Comentário Bíblico Expositivo

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COMENTÁRIO BÍBLICO EXPOSITIVO Antigo Testamento Volume I — Pentateuco

WARREN W. WIERSBE


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COMENTÁRIO BÍBLICO EXPOSITIVO Antigo Testamento Volume I — Pentateuco

WARREN W. WIERSBE

TRADUZIDO POR SUSANA E. KLASSEN 1ª Edição 6ª Reimpressão 0123456789

Geográfica editora

Santo André, SP - Brasil 2012


Comentário Bíblico Expositivo Categoria: Teologia / Referência Copyright © 2001 por Warren W. Wiersbe Publicado originalmente pela Cook Communications Ministries, Colorado, EUA. Título Original em Inglês: The Bible Exposition Commentary – Old Testament: Pentateuch Preparação: Liege Maria de S. Marucci Revisão: Theófilo Vieira Capa: Douglas Lucas Diagramação: Viviane R. Fernandes Costa Impressão e Acabamento: Geográfica Editora Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada, 2ª edição (Sociedade Bíblica do Brasil), salvo indicação específica. A 1ª edição brasileira foi publicada em maio de 2006. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo : Antigo Testamento : volume I, Pentateuco / Warren W. Wiersbe ; traduzido por Susana E. Klassen. – Santo André, SP : Geográfica editora, 2006. Título original: The Bible Exposition Commentary Old Testament: Pentateuch ISBN 85-89956-48-2 1. Bíblia A.T. – Comentários I. Título. 06–3968

CDD–221.7 Índice para catálogo sistemático: 1. Antigo Testamento : Bíblia : Comentários 221.7 2. Comentários : Antigo Testamento : Bíblia 221.7

Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela: Geo-Gráfica e editora ltda. Av. Presidente Costa e Silva, 2151 - Pq. Capuava - Santo André - SP - Brasil Site: www.geograficaeditora.com.br


S UMÁRIO

GÊNESIS........................................................................................................ 7 ÊXODO......................................................................................................... 232 LEVÍTICO....................................................................................................... 329 NÚMEROS.................................................................................................... 408 DEUTERONÔMIO........................................................................................ 490


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A marca FSC é a garantia de que a madeira utilizada na fabricação do papel interno deste produto provém de florestas gerenciadas de uma maneira responsável, seguindo rigorosos critérios sociais e ambientais e cuja origem é controlada.


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G ÊNESIS

ESBOÇO

I. DEUS CRIA O UNIVERSO – 1

Observe as dez “gerações” em Gênesis: Os céus e a Terra (1:1 – 2:46); Adão (5:1 – 6:8); Noé (6:9 – 9:29); Sem, Cam e Jafé (10:1 – 11:9); Sem (11:10-26); Tera (11:27 – 25:11); Ismael (25:12-18); Isaque (25:19 – 35:29); Esaú (36:1 – 37:1); Jacó (37:2 – 50:26).

II. ADÃO E EVA – 2–5

CONTEÚDO

1. O jardim – 2 2. A queda – 3 3. As conseqüências da queda – 4–5

1.

III. NOÉ E SUA FAMÍLIA – 6:1 – 11:9

3.

1. O dilúvio – 6–7 2. A nova Terra – 8 3. A aliança – 9 4. As nações – 10 5. A torre de Babel – 11:1–9

4.

IV. ABRAÃO E SARA – 11:10 – 25:11

7.

Tema-chave: Começos Versículo-chave: “No princípio, criou Deus...” (1:1)

2.

5. 6.

O começo do povo hebreu

V. ISAQUE E REBECA – 25:12 – 28:22

8. 9.

VI. JACÓ E SUA FAMÍLIA – 29:1 – 38:30

10.

O estabelecimento do povo hebreu como nação

11.

VII. JOSÉ E SEU MINISTÉRIO – 39:1 – 50:26 A proteção dos hebreus como nação

12. 13.

A.C.: Antes da criação (Gn 1:1).................................................... 9 Quando Deus fala, algo acontece (Gn 1)...................................................... 15 As primeiras coisas primeiro (Gn 2)...................................................... 21 Este é o mundo de meu Pai – ou não?................................................... 28 Perigos no paraíso (Gn 3)...................................................... 34 Caim no centro do palco (Gn 4:1-24)............................................ 42 Quando as perspectivas são sombrias, tente olhar para cima (Gn 4:25 – 6:8)...................................... 48 Um homem e sua fé, um homem e sua família (Gn 6:9 –7:24)................ 54 O Deus dos recomeços (Gn 8)...................................................... 60 À vida! À vida! (Gn 9:1-17)............................................ 66 O resto da história (Gn 9:18 – 10:32).................................. 71 Cuidado – Deus trabalhando (Gn 11)................................................... 77 De volta aos fundamentos (Revisão de Gn 1 – 11)........................ 82


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GÊNESIS

14. Um novo começo (Gn 11:27 – 12:9)................................. 86 15. Fome, rebanhos e rixas (Gn 12:10 – 13:18)............................... 91 16. Crer é vitória (Gn 14)................................................... 96 17. A noite escura da alma (Gn 15)................................................. 102 18. Cuidado com os desvios! (Gn 16)................................................. 107 19. O que é um nome? (Gn 17)................................................. 112 20. Como pelo fogo (Gn 18 – 19)......................................... 117 21. Abraão, o vizinho (Gn 20; 21:22-34)............................... 123 22. “Tempo de chorar, tempo de rir” (Gn 21:1-21; Gl 4:21-31).................... 128 23. A maior prova de todas (Gn 22).................................................. 133 24. Lá vem a noiva! (Gn 24)................................................. 138 25. “Tempo de morrer” (Gn 23; 25:1-11).................................. 143 26. Tal pai, tal filho... quase (Gn 25 – 26)......................................... 149

27. Uma obra-prima arruinada (Gn 27 – 28)......................................... 156 28. Disciplina e decisões (Gn 29 – 31)......................................... 163 29. Pondo o passado em ordem (Gn 32 – 34)......................................... 170 30. Você pode voltar para casa (Gn 35 – 36)......................................... 177 31. Apresento-lhes o herói (Gn 37).................................................. 182 Interlúdio: Judá e Tamar (Gn 38)................................................. 188 32. O Senhor faz a diferença (Gn 39 – 41)......................................... 190 33. Quando os sonhos se realizam (Gn 42 – 43)......................................... 197 34. A verdade e suas conseqüências (Gn 44 – 45)......................................... 204 35. A sabedoria do avô (Gn 46 – 48)......................................... 210 36. Uma família de futuro (Gn 49)................................................. 216 37. Três ataúdes (Gn 50)................................................. 222 38. Seja autêntico: Visão geral e resumo........................... 228


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1 A.C.: ANTES

DA

CRIAÇÃO

GÊNESIS 1:1

A

pesar do nome “Gênesis”, que significa “começos”, e de sua localização como o primeiro livro da Bíblia, o Livro de Gênesis não é o começo de tudo. Gênesis 1:1 nos lembra que: “No princípio, criou Deus”. Assim, antes de estudar os fundamentos apresentados em Gênesis 1–11, vamos nos familiarizar com o que Deus fez antes daquilo que se encontra registrado em Gênesis. Depois disso, estudaremos o que Deus fez e que aparece no relato de Gênesis e, por fim, o que ocorreu depois de Gênesis. Isso nos dará a visão mais ampla de que precisamos para estudar o restante da revelação de Deus na Bíblia.

