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KURILPA BRIDGE, AUSTRALIA BANCO VOTORANTIM, Sテグ PAULO SILVER OAK CELLARS VINEYARD, USA SPECIAL: THE BEST FROM LIGHT + BUILDING


Messe Frankfurt Exhibition GmbH / Pietro Sutera

especial: light+building 2010

A vida buscando

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novas formas

Iniciar um texto dizendo que só o que se viu nos estandes da Light & Building 2010 eram LEDs, LEDs e mais LEDs soa quase monótono, tal tem sido a repetição deste mote em feiras anteriores. Mas a percepção geral neste ano em Frankfurt é de que uma grande mudança – dentro desta, de tão mencionada, já batida – entrou em curso. Começamos a constatar aquilo que finalmente esperávamos: os quase “desgastados” LEDs parecem finalmente ter mostrado a que vieram. Muitas das antigas promessas começam a ser cumpridas e o caçula das fontes de luz passa a adquirir gestos e modos de seus irmãos mais velhos, muitas vezes ameaçando sua hegemonia. O LED, na iluminação de arquitetura, está entrando na adolescência. Quando surge uma nova tecnologia, são duas as maneiras de ela se incorporar.

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1. Tolomeo Tavolo LED, da Artemide (Euroluce 2009) 2. Linha de LEDs Fortimo, da Philips 3. Sistema Quintessence, da Erco

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Na Light+Building 2010, fabricantes de luminárias e lâmpadas demonstraram uma forte evolução na maneira de absorver as características dos Lighting Emitting Diodes como fontes próprias de emissão de luz. Deixamos de ver somente as famigeradas “lâmpadas de LEDs” – aquelas que imitavam a forma das lâmpadas dicroicas, por exemplo, com uma “chuva” de LEDs –, e passamos a observar o grande desenvolvimento em pesquisas que tiram o máximo proveito da fonte de luz e na maneira como os LEDs se integram aos novos produtos desenvolvidos especificamente para eles – e não adaptados de outros concebidos para fontes de luz convencionais. A Light+Building 2010 foi marcada pelo surgimento de bons resultados em ambas as vertentes de aplicação da tecnologia LED: na sua incorporação a formatos existentes e nas suas novas formas de vida. Incorporação do LED em formatos existentes Deixando de lado o exemplo da TOLOMEO, onde a substituição não tem maiores implicações ou dificuldades, um segmento em que os LEDs ocuparam muito espaço foi o de luminárias downlight. Reduto das fluorescentes compactas, dos vapores metálicos e das halógenas, esta tipologia incorporou, agora de forma realmente sedutora, a tecnologia LED. O “pulo do gato” foi a separação física entre o diodo emissor de luz – isto é, o LED – e a camada de trifósforo. Esta última passou a ser um novo componente, de aspecto semelhante a um filtro translúcido (no formato circular, com cerca de 5cm de diâmetro), que recebe a radiação proveniente do LED – ou, como é mais comum, de um conjunto de LEDs – e a transforma em luz visível. Em termos ópticos, esta superfície lisa e homogênea passa a ser a fonte luminosa, ao contrário dos “chuveiros” – conjuntos de vários pequenos LEDs, de aspecto estético duvidoso.

