TRIPTICO ARMAS BANDEIRA SUEVA DA GALIZA

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a bandeira

do reino suevo da Galiza

um ícone histórico para umha naçom milenar


Actual escudo da cidade de coimbra

Ilustraçom do livro "El Blasón Español ó la ciencia heráldica" Ramón Mendél, 1846

Nos inícios do século V da nossa era o povo Suevo, um dos povos germanos que atravessaram a fronteira do Império Romano nesta altura, assentava-se e fundava um reino no território da província romana da Gallaecia. O Reino Suevo mantivo a sua independência durante a maior parte dos séculos V e VI sendo, aliás, o primeiro dos chamados reinos bárbaros da Europa. Anterior ao reino hispano visigodo, ao reino franco ou aos reinos de anglos e saxons na Gram Bretanha. A relaçom entre o povo suevo e o galaico-romano, nom isenta de conflitos nas primeiras décadas do século V, acabou por derivar numha normalizaçom e assunçom conjunta da legitimidade do novo reino. O que num primeiro momento poderia ter sido umha monarquia de base étnica converteu-se no Reino da Gallaecia, soberano sobre germánicos e indígenas. A perda da independência no ano 585, quando os visigodos conquistam e anexionam o território galego, nom implicou a desapariçom da sua singularidade política. Boa testemunha deste feito é a referência que temos sobre o visigodo Vitiza, que primeiro governou na Galiza desde a sua corte em Tui antes de subir ao trono de Toledo. Também esta persistência pode ser a explicaçom de porqué após o esfarelamento da monarquia visigótica em 711, apenas 126 anos após ter anexado o Reino Suevo, a reorganizaçom dumha monarquia cristá no noroeste da península ibérica vai ter praticamente a mesma base territorial que a do antigo Reino Suevo da Galiza.

A Herdança do Reino Suevo. Ao falarmos da herdança da monarquia sueva temos que atender duas dimensons. Dum lado devemos valorizar aqueles aspetos, culturais e materiais, de que ainda encontramos rastro nos nossos dias. Tais como restos arqueológicos (muitos deles ocultos ou escassamente difundidos) ou riscos culturais como a denominaçom tradicional dos dias da semana, a toponímia de origem germánica, a persistente antroponímia, formas de religiosidade sincrética ou a base da organizaçom territorial em comarcas e paróquias. Mas para além destes vestígios objetivos, diretamente ligados à existência histórica do Reino Suevo, também é positivo reivindicarmos a persistência dumha memória histórica que agromou com especial força naqueles momentos em que a nossa singularidade nacional era atacada com maior virulência por parte do espanholismo. Já no passado a afirmaçom da herdança sueva foi um recurso empregado polas pessoas defensoras dos interesses e direitos da Galiza. Este recurso, muitas vezes ignorado na actualidade, tivo umha especial releváncia nos séculos XVI e XVII. Um tempo em que Espanha estava a construir a sua identidade nacional sobre a base da hegemonia castelhana e a homogeneidade religiosa sob o dogma católico. Nestes tempos, em que os poetas castelhanos escreviam versos difamantes contra o nosso país, nom faltárom autores que defendêrom a dignidade da Galiza lembrando-lhes os tempos em que a Espanha visigótica era um reino de hereges e o nosso país já era umha monarquia católica.

Miniaturas románicas onde se identifica Afonso VIII e Fernando II com o leom vermelho