1. ANTES DE GÊNESIS: O PLANO DE REDENÇÃO

O que estava acontecendo antes de Deus criar o Universo com sua palavra? Essa pode parecer uma pergunta hipotética e pouco razoável do tipo: “Quantos anjos cabem na cabeça de um alfinete?”, mas não é!1 Afinal, Deus não age de modo arbitrário, e o fato de ter criado algo indica que devia ter em mente um propósito magnífico. Qual era, então, a situação antes de Gênesis 1:1 e o que ela nos ensina sobre Deus e sobre nós mesmos? Deus existia em glória sublime. Deus é eterno. Ele não tem começo nem fim. Assim, é totalmente auto-suficiente, não precisa de nada além dele mesmo para existir e agir. De acordo com A. W. Tozer: “Deus tem uma relação voluntária com tudo o que criou, mas não tem uma relação necessária com coisa alguma além dele próprio”. 2 Deus não precisa de nada, nem do Universo material e nem da raça humana, e, no entanto, criou os dois.

Se você quer confundir sua cabeça, medite sobre o conceito de eterno, algo que não tem começo nem fim. Sendo criaturas ligadas ao tempo, você e eu podemos facilmente nos concentrar nas coisas passageiras ao nosso redor. No entanto, é difícil – para não dizer impossível – imaginar aquilo que é eterno.3 Contemplar a natureza e o caráter do Deus Trino que sempre foi, que é, e que sempre será, daquele que nunca muda, é uma tarefa grande demais para nós. “No princípio, criou Deus”; Moisés escreveu: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90:2). Frederick Faber expressou esse fato da seguinte maneira: Além do tempo, do espaço, único e só.4 E, no entanto, Três em sua sublimidade, Tu és, grandiosamente e para sempre, somente Deus em unidade!5

A “teologia de processo”, uma antiga heresia com uma roupagem moderna, fala de um “deus limitado” que se encontra no processo de tornar-se um deus “maior”. Contudo, se Deus é Deus, da forma como entendemos essa palavra, então ele é eterno e não precisa de nada; ele é onisciente, onipotente e onipresente. A fim de ter um “deus limitado”, é preciso, antes de tudo, redefinir a palavra “Deus”, pois de acordo com a própria definição desse termo, Deus não pode ser limitado. Além disso, se Deus é limitado e “está se expandindo”, que poder o está tornando maior? Esse poder teria de ser maior do que “Deus” e, portanto, ser Deus! Isso não faria, então, com que tivéssemos dois deuses em vez de um?6 Porém, o Deus da Bíblia é eterno e não tem começo. Ele é infinito e não possui qualquer limitação de tempo ou espaço. Ele é perfeito e não tem como “melhorar”; por ser imutável, não tem como sofrer qualquer alteração. O Deus que Abraão adorava é o Deus eterno (Gn 21:33), e Moisés disse aos israelitas: “O Deus eterno é a tua habitação e, por baixo de ti, estende os braços eternos”


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GÊNESIS 1:1

(Dt 33:27). Habacuque disse que Deus era “desde a eternidade” (Hc 1:12; ver também 3:6), e Paulo chamou-o de “Deus eterno” (Rm 16:26; ver também 1 Tm 1:17). A Trindade divina encontrava-se em comunhão de amor. “No princípio, criou Deus” seria uma declaração assustadora para um cidadão de Ur dos caldeus, lugar de onde Abraão veio, pois os caldeus e os povos ao seu redor adoravam uma miríade de deuses e deusas maiores e menores. No entanto, o Deus de Gênesis é o único Deus verdadeiro e não tem “deuses rivais” para contender com ele, como acontece nas fábulas e mitos do mundo antigo (ver Êx 15:1; 20:3; Dt 6:4; 1 Rs 8:60; 2 Rs 19:15; Sl 18:31). Esse Deus verdadeiro e único existe na forma de três pessoas: Deus o Pai, Deus o Filho, e Deus o Espírito Santo (ver Mt 3:16, 17; 28:18-20 7; Jo 3:34, 35; 14:15-17; At 2:32, 33; 38,39; 10:36-38; 1 Co 12:1-6; 2 Co 13:14; Ef 1:3-14; 4:1-6; 2 Ts 2:13, 14; Tt 3:4-6; 1 Pe 1:1, 2). Isso não quer dizer que um só Deus se manifesta de três formas diferentes nem que há três deuses, mas sim que um Deus existe em três Pessoas, iguais em seus atributos e, no entanto, individuais e distintas no que se refere a seus ofícios, incumbências e ministérios. De acordo com o Credo de Nicéia (325 d.C.), “Cremos em um só Deus, Pai [...] e em um só Senhor, Jesus Cristo, o Filho de Deus, gerado pelo Pai [...] Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não criado, de uma só substância com o Pai [...]. Cremos no Espírito Santo”. Certa vez, ouvi um pastor começar um culto orando: “Pai, obrigado por morrer por nós na cruz”. Contudo, foi Deus, o Filho, não Deus, o Pai, quem morreu pelos pecadores na cruz; e é Deus, o Espírito Santo, que convence os pecadores e os conduz ao arrependimento e à salvação. Misturar e confundir as três Pessoas da Divindade implica fazer algo arriscado: mudar o que é ensinado nas Escrituras. A doutrina da Trindade não foi revelada claramente no Antigo Testamento, pois a ênfase dessa parte das Escrituras é sobre o fato de que o Deus de Israel é um só Deus, que

não foi criado e que é o único e verdadeiro Deus. Adorar os falsos deuses dos povos que viviam a seu redor foi a grande tentação e o pecado no qual Israel caiu repetidamente, de modo que Moisés e os profetas bateram sempre na tecla da unidade e da singularidade do Deus de Israel. Até hoje, o adorador judeu devoto recita o Shema todos os dias: “Ouve [shema], Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6:4,5). O Deus revelado nas Escrituras não tem semelhantes nem rivais. No entanto, o Antigo Testamento apresenta vislumbres e alusões à maravilhosa verdade da Trindade, uma verdade que mais tarde seria claramente revelada por Cristo e pelos apóstolos no Novo Testamento. As declarações na terceira pessoa do plural encontradas em Gênesis (Gn 1:26; 3:22; 11:7; ver também Is 6:8) indicam que as Pessoas da Divindade trabalham juntas, e as diversas ocasiões em que “o Anjo do SENHOR” entrou em cena, mostram a presença do Filho de Deus (ver Gn 16:7-11; 21:17; 22:11, 15; 24:7, 40; 31:11; 32:20-24; Êx 3:1-4 com At 7:30-34; 14:19; 23:20-26; 32:33 – 33:17; Js 5:13ss; Jz 2:1-5 e 6:11ss). O Messias (Deus, o Filho) fala de si mesmo, do Espírito e do Senhor (Pai) em Isaías 48:16, 17 e 61:1-3; e o Salmo 2:7 declara que Jeová tem um Filho. Jesus tomou o versículo 7 para si quando desafiou os inimigos que não o aceitavam como Filho de Deus (Mt 22:41-46). Em Gênesis 1:2 e 6:3, o Espírito de Deus é distinguido do Senhor (Pai), e essa mesma distinção pode ser encontrada em Números 27:18; Salmo 51:11; Isaías 40:13; 48:16; e Ageu 2:4,5. Apesar de a palavra “trindade” não aparecer em parte alguma da Bíblia, a doutrina certamente está presente, oculta no Antigo Testamento e revelada no Novo. Essa doutrina profunda e misteriosa tem algum significado prático para o cristão da atualidade? Sem dúvida, pois as três Pessoas da Divindade estão todas envolvidas no planejamento e na execução da vontade divina para o Universo, inclusive o plano da salvação.


