Especial Machu Picchu

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O ESTADO DE S. PAULO

TERÇA-FEIRA, 10 DE MAIO DE 2011 Nº 2334

Espírito andaluz

Turista Profissional indica dez roteiros coloridos

Flamenco, tapas e herança árabe em Málaga e na romântica Ronda

Pág. 6

Págs. 13 e 14

SXC.HU

Lua de mel GLS

http://www.estadão.com.br

Peru

Revelada por Hiram Bingham há 100 anos, Machu Picchu continua a ser o destino de sonhos para muita gente que deseja conhecer de perto o ícone da civilização inca

SERGIO NEVES/AE

Pedra sobre pedra

Inconfundível. É possível chegar à cidadela com todo o luxo ou de mochila, a pé ou de trem. Seja qual for a escolha, a experiência é sempre memorável


ESCALAPB

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www.jt.com.br

SãoPaulo, Quinta-feira, 12demaiode2011

Ituquerrecorde comartenarua

Trilhaadaptada noMatoGrosso

Quetalaproveitarofimde semanaquevemaípara fazerumprogramacultural pertodeSãoPaulo?Nosábado, ocentrohistóricodeItu,a100 kmdacapital,serátomadopor 401artistas,quecriarão quadrosaoarlivre.Aintençãoé tentarentrarparaoGuinness Book.Mais:itu.com.br.

Sinalizaçãoparaser sentidacomasmãos, placascomnomesdeplantase informaçõessobreavegetação eocerradoescritasembraile. Comestaseoutras adaptações,aChapadados Guimarães,noMatoGrosso, inaugura,emjunho,umatrilha ecoturísticaparadeficientes visuais.Aatraçãoestá instaladadentrodoespaço ChapadaAventura,a64 quilômetrosdeCuiabá. Segundoosproprietários,o localcomeçaareceber turistasemjunho.Mais informaçõesereservas: (chapadaaventura.com).

Turismo

ComeçahojeoFestivalChecodaCerveja,em Praga.Sãoesperadas180milpessoasnastendas docentrodeexposiçõesdacapital.Alémde 80opçõesdecervejasdefábricasdopaís,o cardápioteráespecialidadesgastronômicas comosalsichasegoulash.Aentradaégratuita. Mais:www.ceskypivnifestival.cz.

KAI PFAFFENBACH/REUTERS

Jornal da Tarde

TIAGO QUEIROZ/AE

SERGIO NEVES/AE

Todososdetalhesdacidadeincaquecelebra 100anosdedescobertaarqueológica

MachuPicchu


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Peru SERGIO NEVES/AE

Vista clássica de Machu Picchu: mudanças promovidas pela administração têm como objetivo controlar o acesso e diminuir o impacto sobre as ruínas; diariamente, cerca de 2.500 pessoas visitam o local

Preservaracidadela,umdesafio Regrasmais rígidase acesso limitado de turistas estão entre as principais medidas

PING-PONG

FÁBIOVENDRAME

turismo.jt@grupoestado.com.br O paciente e cuidadoso trabalho de seus ancestraisestáimortalizadonaspedras.Orgulhoso disso e com semelhante dedicação, Lorencio Montesinos ajuda a conservar Machu Picchu, obra-prima inca revelada ao mundo há um século. A cidade esculpida nos Andes às portas da Amazônia peruana festeja seu centenário de descobrimentocientíficorenovadagraçasaoempenho de seus herdeiros. Montesinos, de 51 anos, dedica quase dez horas por dia a raspar fungos e musgos das paredes de granito. Faz parte de uma equipede60homensresponsáveispelamanutenção do sítio arqueológico. “Ainda há muitos turistas que causam problemas, fazem barulho e deixam sujeira”, conta ele, natural de Águas Calientes, atual Machupicchu Pueblo, o povoado que habita a região desde sempre. “Muitos pensam que

estão na Disney... Não tem nada a ver”, diz. “Reclamam que não há lixeiras, mas se não tem é por uma razão muito simples: é proibidoingressaremMachuPicchucomlixo.” Apenasum sinaldecomo ascoisas por ali estão mudando. Machu Picchu está diferente, sim. Fruto da engenharia megalítica inca, a ancestral cidade de pedra comemoraem24dejulhoocentenáriodeseudescobrimentocientífico comnovas regras devisitação. As mudanças são notórias. Acesso restrito a um número limitado de turistas e fiscalização rigorosa fazem parte dasdiretrizesadotadaspelogovernoperuano para garantir a longevidade do mais espetacular sítio arqueológico da América do Sul, uma das maravilhas da humanidade. Trata-sedeumamplotrabalhocoordenado pelo arqueólogo Fernando Astete, diretor do Parque Arqueológico Nacional de Machu Picchu há dez anos. “Nosso objetivoé evitar aconcentração de gentedurante a visita, diminuindo os impactos e riscos

