possibilidade de Edições Vida Nova se tornar responsável por uma tradução da Bíblia nos moldes da New International Version, em inglês. Os membros da comissão de literatura da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil endossaram um plano para aceitar o projeto de supervisionar o preparo de uma tradução em português contemporâneo, seguindo os princípios da versão norte-americana. A New International Version rapidamente se tornava a mais popular na América do Norte, facilitando à SBI patrocinar o trabalho dispendioso por meio dos royalties que recebia da publicadora e distribuidora Zondervan Publishing House, de Grand Rapids, Michigan, EUA. O primeiro plano foi de simplesmente traduzir a versão inglesa para português, com poucas modificações baseadas nos textos originais. Essa tradução foi realizada, mas o plano foi radicalmente modificado em 1990, quando houve o pedido da Sociedade Bíblica Internacional para desconsiderar a NIV norte-americana e formar uma comissão de estudiosos das línguas originais para preparar

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um texto que seria totalmente brasileiro. A comissão foi organizada sob o comando do pastor Luiz Sayão e os seus componentes, escolhidos para melhor representar os principais grupos evangélicos do Brasil. As diretrizes da SBI foram honradas para assegurar que todos os tradutores fossem comprometidos com a inspiração divina das Escrituras e reconhecidos conhecedores das línguas originais. O melhor estilista brasileiro aceitou a responsabilidade de acompanhar a tradução, com o intuito de apresentar um português de nível compreensível para uma maioria do público contemporâneo falante da língua. Não podia ser linguagem erudita demais, nem faltar dignidade merecida das Sagradas Letras. Acredito que nenhum dos membros da comissão pensava antecipadamente em quanto trabalho daria para preparar uma tradução fiel aos textos originais e não apenas fazer uma revisão da versão de João Ferreira de Almeida, consagrada pelo uso dos cristãos e nas igrejas durante séculos. Uma grande parte dos leitores evangélicos nem sabe que o tradutor das Escrituras tem que decidir entre muitos manuscritos escritos à mão durante os primeiros séculos da existência da Igreja. Quem que não fez um curso de seminário evangélico só conseguirá descobrir porque várias frases de 1 João 5:7 e 8 foram omitidas por causa da nota de rodapé que a NVI traz. Mas outras questões surgiram: seria melhor colocar a palavra “espírito” ou o termo “profecia” em 2 Tessalonicenses 2:2? A palavra “Espírito” em 1 João 4:2 seria o Espírito Santo ou um dos muitos espíritos que Deus envia para ministrar? Para descobrir qual foi nosso entendimento, veja mais uma vez o rodapé da Bíblia. Muitas das críticas direcionadas contra a nova versão se baseiam nas pequenas divergências que os manuscritos antigos apresentam ou em interpretações que o original não resolve. A vantagem das notas do rodapé é evidente se pesquisas científicas dos mais complicados textos não dão respostas definitivas. Junto com o conhecimento proporcionado pelas mais recentes descobertas arqueológicas e linguísticas e que foram adicionados às escolhas na tradução, visam tornar a versão NVI a mais confiável possível.

Popularidade Milhares de horas foram gastas na tentativa de manter a plena autoridade das Escrituras e, ao mesmo tempo, tornar o texto português mais compreensível. Não há vantagem nenhuma em traduzir acuradamente um texto que não é compreensível para o leitor. A comissão tentou juntar absoluta fidelidade ao texto original com a utilização de uma linguagem contemporânea falada pelo povo. Não quer dizer que todos os leitores entenderão perfeitamente toda a Bíblia. O intérprete necessita de comentários e dicionários bíblicos para interpretar alguns dos textos bíblicos que apresentam práticas e pensamentos de culturas da antiguidade e que são incompreensíveis para nós.

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“Seria melhor colocar a palavra ‘espírito’ ou o termo ‘profecia’ em 2 Tessalonicenses 2:2? A palavra ‘espírito’ em 1 João 4:2 seria o Espírito Santo ou um dos muitos espíritos que Deus envia para ministrar?” A lenta adoção da Bíblia NVI desde que foi lançada, em 2001, não é difícil de entender. A maioria dos pastores ficaram familiarizados com os textos corrigidos e atualizados das versões de Almeida. Decoraram os versículos, pregaram os textos, de maneira que não havia nenhum clamor para uma tradução contemporânea. Usar a segunda pessoa parecia mais apropriado para textos sagrados do que a terceira, que foi adotado pela NVI – com exceção dos casos em que alguém fala com Deus. As vantagens da NVI estão alistadas na introdução de cada Bíblia: 1) Fluência de linguagem; 2) Linguagem marcada pela dignidade e pela compreensão; 3) Imparcialidade teológica; 4) Atenção aos diferentes gêneros de composição; 5) Honestidade intelectual na escolha dos manuscritos mais confiáveis, pela antiguidade e tradição; 6) Qualidade exegética; 7) Notas de rodapé, para mostrar ao leitor razões por traz de uma leitura alternativa; 8) Pesos e medidas usados em nosso dia a dia; 9) A relação com Ph.D. em Novo a New International Version em inglês, que Testamento pela levou à escolha de uma filosofia de traduUniversidade de ção semelhante. Quando a comissão ficou Edimburgo, Escócia, persuadida que essa versão representou Russell Philip Shedd mais fielmente o sentido do original, in- é escritor, professor corporou os resultados da exegese dessa e conferencista. versão. Em muitos outros casos, seguiu Fundou a Edições uma tradução distinta. Vida Nova e atualmente é Em conclusão, quero dizer que todo o trabalho e dinheiro gasto no preparo da consultor da Shedd NVI em português não foi em vão. Muitos Publicações. Desde 1960, trabalha em leitores preferem essa versão a qualquer terras brasileiras outra. Somente o futuro dirá se a NVI em e hoje faz parte português ganhará a popularidade da NIV da Missão Batista em inglês. Mesmo que isso nunca aconConservadora teça, não me arrependo de ter aceito o no Sul do Brasil. convite para tomar os primeiros passos na Na década de 90, direção de produzir a versão conhecida integrou a Comissão como Nova Versão Internacional em por- de Tradução da NIV para o português. tuguês.