GÊNESIS 1:1

A Trindade divina planejou a redenção. O maravilhoso plano de redenção não foi algo improvisado para o povo de Deus escolhido em Cristo “antes da fundação do mundo” (Ef 1:4; Ap 17:8) e entregue ao Filho pelo Pai tanto para pertencer a seu reino (Mt 25:34) quanto para participar de sua glória (Jo 17:2, 6, 9, 11,12, 24). A morte sacrificial do Filho não foi um acidente, mas sim um compromisso (At 2:23; 4:27, 28); pois ele “foi morto desde a fundação do mundo” (Ap 13:8). Nas deliberações eternas, a Divindade decidiu criar um mundo que incluiria seres humanos feitos à imagem de Deus. Não só o Pai (Gn 1:1; 2 Rs 19:15; At 4:24), mas também o Filho (Jo 1:1-3, 10; Cl 1:16; Hb 1:2) e o Espírito Santo (Gn 1:2; Sl 104:30) participaram da criação. Deus não criou o mundo porque precisava de alguma coisa, mas sim para que pudesse compartilhar seu amor com suas criaturas que, diferentes dos anjos, são feitas à imagem de Deus e podem corresponder a seu amor livremente. A Divindade determinou que o Filho viria à Terra e morreria pelos pecados do mundo, e Jesus veio para fazer a vontade do Pai (Jo 10:17, 18; Hb 10:7). As palavras de Jesus vinham do Pai (Jo 14:24), e suas obras eram comissionadas pelo Pai (Jo 5:17-21, 36; At 2:22) e investidas do poder do Espírito (At 10:38). O Filho glorifica o Pai (Jo 14:13; 17:1, 4), e o Espírito glorifica o Filho (Jo 16:14). As Pessoas da Trindade trabalham em conjunto para realizar a vontade de Deus. De acordo com Efésios 1:3-14, o plano da salvação é trinitário: somos escolhidos pelo Pai (vv. 3-6), redimidos pelo Filho (vv. 7-12) e selados com o Espírito (vv. 13, 14) – tudo isso para o louvor da glória de Deus (vv. 6, 12, 14)8. O Pai concedeu autoridade ao Filho para dar vida eterna àqueles que ele entregou ao Filho (Jo 17:1-3). Tudo isso foi planejado antes mesmo que o mundo existisse! É importante observar que as três Pessoas da Divindade têm um papel na salvação dos pecadores perdidos. No que se refere a Deus o Pai, ele, em sua graça, me escolheu

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em Cristo antes da fundação do mundo. No entanto, eu não tinha conhecimento algum da eleição divina até que fui convertido9. No que se refere ao Filho, fui salvo quando ele morreu por mim na cruz, e eu sabia dessa grande verdade desde os primeiros dias de minha vida. No entanto, no que se refere ao Espírito Santo, fui salvo em maio de 1945, quando fui convencido pelo Espírito de Deus e confiei em Jesus Cristo. Então, concretizouse em minha vida aquilo que Deus havia planejado desde a eternidade. O nascimento espiritual é um tanto parecido com o nascimento humano: você passa por ele, mas leva algum tempo para compreendê-lo! Afinal, eu não saberia o dia de meu aniversário se alguém não tivesse me contado. É só depois que nascemos na família de Deus que toda essa maravilha nos é revelada pela Palavra e desejamos, então, compartilhá-la com outras pessoas. Quando você pensa na profundidade dos planos eternos de Deus, percebe que são grandes demais para sua mente. Mas não desanime, pois, ao longo dos séculos, teólogos competentes e devotos não conseguiram chegar a um consenso sobre suas especulações e conclusões. Um de meus professores no seminário costumava nos lembrar do seguinte fato: “Tente explicar essas coisas e você pode perder a cabeça, mas tente desfazer-se delas e perderá sua alma”. Moisés expressou muito bem essa verdade: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29:29). O importante não é saber tudo o que Deus sabe, mas obedecer a tudo o que ele nos ordena. “Porque nós conhecemos em parte” (1 Co 13:9).

2. GÊNESIS: A PROMESSA DE REDENÇÃO Quando Deus escreveu a Bíblia, não nos deu um livro de teologia enfadonho divido em seções chamadas Deus, a Criação, o Homem, o Pecado e assim por diante. Em vez disso, deu-nos uma história, uma narrativa que começa na eternidade passada e termina na eternidade futura. Trata-se de uma história sobre


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GÊNESIS 1:1

Deus e seu relacionamento com todos os tipos de pessoas e como elas reagiram a sua Palavra. Ao ler essas narrações, aprendemos um bocado de coisas sobre Deus, sobre nós mesmos e sobre nosso mundo. Além disso, descobrimos que nossa história pessoal pode ser encontrada em algum lugar nas páginas das Escrituras. Se você ler com tempo e honestidade suficientes, descobrirá a si mesmo dentro da Bíblia. O Livro de Gênesis tem cinqüenta capítulos em nossas versões da Bíblia, mas o texto hebraico original não possui divisões. Depois de descrever a criação (1:1 – 2:3), Moisés apresentou uma lista de onze “gerações” que constituem a narração de Gênesis: os céus e a Terra (2:4 – 4:26); Adão (5:1 – 6:8); Noé (6:9 – 9:29); os filhos de Noé, Sem, Cam e Jafé (10:1 – 11:9), dando ênfase a Sem, o pai dos semitas (11:10-26); Tera, pai de Abraão (11:27 – 25:11); Ismael (25:1218); Isaque (25:19 – 35:29); Esaú 36:1-8), que também é chamado de Edom (36:9 – 37:1); e Jacó (37:2 – 50:26). São esses os indivíduos apresentados em Gênesis. Os onze primeiros capítulos de Gênesis tratam da humanidade em geral e concentramse em quatro acontecimentos principais: a criação (1 – 2), a queda do homem e suas conseqüências (3 – 5), o dilúvio (6 – 9) e a rebelião em Babel (10 – 11). O restante de Gênesis volta-se para Israel de modo específico (12 – 50) e relata a vida de quatro grandes homens: Abraão (12:1 – 25:18), Isaque (25:19 – 27:46), Jacó (28 – 36) e José (37 – 50).10 Chamamos esses homens de “patriarcas”, pois foram os fundadores de Israel como nação. Durante nosso estudo do Livro de Gênesis, tenha sempre em mente que Moisés não escreveu uma história detalhada de cada pessoa ou acontecimento. Ele registrou apenas aquelas coisas que o ajudaram a cumprir seu propósito, que era explicar a origem das coisas, especialmente a origem dos judeus