FelipeVarela

ESPECIALISTAEMCULTURAANDINAENOSCAMINHOSINCAS

‘Éprecisoouvirospovosnativos’ Conhecido como “El Chaski” (‘O Mensageiro’, em quéchua), Felipe Varela é especialista em culturas ancestrais andinas eum intrépido aventureiro peruano. Há 15 anos vem percorrendo o Qhapaq Ñan, rede de caminhos que interligava o Império Inca e que,em seu esplendor, alcançou mais de 40 mil quilômetros. Recentemente, Varela conduziu um documentário sobre a civilização inca para o History Channel. A seguir, os principais trechos da entrevista:

ARQUIVO PESSOAL

Por que decidiu trabalhar com os caminhos pré-hispânicos? Depois de muita pesquisa, decidi percorrer a rede de caminhos apé,vendodepertooquenossos ancestraisaprenderamcomoconhecimento do território, de sua geografiaedosrecursos disponíveis. Os povos andinos desde semprecruzaramascordilheiras

nevadas, dos pampas do altiplano até a costa ou a selva. Essas rotassemantiverameforamsendoaperfeiçoadasporculturascomo as de caral, moche, wari e outras. Delas os incas herdaram tudo isso e, em menos de 100 anos, articularammaisde5milhõesde quilômetros quadrados por meio de caminhos interligados. Quais são os principais atrativos do Qhapaq Ñan? Opovo,suastradiçõeseoscostumes que ainda guardam. Depois, o desenho dos caminhos não apenas por sua construção, mastambémpelofuncionamento:hádepósitosdealimentos,canais de drenagem, pontos de apoio, pousadas, centros administrativos e de manufatura, zonasdeproduçãoedecultivoagrícolas... Além disso, a planificação e a logística são incríveis. Seu calçamento adaptado a diferentes altitudes permite cruzar uma região com neve e chegar a uma área quente dentro de um vale, diante de paisagens diferentes.

Quecaminhosincasestãoabertos ao turismo? O principal deles é mesmo a Trilha Inca. Mas tem um modelo de desenvolvimento que não beneficia as comunidades. Apenas operadoras e empresas do ramo obtêmlucros. Defendouma modalidade de turismo comunitário que pode e deve ser administradapeloslídereslocais,comvisão e organização próprias. Enfim, que haja envolvimento dos verdadeiros donos do território. O governo tem investido nisso? Há projetos de desenvolvimento das rotas? Sim, existe interesse dos seis países que fizeram parte do Império Inca (Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e Argentina), mas apenas de maneira simbólica. Há instituições que parecem ‘descobrir a pólvora’ a cada vez que veem os caminhos e alucinam com o turismo, mas ninguém consulta os moradores... Não os veem porque só querem ver o dinheiro que podem ganhar com o turismo. ::

que a sobrecarga de pessoas acarreta”, diz Astete, principal responsável pela mudança de perfil no turismo local. A transformação foi deflagrada assim que ele assumiu o controle da exploração turística na cidadela, antes nas mãos de agências e operadoras. A primeira atitude foi fixar em 2,5 mil o número de pessoas que ingressam a Machu Picchu por dia. Isso acarretou em aumentar o preço do ingresso e, assim, o perfil dos visitantes mudou. Se antes a maioria era composta por mochileiros de orçamento apertado, agora há gente de todas as idades – e, necessariamente, com os bolsos mais cheios. Contudo, é bom ressaltar, Astete é o tipo decaraqueachaabsurdaaideiadeumteleférico ligando Águas Calientes ao sítio arqueológico, conforme foi cogitado – e levado a sério por uns e outros – tempo atrás. Para ele, defensor da pesquisa atrelada à conservação, a estrada que rasga a montanhaemzigue-zague,efacilitamuitoo aces-

so dos visitantes, já foi mais que suficiente. Não há, portanto, a menor possibilidade de que Machu Picchu venha a se transformarnuma Xcaret, legado maia na Península de Yucatán convertido em um complexo turístico de massa – bem-sucedido, digase. Os viajantes que cultuam a cidadela inca agradecem. Mas as mudanças continuam em curso. Umadécadaatráserapermitido,porexemplo, caminhar pela praça principal. O gramado central vivia lotado de gente, que ali se deitava, fazia piqueniques ou simplesmentedavaumtempoobservandooentorno. Isso também acabou. “Estabelecemos um circuito fechado, de maneira que os turistas percorrem os principais pontos em cerca de duas horas”, diz Astete. Enquanto isso, Montesinos segue cuidando de cada detalhe da cidade de pedra. “Temos muita satisfação em mostrar o que nossos antepassados fizeram, mas, por favor, respeitem as regras!” ::