2 Empresas como a PHILIPS apostaram no fornecimento de módulos compostos por um conjunto de LEDs + difusor trifósforo como se fosse uma nova lâmpada, que pode ser integrada a produtos que terceiros (os chamados O&Ms) desenvolvam. Ou eles próprios. Estes módulos foram, por eles, chamados de FORTIMO. Já a ERCO, ao mesmo tempo que reformulou e unificou toda a sua linha de embutidos downlight em um sistema chamado QUINTESSENCE (com várias combinações entre fontes de luz, potências, tipos de facho, filtros, louvers, formatos de abertura e anéis de fixação – quadrada, redonda, com ou sem moldura etc.) e incorporou o LED como uma das alternativas, com resultados impressionantes. O princípio é o mesmo: a radiação emitida por um conjunto de LEDs passa por um “cadinho”de reflexões especulares até chegar o difusor trifósforo, cuja luz é então trabalhada pelo refletor da luminária, de modo a produzir fachos de luz perfeitos – abertos, médios, wallwashers – dentro da conhecida impecabilidade de resultados desta empresa. A qualidade cromática também impressiona, nada deixando a desejar às fluorescentes compactas. Há ainda a alternativa de se usar as luminárias em diferentes temperaturas de cor, ou mesmo em RGBW, opção que permite a variação de temperatura e/ou de cor. E já que estamos falando de ERCO, vale citar que suas novas wallwashers (inclusive as de LEDs), ao invés de terem um contrarrefletor interno, como faziam outrora, têm agora um sistema de microestampas em seus refletores, de forma a redirecionar o facho da forma que se deseja, porém preservando um único corpo refletor; essa tendência à “nanoóptica”, que já era relativamente comum em refratores, agora invade também os refletores.

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Na primeira delas, a nova tecnologia pode preservar – no todo ou em parte – a estrutura onde irá se inserir. Há produtos em que simplesmente se substitui uma determinada fonte por um equivalente em LED, preservando ao máximo seu design original. É o caso, por exemplo, de uma TOLOMEO equipada com LED, de Michele de Lucchi para a ARTEMIDE, apresentada na Euroluce 2009. Explora-se, desse modo, a possibilidade da nova fonte mimetizar a antiga e os modelos são somente adaptados, tendo sua fonte de luz convencional substituída por LEDs. Ainda que alguns resultados fossem satisfatórios, evidente era uma certa timidez – ou “burocracia” – na maneira como os produtos vinham sendo desenvolvidos, além da falta de boas respostas, na maioria das aplicações, para problemas como dissipação de calor, temperatura de cor, ofuscamento etc. Mas há produtos que, ao contrário, surgem da exploração, a partir do zero, das possibilidades técnicas e formais da nova tecnologia. São como novas formas de vida que surgem, muitas vezes livres de limitações inerentes às anteriores. A “seleção natural” (e parte dela somos nós mesmos) se encarrega de selecionar quais destas formas irão progredir – e de que maneira – e quais irão sucumbir.

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O aumento da eficácia dos LEDs também teve consequências no design das peças. Hoje já é possível, com um conjunto de três LEDs totalizando aproximadamente 10W, conseguir-se um pacote consistente de luz (em torno de 400 lm) de qualidade cromática satisfatória (IRC > 80). É fácil de entender que quanto maior a eficácia, menor é o problema de dissipação, proporcionalmente ao pacote de lumens gerado, o que tende a contribuir favoravelmente ao design das peças. Assim, projetores para trilhos eletrificados com luminárias cilíndricas, como as que estamos acostumados a ver, começam a ficar atraentes e eficazes. Um bom exemplo disso é a linha STILE ID, também da PHILIPS, que definiu um módulo cilíndrico de 10W com três LEDs, também explorado em diferentes fixações: embutido fixo, orientável, semiembutido, projetor; diferentes fachos, cores e louvers, garantindo, assim, a inserção do LED como solução para accent light.

4. Stile ID, da Philips

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5. Copernico Sospenzione e Parete, da Artemide 6. Led Net, da Artemide

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Novas formas de vida para o LED Esta analogia do desenvolvimento do LED com as formas de vida é muito interessante, pois ao acompanhar as sucessivas feiras vemos como algumas coisas vingam e proliferam, e outras sucumbem. Mas o mundo inteiro está voltado para essa tecnologia e ainda não existem modelos a serem seguidos, pois a variedade de soluções é muito vasta. O fato é que há muitas possibilidades novas para os LEDs, principalmente agora que se tornaram mais eficazes e proporcionam uma luz de melhor qualidade. Dentre as empresas de design consagrado, podemos citar a ARTEMIDE como uma das que investiu na procura de formas e tipologias específicas com LED. Realizar, com LEDs, produtos que não seriam possíveis com outras fontes luminosas – esta é a proposta. Um exemplo é a luminária COPERNICO SOSPENZIONE, formada por uma série de elipses concêntricas, presas e articuladas pelas extremidades, cada uma com uma série de LEDs em uma das faces – pode-se arranjar a luminária na forma que se deseja. A COPERNICO PARETE tem o mesmo conceito, porém é construída com retângulos ao invés de elipses. A LED NET, também da ARTEMIDE, faz uma paródia dessa capacidade “orgânica” do LED, dessa liberdade de não ser mais simplesmente “lâmpada” ou “luminária” e sim uma forma luminosa onde esses conceitos são diluídos.

