Edição 581

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Especial Tenente Portela - 15 a 22 de junho de 2012

FOLHA POPULAR

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TENENTE PORTELA

Peri Luis Dornelles Leite conta a sua história no município

E

Aos 20 anos, de luto pelo assassinato do seu pai, João Pedro Carlos Leite

Baile no CTG, no tempo em que se andava armado.

Aos 19 anos, no Regimento Bento Gonçalves, em Porto Alegre

m 20 de agosto de 1940, Peri Luis Dornelles Leite saiu de São Sepé com o seu pai, João Pedro Carlos Leite, que era recenseador, tropeando mulas até Santa Rosa. “O meu pai João tinha alugado uma serraria no Lajeado Tarumã, em Três de Maio, então distrito de Santa Rosa. Terminado o censo lá, meu pai foi convidado pelo Cornélio Tonolier, o Palhares, que era irmão do prefeito, para terminar o censo no Lugarejo da Redenção, hoje Redentora”. Chegando por aqui, João Dornelles comprou uma granja de arroz em Derrubadas, onde hoje é a olaria do Salvador. Mais tarde se mudou para a Esquina Cabriúva ou Colorada, como chamavam alguns, onde eram os únicos moradores. “Minha mãe, Amélia Dornelles Leite, ficou em Formigueiro, distrito de São Sepé na época. Em Derrubadas moravam o Emiliano Dalcin e o Carlos Barulho, que junto com meu pai eram os únicos três moradores do lugar. Mais tarde, lá por 43, foram colonizando Derrubadas. O Arlindo Lucas, que hoje tem 91 anos e mora em Três Passos, também foi um dos pioneiros no município”, conta. “Eu ajudava o meu pai a derrubar árvores com machado, pois naquela época não havia motosserra. Com 15 anos, em 1944, fui carroceiro do seu Rubino Marroni, que tinha um depósito de madeira onde hoje é a Praça Brasília”, lembra Peri. “Em 45, um cunhado casado com minha irmã, chamado Cássio Lemos da Cruz, se aquerenciou na casa do meu pai. Tive alguns desentendimentos com ele e fui para Formigueiro visitar a minha mãe. Depois de três meses, fui para Cachoeira do Sul de trem, e para não ser encontrado não avisei ninguém. Lá trabalhei numa olaria e depois como ferreiro, nesta época estava com dezesseis anos. Certo dia lendo um jornal velho, numa cancha de bocha, vi um anúncio da Brigada Militar, que estava recrutando jovens de 16 a 20 anos para a corporação. Quando me apresentei para a inspeção, pesei 51 kg, quando o mínimo exigi-

Peri Luiz Dornelles Leite, 85 anos

do era 52 kg. Tomei vários litros de água e comi sal. Quando me pesei de novo, tinha os kilos exigidos. Incorporei no 1º Regimento de Cavalaria, em Santa Maria. Logo depois fui transferido para Porto Alegre, onde integrei o Regimento Bento Gonçalves, no Bairro Partenon. Lá fiquei por quatro anos”. “Meu pai tinha horror de milico, ‘os papos roxos’ como eram conhecidos, mas mesmo assim ia me visitar de três em três meses”, recorda Dornelles. “Quando eu tinha 20 anos, recebi a notícia de que meu pai tinha sido assassinado na Esquina Colorada, em Derrubadas, no dia 8 de novembro de 1947, dia do comício de José Pazini, que viria a ser prefeito de Três Passos, município a que toda a região pertencia. O meu comandante, Valter Perac de Barcellos, que depois viria a ser governador, me destacou para Três Passos para que eu pudesse vir cuidar dos negócios do meu pai. Em 15 novembro de 1947, dia da eleição, depois de pegar um trem até Ijuí e um caminhão de carga até Três Passos, vim a pé, fardado, até Tenente Portela pelo Lajeado Molina, pois a ponte não existia naquela época e o fluxo de carros era quase inexistente. Chegando aqui fui recebido pelos meus irmãos Pedro Osório, o Nenê, e Stela Dornelles Leite”, disse. Dornelles estabeleceu residência em Tenente Portela, saindo em 48 da Brigada para atender exclusivamente os negócios do pai.

“Fui negociante de madeira e viajante comercial, vendia rádios, máquinas de costura e roupas Renner. Fui empregado do Artidório Alegretti, que tinha a agência Renner, onde hoje é a Padaria Sabor e Arte, na Praça da Igreja. Lá por 58 entrei para a Máquinas Ideal, de Santa Rosa. Vendi na região inteira e viajava bastante”. Em 16 de novembro de 1964, casouse com dona Gleci de Mello Leite, que era de Livramento e veio dar aulas em Tenente Portela. Hospedada no Hotel Biguelini, que era gerenciado pelos irmãos Agnoletto, conheceu Dornelles, morador do hotel há 15 anos. Em 64, já casado, Dornelles abriu o seu próprio negócio, uma revenda de implementos agrícolas que levava o seu nome, atuando no município por mais de 30 anos. “ De 56 a 62, fui maestro do conjunto Balduíno Clesner, do qual faziam parte o Cirilo Rheinheimer ( irmão do Verno) na bateria, o Balduíno e o Artur Bernardi na gaita, o Lúcio Prates da Cruz (o nego Ci) no violão e eu no violino.Tocamos no Baile de Emancipação do Município, em 57, no salão da marcenaria do Benno Seno Fries. O prefeito de Três Passos, Wolfgang Löw, família da Vila Turvo de Campo Novo, esteve presente no baile. Artur Ambros, com Romário Rosa Lopes de vice, foi o primeiro prefeito de Tenente Portela, até 63. Em 64, ano da revolução e da legalidade, o prefeito era Elcides José Salamoni, do PSD,

FOTOS ARQUIVO PESSOAL

Dançando, em festa de casamento

partido que apoiava a causa dos maragatos. Também tinha a UDN, partido republicano e o PTB do Getúlio Vargas, do qual sempre fui aliado”, fala Dornelles. “Devido ao assassinato do nosso pai, eu e meu irmão Nenê andávamos armados, o que às vezes gerava comentários quando chegávamos nos bailes e festas do tipo ‘lá vem os Leite’”, diz Dornelles. Hoje aos 85 anos, aposentado, Peri Luis Dornelles Leite tem 3 filhos, 9 netos e é divorciado/viúvo, como se intitula. Mora em Tenente Portela na rua Tapejara há mais de 60 anos.

Dornelles com os amigos músicos Hermozil, no violão, Orlando Schneider e Artur Bernardes, tocando na ordenação do Padre Schneider. No detalhe, Dornelles com um papagaio na ponta do arco do violino.


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