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Detalhesdeumlugarsagrado Construída sobre uma falha geológica, área teria sido um importante centro político e religioso Machu Picchu foi esculpida sobre precipícios, em ousado desafiodeengenhariaetemeráriareverência à natureza. Fica entre vales,cercada pornevados emontanhas tutelares, as mais importan-

tes, os deuses do pedaço. Pura conexão com as forças naturais. Assimosincasafizeramporquerendiam tributos à vida. Pois bem. Conscientizar os turistas de que entrar em um sítio arqueológico significa estar em um lugar sagrado é outro desafio da equipe coordenada por FernandoAstete,arqueólogoresponsável pelo local. “Fazer silêncio e manterrespeitosãopremissasbásicas”,orienta.Fumartambémes-

táproibido.Fiscaismonitoramtudo e estão autorizados a repreender os mal-educados. Nãoé apenas deturistas desavisados queMachu Picchutem sido preservada. A cidade foi construída nas saias da montanha que lhe empresta o nome e fica sobre duas falhas geológicas. Mais do que terremotos, as chuvas torrenciais representam a maior ameaça ao local. Isso porque a cidadela perdeupartedosistemadedrena-

gem original da época incaica. Scanners estão sendo usados para mapear cada muro. A minuciosa leitura em 3D tem por fim identificar partes danificadas para, mais tarde, restaurá-las. Todo o trabalhoé feito em parceria com a Unesco, afinal, trata-se de um Patrimônio da Humanidade. Machu Picchu resistiu intacta por cinco séculos, apenas coberta pelavegetação.Seuinevitávelapelo enigmático resulta do fato de

que ninguém sabe ao certo quando começou, como e por que foi abandonada. Mas isso também começa a ser confrontado. “A investigação arqueológica continua com tudo”, afirma Astete. As teorias mais aceitas hoje dizem que Machu Picchu foi um importante centro político, religioso e administrativo, responsável por controlar um vasto território. “A cidade é uma réplica de Cuzco e começou a ser erguida na dé-

cadade1440,sobogovernodePachacútec (considerado o maior dos incas).”Em seu auge chegou a abrigar até 1 mil residentes fixos. Está anexada ao Vale Sagrado, a coluna vertebral do Império Inca. “Apesar disso, não era autossuficiente,dependiadaproduçãovinda de outros centros para se abastecer.”Eisaíomaisprovávelmotivo de seu declínio. :: FábioVendrame

FOTOS SERGIO NEVES/AE

INTIHUATANA Relógiosolarou“lugaronde seamarraosol”,estásituado nopontomaisaltodacidade eencabeçaosetorsagrado. Delicadamenteesculpida, apeçasealinhaaospontos cardeaiseerautilizadapara registrarapassagemdotempo, alémdeauxiliarnaagricultura l

TEMPLODOSOL Únicaconstruçãocircular,estáorientada paraossolstíciosdeinvernoedeverãoe ficaintegradaaocomplexoqueincluiaprincipal fontedeágua,astrêsparedesdecultoao ventoeotemplodedicadoàPachamama(mãeterra)

TERRAÇOS Partedelesserviacomo áreaagrícola.Suafunção maior,contudo,édarsuporte àcidadeepreveniraerosão dosolopormeiodeum engenhososistemade drenagem.Porisso,ocupam oentornodetodaamontanha

CONDOR Apedranosolorepresentaocorpodaave, cujamissão,navisãoandina,éconduzir osmortosaocéuefazeraconexãoentre deusesemortais.Asparedeslateraisformam asasasdocondor,animalsagradoparaosincas

PANORÂMICA

Novas caminhadas até 2013 Novoscircuitos serão abertosembreveem MachuPicchu,prometeadireçãodo ParqueArqueológico Nacional.Trajetosque levam aosterraçosagrícolas eao fundodovaleestãosendorestauradose farãoparte das opçõesde passeio.Atualmente,alémda visitaconvencional,há quatro roteirosemfuncionamento: as caminhadasatéaPonte Inca e aPortado Sole asexigentes subidasaostoposdas montanhasde Huaynapicchu,que emolduraacidade,e deMachupicchu,na qual está assentado osítio histórico.Detalhe: sóhá lixeirasebanheirosforadacidadela.Quem quiser levaralgo paracomerdeve carregar os restosna mochila.Outracoisa: oposto devenda deáguamineralque ficavadentro do parque foidesativado. Assim,garanta abebidaantes decomeçar a visita.Duasgarrafinhas, como vocêpoderáperceber,são suficientes.

Éprecisodisposiçãopara subiraotopodamontanha, masovisualcompensa.Leva maisde2horas.Otrajeto deveserfeitocomumguia

SETORURBANO Aquificamasresidências maissimples,usadaspelo povo.Ascasaseram originalmentecobertas comtelhadosdepalha. Pertoestãoas'colcas', locaisondeeramarmazenados osbensdeconsumo

Bingham ainda causa polêmica Figuracontroversa, HiramBingham(18751956)suscitaatualmente maispolêmicado queadmiração.LigadoàUniversidade Yale,nosEUA,o professor americanoanunciou aomundo adescobertaarqueológica deMachuPicchu em24 dejulhode 1911.O feito, contudo,rende debates acaloradosno meioacadêmico peruano.Bingham era historiadore seguiaos caminhosdo libertadorSimón Bolívar quandosedeparoucomvestígiosdacivilizaçãoinca. Para seuscríticos, elesabia o que estavaprocurando,embora vendesseaimagemdeaventureiroedescobridor.Mas todos reconhecemo méritodo americanoemapresentar MachuPicchuaomundo, emboraacidade incasempretenhasidoconhecidadoslocais.Documentosmostramque asterras pertenceramao latifundiárioAgustín Lizárraga,que deixouinscriçõesno local.


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