Folha Carioca / Outubro 2011 / Ano 10 / nº 93

Page 1

Outubro 2011 Ano 10 No 93

Porteiros, zeladores e faxineiros no Rio são mais de 100 mil. Conheça alguns deles

“Chama o Severino!” 9

Sandra Jabur

Atividade aquática e a osteoporose

22

Maria Luiza de Andrade

Perfil – Gilda Sobral Pinto



índice

editorial

“Bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” Provavelmente é assim que começa nosso contato com uma classe de profissionais que está presente diariamente em nossa vida. Neste mês a matéria de capa da Folha Carioca presta uma homenagem a todos os porteiros, zeladores e faxineiros da cidade. Somente no Rio de Janeiro o número de pessoas com essas funções chega a mais de 100.000. Personagem mais conhecido que o síndico, muitas vezes substituindo-o em sua ausência, os porteiros estão em todos os edifícios zelando pelo patrimônio, segurança e conforto dos moradores. Muitos deles têm décadas de dedicação ao prédio. Engana-se quem acha que é uma profissão tranquila, que basta ficar sentado na portaria ou recebendo e distribuindo a correspondência. Os guardiães do acesso aos prédios são o primeiro alvo em qualquer assalto, da reação dos pais quando os filhos adolescentes saem de carro sem autorização, do cachorro do vizinho que anda sem coleira ou faz as necessidades nas áreas comuns. Mas são também exemplos de pontualidade, honestidade, disponibilidade e lealdade, muitos deles, pelo tempo de convivência, passaram a amigos de moradores e de seus familiares. No Rio de Janeiro a predominância dessa profissão é de homens. A grande maioria vinda do Nordeste. Uma história que se iniciou com a construção dos edifícios, quando os nordestinos vinham para a cidade trabalhar como mão-de-obra na construção civil e acabavam ficando empregados como porteiros, serventes e faxineiros. E, com a abertura de novas vagas, trazendo seus parentes, formando uma categoria quase que totalmente dominada por pessoas daquela região do país. Cientes de que as funções do porteiro estão além do ato de abrir e fechar portas ou portões de garagem, atualmente os condomínios têm priorizado cada vez mais os profissionais capacitados na hora da contratação. Apesar de exercerem uma função de extrema responsabilidade, alguns profissionais ainda resistem a buscar qualificação. Ser “gente boa” deixou de ser o único requisito para quem deseja atuar na área. Comprar a casa própria é o sonho de quase todos. Poder ajudar a família é a razão principal do orgulho desses profissionais que, com tanto empenho, dedicam suas vidas aos condomínios onde trabalham. Boa leitura!

Quem é quem

4

Arlete 8

Saúde e bem-estar

Pilates e o jiu-jitsu 9

Saúde e bem-estar

Osteoporose 12

Passatempo Cem perguntas Capa

14

Porteiros Perfil

22

Gilda Sobral Pinto 23

Saúde

A hora da morte 24

2295-5675 2259-8110 9409-2696

Resenha

Guerra aérea e literatura

colunas 06 06 08 09 11 13

Suzan Lee Hanson Ana Flores Ana Cristina de Carvalho Sandra Jabur Wegner Lilibeth Cardozo Alexandre Brandão

18 19 20 24 24 25

Maria bel Baptista Sil Montechiari Oswaldo Miranda Tamas Haron Gamal Gisela Gold

ENTRE EM CONTATO CONOSCO Leitor, escreva pra gente, faça sugestões e comentários. Sua opinião é importante.

folhacarioca@gmail.com

Leia a edição pela internet: www.folhacarioca.tk Fundadora Regina Luz

Capa Daniel Uhr

Editores Paulo Wagner / Lilibeth Cardozo

Projeto gráfico e arte Vladimir Calado (vlad.calado@gmail.com)

Distribuição Gratuita

Revisão Marilza Bigio

Jornalista Fred Alves (MTbE-26424/RJ)

Colaboradores Alexandre Brandão, Ana Cristina de Carvalho, Arlanza Crespo, Georgine Tadei, Gisela Gold, Haron Gamal, Iaci Malta, Jacqueline Imbassahy, Lilibeth Cardozo, Maria bel Baptista, Maria Luiza de Andrade, Oswaldo Miranda, Sandra Jabur Wegner, Sil Montechiari, Suzan Lee Hanson

Captação de Anúncios Angela: 2259-8110 / 9884-9389 Marlei: 2579-1266 O conteúdo das matérias assinadas, anúncios e informes publicitários é de responsabilidade dos autores.


quem é quem

Como ser feliz Arlanza Crespo

Outubro 2011

Acabei de receber um email da Ginger Roger, 92 anos, dando um show de salsa com o neto. Emocionante! E a cada demonstração dessas, com pessoas mais velhas, é um novo leque que se abre para uma grande faixa da população que tem mais de 70 anos e não sabe mais como se divertir ou tem vergonha de ser feliz com essa idade..

4

Já contei para vocês que eu tenho a sorte de trabalhar como voluntária na Comunidade de Betânia, um lar de idosos no Jardim Botânico, e os meus alunos têm de 82 a 104 anos. As aulas são muito divertidas e eu sempre volto para casa muito feliz por Deus ter me dado a chance de conviver com pessoas tão animadas. Mas porque estou dizendo isso? É que conheci mês passado, na festa de aniversário de 80 anos do meu amigo, uma mulher muito interessante, que animou com sua alegria a mesa onde eu estava sentada. Quis saber mais sobre ela e resolvi correr atrás. Arlete tem 71 anos e está casada há 51 com o mesmo marido. Tem duas filhas e dois netos. O marido é francês, engenheiro. Ela é carioca, sem formação universitária: “Estudei pouco, arranjei namorado, casei e sou feliz até hoje. Atualmente as moças estudam muito, não arranjam namorados, não casam, e quando casam se separam e não são felizes”. Então qual é o segredo? perguntei, e ela disse: “O meu segredo sempre foi cuidar do meu marido e confiar nele. E se tivesse de começar tudo de novo seria com ele outra vez!”

Alegria sempre foi sua marca registrada. Envelhecer com alegria e não deixar a preguiça tomar conta é o segredo. Arlete mora no Leblon, não gosta do silêncio, gosta de gente, barulho, confusão, carros buzinando. É brincalhona, diz palavrão, leva tudo na esportiva, só não tolera mentira. O que ela não gosta de fazer também não faz. Não gosta muito de cozinhar. Nas festas de família, onde cada um tem que levar um prato, ela leva 24 ovos cozidos e pronto. Mas não se pode fazer uma festa sem convidá-la, dizem os amigos, pois sempre que chega anima o ambiente. Na última festa que foi pediram que distribuísse o bolo (que veio cortado e embrulhado, por sorte). Aí ela perguntou: “Quem quer bolo?” e começou a jogar nas pessoas no melhor estilo Chacrinha. “Pra quem não me conhece pode parecer que eu sou maluca, mas o que eu sou mesmo é alegre. Eu vejo um negócio muito parado conto logo uma piada”. Ela quer chegar aos 120 anos com o mesmo humor e saúde dos 71, e morrer jovem, só com a idade avançada.

Mas o que mais me chamou a atenção em Arlete foi saber que ela joga vôlei todo dia na praia, onde é conhecida como Dona Flor. Começou jogando numa rede em frente à rua Bartolomeu Mitre, e atualmente joga entre a Afrânio de Melo Franco e a Almirante Pereira Guimarães. Joga há 30 anos, e quando os velhos foram morrendo ela trocou de ponto. Agora está no meio dos jovens. Como sempre usava uma flor no cabelo e alguns não sabiam seu nome diziam para jogar na moça da flor, depois simplesmente joga pra flor. Aí pronto, virou Dona Flor. Agora, há pouco tempo resolveu entrar numa escolinha, a escola do Betinho. Frequenta as aulas todos os dias de 7 às 8 da manhã, e me disse que só tem uma aluna mais velha que ela, com 82 anos. Quem quiser encontrar com a Dona Flor e se contagiar com sua alegria é só bater o ponto todo dia lá na rede. Aproveita e entra também na escola do Betinho. Aprender a jogar vôlei deve ser fácil, difícil é aprender a ser feliz!


espaço do leitor

As máscaras de papier marché Adormeci cobrindo o meu rosto com um chapéu. Quando adormeci não tinha ideia das horas. Para mim não havia manhã, tarde, noite. Naquela tarde, numa fuga da realidade, vi aparecerem nas paredes várias máscaras de “papier marché”. Algumas lindas, raras, nítidas, sempre coloridas. Tentei compreender o porquê daquela metamorfose dos quadros e objetos, antes pendurados nas paredes, agora transformados em máscaras. Sentei-me no chão e as observei uma a uma. Pareciam que estavam vivas, seus lábios se mexiam, sussurravam e discutiam sobre a eternidade, a matéria, a fé. Após me observarem, me convidaram para me pendurar também na parede e participar com elas daquela discussão importante, necessária. Cheguei a pensar que eu estava delirando... Então, falei da minha indecisão; preferia ficar onde estava, esperando o dia, a tarde, a noite. Elas insistiram e esperaram. Após ter refletido muito achei que poderia aceitar o convite tornando-me mais uma máscara de cera, porque sendo de cera, seria mais fácil voltar para a realidade; elas aceitaram e de repente lá estava eu pendurada discutindo a respeito daquele tema tão interessante. Às vezes tocava o meu rosto, pensei em cartazes luminosos que apareciam nas grandes avenidas, nas pessoas sorrindo, compartilhando um copo de vinho gelado, e brindando a vida, a natureza e outras belezas. Procurei as máscaras, mas elas haviam desaparecido. A cera começava a se derreter. Gotas quentes caíam em meus braços e, com minhas mãos, tentei dissolver a máscara. Resolvi sair daquele delírio que se apoderou dos meus pensamentos. Fechei a porta e fui caminhando até uma grande praça rodeada de fios de seda. Quando notei esteve no meio deles, envolta, morna. Aqueles fios brilhavam como a neve, a prata. A praça virou flocos de neve, algodão. Os bichos de seda teciam e teciam. O vento esvoaçava meus cabelos e no meu rosto não havia mais vestígio de cera e sim uma pele fresca, lágrimas se misturavam com o ar fresco naquela tarde gloriosa. Comecei a correr e levei comigo o meu chapéu de palha, sabendo que um rosto pode trazer em si uma infinidade de máscaras, às vezes desconhecidas, que povoam os sonhos e delírios de cada ser.

A insustentável leveza do corpo Jacqueline Imbassahy de Mello

Muitos são os ditados. Um deles diz que “o corpo é o templo da morada da alma”. Malhar, manter o corpo rígido e em forma, é primordial para se adquirir o bem-estar físico, mental, psíquico e espiritual. Deste modo, a yoga nos propicia um prazer imensurável! Nosso corpo pressente os primeiros pingos da chuva até o maior brilho radiante de sol. É como estivéssemos em constante movimento e encadeamento de asánas, pranayamas e relaxamento. Sentar, ficar de pé e, até mesmo deitar, requer conhecimento de como obter saúde e equilíbrio. Elaboramos os projetos do mundo, feito de ações que nos beneficiem, viagens aos topos das mais altas montanhas, interagindo em um segundo apenas, na vazão do silêncio interior e paz no coração. A plenitude do ser e o nível sutil de consciência merecem atenção e prioridade em nossos relacionamentos sejam eles de ordem afetiva, familiar e profissional. Os yogues e yoguines geralmente sentem esse privilégio do elo entre a energia divina, cósmica ou universal. Para muitos praticantes dessa antiga filosofia oriental, o bel prazer, e a elevação das almas em estado meditativo é bastante gratificante para que o nosso corpo se sinta puro, leve e completamente liberto das impurezas. Quem não pratica yoga, comece a fazê-la e não se arrependerá! Namastê!