como nação. Gênesis 1 – 11 é um registro do fracasso humano, mas Deus recomeçou com o chamado de Abraão. O pecado do homem trouxe a maldição de Deus (3:14, 17; 4:11), mas pela graça, a aliança de Deus com Abraão trouxe bênçãos a todo o mundo (12:1-3). Também observamos que, no registro de Gênesis, quando o homem consegue mostrar o que tem de pior e atingir seu ponto mais baixo, Deus lhe dá um recomeço. De acordo com o Dr. G. Campbell Morgan, o ciclo de Gênesis é composto de “geração, degeneração e regeneração”.11 Caim matou Abel, mas Deus deu Sete para continuar a linhagem temente a ele. A Terra tornou-se violenta e perversa, de modo que Deus exterminou a humanidade, mas escolheu Noé e sua família para prosseguir com a obra divina. Deus chamou Abraão e Sara dentre os pagãos de Ur dos caldeus e deu-lhes um filho chamado Isaque. O futuro do plano de Deus para a salvação estava nesse filho. Isaque e Rebeca tiveram dois filhos, Esaú e Jacó, mas Deus rejeitou Esaú e escolheu Jacó para constituir as doze tribos de Israel e herdar as bênçãos da aliança. Em outras palavras, do começo ao fim, Gênesis é a história da vontade soberana e da graça eletiva de Deus. Isso não significa que as pessoas da história eram simples robôs, uma vez que erraram e até tentaram impedir a realização do plano de Deus. No entanto, sempre que as pessoas resistiram ao domínio de Deus, ele prevaleceu e cumpriu seu propósito divino de qualquer modo. “O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações” (Sl 33:11). Aquilo que tem início em Gênesis é desenvolvido ao longo de toda a Bíblia e, então, encontra sua plena consumação no Livro de Apocalipse, como podemos ver no seguinte resumo:


GÊNESIS 1:1

GÊNESIS

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APOCALIPSE

O primeiro céu e a primeira Terra. O primeiro jardim; a Árvore da Vida é guardada. O primeiro casamento. Satanás tenta Eva a pecar. A morte entra em cena. A construção de Babilônia. A promessa de um Redentor.

O novo céu e a nova Terra. A “cidade do jardim” e a Árvore da Vida disponível. O último casamento, as bodas do Cordeiro. Satanás é lançado no lago de fogo. Não há mais morte. A destruição de Babilônia. O reino do Redentor.

Há muitas outras comparações entre esses dois livros, mas as que apresentamos acima dão uma idéia de quão importante é o Livro de Gênesis para se compreender o plano de Deus e o restante das Escrituras.

Depois de uma era trágica de governo dos juízes e do reinado de Saul, registrados no Livro de Juízes e em 1 Samuel, Deus ungiu Davi para ser rei e revelou que o Redentor prometido procederia da família de Davi (2 Sm 7). Não apenas seria o “filho de Davi”, como também nasceria em Belém, a cidade de Davi (Mq 5:2). Por intermédio do profeta Isaías, Deus anunciou que o Redentor nasceria de uma virgem de modo miraculoso (Is 7:14; ver Lc 1:26-38). Sem dúvida, ao longo das eras do Antigo Testamento, Satanás fez todo o possível para impedir os planos de Deus. Caim era do diabo (1 Jo 3:12) e matou seu irmão Abel, mas Deus deu Sete para continuar essa linhagem temente ao Senhor (Gn 4:25, 26). Durante o dilúvio, Deus preservou Noé e sua família. Da família de Sete nasceu Abraão, o pai dos hebreus, uma nova nação. Em pelo menos quatro ocasiões, essa linhagem temente a Deus foi ameaçada de extinção. Abraão mentiu duas vezes sobre a esposa, Sara, e ela foi levada por reis pagãos (12:10-20; 20:1ss). Seu filho, Isaque, cometeu o mesmo pecado e colocou em risco a esposa, Rebeca (26:6-16). Durante os dias sombrios que posteriormente sobrevieram à monarquia hebraica, a perversa rainha-mãe Atalia ordenou a morte de todos os descendentes da linhagem real. No entanto, um pequeno príncipe chamado Joás foi salvo e, assim, deu continuidade à linhagem de Davi (2 Rs 11). Que fim teve essa história? “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a

3. DEPOIS DE GÊNESIS: O CUMPRIMENTO DA REDENÇÃO

Deus revelou seu grandioso plano de salvação de maneira gradual. Em primeiro lugar, ele deu uma promessa (Gn 3:15), a primeira promessa de salvação encontrada nas Escrituras. Trata-se da promessa de um Redentor que nasceria de uma mulher, derrotaria Satanás e traria a salvação para a humanidade. O Salvador prometido seria um homem, não um anjo, e salvaria seres humanos, não anjos caídos (Hb 2:5-18). De onde viria esse Redentor prometido? Gênesis 12:1-3 responde a essa pergunta: o Redentor será um judeu, do povo de Abraão. Por meio de um milagre de Deus, Abraão e Sara tiveram Isaque; e Isaque foi o pai de Jacó. No entanto, Jacó teve doze filhos que fundaram as doze tribos de Israel. Qual dessas tribos daria ao mundo o Salvador? Gênesis 49:10 nos diz: o Redentor virá da tribo de Judá. O Livro de Êxodo conta como Deus construiu a grande nação de Israel, enquanto esse povo sofria no Egito e, então, como ele os libertou com seu grande poder. O povo deveria ter se apropriado da herança de Canaã, mas, em sua incredulidade, desobedeceram a Deus e acabaram vagando pelo deserto durante quarenta anos (Nm 13 – 14). Josué liderou a nova geração, conduzindo-a para a Terra Prometida, onde estabeleceu a nação.


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GÊNESIS 1:1

fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4:4, 5). O anjo anunciou aos pastores: “É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2:11).

1.

A promessa havia se cumprido! E tudo começou em Gênesis! Agora, voltemo-nos para o magnífico e inspirado registro de Moisés sobre a criação dos céus, da Terra e da vida humana.

É questionável que os teólogos da antigüidade, em algum momento, tenham feito essa determinada pergunta, mas a questão não é totalmente irrelevante. Anjos são espíritos e não possuem corpo material, exceto de modo temporário quando são enviados em missões especiais; assim, como podem ocupar espaço? Tomás de Aquino discutiu essa questão em sua Summa Theologica, de modo que ela deve ser considerada importante.

2.

TOZER, A. W. The Knowledge of the Holy. Nova York: Harper and Brothers, 1961, p. 39.

3.

É claro que todo ser humano existirá para sempre, quer seja no céu quer no inferno; mas no que se refere a este mundo, somos todos forasteiros e peregrinos, estamos todos “de passagem”.

4.

O termo “só” não indica que Deus precisasse de amigos. A palavra significa “sozinho”.

5.

TOZER, A. W. The Christian Book of Mystical Verse. Harrisburg, Pa.: Christian Publications, 1963, p. 7.

6.

