“DANÇASIM”:COMO TRABALHAR A DESCONSTRUÇÃO DOS CORPOS PRESERVANDO AS INDIVIDUALIDADES.

Page 1

JOYCE DOS SANTOS MARQUES

“DANÇASIM”: COMO TRABALHAR A DESCONSTRUÇÃO DOS CORPOS PRESERVANDO AS INDIVIDUALIDADES.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DANÇA CAMPO GRANDE/MS 2010


JOYCE DOS SANTOS MARQUES

“DANÇASIM”: COMO TRABALHAR A DESCONSTRUÇÃO DOS CORPOS PRESERVANDO AS INDIVIDUALIDADES? Artigo Cientifíco apresentado ao Departamento de Pós-Graduação Lato Sensu da Universidade Católica Dom Bosco como exigência final para obtenção do título de Especialista em Dança sob orientação da Prof. Ms. Thereza Rocha.

UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DANÇA CAMPO GRANDE/MS 2010


“DANÇASIM”: COMO TRABALHAR A DESCONSTRUÇÃO DOS CORPOS PRESERVANDO AS INDIVIDUALIDADES?

Joyce dos Santos Marques

RESUMO Seria possível falar de dança na contemporaneidade sem falar dos processos constantes de desconstrução e reconstrução com os quais os corpos lidam? Ou pelo menos com os quais deveriam lidar? Pois são esses processos os primeiros a prevenir que a dança na contemporaneidade torne-se vazia de sentido. Sentido esse que apenas pode ser elaborado a partir do momento em que se deixa de lado a estética e a artificialidade e que se dê mais valor à emoção, à individualidade e à expressividade que a arte pode conceder. O presente texto abordará a questão da importância desses processos de desconstrução e reconstrução e como eles acontecem no trabalho do coletivo DançaSIM de Dourados no Mato Grosso do Sul, para que a dança contemporânea possa ser feita levando em conta algumas demandas da contemporaneidade que são as demandas das próprias necessidades humanas, entre elas a naturalidade, o sentido, a expressividade, a valorização da experiência subjetiva e a diversidade de quem dança e de quem assiste. Palavras-chave: 1 Desconstrução. 2 Corpo. 3 Individualidade. 4 Consciência

Que cada coisa faça o que ela naturalmente faz, de modo que a sua natureza seja satisfeita. (Chuang Tzu, 370 a 301 a.C.)


INTRODUÇÃO

Ainda que seja difícil conceituar a dança contemporânea, ela tem se difundido e está se tornando cada vez mais próxima e mais reconhecível pelo público e por quem faz pesquisa em dança. Até mesmo a procura por aulas de dança contemporânea, por parte de pessoas de outras áreas, como por exemplo do teatro, vem crescendo. Isso talvez se dê pelo fato dessa arte explorar a expressão corporal. Esse interesse tem crescido devido a uma premissa da dança contemporânea que vai ao encontro de algo que tem sido muito valorizado por quem trabalha com o corpo – a consciência corporal. Essa premissa tem como base a ética do respeito ao corpo e à vivência de cada um. Por isso, quando alguém se propõe a dar aulas de dança contemporânea, ou seja, se propõe a ser um facilitador da experimentação e da pesquisa de movimentos, ele deve, em primeiro lugar, considerar essas demandas relativas às singularidades corporais. Essas demandas são apreciadas pela pesquisa realizada pelo grupo Dançasim de Dourados, no Mato Grosso do Sul. O grupo independente existe há um ano e meio, é formado por bailarinos e não bailarinos e tem como objetivo pesquisar, experimentar e difundir a dança contemporânea naquela cidade; não tem uma direção fixa e se propõe a ser um coletivo de dança, em que todos têm voz ativa e propõem experimentações. Os ensaios dos projetos a serem produzidos são feitos em conjunto e cada integrante é responsável pela condução das aulas por um determinado período de tempo. Um dos objetivos da presente pesquisa desenvolvida a partir da experiência com o grupo foi investigar como fazer com que os processos de desconstrução dos códigos de movimentação, tão importantes para a dança contemporânea, pudessem acontecer sempre e de forma integrada, para que cada pessoa do grupo pudesse adquirir novas possibilidades de criar e recriar sua natureza de movimento. Mais importante ainda, pesquisar como fazer isso de forma igualitária com um grupo heterogêneo. A pesquisa foi realizada em um período de seis meses e a coleta de dados foi feita através de observação, questionamentos e diálogos durante as aulas. A pesquisadora também buscou responder questões tais como: Quais as formas de provocar a desconstrução de códigos tão distintos de movimentação como o de bailarinos e de não-bailarinos ao mesmo tempo? Como fazer isso sem que nem um e nem outro se sintam prejudicados? Como trabalhar a desconstrução