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Outra vertente interessante para os LEDs é a de pregar peças nas pessoas, criando formas que de alguma maneira se parecem com aquelas conhecidas, mas que na verdade não passam de “chistes” daquelas. Ingo Maurer sempre foi muito hábil neste tipo de abordagem. Com sua habitual irreverência, lançou WOONDERLUX: contrariando o que expusemos acima, trata-se de um Bulbo A transparente, com um LED de baixa voltagem; e HOI POLLOI – um sistema de LEDs de baixa voltagem com os bulbos citados acima fixados em cabos de aço (em parceria com Axel Schmid). Outras luminárias apresentadas por Ingo Maurer – como DOUBLE C. FUTURE OLED e DOUBLE T. FUTURE OLED – reverberam a nova morfologia dos equipamentos para LEDs – assim como a luminária de mesa LOOKSOFLAT (com Stefan Geisbauer), com perfil bidimensional. A luminária CIELO, da LIRIO (atualmente também PHILIPS) é um pendente no qual imaginamos encontrar uma lâmpada no meio, mas... não possui lâmpada. Sua parede tronco-cônica é dupla, abrigando LEDs em toda a volta, que emitem uma iluminação difusa. A cadeia produtiva Não é exagero dizer que o advento do LED na indústria de iluminação está afetando não só a forma dos produtos e as possibilidades de desenho, mas também a própria maneira dessa indústria (no sentido amplo da palavra, ou seja, o conjunto de produtos e serviços relacionados ao tema) se articular. Como já foi dito, aos poucos as fronteiras entre luminária e lâmpada podem desaparecer, de forma a que não seja mais possível se

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pensar na estrutura produtiva tal qual é hoje, por exemplo, no Brasil: multinacionais produzindo lâmpadas, fabricantes locais produzindo luminárias. É possível que essa estrutura mude. Ou que existam sistemas produtivos paralelos e concorrentes, até que um deles desapareça. Não se sabe ao certo qual será a “cara” que o mercado terá, e nem como essas mudanças podem afetar a própria inserção do lighting designer dentro desta estrutura. Minha impressão é que os profissionais devem estar atentos a essas mudanças para conseguir acompanhá-las, sejam quais elas forem. Outros destaques da Light+Building 2010 A LUCEPLAN, recentemente adquirida pela Philips, apresentou uma nova versão da HOPE (design Francisco Gomes Paz e Paolo Rizzatto), um chandelier gigante com lentes Fresnel em policarbonato que criam múltiplas reflexões nas finas lâminas translúcidas, com lâmpadas fluorescentes compactas ou halógenas energy saver.

7. WoonderLux, de Ingo Maurer 8. Hoi Polloi, de Ingo Maurer 9. Cielo, da Lirio 10. Double C. Future e Double T. Future, de Ingo Maurer 11. Hope, da Luceplan

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A luminária AREA (Habits Studio) é um dos bons exemplos de produto desenvolvido para LED. Trata-se de uma “tela” em plexiglass translúcido, com um corpo de fina espessura em termoplástico. Os LEDs fixados internamente iluminam o plexiglass em backlight, e proporcionam uma luz difusa e homogênea ao longo da lente, como numa janela. Disponível nas versões de mesa, pedestal ou pendente. A luminária SPOCK, da dupla de designers Couvreur & Devos, para a MODULAR , foi desenvolvida a partir de um fino disco com LEDs concebido pela PHILIPS. Com 16 Cree LEDs, somando 22W e aproximadamente 1.000 lumens (45W / lumen), a luminária pode substituir spots convencionais para lâmpadas halógenas de 50W a 75W, com fachos disponíveis de 32° ou 56° em 3.000K ou 4.000K. Seu desenho limpo e delgado (tem 12,5mm de espessura), a funcionalidade (apresenta um giro horizontal de 359° e vertical de -10° a 45°), o absoluto controle do ofuscamento e a possibilidade de fixação diretamente no teto, parede ou em trilhos eletrificados, conferem ao produto alta versatilidade e estética.