Aquilo que conhecemos hoje como “teologia de processo” teve origem nos ensinamentos do filósofo inglês Alfred North Whitehead (1861-1947), amplamente difundidos por seu discípulo Charles Hartshore. A teologia de processo foi popularizada pelo rabino Harold Kushner em seu livro Quando coisas ruins acontecem a pessoas boas (São Paulo: Nobel). De acordo com Kushner, no momento, Deus é fraco demais para fazer alguma coisa sobre o câncer, as guerras e as tragédias da vida; mas, à medida que confiamos nele e fazemos o bem, nós o fortalecemos para que ele alcance maiores realizações. Para conhecer o ponto de vista evangélico sobre a teologia de processo, ver On Process Theology, editado por Ronald H. Nash (Baker Book House, 1987), e minha obra Why Us? When Bad Things Happen to God’s People (Fleming, H. Revell, 1984).

7.

A conjunção aditiva “e” na frase batismal é importante, pois mostra a igualdade das Pessoas da Divindade.

8.

A doutrina da eleição divina não é uma desculpa para não se falar do evangelho a outros. O mesmo Deus que ordenou o fim – a salvação dos perdidos – também ordenou o meio para se alcançar esse fim, que é o testemunho de seu povo e as orações para que sua Palavra seja bem-sucedida. Deus escolhe pessoas para serem salvas, e então as chama por meio do evangelho (2 Ts 2:13, 14). As duas coisas andam juntas. Não sabemos quem são os eleitos, e o Senhor ordenou que levássemos o evangelho ao mundo todo (Mc 16:15; At 1:8).

9.

O Dr. H. A. Ironside, que pastoreou durante dezoito anos a Igreja Moody de Chicago, costumava ilustrar essa verdade ao descrever uma porta na qual havia uma placa onde estava escrito: “Todo aquele que vier pode entrar”. Crendo nessas palavras, você passa pela porta e é salvo. Então, olhando para trás, vê outra placa do lado de dentro, que diz: “Escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo”.

10. Essa divisão de capítulos é arbitrária, uma vez que existe uma sobreposição de gerações nas narrações, como sempre acontece na história dos seres humanos. Tecnicamente, a seção “gerações de Jacó” começa em 37:2, mas a história de Jacó inicia muito antes e coloca Isaque em segundo plano. Não há uma seção chamada “gerações de José”, uma vez que José faz parte da narração de Jacó, que encerra o Livro de Gênesis. 11. Ver as obras de Morgan, The Analyzed Bible e Living Messages of the Books of the Bible, ambas publicadas por Fleming H. Revell.


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2 QUANDO DEUS FALA, ALGO ACONTECE GÊNESIS 1

A

lgumas pessoas dizem que o presidente dos Estados Unidos é “o líder mais poderoso do mundo”, porém mais de um expresidente iria discordar dessa afirmação. Ex-presidentes confessaram que suas ordens executivas não eram sempre obedecidas e que não podiam fazer muita coisa sobre isso. Durante o primeiro mandato do presidente Nixon, por exemplo, ele ordenou que fossem removidas de Washington D.C. algumas construções temporárias de aspecto desagradável, prédios feios que estavam lá desde a época da 1ª Guerra Mundial; no entanto, levou meses para que sua ordem fosse acatada. Quando os jornalistas começaram a escrever sobre “a presidência imperial”, Nixon afirmou que se tratava de uma idéia “absurda”.1 Pode ser que presidentes declarem e assinem ordens oficiais, mas isso não garante que alguma coisa vai, de fato, acontecer. No entanto, quando Deus fala, algo acontece! “Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33:9). Quando refletimos sobre os atos de Deus registrados em Gênesis 1, não podemos deixar de nos curvar reverentemente em adoração, pois seus atos criadores revelam um Deus de poder e de sabedoria, cuja palavra tem autoridade.

1. DEUS CRIA (GN 1:1, 2) Três livros da Bíblia abrem com “começos”: Gênesis 1:1; Marcos 1:1 e João 1:1. Cada um desses começos é importante. As palavras: “No princípio era o Verbo” (Jo 1:1) remetem-nos à eternidade passada, quando

Jesus Cristo, o Verbo vivo de Deus, existia como o Filho de Deus. João não estava sugerindo que Jesus teve um começo. Jesus Cristo é o Filho eterno de Deus que existia antes de todas as coisas, pois fez todas as coisas (Jo 1:3; Cl 1:16, 17; Hb 1:2). Assim, o “começo” de João é anterior ao de Gênesis 1:1.2 O Evangelho de Marcos começa com as palavras: “Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus”. A mensagem do evangelho não começou com o ministério de João Batista, pois as boas novas da graça de Deus foram anunciadas em Gênesis 3:15. De acordo com o testemunho de Hebreus 11, houve pessoas que creram na promessa de Deus ao longo de todo o Antigo Testamento, e esses que creram foram salvos (ver Gl 3:1-9 e Rm 4). O ministério de João Batista, o precursor de Jesus, foi o princípio da proclamação da mensagem sobre Jesus Cristo de Nazaré (ver At 1:21, 22 e 10:37). A frase: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1) refere-se a um passado indeterminado, no qual Deus fez com que o Universo viesse a existir a partir do nada (Sl 33:6; Rm 4:17; Hb 1:3).3 Gênesis 1:1, 2 é a declaração de que Deus criou o Universo, enquanto a explicação sobre seus dias de trabalho criativo é apresentada no restante do capítulo. No capítulo 1, o Deus criador é chamado trinta e duas vezes de Elohim, uma palavra hebraica que enfatiza sua majestade e poder (o nome “Jeová”, usado no contexto da aliança, aparece pela primeira vez em Gn 2:4). Elohim é um substantivo plural usado com freqüência junto a verbos e adjetivos no singular (os tempos verbais hebraicos são singulares, duais ou plurais). Alguns acreditam que essa forma plural é o que a gramática chama de “plural de majestade” ou, ainda, que pode ser uma indicação da existência de Deus em três Pessoas. Nas Escrituras, a criação é atribuída ao Pai (At 4:24), ao Filho (Jo 1:1-3) e ao Espírito Santo (Sl 104:30). Elohim revela seu poder ao criar todas as coisas simplesmente ordenando-as pela palavra falada. A matéria não é eterna; ela teve início quando Deus falou e tudo passou a


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GÊNESIS 1

existir (Ef 3:9; Cl 1:16; Ap 4:11; 5:13). As Escrituras não revelam o motivo de Deus ter decidido começar sua obra criativa com uma massa escura, sem forma e vazia; 4 mas o Espírito Santo, que se movia sobre as águas, 5 teria dado ordem ao caos e beleza e plenitude ao que antes era vazio. 6 O Espírito ainda pode fazer isso, hoje em dia, na vida de todo aquele que se entrega a ele. As nações que cercavam o povo de Israel possuíam antigas tradições que “explicavam” a origem do Universo e da humanidade. Esses mitos falavam de monstros que lutaram nas profundezas dos oceanos e de deuses que guerrearam para que o Universo viesse a existir. No entanto, o relato simples de Gênesis apresenta-nos um Deus que, sozinho, criou todas as coisas e ainda está no controle de sua criação. Se o povo de Israel tivesse prestado mais atenção ao que Moisés havia escrito, jamais teria adorado os ídolos de seus vizinhos pagãos.