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Especial

Fiel e atual

A Bíblia Edição Comparativa traz duas das melhores versões da Palavra de Deus em português e oferece ao leitor, lado a lado, um texto mais tradicional e outro mais contemporâneo

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ara grande parte dos cristãos do Brasil, o nome João Ferreira de Almeida é quase um sinônimo para os textos bíblicos. Não sem motivo. Ele é o tradutor – ainda que não o único – de duas das versões da Bíblia mais usadas e apreciadas pelos brasileiros: a Revista e Atualizada (ARA) e a Revista e Corrigida (ARC). Outra tradução que vem ganhando cada vez mais espaço nos últimos anos é a Nova Versão Internacional (NVI), com sua atualidade e uma linguagem mais fluente e que valoriza a compreensão do leitor. Difícil é dizer qual é melhor. Cada estudante das Escrituras tem sua preferência e há até quem use uma ou outra dependendo da ocasião ou ainda prefira usar todas ao mesmo tempo, comparando versões. Por conta disso, a Geográfica Editora lançou a Bíblia Edição Comparativa, que traz lado a lado as versões João Ferreira de Almeida Revista e Corrigida e Nova Versão Internacional. Optar por uma ou outra não é mera questão de gosto. Almeida fez sua tradução no século XVII, a partir dos originais da Escritura Sagrada. A Edição Corrigida os adaptou à grafia simplificada da língua portuguesa brasileira. Apesar disso, sua linguagem permaneceu clássica e erudita. Por ser mais literal, é a menos interpretativa, valorizando a formalidade no vocabulário e na estrutura gramatical. Por sua vez, os estudiosos que traduziram a NVI, também diretamente do hebraico, do aramaico e do grego para o português, buscaram produzir um texto mais contemporâneo, conciso e acessível. Incorporando o conhecimento obtido a partir de descobertas arqueológicas e termos mais atualizados da língua, mas com o cuidado de não popularizar demais o texto. O objetivo era causar no leitor moderno o mesmo impacto que a Palavra original teve nos primeiros crentes. As diferenças não se limitam a trocar termos como chagas por feridas, júbilo por alegria ou peleja por guerra. Isso fica claro quando se comparam passagens como 1 Samuel 17:4 a 7, em que o gigante Golias é apresentado ao público. Na ARC, Golias tem “seis côvados e um palmo de altura”, e carrega consigo uma “couraça de escamas” que pesava “cinco mil siclos” e uma “lança com 600 siclos de ferro”. A NVI mostra Golias com “dois metros e noventa centímetros”, sua “couraça de escamas de bronze” com “60 quilos” e a lança pesando “sete quilos e duzentos gramas”. Outro bom exemplo se encontra em Isaías 33:1. A ARC decreta o juízo divino contra o “despojador”, aquele que “obra perfidamente”. Mas a NVI explica que o castigo é para o “destruidor”, o que “trai”. Na Bíblia Edição Comparativa, o texto da ARC fica em uma coluna, à esquerda. Na mesma página, é possível contrastá-lo com o da NVI, que fica em outra coluna, à direita. A praticidade aumenta ainda mais com recursos complementares. As notas de rodapé oferecem informações sobre lugares e nomes mencionados na Bíblia, aspectos litúrgicos, doutrinários, históricos e outros pontos importantes que permitam uma melhor compreensão do panorama das Escrituras. As referências remetem a outras passagens e trechos que tratam de um mesmo fato, palavra ou acontecimento. Ainda que muitos não percebam, o tempo passa e deixa marcas profundas. Na história e na forma como as pessoas se expressam. Inclusive, na língua, sempre em transformação. O que não muda é a Palavra de Deus, sempre essencial para a vida e a salvação do ser humano. Diante desse quadro, o desafio para qualquer versão ou tra-

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dução bíblica é acompanhar as mudanças de seu tempo, sem perder seu sentido original. Nesse sentido, a Bíblia Edição Comparativa se mostra um passo à frente e uma opção capaz de agradar a todos os gostos e necessidades, aliando a fidelidade do texto sagrado mais apreciado nas igrejas brasileiras com a praticidade e o entendimento fácil e pleno da versão que mais atrai novos leitores hoje.

Um breve exemplo 1 Samuel 17:4 a 7 ARC

“Então, saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro, cujo nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis côvados e um palmo. Trazia na cabeça um capacete de bronze e vestia uma couraça de escamas; e era o peso da couraça de cinco mil siclos de bronze. E trazia grevas de bronze por cima de seus pés e um escudo de bronze entre os seus ombros. E a haste da sua lança era como eixo de tecelão, e o ferro da sua lança, de seiscentos siclos de ferro; e diante dele ia o escudeiro.”