Outubro 2011

Georgine Tadei

5


Ana Flores anaflores.rj@terra.com.br

suzan.hanson@gmail.com

Microcontos

Poesia em prosa

Outubro 2011

Intolerância

6

Suzan Lee Hanson

Seduza todas as mulheres que você desejar, Confunda-me com as desculpas mais esfarrapadas que sua imaginação criar, Convença-me de que o que estou vendo não é nada disso que estou pensando, Passe em branco o aniversário do nosso namoro, Ignore os bilhetinhos de amor que deixo na porta da geladeira para você. Mas nunca mais - ouviu bem? - nunca mais em sua vida recuse provar meu manjar de coco com calda de damasco. Isso eu não vou perdoar.

Quero minhas asas de volta Chegou marrento e cheio de regras. Mudou o canal de TV que eu estava vendo, declarou que me queria com exclusividade, pontificou que o amor não existe, só a paixão, e essa dura pouco. Avisou que não me queria mais de batom vermelho-amora nem de meia arrastão. Sumiu com meus CDs do Roberto Carlos porque me faziam chorar por outro amor, trocou minha bromélia em flor por um pé de comigo-ninguémpode para espantar bicões e falou muito sobre o que ele gostava e não gostava. Eu só ouvia, muda. Dias depois, abri minhas asas recolhidas há muito tempo e, sem me despedir, saí voando pela janela.

Poesia, penso, é para poucos. Suprassumo da abstração, puro sumo de limão, extrato de perfume francês. Nisso tem sua estranha beleza quase indecifrável. Ainda hoje ouvi poesia construída quase apenas de palavras inventadas: tinha uma linda sonoridade, poesia é música. Música clássica da palavra. Talvez seja da ordem das coisas que se sente, e não necessariamente das que se entende. Já a prosa, navega em diversos rumos - da contundente verdade noticiada até a mais inventada das histórias. Mas finca pé, de um extremo ao outro. É âncora. No caminho do meio, a poesia em prosa. Um pé lá, outro cá. Um semitom, bemol ou sustenido, meio passo à frente ou atrás. Ou talvez pertença à extensa gama de harmônicos emitidos por violinos e acordeons. O ouvido escorrega por eles. É uma mágica, um encantamento. Quando você vê, sem aviso, foi capturado. Uma ponte dos poucos para os muitos. Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis. Sofisticados, mas generosos. Um elegante passo a passo para os mortais. Na cozinha, poesia é o café, prosa é o bolo, e café com bolo traz meio dedo de prosa. É a poesia em prosa. Sem pressa.

Iaci Malta iaci@borongarden.com

Velho: que não é jovem, que tem muito tempo de vida Parece já ser senso comum que as últimas décadas têm sido marcadas pela primazia do ser eternamente jovem. Surge assim a dificuldade do envelhecer que também marca nossos tempos. Recursos no campo da cirurgia plástica, muita malhação e hormônios têm sido usados para manter a aparência do corpo jovem. Por outro lado, encontramos aqueles que clamam pela aceitação do envelhecimento natural do corpo, mas que resvalam na dificuldade do envelhecer quando afirmam que o importante é “permanecer jovem de espírito”. Quero aqui propor um resgate do primeiro significado da palavra velho, que não é jovem, novo, que tem muito tempo de vida ou de existência, de forma que possamos ser velhos

de corpo e espírito e que, incluídos, respeitados e admirados pela nossa experiência, possamos ser velhos vitais. Digo incluídos, porque é a exclusão e a desistência de ser agente no mundo que desvitaliza os velhos. Os chamados jovens de espírito, que proponho chamar de velhos vitais, são os sobreviventes desse processo. Sabemos que a expectativa de vida cresce cada vez mais... o mundo está envelhecendo! Assim, devemos nos preparar para envelhecer permanecendo vitais e agentes na vida; isso é uma imposição do mundo atual. Ao invés de pensarmos “já tenho quase cinquenta anos” temos que pensar que ainda viveremos, no mímino, mais 40 anos.

É um fato que o que chamamos de jovem também vem envelhecendo: 60 anos atrás uma mulher de 40 anos era velha – os mais antigos se lembrarão da balzaquiana que só tinha 30 aninhos. Mas, ver o alargamento do período de funcionalidade do ser humano apenas como uma prorrogação da juventude nos aprisiona, pois a obrigação de permanecer jovem se choca com a realidade e consome parte da energia disponível para nos manter vitais e funcionais. Assim, precisamos poder ser e nos nomear velhos, que não são jovens, que têm muito tempo de vida, simplesmente porque esse é já um destino anunciado e, francamente, ser eternamente jovem além de uma quimera, é cansativo.

Iaci Malta é psicóloga e psicoterapeuta em Análise Bioenergética. Sua primeira formação foi em Matemática, com doutorado do IMPA, tendo sido pesquisadora e professora na PUC-Rio durante 30 anos. Sua passagem das ciências exatas para as humanas começa pelo desafio de encontrar caminhos para a superação de dificuldades no aprendizado de Matemática. Tem publicações em Matemática, pesquisa, ensino e aprendizagem e, atualmente, escreve suas reflexões sobre nós, seres humanos.


Outubro 2011

novidades serviรงos e entregas

7


saúde e bem-estar

Outubro 2011

Pilates como preparação física no jiu-jitsu

8

Técnicos e treinadores do mundo todo têm cada vez mais incluído Pilates no programa de preparação física de atletas das mais diferentes modalidades esportivas. O treinamento e a preparação física dos lutadores de jiu-jitsu através do Método Pilates são feitos pela adaptação dos movimentos e conteúdos específicos dos golpes de jiu-jitsu nos aparelhos e acessórios desenvolvidos por Joseph Pilates, em 1920. O treinamento funcional através do Método Pilates, direcionado para um esporte com características específicas como o jiu-jitsu, garante grandes benefícios ao atleta. Com a movimentação imitando os gestos específicos da luta nos aparelhos e equipamentos de Pilates, o atleta, desenvolve a conscientização em relação ao próprio corpo. Uma das causas frequentes de lesões no jiu-jitsu é o desequilíbrio muscular que devido à diferença de força e flexibilidade entre grupos musculares que atuam em uma mesma articulação. Com o treinamento Pilates o lutador organiza as cadeias musculares e aumenta a amplitude das articulações, o que evita dessa forma

disfunções e desequilíbrios musculares, que além de lesões, reduzem o desempenho do atleta na luta. O treinamento Pilates procura, através de situações semelhantes e integradas a luta, estimular os atletas para a realização de movimentos de coordenação motora complexa, desenvolver o equilíbrio, o fortalecimento da musculatura do Core (músculos do assoalho pélvico, abdome e estabilizadores da coluna), a amplitude articular e o controle emocional através da reeducação da respiração. Reduz, também, a tensão e o desgaste energético dos músculos envolvidos nos movimentos específicos do jiu-jitsu, atuando desta forma na prevenção e na reabilitação de lesões. O jiu-jitsu tem uma dinâmica específica e características mutáveis. As exigências de competição são cada vez mais elevadas e a preparação física do atleta através do Método Pilates tem que se adaptar a essas exigências, buscando uma maior especificidade, somando métodos tradicionais de treinamento há metodologias atuais, visando uma preparação física para os atletas que venha suprir realmente as suas necessidades. O treinamento Pilates adaptado às características do jiu-jitsu e voltado para as evidentes necessidades do lutador que são força, velocidade de movimentação, flexibilidade e as capacidades coordenativas, atua como uma ferramenta importante na melhora dessas capacidades físicas, elevando o rendimento individual do atleta e de toda equipe. Pilates valoriza muito a interação do corpo e da mente para que haja perfeita harmonia e menor gasto de energia durante a realização das atividades da vida diária e dos esportes proporcionando saúde e bem-estar. Foco na mente e equilíbrio no corpo.

Ana Cristina de Carvalho www.pilatesvilla90.blogspot.com anacris.c@terra.com.br


Sandra Jabur Wegner hidrovida@hidrovida.com.br

Atividades aquáticas e a osteoporose Os osteoblastos, que são as células responsáveis pela formação óssea, são estimulados pelo cálcio, vitamina D, sol e exercícios com carga. Apesar de estereotipadas como atividades leves e suaves, as atividades aquáticas podem proporcionar um trabalho dinâmico, de alta intensidade, com impacto e resistência, utilizando as propriedades físicas da água e alguns implementos que acentuam ainda mais a intensidade dos exercícios. Na água, realizamos exercícios de resistência e aeróbicos, que visam a aumentar a resistência periférica e central, fortalecendo a musculatura e os ossos através de exercícios específicos de natação e hidroginástica. Nela executam-se movimentos de saltar, correr e chutar, com carga, sem prejudicar as articulações, graças à redução da força gravitacional,

diminuindo o impacto. Ainda é possível utilizarmos caneleiras e trampolins aquáticos, em ritmos variados, ativando a musculatura agonista e antagonista, coordenados com a respiração, durante todo o exercício. Pode-se desenvolver um trabalho absolutamente sem impacto, recomendável em casos de problemas articulares severos. Nessa situação faz-se uso de exercícios em água profunda, utilizando flutuadores, evitando que os membros inferiores encostem no fundo da piscina. Não se esqueça: exercícios, alimentação e exposição ao sol formam a tríade para combater a osteoporose. Dúvidas sobre o assunto podem ser esclarecidas através do e-mail: hidrovida@ hidrovida.com.br

Outubro 2011

A osteoporose é uma doença óssea degenerativa. Seu tratamento pode ser dividido em três estágios: primário, onde o tratamento é preventivo, evitando que a doença se agrave. Secundário, quando a osteopenia instala-se na estrutura óssea e ainda é possível reverter o quadro. No estágio terciário, o tratamento é restrito ao esforço para controlar e estabilizar a doença. Nos três estágios, a alimentação, a prática de exercícios com carga e a exposição ao sol são fundamentais. Interromper o fumo, reduzir o consumo de café, refrigerantes de cola e derivados, mate e chá preto, aumentar a ingestão de laticínios e vegetais e adicionar à alimentação suplementos de cálcio e vitamina D, sempre sob orientação de um especialista, é o primeiro passo a ser dado na tentativa de controlar essa doença.

9


10 Outubro 2011


Lilibeth Cardozo

lilibethcardozo@hotmail.com

Ando me sentindo uma velha Cinderela... Gente, só me acalmo à meia noite! Adoro o silêncio da madrugada aqui na Urca. Tem até uma sonata feita por uma corujinha. Vez em quando algum pássaro pia. O céu está aberto, mas de luz apagada. A imagem do Cristo brilha em cima do morro, acima da cidade... Já deram as doze badaladas do sino. Perdi meu sapatinho na escada quando eu tinha 15 anos, até hoje o príncipe não veio provar nos meus pés. Não sabe ele que nunca mais vai achar meus pés de princezinha: o sapo roubou! Boa noite, príncipes e cinderelas, mas não bebam dos venenos assassinos. Escutem a noite; ela não grita. Adormece hoje sem as nuvens macias. Amanhã o sol acende a luz! Não tenho medo do escuro, me acalmo sem a barulheira do sol. O assobio do vento fica mais romântico, melodia de verdade... Em alguns leitos dormem os meus amores, enlaçados em seus amantes. Sinto saudades de presenças, mas me conforta saber que estão dormindo. Tenho tristeza e um barquinho na baía faz barulho de motor fraquinho. Pescadores saem na madrugada fria da grande cidade adormecida.

