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GAZETA DO RIO PARDO - 25 de dezembro de 2010

CARMEN CECÍLIA TROVATO MASCHIETTO

No Natal os cristãos comemoram o aniversário do nascimento de Jesus Cristo, filho de Deus. É uma festa religiosa muito importante, instituída pelo Papa Júlio I, no século XIV. Com o tempo se transformou numa festa familiar, que evoca ritos tradicionais pagãos, acabando por ser explorada como motivação de consumismo compulsório, pelo comércio capitalista. Não se sabe exatamen-

Espírito do Natal

te a data do nascimento de Jesus. Indícios históricos apontam que Ele nasceu em Belém no ano de 749 da época de Roma. A escolha do dia 25 de dezembro é explicada pelo fato de coincidir com a época das comemorações das Saturnálias dos romanos e com as festas do Solstício de Inverno dos povos celtas e germânicos, tendo sido esta uma forma encontrada pela Igreja de cristianizar essas festas. Jesus morreu crucificado no ano 33 da era moderna. As mudanças provocadas pela sua passagem pelo mundo são tão importantes, que seu nascimento marca uma grande divisão no calendário ocidental: antes de Cristo e depois de Cristo. As narrativas dos Evangelhos, contidas no Novo Testamento da Bíblia, dão sustentação às explicações

religiosas e sagradas sobre o sentido da vida e da vinda de Jesus ao mundo. Há, no entanto, interpretações diferentes desses textos, que comprovam cientificamente a sua existência e demonstram como suas palavras e sua vida foram capazes de mudar a mentalidade dos povos ocidentais, sendo, ainda hoje, maravilhosamente, um motivo de transformação da humanidade. Historicamente, Jesus existiu. Viveu num tempo e num determinado lugar. Teve pai, mãe, irmãos, parentes. Nada impede a compreensão de que possuiu uma família terrena e uma família espiritual. As vezes essas famílias se completavam, as vezes se desentendiam, como acontece, ainda hoje, em qualquer família. O anúncio do nascimento de Jesus é um maravilhoso exemplo da interpe-

netração do sagrado com o profano/temporal: “Por aqueles dias, saiu um édito da parte de César Augusto, para ser recenseada toda a terra. Este recenseamento foi o primeiro que se fez, sendo Quirino governador da Síria. E iam todos recensear-se, cada qual à sua própria cidade. Também José deixando a cidade de Nazaré, na Galiléia, subiu até à Judéia, à cidade de David, chamada Belém, por ser da casa e da linhagem de David, a fim de recensear-se com Maria, sua mulher, que se encontrava grávida. E quando eles ali se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. Na mesma região encontravam-se pastores, que pernoitavam nos cam-

pos guardando os seus rebanhos durante a noite. O anjo do Senhor apareceulhes e a glória do Senhor refulgiu em volta deles, e tiveram muito medo. Disse-lhes o anjo: “Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceuvos um Salvador, que é o Messias, Senhor. Isto vos servirá de sinal para o identificardes: encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”. De repente, juntou-se ao anjo uma multidão de exército celeste, louvando a Deus e dizendo: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de Seu agrado”. Quando os anjos se afastaram em direção ao Céu, os pastores disseram uns aos outros: “Vamos então até Belém e vejamos o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer”. Foram apressadamente e encontraram Maria, José e o Menino, deitado na manjedoura. E quando os viram, começaram a espalhar o que lhes tinham dito a respeito daquele Menino. Todos os que os ouviram se admiraram do que lhes disseram os pastores. Quanto a Maria, conservava todas essas coisas ponderandoas no seu coração. E os pastores voltaram glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido, segundo lhes fora anunciado”. ( Lucas 2,1-20) .................. O povo de Israel vivia sob o domínio opressivo de Roma quando Jesus nasceu. As circunstâncias eram sombrias e mais do que nunca esse povo esperava por algum acontecimento que os libertasse da opressão. Exceto a parte desse povo que tirava proveito da situação – os fariseus e os sacerdotes do Templo. Dominantes e dominados estavam inseguros. Havia sensação de perigo e medo

por todos os lados. Temiam-se mutuamente. Havia crimes, roubos, extorsão, impostos exorbitantes, corrupção, revoltas, motins, bandidos e assaltantes espalhando terror, enquanto o povo laborioso produzia e orava. De um lado, os romanos endureciam a repressão, de outro, o povo religioso alimentava a esperança de que viria um Salvador. Esperavam a libertação, conforme as promessas divinas, manifestadas pelas palavras dos profetas, líderes que anunciavam mudanças por meio de metáforas, procurando influenciar o povo e prepará-lo para o que devia acontecer. O espírito e a mente dos que acreditavam nas promessas divinas estavam atentos, em vigília, aguardando um sinal, que apenas os fiéis mais sensíveis, os mais conscientes, teriam condições de perceber e de compreender. Aquele tempo foi marcado por sonhos, visões, aparições, intuições, premonições, por vozes e fatos estranhos, por anjos anunciando o que estava por acontecer. Opressores poderosos, de ambos os lados, fortaleciam-se, conspiravam, com a intenção dissimulada de que seriam beneficiados com o enfraquecimento do outro lado. Mas os desígnios de Deus eram outros. O Salvador, que estava por nascer, não seria um homem importante, forte, poderoso, nem traria soluções a curto prazo. Os homens não compreenderam a profundidade e a extensão da mensagem que Ele veio trazer ao mundo. Mesmo tendo sido Sua vinda divinamente preparada, precedida por espíritos iluminados, e Sua mensagem fortalecida por palavras, por gestos, por acontecimentos espantosamente dramáticos, que culminaram com o sacrifício da Sua vida, Ele não foi e ainda não é compreendido. Os sofrimentos que a humanidade vive a cada dia confirmam que a mensagem que Ele trouxe ao mundo continua incompreendida.


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