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12. Area, da Luceplan 13. Spock, da Modular 14. O’Leaf, da Modular 15. Aplis, da Kreon 16. Rokko, da Kreon

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A empresa também apresentou a família O’LEAF – teto, parede ou piso. Concebida para OLEDs (Organic Lighting Emitting Diodes), a luminária segue a tendência observada nos últimos anos de se buscar formas orgânicas como inspiração. Pétalas de OLEDs – finas lâminas difusas compostas de moléculas de carbono que emitem luz – criam uma composição orgânica de elementos luminosos e difusos de forte apelo decorativo. A forma simples, quase minimalista das luminárias ERUBO; o purismo da família de embutidos APLIS e o formalismo geométrico da família de balizadores ROKKO (todas criadas por Kristof Pycke) refletem o conceito da KREON de criar luminárias que se integrem e se mimetizem com os projetos de arquitetura. Em seu estande, observamos a intenção de demonstrar como a preocupação com sistemas e a integração desses aos projetos – com sistemas de forros, luminárias wallwashers, evidenciando a pureza das formas e dos efeitos sobre o design excessivo.

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17. Eurubo, da Kreon

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20 18. Plus, da Vibia 19. Trinity, da Oligo 20. Link, da Delta Light 21. Claro, da Schréder 22. Piano, da Schréder 23. Senso, da Schréder

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O Brasil na Light+Building Na edição 2010 da Light+Building dois fabricantes de luminárias representaram o Brasil: a LUMINI e a BLUMENOX. Em sua quarta participação seguida, a LUMINI comemora o contínuo crescimento de suas exportações e o aumento substancial no estabelecimento de sua marca em países europeus. Segundo o diretor da empresa na Europa, Armando Gutfreund, essa foi a melhor edição da qual a LUMINI participou. “Observamos um aumento quantitativo e principalmente qualitativo dos contatos realizados”, ressalta. Outra brasileira a apresentar seus produtos na Light+Building foi a BLUMENOX. A empresa participou pela primeira vez da maior feira mundial de iluminação e também comemorou os resultados. “Foi uma experiência excelente”, afirma o diretor da empresa Emilio Conradt.

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Esse conceito é muito bem representado no estande e nas luminárias PLUS (design Xavier Claramunt & M. de Mas) apresentadas pela espanhola VIBIA. Simulando claraboias (embutidas, sobrepostas ou semiembutidas), com diâmetros variados, simétricas e assimétricas, integram-se perfeitamente à arquitetura, cria um efeito arquitetônico e decorativo de iluminação. A OLIGO é um bom exemplo de fabricante que explorou bem as características do LED. Sua luminária TRINITY, de formato e funcionalidade incomuns, consiste em três segmentos que podem ser movidos de forma independente. Está disponível nas versões pendente e de chão. Flexibilidade foi o partido da nova família LINK, apresentada pela DELTA LIGHT. O jogo de formas circulares e lineares oferece inúmeras composições, que partem de um único ponto de eletricidade e se expandem em uma teia de soluções criativas. Os LEDs também roubaram a cena nos estandes dos fabricantes de equipamentos para iluminação urbana. Prova disso foram os mais de 20 lançamentos da SCHRÉDER: todos utilizavam tecnologia LED. As luminárias SENSO, PIANO e CLARO são exemplos da aposta da líder mundial do setor nos novos rumos da iluminação urbana. (Por Carlos Fortes, Gilberto Franco e Thiago Gaya)

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