Estão acordados, buscando os peixes que prateiam no espelho d’água. O mar está zangado e grita nas pedras da enseada. Os barquinhos vão com coragem e trarão peixes fresquinhos para famílias comerem o pão de que precisam. Alguém dorme longe de casa, sozinho, sofrendo. Minhas lágrimas benzem minha dor. Uma amiga hoje me matou para ela. Coitada dela em achar que não sorrio. Dou risadas quando estou feliz e tem gente rindo comigo. Como posso gargalhar iluminada se apagaram tantas luzes da minha vida nesses dias? Fui buscar santa Terezinha. Papai acreditava muito nela e o Cristo era o senhor da minha mãe. E eu, sem fé? Tem graça isso? Onde escondi essa danada? Na dúvida acendi vela pra santa Terezinha e fiquei na janela olhando o Corcovado pedindo proteção pros meninos, pro Paulo e pra So. Quando eu tinha quinze anos tinha sapatinho de Cinderela, rezas e medos. Agora não, sou Cinderela medrosa. Só não tenho mais medo de corujas. Arlanza quer Cinderelas sem velhice, coelhinhos da Páscoa e Papai Noel. Prometi a ela que vou contar todas as histórias e ninguém ficou velho ou foi embora.

Prometi que é tudo mentira minha! Ela vai viajar atrás do sol e do calor. Eu vou ficar aqui. Amanhã, quando o sol acender a lâmpada do céu, vou estar dormindo e, depois do dia claro e agitado, perto de meia noite fico mais calma. Minha amiga vai passar o dia rindo pra ser feliz. Eu não, posso rir ou gargalhar só quando quero. Fico feliz ou triste o quanto sentir. Silvia briga comigo, mas me conta histórias e brinca de tudo, desde criancinha. Marga está viajando e morro de saudades dela. Ela também briga comigo, mas brinca do que quero brincar... Lá na nossa casa dormem Ricardo e Renato. Edy rezou o terço e Eliza também. Os pequenos daqui estão aninhados, protegidos nos ninhos da mães e pais. Os do além mares estão quase acordando. O sol passa lá primeiro e vai acendendo as luzes do mundo. Mari hoje falou comigo. Ela estava sentada numa pedra e procurando uma luz rosinha pra colocar no útero. Não é lindo isso? Dorme João com Mari; dorme Nena e Gui; dorme Paulo e So, dorme Leo, dorme menino grande, eu não sairei daqui.

Outubro 2011

Boa noite, cinderelas, príncipes e sapos!

11


passatempo

Cem perguntas

Demonstre seus conhecimentos gerais respondendo a essas perguntas. Serão 100 perguntas apresentadas em cinco edições.

41. Que time de futebol tem o nome de uma ave sagrada no Egito Antigo? A. Pato Branco B. Íbis C. Uirapuru de Belém D. União S.João de Araras 42. Como era chamado o antigo automóvel conversível de duas portas? A. baratinha B. sardinha em lata C. limousine D. camarão

Outubro 2011

43. Em certos lugares do Brasil, como é conhecido o ‘jogo de palitinhos’? A. porrinha B. carroção C. tira um D. sujinho

12

44. Além de ‘dunga’ como é também chamado o ‘curinga’, nos jogos de cartas? A. sujo B. melé C. pingo D. mandão 45. No jogo de baralho chamado Truco, como são conhecidas ‘as melhores cartas’? A. tesouros B. manilhas C. riquezas D. ouros 46. Que nome se dá à cruz que tem a forma de: T ? A. de Sto.Antônio B. Vermelha C. de Malta D. de Sto.André 47. Nas cartas de jogar, como são chamadas as cartas que não são ‘figuras’? A. cartas maiores B. cartas brancas C. curingas D. lavadeiras 48. Como a ‘dama’ também é conhecida, nas cartas de jogar? A. sota B. rapariga C. zápete D. madona 49. Nas cartas do baralho comum, quantos dos 4 Reis, estão retratados de perfil? A. três B. um C. dois D. nenhum 50. Qual letra do alfabeto representa o Valete, no baralho comum? a. Q b. K c. J d. V

51. Quantos metros de comprimento tem um ‘miriâmetro’? A. 10.000 B. 5.000 C. 1.500 D. 1.000 52. Diz o Dito Popular: - Morre o homem, fica ... A. a fama B. a viúva C. a cama D. a grana 53. Martelo, Estribo e Bigorna são ossinhos situados em que parte de nosso corpo? A. dedos B. ombros C. joelhos D. ouvidos 54. Morcela, o que é? A. pulga do morcego B. eixo da manivela C. pequena morsa D. espécie de chouriço 55. Qual é o ingrediente principal para a fabricação do ‘chouriço’? A. vinha d’alho B. sangue C. torresmo D. colorau 56. A ‘menta’ tem aroma e sabor semelhantes: A. ao kiwi B. à hortelã C. à framboesa D. à cevada 57. Gibi, além de ser qualquer revista em quadrinhos, o que também é? A. guri de cor negra B. futebol americano C. ilha do Pacífico D. doce em calda 58. Na gíria, como é chamada a máquina para falsificar papel-moeda? A. gaita B. rabecão C. minerva D. guitarra 59. Em que país surgiu a televisão em cores? A. Estados Unidos B. Japão C. Itália D. França 60. Das Aventuras de Tom & Jerry, qual o nome do ratinho companheiro de Jerry? A. Espeto B. Pimentinha C. Mowgli D. Gedeão

As respostas estão na página 25. Boa sorte!


Alexandre Brandão

No Osso

xanbran@gmail.com

Um segredo para o Drummond Dia desses, uma “notícia” no site de humor G17 (http:// www.g17.com.br/noticia.php?id=301) registrava a provável ideia do governo do Rio de mandar internar as pessoas que costumam sentar-se ao lado da estátua do Drummond e conversar com ela. Nossas Lilibeth Cardozo e Ana Flores já registraram aqui nessa Folha suas conversas com o poeta agora em estado de bronze. No Facebook, muitos se confessaram igualmente íntimos do Drummond. Nunca falei com ele, mas já troquei ideia com outra estátua, a do Otto Lara Rezende, que fica na esquina da Jardim Botânico com a Pacheco Leão. Nenhum de nós, interlocutores das estátuas, é maluco. Há duas maneiras de ler a tal “matéria”. A primeira do ponto de vista da crítica ao governo, que, por omissão no texto, pode ser o municipal ou o estadual. Ambos, nesse tempo de urgência na arrumação da casa para as Olimpíadas e a Copa do Mundo, são alvo fácil dos humoristas. E os políticos, aventurados como eles só, fazem por onde, seja não cuidando do bonde de Santa Tereza — um dos cartões postais da cidade turística —, seja deixando cair sobre a vida pessoal, à medida que o particular se imbrica com o público, toda espécie de suspeita. Tendo os políticos que temos, não é de todo descabido aparecer do nada um decreto, ou mesmo uma lei, nos termos imaginados pelo G17. Pensariam assim o prefeito e/ou o governador: não cuidamos do bondinho, é verdade, mas antes amealhar meia dúzia de mortos pelo caminho do que deixar esses perigosos órfãos e viúvos de Drummond exibirem sua loucura à luz do sol na praia mais famosa do mundo. A outra leitura poupa os políticos, colocando-os na pretensa matéria apenas como a azeitona com caroço

da empada nossa de cada dia. Nesta leitura, sobressai a confiança, ou idolatria, que depositamos no Drummond. As colunistas da Folha, o bêbado de uma foto famosa, eu, algum dia, você, talvez, e outros, muitos outros já recorremos ou vamos recorrer ao colo em bronze do mineiro das terras do ferro, que está em Copacabana, como o verdadeiro anjo torto, à disposição de quem carece de consolo. Não basta abrir e ler seus livros, precisamos do contato fingido e teatral que a existência sem vida de uma estátua permite. Chacrinha, Drummond, Otto Lara Rezende, Pixinguinha, Noel Rosa, Braguinha e Ary Barroso são alguns dos que ganharam estátuas espalhadas pela cidade. Na maioria delas, os homenageados foram flagrados em momento de intimidade. Drummond sentado no banco da praia, mineiramente de costas para o mar. Otto com o cotovelo na mesa do escritório, tendo à mão um livro. Noel pedindo ao garçom que leve a ele uma média que não seja requentada. Sendo as estátuas de personagens mais ou menos nossos contemporâneos, é justo que os visitemos. Que levemos nossos segredos para compartilhar com quem compartilhou de certa maneira os seus conosco. Artistas de modo geral falam de si o tempo todo, mesmo que não se possa ligar diretamente sua vida a sua obra. Contamnos segredos de forma tão dissimulada que um poeta, dos maiores, definiu seus pares como aquele que “finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente”. E completa: “e os que leem o que escreve, na dor lida sentem bem, não as duas que ele teve, mas só a que eles não têm.” As estátuas, enfim, dão-nos à mão o que, sem elas, seria apenas sonho: o convívio amiúde com nossos ídolos. Por tudo que significam, falar com eles, mesmo em presença simbólica, não é loucura. Sendo assim, concluo que o G17 estava mesmo de pinimba com o prefeito e/ ou com o governador. Aposto, e torço por isso, que humoristas continuarão na cola deles. E não só na deles, pois os políticos andam extrapolando o contorno do razoável. Merecem, portanto.

Outubro 2011

Para Angela Bittencourt, que sugeriu a crônica.

13


capa

“Chama o Severino!” Lilibeth Cardozo

Outubro 2011

A Folha Carioca foi conversar com alguns porteiros de edifícios residenciais na cidade, guardiães de milhares de domicílios empilhados nos prédios que a modernidade inventou para a ocupação dos espaços urbanos nas grandes cidades. Conheça algumas histórias

14 Sandro, 27 anos. “Os moradores idosos são mais gentis. Os mais jovens nos discriminam”.

Os edifícios residenciais crescem na cidade e transformam espaços, antes ocupados por casas e vilas, em grandes unidades onde residem inúmeras famílias unipessoais ou extensas. Cada um dos edifícios tem uma estrutura condominial e passaram a ter empregados que zelam pela segurança, limpeza e serviços de conservação. Com variações acentuadas conforme o padrão das unidades domiciliares e localização na cidade, os empregos em edifícios residenciais têm representatividade significativa no quadro de ocupações do trabalhador carioca. Segundo o Sindicato dos Empregados em Edifícios no Município do Rio de Janeiro, criado há mais de 50 anos, só na cidade existem atualmente cerca de 100 mil trabalhadores empregados em edifícios. Informações do sindicato registram que a luta pela organização dos trabalhadores começou numa pequena garagem, onde os porteiros reunidos não tinham nenhuma estrutura e utilizavam o banheiro de um botequim próximo. Em 1954 a organização foi reconhecida como uma Entidade Sindical e deu-se o início das reinvidicações econômicas, instauração do Dissídio Coletivo e infra-estru-

Dario - 38 anos “ sonha com a casa própria”.

