A Nacional: Porto 1919-1925

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A Nacional Porto 1919 - 1925

CARLOS MACHADO




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NOTAS PARA UMA VISITA GUIADA AO EDIFÍCIO DA COMPANHIA DE SEGUROS “A NACIONAL” José Marques da Silva, 1919

A Avenida dos Aliados é o resultado de um compromisso entre o projeto de Barry Parker (1916) e as contrapropostas de arquitetos e técnicos camarários portuenses (1919). O início do século XX é o momento em que a tradição neopalladiana inglesa (com grande influência no Porto desde o século XVIII, lembremo-nos dos variados projetos de John Whitehead, cônsul britânico no Porto) perde perante a nova arquitetura das Beaux-Arts de Paris, escola na qual se formou Marques da Silva.


2 Barry Parker propôs um desenho uniforme com edifícios porticados

O edifício é desenhado à volta de uma grande saguão central iluminado

com referências neopalladianas (lembrando a Rua de S. João). O projeto

por uma claraboia (monumentalizando uma situação usual nas casas

do espaço público é um compromisso, mas os edifícios seguirão a nova

burguesas do Porto que tinham um grande lanternim sobre a caixa de

orientação protagonizada por Marques da Silva. O edifício da Compa-

escadas).

nhia de Seguros “A Nacional” (1919-25), de um lado, e o edifício Pinto Leite (1922-), do outro, projetados como “porta de entrada” na expansão para norte da nova avenida, são bons exemplos dessa nova orientação Beaux-Arts.

A planta é simétrica (como era obrigatório nas Beaux Arts). O grande saguão é rodeado por uma galeria e atravessado por um passadiço que conduz à sala circular na frente do lote.


O princípio da simetria é adaptado ao lote, com uma ligeira rotação do eixo do primeiro corpo circular em relação ao eixo do corpo dos escritórios atravessado pelo passadiço central (só se compreende isto vendo a planta, ao percorrer o edifício é muito difícil de perceber, porque é muito bem feito). As fachadas são decoradas com os motivos ornamentais e com as esculturas habituais na época. Correspondem ao chamado ecletismo Beaux -Arts, também conhecido como estilo mélange (mistura) defendido por Charles Garnier, autor da Ópera de Paris.


3 Depois das muitas batalhas durante os séculos XVIII e XIX sobre a va-

Quando, antes de visitar o edifício, vi a planta, impressionou-me a si-

loração relativa dos estilos da história (que originaram os chamados

metria da sua distribuição. Era lógico, tinha de ser assim, mas também

revivals), alguns arquitetos propuseram aquilo a que devemos chamar

tinha algo de preconceituoso. A simetria especular, é desta que fala-

com propriedade ecletismo, ou seja, a escolha, entre vários sistemas (ou

mos, foi alvo de muitas disputas ao longo do século XX. Obrigatória nas

estilos, no caso da arquitetura) daquilo que, em cada um, parece ser mais

Beaux-Arts, foi abandonada por quase todos os arquitectos do movi-

conforme com a razão.

mento moderno. Foi retomada a partir dos anos cinquenta em contextos

O ecletismo seria assim um racionalismo aplicado à história, considerada como um material disponível, sem lugar e sem tempo. Contrariamente aos revivalistas que escolhiam um sistema (ou estilo), os ecléticos escolhiam o melhor de cada um.

diversos.


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