dos corpos de forma a mais ética possível, respeitando os corpos e suas memórias, sem destruir suas referências? Essas questões surgiram a partir da pesquisa em dança estimulada pelas aulas de especialização, principalmente pelos questionamentos da professora Thereza Rocha, pelo trabalho realizado em conjunto com o grupo e pelas pesquisas bibliográficas realizadas e que motivam esse texto que ora apresentamos.

1. DANÇA CONTEMPORÂNEA

A dança contemporânea tem se fixado de forma consistente no cenário das artes, pois além de expressão artística, ela é um exercício político. Suas diversas formas, técnicas, estilos, intenções e linguagens fazem com que as obras estejam sempre abertas a leituras e a interpretações diversas. E isso é de extrema importância para uma dança que não está interessada nem em unificar formas, nem em entregar tudo pronto ao público, diferente das obras de entretenimento cultural diante das quais o público não precisa pensar e apenas se diverte, dizendo se gostou ou não. A dança contemporânea está interessada em estabelecer vias de mão dupla com o público, a partir dos questionamentos que determinada obra traz e que os espectadores fazem a si mesmos e à própria obra. É, então, nesse caminho de ida e volta e nesse fluxo de questionamentos que se encontra a dança contemporânea. Em relação a essa questão entre estética e conteúdo MUNDIN (2004) afirma: A dança, muitas vezes, estabelece uma relação com a estética que é admirável, mas que não provoca no receptor nem um sentimento além da admiração inicial, que se esvai até o fim da apresentação. Nesses casos, percebemos um desinteresse quando o espetáculo não propõe nada além da técnica, porque somente a apreciação da forma ocasiona um distanciamento após algumas cenas, em que são detectadas todas as destrezas e virtuoses que cada bailarino é capaz de executar. O mesmo ocorre quando se torna apenas conceitual, pois a discussão proposta fica em um plano tão individual do intérprete, que não é possível (para o público) penetrar em seu espaço e, novamente, provoca-se o distanciamento. É preciso construir um conceito e se utilizar de ferramentas para representação que permitam à platéia compartilhar da situação proposta e desfrutar dessa discussão, participando sensivelmente. Em outras palavras, parecemos estar entrando na velha discussão entre forma e conteúdo. É necessária uma forma, um código estabelecido, para que o conteúdo se comunique com o receptor, da mesma maneira em que é necessária uma


mensagem, um conteúdo, para que a forma faça algum sentido ao receptor. (Documento eletrônico)

Essa questão entre forma e conteúdo também não deve ser confundida com a questão do significado dos movimentos corporais presentes em cada obra, até mesmo porque os movimentos na dança não trazem uma legenda e nem um significado específico. O coreógrafo e bailarino norte-americano Merce Cunningham, responsável por promover mudanças significativas na dança moderna nos anos 50 e 60 e que viveu até seus 90 anos dirigindo sua companhia, a Merce Cunningham Dance Company, dizia que “Se um bailarino dança já está lá tudo. Quando danço significa: Isto é o que eu estou a fazer. Uma coisa que é justamente a coisa que aqui está.” (apud ROCHA, 2009, p. 05) Na dança contemporânea os bailarinos podem realizar movimentos no silêncio, ou ao som de ruídos, ou até mesmo permeados por vozes, produzindo signos que não são exatamente aqueles que os olhares estão acostumados a ver. Esses olhares, esses ouvidos, geralmente acostumados a procurar significado nas coisas que vêem, também ficam confusos quando assistem a um espetáculo de dança contemporânea ao descobrirem que ali não há uma história pronta, não há gestos necessariamente significando algo, mas sim movimentos que são o que são e que, dentro de um contexto de composição coreográfica, buscam questionar o público e estimular quem vê a pensar, a se perguntar e a levantar hipóteses sobre a obra. Esses mesmos movimentos que, na maioria das vezes, são fruto de trabalhos de improvisação e da descontrução de códigos corporais preestabelecidos são objeto de pesquisa da dança contemporânea. São eles que a fazem estar em contínua mutação, humanizando a dança e reestabelecendo a crença de que o corpo pode ser formado e transformado através de múltiplas vivências.

