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ILUMINAÇÃO E ARTE

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Interior da galeria de arte de Paulo Kuczynsky, iluminada por Gilberto Franco e Carlos Fortes

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Por Thiago Gaya Fotos: Nelson Kon

Há um momento crucial no trabalho do marchand, no qual não é mais a busca nem a descoberta de obra alguma o que importa, mas sim sua apresentação ao cliente. É esse o pensamento do marchand de tableaux Paulo Kuczynski. Após trinta e cinco anos desenvolvendo suas atividades no antigo sobrado da esquina da Alameda Lorena com a Rua Haddock Lobo, em São Paulo, Kuczynski contratou o arquiteto Sérgio Pileggi para reformular seu espaço de trabalho e criar uma galeria para a realização de exposições de arte. Exigente e meticuloso, o marchand sabia que a luz era uma questão crucial na sua atividade. “Iluminação sempre foi o meu problema no trabalho com quadros e, por isso, ao idealizar esse novo espaço, procurei um profissional especializado para solucionar a questão”, afirma Kuczynski. Os profissionais escolhidos foram os lighting designers Gilberto Franco & Carlos Fortes, do escritório Franco e Fortes Lighting Design. Ao contratar o escritório, o cliente sabia exatamente o que não queria: sombras causadas pelas molduras e reflexos nas telas. Além disso, Paulo Kuczynski queria ter todo tipo de suporte para a iluminação, para os mais diversos tipos e formatos de obras: das maiores, que ocupam todo o pé direito da galeria, até as menores. Somada a essas colocações básicas, existia ainda a preocupação dos lighting designers em projetar uma iluminação que valorizasse os quadros e demais obras para a sua plena visualização. “O cliente estava disposto a fazer o que fosse necessário para ter um sistema que funcionasse adequadamente. A

iluminação era uma prioridade”, afirma Gilberto Franco. Sorte dos lighting designers, que puderam desenvolver um projeto com equipamentos de excelente qualidade e assim alcançar a iluminação desejada. A qualidade arquitetônica do espaço, a sensibilidade do arquiteto Sérgio Pileggi quanto à importância da iluminação e a eficiente parceria com ele estabelecida também foram pontos fundamentais para o trabalho dos luminotécnicos que, embora tenham iniciado seu trabalho numa fase adiantada do projeto, acabaram interferindo na arquitetura – principalmente no forro – para adequá-la à iluminação proposta. Duas soluções foram apresentadas por Franco e Fortes. A primeira era a utilização, junto às paredes principais, de luminárias fluorescentes com refletores de alumínio e facho assimétrico. A segunda alternativa consistia na criação de uma sanca para iluminação indireta das paredes principais. Devido às características do prédio, ambas as soluções foram aplicadas. As sancas, embora proporcionassem um resultado mais interessante na iluminação, demandavam uma intervenção arquitetônica e escala adequada à sua colocação. Já a utilização das luminárias fluorescentes teria uma interferência menor na arquitetura, mas o resultado luminotécnico seria menos difuso. A escolha das duas opções é uma adequação ao espaço arquitetônico. Na galeria existia um desejo de aplicar a melhor solução possível, mesmo que isso significasse uma intervenção arquitetônica maior. O objetivo era obter uma galeria de arte com status de museu, com a mesma qualidade e os mesmos cuidados.


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A utilização das sancas no pavimento superior e das luminárias fluo­ rescentes no superior foi uma adequação ao espaço arquitetônico


Desenvolvida pelos lighting designers há dois anos em parceria com a Lumini, as luminárias fluorescentes utilizadas no projeto possuem refletor de alumínio dimensionado para uma maior concentração de luz na parte inferior da parede, para proporcionar homogeneidade na iluminação. O alumínio usado recebe um tratamento mate (fosco) para diminuir o risco de indesejáveis manchas na parede. Devido ao fato de não ser desprezível a imprecisão de sua curvatura, a utilização de alumínio especular aumentaria esse risco. As lâmpadas utilizadas são fluorescentes compactas longas de 55W, com temperatura de cor de 3.000K. Além das sancas e das luminárias fluorescentes, para dar destaque em alguns pontos foi instalado um trilho eletrificado embutido no forro acompanhando todas as paredes. Segundo Gilberto Franco, esse ponto do projeto foi bem sucedido por dois motivos: a excelente qualidade do material utilizado – linha Jilly da Erco – e a intervenção da construtora que, para garantir a perfeita instalação do trilho, desenvolveu um perfil pré moldado em gesso, num formato próprio para recebê-lo. Com isso, o aspecto no forro é muito neutro. O trilho permite a colocação aleatória de luminárias, em número e posição, e a linha de produtos escolhida permite uma grande variedade de fachos . Além disso, cada luminária tem sua própria dimerização. Dessa forma, obteve-se total flexibilidade. Os luminotécnicos optaram por luminárias sem refletores próprios, utilizando lâmpadas refletoras. O objetivo era obter ainda maior flexibilidade nos fachos, pois podem ser usadas lâmpadas de diferentes graus (4, 8 ou 24, no caso da AR-111). Dois tipos de luminárias da família Jilly foram utilizadas. Uma retangular para halógenas de 100W (duplo contato ou palito, como são conhecidas), com um tipo só de efeito, cuja função é a “lavagem” mais aberta de paredes em locais onde não há sanca e se deseja luz geral na parede. Outra luminária escolhida é cilíndrica, para a utilização