tura. Atualmente o sindicato tem uma sede própria em Copacabana que funciona em todo o 11º andar, além de salas em mais três andares e sub-sedes de Nova Iguaçu, Centro, Barra da Tijuca, Cabo Frio e uma sede de lazer em Mauá. Com uma mensalidade de R$ 10,00, até o ano passado 335 mil profissionais de edifícios do Estado do Rio eram sindicalizados. Prestativos e solícitos os profissionais que conversaram conosco se sentem muito cariocas. A grande maioria dos porteiros, faxineiros e zeladores são migrantes e chegaram ao Rio em busca de melhores oportunidades de emprego e salários através das grandes corrente migratórias. Walter, Severino, Antonio, João, Sandro, José, Dario, Leandro, Tomé e muitos outros deixaram suas cidadezinhas nordestinas, seus parentes e seus costumes locais sonhando com melhores condições de vida. No entanto, em todos existe a forte ligação com sua origem e o sonho acalentado de retorno. Encontramos dedicados profissionais que nos falaram de suas vidas particulares e profissionais. Porteiro de um grande edifício residencial em Ipanema, seu Walter nos atendeu com

Antonio Cavalcanti , um militante político pelos porteiros do Rio.

muita alegria e historias para contar. Vindo de Pernambuco, de Surubim, pequeno município onde era agricultor e muito pobre, nos diz que é o quinto filho de sua mãe, que teve 16 filhos, dos quais nove sobreviveram. Walter tem 48 anos, sendo que 30 vividos no Rio. Casado e pai de duas filhas, nos conta: “Quando cheguei fui logo trabalhar em edifícios. O primeiro foi em Copacabana. Depois vim para este e estou há 21 anos. Moro aqui, casei e neste local minhas meninas foram criadas. Agora vou ter mais um filho, um menino. Comecei meu namoro paquerando minha mulher que era babá no prédio em frente. Fiquei careca de tanto encostar na parede da portaria e olhar pra ela”. Walter tem muitas histórias para contar e lembra com muito humor do dia em que o síndico do prédio o surpreendeu namorando no salão de festas do prédio. Ele diz: “Naquele dia, um domingo à tarde, voltando da praia fui namorar. O síndico desceu com suas filhas e eu estava lá com ela. Os papeis se inverteram e eu disse a ele para não entrar, subir com as meninas. Ele obedeceu e eu dormi achando que seria demitido no dia seguinte. Ele compreendeu e estou aqui até hoje”.


Tomé “Quando me aposentar volto para o Piauí”.

simples, onde residem famílias de classe média e baixa os empregados sentem-se mais à vontade, mais ambientados e mais livres. Nos de classes altas existe uma forte diferenciação entre moradores e empregados e, segundo seu Antonio, falta aos profissionais um pouco de lucidez sobre seus direitos e deveres. Seu Antonio nos conta que atualmente não faz parte da diretoria do sindicato, mas continua trabalhando na classe, elucidando os profissionais quanto a seus direitos e buscando soluções para questões jurídicas, aquisição de casa própria e demais necessidades que dignificam o trabalhador. Ele nos diz: “Estou no Rio há 45 anos. Quando cheguei fui para o Exército e logo depois, há 35 anos, me tornei porteiro. Com meu trabalho e muita luta política consegui vários ganhos para nossa classe. Sempre lutei politicamente e faço reuniões onde existe oportunidade e utilizo até minha casa. Nas próximas eleições vou me candidatar novamente à presidência do Sindicato.” Sobre sua vida profissional e conquistas pessoais seu Antonio diz que tem casa própria na Gávea e seu único filho está se formando em Direito. Seu José é mais um porteiro paraibano que migrou para o Rio, há 45 anos. Aos 67 anos

Outubro 2011

Walter Alegre e divertido vai ter seu terceiro filho.

A Folha passou por Copacabana, Ipanema, Leblon, Gávea e Urca. Não encontramos nenhuma mulher com o cargo de porteira. Nos edifícios de luxo, à beira-mar, foi impossível conseguir uma entrevista. Quanto mais luxuoso o prédio, mais calados são seus empregados. Foram muitas tentativas, embora a Folha Carioca assegurasse a não identificação do prédio e não buscasse informações sobre moradores, os porteiros tinham ordens expressas para não falarem ou, acuados pelas normas condominiais, se negavam as conversar. A conclusão óbvia de tantas negativas dos porteiros e faxineiros desses prédios foi feita pelo senhor Antonio Cavalcanti, um porteiro paraibano que poderíamos chamar de “um cabra arretado”. Falante, fluente e muito consciente, seu Antonio diz se orgulhar muito de seu trabalho e de sua militância política, buscando os direitos trabalhistas e humanitários dos profissionais que trabalham nos edifícios cariocas. Seu Antonio conclui com muito conhecimento do funcionamento das convenções condominiais e sua própria percepção, que há um diferencial marcante das relações de liberdade e autonomia entre os empregados e patrões conforme as classes sociais. Nos edifícios mais

15


Outubro 2011

Seu José, 67 anos. Da Paraíba para Copacabana há 51 anos.

16

tem casa própria em Vila Isabel e nos conta com satisfação a sua história de vida. Ele nos os fala que veio para o Rio aos 16 anos e trabalhou como pedreiro e auxiliar de serviços gerais. Está há 36 anos no mesmo prédio. “É difícil criar duas filhas morando em Ipanema, mas nós as criamos como pobres. Moramos aqui por 34 anos e há dois anos compramos nossa casa. Foi uma alegria. Íamos nos mudar no final do ano, mas minha esposa não quis esperar e mudamos assim que pegamos as chaves.” Ele prossegue: “Um porteiro ganha pouco, mas fazemos muita economia porque não pagamos aluguel, água e luz. Ganhamos também muitas coisas dos moradores. Com minha aposentadoria juntei mais algum dinheiro e pude ter nossa casa, que é um sonho de toda família. Aqui me dou bem com todos, sou bem tratado e nesses anos todos já fui várias vezes à Paraíba visitar meus parentes”. Entre os mais jovens ouvimos Sandro, 27 anos de idade, porteiro em Copacabana há 11 anos. Sua história de migração não difere da maioria dos migrantes que vêm para o Rio em busca de melhores oportunidades de trabalho e maior renda. Sandro nos conta que veio sozinho e trabalhou por dois anos numa peixaria. Em seguida foi trabalhar num restaurante e lá chegou a garçom. Por indicação de um amigo conseguiu ser porteiro e mora no Itanhangá, pagando aluguel. É casado e tem um filho de sete anos. Sandro acrescenta que gosta muito do Rio de Janeiro e embora tenha vontade de rever os pais, não sonha em voltar para sua terra porque lá não existe oportunidade de trabalho. Sobre a relação com os moradores Sandro ressalta que os antigos e os mais idosos são muito gentis e carinhosos com ele. No entanto, os jovens são diferentes e discriminam os empregados e têm ares de superioridade. Ao comentar sobre seu trabalho Sandro fala sobre as tarefas de “quebragalho” que realiza no prédio e diz ter satisfação em executá-las, pois ganha um dinheiro extra, além de aprender muita coisa. Dario tem 38 anos, veio também da Paraíba há 15 anos e desde então trabalha como porteiro. Seu primeiro emprego foi num prédio no Flamengo e ele nos diz que lá mantém laços de amizade com moradores até hoje. Dario destaca um presente que ganhou de uma moradora: “Uma senhora do prédio me chamou e perguntou qual o meu sonho. Eu respondi que era ganhar na loteria. Ela marcou comigo no banco, abriu uma conta em meu nome e depositou uma quantia que pude comprar uma casa na minha cidade. Hoje minha casa vale 40 mil reais. Lá moram meus pais. Aqui no Rio ainda sonho

em ter a minha casa própria, que é o sonho de todo mundo. Já fui até ver financiamento na Caixa Econômica Federal. Já juntei dinheiro suficiente, mas não encontrei a casa que desejo. Eu não gosto de morar no prédio. Não temos liberdade, nunca é nossa casa. Quero reunir amigos, dar festas, essas coisas, mas nada pode! É muito ruim.” Tomé, 50 anos, é porteiro em Copacabana e veio do Piauí há 25 anos. Ele nos diz: “Logo que cheguei encontrei esta vaga de porteiro. Acho muito bom morar aqui. Tenho dois filhos que hoje se dividem entre ficar comigo ou com a mãe que mora em Rio das Pedras. Tenho uma casa na minha terra e quando eu me aposentar vou voltar pra lá. Falta pouco!” Para ele, atuar em contato direto com o público não é tarefa para qualquer um. “O bom de exercer esta profissão é que tenho a possibilidade de conhecer pessoas e fazer muitas amizades. Todo porteiro tem que aprender a lidar com o público de maneira individualizada”. Ele diz que durante todo esse tempo como porteiro teve apenas um conflito sério com uma moradora. Nogueira nasceu em João Pessoa, na Pa-

raíba. Migrou para o Rio há 32 anos e trabalha como porteiro em Copacabana há 15 anos. Reside na comunidade do Pavãozinho, que fica perto do seu trabalho. Como bom observador, característica desenvolvida com a profissão, muitas vezes ele sabe o estado de humor do morador apenas pelo jeito dele pisar quando passa pela portaria ou pela forma como o cumprimenta. Ele tem uma paixão, um cão da raça bulldog americano chamado Sansão Nogueira. O cachorro é alegre e amável, apesar do porte grande e de sua forma musculosa e robusta. Nogueira afirma que se dá bem com praticamente todos os moradores do condomínio e, rindo, diz que ainda não teve necessidade que trazer Sansão para ajudá-lo na portaria. Leandro Pedrosa tem 24 anos de idade e também é natural da Paraíba. Está no Rio há seis anos. Veio, como muitos conterrâneos, em busca de uma melhor condição financeira, seguindo os passos de outros quatro irmãos que já estavam na cidade. Trabalha em um prédio de 48 apartamentos em Copacabana e tem um objetivo na vida bem determinado: quer ser promotor e lutar pela construção contínua da


morador. E isso nem sempre acontece. A Folha Carioca ouviu muitas histórias e uma chamou a atenção pelo lado pitoresco. Foi contada por Carlos, um morador que pediu para falar após acompanhar uma das entrevistas. “Certa tarde ouvi alguém tocar a campainha. Era uma amiga minha, que nunca havia me visitado naquele lugar e sequer sabia em qual aparta-

Outubro 2011

cidadania e justiça social. Para isso cursa direito na faculdade Estácio de Sá e já está no terceiro período. Frequenta as aulas na parte da tarde. “Uso o dinheiro do meu trabalho na minha formação, além de juntar e investir numa vida melhor”, diz. É comum ver ele com os livros abertos na portaria durante o expediente. Neste horário o estudo não rende porque a todo o momento é