2. O CORPO NA DANÇA CONTEMPORÂNEA

Quando se fala em corpo, principalmente em corpo na dança, o que ainda prevalece de forma geral no pensamento das pessoas é a dicotomia entre corpo e mente, como se os seres humanos fossem feitos de duas partes, sendo a primeira


subordinada à segunda ou tomadas como se as pessoas pudessem ter uma coisa ou outra. Para MARQUES (1998), o corpo nesta concepção é algo a ser dominado e que exige do dançarino uma submissão corporal àquilo que está sendo solicitado. Com a contemporaneidade esse pensamento dicotômico tem mudado, o entendimento de que não se separa corpo e mente está cada dia mais confirmado. Até pela maior influência oriental no Ocidente entende-se que não há como se ter um corpo, pois o que o designa é a palavra Ser que traz a idéia da integralidade. A conscientização dessa integralidade faz com que os corpos (seres) não sejam alheios, ou seja, distantes ou inconscientes de sua realidade e percepção de si. Eles estão impregnados de histórias que os construíram e essas histórias, em conjunto com aquilo que vivem e pensam, se exteriorizam pela expressão corporal, tornando públicas suas opiniões. E quando essas opiniões se tornam públicas, elas já não pertencem mais apenas a si próprio, mas sim a uma coletividade. A liberdade de expressar-se sobre algo que é de interesse comum e tornar isso público é o princípio ativo da política, sendo assim, esse corpo que extravasa suas idéias através de sua atitude em relação a assuntos de interesse público é um corpo político. Então, para a dança contemporânea o corpo basta, ele é o único necessário à sua natureza. Neste contexto, a música, o palco, a iluminação não são mais fundamentais. Várias coisas podem ser acrescentadas ao dançar: influências, regras, objetos, tecnologias entre outras coisas que enriqueçam a cena, mas o cerne de qualquer pesquisa, experimentação ou projeto é sempre o corpo.

2.1 Desconstrução e consciência corporal O filósofo contemporâneo Jacques Derrida1 fez uma importante contribuição, não somente à literatura, mas à arte contemporânea em geral quando desenvolveu o conceito de desconstrução. Quando se fala em corpo no contexto da dança contemporânea, fala-se necessariamente em consciência corporal. A conscientização corporal é o entendimento de si a nível global, não apenas psíquico, ou físico, mas das ligações e das integrações que acontecem no corpo e com o corpo o tempo todo. A consciência corporal favorece o conhecimento íntimo 1

Filosófo contemporâneo, nascido na Argélia em 1930 e falecido na França em 2004. Derrida criou o conceito de desconstrução que trata de decompor os elementos da escrita para descobrir partes ocultas nos textos partindo do princípio de que qualquer texto tem pontos camuflados, confusos e ambiguos, que se explorados de forma correta podem desfazer sua lógica.