2. DEUS FORMA (GN 1:3-13) Existe um padrão nas atividades de Deus durante a semana da criação: primeiro ele formou e depois encheu. Fez três esferas de atividade: os céus, a Terra e as águas e, então, encheu-as com as formas de vida apropriadas. Primeiro dia (vv. 3-5). Deus ordenou que a luz brilhasse e, depois, separou a luz das trevas. Mas como podia haver luz se os luminares são mencionados apenas no quarto dia (vv. 14-19)? Uma vez que não é mencionado que essa luz procedesse de qualquer um dos luminares criados por Deus, é provável que se originava do próprio Deus, que é luz (Jo 1:5) e que se cobre com um manto de luz (Sl 104:2; Hc 3:3, 4). A cidade eterna terá luz sem fim e sem a ajuda do Sol ou da Lua (Ap 22:5), portanto, não é possível que houvesse luz desde o princípio do tempo, antes da criação dos luminares?7 A vida como a conhecemos não poderia existir sem a luz do Sol. Paulo viu nesse ato criador a obra de Deus na nova criação, a salvação dos perdidos. “Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” (2 Co 4:6). “A vida estava nele [Jesus] e a vida era a luz dos homens” (Jo 1:4). Nas Escrituras, a luz é associada a Cristo (Jo 8:12), à Palavra de Deus (Sl 119:105, 130), ao povo de Deus (Mt 5:14-16; Ef 5:8) e à bênção de Deus (Pv 4:18), enquanto as trevas são associadas a Satanás (Lc 23:53; Ef 6:12), ao pecado (Mt 6:22, 23; Jo 3:19-21), à morte (Jó 3:4-6, 9), à ignorância espiritual (Jo 1:5) e ao julgamento divino (Mt 8:12). Isso explica por que Deus separou a luz das trevas, uma vez que as duas não têm nada em comum. O povo de Deus deve “andar na luz” (1 Jo 1:5-10), pois “que comunhão, da luz com as trevas?” (2 Co 6:14-16; Ef 5:1-14) Desde o primeiro dia da criação, Deus estabeleceu o princípio da separação. Ele não apenas separou a luz das trevas (Gn 1:4), mas também o dia da noite (v. 14), como, posteriormente, separou as águas sobre o firmamento das águas debaixo do firmamento (vv. 6-8) e a terra das águas (vv. 9, 10). Por meio de Moisés, Deus ordenou ao povo de Israel que permanecesse separado das nações a seu redor (Êx 34:10-17; Dt 7:1-11), e quando transgrediram esse mandamento, sofreram as conseqüências. Hoje em dia, o povo de Deus precisar ter cuidado com seu modo de viver (Sl 1:1) e não ser contaminado pelo mundo (Rm 12:1, 2; Tg 1:7; 4:4; 1 Jo 2:15-17). Tendo em vista que Deus é o Criador, ele tem o direito de dar às coisas o nome que lhe aprouver; assim, temos “dia” e “noite”. A palavra “dia” pode referir-se à porção de tempo em que é possível ver o Sol bem como a todo o período de vinte e quatro horas composto de “tarde e manhã” (Gn 1:5).8 Às vezes, os escritores bíblicos usavam a palavra “dia” para descrever um período mais longo, durante o qual Deus cumpre um determinado propósito como “o dia do SENHOR” (Is 2:12) ou “o dia do Juízo” (Mt 10:15). Quando falamos de coisas espirituais, é importante que usemos o dicionário de Deus bem como seu vocabulário. As palavras trazem consigo certos significados próprios, e se atribuímos o significado incorreto a uma


GÊNESIS 1

palavra, isso pode nos colocar em sérias dificuldades. Seria um erro fatal para o paciente se o médico confundisse “arsênico” com “aspirina”, de modo que os profissionais da saúde têm o cuidado de usar a terminologia exata. O “vocabulário cristão” é ainda mais importante, pois a conseqüência de uma confusão pode ser a morte eterna. A Bíblia explica e ilustra palavras como pecado, graça, perdão, justificação e fé, e mudar seu significado é o mesmo que colocar mentiras no lugar da verdade de Deus. “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo” (Is 5:20). Segundo dia (vv. 6-8). Deus colocou um firmamento entre as águas superiores e inferiores e o chamou de “Céus”, aquilo que conhecemos como “céu”. Ao que parece, as águas eram como um “manto” de vapor que cobria inicialmente a massa usada na criação. Quando foram separadas da porção seca, as águas inferiores tornaram-se os oceanos e mares, e as águas superiores desempenharam um papel no dilúvio no tempo de Noé (Gn 7:11, 12; 9:11-15). A palavra traduzida por “firmamento” significa “compreender”. Nas Escrituras, por vezes faz-se referência ao céu como uma abóbada ou cobertura; no entanto, em nenhuma passagem as Escrituras apóiam a idéia pagã mitológica de que o céu é algum tipo de cobertura sólida. Os luminares foram colocados no firmamento (Gn 1:14-17), e sob ele voam as aves (v. 20). Terceiro dia (vv. 9-13). Deus reuniu as águas e fez surgir a porção seca, criando, assim, a “Terra” e os “Mares”. Os vizinhos pagãos de Israel acreditavam em todo tipo de mito sobre os céus, a Terra e os mares. No entanto, Moisés deixou claro que Elohim, o único e verdadeiro Deus, era Senhor de tudo. Pela primeira vez, Deus declarou aquilo que havia feito como sendo “bom” (v. 10). A criação de Deus ainda é boa, mesmo que sofra por causa do pecado (Rm 8:20-22) e que tenha sido devastada e explorada por seres humanos pecadores.

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Deus também fez surgir a flora sobre a terra: a relva, as ervas que dão semente e as árvores que dão frutos “segundo a sua espécie”, o que possibilita a ordem na natureza. Deus colocou limites de reprodução tanto para plantas como para animais (Gn 1:21), pois ele é Senhor da criação. Não há sugestão de algum tipo de “evolução”. Deus estava preparando a Terra para ser habitada pelos seres humanos e animais, e as plantas ajudariam a prover o alimento para eles. Pela segunda vez, Deus diz que aquilo que fez é bom (v. 12).

3. DEUS PREENCHE (GN 1:14-27; 2:7) Deus criou três “espaços” específicos: a terra, os mares e o firmamento dos céus. Durante os três dias criativos que se seguiram, preencheu esses espaços. Quarto dia (vv. 14-19). No firmamento dos céus Deus colocou os corpos celestes e deu-lhes sua incumbência: fazer a divisão entre a noite e o dia e oferecer “sinais” para marcar os dias, anos e estações. A luz já havia aparecido no primeiro dia, mas no quarto dia foi concentrada nos corpos celestes. Em função de suas práticas religiosas, o povo de Israel precisava saber as datas e estações, quando começava e terminava o sábado, quando tinha início um novo mês e quando era época de comemorar suas festas anuais (Lv 26). Antes da invenção do relógio e da bússola, as atividades do ser humano estavam intimamente ligadas aos ciclos da natureza, e os navegadores dependiam das estrelas para guiá-los. Israel precisava da ajuda dos corpos celestes para orientar suas atividades, e Deus usou sinais dos céus para comunicar-se com seu povo aqui na Terra.9 Deus ordenou aos israelitas que não imitassem seus vizinhos pagãos adorando corpos celestes (Êx 20:1-6; Dt 4:15-19; 17:2-7). Deviam adorar o verdadeiro Deus que havia criado as “hostes celestiais”, o exército dos céus que obedecia às suas ordens. Porém, o povo não obedeceu ao mandamento de Deus (Jr 8:2; 19:13; Ez 8:16; Sf 1:4-6), e seus pecados trouxeram grande sofrimento.