17 Nogueira - “Conheço o humor dos moradores pelo bom-dia”

interrompido por alguma solicitação. Entretanto, depois das dez da noite, inicia seu estudo de forma mais dedicada, e vai até as 2 da madrugada. “Hoje em dia é assim: ou somos capacitados ou ficamos para trás”, ensina. Leandro afirma que morar no local em que trabalha tem vantagens e desvantagens. Economiza com moradia, luz e água, não perde tempo com deslocamento para o trabalho. Considera como fator negativo o fato dos moradores o chamarem a qualquer hora. Ele diz que o procuram para resolver todo tipo de problema: trocar lâmpadas, resolver brigas entre vizinhos, consertar torneira pingando, entre outras coisas. Tem de lidar com situações no mínimo inusitadas. Até para resolver problemas pessoais ele já foi chamado. Leandro conta que muitas vezes a portaria funciona como se fosse um consultório de psicologia, pois moradores já chegam sentando e relatando seus desejos, emoções, comportamentos e conflitos nas relações com os outros e consigo mesmo. Leandro fez o curso de segurança predial oferecido pelo 23º BPM, no Leblon, mas é categórico quando afirma que o que aprendeu só dá resultado quando conta com a colaboração do próprio

mento eu morava. Ela aguardava no corredor com um embrulho nas mãos. ‘O porteiro disse o número do seu apartamento e pediu para que eu trouxesse esta encomenda para você. Segundo ele foi sua mãe quem mandou pelos Correios e parece que são roupas’, explicou ela. Meio perplexo com aquela situação - afinal, minha privacidade acabara de ser revirada -, nem fiz caso e até achei engraçado. Pensando bem, o ‘tiozinho’ da portaria até que era um sujeito bacana, meio intrometido, é verdade, que sempre me dizia ‘bom dia’, ‘boa tarde’ e ‘como vai?’. Quem importa se nos dois minutos em que esteve de conversa com minha amiga ele tenha devassado minha intimidade? E minha amiga completou: ‘O porteiro falou que eu havia dado sorte de te encontrar aqui hoje, pois em geral às terças e quintas você costuma ir para a Faculdade nesse horário, retorna quatro horas e meia depois, coloca um short e vai para a academia. Disse que quando você sai de calça comprida demora um pouco mais, mas sempre volta para jantar e depois...’”. Porteiros, guardiães da segurança dos prédios, são reconhecidos pela vizinhança, cole-

cionam amigos e histórias de muitos moradores. Além do olho vivo nas portarias, os porteiros são aqueles que socorrem a todos e sabem de tudo um pouco. Aprendem a lidar com fios dando choque, vazamentos, ralos entupidos, brigas e festas barulhentas. São chamados a qualquer hora para, correndo, consertar um cano que estoura, alguém preso no elevador, uma lâmpada que não acende, entupimentos de pias e outras muitas situações domésticas. E lá vai o porteiro carregar a sacola pesada da moradora carinhosa do 1105, chamar um taxi para a senhora do 804, ajudar a criança de bicicleta, a bonitona do 301 ou o mal-humorado do primeiro andar. Assim foram relatados dias de porteiros, zeladores e faxineiros dos prédios visitados pela Folha Carioca. Bem-humorado um deles, o Dario, ressalta que ser porteiro é ser o grande quebra-galho do edifício. Ele finaliza: “Porteiro parece até o Severino do Zorra Total”.

Leandro - Estudante de direito quer ser promotor - “portaria as vezes parece consultório de Psicologia”


Maria bel Baptista flordecamalote@yahoo.com.br

Outubro 2011

“Carta ao pai” que me ensinou “Kafka”

18

Pai, onde estás que já não escuto tua voz a me contar histórias tão antigas, vindas de outra época, de castelos longínquos, de dias e dias intermináveis em uma torre, tranças imensas atingiam o chão e traziam de presente um príncipe enfeitado de cavalo branco e diamante; onde uma relva se alongava verde e para sempre um tapete dando a mim o meu sono o meu conforto o meu descanso e a minha esperança. Pai, para onde foste que já não posso mais ter a certeza de que você me escuta ou se quer fala comigo, ou mesmo ainda assim seja o meu pai, aquele que tanto me perdoa e me julga e me toma e me abandona e não me deixa nunca ir embora, cobrindo todas as melhores ofertas dos melhores pretendentes, do mais astuto outro homem que queira e possa tomar o seu legado (esse, delegado por mim mesma). Pai, por onde anda você agora, que ignora a minha pedida de demissão da vida quando me encontro de cara frente a frente com o vazio o silêncio, a “desalegria” sem a sua companhia sempre alegre serena esbelta inteligente aventureira e extremamente sedutora. Onde andará essa fúria que sempre me jogou muito além do que eu imaginara para mim. Tanta saudade desampara a minha vida, Pai, tanta falta me faz a sua ida tão apressada, e num susto num tempo onde ainda tanta estrada percorreria de volta até você, aquele que me fez na febre de um amor imenso, acabava de perder sua menina sua filha

primeira cara metade trazida pelo sangue que corre de suas veias e de suas eternas e perversas artes de amar a vida com todas as suas desmedidas. Pai, foi eu ou foi você que me viu assim tão perdida e distante de suas companhias que já nem sei mais se me misturo nessa saudade tão imensa e o vejo daqui da terra como uma presença viva a falar comigo e te escuto velho de cabelos brancos conversar com o seu melhor amigo, este que também me tinha no colo me dando toda a atenção porque sabia que era eu tudo nessa vida nessa terra para as suas companhias. Pai, assim era pai que eu via tinha sentia imaginava e queria que era, fosse, e é; assim nunca foi diferente nossa trilha sempre contente, uma festa uma despedida, uma saída uma entrada uma investida, bola entrando no gol, carta saindo da cartola, pomba voando no firmamento, águia subindo aos céus, flor abrindo em pleno dia em pleno campo céu aberto todo ele plena flor, flor do campo. Pai, assim era Pai assim foi será sempre sua imagem sua figura sua suposta morada comigo nessa terra onde o mar toma conta de nossos sonhos e o rio faz parte inundando nossas vidas - atravessar um e sair no outro rio Paraná rio Paraguai mar de Ipanema Arpoador Dunas da Gal Arraial Guarapari Areias Monazíticas Torres Camburius, seis mil quilômetros rodados na estrada nós éramos a própria estrada linda reta que some na poeira das curvas da estrada de Santos, onde

em uma vemaguete azul você me levava e todas a minhas primas mais belas mais lindas mais ousadas meninas que eu já havia visto antes; e voltando de Guarapari entramos em Cachoeiro do Itapemirim a cidade do Rei do iêiêiê, tanto dançamos escutamos deliramos nas vitrolas imensas e lindas das salas: Roberto Carlos, o rei; e você o meu rei reinava reinou reina reinará por toda a vida enquanto eu ainda estiver indo passando voltando e estando. Onde estará você agora? Para onde estará indo agora? Passagem. Agora. Vida. Passado futuro presente nos pertencemos, invenção memória, registros nos apontam tempo dentro do tempo, quiçá existiu existirá sempre agora depois antes memória memória memória imaginação imagem-ação história Por onde andará você agora: Pai? Saudades de filha povoam o presente: a vida. Desta que te ama, Maria Barata Kafka Rego Rosa Diadorim Pessoa Pires Cardoso Branco Camilo Barros Manoel Bahiano Leonarda Lacerda de Lima. Saudades de vovó de papai de vovô do tempo. Esse que foge e te consome. Viva a vida! Eterna!

AS ESTRELAS NÃO DORMEM apresenta a FestaShow “VIVA” com Maria bel Baptista e seus violões AlfredinhoS dia 31 de outubro, às 20h, no Teatro Café Pequeno Av. Ataulfo de Paiva, 269 – Leblon “A música me ensinou a ver com os ouvidos e ouvir com o coração língua das ALMAS criadora dos UNIVERSOS” VIVA, da compositora violeira pantaneira carioca Maria bel Baptista, apresenta sua obra rica em tradições musicais e poéticas seguindo legados de artistas como Helena Meireles, Manoel de Barros, Horlando, Paco, Alfredo Karam, El Chino, Caetano, Roberto Carlos ...


Sil Montechiari

Dispa-se!

silmontechiari@gmail.com

Da Renúncia ao Encontro Será que através de uma livre entrega podemos efetuar novas escolhas e transformar nossas vidas...?

Seguindo a minha tendência em observar as pessoas, as coisas, o mundo e viver a escrita dessas coisas que não me explicam e também onde não me caibo, escolhi falar nesta edição sobre escolhas. Fui inspirada pela poesia cantada ou a canção poetisada de Viviane e pela chamada de nossa última capa da edição de setembro intitulada Soluções e Perspectivas. Interessante, como todo o nosso staff da Folha Carioca, colaboradores e amigos, que, fazem parte desta família desinteressada em faturamentos e ocupada com o prazer e o deleite da troca da palavra presa na garganta, da imagem que padece de amparo (referências...) E estive pensando sobre a obviedade da relação entre escolha e renúncia. E então, percebi nitidamente a dificuldade que temos em efetuar mudanças. Eureca! Se toda mudança pressupõe uma nova escolha e toda escolha determina uma renúncia... eu que sou uma pessoa lotada de desejos... me desequilibro de mim. É um segredo que guardo e exponho incoerentemente. Acho que não deveria sair por aí dizendo. Tenho receio que as minhas próprias palavras caiam quando eu disser (como disse a Viviane Mosé). E falou mais: ela (a Mosé) descobriu que a palavra não sabe o que diz. Que a palavra delira. E então, eu que sou também delirante numa busca que a mim não é de direito; o amor incondicional, digo também humano, carnal, visceral, latente, pungente, doente, ente, nau... uma travessia. Constante, dilacerante, riscando meu tempo como navalha na carne. “Ah! Esse imenso delírio, martírio, infindo.. chamado desejo... essa boca de afagos e beijos, essa sede incessante de amor...” alguém cantou, não sei se foi bem assim. Tudo bem, reproduzi. Vou sempre tentando adaptar, adequar, (re)formar, re(tomar)... às vezes copio mesmo. Porque eu não sou Viviane, nem Clarice, nem Marta, nem nada. Sou simplesmente Sil. Só queria ontem gritar como Viviane que é Mosé,

com a solidão. Andei como louca, como ela pensei em (ex)pulsar, (ex)purgar de mim essa danada e invejei quem teve a vida reta. Quem fez escolhas certas. A mulher que casou (com)s-ciente, que engravidou “acompanhada” porque queria criança, queria casa, queria teto, queria chão. Confesso Viviane que também não era de ter inveja, mas agora também tenho tido. Até acompanhada de febre! Te disseram que solidão é sina? Me explicaram que é renúncia. E renúncia como constatação de perda, dói física e emocionalmente. Como perda suscita medos e temores, inseguranças e dúvidas. Com o tempo, podem surgir mágoas, ressentimentos, desejos de compensação, cobranças e até vinganças. Mas sozinha descobri que posso renunciar ao doce (pelo menos à repetir a sobremesa), posso abrir mão de minhas duas castanhas no café da manhã, a pipoca no cinema(a sós ou não), posso deixar o segundo prato para o jantar, posso respirar, focar, ponderar e moderar.

No caminho que me leva ao tão sonhado encontro interior, a almejada paz, não tenho mais tempo para lamúrias e lamentações. Não existe mais espaço para meus próprios desejos desenfreados e ininterruptos. Mas ainda assim, ah Viviane!, tenho medo de perder o estado de vácuo. Não, Mosé. De vazio - plenitude! Você disse que é gente simples. Gente de espírito santo. Que você vem do espírito santo. Que você é do espírito santo. E sabe que santo é um espírito que opera milagres. Sobre si mesmo. Eu me identifico com a Viviane que é Mosé. Só que quem me disse tudo sobre a minha necessidade de real contentamento, de me (se) parar e ir ao encontro de um alvo, onde a porta da renúncia é um caminho estreito e desértico, foi um Espírito que é Santo mas que se escreve com letra maiúscula.

Acho que ter Deus é uma coisa maravilhosa

Outubro 2011

Um brinde ao verdadeiro contentamento!