do próprio corpo e permite identificar e diferenciar que partes do corpo se movem durante um movimento e quais as relações das partes do corpo com o todo. A consciência corporal proporciona um controle maior sobre o corpo e uma ampliação de suas possibilidades a partir do melhor entendimento, a nível corporal de como as referências que o corpo carrega influenciam no movimento. Para que isso seja assimilado e para que a conscientização do corpo se concretize, é necessário que haja uma desconstrução das referências. Neste contexto, o termo desconstruir não significa destruir e sim desmontar, decompor elementos para reorganizá-los. Esse conceito permite separar as partes, questioná-las e entender suas necessidades, para depois junta-las de novo no processo de reconstrução. Dessa forma, fica claro que a intenção não é destruir todas as referências anteriores como se fosse possível tornar o corpo uma tábula rasa, mas sim transformá-las, para então reutilizá-las em um corpo que pode ter muitos modelos e tornar-se único justamente pela miscigenação desses modelos. Sem a consciência corporal não há autoconhecimento e dessa forma não se pode saber o que o corpo pode ou não fazer, suas potencialidades e seus limites. Dar ou não a devida importância a isso pode tanto dar prazer ao dançar, quanto pode causar lesões ou medos. Por isso os métodos que trabalham a consciência corporal são tão importantes para quem faz dança contemporânea, pois é muito difícil querer ensinar um movimento a alguém que já tem seus próprios códigos de movimentos. Faz-se necessário que os novos movimentos sejam compreendidos, assimilados, tomados para si e reconhecidos como pertencentes ao aprendiz e não apenas ensinados de modo a adestrar o corpo. Faz-se necessário então que cada um investigue seu corpo, suas possibilidades, para que possa decompor e entender suas referências e assim reconstruí-las a partir de uma lógica própria.

2.2 Memória e lembrança corporal

Em relação à memória corporal é necessário entender que ela é a primeira função cognitiva desenvolvida pelo ser humano. Desde quando o bebê está no ventre da mãe, ele experimenta sensações, dos batimentos cardíacos da mãe até a sua voz. Depois do nascimento ele continua precisando do contato corporal com ela


para satisfazer suas necessidades fisiológicas e emocionais. Sendo assim os primeiros registros corporais são fornecidos pela mãe e a comunicação se estabelece a partir das sensações, não sendo necessária a comunicação verbal. A ligação entre eles não se dá a partir do entendimento intelectual das palavras, mas pelo toque. É nessa fase que o bebê não percebe separação entre ele e a mãe e nem entre ele e tudo que o cerca; ele é uno com tudo e com todos. Por volta dos dezoito meses, o bebê começa a ter a percepção de individualidade e esse sentimento de total integração começa a se perder no seu consciente e seus limites se estabelecem no corpo. Segundo RIBEIRO (2009) o ser humano agora tem a sensação de ter sua própria pele e através dela ele se relaciona consigo e com os outros. Tudo fica registrado em seu corpo e isso estabelece sua história que influenciará todos os seus atos, consequentemente seu corpo e sua dança. Além do conhecimento sobre a memória corporal é necessário distinguir memória e lembrança porque elas não são a mesma coisa. Enquanto a memória é uma função cognitiva complexa que permite ao ser humano armazenar, recuperar e evocar informações para resolver problemas e fazer planejamentos, ou seja, funcionar no mundo, a lembrança é puramente uma evocação do passado. Uma enorme quantidade de energia é solicitada quando o ser humano utliza a memória, pois ela é um processo que conecta diversas recordações e conhecimentos para gerar idéias e fazer com que o ser humano se adapte ao meio e planeje seu futuro. Sem a memória não há consciência de tempo, nem de identidade e sendo assim não há o “Eu” que é a consciência do que somos. Diferente da memória, a lembrança é a capacidade de trazer à tona o passado, é o modo como o ser humano guarda aquilo que já se foi, sendo que as lembranças podem ocorrer sem que haja o desejo de acessá-las. Elas são reproduções do passado. Já a memória está ligada ao presente como se o passado não tivesse acabado, como se ele estivesse sempre prestes a vir à tona. Então pode-se afirmar que se estivessemos todo o tempo lembrando não conseguiríamos acessar nossa memória, por isso, para ela (a memória) é necessário esquecer, para que tenhamos sempre novas chances de moldar o que fazemos hoje e o que iremos fazer amanhã. Na dança contemporânea então, que se baseia na experimentação e busca de movimentos diferentes, esse esquecimento é primordial, para que as memórias


corporais venham à tona e o código de movimentos de cada um se abra como um leque.

