Diplomática 16

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´ Diplomatica

Nº16 OUTUBRO 2013 €7 (Cont.)

BUSINESS & DIPLOMACY

David Cameron O poder da tradição DIPLOMÁTICA 16 • OUTUBRO 2013

DOSSIER BUSINESS Entrevistas:

Pedro Reis

Presidente da AICEP Presidentes CÂMARAS COMÉRCIO: Gregor Zemp - Suíça António Comprido - Reino Unido Henrique Santos - Espanha Marcela Caetano - Uruguai

DESTAQUE Gill Gallard Embaixadora do Reino Unido Entrevista

África + MOÇAMBIQUE

With English Texts

Na hora do grande salto


2 • DIPLOMÁTICA - MÊS/MÊS 2012


MÊS/MÊS 2012 - DIPLOMÁTICA • 2


Assuntos Summary

David Cameron - Primeiro-Ministro do Reino Unido David Cameron - Prime Minister of the United Kingdom

5

Entrevista a Jill Gallard - Embaixadora do Reino Unido Interview with Jill Gallard – Ambassator of the United Kingdom

10

Dossier - Business & Diplomacy – Entrevistas: Dossier - Business & Diplomacy – Interviews:

15

Pedro Reis - Presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo Pedro Reis – Chairman of AICEP - Agency for Investment and Foreign Trade

16

António Patrício Comprido - Presidente da Câmara de Comércio Luso Britânica António Patrício Comprido - President of the British-Portuguese Chamber of Commerce

20

Enrique Santos - Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola Enrique Santos - President of the Spanish-Portuguese Chamber of Commerce

26

Marcela Caetano Popoff - Presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso Uruguaia Marcela Caetano Popoff - Uruguayan-Portuguese Chamber of Commerce

30

Gregor Zemp - Secretário-Geral da Câmara do Comércio e Indústria Suíça em Portugal Gregor Zemp - Secretary-General of Swiss-Portuguese Chamber of Commerce

36

Garland - um exemplo com bem mais de dois séculos Garland - an example with well over two centuries

44

Cavaco Silva a favor das relações económicas e culturais entre Portugal e Colômbia Cavaco Silva in favor of economic and cultural relations between Portugal and Colombia

48

Presidente da República em visita oficial de Estado ao Peru The president of the Portuguese Republic paid a State visit to Peru

50

Visita oficial do Presidente da Turquia, Abdullah Gül a Portugal The President of Turkey Mr. Abdullah Gül paid a State visit to Portugal

52

Ricardo Martinelli, presidente do Panamá em Portugal The President of Panama Mr. Ricardo Martinelli paid a State visit to Portugal

54

Presidente da República recebe Aga Khan The president of the Portuguese Republic hosts Aga Khan

55

Renato Varialle, Embaixador de Itália - Os desafios da Itália Renato Varialle, Ambassador of Italy - The Challenges of Italy

56

Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França em Portugal - Por ocasião da Festa Nacional Pascal Teixeira da Silva, Ambassador of France in Portugal - On the occasion of National Day

58

Allan Katz, Embaixador dos Estados Unidos da América Allan Katz, Ambassador of the United States of America

60

O prémio nobel da economia apela à razão - A crise em Portugal e as políticas monetárias europeias The Nobel Memorial Prize laureate in Economics appeals to reason - The crisis in Portugal and the European monetary

62

Os novos Reis dos Belgas - A coroa que une um país de dois povos The new King and Queen of the Belgians - A crown that unites a country of two peoples

64

Suas Altezas Reais os Reis dos Países Baixos Their Royal Highnesses the King and Queen of the Netherlands

66

A Última Rainha de Portugal - Entrevista com o Dr. José Alberto Ribeiro sobre o seu livro «Rainha D. Amélia» The Last Queen of Portugal - Interview with José Alberto Ribeiro about his book “Queen Amelia”

68

Moçambique na hora do grande salto - Da pujante Mussa Mbiki ao promissor país do futuro Mozambique in time for the big leap - From thriving Mussa Mbiki the promising future of the country

75

Visita da delegação da UCCLA a Luanda UCCLA delegation oficial visit to Luanda

80

Embaixador dos EUA em Portugal, Allan J. Katz assinala o Dia da Independência dos EUA U.S. Ambassador to Portugal Allan J. Katz marks the Independence Day of USA

81

Mala Diplomática. Dia Nacional da Noruega Diplomatic pouch. Norway National Day.

82

Mala Diplomática. Dia Nacional da Geórgia Diplomatic pouch. Georgia National Day.

84

Mala Diplomática. Dia Nacional do Reino Unido - Comemoração do Aniversário Oficial da Rainha Isabel II Diplomatic Pouch. UK National Day - Official Celebration of the Birthday of Queen Elizabeth II

86

Palavras do Embaixador do Luxemburgo no Dia da Festa Nacional celebrando oficialmente o aniversário do soberano Sua Alteza Real o Grão-Duque Words of the Ambassador of Luxembourg on the Day of National Party officially celebrating the birthday of the Sovereign His Royal Highness the Grand Duke

88

Livro. «Porque falham as nações?» - por Daron Acemoglu e James Robinson, Editora Bertrand Book. “Why nations fail?” - By Daron Acemoglu and James Robinson, Bertrand Publisher II Conferência sobre o futuro da língua portuguesa no sistema mundial II Conference on the future of the Portuguese language in the world system

92 94 97

Traduções Translations DIRECTOR: Maria de Bragança PRODUÇÃO: César Soares PROPRIEDADE: Maria da Luz de Bragança EDIÇÃO: Gabinete 1 Editor nº 211 326. Rua de São Bernardo, nº27 A – Lisboa. MARKETING & PUBLICIDADE: Gabinete 1 - e-mail:gabinete1@gabinete1.pt Tel.: 21 099 96 74 Fax: 21 096 49 72 IMPRESSÃO: Gabinete 1 DISTRIBUIÇÃO: Logista - Alcochete - Telefone: 21 926 78 00 Fax: 21 926 78 45 ISSN 1647-0060 – Depósito Legal nº 276750/08 – Publicação registada na Direcção Geral da Comunicação Social com o nº 125395

4 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


LIDERES

David Cameron Primeiro-Ministro do Reino Unido

David William Donald Cameron é o primeiro-ministro do Reino Unido, Primeiro Lorde do Tesouro, Ministro da Função Pública e líder do Partido Conservador. Representa igualmente Witney como membro do Parlamento (MP). É um líder conservador com profundas raízes na burguesia mercantil escocesa e na aristocracia inglesa. Jovem e de ideias moderadas, este é o homem que tem nas suas mãos o futuro do Reino Unido. ➤

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 5


David Cameron

David Cameron e sua Mulher, Samantha Gwendoline Sheffield

Cameron, o homem

um oficial do Exército que serviu como Alto Comissário de

As origens

Berkshire e o bisavô materno de Cameron era Sir William

David Cameron, nascido a 9 de Outubro de 1966, é o

Monte, Primeiro Baronet e MP conservador para Newbury

filho mais novo do corretor Ian Donald Cameron e de

entre 1918-1922.

Mary Fleur. O seu pai nasceu em Blairmore House, um solar perto de Huntly , Aberdeenshire, construído pelo seu

A educação

bisavô Alexander Geddes que tinha feito fortuna com o

Cameron tem um percurso académico de excelência,

comércio de grãos em Chicago.

tanto a nível das escolas frequentadas como pelas suas

Ian e Mary casam-se a 20 de Outubro de 1962 e Came-

classificações.

ron nasce 4 anos depois, em Londres. A sua infância é

A sua primeira educação faz-se em dois dos mais pres-

passada em Peasemore, Berkshire. O casal teve mais

tigiados colégios privados ingleses: entra aos sete anos

filhos contando David com 3 irmãos: Allan Alexander e

no colégio Heatherdown e aos treze no Eton College, tal

duas irmãs, Tania Rachel e Clare Louise.

como haviam feito o seu pai e o irmão mais velho. Nesta

Da parte da sua avó paterna, Enid Agnes Maud Levita,

altura era sua ambição seguir estudos artísticos.

Cameron é um descendente directo do rei William IV. É,

Depois de deixar Eton, em 1984, Cameron começou um

contudo, uma linhagem ilegítima que consiste em cinco

ano sabático de nove meses. Trabalhou como pesqui-

gerações de mulheres começando com Elizabeth Hay,

sador para Tim Rathbone, deputado conservador para

condessa de Erroll, até à avó de Cameron (tornando-o

Lewes e seu padrinho. Durante esses três meses de

quinto primo da rainha Elizabeth II). Os seus antepassa-

estágio participa regularmente em debates na Câmara

dos paternos vêm de uma linhagem da Alta Finança. O

dos Comuns. Seguidamente parte para Hong Kong onde

pai Ian era sócio sénior da Stockbrokers Panmure Gordon

aceita um cargo administrativo no Holding Jardine Mathe-

e foi director da agência imobiliária John D. Wood. O seu

son.

tetravô Emile Levita, um financeiro judeu alemão, foi o

Regressa a Inglaterra e começa os seus estudos em Filo-

director do Chartered Bank of Índia, Austrália e China.

sofia , Política e Economia ( PPE ) no Brasenose College,

O avô materno era Sir William Monte, segundo Baronet,

Oxford. O seu tutor, Vernon Bogdanor , descreveu-o como ➤

6 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


"

CAMERON

ANUNCIA QUE PRETENDE «COLOCAR DE LADO AS DIFERENÇAS PARTIDÁRIAS E TRABALHAR DURO PARA O BEM COMUM E PARA O INTERESSE NACIONAL». UMA DAS SUAS PRIMEIRAS MEDIDAS FOI A NOMEAÇÃO DE NICK CLEGG, O LÍDER DOS LIBERAIS DEMOCRATAS, COMO VICE-PRIMEIRO-MINISTRO

"

«um dos mais hábeis» alunos que ensinou, com pontos

Cameron, o político

de vista políticos «conservadores moderados e sensa-

Cameron trabalhou no Departamento de Pesquisa do

tos». Forma-se, cum laude, em 1988.

Partido Conservador ao sair de Oxford, tornando-se assessor do ex-primeiro-ministro conservador John Major.

A família

Durante sete anos, foi chefe de relações públicas da

Samantha Gwendoline Sheffield, filha de Sir Reginald

emissora comercial Carlton, elegendo-se em 2001 para

Sheffield Adrian Berkeley, Oitavo Baronet e Annabel

o assento dos conservadores, por Witney, na Casa dos

Lucy Veronica Jones ( agora Viscondessa Astor ), era

Comuns.

uma amiga de faculdade da irmã de Cameron . Depois

Com uma boa imagem pública, este seria um candidato

de se formar na Bristol School of Creative Arts, Clare

moderado jovem que iria apelar aos eleitores jovens.

convidou Samantha para passar férias com a família

Não foi, por tal, surpresa quando ganha a eleição para a

Cameron na Toscana, na Itália, onde o romance do

liderança conservadora, em 2005. A relativa juventude e

casal começou. Casam-se a 1 de Junho de 1996, na

inexperiência de Cameron, antes de se tornar líder, convi-

Igreja de Santo Agostinho de Cantuária , East Hendred,

daram a uma comparação satírica com Tony Blair.

Oxfordshire, cinco anos antes de se tornar primeiro-

Procurou pôr fim à resistência dos conservadores em

-ministro.

relação à integração total do Reino Unido na União Eu-

O casal Cameron teve quatro filhos. O seu primeiro filho,

ropeia e tentou reposicionar os conservadores como um

Ivan Reginald Ian nasce com uma rara combinação de

partido que se importava com o meio ambiente e com o

paralisia cerebral e uma forma de epilepsia grave chama-

sistema de saúde público britânico. Na medida do pos-

da síndrome Ohtahara falecendo com apenas seis anos.

sível, trouxe mais candidatas e representantes de mino-

Têm duas filhas, Nancy Gwen e Florence Rose Endellion,

rias étnicas. Quis renovar o partido, retirando as velhas

e um filho, Arthur Elwen.

lideranças. Conseguiu, também, capitalizar os últimos

A sua fortuna está estimada em cerca de 3 milhões libras,

escândalos sobre os gastos de deputados que sacudiu o

embora este valor exclua os legados milhões que Came-

governo trabalhista de Gordon Brown, criando a imagem

ron é esperado herdar de ambos os lados de sua família.

de alguém comprometido com a moralidade na política.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 7


David Cameron

O primeiro-ministro A 11 de Maio de 2010, Gordon Brown renuncia o cargo de primeiro-ministro e recomenda Cameron. A recomendação é aceite e a rainha Elizabeth II convida-o para formar governo. Aos 43 anos, Cameron tornou-se no mais jovem primeiro-ministro britânico desde Lord Liverpool, nomeado em 1812. No seu primeiro discurso anunciou a sua intenção de formar um governo de coligação, o primeiro desde a Segunda Guerra Mundial, com os liberais democratas. Logo no início, Cameron anuncia que pretende «colocar de lado as diferenças partidárias e trabalhar duro para o

Com a Rainha de Inglaterra

bem comum e para o interesse nacional». Uma das suas primeiras medidas foi a nomeação de Nick Clegg, o líder dos Liberais Democratas, como vice-primeiro-ministro. Entre conservadores e liberais democratas tinham 363 assentos na Câmara dos Comuns, com uma maioria de 76 assentos. Optou por uma posição moderna do «Compassionate conservativism». Esta é uma posição política que defende o uso dos meios e métodos conservadores para a melhoria do bem-estar social. A sua política é, sobretudo, de concórdia procurando encontrar soluções mesmo que para tal, tenha que aceitar as propostas da oposição. É um assumido admirador das políticas de Tatcher, mas tem-se mostrado moderado e defensor de soluções que

Com a Barack Obama, Presidente dos E.U.A.

se afastam das da Dama de Ferro. Procurou concentrar-se em questões como o ambiente, o equilíbrio da vida profissional e o desenvolvimento internacional: questões que não se viam como prioridades para o Partido Conservador pós-Thatcher. Em um discurso na conferência anual do partido Conservador, em Outubro de 2006, identificou o conceito de "responsabilidade social" como a essência de sua filosofia política. Quanto à sua política económica parece optar por uma situação de compromisso. Afirmou ser essencial a redução de impostos sobre o rendimento e a criação de riqueza afim de aumentar a competitividade da economia, mas que essa redução teria que ser feita de

Com a Dilma Rousseff, Presidente do Brasil

acordo com o crescimento da própria eonomia. Referiu-se a essa abordagem como "a partilha das receitas do crescimento". Em relação à política externa, Cameron acredita na intervenção humanitária em casos extremos como no genocídio de Darfur, no Sudão. Apoia o multiculturalismo, as uniões de acção conjunta com outras instituições - NATO, ONU, G8, União Europeia, etc – não tendo o Reino Unido que agir sempre isoladamente. É um grande defensor de uma nova abordagem na forma de fazer diplomacia colocando a tónica na economia e nas transacções comerciais.