NVI

“Um guerreiro chamado Golias, que era de Gate, veio do acampamento filisteu. Tinha dois metros e noventa centímetros de altura. Ele usava um capacete de bronze e vestia uma couraça de escamas de bronze que pesava sessenta quilos; nas pernas usava caneleiras de bronze e tinha um dardo de bronze pendurado nas costas. A haste de sua lança era parecida com uma lançadeira de tecelão, e sua ponta de ferro pesava sete quilos e duzentos gramas. Seu escudeiro ia à frente dele.”

Isaías 33:1 ARC

“Ai de ti despojador, que não foste despojado, e que obras perfidamente contra os que não obraram perfidamente contra ti! Acabando tu de despojar, serás despojado; e, acabando tu de tratar perfidamente, perfidamente te tratarão.”

NVI

“Ai de você, destruidor, que ainda não foi destruído! Ai de você, traidor, que não foi traído! Quando você acabar de destruir, será destruído; quando acabar de trair, será traído.”

Ficha técnica Bíblia Edição Comparativa

Modelos: Grande Páginas : 1984 Formato: 16,5 x 24 cm (este formato pode variar em até 0,5 cm) Papel: Bíblia 28 g/m2 ISBN: 978-85-89956-91-8

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Discipulado

Manual da nova vida “Nascer de novo”, “ser batizado nas águas”, “praticar o fruto do Espírito”. A Bíblia de Estudo Novo Viver não é somente um dicionário para compreender o Texto Sagrado. É também um guia para se alcançar todas as bênçãos prometidas por Deus

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m dos convites mais estranhos e inusitados já feitos a uma pessoa está registrado no capítulo 3 do Evangelho de João. Certa noite, em uma conversa, Jesus disse ao fariseu Nicodemos, mestre da Lei e membro do Sinédrio, o conselho religioso que dirigia espiritualmente Israel no 1º século: “Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo. Necessário é nascer da água e do Espírito”. As palavras de Cristo não intrigaram somente Nicodemos. Até hoje provocam debates e continuam causando perplexidade em muita gente. Mas a verdade é que o caminho para a vida eterna passa, sim, por uma nova vida aqui e agora. Transformada pelo Espírito Santo e moldada segundo princípios bíblicos. Para auxiliar nessa jornada, a Geográfica Editora está lançando a Bíblia de Estudo Novo Viver. Com diversos recursos, textos e informações, a obra promete ser um “manual” para essa nova vida, auxiliando o leitor a crescer na fé e experimentar todas as possibilidades e bênçãos de Deus. Apesar de ser indicada principalmente à evangelização, para quem ainda não conhece os evangelhos, e aos novos convertidos, que estão iniciando a caminhada cristã, a Novo Viver será muito útil também àqueles que já estão há mais tempo na fé. Não somente para relembrar os fundamentos do chamado “primeiro amor”, mas para renovar o relacionamento pessoal com o Senhor, já que a Bíblia oferece diversos roteiros de leituras e estudos devocionais. Entre eles um modelo de estudo das Escrituras e um plano de leitura do Novo Testamento, que exigirá apenas cinco minutos do tempo da pessoa a cada dia, ao longo de um ano. O grande diferencial da Bíblia Novo Viver está no seu projeto, concebido como um roteiro que conduz o estudante, de forma simples e objetiva, pelos textos sagrados, e esclarece aspectos fundamentais de como deve ser a vida com Deus. Suas notas explicativas e recursos foram basicamente divididos em quatro partes: Fundamentos: Ensina a respeito do caráter de Deus, da vida de Jesus e do papel do Espírito Santo no ser humano. Sempre com muitas e variadas referências; Primeiros Passos: Traz instruções valiosas para o crescimento na fé, como a importância da oração, como encontrar uma igreja adequada, resistir às tentações e passar por momentos difíceis, e buscar a vontade de Deus para a vida; Seguindo em Frente: Na Palavra de Deus, não há separação entre a vida cotidiana e a espiritualidade. A pessoa deve servir ao Senhor com tudo o que ela é. Por isso, essa parte trata dos temas do dia a dia, como casamento, profissão e criação dos filhos; Perguntas Difíceis: Oferece respostas sobre assuntos delicados e questões difíceis com base naquilo que a Bíblia ensina. Entre os diversos recursos que a publicação traz também há textos introdutórios a cada um dos livros da Bíblia, descrevendo os temas abordados e contextualizando o leitor. Ainda para quem deseja ler e compreender o Livro Sagrado, na parte final

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da Novo Viver, é possível encontrar uma lista com 52 histórias bíblicas mais conhecidas, uma relação de versículos importantes para decorar, diversas profecias sobre Jesus no Antigo Testamento e seu cumprimento no Novo Testamento, além de um glossário que ajudará qualquer um a entender – e praticar – melhor o vocabulário bíblico e não se perder diante do “evangeliquês”, as tantas expressões costumeiramente usadas nas igrejas, entre elas “nascer de novo”, “ser batizado nas águas” ou “dar os frutos do Espírito”.

