Política de Águas e Educação Ambiental

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CAPÍTULO 1 - Enfoques Metodológicos para Eventos e Atividades Dialógicas

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própria sociedade e não apenas do comitê. A qualidade democrática que se expressa aponta para uma radicalidade, uma democracia radical na sociedade brasileira. Para tanto, um dos desafios da EA na Política Nacional de Recursos Hídricos deve ser, para os educadores que lá estavam, o aumento do conteúdo democrático da sociedade e da política da gestão de recursos hídricos, por meio de todos os seus instrumentos. Sem passar por Democracia alguém pode ser induzido a um caminho que leva o sujeito a um ponto inóspito, no sopé de Limites e Conflitos. Neste ponto o sujeito se sente desarmado, frágil, pequeno e com medo, um medo não partilhado porque o ambiente não favoreceu o diálogo franco, as alianças e a solidariedade. Deste ponto, no sopé da montanha, há pouco o que fazer senão seguir direto para Recuo e de lá para Consenso Fácil e Conflito Omitido. “O medo dá origem ao mal. O homem coletivo sente a necessidade de lutar. O orgulho, a arrogância, a glória, enche a imaginação de domínio. São demônios, os que destroem o poder bravio da humanidade...”(Letra da música “Monólogo ao pé do ouvido”, da Nação Zumbi). Por outro lado, na Diversidade, passando-se por Democracia, chega-se a Criatividade. Sem passar por Criatividade não há como chegar aos caminhos que levam a Transformações. A criatividade social depende de romper-se com a monocultura induzida pelo sistema. Boaventura de Sousa Santos acusa a modernidade de ter restringido o presente, ou seja, na sociedade atual só podemos nos adequar se formos ou fizermos um rol muito restrito de opções de ser, fazer, consumir, produzir e desejar. Assim, à Educação Ambiental cumpre fazer aquilo que Boaventura denomina de Sociologia das Ausências e que pode ser entendida como o reconhecimento, o entendimento e a valorização de todo o conjunto de experiências sociais disponíveis. Todas elas se encontram acessíveis na Floresta Diversidade. Pode-se encontrar fontes de criação em tudo aquilo que estiver sendo feito, a agroecologia, os grupos ambientalistas, os grupos de jovens, de mulheres, as receitas alternativas, as plantas medicinais, os grupos de auto-construção, os mutirões e também naquilo que parecia anacrônico, arcaico, como cozinhar com lenha, plantar feijão e milho junto, o Cosme e Damião. (Ferraro, Tassara e Ardans, 2007). Significa voltar a falar e operar sobre toda a riqueza do “magma de significações” (Castoriadis, 1982) disponível para aquela coletividade. O grupo, no seminário, destacou a necessidade da diversidade da sociedade brasileira ser incorporada na participação e, além disso, falou-se em favorecer a emergência da diversidade brasileira. Para tanto, as discussões apontaram a necessidade de se transcender a gestão racional do recurso hídrico e para a necessidade de incorporar outros elementos na gestão, como a cultura e a emoção. Exemplificou-se a necessidade de tornar parte da gestão temas como as divindades da água, comum a tantas culturas que compõem a matriz brasileira. As culturas brasileiras, afirma o grupo, têm outras perspectivas sobre a água, muito além da sua gestão moderna e racional. Ao falar do projeto de futuro, muitos expressaram um sonho associado à diversidade, diferente de um futuro meramente racional e otimizado instrumental e economicamente. São inúmeras as experiências que devem ser alimento para as práticas da Educação Ambiental, assim como são inúmeros os sujeitos que devem ser entendidos como sujeitos da Educação Ambiental. A Educação Ambiental, em qualquer contexto, não pode negar sua essência dialógica e desvelar práticas prescritivas. A educadora e o educador devem mediar o alargamento do presente através da sociologia das ausências e das emergências que, ao invés de sugerir a forma certa de ser


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