A passar férias no Algarve em 2013

n

8 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

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DIPLOMACIA NA 1ª PESSOA

Jill Gallard Embaixadora do Reino Unido,

por Maria Bragança, fotos Nuno de Sousa

Com um forte currículo em política internacional, Jill Gallard foi nomeada Embaixadora de Sua Majestade Britânica em Portugal, assumindo o cargo em Julho de 2011. Dedicando cerca de um terço das suas actividades a questões de diplomacia comercial, está feliz por continuar na Europa onde tem feito uma brilhante carreira.

10 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


Comecemos pelo seu percur-

das pela maior parte do Mundo.

Sou uma mulher casada e tenho

so profissional. Como chegou

No ano passado abrimos novas

dois filhos pequenos, de 3 e 5

à diplomacia e como foi o seu

embaixadas em locais diversos

anos respectivamente. Ambos

percurso?

como Madagáscar ou El Salva-

já estão a aprender um pouco

Comecei por trabalhar no Mi-

dor. Mesmo tendo em conta o

a vossa língua e já conseguem

nistério Britânico dos Negócios

nosso programa de austerida-

cantar os Parabéns em portu-

Estrangeiros (Foreign Office -

de estamos a lutar para fazer

guês fluente!

FCO), há quase 20 anos atrás;

uma gestão dos nossos recur-

O Reino Unido é o nosso 4º

e passei grande parte da minha

sos de forma a podermos estar

maior cliente e mantém-se

carreira ligada a assuntos eu-

presentes junto dos mercados

como o 6º fornecedor, tendo o

ropeus. A minha primeira co-

emergentes. Por exemplo, esta-

volume global das trocas atin-

locação no estrangeiro foi em

mos a aumentar o nosso corpo

gido valores superiores a 3 mil

Bruxelas na comissão de ser-

diplomático no Brasil e na China

milhões de libras por ano. De

viço relativa à política regional.

e acabámos de abrir uma nova

forma geral, o comércio bilate-

Seguidamente, nos finais dos

embaixada na Somália. Estamos

ral caracteriza-se por ser mui-

anos ‘90, trabalhei na Embaixa-

muito focados numa visão que

to equilibrado no sector dos

da Britânica em Madrid, durante

tenha em conta o futuro e em

bens. Tendo em conta a actual

5 anos. Retorno ao Reino Uni-

concentrarmo-nos nos países

situação de crise económica e

do onde trabalho durante mais

onde pensamos virá a ser impor-

financeira, pensa haver formas

5 anos: primeiramente como chefe de divisão sobre a Turquia e depois na área de gestão de crises e de política externa e de segurança comum. Isto acontece na altura em que se negociava o tratado de Lisboa sendo dos anos mais fascinantes na minha

de aumentar este volume de

"

CERCA DE UM TERÇO DAS MINHAS ACTIVIDADES PRENDEM-SE COM QUESTÕES DA DIPLOMACIA COMERCIAL

carreira. Em 2004, sou enviada para

"

negócios? E, se sim, estão a ser tomadas medidas nesse sentido? Primeiramente devo dizer que os embaixadores britânicos sempre tiveram responsabilidades na área comercial e económica. Mas há três anos, quando David Cameron tomou poder, essa

Praga como Chefe das secções

tante ter um impacto.

políticas na altura em que a Re-

Depois do meu trabalho no De-

claramente que todos os em-

pública Checa adere à UE. Foi

partamento de Recursos Huma-

baixadores britânicos deveriam

um momento muito interessante

nos candidatei-me a este posto

dedicar mais do seu tempo a

para a Europa Central.

em Portugal.

todos os assuntos destas áreas

Retorno a Inglaterra, em 2007,

Como e porquê a escolha do

e como que cunhou a expressão

para tomar o cargo de chefe de

nosso país para Embaixadora?

«diplomacia comercial». É um

Gabinete do Secretariado Geral

Devo dizer que foi o mais po-

aspecto bastante claro da sua

num momento muito especial em

pular lugar para a candidatura

política e houve uma responsa-

que se dá a transição do Gover-

a embaixador no ano em que

bilização dos embaixadores pelo

no de Tony Blair para o de Gor-

concorri. Houve muitos concor-

garante do aumento e manuten-

don Brown. Depois sou colocada

rentes, inclusive diplomatas que

ção do comércio internacional.

no Departamento de recursos

queriam vir para Portugal.

Enquanto embaixadora, é uma

humanos tendo responsabilida-

É a minha primeira colocação

parte muito importante do meu

des a nível global das nossas

como Embaixadora e estou

trabalho e posso dizer que cerca

embaixadas em todo o Mundo.

muito satisfeita por continuar na

de um terço das minhas activida-

Em que países têm embaixa-

Europa que é onde fiz a minha

des prendem-se com questões

das?

carreira.

da diplomacia comercial.

Temos 140 Embaixadas - ao

Quanto à sua vida fora do

Gostaria de chamar a atenção

todo cerca de 270 missões diplo-

trabalho. Quer-nos falar um

para as duas principais vertentes

máticas e consulares espalha-

pouco?

desta área: a primeira é o nosso

tendência acentuou-se. Ele disse

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 11


Jill Gallard

comércio bilateral: pretende-

mos na Europa a procura está a

cos, houve um momento muito

mos não só atrair investimento

descer, estes mercados ganham

bonito quando surgiram várias

português no Reino Unido como

relevância. Nós pretendemos

enfermeiras com uniformes dos

criar condições de criação de

propor às empresas e aos cida-

anos ‘50 e camas de hospital. Na

empresas inglesas em território

dãos britânicos olharem Portugal

altura as pessoas ficaram sur-

português. Não se trata apenas

como uma plataforma para os

preendidas por não verem uma

de comércio mas também de

países de expressão portuguesa.

imediata relação com os jogos

reforma económica. Todos nós,

Por exemplo, organizámos um

olímpicos. Mas foi, de facto, um

na Europa, sabemos que preci-

seminário em Lisboa, em Maio,

marco e uma prova da capacida-

samos de crescer, tornarmo-nos

com o Ministro da Economia

de de recuperação dos britânicos

mais competitivos e ter menos

Álvaro Santos Pereira e o Lord

após a II grande Guerra Mundial.

burocracia. Este trabalho terá

Green, Ministro Britânico do Co-

Mas, tal como está a acontecer

que ser feito dentro do contexto

mércio. Tivemos 150 empresas

com todo os sistemas públicos,

da UE.

britânicas que vieram cá para

as exigências de eficiência têm

E que tipo de comércio é man-

falar com empresas portuguesas

vindo a crescer tendo em conta

tido entre Portugal e o Reino

e encontrar formas de, junto com

que os recursos estão mais es-

Unido?

empresas portuguesas, introdu-

cassos. Nós, tal como Portugal,

Pese embora a crise económica

zirem-se em Angola ou Moçam-

tivemos que cortar no nosso de-

- e relembro que também esta-

bique. São sobretudo as PMEs

ficit; e, por consequência, houve

mos com um plano de austerida-

que não sabem exactamente

alguns cortes. Temos agora que

de no nosso país - as relações

como chegar a estes mercados

fazer mais por menos e de forma

comerciais estão a manter-se

e que precisam da nossa ajuda

muito bem. No ano passado tive-

para estabelecerem os primeiros

mos 3 mil milhões de libras em

contactos.

comércio bilateral com o vosso

O que pensa sobre o papel da

país. O que mostra que Portugal

AICEP (Agência para o Investi-

é um mercado importante para

mento e Comércio Externo de

o Reino Unido. Existem ainda

Portugal)?

novas empresas portuguesas a

Temos uma muito boa relação

investir no Reino Unido. A nossa

com a AICEP. A equipa da bri-

equipa já ajudou várias empre-

tânica de investimento e comér-

mais eficiente. Mas penso que

sas portuguesas a inserirem-se

cio externo, a UKTI, trabalha

o princípio de um sistema de

ou a expandirem-se dentro do

de forma bastante próxima com

saúde universal é um princípio

Reino Unido.

a AICEP em todos os nossos

democrático fundamental.

Um dos exemplos é a Tech City,

eventos comerciais. A AICEP

Para além das que já falamos,

a nossa versão do Silicon Valley

foca-se bastante no conceito

quais são as outras priorida-

americano que queremos que

de Diplomacia Comercial, o que

des da vossa embaixada?

seja um aglomerado de empre-

é importante. Os modelos de

Temos um grande papel de

sas na área do digital. É um

trabalho são, progressivamente,

consulado para o cidadão inglês

local muito interessante, numa

mais semelhantes.

que reside cá e para os cerca de

parte de Londres que agora foi

Temos uma profunda admi-

2 milhões de visitantes anuais.

renovada. Só no ano passado,

ração pelo sistema de saúde

E os números estão a subir. É

cinco empresas portuguesas de

inglês (NHS), quais são os

um grande investimento para

tecnologias de informação mar-

pontos mais consideráveis da

o turismo Português e um voto

caram presença na Tech City.

excelência deste serviço?

de confiança no vosso país. A

O que mostra como as relações

No Reino Unido temos, igual-

equipa do consulado está sem-

bilaterais estão em boa forma.

mente um grande orgulho no

pre disponível para os turistas

Um outro aspecto positivo de

nosso sistema de saúde. No

britânicos que necessitem de

Portugal será a sua boa relação

ano passado, na cerimónia de

ajuda ou assistência.

com os PALOP. Como sabe-

inauguração dos Jogos Olímpi-

Uma outra vertente será a

12 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

"

TEMOS AGORA QUE FAZER MAIS POR MENOS E DE FORMA MAIS EFICIENTE.

"


OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 13


Jill Gallard

política externa. Em muitos

britânicas. Por exemplo organi-

Euro não vai ao encontro dos

casos temos uma política exter-

zámos umas sessões para os re-

interesses nacionais. Tivemos

na concomitante com a portu-

sidentes britânicos com juristas

essa posição muito antes da

guesa. Principalmente devido à

de forma a esclarecer dúvidas

crise do euro e o actual primeiro

presença de Portugal no Conse-

sobre questões de propriedade,

ministro reafirmou esta posição.

lho de Segurança das Nações

impostos, etc. Temos igualmen-

Mas quanto à questão da crise

Unidas nos últimos dois anos

te organizações lideradas por

do euro devo dizer que é igual-

(2011-2012), trabalhámos de

cidadãos britânicos para ajudar

mente bastante claro que é do

forma mais próxima nas grandes

os cidadãos portugueses. Dou-

nosso interesse que se resolva.

questões da política externa, tais

-lhe o caso de uma organização

Estamos a encorajar os parcei-

como a crise do médio oriente.

que já tem dois anos e actua

ros europeus a seguirem com

É curioso notar uma similitude

no Algarve que se chama “Safe

medidas de encontro a uma

entre Portugal e o Reino Unido:

Communities” e funciona como

união bancária e a tomarem as

nós temos a Commonwealth e

um serviço de vigilância entre

medidas necessárias de forma

Portugal tem a CPLP. O que faz

vizinhos das zonas circundantes,

a projectar o Euro para fora da

que Portugal tenha uma maior

com o apoio da policia judiciária,

crise.

influência em certas situações

de forma a reportarem roubos,

A questão do Euro e da própria

assaltos ou comportamentos

União Europeia tem polarizado

suspeitos.

as opiniões com países a querer

Existem também associações

entrar e outros a ameaçar sair.

na área da saúde. «Madragoa»

David Cameron disse há pouco

é uma delas. Actua na zona do

tempo que uma relação à UE,

Algarve e ajuda pessoas com

semelhante à que tem a Norue-

doenças terminais proporcionan-

ga, não é do interesse do Reino

"

TEMOS ORGANIZAÇÕES

LIDERADAS POR CIDADÃOS BRITÂNICOS PARA AJUDAR OS CIDADÃOS PORTUGUESES

"

do um refúgio para passarem os

Unido. Se um país não está na

seus últimos dias junto com os

UE perderá a sua voz aquando

seus mais próximos. A associa-

das negociações de directrizes

ção é mantida maioritariamente

ou de reformas. Assim torna-

por cidadãos britânicos que se fi-

-se claro que é do interesse do

- como a da Guiné Bissau ou

nancia por angariação de fundos

Reino Unido manter-se na UE;

Brasil, por exemplo - onde nós

mas está aberta aos cidadãos

contudo é igualmente necessário

não temos.

portugueses.

que a UE faça reformas estrutu-

Que peso tem a comunidade

Temos ainda acções espontâ-

rais que nos tornem mais com-

inglesa em Portugal? Estamos

neas: um grupo de cidadãos

petitivos de forma a fazermos

a falar de uma pequena comu-

britânicos e irlandeses organizou

frente à crise que é global.

nidade ou de um largo núme-

uma angariação de fundos que

Para terminar, o que diria a al-

ro?

gerou um total de 50.000 euros

guém que está agora a iniciar

Não sabemos o número exacto

para ajudar o Refúgio Aboim

a carreira diplomática?

de cidadãos britânicos a resi-

Assunção, em Faro, para o apoio

É uma profissão maravilho-

direm em Portugal, uma vez

a crianças.

sa onde em cada 2 ou 3 anos

que estes não necessitam de

Mas para além do Algarve temos

se muda de país e de área de

se registar junto à embaixada.

ainda várias outras associações

actuação profissional. Se é al-

Estimamos um número na ordem

deste tipo pelo país.

guém que gosta de falar com as

dos 60.000. É um número signi-

Quanto à questão da moeda, o

pessoas, de comunicar e estar

ficativo e que contribui para as

que nos diz da dicotomia Euro-

no centro dos acontecimen-

comunidades locais. Em Porti-

-Libra?

tos actuais é a profissão ideal.

mão temos um vice consulado

O Governo Britânico sempre teve

Penso que o facto da diplomacia

que implementou um programa

uma posição muito clara quanto

comercial estar cada vez a ter

a que chamamos Out-reach que

à questão da moeda nacional:

mais peso torna-a ainda mais

tenta chegar às comunidades

pensamos que a adopção do

interessante.

14 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n


Dossier Business & Diplomacy

«A simbólica roda da fortuna gira e o destino das nações muda. Portugal, que outrora esteve no topo, vê-se hoje lutando para, mais uma vez, dar a volta.» Fomos ouvir quem poderá ajudar, junto dos prestigiados Quadros de Business & Diplomacy Entrevistámos Pedro Reis, presidente da AICEP (Portugal)¸ António Comprido (Inglaterra), Henrique Santos (Espanha), Gregor Zemp (Suiça) e Marcela Caetano Popoff (Uruguai).

entrevistas de Maria da Luz de Bragança

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 15


Dossier Business & Diplomacy

Pedro Reis Presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo

Pedro Reis é, desde Dezembro de 2011, o presidente da AICEP - Agência para o Investimento e Comércio Externo , assegura a Secretaria do Conselho Estratégico de Internacionalização da Economia-CEIE, integrando ainda o Conselho Nacional para o Empreendedorismo e a Inovação. Vogal do Conselho de Administração do Instituto Francisco Sá Carneiro e preside também ao Júri do Prémio “Mais Diplomacia Económica”. Licenciado em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica e formações na Harvard Business School-EUA e no Insead –França, entre outras formações e especializações em gestão. Vários prémios têm enobrecido a sua carreira entre eles o ”Prémio Gestores do Amanhã”, o “Best Leader Awards”, assim como em 2013 a distinção de “Personalidade do Ano”, atribuído pela Interfranchising em colaboração com a Associação Nacional de Franchising. De destacar também o livro “Voltar a Crescer” publicado em Março de 2011 que traça um diagnóstico da economia portuguesa com base num estudo feito junto de 55 empresários e gestores portugueses.