Simples, mas completa Uma das grandes preocupações de quem lê a Bíblia é conhecer Deus e o que ele tem a dizer. No entanto, só isso não basta. Também é preciso seguir em frente, relacionando-se com o Senhor. E, muitas vezes, renovar as baterias do viver diário, para superar crises e desafios. É para ajudar o estudante nessa caminhada que a Bíblia de Estudo Novo Viver foi projetada. Confira alguns dos assuntos abordados em suas notas e recursos e que permitirão ao leitor estabelecer um relacionamento que venha a transformar sua vida: Fundamentos Quem é Deus? Quem é Jesus? Quem é o Espírito Santo? Quem é o Diabo? O que são anjos? O que são demônios? O que é o céu? O que é o inferno? Perdão Honestidade e integridade Fé e obras Primeiros Passos Orar Procurar uma igreja adequada e frequentá-la Obedecer a Deus Resistir à tentação Viver no poder de Deus Compartilhar sua fé Buscar a vontade de Deus Viver como discípulo Ofertar a Deus Ter coragem nas provações

Seguindo em frente Casamento Filhos Prioridades Momentos de oração Relacionamentos Responsabilidade Desempenho no trabalho Perguntas difíceis Se Deus é tão bom, por que coisas ruins acontecem a seu povo? O que é desviar-se da fé? As outras religiões são tão boas quanto o cristianismo? Como se dará a segunda vinda de Jesus Cristo? Será que Deus aprova estilos de vida alternativos? O que são os dons espirituais? Por que um Deus que é bom mandaria alguém para o inferno?

Ficha técnica Bíblia de Estudo Novo Viver

Versão: Nova Versão Internacional Páginas: 1.504 Formato: 16,8 X 23,6 cm (este formato pode variar em até 0,5 cm) Papel: Bíblia 28 g/m2 ISBN: 978-85-8064-060-1

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Destaque

Vida eterna e em lĂ­nguas nada estranhas

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Prática e eficiente, a Bíblia Sagrada Edição Trilíngue traz em um único volume a Palavra de Deus em português, inglês e espanhol

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esde que Martinho Lutero pregou as 95 teses nas portas da Igreja de Wittenberg em 1517, redescobrindo o sentido original da doutrina da justificação pela fé e tornando acessível essa verdade ao povo, pela tradução dos originais da Bíblia em hebraico, aramaico e grego, para o alemão, levar as Escrituras às mais diversas línguas do planeta se tornou prioridade para o cristianismo. Hoje, além de permitir que mais gente conheça a mensagem de Jesus Cristo, ter acesso ao Texto Sagrado em vários idiomas é uma necessidade no mundo globalizado. Foi pensando nisso que a Editora Geográfica lançou a Bíblia Sagrada Edição Trilíngue, que traz em um único volume tanto o Antigo quanto o Novo Testamento em espanhol, inglês e português. Em todas as três, foi adotada a respectiva Nova Versão Internacional (NVI). Reconhecida pela sua fidelidade e contemporaneidade, a NVI prioriza a compreensão do leitor na tradução. Seu objetivo é comunicar as verdades bíblicas com a mesma clareza e impacto que o texto original causou em seus primeiros leitores. Para tanto, os diferentes trechos têm mais ou menos literalidade, equilibrando a erudição com o estilo popular e evitando regionalismos, termos vulgares, anacronismos e expressões arcaicas. Ainda assim, não se trata da mesma versão nas três línguas. Embora conservem princípios de tradução em comum, cada uma foi produzida de maneira independente por sua própria equipe de especialistas, a partir dos originais. Quando segura nas mãos a Edição Trilíngue, o leitor pode comparar lado a lado as três versões, suas semelhanças e diferenças. Com seu formato moderno e várias opções de capa – das mais jovens e coloridas às tradicionais e luxuosas –, a Bíblia é

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extremamente prática e eficiente, permitindo ao estudante até mesmo aprimorar a prática nos vários idiomas por meio da comparação e aumento de seu vocabulário. A comodidade oferecida em um único volume também vale para quem pretende se aprofundar nas verdades eternas, uma vez que ali estão três das traduções mais contemporâneas das Escrituras em alguns dos idiomas mais falados no mundo na atualidade. Calcula-se que a Palavra de Deus esteja presente em partes ou na totalidade atualmente em mais de 2.500 línguas. Isso significa que mais de 700 povos africanos têm acesso ao Texto Sagrado em seu idioma, assim como mais de 600 asiáticos, 500 americanos, 400 povos da Oceania e outros 200 europeus. Mas como há mais de 6.900 línguas faladas no mundo, percebe-se que há muito trabalho a fazer. Não apenas na tradução, já que bilhões nunca ouviram falar da obra de Cristo na cruz. Num mundo poliglota e culturalmente tão diversificado e cosmopolita, obras como a Bíblia Trilíngue são recursos mais do que úteis, fundamentais.

Ficha técnica Bíblia Sagrada Edição Trilíngue Versões: Nueva Versión Internacional, New International Version e Nova Versão Internacional Páginas: 1.872 Formato: 13 X 17 cm (este formato pode variar em até 0,5 cm) ISBN: 978-85-89956-97-0

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Cultura

As muitas histórias da NVI

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omunicar a Palavra de Deus ao leitor do século XXI com a mesma clareza e provocando o mesmo impacto que tiveram os textos e cartas originais da Bíblia entre os seus primeiros leitores pode soar até como uma ousadia. No entanto, foi com essa proposta que começaria, na última década do século passado, aquele que se anunciou o mais audacioso projeto de tradução das Escrituras Sagradas para o português em todos os tempos. Quase 300 anos depois que o pastor João Ferreira de Almeida empreendeu a épica tarefa de verter os textos hebraicos, aramaicos e gregos para o português, um grupo formado por alguns dos mais respeitados especialistas do Brasil e do exterior foi reunido para repetir o feito. Alguns eram professores, outros, linguistas ou teólogos. Uma equipe eclética, representando as mais diferentes denominações e linhas teológicas, dos mais tradicionais aos pentecostais. Esse foi o time que, após mais de dez anos de trabalho, produziu a Nova Versão Internacional (NVI), uma Bíblia cercada de muitas histórias, algumas delas tão marcantes quanto aquelas que ela surgiu para contar.