2.3 Corpo acessível, corpo aberto, corpo disponível

Longe da técnica que visa tão somente à estética de um corpo flexível, dócil e preparado muscularmente, a dança contemporânea se faz através de corpos disponiveis à experimentação, abertos à pesquisa e acessíveis à exploração de movimentos. Não que isso se faça sem métodos, pois eles existem e servem para que conhecimentos diversos surjam a partir da articulação das informações geradas pelas experiências do próprio corpo relacionadas à sua relação com o ambiente. O corpo precisa de autonomia que é conseguida através do conhecimento e da procura pelo corpo sem estereótipos e com capacidade de expressão e liberdade de movimento. Para que isso aconteça, é imprescindível que haja vontade e disponibilidade de revolver o corpo para encontrar novas formas de pensar o movimento, o tempo, o espaço e as interações que podem ocorrer da dança com outras artes e tecnologias. Muitas vezes para que esse corpo esteja disponível, aberto e acessível é necessário um conjunto de conhecimentos que auxiliem o corpo a se desprender de antigos conceitos, a se desconstruir e se reconstruir. Isso implica um processo contínuo de abrir mão do que é fácil e do que é cômodo para experienciar a incerteza, ou seja, o que nunca antes foi experimentado. Dessa forma torna-se possível construir uma natureza de movimento fundamentada na individualidade e na autenticidade, que são conceitos valorizados na dança contemporânea e que o grupo DançaSim busca através da desconstrução e da consciência corporal.

3. DESCONSTRUÇÃO DO CORPO: DINÂMICAS E MÉTODOS DE TRABALHO

Tendo como premissa a certeza de que a descontrução, assim como a consciência corporal, não é uma técnica e sim um conceito, pode-se concluir que ela não é apenas um meio para atingir um objetivo, mas sim um processo contínuo que


traz constantes transformações. Para que todo esse processo aconteça várias técnicas2 podem ser utilizadas. No trabalho com o coletivo DançaSim foram utilizados alguns métodos baseados sempre na consciência e no aprendizado do corpo e no corpo. Entre eles estão: 1) Dança criativa: é um percurso para a descoberta do corpo através de vivências particulares de expressão e com um foco concentrado no movimento, possibilitando a expansão das potencialidades de expressão e criatividade, humanizando a dança. E como, para praticar, não é necessária nenhuma habilidade motora específica, a dança criativa contribui tanto para quem tem, quanto para quem não tem experiência em dança; 2) Contato Improvisação: tem como características o trabalho em dupla com a transferência de peso de um ao outro parceiro simultaneamente através da sensação do toque na pele da parte do corpo que serve de apoio; a utilização de várias partes do corpo com focos direcionados; a movimentação livre pelo espaço; a não utilização de códigos de movimento pré-definidos; a disponibilidade corporal e a percepção do outro. Isso tudo favorece a integração e faz com que o trabalho conjunto entre pessoas que nunca dançaram e que já dançavam torne-se interessante para os dois casos a partir da premissa da dança como pesquisa corporal feita necessariamente a dois; 3) Cinesiologia: estudo que traz a compreensão de diversos acontecimentos que ocorrem em nosso corpo quando está em movimento. Esse entendimento auxilia no trabalho com a dança pois a partir disso pode-se exercitar o corpo de forma mais eficaz, não no sentido de realizar façanhas, mas no sentido de controlar a ação dos músculos de maneira mais consciente e de evitar lesões e esforços desnecessários; 4) Self-healing: promove consciência corporal e ativa os poderes inatos que o ser humano tem de manter o corpo saudável e ativo através de massagem, respiração e exercícios ativos e passivos. Dessa forma é uma das técnicas que podem ser utilizadas para o trabalho com a dança

2

Conjunto de processos que objetivam um resultado e que tem como fator importante o conhecimento, a criatividade e a capacidade de improvisação; é consciente e reflexiva e nasce da necessidade do homem de evoluir. A palavra originou-se do grego techné (τέχνη) que significa arte.


contemporânea pois tem como principal força condutora a crença de que vida é movimento, desde a respiração até o pensamento; 5) Dançaterapia: vislumbra uma integração total trazendo à tona as potencialidades que se guardam ocultas no corpo e mostra como as partes que demonstram mais potencial podem trabalhar a reconstrução integral do corpo, promovendo uma afinidade entre consciência e linguagem corporal. Livra o corpo de barreiras sociais e culturais e estimula a individualidade e a autenticidade; 6) Consciência pelo Movimento (Método Feldenkrais): método criado por Moshe Feldenkrais, composto de movimentos simples e lentos feitos com muita atenção, concentração e cuidado, trabalhando a propriocepção através da consciência pelo movimento e da integração funcional. Faz o praticante descobrir novos padrões de movimentos em um contexto de aprendizagem pautado na aprendizagem sem ensino.