16 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


A AICEP é actualmente uma

bens e os serviços portugueses, apoio

De que modo este modelo é mais

instituição de referência e grande

à captação de investimento estrangei-

vantajoso para as empresas e para

importância na expansão e interna-

ro e de promoção de Portugal enquan-

o país?

cionalização das empresas portu-

to destino turístico, e ainda a avaliação

Para além dos benefícios decorrentes

guesas. Pode falar-nos do papel

do risco político dos negócios. O

de uma maior coordenação e coope-

diplomático da Agência?

objectivo é gerar e explorar oportuni-

ração entre os actores da promoção

A diplomacia económica, enquanto

dades de negócio para as empresas

económica de Portugal no mundo,

instrumento de execução de par-

e para a economia nacional, através

estima-se que este novo modelo per-

te relevante da política externa de

da sua internacionalização, do aumen-

mitirá atingir uma poupança significa-

Portugal, contribui ativamente para

to das exportações, da atracção de

tiva através da adopção de melhores

um clima de negócios mais favorável

mais e melhor turismo e da captação

práticas internas, da co-localização

e motivador para as empresas portu-

de investimento directo estrangeiro

de instalações e da concentração de

guesas, permitindo-lhes abrir novos

de qualidade. Este é um trabalho

meios. A AICEP ganha uma nova

mercados e novas frentes de negócio,

desempenhado de forma próxima e

dinâmica com esta articulação, pois

e para empresas estrangeiras inves-

colaborativa com os representantes

no âmbito da rede diplomática passa

tirem em Portugal. Este modelo de

da AICEP nos mercados que, por sua

a estar, não em 40 mercados, mas em

actuação permite que a diplomacia e

vez, passaram a ser, formalmente e

cerca de 80, abrangendo todos os paí-

a economia se potenciem mutuamen-

na sua maioria, nomeados como Con-

ses em que existem representações

diplomáticas e consulares. Beneficia

te no sentido da internacionalização das empresas portuguesas, de mais e melhores exportações nacionais e da promoção global das suas marcas, bem como da imagem de Portugal e da excelência do país como destino turístico no sentido da captação de investimento. A integração das representações da AICEP e do Turismo, no

"

PORTUGAL CONSEGUIU RECENTEMENTE VITÓRIAS SIGNIFICATIVAS NA EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS PORTUGUESES

"

estrangeiro, na rede diplomática, com

ainda do facto de muitos embaixadores estarem acreditados em mais do que um país. O que é que muda e que parcerias co-existem neste novo modelo de diplomacia económica? O que muda fundamentalmente para melhor é a estratégia de reforço, consolidação e agilização da articulação

a inclusão dos conselheiros comer-

selheiros Económicos e Comerciais

que sempre existiu e existe no terreno

ciais nas embaixadas e consulados,

das Embaixadas de Portugal. Adicio-

entre a rede externa da Agência e as

é um dos pontos fortes deste modelo,

nalmente, é importante referir que as

Embaixadas. Além do mais, o modelo

que propõe a colaboração e o empe-

representações de Portugal no estran-

institucional de promoção externa de

nhamento dos diplomatas na promo-

geiro elaboram actualmente planos

natureza pública está a ser comple-

ção externa da economia portuguesa,

de negócios anuais, onde identificam

mentado e integrado numa óptica de

o que permite desde logo um subs-

as principais acções a desenvolver,

promoção mista, envolvendo vários

tancial alargamento da rede de apoio

como sejam mostras de marcas e

parceiros sociais, entidades empresa-

aos investimentos portugueses, com a

produtos portugueses, realização de

riais representativas e a dinamização

consequente racionalização de custos.

seminários, reuniões sectoriais, etc.

de câmaras de comércio no exterior.

O papel dos Embaixadores era até

Estes planos concorrem, também,

Portugal tem de estar onde estão os

há alguns anos eminentemente

para a avaliação do trabalho desem-

portugueses e as suas empresas,

político. Qual é a actual importância

penhado. Ainda no seminário diplo-

os seus negócios e as suas marcas,

da função económica dos nossos

mático deste ano foi lançado o Prémio

enfim, os seus interesses e oportu-

diplomatas?

“+ Diplomacia Económica” que visa

nidades em matéria de mercados,

No âmbito da diplomacia de negócios,

justamente reconhecer as represen-

exportação e internacionalização.

a AICEP manterá a gestão operacio-

tações diplomáticas e consulares que

Como definiria, em síntese, a fun-

nal desta rede externa em articulação

se tenham distinguido no cumprimento

ção e os objectivos da AICEP?

com os embaixadores. Neste modelo

desses objectivos, que se centram

O core business da AICEP consiste

de diplomacia económica são atribuí-

essencialmente na dinamização das

na promoção das exportações, na

das ao embaixador, entre outras, as

exportações, da internacionalização

captação e acompanhamento de

funções de coordenação do apoio às

de empresas nacionais e na agenda

projectos de investimento e na inter-

empresas portuguesas, promoção dos

da captação de investimento.

nacionalização da economia

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 17


Pedro Reis

portuguesa. Prestamos informa-

do mercado europeu, o que agora

já existentes: Azerbaijão, Botswana e

ções qualificadas sobre sectores

nos obriga ao reforço da estratégia de

Namíbia e Panamá são mercados que

de actividade, sobre mercados,

diversificação de mercados. A par dos

passámos a acompanhar respectiva-

sobre oportunidades de negócios e

mercados consolidados, há que definir

mente a partir da Turquia, da África do

oferecemos às empresas formação

um mapa de novas oportunidades de

Sul e da Venezuela. Alguns mercados

e capacitação tendo em vista a sua

negócio para as empresas. É o que

que, por se encontrarem em fase de

mais adequada preparação para

estamos a fazer.

forte crescimento, são particularmente

abordarem os mercados interna-

Os mercados emergente da Ásia,

atractivos em matéria de negócios e

cionais. Por acção da diplomacia

África e América Latina são merca-

aí podemos referir o Brasil, a China,

económica, liderada pelo Ministério

dos-alvo em que se deve fazer uma

Angola, Moçambique, Marrocos, Argé-

dos Negócios Estrangeiros e apoia-

forte aposta?

lia ou a Tunísia. A América Latina no

da pela rede externa da AICEP,

A diversificação tem que centrar-se

seu conjunto e alguns países da costa

Portugal conseguiu recentemente

na procura de mercados pujantes

ocidental de África podem também

vitórias significativas na exportação

e em que se verifiquem taxas de

vir a tornar-se interessantes para as

de produtos portugueses. A nossa

crescimento elevadas. Nesta medida,

nossas exportadoras.

balança comercial precisa que o

a Agência quer apoiar, com todos os

Por onde passam as principais

país exporte mais e importe menos,

meios ao seu alcance, os empreende-

estratégias, com vista a garantir o

produzindo internamente. O com-

dores e as empresas que se lançam

desenvolvimento internacional das

promisso da AICEP, nesta matéria,

na descoberta de novos mercados. A

empresas portuguesas?

é o de uma empenhada missão no

nossa experiência e o conhecimento

No contexto dos actuais desafios, a

apoio às exportações e à internacio-

que temos deles, são claramente

nível nacional e internacional, Por-

nalização da economia portuguesa.

um valor acrescentado ao serviço da

Angola e os EUA eram até há pou-

exportação e da internacionalização

co mercados fortes para os bens e

das nossas empresas, e tornam-se

serviços das empresas portugue-

essenciais sobretudo para as apostas

sas e são claramente emblemáticos

das pequenas e médias empresas,

nas relações bilaterais de Portugal.

com menores recursos e dimensão.

Além destes, quais são os merca-

Em matéria de diversificação dos

dos de aposta na nova estratégia

mercados, a AICEP anunciou a

da AICEP?

abertura de novas delegações no

Angola ocupa hoje uma importância

exterior. Pode especificar quais são

incontornável no panorama das nos-

os mercados com novas oportuni-

tugal precisa de exportar mais, com

sas relações económicas internacio-

dades de negócio para as empre-

mais valor acrescentado e através

nais, sendo o quarto país de destino

sas portuguesas, em particular para

de mais empresas, vendendo mais e

das nossas exportações de bens.

as PME?

melhores produtos ao exterior, com

Por outro lado, existe um crescente

A Colômbia e o Peru, a Índia e a

uma estratégia de diversificação dos

número de empresas portuguesas

região do Golfo são mercados que,

seus mercados. A aposta em marcas

que procuram estar presentes nes-

pelo seu enorme potencial de ne-

próprias e na diferenciação do serviço

te mercado. Os Estados Unidos da

gócio para as empresas portugue-

prestado ao cliente são indispensá-

América, como cliente de Portugal,

sas, contam desde há um ano com

veis, bem como o marketing, o design

continuam a ser um mercado im-

delegações da AICEP. Seja como

e a implementação de programas de

portante para o destino dos bens e

for, estrategicamente, é necessário

promoção inequivocamente adaptados

serviços portugueses. Contudo, o jogo

crescer no espaço extracomunitário

aos mercados-alvo. E nunca é demais

da internacionalização, dos merca-

sem perder terreno e sustentabilidade

enfatizar que para uma empresa avan-

dos e das oportunidades de negócio

no mercado europeu e nos nossos

çar para um processo de exportação

joga-se cada vez mais no tabuleiro da

mercados tradicionais, pois todos os

sustentável, deve reunir condições de

diferenciação da oferta e dos próprios

mercados são importantes desde que

viabilidade estratégica, económica,

mercados, pois o mundo da exporta-

ofereçam às empresas oportunidades

financeira e técnica que permitam a

ção coloca sempre novos desafios,

de negócio. Seguindo esta lógica,

expansão de negócios bem-sucedidos

tanto mais que as nossas exportações

ainda este ano decidimos cobrir novos

na economia global. Um outro aspec-

estão excessivamente dependentes

mercados a partir de representações

to, que deve ser crescentemente tido ➤

18 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

"

É NECESSÁRIO CRESCER NO ESPAÇO EXTRACOMUNITÁRIO SEM PERDER TERRENO E SUSTENTABILIDADE NO MERCADO EUROPEU

"


em conta pelas empresas portugue-

quer de equilíbrio externo.

produtos, marcas e serviços made in

sas que procuram internacionalizar-

Entendo, contudo, que devemos

Portugal tem uma procura crescente

-se, reside na realização de parcerias

entrar agora numa nova fase, na

nos mercados externos. 2012 con-

locais nos mercados.

qual o primado da economia deve

seguiu superar o ano de 2011 como

Países e economias dos cinco con-

imperar sobre uma fase mais finan-

o melhor ano de sempre para as

tinentes lutam para pôr um ponto

ceira, ou seja, temos que equilibrar

exportações nacionais e atingimos um

final na crise. Que papel pode de-

a austeridade com medidas focadas

feito histórico que foi o de fechar o ano

sempenhar a AICEP para contribuir

e direccionadas para solucionar os

passado com um excedente na nossa

na solução deste problema mundial

problemas que afectam a economia

balança comercial, ou seja, em 2012

e no relacionamento entre países?

real. As reformas estruturais levadas a

exportámos mais do que importamos.

A AICEP tem como princípio que o

cabo nos últimos dois anos – ao nível

A última vez que isto tinha acontecido

bom relacionamento entre países

laboral, do mercado de arrendamento,

foi há cerca de 60 anos.

depende de acções consistentes na

das insolvências, do licenciamento

As nossas empresas, sobretudo as

área diplomática, cultural e comer-

industrial, etc. – permitiram definir, ao

exportadoras, têm sido os pilares do

cial, cujo equilíbrio requer interacção

nível regulamentar, alguns aspectos

crescimento económico em Portugal

constante entre os sectores público

importantes que estão na base de

nos anos mais recentes e têm dado

e privado na formulação de políticas,

qualquer economia que se deseja

um contributo inexcedível para a afir-

cooperações institucionais e visão

competitiva. O que é desejável, daqui

mação da nossa imagem no estran-

estratégica compartilhada. Nesta me-

por diante, se quisermos efectiva-

geiro. Da mesma forma, olhando para

dida, a gestão das relações bilaterais

mente voltar a crescer, é olhar com

o investimento estrangeiro realizado

pauta-se por uma cultura de bom

ainda mais atenção e detalhe para o

em Portugal no último ano, e para o

relacionamento entre países, de modo

nosso tecido económico e empresa-

pipeline que estamos a acompanhar,

a que os mercados sejam não só uma

rial e contribuir para facilitar a vida às

verifico com satisfação que o nosso

oportunidade para celebrar uma boa

empresas e aos agentes económicos.

país continua a ser observado com

oportunidade de negócio, mas tam-

Temos que passar de uma fase macro

muito bons olhos ao nível internacio-

bém um acordo entre parceiros que

da Economia, para uma fase micro.

nal. Temos uma economia que está a

gere benefícios, prosperidade e de-

Diria que precisamos de um Ministério

recuperar competitividade, possuímos

senvolvimento mútuo. Destaco que no

das Empresas, focado na competitivi-

uma localização geo-estratégica que

presente mandato assinámos já mais

dade das mesmas. Estou convencido

recupera centralidade no mapa global

de 20 protocolos de cooperação e

que Portugal tem solução, que não

do comércio internacional a cada dia

memorandos de entendimento, alguns

somos, nem nunca seremos, um caso

que passa, pelas pontes que fazemos

dos quais com entidades homólogas

perdido. Tenho confiança absoluta na

com o mundo lusófono, com África

da AICEP, sobretudo nos mercados

capacidade que temos, como país e

e com a América Latina, possuímos

extracomunitários, tendo em vista criar

como povo, de superar os momentos

infraestruturas logísticas e de comuni-

uma moldura institucional que favo-

difíceis. Estamos a atravessar uma

cação de excelência, recursos huma-

reça a entrada e presença das em-

crise com repercussões sociais muito

nos altamente competentes e qualifi-

presas portuguesas nesses mesmos

graves, mas se formos capazes de,

cados, além de redes de fornecedores

países.

colectivamente e de forma colaborati-

capazes de servir as indústrias mais

Que palavras gostaria de deixar

va – deixando para trás divergências

exigentes, já para não falar de uma

para todos quantos acreditam no

artificiais, como o actual momento exi-

academia crescentemente interligada

desenvolvimento de Portugal. E nas

ge – entendermo-nos sobre o essen-

com o mundo das empresas. Para

relações económicas com Portu-

cial, estou absolutamente certo de que

além de tudo isto, com o impacto po-

gal?

