Revista Livro Zero numero 3 - Forum do Campo Lacaniano SP

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privilegia-se as referências, uma a uma, e o processo de denotação que as recobre. Desse modo, o traço unificante é a sustentação do sentido (S1 S2), assim como o traço distintivo é a sustentação da referência (S1/$). É a diferença lógica que podemos encontrar entre o significante mestre (como conotação, representação) e o traço unário (como denotação, apresentação). Enfim, não é o divã do Odivan o que faz dele um psicanalista. Mas isto não é brincadeira, pois o autorizar-se de si mesmo do psicanalista é coisa séria, não somente pela ética que supõe, mas também pela lógica que condiciona, em série, ao fazer do analista aquele que só se pode contar um a um, a partir do traço distintivo e não do traço unificante. Mas, tenhamos muito cuidado, pois não é uma produção em série dentro de um todo, o que faria da formação de analistas uma fábrica nos moldes fordistas. O mais interessante nisso tudo é que se trata de uma série sem todo. Quando não há mais um todo, quando não se pode fazer um todo, o particular (a parte) não pode mais ser subordinado. Não é mais um particular subordinado a um universal. É somente à parte sem todo, à parte não subordinada, que podemos dar o estatuto e a dignidade da singularidade. Sem subordinação, cada parte vale por sua semelhança a si mesma, em sua diferença em relação às outras partes, mas não há nada que sustente uma generalidade entre elas ou que faça delas uma totalidade: não há predicação comum que as unifique ( (x)Φ(x)), embora elas possam ser consideradas lado a lado no processo de extração feito por meio da existencial negativa, isto é, pelo traço distintivo: ¬ (x)¬Φ(x). Na lógica do não-todo, portanto, (x)Φ(x) ≠ ¬ (x)¬Φ(x). Assim, no campo do não-todo (¬ (x)Φ(x)), o traço só pode ser existencial: singulariza, mas não unifica; identifica, mas não subordina; nomeia, mas não representa.

III – Da denotação à nomeação O psicanalista não faz ολοζ (todo), mas talvez faça Пανιɛζ (um a um). Por isso se trata de buscar o traço em cada um, e não adequá-lo a um todo, a uma coleção tomada previamente, ilusoriamente, como um predicado primeiro. Assim podemos talvez escrever: ¬ (x)(d(A)(x) ¬P(x)), onde x é o passante, d(A) é desejo de analista e P é Psicanalista: não há ninguém em quem o desejo de analista não advenha sem que isso implique a ex-sistência de um psicanalista. Se articularmos o advento deste desejo ao ato psicanalítico, não seria esta a tese de Lacan no Seminário 15? Na aula de 10 de janeiro de 1968 ele diz: “na maneira pela qual vou avançar

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