4. DANÇASIM

Em meados de 2008 um grupo de ex-bailarinas, dentre elas a pesquisadora desse artigo, reuniu-se para fazer aulas em um estúdio de dança em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Posteriormente saíram desse estúdio e até março de 2009 o grupo ainda não havia se consolidado, principalmente devido a falta de um espaço fixo para as aulas. Em abril o grupo conseguiu um espaço no Teatro Municipal e finalmente concretizou-se com a escolha do nome. A estréia aconteceu em agosto, durante a 8ª Mostra de Dança de Dourados, com uma intervenção no saguão do Teatro e depois, no mesmo evento, com uma coreografia com o nome “Volta”. Nesta época o grupo era composto, na sua maioria, por pessoas com experiência em dança. Foi uma época de muitas apresentações e intervenções até a montagem do segundo trabalho coreografado que foi apresentado no final de 2009. Depois de muitas mudanças de elenco o grupo está hoje com a mesma formação desde o ínicio de 2010 e foi com essa formação que o grupo transformouse em um coletivo, uma vez que todas as integrantes são interessadas na pesquisa


e no estudo de dança e todas tem uma formação artistica, sendo duas com formação em dança e duas, em teatro. Hoje o maior interesse do coletivo é estar sempre em processo de investigação e pesquisa, sem a obrigação externa de produzir trabalhos, mas com o compromisso interno de pesquisar e difundir a dança contemporânea em Dourados para auxiliar na formação de um público, não só de apreciadores de dança, mas sim de espectadores interessados e questionadores. O nome DançaSim também tem um significado que diz muito a respeito do intuito das integrantes enquanto grupo. “Sim” significa “Sensibilidade e Intenção em Movimento” e, ao mesmo tempo, expressa o “Dizer Sim” para a dança todos os dias. Entretanto também pode denotar “Dançar assim”, ou seja, como uma declaração da atitude do coletivo em relação à sua identidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos estudos bibliográficos e do trabalho com o DançaSim pode-se perceber que a identidade do coletivo se define a partir da preservação das individualidades de cada participante, pela forma em que as aulas são propostas, pelos métodos de trabalho com o corpo e pelas intervenções e coreografias realizadas. Em relação às intervenções e às coreografias elas têm algo que já caracterizam uma parte da identidade do coletivo, que é a combinação de elementos previamente advindos, com elementos de improvisação. Assim, com foco na desconstrução, o DançaSim estabelece seu compromisso diário com a pesquisa como premissa ética e política de trabalho diante da dança contemporânea e como forma de ativismo tal como, esperamos, tenha ficado claro com esse texto com o qual essa pesquisadora torna por encerrado seu Curso de Especialização em Dança na Universidade Católica Dom Bosco – Campo Grande/MS.


REFERÊNCIAS

ALVES, Thais. O que é Dançaterapia. Disponível no endereço eletrônico www.dancaterapia.org. Acesso em 01 de novembro de 2010.

ARCURI, Irene (org). Arteterapia de corpo e alma. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

BRIKMAN, Lola. A linguagem do movimento corporal. São Paulo: Summus editorial,1975. CALAZANS, Julieta, CASTILHO, Jacyan, GOMES, Simone (orgs.). Dança e educação em movimento. São Paulo: Cortez Editora, 2003.

DAMÁSIO, António R. O erro de Descartes. São Paulo: Companhia das letras, 2004.

FELDENKRAIS, Moshe. Caso Nora: consciência corporal como fator terapêutico. São Paulo: Summus Editorial, 1979. FELDENKRAIS, Moshe. Consciência pelo movimento. São Paulo: Summus, 1977. FELDENKRAIS, Moshe. Vida e movimento. São Paulo: Summus, 1984.