Portugal tem futuro e de que sairemos

sitivo que as reformas estruturais irão

Acredito profundamente que o cami-

desta crise muito mais fortes e com

ter no coração da nossa economia e,

nho de ajustamento financeiro feito

um novo modelo económico que irá

com o pacote atractivo de incentivos

até agora era imprescindível para que

proporcionar às gerações futuras mais

financeiros e benefícios fiscais que

Portugal afirmasse a sua capacidade

riqueza e mais emprego.

temos para oferecer, considero que

de honrar compromissos e fosse ca-

Quanto às relações económicas com

Portugal recupera competitividade e

paz de regressar de forma sustentada

Portugal, os dados das exportações e

atractividade e é olhado positivamente

aos mercados, baseado num modelo

do investimento falam por si e de-

pelos investidores externos. n

saudável quer de finanças públicas,

monstram que a procura externa por

M.B.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 19


Dossier Business & Diplomacy

António Patrício Comprido Presidente da Câmara de Comércio Luso Britânica

Licenciado em Engenharia Mecânica pelo Instituto Superior Técnico em 1970, e com um percurso profissional de relevo - desde o Laboratório de Física e Energia Nucleares, passando pela Setenave e Siderurgia Nacional - muitos foram os projectos, cuja Direcção e coordenação assumiu em Portugal que lhe permitiram um envolvimento a nível internacional. Em 1997, foi para a BP Oil UK, a maior Associada Europeia da BP, onde exerceu funções semelhantes às que tinha em Portugal. Para além disso, como membro do Conselho de Administração, teve assento em mais de uma dezena de lugares de Administração em empresas subsidiárias ou participadas. O regresso a Portugal ocorreu em 1999, vindo a ocupar o cargo do presidente do conselho da administração da BP Portugal, cargo que ocupou até 2008. Assumiu o lugar de Secretário Geral da Apetro – Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas - em 1 de Setembro de 2009. É membro Sénior da Ordem dos Engenheiros e presidente da Câmara de Comércio Luso-Britânica, onde fomos encontrá-lo para esta entrevista, que concedeu à revista Diplomática.

20 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


A Câmara de Comércio Luso Britâ-

os indicadores financeiros relativos à sua

nica é uma instituição de referência.

atividade. Poderemos apenas adiantar

Quer contar-nos como e quando teve

que o seu Orçamento anual ronda os 250

início em Portugal?

mil euros, tendo uma situação financeira

A fundação da CCLB remonta a 19 de

estável.

Abril de 1911, tratando-se pois de uma

Quanto aos investimentos de Empre-

organização centenária. Há até a convic-

sas: Reino Unido/Portugal- Portugal/

ção que a sua origem é bem mais remota

Reino Unido

e poderá remontar ao século XVII tendo

A CCLB é um facilitador dos encontros

como antecessor a “British Factory”. Na

entre empresas britânicas e portuguesas

sua génese esteve um grupo de empre-

para lhes proporcionar o desenvolvimento

sários britânicos sediados em Portugal

dos seus negócios. Contudo não nos en-

que reuniram naquele dia sob a presidên-

volvemos na fase da sua concretização,

cia de Sir Francis Hyde-Villiers, ministro

pelo que não temos registos dos valores

de Sua Majestade o Rei Jorge V, que

investidos. Mas foram certamente valores

apresentou a proposta de constituição de

significativos ao longo da nossa história.

uma Câmara de Comércio Britânico em

Quantos associados e qual o objectivo

Portugal que foi unanimemente aprovada

da Câmara?

por todos os presentes na reunião. A pri-

Como já referimos temos atualmente

meira AG realizou-se em 31 de janeiro de 1912 e o certificado de registo da mesma, com a denominação “The British Chamber of Commerce in Portugal (Incorporated)”, foi feito em 12 de Abril de 1912. Pode falar-nos da expansão da Câmara, sobretudo no tocante aos Associados?

"

QUERO AQUI REFERIR A

IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DE COOPERAÇÃO ENTRE AS EMBAIXADAS E AS CÂMARAS DE COMÉRCIO

Depois da sua fundação houve uma evolução quer no número de Associados,

"

quer no relacionamento com outras Câmaras e Instituições assumindo-se como

cerca de 400 Associados desde os “Cor-

representante em Portugal da Confedera-

porate” aos Individuais. Face à corrente

ção da Indústria Britânica.

situação económica do país o nosso

Em 1947 os seus estatutos foram alte-

principal objetivo é reter o maior núme-

rados de forma a permitir a admissão de

ro possível de Associados, procurando

pessoas e entidades portuguesas, numa

angariar novos que possam compensar

categoria especial criada para o efeito.

os que, por razões várias, vão saindo.

Finalmente em 1 de Janeiro de 1967 foi

Para isso focamos a nossa atividade em

adotada a atual designação “Câmara de

vertentes que possam trazer valor aos

Comércio Luso-Britânica (British-Portu-

nossos membros ajudando-os na criação

guese Chamber of Commerce)e passou a

de condições para concretizarem os seus

admitir em pé de igualdade Portugueses

planos de negócio.

e Britânicos.

O papel dos Embaixadores era até há

O número de Associados foi crescendo e

alguns anos eminentemente político.

situa-se atualmente em cerca de quatro

Fale-nos da crescente importância da

centenas.

função económica dos nossos diplo-

Qual é o histórico dos indicadores fi-

matas.

nanceiros da Câmara, contando desde

O Reino Unido há muito que incute nos

a sua criação?

seus Embaixadores uma forte mentali-

Sendo a CCLB uma instituição sem fins

dade e foco nas atividades económicas.

lucrativos, não me parecem relevantes

Portugal tem também vindo a fazê-lo e

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 21


António Patrício Comprido

parece-me que num mundo de gran-

O papel da Câmara será obviamente

des blocos políticos e económicos, este

modesto. Contudo estamos convictos que

realinhamento dos objetivos da nossa

a nossa atividade de “facilitadores” das

diplomacia são cruciais.

relações bilaterais e da familiarização das

Quero aqui referir a importância do

empresas e dos seus gestores a novos

trabalho de cooperação entre as Embai-

ambientes e desafios, será um contributo

xadas e as Câmaras de Comércio que,

positivo para recriar um clima de confian-

no nosso caso, é excelente e uma preo-

ça indispensável à ultrapassagem deste

cupação permanente das duas partes.

período menos bom.

Numa época de escassez de recursos

A propósito… como encara o desen-

esta cooperação é ainda mais importan-

volvimento de Portugal?

te.

Portugal, embora a atravessar uma crise

Neste mundo tão competitivo do

significativa, não deixa de pertencer

século XXI, marcado por escassez de

ao grupo dos países desenvolvidos. E

empregos, tensões terroristas, e uma

deverá continuar a posicionar-se desse

forte dependência da tecnologia… que

modo. A nossa inclusão na União Eu-

valores defende a CCLB?

ropeia é uma peça fundamental nesse

A CCLB defende o respeito pelas dife-

posicionamento. Mas é importante não esquecermos as nossas raízes atlânticas,

"

PORTUGAL PODERÁ E DEVERÁ

SER UM BOM LUGAR PARA INVESTIR E TAMBÉM UMA PONTE PARA NOVOS MERCADOS.

"

continuando a focar a nossa atenção no mundo da lusofonia tirando partido das nossas ligações históricas e profundas com muitas outras regiões do globo. Compete aos Governos criar as condições para que as empresas, as associações de vários tipos, os indivíduos, o empreendedorismo em suma, assumam o seu papel de motores do desenvolvimento económico. E a CCLB conta-se

renças, a cooperação e a lealdade como

entre aqueles que ajudam a que isso

principais valores a preservar. Sem eles

aconteça.

dificilmente se estabelecem bases sus-

Que palavras gostaria de deixar para

tentáveis para a cooperação e desenvol-

todos, quanto às relações económicas

vimento entre estados, empresas, famí-

com Portugal?

lias e indivíduos.

Portugal é um país estável, com uma

Gostaria que falássemos agora sobre

longa história, um povo aberto e amigá-

algo inevitável. A actual crise económi-

vel, Universidades de grande qualidade

ca e financeira mundial….

e excelentes infraestruturas físicas e de

Eu gosto de ser otimista e lembro

serviços. Ultrapassadas que sejam as

sempre que não há crise que sempre

dificuldades que hoje enfrentamos, Por-

dure. Por isso acredito que saibamos

tugal poderá e deverá ser um bom lugar

ultrapassar os tempos difíceis que

para investir e também uma ponte para

atravessamos. Assim sejamos capazes

novos mercados.

de aprender com os erros do passado

O que mais gostaria de acrescentar?

construindo um futuro em bases mais

Um desejo: que daqui a cem anos, quan-

sólidas e sustentáveis.

do alguém estiver a escrever a história

A América, a Europa, e mais alguns

do 2º centenário da CCLB, o possa fazer

países da Ásia lutam para o fim da

com o mesmo orgulho com que nós cele-

crise. Que papel poderá a Câmara de-

brámos os primeiros cem anos da nossa

sempenhar para contribuir na solução

existência.

deste problema mundial?

22 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n

M.B.


António Patrício Comprido President of British-Portuguese Chamber of Commerce

A degree in Mechanical Engineering, achieved at the Instituto Superior Técnico in 1970, and a distinguished career – that took him from the Nuclear Energy and Physics Laboratory, through Setenave and Siderurgia Nacional – have allowed him to coordinate and direct several local projects with international exposure. In 1997, he joined BP Oil UK, the largest BP Oil European Associated Company, where he performed a similar role to the one he had in Portugal. Also, as a member of the Board, he sat in over a dozen Board rooms of subsidiary or participated companies. He returned to Portugal in 1999, as Chairman of the Board for BP, a position he held until 2008. In September 2009 he became Secretary-General of Apetro – the Portuguese Oil Companies Association. He is a senior member of the Ordem dos Engenheiros and president of the British-Portuguese Chamber of Commerce, where we met him for the interview with Diplomática magazine.

The British-Portuguese Chamber of

ted category. Finally, on the 1st January

Commerce is a reference as an institu-

1967 we adopted the current denomination

tion. Would you like to tell us how and

of “Câmara de Comércio Luso-Britânica”

when it started operating in Portugal?

(British-Portuguese Chamber of Commer-

The founding of the BPCC goes back to

ce) and both Portuguese and British were

April 1911, which makes it a centennial

admitted alike. The number of Members

institution. There is also a firm belief that

continued to grow and is now about four

its origins go back even further, to the XVII

hundred.

century, evolving out of “British Factory”.

What is the history of the Chamber’s

It originated in a group of British business

finances, ever since its creation?

men, established in Portugal, who met

As a non-profit organisation, I believe the

on that day, presided over by Sir Francis

BPCC’s finances are not important. It’s

Hyde-Villiers, minister of His Majesty King

enough to say that its annual budget is

George V. He presented a proposal to

currently about 250 thousand euros, and its

create a British Chamber of Commerce in

financial situation is quite stable.

Portugal, which was unanimously appro-

What about company investments: UK /

ved. The first AGM took place on the 31st

Portugal – Portugal / UK?

January 1912 and the registry of the Cham-

The BPCC is a meeting facilitator between

ber, under the name “The British Chamber

British and Portuguese companies, aiming

of Commerce in Portugal (Incorporated)”,

to help them to develop their businesses.

was made on the 12th April 1912.

However we are not involved in its conclu-

Could you tell us about the Chamber’s

sion, and therefore do not have a registry

evolution, especially in what concerns

of the values invested. Undeniably the total

its Membership?

amount throughout our history has certainly

After its foundation there was an evolution

been significant.

both in the number of members and in the

How many members are there and what

relationship with other Chambers and insti-

is the Chamber’s main goal?

tutions, as it took on the role of representa-

As previously mentioned currently we have

tive of the British Industry Confederation in

about 400 members, ranging from “

Portugal. In 1947, its statutes were altered

“I would like to mention the importance

to allow the admission of Portuguese citi-

of the cooperation between the Embas-

zens and entities, into an especially crea-

sies and the Chambers of Commerce”

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 23


António Patrício Comprido

Corporate” to Individuals. In view of the

America, Europe, and some Asian coun-

country’s current economic situation our

tries are fighting their way out of the

main goal is to retain the largest number of

crisis. How can the Chamber contribute

members we can, always trying to gain new

to help solve this global problem?

ones that may compensate for the ones

The role of the Chamber will obviously be

who, for a reason or another, may leave.

a modest one. However we are convinced

Therefore we are focused on value-added

that our activities as “facilitators” of bilateral

activities for our members, helping them to

relationships and introducing companies

create the necessary conditions to accom-

and their managers to new surroundings

plish their business plans.

and challenges will be a positive contribute

The role of the Ambassadors was, until

to recreate a climate of confidence, which

some years ago, mostly political. Will

is indispensable to overcome these less

you tell us a bit about the growing eco-

favourable times.

nomical role of our diplomats?

By the way... How to you see Portugal’s

The United Kingdom has been urging its

growth?

Ambassadors to an economy-oriented view

Portugal, although facing a significant

and mindset for a long time now. Portugal

crisis, is still a part of the group of deve-

has been doing it too and it seems to me

loped countries. And it should remain like

that, in a world of large economical and po-

that. Being part of the European Union

litical blocks, this realignment of our diplo-

is a fundamental part of that positioning.

matic objectives is crucial.

But it is also important to remember our

I would like to mention the importance of

Atlantic roots, by continuously focusing

cooperation between the Embassies and

on the Portuguese-speaking world and

the Chambers of Commerce which, in our

taking advantage of our historically deep

case, is excellent and a constant priority for

connections to many other parts of the

both parts.

globe.

In a time where resources are scarce, this

It will be up to the Governments to create

cooperation is increasingly important.

conditions which will allow for companies,

In this competitive 21st century world,

associations of all kinds, individuals - any

with lack of employment, permanent ter-

entrepreneurial efforts really - to take on

rorist threats and a strong dependence

their role as the gears of economical deve-

on technology... which values does the

lopment.

BPCC stand for?

And the BPCC counts itself among those

The BPCC defends the respect for differen-

who make it happen.

ce, cooperation and loyalty as its “Portugal

What message would you like to leave,

can and should be a good place to invest

regarding the economical relationship

and a bridge to new markets.”

with Portugal?

main values. Without them there would

Portugal is a stable country, with an exten-

hardly be any sustainable ground on which

sive history, an open and friendly people.

to build the cooperation between states,

We have high quality universities and exce-

companies, families and individuals.

llent physical and services infra-structures.

I would like us to talk about something ine-

Once we overcome today’s difficulties,

vitable. The current world economical and

Portugal can and should be a good place to

financial crisis...

invest and become a bridge to new ma-

I like to be optimistic and I always say no

rkets.

crisis lasts forever. So I believe we will

What else would you like to add?

know how to overcome the difficult times

A wish: that in a hundred years time, when

we are currently in. Hopefully we will be

someone writes about the BPCC’s second

able to learn from past mistakes and build a

centenary he or she will be able to do it

future that stands on more solid and sustai-

as proudly as we have celebrated the first

nable grounds.

hundred years of our existence.