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GÊNESIS 1

Os povos da Antiguidade eram fascinados pela Lua, pelas estrelas, pelos movimentos do Sol e dos planetas, e há apenas uma linha muito tênue entre admiração e adoração. Nas palavras de Ralph Waldo Emerson: “Se as estrelas aparecessem apenas numa noite a cada mil anos, como poderiam os homens crer, adorar e preservar por muitas gerações a lembrança da cidade de Deus que havia sido mostrada...”.10 Quinto dia (vv. 20-23). Deus havia criado os céus e as águas e, então, encheu-os abundantemente de criaturas viventes. Fez pássaros para voar nos céus e criaturas aquáticas para brincar nos mares. “Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas. Eis o mar vasto, imenso, no qual se movem seres sem conta, animais pequenos e grandes” (Sl 104:24, 25). Nesse dia, foi acrescentado um novo elemento à obra de Deus: ele não apenas viu que isso era “bom”, mas também abençoou os seres que havia criado. Essa é a primeira vez que o termo “abençoar” aparece na Bíblia. A bênção de Deus permitiu que os animais e as aves se reproduzissem em abundância, desfrutando de tudo o que Deus havia criado para eles. Deus também abençoou o primeiro homem e a mulher (Gn 1:28; 5:2), o sábado (2:3) e Noé e sua família (9:2). Depois da criação, talvez a ocasião mais importante em que Deus concedeu sua bênção foi quando, por sua graça, fez aliança com Abraão e seus descendentes (Gn 12:1-3). Essa bênção estende-se até o povo de Deus nos dias de hoje (Gl 3:1-9). Sexto dia (vv. 24-31; 2:7). Deus havia formado os céus e os preenchido com os luminares celestes e as aves que voam. Havia formado os mares e enchido as águas com várias criaturas aquáticas. A criação chegou a seu ápice quando, no sexto dia, o Senhor criou a fauna e, depois, o primeiro homem, o qual, juntamente com sua esposa, teria domínio sobre a Terra e suas criaturas. Assim como o primeiro homem, os animais foram feitos do pó da terra (2:7), o que explica por que o corpo tanto de seres humanos quanto de animais volta ao pó

depois da morte (Ec 3:19, 20). No entanto, os seres humanos e os animais são diferentes. Não importa quão inteligentes sejam alguns animais ou quanto possam aprender, não foram dotados da “imagem de Deus” como os seres humanos.11 A criação do primeiro homem é considerada uma ocasião muito especial, pois antes do acontecimento é realizada uma “conferência”. As palavras “Façamos o homem à nossa imagem” parecem ser a conclusão de uma deliberação entre as Pessoas da Divindade.12 Não é possível que Deus estivesse discutindo seus planos com os anjos, pois eles não foram feitos à imagem dele (“à nossa imagem”) e não tiveram nada a ver com a criação de Adão. “Então, formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2:7). O verbo “formou” faz lembrar o oleiro criando uma obra de arte com suas mãos habilidosas. O corpo humano é, de fato, uma obra de arte, um organismo incrivelmente complexo, que só teria sido idealizado pela sabedoria de Deus e criado pelo seu poder. A matéria física do corpo de Adão veio da terra, pois o nome “Adão” significa “tirado da terra”; a vida de Adão, porém, veio de Deus. É claro que Deus é espírito e não tem pulmões para respirar e soprar. Essa declaração consiste em algo que os teólogos chamam de “antropomorfismo”, o uso de características humanas para explicar uma obra ou atributo divino.13 Há vários fatos importantes a observar sobre a origem dos seres humanos. Em primeiro lugar, fomos criados por Deus. Não somos produto de algum acidente galáctico nem ocupamos o degrau mais alto da escada evolutiva. Foi Deus quem nos fez, o que significa que somos criaturas e dependemos inteiramente dele. “Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17:28). Lucas 3:38 chama Adão de “filho de Deus”. Em segundo lugar, fomos criados à imagem de Deus (Gn 2:26, 27). Diferentemente dos anjos e dos animais, os seres humanos podem ter um relacionamento muito especial


GÊNESIS 1

com Deus. Não apenas nos deu personalidade – a mente para pensar, emoções para sentir, arbítrio para tomar decisões –, mas também nos concedeu uma natureza espiritual interior que nos permite conhecê-lo e adorá-lo. A imagem de Deus presente nos homens e nas mulheres foi desfigurada pelo pecado (Ef 4:18, 19), mas por meio da fé em Cristo e da submissão à obra do Espírito Santo, os cristãos podem ter a natureza divina renovada dentro de si (2 Pe 1:4; Ef 4:20-24; Cl 3:9, 10; Rm 12:2; 2 Co 3:18). Um dia, quando virem Jesus, todos os filhos de Deus compartilharão da gloriosa imagem de Cristo (1 Jo 3:1-3; Rm 8:29; 1 Co 15:49). Em terceiro lugar, fomos criados para ter domínio sobre a Terra (Gn 2:26, 28).14 Adão e Eva foram os primeiros regentes da criação de Deus (Sl 8:6-8). “Os céus são os céus do SENHOR, mas a terra, deu-a ele aos filhos dos homens” (Sl 115:16). No entanto, quando Adão acreditou na mentira de Satanás e comeu do fruto proibido, perdeu seu domínio, e agora o pecado e a morte é que reinam sobre a Terra (Rm 5:12-21). Quando Jesus Cristo, o último Adão (1 Co 15:45), veio à Terra, exerceu o domínio que o primeiro Adão havia perdido. Demonstrou ter autoridade sobre os peixes (Lc 5:17; Jo 21:1-6; Mt 17:24-27), as aves (Mt 26:69-75) e outros animais (Mc 1:13; 11:37). Quando morreu na cruz, conquistou o pecado e a morte, de modo que agora a graça pode reinar (Rm 5:21), e o povo de Deus “reinará em vida” (Rm 5:17) por meio de Jesus Cristo. Um dia, quando voltar, Jesus irá devolver aos seus o domínio perdido em função do pecado de Adão (Hb 2:5ss). Até o dilúvio (Gn 1:29, 30; 9:1-4), tanto Adão quanto os animais eram vegetarianos. Isaías 11:7 indica que os animais carnívoros voltarão a ser herbívoros quando Cristo voltar e estabelecer seu reinado na Terra. Em quarto lugar, esse Criador maravilhoso é digno do nosso louvor, da nossa adoração e obediência. Quando Deus fez um levantamento de sua criação, viu que tudo era “muito bom” (Gn 1:31). Ao contrário do que algumas religiões e filosofias ensinam, a criação não é um mal, e não é pecado gozar