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Um grupo formado por respeitados estudiosos brasileiros e de outros países foi reunido para produzir uma nova tradução das Escrituras. Moderna, dinâmica e cercada de polêmicas Por Marcos Stefano Diferente do que muitos pensam, a trajetória da NVI portuguesa não começou com a publicação da New International Version, a NIV inglesa, em 1978. Apesar de possuírem muitas semelhanças e se basearem nos mesmos princípios e filosofia de tradução, a versão em português não seria uma mera tradução do inglês e, sim, obra nova, feita a partir dos escritos originais. “Muito da contribuição exegética da versão irmã, produzida no exterior, foi incorporada à NVI. Mas nossa Comissão de Tradução, em muitos textos, preferiu opções bem diferentes daquelas da obra inglesa. Jamais houve dependência obrigatória em qualquer nível, teológico, exegético ou hermenêutico em relação a qualquer versão estrangeira de qualquer língua. O leitor pode conferir isso, pois encontrará muitas semelhanças entre as duas e também verá muitas diferenças”, garante o teólogo e tradutor Luiz Alberto Teixeira Sayão. Especialista em hebraico, foi ele o responsável por coordenar o projeto de tradução para o português. A ideia de lançar uma nova tradução bíblica surgiu em 1985, mas os primeiros contatos só foram realizados dois anos mais tarde, durante o Congresso Missionário Ibero-Americano (Comibam), realizado em São Paulo. Na ocasião, John Cruz, representante da Sociedade Bíblica Internacional (SBI), conversou com Russell Shedd pela primeira vez sobre a possibilidade das Edições Vida Nova se tornarem responsáveis por essa tradução, que seria feita nos moldes da New International Version, em inglês. Os membros da comissão de literatura da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil endossaram um plano para aceitar o projeto de supervisionar o preparo de uma tradução em português contemporâneo, seguindo os princípios da versão norte-americana. “O primeiro plano foi de simplesmente traduzir a versão inglesa para o português, com poucas modificações baseadas nos textos originais. Essa tradução foi realizada, mas o plano sofreu modificação radical a pedido da Sociedade Bíblica Internacional. A ideia passou a ser: formar uma comissão de estudiosos das línguas originais, estudiosos e teólogos gabaritados para produzir um texto que seria totalmente brasileiro”, conta Shedd. Em 1990, essa Comissão de Tradução finalmente estava formada e pronta para iniciar os trabalhos. Apesar de alguns nomes a deixarem durante a empreitada que duraria toda a década e outros serem incorporados ao longo dos anos e de acordo com as

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necessidades, na primeira reunião, realizada no mês de junho em São Paulo, estavam presentes estudiosos brasileiros e estrangeiros de várias nacionalidades. Alguns residentes no exterior e outros possuindo mestrado e doutorado em respeitadas instituições teológicas da Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos (confira todos os membros da comissão na reportagem publicada à página 20). A primeira resolução tomada foi a de assinar um documento em que afirmavam a crença na autoridade, na inspiração plena e na inerrância das Escrituras, conforme o Pacto de Lausanne: “Afirmamos a divina inspiração, a dignidade e a autoridade tanto do Antigo Testamento como do Novo Testamento em sua inteireza, como a única palavra escrita de Deus, sem erro em tudo o que afirma, e como a única e infalível regra de fé e prática”, atestaram eles. Não podia haver dúvidas quanto ao compromisso com os valores eternos e com a verdade. Somente após isso, estavam preparados para o passo seguinte: estabelecer uma dinâmica para os trabalhos.

“Tu” e “você” Tendo como ponto de partida os princípios adotados na tradução da versão em inglês, um manual foi elaborado para padronizar as ações. O grande desafio era produzir um texto exato e fiel ao original, mas no melhor estilo literário e que favorecesse uma comunicação eficaz. Em suma, equilibrado, nem erudito nem popular demais. “A Nova Versão Internacional deve se fundamentar na filosofia de tradução conhecida como equivalência funcional, isto é, fundamentada no significado. Valendo-se desse critério deve-se considerar, por exemplo, a possibilidade de se empregarem duas palavras em português sempre que uma só não consiga transmitir o significado total desejado pelo texto original”, ensinava o Manual de Tradução. Passar um texto para outra língua precisa, beleza de estilo, clareza e dignidade se tornaram as quatro colunas que sustentavam todo o projeto. Outro fator de máxima importância na hora de escolher uma tradução mais literal ou outra que expressasse aquilo que o autor queria realmente dizer foi a fluência da leitura. Ao adotar o português contemporâneo comum, a norma culta da língua, usada em jornais e revistas, o objetivo era evitar que o texto pendesse demais para extremos, com tons muito acadêmicos ou populares-