24 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n



Dossier Business & Diplomacy

Enrique Santos Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola Enrique Santos, nacionalidade espanhola, tem formação em Gestão Empresarial e é diplomado em Marketing e Relações Públicas. A sua carreira profissional esteve ligada, durante dez anos, à Administração espanhola, tendo ocupado diversos postos no estrangeiro. Presidiu os Conselhos Fiscais e Assembleias Gerais de várias empresas do Grupo Totta/ Banesto e Directivo no Barclays Bank South Africa, no Banesto e no Banco Santander. Actualmente é consultor de investimentos financeiros e administrador de empresas. Foi, igualmente, presidente de várias associações empresariais, sendo hoje Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola, cargo que ocupa desde 1998. Agraciado por sua majestade, o Rei D. Juan Carlos I, com a Comenda de Isabel a Católica, a Comenda de Número da Ordem de Mérito Civil, recebeu ainda a condecoração de Cavaleiro da Ordem de Mérito Civil e a Cruz de Ouro do Agrupamento Espanhol de Fomento Europeu e Fidalga Cortesia Espanhola, entre outras distinções atribuídas, nomeadamente, na África do Sul, país onde viveu mais de 25 anos.

26 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


A C. Comércio é uma ins-

comércio bilateral, a um au-

eleita em 1997, ter introduzi-

tituição de referência. Quer

mento muito significativo do

do uma nova dinâmica e um

contar-nos como e quando

número de associados. Evi-

modelo de gestão empresa-

teve início em Portugal?

dentemente que existem ou-

rial tem permito nestes últi-

Agradeço-lhe a referência

tros factores que têm contri-

mos anos amortecer os fortes

implícita nas suas primeira

buído para captar o interesse

impactos da crise económica.

palavras. A Câmara foi fun-

das empresas em se associar

Quanto aos investimentos

dada em 1970 por um grupo

à Câmara e tem a ver com

de Empresas: Espanha/Por-

de empresários portugueses

a implementação de novos

tugal- Portugal/Espanha.

e espanhóis residentes em

serviços e uma nova dinâmi-

Calcula-se que existam, em

Portugal e contou com o

ca que a Câmara recuperou a

Portugal, cerca de 1.600 em-

entusiasmo e apoio do então

partir de 1997 com a eleição

presas participadas a operar

Conselheiro Comercial da

de novos Corpos Sociais.

com capital espanhol e cerca

Embaixada de Espanha em

Qual é o histórico dos

de 500 empresas, em Espa-

Lisboa.

indicadores financeiros da

nha, participadas por capital

Como qualquer associação

Câmara, contando desde a

português. Em termos de investimento

empresarial iniciou a sua actividade com um número muito limitado de associados, cerca de 100 sócios. Devemos, no entanto, ter em conta que naquela década a presença de empresas e quadros espanhóis em Portugal era muito reduzida e centrada em muitos poucos sectores como o têxtil, a cortiça ou a hotela-

"

FOI POSSÍVEL IDENTIFICAR 1.200

EMPRESAS QUE REPRESENTAM UM VOLUME DE NEGÓCIOS DE MAIS DE 16 MIL MILHÕES DE EUROS

ria, esta última muito ligada à

"

e segundo um levantamento que a Câmara realizou, foi possível identificar 1.200 empresas que representam um volume de negócios de mais de 16 mil milhões de euros, que corresponde a aproximadamente 8% do PIB português, e empregam mais de 82 mil trabalhadores. Quantos associados e qual o objectivo da Câmara?

comunidade galega residente

sua criação?

em Portugal.

A quotização é uma impor-

Qualquer associação empre-

O comércio bilateral também

tante receita da Câmara e

sarial ambiciona incorporar

era relativamente reduzido e

portanto a entrada de novos

um número cada vez maior

amparado no acordo España

sócios é determinante para a

de sócios. No caso desta

– EFTA (anexo P) e os inves-

saúde financeira da Câmara.

Câmara, pelo que represen-

timentos bilaterais também

Outras fontes dignas de refe-

ta nas relação económicas

eram incipientes, se bem que

rencia são as actividades de-

e comerciais pensamos que

nos finais da década de 70 já

senvolvidas pela Câmara cujo

há espaço para a entrada de

começavam a dar sinais de

resultados dependem, em

novos associados e ampliar

algum dinamismo.

certa medida, da conjuntura

a oferta de serviços dirigidos

Pode falar-nos da expan-

económica dos dois países e

aos associados e às empre-

são da Câmara, sobretudo

do dinamismo das suas rela-

sas que operam no mercado

no tocante aos Associa-

ções bilaterais. Outra fonte

ibérico.

dos?

importante refere-se à for-

O papel dos Embaixadores

O número reflecte, de cer-

mação cujos resultados têm

era até há alguns anos emi-

ta forma, o dinamismo das

acompanhado a conjuntura.

nentemente político. Fale-

relações económicas e co-

E por ultimo os subsídios

-nos da crescente impor-

merciais entre os dois países.

concedidos pelo Ministério da

tância da função económica

Por exemplo assistiu-se a

Economia de Espanha, que

dos nossos diplomatas.

partir de 1986, com a entra-

nos últimos anos têm diminuí-

A diplomacia económica é

da dos dois países na União

do radicalmente.

uma ferramenta importantís-

Europeia e a liberalização do

O facto da Junta Directiva,

sima não só para apoiar as

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 27


Enrique Santos

empresas nos seus esfor-

de, justiça e liberdade, mas

vantagens competitivas em

ços de internacionalização

só poderemos ter uma socie-

relação a outras regiões do

mas projectar a imagem do

dade mais justa e equilibrada

globo. Conta com um entor-

pais (mercado) nos mercados

se colocarmos o individuo,

no empresarial e de negó-

internacionais, melhorando a

as pessoas como objectivo e

cios competitivo, moderno e

percepção que, neste caso,

centro das decisões, e por-

aberto e possui activos muito

os espanhóis têm de Portu-

tanto acredito que a valori-

valiosos como a qualificação

gal, por exemplo. Nos últimos

zação do individuo, nas suas

da população espanhola, a

anos todos os governos têm

inúmeras dimensões, permiti-

língua castelhana que é fala-

prestado uma atenção muito

rá criar a tal sociedade mais

da por mais de 450 milhões

especial nas áreas económi-

justa a que todos ansiamos.

de pessoas no mundo, uma

cas, considerando-as como

Gostaria que falássemos

relação histórica e próxima

agora sobre algo inevitável.

com a América Latina e o

A actual crise económica e

Mediterrâneo, etc.

financeira mundial…

A propósito… como enca-

Contrariando os pressupos-

ra o desenvolvimento de

tos da sua pergunta, consi-

Portugal?

dero que a crise económica

Com optimismo. Portugal está

e este ambiente pessimista

a atravessar um ciclo eco-

localiza-se na Europa e com

nómico difícil com medidas

maior intensidade nos países

muito duras de ajustamento,

do sul. O resto do mundo

mas estou certo que come-

está a crescer. Infelizmente a

çarão a dar os seus resulta-

Europa não tem conseguido

dos a curto prazo. Se a este

encontrar soluções para os

ambiente de maior equilíbrio

eixos fundamentais da sua

seus desequilíbrios e assi-

orçamental e acesso ao cré-

política externa, contraria-

metrias internas. É indiscu-

dito juntarmos a capacidade

mente ao que sucedia antiga-

tível que o Euro é um dos

empreendedora dos empre-

mente com a diplomacia mais

projectos mais importantes

sários portugueses o desen-

tradicional que centrava a

a seguir à segunda guerra

volvimento voltará a Portugal

sua actuação em áreas mais

mundial e a unificação eu-

certamente.

ligadas à segurança e manu-

ropeia, mas necessita de

Que palavras gostaria de

tenção da paz ou cooperação

encontrar mecanismos adap-

deixar para todos, quanto

política, etc.

táveis às realidades de cada

às relações económicas

Portugal deve aproveitar a

um dos mercados.

com Portugal?

sua extensa rede de Embai-

A América, a Europa, e mais

Apesar de neste momento as

xadas, Consulados, Dele-

alguns países da Ásia lutam

relações económicas luso-

gações de Turismo ou Dele-

para o fim da crise. Que

-espanholas viverem um ciclo

gações do AICEP para dar

papel a Espanha pode de-

ligeiramente recessivo, na

apoio efectivo às empresas

sempenhar para contribuir

componente comercial não

portuguesas que se interna-

na solução deste problema

deixam de ser relações muito

cionalizar.

mundial?

dinâmicas, com importan-

Neste mundo tão competiti-

A Espanha como potência de

tes volumes de transacções

vo do século XXI, marcado

média dimensão e um impor-

o que manifesta o nível de

por escassez de empregos,

tante país da EU é chamada

maturidade do mercado ibé-

tensões terroristas, e uma

forçosamente a ter um papel

rico que conseguiu uma forte

forte dependência da tecno-

importante na procura de

interdependência e inter-

logia… que valores defen-

soluções. Além do seu inegá-

-relação entre si, ajudando

de?

vel nível de desenvolvimen-

a amortecer o impacto da

Naturalmente que defendo os

to, é uma economia aberta

crise.

valores ligados à solidarieda-

e possui enormes activos e

"

NATURALMENTE QUE DEFENDO

OS VALORES LIGADOS À SOLIDARIEDADE, JUSTIÇA E LIBERDADE

"

28 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n

M.B.



Dossier Business & Diplomacy

Marcela Caetano Popoff Presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso Uruguaia

“Formada em Literaturas, Ciências da Educação e Humanidades no Uruguai e Brasil, tendo sido membro do Conselho Editorial de revistas de prestígio da Venezuela, Brasil, México e Buenos Aires. Marcela Caetano, com um vasto currículo de estudos literários, é hoje a Presidente da Câmara do Comércio e Indústria Luso Uruguaia, com quem conversámos sobre este país que nos surpreendeu pelas suas enormes capacidades e desenvolvimento.”

30 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


Quer contar-nos como e quando

junto dos serviços governamentais,

Luso Uruguaiana, referimos:

é que a CCILU-Camara do Comér-

entidades públicas ou privadas,

Promoção dos associados junto das

cio e Industria Luso Urugaia teve

quer uruguaias quer portuguesas,

diferentes entidades públicas e priva-

início em Portugal?

podendo as mesmas estender-se ao

das de acordo com os interesses;

A CCILU é fruto de uma necessidade

continente americano. ACCILU está

Organização de missões especiali-

sentida por um grupo cada vez mais

sediada na Avenida da Liberdade nº

zadas de membros que se dediquem

numeroso de empresários de ambos

110, 1º Andar, em Lisboa e pode ser

aos diferentes sectores de actividade,

os lados do Atlântico, numa altura

contactada via E- mail: geral@ccilu.

e que pretendam ser promovidos em

em que, por razões várias, é visível a

pt, Skype: ccilu.pt; Tel: +0351 212

eventos diferenciados – feiras, en-

intensificação das relações culturais,

961 158.; site: www.ccilu.pt.

contros bilaterais e outros que sejam

económicas, industriais e financei-

Pode falar-nos da expansão da

organizados no Uruguai e Portugal;

ras entre os países da comunidade

Câmara, sobretudo no tocante aos

Organização de “Stands” portugue-

Ibero-Americana.

Associados?

ses e uruguaios em feiras e outros

O Uruguai, um dos países mais

A CÂMARA no seu objecto, vasto,

eventos que ocorram no Uruguai

estáveis e promissores da região,

integra entidades diferenciadas que

e Portugal; pesquisa de mercado,

apresenta um crescimento da sua

são associadas e da qual lhes presta

pedidos de avaliação de referências

economia, com captação de in-

serviços. As entidades que dela fa-

indicadas pelos membros, referen-

vestimentos e promoção das suas

zem parte e que poderão fazer parte

ciação de empresas uruguaias e

exportações para o mundo inteiro;

são:

portuguesas; apoio aos membros

uma óptima localização e segurança

Pessoas individuais; empresas dos

na exportação e importação, quanto

interna, favoráveis ao desenvolvimento de negócios no Cono Sur da América Latina; um capital humano disponível aliado aos projectos de desenvolvimento de infra-estruturas públicas; uma estabilidade política e os tratados de livre comércio que o transformaram num dos mercados mais atractivos para o investimento estrangeiro na actualidade. O Uruguai pode ser uma importante porta de entrada no continente americano, assim como Portugal, o

a legislação vigente no Uruguai e

"

POSICIONA-SE EM PRIMEIRO LUGAR, QUANTO AOS DIFERENTES ÍNDICES, ESTABILIDADE POLÍTICA E SOCIAL, DE-

MOCRACIA, TRANSFORMAÇÃO POLÍTICA E ECONÓMICA E QUALIDADE DE VIDA

"

Portugal, contacto com empresas transportadoras, apoio jurídico entre importadores e exportadores; Proporcionar cursos em Língua Espanhola, de acordo com o número de interessados; Realização de traduções e retroversões. Qual é o histórico dos indicadores financeiros da Câmara, contando desde a sua criação? Actualmente a Câmara de Comer-

poderá ser na Europa e em África.

diferentes sectores; associações pro-

cio e Indústria Luso Uruguaiana,

Considerando a dependência cres-

fissionais; associações de sectores

conta com 20 associados efectivos,

cente da internacionalização da sua

económicos; federações de negócios

estando em análise outros possíveis

economia portuguesa para poder

e de empregadores; outras organiza-

candidatos, que para o efeito sub-

ultrapassar a grave crise económi-

ções nacionais e internacionais.

meteram a sua inscrição. Traduz-se

ca e social que atravessa, existem,

Essas mesmas entidades associadas

assim num saldo positivo, conside-

condições favoráveis ao desenvolvi-

da Câmara de Comércio e Indústria

rando o curto espaço de tempo em

mento de parcerias estratégicas entre

Luso Uruguaiana beneficiam de

que opera.

os dois países. Fundada em Feve-

pertencer a um grupo organizado e

Quanto aos investimentos de

reiro de 2013 e tendo como objectivo

disciplinado, que estabelece relações

Empresas: Uruguai/Portugal- Por-

fomentar as relações económicas e

individuais, empresariais, sectoriais

tugal/Uruguai

culturais bilaterais entre o Uruguai e

privilegiadas entre as diferentes

O Uruguai caracteriza-se por uma

Portugal, é uma associação de direito

entidades públicas e privadas de

estabilidade política e social, por uma

privado português, sem fins lucrati-

Portugal e Uruguai, em parceria com

solidez macroeconómica, abertura co-

vos, que visa fomentar e representar

outras organizações internacionais

mercial, localização estratégica e infra

os interesses dos intervenientes

com os mesmos objectivos.

ACCILU que está sediada na Avenida

nas relações culturais, económicas,

Como serviços prestados pela CCI-

da Liberdade nº 110, 1º Andar, em

industriais ou financeiras bilaterais

LU- Câmara de Comércio e Industria

Lisboa e pode ser contactada via

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 31


Marcela Caetano Popoff

E- mail: geral@ccilu.pt, Skype:

-se em Primeiro lugar).

1H a 3H por via área (inclui tempo na

ccilu.pt; Tel: +0351 212 961 158.;

Como principais Origens da IED,

alfândega).

site: www.ccilu.pt. estrutura mo-

Argentina, Espanha, Brasil, Estados

Possui boas conexões fluviais (Hi-

derna, sendo favorável ao clima de

Unidos da América, Inglaterra, Chile,

drovia Paraná-Paraguai-Uruguai),

negócios.