O dragom e o leom. A história da bandeira do Reino Suevo tem muito a ver com esta segunda dimensom, a da reivindicaçom orgulhosa da herdança do Reino. Nengumha das fontes contemporáneas ou próximas cronologicamente às datas em que o Reino Suevo existiu fam referência a símbolos ou emblemas. Tampouco se conhecem restos arqueológicos nos quais apareça qualquer motivo que pudesse ter sido empregado como ensenha. Nom é até o século XVII que aparecem os primeiros documentos em que se incluem descriçons de como seria esse estandarte ou bandeira. O mais conhecido desses documentos é a carta que o Cabido da Catedral de Lugo dirige à Junta do Reino da Galiza reunida na Corunha a 14 de Janeiro de 1669. Carta em que se pede aos representantes do reino que acordem estabelecer umha renda para sufragar os gastos derivados da adoraçom ao Santíssimo Sacramento que se realiza de forma perpétua na capela maior da catedral lucense: "De aquí tubo prinçipio y se originó borrar el dragón berde y león roxo (armas de los Reyes suevos que al tiempo tenían en este Reyno su Corte) y trasladar al dorado campo del escudo de sus armas la ostia, no dentro de basso sacramental, oculta (como mal pensaron historiadores modernos), sí sobre el cáliz o de manifiesto en su custodia en claro testimonio y memoria eterna del ardor christiano y cathólico corage con que este Reyno gallego defendió la presençia de Christo señor nuestro en la ostia consagrada".

O argumento alegado polo cabido é que o culto ao Santíssimo Sacramento fora estabelecido polo Rei Teodomiro no século VI como manifestaçom pública da adesom da Galiza ao dogma católico da encarnaçom, em aberto contraste com o defendido na altura pola monarquia hispano-visigótica que, como seguidora da heresia ariana, negava este dogma. Como prova de fidelidade ao dogma da encarnaçom, alegava o cabido luguês, nom bastou com instituir a prática da exposiçom e adoraçom perpétua da hóstia consagrada senom que esta passou a se converter em símbolo da monarquia sueva em detrimento do dragom verde e o leom vermelho que até o momento foram seus emblemas.

Armas do rei D. Joao VI com dragons verdes.

Anterior à carta do cabido de Lugo é o livro de Rodrigo Méndez Silva, Cathalogo Real y Genealógico de España, publicado en 1637. Nesta obra di-se que as armas dos reis suevos consistiam num dragom verde sobre campo dourado e nom se fai mençom algumha ao leom vermelho referido no documento posterior: "...los reyes Suevos, que reynaron en España á la parte de Galicia en los años de quatrocientos y doze de nuestra Redempción, traian por Insignias en sus Escudos (ó como entendemos por Armas) un Dragon verde." Outra das autoridades citadas na carta do cabido de Lugo é o historiador Mauro Castellà, que na sua Historia del Apóstol de Jesucristo Santiago Zebedeo, publicada em 1610, refere a adopçom do Santíssimo Sacramento como emblema do Reino da Galiza embora nom descreva a existência dum emblema anterior. Tradiçom que também recolhe o bispo Rodrigo Cunha da Silva na História Eclessiástica dos arcebispos de Braga publicada em 1634. Assumindo umha postura benévola poderíamos acreditar que baseárom as suas afirmaçons em tradiçons conservadas na memória popular ao longo de mais dum milénio ou nalgum ignoto documento já desaparecido. Porém, os indícios apontam para que a opçom mais certa seja pensarmos que a bandeira sueva foi um “achado” do século XVII onde confluiu a tradiçom luguesa a respeito da origem do culto ao Santíssimo Sacramento e as lendas da tradiçom portuguesa que descrevem a origem do escudo da cidade de Coimbra ou a adoçom do dragom como emblema da monarquia lusitana.


Porque reivindicamos a Bandeira Sueva? Por tradiçom histórica Poderia parecer que, ao afirmar que é muito duvidoso que no período suevo se empregasse um emblema semelhante ao descrito nos documentos do XVII, estamos a deslegitimar a sua reivindicaçom e emprego como símbolo nacional. Nada mais longe das nossas intençons. Do mesmo modo que no XVII houvo quem considerasse necessário afirmar com um símbolo a singularidade do povo galego, umha singularidade alicerçada numha história própria e diferenciada, hoje assumimos a sua herdança e fazemo-la nossa. A historicidade do Reino Suevo é inegável, assim como é inegável o contributo que este reino supom para a configuraçom do que hoje chamamos naçom galega. Certo é que se poderia optar por empregar outros símbolos para reivindicar este contributo mas preferimos entroncar com quem já no passado considerou um orgulho chamar-se herdeiro dos suevos da Galiza.