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cos. Assim, a NVI optou muitas vezes por usar “você”, uma forma de tratamento bem contemporânea, em vez de “tu”. A não ser nos casos em que o homem fala com Deus. Mas se o “evangeliquês” – as peculiares expressões usadas nas igrejas pelos evangélicos, que dizem “estar na carne”, “aproveitar a bênção do louvor” ou “experimentar o fogo cair” – e os regionalismos foram deixados de lado, o mesmo não se pode dizer de termos teológicos como “Filho Unigênito”, “bem-aventuranças” e “inferno”. “Esse é um vocabulário comum, do qual não pudemos abrir mão, pois foi consagrado pela tradição ao longo do tempo. São as melhores expressões, facilmente entendidas. Ainda que não sejam tão comuns no dia a dia, dificilmente encontram melhores equivalentes”, diz Luiz Sayão. Para realizar o trabalho, a Comissão de Tradução teve acesso às mais modernas pesquisas teológicas e linguísticas na atualidade, além de consultar obras especializadas em inglês, alemão, francês, italiano, holandês, hebraico, espanhol e português, e dezenas de comentários, dicionários, obras de referência e modernos programas de informática. Na divisão do trabalho, cada membro da Comissão de Tradução ficou responsável por alguns livros da Bíblia. Deveria seguir a filosofia de tradução empregada e acatar as decisões tomadas em conjunto por todos. Sempre que necessário, grupos menores se reuniam para tarefas específicas. Já as reuniões gerais aconteciam a cada semestre, durante uma ou duas semanas, em cidades como Campinas, Atibaia, Caraguatatuba, Curitiba e São Bento do Sul, no Brasil, ou mesmo fora, em Miami, Dallas, Denver e Colorado Springs, sede da Bíblica. “Nessas ocasiões, dedicávamo-nos integralmente à tradução ou revisão, que eram feitas tomando como base a NIV inglesa e com consulta às línguas originais e às diferentes versões antigas e modernas. Também discutíamos as questões gerais, polêmicas e mais difíceis”, conta o pastor e professor presbiteriano William Lacy Lane. Professor de teologia em instituições como a Faculdade Teológica Sul Americana, de Londrina (PR), e da Unicesumar, de Maringá (PR) e com vasta experiência em tradução, Billy, como é conhecido, passou a integrar o projeto em 1996 e ficou responsável por alguns dos profetas menores e pelo livro de Isaías. Apesar da erudição da Comissão de Tradução ser do mais alto nível, não foi somente o conhecimento que marcou os trabalhos de produção da Bíblia NVI. Outro ponto destacado por vários membros da equipe era o compromisso que todos tinham com o Evangelho e o senso de que aquilo realizado em particular ou nas reuniões era sagrado. “Um dos momentos mais marcantes se deu quando estávamos concluindo a tradução do Novo Testamento. Em uma das reuniões da comissão, alguém solicitou que fosse feita uma leitura solene de parte do capítulo 6 de Apocalipse. Durante a leitura houve perceptível elevação do ambiente, ficando a atmosfera impregnada de uma sensação de temor e reverência”, escreveu o reverendo presbiteriano Odayr Olivetti, em um artigo. Membro da Comissão de Tradução desde o início dos trabalhos, Olivetti faleceu em agosto de 2013.

Omissões e heresias? Nem a necessidade de fazer uma versão bíblica que se aproximasse mais da linguagem usada cotidianamente nem as novas descobertas da arqueologia ou as muitas mudanças na língua impediram a NVI de passar por alguns percalços em mais de uma década de tradução. “Um projeto desses exige muitos in-

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vestimentos. Algumas vezes, o orçamento foi estourado. Durante quase dois anos, se não me engano, os trabalhos sofreram interrupção. No final, cerca de 1 milhão de dólares foram aplicados. Mas valeu a pena, pois alcançamos a excelência com um dos melhores textos em português”, analisa Mário Barbosa, ex-diretor executivo da Bíblica e responsável pela logística envolvida nos trabalhos de revisão da NVI. O Novo Testamento da NVI foi lançado em 1993 e a Bíblia completa em 2001 com grande e imediato sucesso. Mas nada disso impediu as críticas e as polêmicas surgidas antes mesmo da nova versão chegar ao mercado. Entre outras, ela começou a ser acusada de questionar doutrinas fundamentais da fé cristã, como a divindade de Cristo, omitir palavras e trechos, mudar passagens e até ser herética e vinculada à Nova Era. “Nada disso faz sentido e não há nenhuma verdade nessas acusações”, afirma o pastor Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, reitor do Seminário Bíblico Palavra da Vida, em Atibaia (SP). Membro da Comissão de Tradução, ele explica que as escolhas feitas pela NVI irritam seus críticos. Uma delas seria a de ser eclética em sua abordagem textual, usando como base o texto crítico e não o majoritário para a tradução. Ou, em outras palavras, não se apoiando na leitura da maioria dos manuscritos, mas sendo criteriosa e selecionando manuscritos mais confiáveis para serem usados. Outra, relacionada à filosofia de tradução, seria não se prender ao princípio da equivalência formal, pela qual, cada palavra no original tem outra equivalente na língua moderna em que é traduzida. Quando é necessário acrescentar algum termo para a sentença fazer sentido, este é usado em itálico. “Algumas vezes, a NVI faz isso. Mas outras, trabalha com o sentido das palavras, a equivalência dinâmica. Quem não gosta se opõe”, completa Pinto. Ainda em relação às supostas omissões, os tradutores lembram que as críticas são antigas. Algumas feitas a partir da leitura de textos da NIV em inglês em comparação com a King James. A questão é que a NVI, como já dito aqui, não é uma mera tradução do inglês. Assim, textos que muitos diziam suprimidos constavam da versão em português. Ainda que assuste quem está acostumado com versões tradicionais, é fato que a NVI prima por facilitar a leitura. Por isso, traz os textos blocados e não separa os versículos em parágrafos. Segundo alguns estudos, só isso já aumentaria a fluência da leitura em 20%. E para diminuir o impacto das críticas, tornou-se a primeira versão de linha evangélica no Brasil a incluir notas de rodapé contendo leituras ou traduções alternativas, de acordo com outros manuscritos ou versões antigas, o que permite ao leitor compreender as diferenças de tradução nas versões modernas da Bíblia. “Dá para tolerar que uma nova tradução cause estranheza ao leitor habitual da Bíblia. O que não é possível aceitar é que cause confusão. Ser fiel ao original é deixar seu significado claro e isso a NVI faz muito bem”, acrescenta o professor Billy Lane. Para não deixar dúvidas, ele cita dois exemplos. O primeiro está em Gênesis 12:5, que conta como Abraão saiu de Harã e levou consigo a família e tudo que lhe pertencia. Em algumas Bíblias, esses pertences incluem todas as “almas” que ele adquiriu. Obviamente, são pessoas. Não filhos, mas escravos. Ou como prefere traduzir a NVI, “servos”. Outro fica em Zacarias 4:14, que literalmente menciona “os dois filhos do azeite/óleo que estão diante do Senhor”. Algumas versões antigas traduziram dessa forma mesmo. No lugar de “filhos do azeite” ou “do óleo”, a NVI preferiu “ungidos”, o verdadeiro significado dessa expressão.