Coreia do Sul, França, Alemanha,

marítimas, terrestres (estradas) e

No contexto da América do Sul, po-

Venezuela,Finlândia, China, Colôm-

aéreas. A sua infraestrutura portuá-

siciona-se em Primeiro lugar, quanto

bia e México. Os principais sectores

ria de primeiro nível já é um “HUB”

aos diferentes índices, Estabilidade

receptores da IED é a da construção

regional por excelência para o Cone

Política e Social, Democracia (Econo-

(24%), pecuária, agricultura e flores-

Sul da América. A rede de estradas

mist Entelligence,2011), Transforma-

tação (23%) manufacturas (11%),

mais densa da América Latina.

ção Política e Económica (Fundação

intermediação Financeira (8%) e

Novo Aeroporto, novo anel perime-

Bertelsmann, 2012)e Qualidade de

hotéis e restaurantes (6%).

tral em Montevideu e novo porto de

Vida (Merecer Quality of Living City

Consideramos que o potencial de

ferries em Colónia.

Ranking, 2011); posiciona-se em

negócio no Uruguai para as empre-

O Uruguai pretende em 2015 ser

Segundo lugar na Baixa Corrupção

sas portuguesas, passa pela sua

o primeiro país do mundo em que

(Transparêncial Internacional, 2011),

fixação no Uruguai, pela constituição

90% da produção de energia eléc-

Liberdade Económica (Heritage

de empresas de direito uruguaio, em

trica que consome seja produzida

Foundation, 2012), Índice Global de

diferentes sectores, de acordo com

por fontes renováveis, o que poderá

as necessidades do seu mercado

significar uma oportunidade para

interno ou pela evolução das ex-

as empresas portuguesas a operar

portações por sector de actividade,

no Uruguai. Considerando o Fórum

podendo ser complementado com a

Económico Mundial, no seu Relatório

fabricação de outros produtos líderes

de Competitividade Global de 2012-

no mercado português e que poderão

2013, o Uruguai a nível de Ranking,

ter por destino o mercado interno

posiciona-se em 37º Lugar, a frente

"

A TAXA MÉDIA DE CRESCIMENTO

ANUAL ENTRE OS ANOS DE 2005 E 2011 FOI DE 6%

"

do Uruguai e todo o MERCOSUL (

de Itália (38º), Chile(53º), Brasil(68º),

Paz (Institute for Economics & Peace,

Ex: Grupo Pestana, Grupo Jerónimo

Argentina(108º) e Portugal(115º).

2012), Índice de Clima Económico

Martins, Galp, Mota-Engil, Portucel,

Também a área das Telecomunica-

(Fundação Getúlio Vargas & IFO,

Sonae, ..).

ções poderá ser um sector de inte-

Abril 2012); posiciona-se em Terceiro

As empresas portuguesas ao ope-

resse para as empresas portugue-

Lugar no Índice de Desenvolvimento

rarem via Uruguai têm acesso ao

sas, considerando a fonte da União

Humano (Programa de Desenvolvi-

seu mercado doméstico, com uma

Internacional de Telecomunicações

mento das Nações Unidas, 2011) .

População de 3,3 Milhões de Habi-

, 2011, que posiciona o Uruguai em

A sua solidez macroeconómica,

tantes, que apresentou em 2011 um

Primeiro lugar na América Latina,

abertura comercial, localização estra-

PIB (USD Milhares de Milhões) de

quer em comunicações móveis, quer

tégica e infra-estrutura moderna, são

46,7 e um PIB per capita de (USD)

em serviços de acesso à Internet.

algumas das características favorá-

14.213, sendo o crescimento do PIB

O Uruguai importa essencialmente

veis ao clima de negócios.

em 2011 de 5,7%; e acesso ao mer-

combustíveis minerais, óleos mine-

A sua Taxa Média de Crescimento

cado do MERCOSUL que apresenta

rais e produtos da sua destilação,

Anual entre os Anos de 2005 e 2011

uma População de 276 Milhões, que

matérias betuminosas, ceras mine-

foi de 6% ( Fonte do Banco Central

apresentou em 2011 um PIB (USD

rais, máquinas diversas, aparelhos e

do Uruguai, Fundo Monetário Interna-

Milhares de Milhões) de 3.307 e um

instrumentos mecânicos, veículos au-

cional, WEO Outubro 2012); Estima-

PIB per capita de (USD) 11.982,

tomóveis, tractores e outros veículos

-se que o PIB per capita (US$,PPC)

sendo o crescimento do PIB em 2011

terrestres, bem como outras partes

em 2015 seja 19.447.

de 3,7%.

e acessórios de diferentes equipa-

No contexto da América do Sul,

O Uruguai usufrui de uma localização

mentos, aparelhos eléctricos, produ-

posiciona-se em Segundo lugar, no

estratégica privilegiada, conside-

tos diversos para indústria química,

que diz a captação de investimento,

rando o trânsito de mercadorias na

fertilizantes, produtos farmacêuticos,

tendo por comparação países como

região MERCOSUL, Chile e Bolívia.

ferro fundido e outros metais, alimen-

Chile, Peru, Brasil, Colômbia, Para-

A distância até às principais cidades

tos preparados para animais, calçado,

guai e Argentina (o Chile posiciona-

é de 12H a 96H por via terrestre e

sabões, mobiliário,…, produtos dos ➤

32 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


quais as Empresas portuguesas

e que se traduzem em mercadorias

futuro, entre todas as preocupações

poderão fazer parte dos países ex-

isentas de todo o tributo e sobrecarga

a que mais assustou e ainda assus-

portadores, tal como o Brasil, Argenti-

aplicável à importação e de todo o

ta é a questão do emprego, visto

na, EUA e Alemanha.

tributo interno (Ex: IVA); Livre trânsito

este ser a fonte directa para renda e

Para uma Empresa Portuguesa

de mercadorias sem exigência de

sustento da maior parte da população

que queira investir no Uruguai,

autorizações nem de trâmites for-

no mundo.

qual é a melhor forma de entrar no

mais; desoneração de impostos ao

O desemprego nos países Indus-

mercado?

património e dos impostos às rendas

trializados surge com a necessidade

Constituir uma Empresa de direito

para as pessoas jurídicas do exterior;

da reestruturação mundial orientado

Uruguaio para operar numas das

desenvolver actividades como arma-

para os grandes Grupos económi-

suas Zonas Francas, em que para

zenamento, reembalagem, remar-

cos, com as mudanças setoriais que

o efeito deverá contar as entidades

cação, classificação, reagrupação,

afetam os padrões existentes desde

competentes para o efeito.

consolidação e desconsolidação,

o início do século XX e que estavam

A CCILU Câmara do Comércio e In-

manipulação e fraccionamento de

direcionados para as economias

dustria Luso Uruguaia, apoiará todos

mercadorias.

nacionais (HARVEY 1993).

os seus Associados na constituição

O papel dos Embaixadores era até

A implementação da Tecnologia em

de Empresas de direito Uruguaio.

há alguns anos eminentemente

larga escala, em diferentes sectores

Há benefícios fiscais para a Fixa-

político. Fale-nos da crescente

de atividade, substituindo as pes-

ção de Empresas Portuguesas? De

importância da função económica

soas, ao dispensarem a intervenção

que tipo?

dos nossos diplomatas.

humana de uma forma constante,

No que diz a promoção do Investi-

Na acção externa os interesses

também tem sido gerador de conflitos

mento, o Uruguai apresenta como

económicos estiveram sempre

(RIFKIN 2002), acrescida da compe-

benefícios Fiscais:

associados aos interesses políticos

titividade natural ou forçada entre os

(1) 100% de desoneração do Imposto

dos países, do período da expansão

mercados mundiais.

ao Património, para obras civis, em

à consolidação dos impérios colo-

Tanta tecnologia e progresso tecno-

que se traduz em 8 anos em Monte-

niais, da Guerra Fria à nova fase da

lógico não trazem benefícios a todos,

videu e 10 anos nas restantes partes

Globalização

cito o exemplo dos países onde a

do país, sendo para toda a vida para

Com o avanço decisivo da globa-

bens de activo fixo;

lização os governos passaram a

(2) 100% de desoneração quanto a

empenhar-se de forma decisiva na

tributos de Importação, para bens

diplomacia económica. Porque os

móveis de activo fixo, bem como

resultados económicos e o bem-estar

novos e usados, sendo excepção os

do país passaram a estar em larga

produzidos no país;

medida mais dependentes da inte-

(3) 100% de desoneração do Imposto

racção entre a economia nacional, as

quanto ao IVA referente a Materiais

economias regionais e a economia

e Serviços de Obra Civil, através de

mundial.

Certificados de Crédito.

A última reunião do G20 ilustra bem

(4) Os utilizadores de Parques Indus-

a extraordinária importância da

triais são elegíveis para os Benefí-

diplomacia económica na procura de

robotização e a constante evolu-

cios compreendidos na Lei Geral de

solução para os problemas econó-

ção tecnológica colocam em risco

Promoção de Investimentos;

micos mundiais desencadeados

milhões de postos de trabalho no

O Uruguai apresenta portos e aero-

pelo comportamento das instituições

mundo. Países como a China, com

portos livres, ou seja os únicos Portos

financeiras dos EUA.

um constante crescimento Industrial

livres da Costa Atlântica da América

Neste mundo tão competitivo do

e económico, podem provocar uma

do Sul (Lei Interna Nº 16.246).

século XXI, marcado por escassez

exclusão gigantesca, considerando é

A Lei Interna Nº 17.555 declara o

de empregos, tensões terroristas,

o país mais populoso do mundo.

Aeroporto Internacional de Carrasco

e uma forte dependência da tecno-

Em alguns países desenvolvidos já

em regime de Aeroporto Livre.

logia… que valores defende

são visíveis os problemas decorren-

Assim sendo o Uruguai apresenta

O final do século XX foi marcado por

tes do desemprego, como o aumento

benefícios para ambos os regimes,

inúmeras preocupações quanto ao

da criminalidade.

"

O URUGUAI PRETENDE EM 2015 SER O PRIMEIRO PAÍS DO MUNDO EM QUE 90% DA PRODUÇÃO DE ENERGIA ELÉCTRICA QUE CONSOME SEJA PRODUZIDA POR FONTES RENOVÁVEIS

"

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 33


Marcela Caetano Popoff

Considero que os Governos devem

de que desta crise terão de resultar

E os países das economias emer-

encontrar soluções que aliem tec-

reajustamentos muito significativos

gentes, como o Uruguai também não

nologia e empregabilidade, já que

a nível económico, social, político e

deixarão de aproveitar a oportunida-

as pessoas tiram o seu sustento do

geoestratégico.

de para reivindicar uma maior quota

trabalho, em que a não existência de

Ao nível económico, terá de haver,

de participação nessas instâncias

trabalho levará ao comprometimento

pelo menos, um redesenho dos

de governação, sendo um HUB no

dos seus futuros.

incentivos por forma a favorecer mais

MERCOSUL e país de ligação entre

Quanto à tensão terrorista Mundial,

os resultados de longo prazo e a

o MERCOSUL e a ALCA via México.

apesar de não haver acordo sobre

desencorajar comportamentos dema-

Para que desta eventual revisão não

a definição de “terrorismo”, aceita-

siado geradores de direitos de saque,

decorra um sério revés da produ-

-se, de modo geral, que o ataque

líquidos, sobre o futuro.

tividade indispensável ao continuo

ao World Trade Center, em 11 de

A América, a Europa, e mais al-

progresso económico, a educação

setembro de 2001, inaugurou uma

guns países da Ásia lutam para o

deverá ser o principal recurso utiliza-

nova era deste fenómeno.

fim da crise. Que papel a América

do, para aumentar as capacidades

Nesta década que se seguiu, assis-

do Sul/ Uruguai, pode desempe-

dos candidatos à maior participação

tiu-se a uma proliferação de casos

nhar para contribuir na solução

nos recursos do rendimento.

no Afeganistão e no Iraque, inva-

deste problema mundial?

A propósito… como encara o de-

didos pelos EUA em 2001 e 2003,

Os Estados Unidos, mas sobretudo

senvolvimento de Portugal?

mas também mantiveram-se outros

a Europa, continuam a não conse-

O Uruguai pode ser uma importante

focos de atividades desta natureza, como a ingerência chechena na

porta de entrada no continente ameri-

"

Questiono se por vezes os atentados

ESPERA-SE QUE O AGRAVAR DA CRISE NÃO VENHA A DESENCADEAR COMPORTAMENTOS DEMASIADOS AUTOCENTRADOS, ENTRE OS MEMBROS

terroristas , dando como o exemplo o

DA UE

Rússia ou movimentos separatistas na Índia. Cléricos cristãos, islâmicos, budistas e de outras religiões são veementemente contrários à expansão da religião por meio da guerra ou de outros meios terroristas.

cano, assim como Portugal, o poderá ser na Europa e em África. Considerando a dependência crescente da internacionalização da sua economia portuguesa para poder ultrapassar a grave crise económica e social que atravessa, existem, condições favoráveis ao desenvolvimento de parcerias estratégicas entre os dois países.

outras as motivações, embora não

"

Portugal está a meio caminho entre

Espera-se, que o agravar da crise

O Atlântico é, hoje, uma ponte entre

anule o carácter criminoso de tão ab-

não venha a desencadear compor-

uma região em processo de afirma-

surdo e irracional acto de agressão!

tamentos demasiado autocentrados,

ção (América Latina) e o continente

Gostaria que falássemos agora so-

entre os membros da UE, ao esva-

do século XXI (África). E Portugal tem

bre algo inevitável. A actual crise

ziar-se do princípio da solidariedade

potencialidades a explorar nas duas

económica e financeira mundial...

essencial à sua existência, acabem

margens: desde logo, o Brasil e An-

Esta crise, que começou por ser

por conduzir à sua implosão.

gola, países de língua portuguesa em

financeira, mas que presentemente já

A China, por exemplo, se souber

franco crescimento económico, mas

é económica, acabará por funcionar

jogar a oportunidade que tem de

também as comunidades lusófonas

como um catalisador para uma refor-

se constituir um importante motor

na Venezuela e na África do Sul, por

ma do sistema de regulação eco-

da retoma mundial, revalorizando

exemplo, países de grande importân-

nómica internacional, que muitos já

a sua moeda e utilizando as vastas

cia económica para Portugal.

vinham reclamando, desde há algum

reservas acumuladas para dinamizar

Que palavras gostaria de deixar

tempo, visando ajustá-lo à dimensão

a procura – doméstica e mundial –

para todos, quanto às relações

da nova globalização.

poderá obter como contrapartida uma

económicas com Portugal?