Igreja de Santa Maria de Cela, Bueu

Porque nom se entende que umha naçom milenar nom tenha mais que umha simbologia tam contemporánea como a bandeira actualmente empregada. Galiza tem um lugar na história medieval e esse protagonismo contou com a sua própria rúbrica. Desde os nossos dias nom podemos ter umha ideia nítida desses símbolos, mas é lógico tomar parte e escolher os que mais apropriados nos parecerem partindo da escassa documentaçom com que contamos. Porque nos obriga a iluminar o nosso medievo. A bandeira tem a inestimável virtude de abrir umha porta enferrujada pola humidade centralista ao nosso mundo medieval. A sua presença nas nossas expressons populares complica a possibilidade de desconhecer essa parte tam fértil da nossa história nacional. É por isto que pensamos que pode ser detonante desta consciência histórica.

Assim, ao erguer a bandeira do Dragom Verde e o Leom Vermelho nom só estamos a reivindicar a concreta herdança do primeiro reino medieval da Europa senom também a memória da longa tradiçom da afirmaçom da identidade galega frente às tentativas de assimilaçom e negaçom da nossa naçom.

Porque é umha bandeira carente de identificaçons partidárias. Dumha perspetiva mais prática, temos que admitir que a existência de um ícone de escasso percurso facilita a asunçom global dentro do nacionalismo e do conjunto do povo galego por nom estar vinculado com opçons partidárias concretas nem com posturas definidas.


documentos CASTELLÁ FERRER, Mauro, Historia del Apostol de Jesucristo Santiago Zebedeo, Madrid, 1610

CUNHA DA SILVA, Rodrigo, História Eclessiástica dos arcebispos de Braga, Braga, 1634 MENDES SILVA, Rodrigo, Catálogo real y genealógico de España, Madrid, 1637

FARIA E SOUSA, Manuel, Epítome de las historias portuguesas, Madrid, 1628


o reino suevo no galeguismo histórico "Despertando o poderoso sentimento de provincialismo, e encaminhando a um só fim todos os talentos e todos os esforços, chegará a conquistar Galiza a influência de que é merecedora, colocando-se no alto lugar a que está chamado o antigo reino dos Suevos" Antolim Faraldo na proclama da "Junta Provisional de Gobierno de Galicia." 1846.

"Parece certo que a monarquia Sueva deu existência política ao território diferenciado da Galiza; mas a lembrança do velho reino da Suévia dorme afastada de nós." A.D.R. Castelao

Revista Galega do "Regionalismo" de Buenos Aires 1913

"Diremos, em honra da nossa pátria, que se o idioma da Galiza e Portugal nom se formou promiscuamente a um mesmo tempo nos dous reinos, senom que de um passou para o outro, deve discorrer-se que da Galiza se comunicou para Portugal, nom de Portugal para a Galiza. A razom é porque durante a uniom dos dous reinos no Governo suevo, a Galiza era a naçom dominante, a respeito de terem nela seu assento e corte aqueles reis." Padre Feijó

"Que rapaz ignora que o Reino da Galiza, polos suevos, é o primeiro reino católico da Cristiandade? Galiza sempre foi reino, e tivo Corte e Cortes aqui ou acolá. Lugo e Braga dos suevos; ali se juntavam os concílios."

Ilustraçom de Jaime Quessada intitulado: Galiza Sueva. Hermerico e prisciliano

Martinho Sarmento

"Irmaos no amor à Suévia de legendária história, em pé! em pé dispostos a nom morrer sem loita!" Ramom Cabanilhas

Lugar de descarga do .pdf com a bandeira sueva:

Manifesto da "Liga Gallega" assinado por Alfredo Branhas em 1899


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