Reintegracionismo lingüístico

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Reintegracionismo lingüístico: lingüí üístico: identidade e futuro para o galego

Em todo o caso, tenho bem claro que o movimento reintegracionista tem mais méritos que defeitos. Como escritor e bom conhecedor das realidades culturais portuguesa e brasileira, lembra-nos quais as vantagens de um outro modelo de relacionamento cultural para a Galiza, mais virado para o ámbito do chamado mundo lusófono. –A música brasileira é impressionante, por quantidade e variedade. A Literatura em português, de Portugal, Brasil, dos países africanos com a nossa língua, é umha das maiores da

“Temos um capital cultural na língua galega que nom foi posto em valor. Hoje existem os instrumentos teóricos, existe o tecido associativo, existem novos líderes bem formados, ao lado de alguns velhos activistas ainda vivos, de maneira que nos próximos anos ainda deveria ser possível provar isso aos galegos e galegas“

história da humanidade se globalmente considerada. As geografias por onde se recreia o nosso idioma sem deixar de ser ainda o nosso tem todos os climas e todas as cores. Em geral, a grande vantagem de virar este minúsculo território e os seus habitantes para estas realidades é a maior felicidade e qualidade de vida para quem queira seguir sendo realmente galego, falando galego, escrevendo e ouvindo música em galego dentro da Galiza, pois o manancial revigorante da nossa língua está no mundo lusófono. Virados para ele, admitindo as suas variedades e inserindo a nossa no mesmo conjunto sistémico, poderemos continuar a existir fazendo parte dessa sétima parte do globo que tem

por língua oficial a nossa. É a única hipótese de sobrevivência. E ainda devemos desfazer um par de equívocos: o de que isto significa substituir a nossa variedade pola lisboeta ou a brasileira, quando o que realmente significa é que dentro do mesmo sistema se ampara e limpa a nossa fala, e se nos abrem enormes possibilidades de troca; e outro equívoco, o de que a língua espanhola seria varrida neste território com tal viragem, quando seria bem diferente e até ao contrário, pois os reintegracionistas gostariam mais de castelhano, umha vez que este retirasse a perna que tem sobre a nossa desde há séculos. Cada vez aprendem-se mais línguas, por isso nom temos porque desaproveitar nem o castelhano, mas muito menos a nossa própria, que por si nos abre mais do que nos cabe nos olhos. Porque crês que é tam difícil umha mudança desse género?; porque essa insistência do nosso mundo intelectual e institucional em reduzir-nos ao espaço das quatro províncias que olham para Madrid? – Sempre serám motivos políticos que estám por cima, e o mapa actual está claramente pintado por interesses de Estado espanhol, nom da Galiza. A sociedade galega e as suas elites comportam-se dentro da lógica de umha castraçom identitária que vem praticando-se desde há séculos e que tivo o seu último capítulo no tardofranquismo. As forças do tardofranquismo acomodárom-se na nova estrutura democrática e deixárom algo de corda solta, inclusive na questom da normativa, a suficiente para parecer politicamente correctos, mas nom estavam dispostos a consentir que o movimento reintegracionista descobrisse à Galiza que tinha asas. Assim se foi educando essa maioria social galega para estar a cada vez menos interessada em conservar as suas características identitárias acima das de pertença ao Estado espanhol. Assim se foi educando para que Madrid seja a sua capital, para que Babélia continue referente dos escritores, para que o acontecido na Costa do Sol seja o que interesse. Nesse mapa, ver a televisom portuguesa continua a ser perigoso. Nom sei se pesa o fantasma da guerra civil e dos separatismos, nom sei se a entrada de todos na Uniom Europeia

DOSSIER CENTRAL

nom lhes parece garantia de que vam conservar o poder da jangada, mas essa persistência tem quase conseguido arrasar-nos.

“Se nas políticas institucionais galegas nom querem falar de norma ortográfica, ainda, que consintam polo menos liberdade na criaçom, que eliminem a censura obscena dos prémios, que emprestem apoio à ediçom para todos ou para ninguém” Em definitivo, és optimista? Vês possível que nos próximos anos se assuma umha reorientaçom das políticas culturais na Galiza? – Invejo profundamente os optimistas, mas tendo para o pessimismo por natureza, e por levar vendo durante demasiado tempo o tratamento infame, o lado desfavorável, o injusto e nefasto das políticas culturais, vendo a censura, a entronizaçom do medíocre, o tempo perdido que causa um mal irremediavel. Contodo, vejo possível que nos próximos anos se assuma umha reorientaçom das políticas culturais desde que exista umha reorientaçom política a secas. Só cabe tal reorientaçom, e no sentido reintegracionista, se a terceira fase de que falava no princípio, a dos frutos maduros e formados do reintegracionismo associativo, consegue transmitir a esta sociedade a mensagem cordial de que podemos viver melhor na nossa língua. Muita gente ainda nom acredita nisto, talvez até a alguns reintegracionistas custe acreditar, mas realmente temos um capital cultural na língua galega que nom foi posto em valor. Hoje existem os instrumentos teóricos, existe o tecido associativo, existem novos líderes bem formados, ao lado de alguns velhos activistas ainda vivos, de maneira que nos próximos anos ainda deveria ser possível provar isso aos galegos e galegas.

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“Devemos desfazer um par de equívocos: o de que isto significa substituir a nossa variedade pola lisboeta ou a brasileira, quando o que realmente significa é que dentro do mesmo sistema se ampara e limpa a nossa fala, e se nos abrem enormes possibilidades de troca”


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