19


Espaço Oswaldo Miranda oswaldomiranda@uol.com.br

20

Chuí é um riozinho no sul do Rio Grande do Sul e do Brasil, que corre parte na fronteira com o Uruguai, desaguando no Oceano Atlântico. Outro riozinho, o Oiapoque, está no norte, no Amapá, fronteira com a Guiana. Acaba também no Atlântico. Por serem pontos extremos do país, deram origem à velha e tão comum expressão popular “do Oiapoque ao Chuí”, usada a torto e a direito por aí... Só que o IBGE descobriu que não estava certo e corrigiu. O ponto mais extremo ao norte do nosso país é o Monte Caburaí, desde 1998, quando a nova foi anunciada pelo William Bonner no Jornal Nacional. Mas parece que ninguém tomou conhecimento, pois a todo momento a gente ouve alguém dizer o batido “do Oiapoque ao Chuí”, já que a velha expressão ainda continua na boca do povo e no texto dos jornalistas, como Jorge Bastos Moreno, aquele do “Nhenhenhén”, do jornal O Globo, certamente sempre embevecido com a Renata Vasconcelos; a Mariana

Ximenes, a Camila Morgado, a Virginia Cavendish e a revelação Adriana Biroli, gente muito mais importante que os oiapoques e chuís da vida... Ou, ainda o nosso adorável colunista do JB, Carlos Eduardo Novaes, escrevendo antes da estreia do Brasil na Copa... “do Oiapoque ao Chuí não há quem pense em uma vitória brasileira por menos de três gols de diferença...”. Tem mais: nosso querido Xexéo dizendo que música de Adoniran Barbosa é tocado no rádio do Oiapoque ao Chui...

Por fim, o que queria dizer, com todo respeito, é que nem sempre o que o Jornal Nacional dá, repercute, nem mesmo do Oiapoque ao Caburaí. Até dentro da própria Globo, já que a dupla Patrícia Poeta - Zeca Camargo,perequetetes da vida, anunciavam: “do Oiapoque ao Japão, dos Estados Unidos ao Chuí... a gente se liga em você!” É, lBGE, Caburaí, se não pegou até agora, não pega mais.. Então, Chuí para vocês!

Patrícia e Zeca. Fantástico. Assim a gente não se liga nunca...

Deu na

mídia

Outubro 2011

Do Oiapoque ao Chuí, só que...

O ITABORAI: “São Gonçalo afunda em escândalos.” Não o santo, claro, mas o município dos Panisset. // ESTADÃO: “Zico dirigindo a seleção de Iraque.” Ibrahim diria: bomba, bomba // O GLOBO: “Cidade da Música: César Maia continua como réu.” Vai ser duro sair da pauta... // MÍDIA GERAL: “Dilma: Não quero usar a palavra faxina para me referir as irregularidades nos ministérios...” Que tal assepsia, profilaxia, presidente? // MÍDIA GERAL: Ministro Mário Negromonte, das Cidades, disse que vai virar sangue.” Que bom, os bancos estão carentes de doadores. // CORRIERE DELLA SERA: Berlusconi, Itália: “Paese de merda! Carcamano”. // CARTA CAPITAL: Textos de vários notáveis, inclusive Dilma. “Aécio: Independência. Defendo um legislativo menos subserviente.” O próximo, renovado de alto a baixo, quem sabe? // PLAYBOY - Sandy: “É possível ter prazer anal.” Ao Metro ela disse que cresceu, está com 20 anos, e sabe de sua vida, mas que gostaria de ter evitado a polêmica. Disse e disse. // MÍDIA GERAL: “Túlio, 31 clubes, 962 gols, vem pelo bonsucesso na Série A e quer chegar aos mil, como Pelé e Romário.” Torço, ele merece. Me parece gente boa // IMPRENSA, RÁDIO, TELEVISÃO, INTERNET: “Salário de Sarney chega a 62 mil.” Fora os... por fora. // TRIBUNA DE PETRÓPOLIS: “Pezão: sem obras vai haver mais mortes na Serra.” O vice pediu 100 milhões à Dilma. Sim, mas que a grana não continue a deslizar como as encostas. // METRO: “Carioca paga até 200% a mais por compra errada.” Testei: teclado de computador 30 reais no Leblon, 9 reais em São João de Meriti // METRO: “Brasil vendia armas para Kadafi.” Um freguês a menos. // METRO: “Chapeuzinho Vermelho se une ao Lobo Mau, numa agência de espionagem.” É para descobrir o paradeiro de João e Maria, afinal, melhor do que ser comida...


Cabides... Tiro do jornal O Globo: Lula contratou três vezes mais servidores que FH. Nos oito anos do petista na presidência , 2003-2010, foram 153.334 contratações. Na gestão do tucano, 1995-2002, foram 51.613. Com Lula, o número de servidores civis da ativa cresceu de 534.392 para 630.542, variação para mais de 18%. Especialistas dizem que a coisa não tem nada a ver com meio de compensar as grandes corridas de aposentadorias e que contratar funcionários não significa dar melhor qualidade aos serviços. O vendedor de cabides, ambulante que dá duro no batente, concordou em posar apenas para que meu texto fosse ilustrado. Adiantando que não tem nada a ver com os cabides oficiais da turma do PT, partido dito... do trabalhador.

Fina Estampa e uma abusiva referência Gazeta do Povo, Correio Popular... tantos poderiam ser os títulos para o jornal que a atriz Suzana Pires, no papel da repórter Marcela, usou para, com chantagem, obter emprego: Diário de Notícias. Trata-se de um dos mais importantes jornais brasileiros, já desaparecido. Matutino de alto conceito, com diagramação moderna para seu tempo, valoroso corpo redacional, pontificava dentre outros órgãos da nossa imprensa, como Correio da Manhã, A Noite, O Globo, Jornal do Commercio, só para citar alguns, de cabeça. Tive dois estimados colegas no Diário de Notícias, dirigido pelo respeitado jornalista Orlando Dantas. Eram Magdala da Gama Oliveira, que assinava Mag nos comentários sobre rádio, e Edigar de Alencar, o Dig, especialista em música popular brasileira, a ponto de editar dois volumes sobre a música de carnaval. Falhou a produção da novela com esse inoportuno Diário de Notícias, gloriosa tradição na historia do nosso jornalismo. Procurassem a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, antes de colocar esse fiasco no texto de Fina Estampa um Diário de Notícias que contraria o que representou na vida do Rio o saudoso diário de Orlando Dantas, que deve estar dando voltas na sepultura ao ver sua respeitada folha servindo para a prática de chamada imprensa marrom (felizmente já acabada).

Dia do colunista Ancelmo publicou um dia: “Rosinha sancionou dia 23 último a Lei no. 4.406, da deputada Waldeth Brasiel, PL, criando o Dia do Colunista, que passa a ser comemorado em 1º de outubro”. Ou seja, não é nada, não é nada... não é nada. Mas, de minha parte, não custa cumprimentá -los, carinhosamente, a começar pelos aqui da casa, mesmo não sendo nada, além da oportunidade de praticar um ato que me diz qualquer coisa ao coração.

Outubro 2011

Metrô – Zorra Total Dilmaquinista: - Atenção senhores passageiros: próxima estação CPMF. Boa viagem!

21


perfil

Gilda Sobral Pinto Uma visão sobre Educação Maria Luiza de Andrade

Outubro 2011

Psicanalista, apaixonada por Educação, Gilda Sobral Pinto graduou-se em Psicologia pela PUCRio. Fez sua formação psicanalítica na SPCRJ, Sociedade de Psicanálise da Cidade do Rio de Janeiro. Sua prática de consultório já soma 41 anos. Como psicóloga, trabalhou durante 17 anos em escolas particulares e há 20 anos se dedica à Orientação Vocacional psicanalítica. De sua longa experiência com crianças e adolescentes, ela nos relata sua visão sobre o rumo da Educação no Brasil.

22

FOLHA CARIOCA – Existe democracia, igualdade para todos, na Educação? GILDA SOBRAL PINTO – Buscar igualdades é uma atitude perigosa e utópica. Mesmo dentro de um regime democrático sério é impossível as oportunidades serem as mesmas para todos. Simplesmente porque dentro de uma mesma sociedade as pessoas se agrupam de formas diferentes, constituindo-se em culturas diferentes, no sentido clássico de hábitos e costumes. No Brasil, que eu saiba, nenhuma escola, seja pública ou privada, barra a entrada de um aluno que deseje, realmente, nela ingressar. Como igualar a escola pública à escola privada? Vale a pergunta: igualar em que? A função da escola não é ser pública ou privada. É oferecer condições de trabalho direcionado para o desenvolvimento global do aluno. Para não ficar uma frase de efeito, desenvolvimento global significa cuidar do aluno para que ele possa transformar seu potencial inato em habilidades, aumentando sua capacidade de interagir no campo intelectual, afetivo e social. Isto se consegue através de um programa de ensino que leve em consideração a motivação e o estímulo à criatividade. É preciso que os pedagogos e professores tenham conhecimento profundo da finalidade do ensino de cada matéria curricular. Só como exemplo: a Geografia tem como finalidade situar o aluno na noção de espaço, como História vai lidar com a noção de tempo. Geografia e História interagem para que o aluno se perceba num processo que se inicia muito antes do seu aparecimento na História da Humanidade e se estende para um futuro infinito. De posse desta compreensão a dinâmica de aula vai fugir do processo estático informativo transformando o aluno num caminhante por terras desconhecidas através do tempo. Como vê a decisão de acabar com o vestibular e substituí-lo pelo Enem, com parte das vagas reservadas para alunos de escolas públicas?

O vestibular, da forma como tem sido aplicado, desencadeou um processo perverso no ensino fundamental e médio. As escolas - há ainda algumas exceções - em função de disputa de mercado de alunos, transformaram-se em cursinhos preparatórios para um concurso cujas provas não medem o real saber do aluno, muito menos se ele está apto a cursar determinada faculdade. O ensino formador foi substituído por uma carga informativa que sobrecarrega o aluno e o tensiona desnecessariamente, com a única finalidade de,não só passar no vestibular como ser muito bem classificado para promover a escola de origem. Uma verdadeira aberração. Quanto ao Enem, não vejo muita diferença em relação ao vestibular. Por alguma razão, que ainda ignoro, ele se mostra menos ameaçador aos alunos do que a loucura do vestibular. Qual deveria ser o critério de inclusão para ter acesso à Universidade? Do ponto de vista genérico, caso as escolas cumprissem com a sua finalidade, o próprio currículo escolar do aluno já seria um indicativo de possibilidade de cursar um ensino superior. Haveria provas específicas para cada carreira, pois a base para cursar uma faculdade de Medicina tem exigências diferentes da de uma faculdade de Engenharia ou Psicologia ou Fisioterapia. Isto se faz em cursos ligados às artes. O aluno faz provas de aptidão. Do ponto de vista particular, no caso do Brasil, a desorientação é de tal ordem, que igualdade de oportunidades significa que todos devem entrar para a Universidade. O resultado é um número assustador de candidatos para um número reduzido de vagas. Daí as provas loucas do vestibular que passam a ser feitas para eliminar candidatos e não para selecionar de acordo com o desejo e as aptidões de cada um. Aluno “admitido por cota”, sem o devido preparo, não nivela o ensino por baixo, desestimulando os bem preparados e aumentando a evasão da elite universitária para Universidades estrangeiras? Admitir por cotas é uma postura demagógica e o maior incentivo à descriminação racial, social e intelec-

A psicanalista aponta a fuga da realidade e o mergulho no prazer a curto prazo como caminho para o envolvimento do jovem com as drogas

tual. É o reconhecimento da falência em todos os níveis, fundamental, médio e superior. Esse falso incentivo à carreira universitária tem como resultado a formação de maus profissionais, melhor dizendo a de formação profissional. Grande parte dos que são admitidos nesses vestibulares perversos largam o curso a meio caminho, pois esta não era sua vocação. Que valores regem a sociedade jovem no momento? Um articulista, cujo nome ingratamente esqueci, escreveu no JB que nos anos 50 o ideal era ser. Nos anos 80 era ter e na primeira década do século 21 era parecer. Estou assustada, pois me parece que a sociedade atual – frisando sempre a presença de exceções – está sem valores. Não é ser, nem ter, nem parecer. A vida é hoje, o prazer é agora, o futuro não existe. Um vazio de referências, de aspirações, preenchido pela busca de sensações fortes, imediatas, inconsequentes. Aversão ao esforço e ao compromisso. É urgente que nós, profissionais da educação e da saúde, busquemos as causas desse desinteresse geral que, a meu ver, responde pelo crescente envolvimento de jovens com substâncias químicas e “naturais” que os transportam para um mundo ilusório bastante distante da realidade. Talvez eu possa dizer que o ideal desta segunda década do século 21 é a ilusão – a fuga da realidade e o mergulho no prazer a curto prazo. A vocação não conta mais na hora de escolher uma profissão? Infelizmente conta cada vez menos. No meu trabalho de Orientação Vocacional já tive problemas sérios com pais de orientandos por terem escolhido Astronomia ou História. São profissões que não dão dinheiro, dizem os pais. E, às vezes, contra a decisão do jovem, o obrigam a fazer Engenharia ou Economia, sem falar no campeão de escolhas por parte dos pais – Direito. Argumento: o curso é fácil e tem sempre emprego.