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Literatura

O que a Bíblia não contou

Nova série leva o leitor a imaginar como teria sido a vida das pessoas antes e depois dos acontecimentos registrados nas Escrituras.

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Bíblia Sagrada é a revelação ao homem de Deus e de seu plano redentor. Muitas vezes, ela faz isso contando histórias. Mas, como não é seu propósito, geralmente as histórias não trazem detalhes nem mostram o antes e o depois dos eventos narrados nas vidas de suas personagens. E qual leitor mais atento não fica curioso e se põe a imaginá-los? Por exemplo, especulando o que fez Moisés nos 40 anos em que esteve na corte do Egito, a nação mais poderosa de seu tempo, e com portas abertas a quase tudo por ser ele “filho da filha de faraó”? O que ele estudou e como eram as relações com seus verdadeiros pais e irmãos? E depois, quando esteve outros 40 anos em Midiã, como conheceu a esposa Zípora? Será que ele meditava

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muito em Horebe, o monte sagrado de Deus, chegando a escrever ali o livro do Gênesis, como tantos acreditam? Ou ainda, o que fez Sansão com sua enorme força antes de começar a enfrentar os filisteus? Paulo, após sua prisão em Roma, como relatado no capítulo 28 de Atos dos Apóstolos, teria ido para a Espanha, como era sua intenção? E o próprio Jesus, o que fez dos 12 aos 30 anos? Imaginar e contar todas essas histórias, mas sem negar ou contradizer o que diz as Escrituras, é o propósito do escritor evangélico Almir dos Santos Gonçalves Júnior com a série Histórias que a Bíblia não Contou, que está sendo lançada pela Geográfica Editora. O primeiro volume, Encontros com Jesus, imagina justamente o que teria acontecido com 42 pessoas antes ou depois de estarem com o Senhor nas passagens trazidas pelos evangelhos. Entre outros, estão nessa lista: João, o misterioso batista que vivia no deserto e comia gafanhotos e mel; Nicodemos, o importante fariseu que, depois de estar com o Mestre certa noite, precisou processar a instrução de “nascer de novo”; a mulher samaritana que, certa tarde, conversou com Cristo à beira do poço e teve sua vida sentimental revelada por ele; e o centurião de Cafarnaum, elogiado por sua exemplar fé. Fazer essa seleção não foi simples. “Somente no primeiro Evangelho, pude separar 32 diálogos de Jesus com gente simples ou importante, rica ou pobre, humilde ou soberba, indiferente ou crente, mas todos plenos de lições para cada um de nós. Aliás, essa foi a intenção ao tratar de histórias que a Bíblia não contou: absorver melhor aquilo que serviu de estímulo, indagação e advertência na vida dos leitores do Texto Sagrado e extrair mais ensinos de cada fato narrado de forma resumida por Mateus, Marcos, Lucas e João”, explica Gonçalves Júnior.

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C A ideia é bastante parecida com aquilo que foi feito em minisséries como A Bíblia e Milagres de Jesus, exibidas pela Rede Record. Com a diferença de que o projeto de imaginar as histórias que a Bíblia não contou é muito mais antigo e demandou uma pesquisa bem mais extensa e aprofundada. “Diferente do que muitos pensam, não foi só sentar em frente ao computador e digitar o que viesse à mente. Foi necessária uma vasta pesquisa histórica e cultural daqueles tempos, para harmonizar tudo com aquilo que contam os evangelistas”, completa o autor, que divide a obra em cinco partes: as curas que Jesus realizou, as orações a que ele atendeu, as transformações que operou, as advertências que o Senhor proferiu, e as vidas que ele inspirou. Assim, a vida secreta de Zila, a mulher que durante 12 anos sofreu com hemorragia e gastou todos os seus bens com os médicos, é revelada, e Cleopas, o discípulo no caminho de Emaús, saiu ainda na escuridão para contar aos demais que vira o Mestre ressuscitado.

