Galiza vencerá!

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Vinte e oito textos sobre língua e construçom nacional publicados na imprensa galega (1999-2009)

Os que, como ele, como Gregorio Salvador ou como Pedro J. Ramírez, clamam em defesa das tábuas da lei da gramaticalidade, como se essas nom fossem também produto de umha concepçom social concreta, abrigam umha concepçom classista e sexista própria das elites que vetárom, em nome da ‘ordem natural das cousas’, o acesso das mulheres ao sufrágio. As mesmas ideias que ainda servem para vetar, por exemplo, a integraçom da populaçom cigana nos bairros das cidades galegas2. Nom sei se no futuro o espanhol, o catalám ou o galego-português irám habilitar, concretamente, um feminino da forma ‘membro’, certamente antietimológica e percebida como malsoante, critério estético e como tal mais subjectivo do que objectivo. Sei é que outras formas também contrárias às leis da lingüística assepticamente machista fôrom já habilitadas com sucesso, violentando os bons costumes académicos e o machismo oculto sob a pele do gramático. Ou como se explica, entom, a correcçom actual de substantivos como ‘presidenta’ e ‘juíza’, entre outros muitos até há poucos anos excluídos dos padrons de qualquer umha das línguas referidas, com base em critérios gramaticalistas? As línguas som património exclusivo das sociedades humanas e nom entes alheios ou com vida própria para além de aquilo que os grupos sociais determinarem em cada altura histórica. Sendo tam necessário banir as flagrantes discriminaçons de que som alvo diferentes colectivos sociais por razom de sexo, de raça, de classe ou de procedência, as línguas nom podem ficar à margem desse combate pola igualdade e pola justiça, em nome de reaccionários purismos académicos. E, ainda menos, servir de álibi para quem só quer perpetuar as dominaçons subjacentes a cada uso lingüístico discriminatório.

2 Referência ao conflito vivido, no tempo em que o artigo foi escrito, no concelho de Ponte Caldelas, polo rejeitameto vicinal à instalaçom de várias famílias ciganas deslocadas do bairro de lata do Vao.

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Maurício Castro

sociais que as recriam continuamente, inclusive em ámbitos em que nom existe conflito lingüístico como o que corresponde à sociedade em que vive Alfonso Guerra.


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