O actual modelo económico continua

importante posição nas instâncias,

Uruguai um Pais para Investir, Traba-

a ser essencial para o bem-estar

formais e informais, da governação

lhar e morar.

da Humanidade, estou convencida

mundial.

atentado terrorista de 11/09 em NY,

a Europa, América e África, que o

EUA, sejam gerados somente por

guir apresentar-se como uma frente

Atlântico pode tirar o país da periferia

motivações políticas / religiosas e não

unida, falando a uma só voz.

europeia.

34 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n

M.B.


MÊS/MÊS 2011 - DIPLOMÁTICA • 35


Dossier Business & Diplomacy

Gregor Zemp Secretário-Geral da Câmara do Comércio e Indústria Suíça em Portugal Opiniões sinceras de quem conhece profundamente as diferenças e similitudes entre Portugal e a Suíça

Fundada em 1987, a CCISP tem como Secretário-Geral Gregor Zemp, com quem tivemos uma conversa muito interessante e construtiva, acerca do momento político europeu e da cooperação comercial entre a Suíça e Portugal. Gregor Zemp, que vive em Portugal já há 12 anos, assumiu a liderança da CCISP há três anos, é casado com uma portuguesa e tem dois filhos. Com uma licenciatura em Direito pela Universidade de Zurique e um Doutoramento em Direito Comparado e Direito Internacional Privado em Lucerna, foi quadro de uma Sociedade de Advogados em Zurique e de uma empresa de consultadoria para empresas estrangeiras em Lisboa.

36 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


Dada a sua experiência sobre

os USA ou o Reino Unido têm

gestão cria um equilíbrio entre

a realidade portuguesa e suí-

uma política de crescimento

uma contabilidade rigorosa e um

ça, gostaria que me desse a

e não de restrição. A Europa

bom marketing baseado numa

sua opinião sobre as políticas

está a ter essa política restriti-

visão de estratégia de posicio-

restritivas da Europa versus

va para com os países de mais

namento para o futuro. No caso

crescimento

fraca economia que enrique-

de Portugal, este equilíbrio não

Posso dar-lhe a minha opinião

cem os países mais fortes

existiu. Primeiro, Portugal tinha

pessoal. A CCISP não tem qual-

A raiz do problema da restrição

muita mensagem de futuro, e

quer atividade política, sendo

está nos que pediram o emprés-

agora só tem a preocupação com

importante frisar que não é uma

timo. Quem pediu foi Portugal…

os números, cálculos e poupan-

posição oficial da Câmara, que

portanto a meu ver parece um

ças, implementados por pessoas

trata de assuntos económicos e

bocado infantil as opiniões que

que sabem muito sobre a ma-

não políticos. Vejo diariamente

dizem “A culpa é da Troika”, em-

croeconomia, mas pouco sobre

empresas portuguesas de grande

bora a mesma já tenha admitido

a economia real portuguesa. E o

qualidade e parece-me que, com

erros de procedimento.

resultado disso está à vista. Na

as atuais restrições, se tem ultra-

Penso que o governo anterior

minha função, trabalho todos os

passado o ponto de uma limpeza

implementou um regime virado

dias com diferentes empresas,

do tecido empresarial, sendo

para o marketing, com uma boa

sobretudo com PME’s, de todos

os setores, o que me permite

natural que numa mudança estrutural da economia, empresas menos competitivas fechem as portas. Julgo que neste momento se estão a destruir valores, ou seja, com a austeridade extrema destroem-se empresas que teriam uma justificação para

ouvir os empresários e ver as

"

MUITAS EMPRESAS COM BONS PRODUTOS OU SERVIÇOS NÃO ESTÃO A SOBREVIVER

"

sobreviver se tivessem a liquidez de que necessitam, tais como

divergências entre o que é dito por políticos e o que se passa no terreno. À gestão contabilística falta o elemento da visão para o futuro e a esperança, e as pessoas precisam de sentir que o sacrifício traz algo de positivo. Portanto, penso que tivemos os

as que têm credibilidade e enco-

aparência externa e com alguns

dois extremos. Mas se tivésse-

mendas. Os fornecedores, hoje

programas bons e novas medi-

mos uma média, uma boa estra-

em dia, pedem os pagamentos à

das, algumas delas muito boas,

tégia, um bom planeamento de

cabeça e, sem liquidez na caixa

como o programa Simplex, que

futuro, juntamente com uma boa

e muitos impostos a pagar, mui-

facilitaram o dia-a-dia das empre-

e eficaz gestão financeira, seria

tas empresas com bons produtos

sas. Mas outras terão sido maus

o caminho certo.

ou serviços não estão a sobre-

investimentos, sobretudo em

O papel dos Embaixadores

viver. Quanto às empresas que

infraestruturas sobredimensio-

que, até há alguns anos, era

estão mal, porque não acompa-

nadas que os portugueses agora

apenas político, passou, há al-

nharam as tendências do merca-

pagam. Neste momento temos o

guns anos, a ser também eco-

do, é natural que fechem.

contrário: Não há investimentos,

nómico. Poderá falar-me das

Devia pensar-se mais em cultivar

nem se reconhece uma visão

virtudes da função económica

feijões do em contar feijões, ou

para o futuro, e os procedimen-

dos Embaixadores? Aumenta-

seja, em vez de gastar todas as

tos e a burocracia complicaram,

ram os negócios desde que os

energias para que consiga pou-

muitas vezes excessivamente,

Embaixadores se dedicaram

par dez cêntimos, devia pensar-

por causa da fiscalização mais

também à área económica?

-se como se poderia aplicar os

apertada. Passaram de um

Hoje em dia é uma função im-

recursos para ganhar um euro. A

governo de marketeers para um

portante e quando se representa

aposta deve ir para o crescimen-

governo de contabilistas. Penso

um país, obviamente interessa

to e não apenas para a austeri-

que nem uma nem outra vertente

também a área económica. Mas

dade.

deverão ser dominantes. Qual-

de certa forma é tradição os Em-

Grandes países como a China,

quer organização com uma boa

baixadores suíços estarem

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 37


Gregor Zemp

em contacto com os empre-

negócios entre países, para além

partes significativas dos seus

sários e gestores de empresas

de ter informações sobre o mer-

membros.

suíças aqui em Portugal. E esta-

cado de destino, este trabalho é

Como encara o desenvolvimen-

mos também em contacto com o

crucial, porque dá a confiança à

to de Portugal?

Embaixador português na Suíça.

outra parte no momento chave

Estou aqui há 12 anos e pude

A AICEP terá como priorida-

na conquista de novos mercados.

assistir a um bom desenvolvi-

de captar investimento para

Penso que esta parte só nós con-

mento. Ir a um notário há anos

Portugal. Qual a diferença em

seguimos, embora sejamos muito

e hoje em dia em nada se com-

relação à Câmara? A Câmara

mais pequenos do que a AICEP.

para! Vi muita coisa positiva que

também tenta captar investi-

Por isso acho que somos com-

foi feita e posso dizer que tudo

mento português na Suíça ou

plementares: A AICEP apoia a

o que é online é muito bom, mas

facilita o investimento?

empresa com informação e talvez

os problemas começam quando

Na minha perspectiva somos, de

listagens de contactos, a CCISP

temos que nos dirigir a um bal-

certa forma, complementares. A

com a proximidade e a confiança

cão e os assuntos empatam. Nos

que criamos com os potenciais

últimos dois anos, as Finanças

clientes. E isso só consegue

apertaram a fiscalização, e no

alguém que nasceu e cresceu na

fundo ter uma fiscalidade eficaz

Suíça, que fala fluentemente a

é uma coisa boa, mas houve um

língua, quem segue diariamente

excesso e todos podem sofrer

aos acontecimentos políticos e

com isso. Por exemplo, tivemos

económicos daquele país, quem

recentemente um caso em que

até troca as suas opiniões sobre

um suíço, que tem um grande

isso com a “vox populi” (família

projeto com um investimento que

"

OS PROBLEMAS COMEÇAM QUANDO

TEMOS QUE NOS DIRIGIR A UM BALCÃO E OS ASSUNTOS EMPATAM

"

e amigos) e quem faz viagens

pode criar mais do que 150 pos-

AICEP tem coisas que a Câmara

regulares para estar perto dos

tos de trabalho, não conseguia

não tem e a CCISP tem coisas

assuntos.

que lhe dessem o número de

que a AICEP não tem. A meu ver,

Que palavras gostaria de dei-

contribuinte.... Fazemos grandes

a AICEP tem todo um aparelho e

xar sobre as relações económi-

esforços para que venham para

toda uma estrutura, com dados

cas com Portugal. As relações

Portugal e depois, uma coisa tão

económicos, informações sobre

com os emigrantes. A Câmara

simples como a atribuição de um

feiras etc., conseguindo produzir

também trata desse assunto?

número de contribuinte, bloqueou

informações e dados que não

Sim, nós tratamos. É verdade

atrozmente todo o processo, por-

temos. Por outro lado é um facto

que, até 2010, a CCISP era uni-

que uma nova lei, que saiu em

que nós somos o país de lá, ou

lateral e sobretudo dirigida para

Janeiro deste ano, diz que todos

seja, eu cresci na Suíça, conheço

as empresas suíças em Portugal.

os suíços necessitam de um

a Suíça, vivi na Suíça durante

Hoje temos 150 empresas as-

carimbo no passaporte. Trata-se

25 anos e, portanto, quando uma

sociadas. Não somos uma das

de uma exigência que viola os

empresa portuguesa quer entrar

maiores Câmaras de Comércio,

tratados bilaterais entre a Suíça

na Suíça, sei como ela se tem

mas a nossa aposta vai para a

e a UE, pois a Suíça faz parte

de preparar para que seja bem

qualidade do nosso trabalho e

do espaço Schengen. Mas o que

recebida e conseguir as portas

sobretudo para a relação pes-

é certo é que as Finanças não

abertas da melhor forma pos-

soal, algo que nos tempos das

davam o número de contribuinte

sível, para que tenha sucesso.

redes sociais com contactos mui-

sem um carimbo no passaporte

Posso ligar para uma empresa

to superficiais ganha cada vez

(que para um Suíço é impossível

Suíça e falar em suíço-alemão

mais importância. Por isso con-

obter), devido a esta “lei” absur-

dizendo ”olhe temos aqui uma

tamos com uma grande lealdade

da. Estas situações não podem

empresa portuguesa que produz

dos nossos associados, o que se

acontecer. Fiz uma reclamação

isto ou aquilo muito bem” tudo

mostrou na atual crise. Tivemos

nas Finanças e informei um re-

dito em bom suíço-alemão, o que

um crescimento, enquanto muitas

presentante da Troika, para que

pode abrir portas. Quando se faz

outras organizações perderam

entendam melhor com um caso

38 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


concreto porque Portugal não

carimbo no passaporte, e para

é natural que não alcance tudo.

consegue atrair mais investimen-

ver se resolvia o problema, pedi

Deverá existir uma estrutura –

to.

ao investidor suíço para que,

que inclui a consulta das pessoas

Muitas vezes as ideias de quem

quando voltasse, pedisse o

no terreno – que lhe permita

toma medidas até são boas, mas

carimbo no aeroporto. Ligou-me

tomar conhecimento de todas as

é a concretização no terreno que

então do aeroporto, dizendo que

implicações que a decisão terá.

falha. Por isso é que eu digo que

tinha cinco pessoas à sua volta

Os problemas deste país serão

há falta de coordenação entre

e ninguém sabia de nada. Creio

então estruturais?

diferentes secções da função

que, se tivesse ido logo à AICEP,

Penso que são de coordenação

pública e falta de comunicação

poderia ter tudo mais facilitado,

da parte da função pública, aí

horizontal dentro da própria sec-

mas não deveria ser assim.

acho que existem problemas.

ção. Problemas absurdos como

Qualquer cidadão, independen-

Também é preciso reduzir o peso

este exemplo estragam todo o

temente se cria 150 postos de

do Estado. Ter menos funcioná-

processo para atrair investidores.

trabalho ou só 10, deverá rece-

rios públicos e pagá-los melhor

Seja como for, se Portugal quer

ber um tratamento simpático e

(em vez de pior como atual-

mudar esta situação, será neces-

adequado, porque mesmo os 10

mente), para que tenham mais

sário que os governantes saibam

postos deverão ser aproveitados.

responsabilidades e que fiquem

ouvir para identificar onde se

Claro que muitos dez postos…

mais motivados. Estruturalmente,

encontram os problemas, e isso

Exactamente. As coisas devem

Portugal já se desenvolveu mui-

só pode mostrar quem acompa-

funcionar, não através de pedi-

to, desde que estou aqui. O setor

nha, no dia-a-dia, as empresas

dos a ministros, grandes chefes

primário, o secundário e o ter-

no terreno.

e conhecidos. Esta é a parte

ciário desenvolveram-se. Agora

Penso que tudo seria tratado

negativa desta fiscalização, que

voltou-se ao setor primário, com

imediatamente se fossem ao

é feito por pessoas que criam

a agricultura, mas de uma forma

Ministério dos Negócios Es-

este tipo de leis e circulares sem

mais moderna, o que é muito

trangeiros…

conhecerem a realidade, nem

interessante e também a moder-

Mas não deveria ser assim. O

refletirem o suficiente nas im-

nização tecnológica da indústria

problema é que os ministros são

plicações que, algumas regras

pessoas bem formadas e sabem

que criam, podem ter no terreno,

como as coisas deveriam funcio-

portanto acho que é aí que falha.

nar, não é necessário convencer

Quando é feita uma regra deve-

nenhum deles. O problema é

-se pensar em tudo. Diz-se que

na coordenação e na informa-

as leis aqui são tricotadas com

ção; representantes da Troika

agulhas quentes: tem-se uma

confirmaram-me que muitas

ideia, faz-se uma lei e está feita.

vezes a informação só funciona

Na Suíça é ao contrário, demo-

de forma vertical. Vai do ministro

ram muito mais tempo, porque to-

para o chefe mas nunca vai de

das as partes implicadas devem

forma horizontal; vai talvez para

ser consultadas. Recebem-se

é de referir.

o chefe de Repartição e este

os comentários da praça pública

Quando acha que Portugal

talvez não distribua nem explique

para corrigir os erros que a lei

poderá alcançar o equilíbrio e a

a informação aos funcionários

possa ter e assim evitar impli-

retoma como país economica-

que nos atendem, e aí temos o

cações negativas que a mesma

mente independente?

problema. Os gestores de topo

possa ter. Quem está realmente

É difícil prever-se, mas penso

sabem como as coisas deveriam

interessado no assunto vai pro-

que em cinco, dez anos. Se

funcionar, o que falta é depois

nunciar-se e vai lutar, e na Suíça

Portugal aproveitasse o potencial

passar bem a mensagem, porque

– ao contrário de Portugal – o

que existe, podia crescer muito,

toda a máquina deverá funcionar

povo têm os instrumentos demo-

mas a verdade é que primeiro as

com coerência. Por exemplo:

cráticos para o fazer. Um gabi-

coisas têm que funcionar. Depois,

depois das Finanças exigirem o

nete que crie um ofício/circular,

outra lacuna que eu vejo aqui, é

"

SE PORTUGAL APROVEITASSE

O POTENCIAL QUE EXISTE, PODIA CRESCER MUITO

" ➤

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 39


Gregor Zemp

que não há informações sobre

nhecem. Uma pequena estrutura

tivos estáveis que funcionem, o

Portugal na Suíça. Não há qual-

como uma Câmara de Comércio

que resulta em que nada incomo-

quer publicidade. Oito milhões de

- uma organização privada e auto

de e retire o estímulo ao investi-

suíços, com uma grande classe

financiada pelos associados,

dor.

média com poder de compra, são

patrocinadores e parcerias – não

Gostaria de acrescentar mais

completamente ignorantes sobre

pode fazer este trabalho sozinho.

alguma coisa?