Um dos temas mais controvertidos de nossa atualidade médica é como lidar com pacientes graves, sem possibilidades de reversão do processo de morte iminente. Leis e preceitos religiosos proíbem que se abrevie a vida. Para uns isso é entendido como uma imposição de se usar de todos os métodos disponíveis para prolongar a vida do paciente, a qualquer custo. Outros, que se solidarizam com o sofrimento alheio acima do simples prolongamento da vida, defendem a Eutanásia, ou seja, a ação do médico no sentido de abreviar a vida de um ser humano que padece. É deste confronto que apareceram outras denominações, todas com a mesma etimologia derivada do que, para os gregos, era o encontro com Tânatos* (deusa da morte). Vamos discorrer brevemente sobre elas. Distanásia* é um termo recente, criado para se definir a prática pela qual se continua, através de meios artificiais, a manter a vida de um enfermo sem possibilidades de cura. Vemos atualmente um endeusamento da tecnologia e da ciência, alçando-as a situações quase divinas lado a lado com a desfiguração do ser humano, considerado apenas em sua vida biológica como se fosse só mais um animal. Com isto, tenta-se justificar a manutenção da vida enquanto bate o coração, independentemente da tortura a que o paciente possa estar sendo submetido, das dores de seus familiares e amigos, dos custos desnecessários que estão tendo aqueles que pagam a conta - familiares, empresa, operadoras de saúde ou o próprio governo. O que não se leva em consideração é que a prática da distanásia se dá em função de uma abdicação tanto do raciocínio clínico quanto do bom senso. A face oposta da moeda é o que há muito se denomina Eutanásia*, que consiste em se abreviar a vida de um paciente sem qualquer chance de recuperação e, visivelmente, em seus momentos finais. Nesses casos, o médico, só ou em conjunto com familiares ou responsáveis, toma medidas ativas para que se encerre o processo vital. A eutanásia, em que pese seu cunho freqüentemente humanitário, é condenada por quase todas as religiões e pelas leis de quase todos os países. Poderia dizer nas entrelinhas: faz sentido, pois ela dá ao médico um, digamos assim, poder divino aliado a um poder secular. Na verdade, a sua condenação visa não o caso em si, isoladamente, mas a possibilidade do crescimento de sua aplicação de maneira crescentemente acrítica e com vieses específicos, não condizentes com a ética médica e com o princípio da não maleficência. A meio caminho entre distanásia e eutanásia encontra-se o que hoje se chama de Ortotanásia*. Esta conduta é definida como a morte natural, digna, correta, sem interferência da ciência ou da tecnologia, sem provocar danos ou sofrimentos inúteis. Ela dá à atividade

médica um sentido mais humano; ou seja, entende as condições do paciente, da doença que o acomete. Além disso, estima a evolução da mesma, considera o prognóstico e aceita que a natureza tem o seu curso soberano, no qual as intervenções humanas e tecnológicas, por melhor que sejam as intenções e por mais modernos que sejam medicamentos e aparelhos, travarão uma luta inglória, para todas as partes, com um destino já anunciado. Na cultura judaica, Abraão, seguindo um mandamento de Deus, não hesitou em promover a morte de seu próprio filho, só não o fazendo em função de nova intervenção divina. Na cultura cristã, Jesus teria todos os meios para evitar a sua morte, mas não o fez, entregando-se ao destino que lhe estava reservado. Ivan Illich, um pensador que abrangia em sua história ambas as culturas, fez considerações sobre o tema em um de seus livros, “A Expropriação da Saúde – Nêmesis da Medicina”. Gostaria aqui de citar algumas delas: “Quando os cuidados médicos e a cura tornam-se monopólios de organizações ou de máquinas, a terapêutica transforma-se inevitavelmente em ritual macabro”. “A sede de ambrosia (‘imortalidade’) é hoje experimentada pelo comum dos mortais”. “A medicalização da sociedade pôs fim à era da morte natural. O homem ocidental perdeu o direito de presidir o ato de morrer”. “A grande maioria dos diagnósticos e intervenções terapêuticas estatisticamente mais úteis do que prejudiciais aos pacientes tem duas características comuns: é pouco dispendiosa e pode ser aplicada facilmente de forma autônoma no seio da célula familiar”. *Obs.: A cultura médica ocidental, nascida na Grécia Antiga, traz em seus termos e origens a nomenclatura grega. Assim, Eutanásia vem “bom”, “morte”. Os dois outros termos, inexistentes naquele tempo, substituíram o prefixo eu (“bom”) por dis (“difícil”) e orto (“correto”)

Luiz Roberto Londres Diretor-presidente da Clínica São Vicente

EMERGÊNCIA

GERAL

Tel.:2529-4505

Tel.:2529-4422

Outubro 2011

A saúde em debate

23


Tamas

Parado numa esquina do mundo, mudo, vejo infâncias perdidas, faces doídas, belezas corrompidas. Parado numa esquina do mundo, cego, ouço sons desesperados, gritos apavorados, assuntos desencontrados. Parado numa esquina do mundo, surdo, procuro em mim um grito que se perdeu há muito tempo.

“Cresceu em mim uma agonia assim de achar que o fim nem sempre acaba.” “Um cabeça-de-vento com pé na tábua e sebo nas canelas entrou na contramão, meteu o nariz onde não foi chamado e quebrou a cara.” “Chuva de canivetes liberta amarras invisíveis.” “O sol não é dourado. O ouro é que é ensolarado.” “Veja o mundo com novos olhos. Use colírio multicolorido.” “Se o motor de arranque não arranca, arranque o motor de arranque.” “Caminhos podem ser oblíquos, paralelos, transversais. Ou únicos, como estrada no deserto.”

Pensamentos Pró-fundos

24

Instante Fugaz

Outubro 2011

2004.tamas@openlink.com.br

Haron Gamal hjgamal@ig.com.br

Guerra aérea e literatura Em Guerra aérea e literatura, W. G. Sebald, ao contrário do que estamos acostumados a ler em seus livros – que na maioria das vezes tratam de memória e ficção –, apresenta dois ensaios, tendo um deles o mesmo nome do livro acrescido do subtítulo: “Conferências de Zurique”; o outro, “O escritor Alfred Andersch”, reprodução de um artigo que publicou nos anos 1990 na revista Lettre, em que faz a revisão da vida e obra deste autor alemão. Em ambos os textos, Sebald, que adotou a Inglaterra para viver e trabalhar até à sua trágica morte em 2001, questiona o exercício da literatura em períodos-limite, como durante a Segunda Guerra Mundial. O terreno explosivo e de escombros que ele vai trilhar pode ser pincelado com suas próprias palavras: “A queixa sempre repetida de que até hoje não foi escrita a grande epopeia alemã da guerra e do pós-guerra tem algo a ver com esse fracasso (de certo modo inteiramente compreensível) diante da violência que representa a absoluta contingência gerada por nossas cabeças obsessivamente metódicas.” Em outras palavras: para a razão, torna-se incompreensível e indizível a indústria da guerra e da destruição. Aqui, sob minha análise, arriscaria insinuar que essa incapacidade de absorver o real se aproxima da posição lacaniana, segundo a qual este mesmo real só pode ser captado e expresso pelo simbólico, sempre temerário e vacilante, muitas vezes incapaz de traduzir a experiência traumática, mostrando-se, consequentemente, em colapso. No primeiro ensaio, Sebald questiona o silêncio dos escritores alemães tanto durante a guerra quanto no pós-guerra, tornando a referência ao período em que as cidades da Alemanha foram quase totalmente arrasadas verdadeiro tabu. Entre aqueles que ficaram no país, como Walter Von Molo e Frank Thiess, diz-se que “se abstiveram de qualquer comentário a respeito do processo e do resultado da destruição porque temiam

cair em desprestígio junto às autoridades de ocupação no caso de uma descrição próxima da realidade.” O escritor constata que, mesmo finda a guerra, com a chegada de escritores que estavam no exterior ou nas frentes de batalha, o silêncio persistiu, tendo sido poucos os que decidiram escrever sobre o período, e mesmo assim quando o fizeram foi com uma escrita bastante pálida. Até mesmo Heinrich Böll, que teve como programa a Literatura dos Escombros, “mostra-se sintonizado com a amnésia individual e coletiva, e guiado por processos pré-conscientes de autocensura.” Seu livro O anjo silencioso, que dá uma idéia aproximada da dimensão do horror, apesar de pronto na década de 1940 só foi publicado em 1992. Além de Böll, apenas poucos autores trataram do assunto, como Hermann Kasack, Hans Erich Nossack, Arno Schmidt e Peter de Mendelssohn. Sebald analisa, em detalhes, o que cada um escreveu. No segundo ensaio, “O escritor Alfred Andersch”, o autor faz um balanço da obra e, sobretudo, da imagem que Andersch tentou criar durante e após o nazismo. Chamado ironicamente de littérateur” por Sebald, em momento algum o ensaísta o poupa, mostrando não apenas os pontos falhos de sua obra, mas também – citando estudiosos contemporâneos ao escritor em questão – a falsificação que ele efetivou para obter benefícios durante o período do nacional socialismo e depois a modificação que tentou empreender em sua biografia para se mostrar vítima do nazismo. Embora o autor de Emigrantes e Austerlitz enumere as baixas provocadas pela guerra aérea em território alemão, cite políticos e estrategistas aliados que discutiram a necessidade ou não de empreitada de tal envergadura (apenas a Royal Air Force lançou 1 milhão de toneladas de bombas sobre a zona inimiga; 131 cidades foram


Gisela Gold giselagold@terra.com.br

atingidas, sendo que algumas foram totalmente arrasadas; a guerra aérea deixou 600 mil vítimas civis na Alemanha; 3,5 milhões de residências foram destruídas; no final da guerra havia 7,5 milhões de desabrigados), o escritor não apela para o sentimento de autocomiseração nem coloca a nação alemã como vítima, inclusive afirmando que um país que promovera tamanhas atrocidades, com os campos de extermínio, não estava em posição de reclamar nem exigir qualquer reparação após o conflito. A questão principal, como já mencionei, é a incapacidade de os escritores discutirem, principalmente no universo da ficção, a Alemanha durante a guerra e no período conhecido como de reconstrução. Como conclusão, podemos dizer que as colocações de Sebald nos levam a especular sobre pelo menos dois pontos. O primeiro deles é a possibilidade de a literatura (e por extensão qualquer tipo arte) se desarticular como linguagem em períodos altamente traumáticos. O segundo, caso o anterior não seja verdadeiro, é o seguinte: se poesia, ficção, teatro e crítica não possuem o poder de convencer o ser humano a se manter afastado das guerras, poderiam ter como objetivo promover um real inventário das perdas, impedindo que as bombas, além de destruírem fisicamente as cidades, levassem também de rodo a tradição e a memória. Guerra aérea e literatura W.G.Sebald Companhia das Letras

O relógio da Avenida Rio Branco marcava cinco e três. Jonas jogava tinta vermelha na parede enquanto Estela manchava as cobertas de sangue do ventre ao lembrar o amor que fazia com Joel, que prefere camisa cor laranja. Iara recolhe laranjas do pomar e Zico lembra que não se coloca preto nos enterros no Japão. Gilda cisma que brigadeiro branco é muito melhor que o tradicional. Melvio atende o telefone quando Tim Maia sussurra no rádio “Azul da cor do mar”. Tina procura ver a vida mais cor de rosa. Senio é simpatizante do Par-

tido Verde. Clara não quer chamar a filha de Vitória, prefere “Violeta”. Marcos está na página quarenta e três daquele livro sobre os anos de chumbo. Miranda arrisca um tubinho gelo para o cocktail de lançamento de Acácio que resolve brindar com Anis. Horácio esquece que não são onze e quinze. Ainda é horário de verão. E o dia ainda não mudou de cor. Nem Mirtes que não larga o bege. Minha neurose não tem cor. Mas eu a sei de cor. Preciso de um tom novo. Qualquer coisa diferente de você.