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as boas dádivas que Deus compartilha conosco (1 Tm 6:17). Davi observou toda a criação de Deus e perguntou: “Que é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?” (Sl 8:4). A Terra não passa de um pequeno planeta orbitando dentro de uma imensa galáxia e, ainda assim: “Ao SENHOR pertence a terra” (Sl 24:1). Foi o planeta que ele escolheu para visitar e remir! As criaturas celestiais diante do trono de Deus o louvam por sua criação, e nós devemos fazer o mesmo. “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas” (Ap 4:11). Quando curvamos nossa cabeça para orar antes das refeições e agradecer ao Senhor a comida que ele provê, quando vemos o sol e a chuva que nos são oferecidos sem qualquer custo e quando vemos o desenrolar das estações, devemos elevar nosso coração em louvor ao Criador por sua fidelidade e generosidade. Por fim, devemos ser bons despenseiros da criação. Isso significa que devemos respeitar os outros seres humanos também feitos à imagem de Deus (Gn 9:6). Significa apreciar as dádivas que recebemos da criação e não desperdiçá-las nem abusar delas. Veremos essas questões em mais detalhes adiante, mas é válido observar que não podemos honrar ao Deus da criação se desonramos aquilo que ele criou. Devemos aceitar a criação como uma dádiva e empregá-la para a glória de Deus. São de Isaac Watts estas belas palavras: A bondade do Senhor louvo eu, pois a Terra de alimento encheu. Com sua palavra as criaturas formou, “São boas”, no final, declarou. Senhor, tuas maravilhas patentes estão, para onde quer que volte meu olhar; Quer seja o caminho por onde meus pés vão, quer nos céus que estou a fitar.

“O SENHOR é bom para todos, e as suas ternas misericórdias permeiam todas as suas obras” (Sl 145:9).


20

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1.

Ver In the Arena. Richard M. Nixon. Nova York: Simon and Schuster, 1990, p. 206.

2.

João descreve sete dias na vida de Jesus (Jo 1:19-28, 29-34, 35-42, 43-51; 2:1), o que, obviamente, é um paralelo com Gênesis 1. Moisés escreveu sobre a antiga criação, mas João fala da nova criação (2 Co 5:17).

3.

A palavra hebraica bara significa “iniciar algo novo, fazer existir”. É usada no relato da criação para descrever a criação dos peixes e das aves (Gn 1:21), a criação do homem e da mulher (v. 27) e toda a obra criadora (Gn 1; 2:3, 4).

4.

A “teoria da lacuna”, apresentada no livro Earth’s Earliest Ages [Eras antigas da Terra], de G. H. Pember, e popularizada pela Bíblia de Referência Scofield, afirma que a criação original de Gênesis 1:1 foi julgada na queda de Satanás e que os versículos 3 em diante descrevem a restauração da criação destruída. O versículo 2 deve ser lido: “A terra, porém, tornou-se sem forma e vazia”. Assim, houve uma “lacuna” de duração indeterminada entre o primeiro e o segundo versículos de Gênesis. Contudo, que motivo Deus teria para destruir a criação toda só por causa da rebelião de Satanás? E se ele a criou instantaneamente, por que levaria seis dias para restaurá-la? As duas idéias têm defensores competentes, e todos afirmam apoiar-se no texto original hebraico. Ao que me parece, os versículos 3 em diante descrevem os atos originais de criação divina e não é necessário colocar uma “lacuna” entre o versículo 1 e o versículo 2 para resolver quaisquer dificuldades.

5.

A imagem do versículo 5 é semelhante à de uma águia pairando sobre seus filhotes (Dt 32:11). Tanto no hebraico (ruah) como no grego (pneuma), a palavra para “Espírito” também quer dizer “vento” (ver Jo 3:8), de modo que o versículo pode ser traduzido como “o vento de Deus pairava sobre as águas”. No entanto, a tradução mais lógica parece ser “Espírito”.

6.

“Sem forma e vazia” corresponde à expressão hebraica tohu wabohu, que descreve absoluta devastação, vazio e ruína. Jeremias tomou essa imagem emprestada para descrever o julgamento de Deus sobre a terra de Judá (Jr 4:23) e Isaías empregou-a para descrever a ruína de Edom (Is 34:11).

7.

Alguns comentaristas acreditam que o trabalho de Deus no quarto dia não foi de criar luzeiros, mas de atribuir-lhes suas funções. No entanto, a descrição de Gênesis 1:14-19 é paralela àquela dos outros cinco dias e dá todas as evidências de ser uma explicação do ato criador de Deus.

8.

Ao referir-se ao dia de vinte e quatro horas, o povo judeu dizia “tarde e manhã” e não “manhã e tarde”, pois seus dias começavam com o pôr-do-sol e não o com o nascer do sol. Assim, o pôr-do-sol da quinta-feira deu início à sexta-feira e o pôr-do-sol de sexta trouxe o sábado.

9.

Quem usa mapas astrais para orientar suas decisões está seguindo antigos e fúteis costumes pagãos. Não há evidência alguma de que a posição dos corpos celeste influencie a vida humana aqui na Terra. A Bíblia condena toda tentativa do ser humano de prever ou de controlar o futuro (Dt 18:10-13; Is 47:13; Jr 10:2). A declaração de que o Sol e a Lua foram feitos para “governar” o dia e a noite, respectivamente, não significa que exerçam qualquer influência particular sobre questões pessoais, mas sim que o dia e a noite são os momentos em que operam. De acordo com a rotação da Terra, sua órbita ao redor do Sol bem como a órbita da Lua ao redor da Terra, o Sol e a Lua governam a quantidade de luz que incide sobre a Terra.

10. EMERSON, Ralph Waldo. Nature. Boston: Beacon Press, 1985, pp. 9, 10. 11. Ainda que muitos animais sejam mais fortes e vivam mais tempo do que nós, Deus deu aos seres humanos o domínio sobre eles. No entanto, isso não significa que podemos abusar e fazer o que bem entendermos com as criaturas de Deus (Jr 27:5). Apesar de os animais nos terem sido dados para servir-nos, devemos tratá-los como criaturas feitas por Deus. “O justo atenta para vida dos seus animais” (Pv 12:10). “Não atarás a boca ao boi quando debulha” (Dt 25:4). Deus cuida dos animais (Sl 36:6; 104:10-18; Mt 6:26) e sabe quando estão sofrendo (Jl 1:18-20; 2:22; Jn 4:11). Deus se interessa até mesmo pela forma como tratamos os frágeis passarinhos (Dt 22:6, 7). Aqueles que abusam da criação de Deus e a exploram, um dia, serão julgados (Ap 11:18). 12. Encontramos um “diálogo” parecido em Gênesis 3:22; 11:7; ver também Isaías 6:8. 13. Como vimos, a palavra hebraica ruah significa “fôlego” e “espírito” (ou Espírito). O fôlego de Deus deu vida a Adão, assim como o Espírito de Deus dá vida ao pecador que crê em Cristo (Jo 3:7, 8; 20:22). 14. É possível que Lúcifer desejasse ter o privilégio de exercer domínio sobre a Terra e suas criaturas, quando se rebelou contra Deus e liderou alguns anjos numa revolta conta o Senhor. Isaías 14:12-17 fala principalmente da queda do rei da Babilônia, mas por trás dessa passagem misteriosa esconde-se a imagem do “filho da alva”, que queria ser como o Senhor e que prometeu tornar Eva como Deus (Gn 3:5).


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