FERNANDES, Ciane. O corpo em movimento: o sistema Laban/Bartenieff na formação e pesquisa em artes cênicas. São Paulo: Annablume, 2006. FERNANDES, Ciane. Pina Bausch e o Wuppertal Dança-Teatro. São Paulo: Annablume, 2007. FREIRE, Luiz Gustavo Lima. Auto-regulação da aprendizagem. Ciências & Cognição 2009. Lisboa, Vol 14, p. 276-286, jul. 2009.


FUX, Maria. Dança, experiência de vida. São Paulo: Summus, 1983.

_____________. Depois da queda...Dançaterapia! São Paulo: Summus editorial, 2005.

_____________. Formação em Dançaterapia. São Paulo: Summus editorial, 1989. GEBRAEL, Tatiana Luísa Reis. Atendimento de uma criança em terapia ocupacional: contribuição do método Meir Schneider de autocura (Self-healing). Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCAR, 2006. vol 14, n.2 GIL, José. Movimento total: o corpo e a dança. São Paulo: Iluminuras, 2004.

HILL, Ann. Guia das medicinas alternativas: todos os sistemas de cura natural. São Paulo: Mandala, 2003.

LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento. São Paulo: Summus editorial, 1971.

LEAL, Patrícia. Respiração e expressividade: práticas corporais fundamentadas em Graham e Laban. São Paulo: Fapesp; Annablume, 2006.

LIBERMAN, Flavia. Danças em Terapia Ocupacional. 1.ed. São Paulo: Summus editorial, 1998. LIBERMAN, Flavia. Delicadas coreografias. São Paulo: Summus editorial, 2008.

MACHADO, Hans Reikdal. Integração Funcional. Disponível no endereço eletrônico: http://brasilfeldenkrais.wordpress.com. Acesso em 03 de nov. de 2010.

MARQUES, Heitor Homero. Metodologia do ensino superior. Campo Grande: UCDB, 2006. MENDES, Aluísio Menin. Cinesiologia - a importância dos movimentos.


Disponível no endereço eletrônico www.corposaudavel.com.br. Acesso em 01 de nov. de 2010. MEYER, Sandra; SIGRID, Nora; PEREIRA, Roberto (org). Seminários de dança – História em movimento: biografias e registros em dança. Caxias do Sul: Lorigraf, 2008. MUNDIM, Ana Carolina. Dança: de quem para quem? Disponível no endereço eletrônico www.conexaodanca.art.br. Acesso em 29 de jan. de 2010.

NOVAES, Adauto. O homem-máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das letras, 2003.

ORNELLAS, Raquel. Caldeirão de bruxas: de como Macbeth virou Irmãs do Tempo. São Paulo: Edusp, 2006. RAMOS, Enamar. Angel Vianna: a pedagoga do corpo. São Paulo: Summus editorial, 2007. ROCHA, Thereza. Por uma (des)ontologia da dança em sua (eterna) contemporaneidade. Cadernos virtuais de pesquisa em artes cênicas. Rio de Janeiro, 2009. Disponível no endereço eletrônico. Acesso em 03 de nov. de 2010.

SANTANA, Ivani. Corpo aberto: Cunningham, dança e novas tecnologias. São Paulo: Educ, 2002.

SIQUEIRA, Denise da Costa Oliveira. Corpo, comunicação e cultura: a dança contemporânea em cena. São Paulo: Autores associados, 2006. SOTER, Silvia. Cidadãos dançantes: A experiência de Ivaldo Bertazzo com o corpo de dança da Maré. Rio de Janeiro: UniverCidade, 2007. THEOPHILO, Roque. A história da cibernética. Disponível no endereço eletrônico www.psicologia.org.br. Acesso em 02 de nov. de 2010.


VIANNA, Klauss. A dança. São Paulo: Summus editorial, 2005. WEISZFLOG, Walter. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2004. ZILIO, Alduino. Treinamento físico: terminologia. Canoas: Ulbra, 2005.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.