Revista Livro Zero numero 3 - Forum do Campo Lacaniano SP

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sujeito suposto DO saber” (LACAN, 1972, p. 489). Ora, o que isso poderia querer dizer? Não se trata de sujeito suposto saber, mas suposto DO saber. Em Finais de Análise, C. Soler já nos indica que ao final, resta o saber assegurado. Resta um sujeito seguro do saber. Ele já não se assegura do fantasma, mas sim do saber. Ora, de que saber se trata? É pelo saber (como diz Soler no comentário anterior) que algo para de se escrever. Diz Fierens: “Graças ao percurso da cura, o sujeito suposto dá agora lugar ao saber o qual dá a certeza do sujeito suposto, o qual se situa nas três dimensões do impossível” (2010, p. 264). Em seu texto De que modo o real comanda a verdade (2010, p. 17), C. Soler nos dirá que “há um ‘saber sem sujeito’, o qual inscreve um impossível e há o sujeito representado por um S1 junto ao saber que deciframos”. Ela remete a Lacan: “alíngua articula coisas que vão muito mais longe que aquilo que o ser falante sustenta como saber enunciado”, é “o lugar de um saber que ultrapassa o sujeito”. E ela conclui: “Existem, portanto, dois saberes: o saber decifrado, que pode se constituir como linguagem; e o saber falado de alíngua, que não é linguagem” (p. 19). Essa distinção me parece importante para acompanharmos a introdução que Lacan faz das dimensões do impossível no texto de 72. Ele dirá: “uma demanda pode se repetir por ser enumerável, o que equivale a dizer que ela só se emparelha com a volta dupla em que se funda a banda ao se colocar a partir do transfinito(...) De todo modo a banda só pode se constituir se as voltas da demanda forem em número ímpar(...) Como o transfinito continua exigível, pelo fato de nada se contar aí se o corte não se fechar, é intimado a SER ÍMPAR(...) É isso que acrescenta uma diz-mensão à topologia de nossa prática do dizer” (1972, p. 488). Ou seja, é o transfinito ímpar que acrescenta uma diz-mensão à topologia de nossa prática do dizer. Só para lembrar, veja o que Lacan disse anteriormente: Até aqui, seguimos Freud, e nada mais, no que se enuncia da função sexual por um paratodo, mas igualmente ficando numa metade, das duas que por sua vez ele discerne, a partir do mesmo côvado (medida de comprimento usado em civilizações antigas), por lhe remeter às mesmas diz-mensões (p. 463).

Ou seja, se ficássemos no paratodo homem freudiano de um saber que se decifra, não se acrescentaria outra diz-mensão à prática do dizer. Ora, me parece que não haveria como introduzir uma outra diz-mensão nessa prática do dizer, se nos mantivéssemos na série transfinita biunívoca,

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