Que fique claro: apesar de todo o esforço, tudo é um exercício de imaginação. Mas pode muito bem ter ocorrido dessa maneira. Como nos melhores romances de não-ficção, as histórias pensadas em cima de acontecimentos verdadeiros, até históricos e que tanto sucesso fazem no mundo moderno. A realidade é que o ser humano foi criado com a capacidade singular de contar e ouvir histórias, importando-se com homens e mulheres que não lhe são próximos ou mesmo que nem vivos estão mais. Essa singularidade projetada por Deus faz também com que os próximos quatro volumes da séries ejam muito aguardados. Aquele que andou com Deus contará a vida do patriarca Enoque, arrebatado para o Senhor para não ver a morte; A volta do Escravo narrará as peripécias de Onésimo, escravo de Filemon, enquanto esteve foragido; Apeles – Aprovado em Cristo; e O Carcereiro de Filipos, apresentará Clemente, que pensou em se suicidar após ver que um terremoto havia aberto as trancas de seu cárcere.

Bate-papo com o autor

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dministrador formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), ainda na década de 1960, o batista Almir dos Santos Gonçalves Júnior tem mais de 40 anos de experiência profissional nos ramos industrial, comercial, bancário, securitário e editorial. Porém, desde 1993, quando publicou seu primeiro livro, suas atenções passaram dos negócios para a literatura. Desde então, já escreveu mais de 30 obras, o que o levou à Academia Evangélica de Letras do Brasil (AELB), da qual é vice-presidente. Ele falou sobre a série Histórias que a Bíblia não Contou com a revista GEO.

havia a internet, nem o Google para responder a todas nossas questões com uma superficialidade que nos engana. Quando vi filmes como Quo Vadis, Sansão e Dalila e Os Dez Mandamentos, este de Cecil B. de Mille, a minha imaginação disparou e eu vi o quanto teria de caminhar em pesquisa histórica secular e religiosa para ter condição de escrever sobre fatos do dia-a-dia de personagens distanciados de nossa realidade por milênios. Hoje escrevo cercado por três estantes de livros que foram os meus condutores em todo este tempo.

GEO – Como surgiu a ideia de fazer o livro? Qual foi seu objetivo quando decidiu imaginar como teria sido o antes e o depois do encontro dos personagens do livro com Jesus? Almir dos Santos Gonçalves Junior – É um plano editorial acalentado há mais de 60 anos. Desde os 15 comecei a fazer os meus primeiros ensaios. Filho de pastor, aluno de EBD, educado com a prática do culto doméstico em família, formei minha infância ouvindo as histórias da Bíblia e me perguntando sobre o antes e o depois de muitas delas. Cedo percebi que a Bíblia não poderia se deter nesses aspectos pessoais e particulares de seus personagens, mas sim, explorá-los apenas naquilo que dizia respeito à revelação maior que estava sendo feita pelo Espírito Santo de Deus aos seus escritores.

Quais as grandes dificuldades de fazer livros assim? O desafio não é só de sentar e escrever colocando o escritor toda a sua criatividade em ação no teclado do computador. Antes, principalmente em um tema bíblico, você tem que espiritualmente sentir o tema, o enredo, a circunstância, o objetivo, o mérito, a temperatura emocional do fato, evento ou personagem que pretende descrever. Comentava-se em 1961, época do grande filme de Miklós Rosza, O Rei dos Reis, que o ator Jeffrey Hunter que protagonizou o papel de Cristo, passou um bom tempo em “retiro espiritual”. Deixou a família, os amigos, as festas, fez jejum para viver de forma ascética, recolhida e quase monástica, a fim de representar o papel do nosso Salvador e Redentor. Ou seja, para viver no filme a santidade de Cristo, ele precisava revestir-se como ator daquelas qualidades intrínsecas a um santo de Deus. Para escrever, tive que procurar meditar no texto bíblico, orar e experimentar a vivência e a comunhão espiritual que os fatos e eventos registrados na Palavra de Deus transmitem. Mas valeu, pois elas agora podem também servir como fonte de inspiração e fortalecimento espiritual. Aliás, para a mente humana, fica difícil apreender certas histórias quando os fatos não são completamente narrados.

Contar detalhes sobre a vida de gente como Jairo, Nicodemos ou Mizael não é das tarefas mais simples. Até porque não exige apenas imaginação. Para escrever, o senhor realizou pesquisas? Quando me senti estimulado a escrever sobre tais histórias, percebi que eu precisava ter conhecimento muito profundo do contexto que circundava cada trecho bíblico que me fascinava. A biblioteca de meu pai, foi o primeiro garimpo que fiz. Depois comecei a adquirir os meus livros para isto. Naquele tempo não

Algumas dessas vidas o marcou mais? Nesse primeiro livro da série, o grande personagem que me marcou, foi aquele que esteve presente em todas as 42 histórias: Jesus Cristo. Todos os demais gravitaram, refletiram, e giraram em torno dele, chamando mais ou menos atenção, de acordo com a pressão emocional do momento que viviam. Fora ele, a personalidade contraditória de Pedro, que avulta em altos e baixos, seja mais marcante, por refletir melhor a própria natureza de cada um.

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Sã po vi tr es ilu pe de di ag fa en

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São 15 estudos divididos por temas, o que facilita a visualização do assunto tratado em forma de esquema. Com muitas ilustrações o tema é percorrido com facilidade de compreensão e didática. A coleção é agrupada por tema, facilitando o entendimento.

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