25

classificados VENDO QUADRO

ALOE VERA - BABOSA NUTRITIVA E MEDICINAL Poder regenerador dos tecidos da pele e das células em geral, cicatrizante, antinflamatória, ação antibiótica e muito mais. Obtenha informações para adquirir produtos feito com o puro gel da Aloe Vera.

Óleo em tela 60 x 45 cm. Pintor QUAGLIA “Cangaceiro” Particular para particular. Aceito ofertas.

Tratar: 9456-6718

Marlei Regina Tel.: 2579-1266 PSICOTERAPIA Abordagem corporal, base analítica. Depressão/ansiedade, insônia, compulsões, síndrome do pânico, fobias, doenças psicossomáticas... Propiciando vitalidade, bem-estar e desenvolvendo confiança, auto-estima, criatividade, auto-realizações.

CABO FRIO Alugo por temporada casa em Cabo Frio. Ambientes amplos e arejados. Salão, três quartos, dois banheiros, churraqueira. Máximo de 8 pessoas. Bairro Palmeiras, a 5 minutos de carro do Centro e das principais praias da cidade.

Tel: 2549-7251

Ana Maria – Psicóloga CRP 05-5977 Tel.: 2259-6788 | 9952-9840 Próxima a PUC

passatempo

Outubro 2011

Cinco e três

respostas

41-B 42-A 43-A 44-B 45-B 46-A 47-B 48-A 49-B 50-C 51-A 52-A 53-D 54-D 55-B 56-B 57-A 58-D 59-A 60-A


GÁVEA

Banca do Carlos Rua Arthur Araripe, 1 Tel.: 9463-0889

Menininha Rua José Roberto Macedo Soares, 5 loja C Tel.:3287-7500

LEBLON Banca Scala Rua Ataulfo de Paiva, 80 Tel.: 2294-3797

Banca Encontro dos Amigos Rua Carlos Goes, 263 Tel.: 2239-9432

Banca Feliz do Rio Rua Arthur Araripe, 110 Tel.: 9481-3147

Da Casa da Tata R. Prof. Manuel Ferreira,89 Tel.: 2511-0947

Banca Café Pequeno Rua Ataulfo de Paiva, 285

Banca João Borges Clínica São Vicente

Delírio Tropical Rua Mq. São Vicente, 68

Banca Mele Rua Ataulfo de Paiva, 386 Tel.: 2259-9677

Banca Luísa Rua Cupertino Durão, 84 Tel.: 2239-9051

Banca MSV Rua Mq. de São Vicente, 30 Tel.: 2179-7896

Chez Anne Shopping da Gávea 1º piso Tel: 2294-0298

Banca Novello Rua Ataulfo de Paiva, 528 Tel.: 2294-4273

Banca New Life R. Mq. de São Vicente,140 Tel.: 2239-8998

Super Burguer R. Mq.de São Vicente, 23

Banca Rua Ataulfo de Paiva, 645 Tel.: 2259-0818

Banca Alto da Gávea R. Mq. de São Vicente, 232 Tel.: 3683-5109

Igreja N. S. da Conceição R. Mq.de São Vicente, 19 Tel.: 2274-5448

Banca Real Rua Ataulfo de Paiva, 802 Tel.: 2259-4326

Banca dos Famosos R. Mq. de São Vicente, 429 Tel.: 2540-7991 Banca Speranza Rua dos Oitis esq. Rua José Macedo Soares Banca Speranza Praça Santos Dumont, 140 Tel.: 2530-5856 Banca da Gávea R. Prof. Manuel Ferreira,89 Tel.: 2294-2525 Banca Dindim da Gávea Av. Rodrigo Otávio, 269 Tel.: 2512-8007 Banca da Bibi Shopping da Gávea 1º piso Tel.: 2540-5500 Banca Planetário Av. Vice Gov. Rubens Berardo Tel.: 9601-3565 Banca Pinnola Rua Padre Leonel Franca, S/N Tel.: 2274-4492 Galpão das Artes Urbanas Hélio G.Pellegrino Av. Padre Leonel Franca, s/nº - em frente ao Planetário Tel: 3874-5148 Restaurante Villa 90 Rua Mq. de São Vicente, 90 Tel.: 2259-8695

Chaveiro Pedro e Cátia R. Mq. de São Vicente, 429 Tels.: 2259-8266 15ª DP - Gávea R. Major Rubens Vaz, 170 Tel.: 2332-2912 J. BOTÂNICO Bibi Sucos Rua Jardim Botânico, 632 Tel.: 3874-0051 Le pain du lapin Rua Maria Angélica, 197 tel: 2527-1503 Armazém Agrião Rua Jardim Botânico, 67 loja H tel: 2286-5383 Carlota Portella Rua Jardim Botânico, 119 tel: 2539-0694 Supermercado Crismar Rua Jardim Botânico, 178 tel: 2527-2727 Posto Ypiranga Rua Jardim Botânico, 140 tel:2540-1470 HUMAITÁ Banca do Alexandre R.Humaitá esq. R.Cesário Alvim Tel.: 2527-1156

Banca Top Rua Ataulfo de Paiva, 900 esq. Rua General Urquisa Tel: 2239-1874 Banca do Luigi Rua Ataulfo de Paiva, 1160 Tel.: 2239-1530 Banca Piauí Rua Ataulfo de Paiva, 1273 Tel.: 2511-5822 Banca Beija-Flor Rua Ataulfo de Paiva, 1314 Tel.: 2511-5085 Banca Lorena R. Alm.Guilhem, 215 Tel.: 2512-0238 Banca Cidade do Leblon Rua Alm. Pereira Guimarães, 65 Tel.: 8151-2019 Banca BB Manoel Rua Aristides Espínola Esq.R. Ataulfo de Paiva Tel.: 2540-0569 Banca do Leblon Av. Afrânio M. Franco, 51 Tel.: 2540-6463 Banca do Ismael Rua Bartolomeu Mitre, 144 Tel: 3875-6872 Banca Rua Carlos Goes, 130 Tel.: 9369-7671

Banca HM Rua Dias Ferreira, 154 Tel.: 2512-2555 Banca do Carlinhos Rua Dias Ferreira, 521 Tel.: 2529-2007 Banca Del Sol Rua Dias Ferreira, 617 Tel.: 2274-8394 Banca Fadel Fadel Rua Fadel Fadel, 200 Tel.: 2540-0724 Banca Quental Rua Gen. Urquisa, 71 B Tel.: 2540-8825 Banca do Vavá Rua Gen. Artigas, 114 Tel.: 9256-9509 Banca do Mário Rua Gen. Artigas, 325 Tel.: 2274-9446 Banca Canto Livre Rua Gen. Artigas s/n Tel.: 2259-2845 Banca da Vilma Rua Humberto de Campos Esq. Rua Gen. Urquisa Tel.: 2239-7876

Banca Miguel Couto Rua Bartolomeu Mitre, 1082 Tel.: 9729-0657 Banca Palavras e Pontos Rua Cupertino Durão, 219 Tel.: 2274-6996 Banca Rua Humberto de Campos, 827 Tel.: 9171-9155 Banca da Emília Rua Adalberto Ferreira, 18 Tel.: 2294-9568 Banca Rua Ataulfo de Paiva com Bartolomeu Mitre Banca Novo Leblon Rua Ataulfo de Paiva, 209 Tel.: 2274-8497 Banca Rua Humberto de Campos, 338 Tel.: 2274-8497 Banca Rua Alm. Pereira Guimarães, 65 Banca J Leblon Rua Ataulfo de Paiva, 50 Tel.: 2512-3566 Banca Av. Afrânio Melo Franco, 353 Tel.: 3204-2166

Banca Rua Prof. Saboia Ribeiro, 47 Banca Canto das Letras Tel.: 2294-9892 Rua Jerônimo Monteiro, 3010 Banca Largo da Meesq. Av. Gen. San Martin mória Rua Dias Ferreira, 679 Banca Tel: 9737-9996 Rua José Linhares, 85 Tel.: 3875-6759 Colher de Pau Rua Rita Ludolf, 90 Banca Tel.: 2274-8295 Rua José Linhares, 245 Tel.: 2294-3130 Garapa Doida R. Carlos Góis, 234 - lj F Banca Guilhermina Tel.: 2274-8186 R. Rainha Guilhermina, 60 Tel.: 9273-3790 Banca do Augusto Rua Humberto de Campos, Banca Rainha 856 R. Rainha Guilhermina,155 Tel: 3681-2379 Tel.: 9394-6352 Sapataria Sola Forte Banca Rua Humberto de Campos, Rua Venâncio Flores, 255 827/E Tel.: 3204-1595 Tel.: 2274-1145

Copiadora Digital 310 Loteria Esportiva Av. Afrânio de Melo Franco Loteria Esportiva Av. Ataulfo de Paiva Vitrine do Leblon Av. Ataulfo de Paiva, 1079 Café com Letras Rua Bartolomeu Mitre, 297 Café Hum Leblon Rua Gen. Venâncio Flores, 300

Tel.: 2512-3714 Leblon Flat Service Rua Almirante Guilhem, 332 Botanic Vídeo Rua Dias Ferreira, 247 - Lj B Entreletras Shopping Leblon nível A 3 Proforma Academia Rua Dias Ferreira, 33 Tel: 2540-7999 BOTAFOGO Banca Bob’s Rua Real Grandeza, 139 Tel.:2286-4186 FLAMENGO República Animal Pet-shop Rua Marquês de Abrantes, 178 loja b Tel: 2551-3491 / 2552-4755 URCA Bar e restaurante Urca Rua Cândido Gafrée, 205 Próximo à entrada do Forte São João Julíus Brasserie Av. Portugal, 986 Tel.: 3518-7117 Banca do Ernesto Banca da Teca Banca da Deusa Banca do EPV CENTRO Faculdade de São Bento do Rio de Janeiro Rua Dom Gerardo, 42 6° andar Tel.: 2206-8281 – 22068200




Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.