LÂMPADAS FLUORESCENTES FH-T5 14W E 28W

FORRO

AC PAREDE

FORRO

NOTA: FACE SUPERIOR DAS LÂMPADAS ALINHADAS COM A BORDA DA SANCA

TRILHO ELETRIFICADO EMBUTIDO

FORRO REATOR ELETRÔNICO DIMERIZÁVEL

PROJETOR ERCO VISTA LATERAL / SEM ESCALA

A iluminação da sanca, por ser rebatida, é suave e homogênea. Eventuais sombras provocadas são diluídas. No detalhe, a sanca desenhada por Gilberto Franco e Carlos Fortes. Com o sistema, quanto mais alta a localização na parede mais próximo se está da fonte de luz, porém menor será a porção de sanca refletora “visualizada” pela parede. Essa dualidade de equações faz com que a parede seja iluminada de maneira homogênea.

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Chegou-se à conclusão que o pavimento superior não teria escala para receber a sanca. Assim, optou-se pela construção das sancas no salão de exposições – térreo – e pela utilização das luminárias no mezanino e escritório. Baseada em um estudo feito para a iluminação do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), desenvolvido pelos lighting designers, a aplicação das sancas propicia a iluminação das paredes sem que haja incidência de luz direta. A luz chega ao teto já de forma assimétrica e, do teto, é refletida na parede de maneira bastante difusa. Assim, conseguiu-se minimizar muito as sombras e obter uma iluminação “macia”. Foram usadas lâmpadas fluorescentes de 36W, na cor 930 (3.000K), com índice de reprodução de cor acima de 90%, garantindo fidelidade na vizualização das obras. Os reflexos são eliminados graças ao posicionamento da sanca, que é colocada próxima à parede. “O que causa reflexo no quadro, basicamente, é o posicionamento da fonte de luz. Se ela está muito afastada e num ângulo muito próximo de uma normal do plano, começa a provocar reflexo. Quanto mais rasante a iluminação, menor a chance de haver reflexos”, ensina o arquiteto Gilberto Franco. Porém, se por um lado a proximidade da sanca é o que determina a eliminação dos reflexos, por outro, sua colocação não pode ser muito próxima e ela não pode ser muito estreita. Caso contrário, o problema passa a ser as sombras causadas pelas molduras. É essa equação o desafio para que se atinja a correta iluminação. Outro detalhe importante referente à sanca é a curvatura de um de seus lados. Embora não tenha uma função luminotécnica no resultado produzido na parede, ela elimina a diferença das duas superfícies quando o ângulo é reto. Com a curvatura, reaproximase a superfície da sanca, que passa a receber a luz de frente. Assim, a sanca passa a ser uma fonte de luz suficientemente homogênea e, portanto, muito mais bonita.

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A sanca proporciona ilu­­­­­­­minação suave e ho­ mogênea na parede, en­­quanto os proje­tores ga­ rantem o destaque necessário às obras


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de lâmpadas AR 111 em qualquer graduação. Foram ainda comprados alguns acessórios para essas luminárias. Além da aletas frontais antiofuscamento, foram adquiridas duas lentes que podem ser agregadas às luminárias. Uma é a lente fresnel, que abre um pouco o facho de luz e o homogeniza de forma a tirar as imperfeições da lâmpada AR 111. Outra é a lente escultural, um filtro canelado que modifica a luz em um só sentido. “Efeitos interessantes são obtidos com as lentes esculturais e os diferentes focos de lâmpada. Com 24º, por exemplo, cria-se um foco elíptico, bem parecido com o facho retangular das luminárias para halógena de 100W, mas mais “macio”. Ideal para iluminar um grande quadro, por exemplo, sem evidenciar que se está fazendo isso. Quando se usa o mesmo filtro numa lâmpada de facho concentrado, também se cria uma elipse, porém superalongada. Com isso, pode-se iluminar uma comprida escultura com um único projetor”, explica Gilberto Franco. “Com os diferentes ângulos de abertura das lâmpadas, os filtros e mais alguns projetores retangulares para a iluminação básica, pode-se montar qualquer tipo de exposição”, completa. Existem ainda no espaço três clarabóias no vão central, que possui pé direito duplo. Franco e Fortes optaram por colocar

um trilho que “abraça” as clarabóias, criando uma proporção harmônica entre eles. Os trilhos permitem a colocação de projetores de facho concentrado para iluminar esculturas ou outros objetos colocados nessa área da galeria. Na chegada da escada, ao contrário de todo o resto da galeria, os lighting designers deram um tratamento um pouco mais informal à iluminação. A parede da chegada da escada também pode receber quadros, mas a iluminação ali aplicada foi feita de forma mais residencial. Foram utilizadas luminárias de embutir da Lumini para lâmpadas dicróicas orientáveis com filtro. O projeto luminotécnico do escritório-galeria de Paulo Kuczynski venceu com maestria o desafio de fazer com que se possa perceber muito bem todos os detalhes das obras e suas cores, sem as sombras ou reflexos que atormentavam o marchand. “Não há extravagância ou pirotecnia no projeto. Entretanto, podemos dizer que a iluminação é bem mais do que simplesmente correta. Ela realmente consegue fazer o espaço surpreender pela qualidade da iluminação”, afirma Gilberto Franco. O resultado não poderia ser outro: Paulo Kuczynki extremamente satisfeito.”As pessoas vibram ao visitar o espaço, pois não existe galeria com essa iluminação. É perfeita”, comemora.


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