Portugal. Conhecem, obviamen-

Porém, para contrariar esta situa-

Gostaria de dizer que acredito

te, a comunidade portuguesa,

ção de falta de branding de Por-

fortemente no futuro deste país e

mas uma coisa são os emigran-

tugal, fizemos um evento no ano

é por isso que me sinto motivado

tes e outra coisa é o país em

passado, levando o espetáculo

todos os dias. Neste momento

si. É realmente uma pena que

do Cavalo Lusitano, em 5 apre-

tudo parece ter batido no fundo

Portugal não se “venda” mais

sentações, e terminando com um

mas, na verdade, quem se po-

na Suíça. Sei que os recursos

jantar de gala, música portugue-

siciona agora pode aproveitar

são limitados e que não se pode

sa, prova de vinhos e um filme

da chegada da retoma. Quando

apostar em tudo e que talvez,

do Turismo de Portugal, que está

Portugal já estiver em cima nova-

neste momento, poderá ser inte-

muito bem conseguido. Tivemos

mente, só tem a ganhar.

ressante a África e a Ásia, com

muito trabalho em conseguir pa-

Tem toda a fé em Portugal?

países emergentes com muito

trocinadores, mas conseguimos

Sim. Pela seguinte razão: Na mi-

maior dimensão. Contudo, penso

nha avaliação de um país, cos-

que, sobretudo num tempo com

tumo distinguir entre coisas que

recursos escassos, é preciso não esquecer de apanhar os frutos que estão mais perto (low hanging fruits) e não procurar só em cima da árvore, quando, em baixo, os frutos já estão prontos a ser apanhados. Se estes

não se podem mudar e coisas

"

É PRECISO NÃO ESQUECER DE APANHAR OS FRUTOS QUE ESTÃO MAIS PERTO

"

8 milhões de suíços soubessem da beleza e das oportunidades

que se podem mudar. As coisas que não se podem mudar são, entre outras: o clima, a natureza do país, uma mentalidade com um povo com uma grande simpatia, um sentimento de segurança, o bem-estar que destes fatores resulta, a luz que dá um espírito

de Portugal, acho que haveria

levar a cabo este evento. Portu-

mais alegre, etc. Todos estes

muito e mais investimento e troca

gal não pode tentar os suíços a

fatores que são importantíssimos

comercial. No meu dia-a-dia, vejo

investir devido a baixos impostos,

para ter uma boa qualidade de

portugueses altamente capazes

pois a Suíça, a nível de impos-

vida e tudo isso não se conse-

e ótimos profissionais, empre-

tos, está muito mais interessante.

gue comprar, nem com a maior

sas super bem organizadas em

Por conseguinte adotamos uma

fortuna do mundo. Por outro

muitos setores da indústria, com

estratégia que vai por via então

lado, as coisas que se podem

inovação e produtos de grande

mais emocional do que racional.

mudar são: a burocracia, a eficá-

qualidade.

Imagens deste evento podem ser

cia de procedimentos e organiza-

O turismo tem muita importân-

consultadas na internet: www.

ções, etc. Esta parte já foi muito

cia, porque é um door opener

lusitano-galadinner.com.

melhorada e ainda o vai ser,

ao investimento, mas os suíços

Portugal refere a necessidade de

para que daqui em 5 ou 10 anos

não se lembram de vir cá passar

investimento, mas pelo menos

já não tenhamos os mesmos

férias, porque aparece lá muita

duas coisas têm que funcionar:

problemas. Por isso, se tiver que

comunicação sobre a Espanha,

primeiro, as pessoas têm que

escolher, quais são os critérios

Turquia etc… Só Lisboa e Por-

conhecer o país, porque eu tam-

que são realmente importantes

to ultimamente se têm tornado

bém não investiria num país que

na decisão das melhores con-

bastante trendy para os chama-

não conheço. É tão simples como

dições de vida, chega-se auto-

dos city breaks, e talvez ainda o

isso. Depois, há que dar confian-

maticamente a uma conclusão:

Algarve para férias de praia, mas

ça, com clareza na política fiscal,

Portugal tem tudo o que precisa

tudo o resto os suíços desco-

com procedimentos administra-

para vencer.

40 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n

M.B.



PRESTÍGIO

Em Portugal e no mundo Um portefólio de excelência

Jardins Verticais, projeto de arquitetura portuguesa finalista do prémio «Edifício do ano 2012», integra o portefólio da Engel & Völkers. Jardins Verticais, a Portuguese architectural project, finalist of the «Building of the Year 2012» award, is part of Engel & Völkers portfolio

42 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


De passagem pela Rua do Patrocínio, na Lapa, em Lisboa, ninguém fica indiferente ao jardim que se ergue da estrutura de uma moradia particular. Um lugar para ser feliz, projetado pelos arquitetos portugueses Luís Rebelo de Andrade, Tiago Rebelo de Andrade e Manuel Cachão Tojal e promovido no mercado residencial pela Engel & Völkers. Este imóvel é um dos muitos exemplos de peculiaridade

Curiosidade: Uma das aquisições mais recentes do portefólio internacional

que caracterizam o portefólio desta

da Engel & Völkers é a Ilha privada Ballast Key, cenário do filme 007 Licença

Companhia de referência no setor

para Matar. Está à venda por 12,2 milhões de euros

imobiliário de luxo.

Curiosity: One of the latest acquisitions to the Engel & Völkers international

Desde residências históricas a modernos projetos de arquitetura,

portfolio is Ballast Key, a private island where the movie 007 License to Kill was set in. It is for sale for EUR 12.2 million.

a Engel & Völkers disponibiliza um conjunto de imóveis de prestígio e até uma certa excentricidade, de que são exemplo alguns dos castelos mais bonitos da Europa, ao dispor de quem queira proclamar o seu reinado. A localização dos imóveis, a excelência e a riqueza patrimonial das propriedades são fatores de diferenciação do portefólio da Engel & Völkers. Especializada em serviços de venda e arrendamento de propriedades residenciais premium, imóveis comerciais e iates, a Engel & Völkers é um dos líderes mundiais do setor. Presente em 37

In Portugal and all over the world A portfolio of excellence Passing by Rua do Patrocínio, in Lapa, Lisbon, no one is indifferent to the garden that rises above the structure of a private house. A place to be happy, projected by the Portuguese architects Luís Rebelo de Andrade, Tiago Rebelo de Andrade and Manuel Cachão Tojal and promoted in the residential market by Engel & Völkers. This is one of the many examples of singularity that characterize the portfolio of this reference company in the luxury real estate sector. From historical houses to modern architectural projects, Engel & Völkers offers a number of prestige and even eccentric real estates, of which some of the most beautiful castles in Europe, available to those who want to claim their reign. The location, excellence and patrimonial richness of the

países, em todos os continentes, e

proprieties are factors that differentiate Engel & Völkers portfolio.

com mais de 500 lojas, a chancela

Specialised in the sale and leasehold of premium residential

Engel & Völkers agrega uma

property, commercial real estate and yachts, Engel & Völkers is

estrutura sólida a nível internacional.

one of the world’s is one of the world’s leading service companies

A qualidade do serviço prestado

in the sector. Operating in 37 countries on five continents, and

pelo Grupo, o acompanhamento

with over 500 shops, the brand Engel & Völkers aggregates an

profissional qualificado e a extensa

international solid structure.

rede internacional conferem à marca

The quality of the service provided by the Group, the qualified

uma posição de destaque também

professional support and its wide international network also give

no mercado português, onde está

the company an outstanding position in the Portuguese market,

desde 2006.

where it has been present since 2006.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 43


EMPRESAS INTERNACIONAIS

Garland um exemplo com bem mais de dois séculos Percurso da empresa e sua filosofia.

autorizada pelo Governo português a imprimir notas de

A Garland foi fundada em 1776 e pode dizer-se que a

banco.

sua História começa com um imprevisto. Nesse ano,

Durante a II Guerra Mundial, representou os interesses

Thomas Garland estava num navio que fazia Canadá-

do Ministério da Marinha Britânico e do Secretariado

-Inglaterra e esse foi desviado para o porto de Lisboa,

Naval Americano, sendo também a representante oficial

devido a uma tempestade. Como transportava baca-

do Ministério Britânico do Abastecimento e Agricultura e

lhau, vendeu-o todo na Capital portuguesa. O negócio

da Secretaria de Estado Suíça dos Transportes. Nessa

correu tão bem e gostou tanto da cidade, que logo

altura, iniciou também as operações de Transitários

enviou o filho Joseph para inaugurar um escritório de

que, em 2005, compra o negócio da CONTIR, o que

importação e venda de bens alimentares.

complementou os outros serviços da companhia dando

Sendo a quarta empresa mais antiga de Portugal, o

uma cobertura terrestre de toda a Europa de Oeste a

negócio da navegação - continua a ser um dos negócios

Leste. Nessa altura, dá-se também o desenvolvimento

base do Grupo -, começou em 1855 com embarques

dos serviços de Carga Aérea e Marítima com a Ásia e

de vinho do Porto da região do Douro, mas ao longo

a China, e a formação do departamento de cargas Bulk

da sua existência foi diversificando e expandindo a sua

(Líquidos e Sólidos). Especialistas no atendimento de

esfera de atuação. Por exemplo, em 1848, a Garland foi

navios de granéis sólidos e líquidos. Uma palavra

44 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


também para o Tramping, onde tem uma equipa em

Garland no mundo e parcerias

cada porto para contactar as entidades e tratar de uma

O Grupo Garland é constituído por 11 empresas e tem

movimentação rápida e eficaz da carga, oferece agen-

redes de parceiros em todos os pontos do mundo e

ciamento de pacotes de atendimento que vão desde a

investimentos em Inglaterra, Chile e Colômbia. Preci-

simples receção do navio à operação mais complexa,

samente sob a assinatura All in one world, a Garland

fretamento dos navios mais modernos do mercado em

fornece serviços de transporte e logística nos quatro

associação com uma rede mundial de brokers e siste-

cantos do mundo, com uma fácil adaptação aos requisi-

mas informáticos sempre atualizados.

tos dos clientes e uma resposta rápida às suas neces-

No que toca a pneus, o início de relações entre o Grupo

sidades, ao qual se junta um serviço personalizado de

e a Dunlop Limited, em 1964, culminou com a nomeação

apoio ao cliente. Arranjamos todas as soluções, desde

da Garland Laidley, quatro anos depois, como distribuidor

a importação até à exportação, onde fazemos recolha

exclusivo dos pneus Dunlop para o mercado português.

nas fábricas, armazenagem e distribuição dos produtos

Cerca de 20 anos mais tarde, a Garland Laidley atingiu a

pelo mundo inteiro. Por exemplo, na Europa temos rotas

posição de maior distribuidor europeu de pneus Dunlop.

terrestres diárias para as principais capitais europeias.

Depois, em 2004, é criada a Garland Pneus, represen-

No que toca ao modelo escolhido, sempre que neces-

tante em Portugal de diversas marcas incluindo Uniroyal,

sário e vantajoso, fazemos parcerias e dou o exemplo

Sportiva, Kenda, Primewell e Runway.

da Ásia. Em conjunto com os nossos parceiros – que

Em 2006, e para celebrar os 230 anos, mudou-se a

têm a cobiçada licença classe A -, fazemos uma total

imagem da companhia, ficando apenas com o nome

cobertura do território asiático. Oferecemos ainda um

Garland. Um ano mais tarde, é estabelecida a Garland

sistema “tracking & tracing” desde a ordem de compra

Transportes para controlar e gerir a Camionagem Inter-

até à entrega da mercadoria. Por outro lado, operamos

nacional do Grupo.

dentro de uma rede de agentes de carga aérea, que nos

A Garland Navegação aumenta, em 2009, as suas re-

permite oferecer soluções porta-a-porta. Somos sócios

presentações podendo assim cobrir toda a América do

IATA, garantindo assim a melhor qualidade ao melhor

Sul, América Central, Canadá, Mediterrâneo, Norte de

preço.

África, Europa, Médio Oriente e Extremo Oriente.

Basicamente, seja por via terrestre, aérea ou marítima,

Por último, a Garland Logística, que surge em 1999, dá

conseguimos e temos parceiros privilegiados para che-

um salto em 2006 e ainda continua o seu crescimento

gar a todo o mundo.

nos dias de hoje, controlando 30.000 m2 de armazenagem. Neste momento, a perspetiva é continuar a cres-

Estratégia internacional da empresa e paí-

cer, com base numa equipa nova mas com experiência

ses a investir e apostar

na área, onde oferece armazenagem, distribuição e

A Garland continua atenta a todos os bons negócios.

vários produtos de valor acrescido, incluindo picking,

Por exemplo, tem grandes investimentos na K-Line

preparação de encomendas para Portugal e Europa,

Portugal – é uma joint-venture -, PSL Freight Ltd (Reino

etiquetagem e flexibilidade na resposta às necessidades

Unido) e Anacondaweb (Chile), mas continua a investir

dos clientes. Investiu ainda, num WMS (Warehouse

em segmentos de mercado específico. Exemplo disso

Management System), uma das tecnologia mais avan-

é a área de Bulk (transporte de granéis sólidos e líqui-

çadas que existem para continuar a estar à frente do

dos) que tem vindo a registar crescimento ao longo dos

negócio logístico - que neste momento vale mais de

últimos anos. Recentemente, iniciou um serviço sema-

metade das receitas da empresa.

nal especializado em temperatura controlada (COLD

Bruce e Peter Dawson, os principais rostos da empresa,

CHAIN) para cargas de grupagem e completas entre

são bisnetos de Errington Dawson, que se tornou sócio

Portugal e a Suíça e vice-versa. Este serviço foi criado

da empresa em meados do século XVIII, e veio a assu-

com o intuito de satisfazer as cada vez mais exigentes

mir a liderança no século seguinte, com o fim da família

necessidades de transportes eficientes no que respeita

Garland. No entanto, são quase 240 anos a ser coman-

ao controle da temperatura das mercadorias transpor-

dada por famílias britânicas. Bruce Dawson, o atual

tadas, permitindo que os clientes tenham informação

presidente, já faz parte da 4ª geração da família e os

sobre esta em qualquer momento da viagem. Serviço

filhos também já trabalham na empresa. Mark Dawson

que visa ir de encontro aos padrões de qualidade ele-

faz parte do Grupo há 20 anos, é administrador e já é a

vados exigidos em diversos setores, nomeadamente na

5ª geração, enquanto o seu irmão Giles, está no Chile,

indústria alimentar e bebidas e no sector farmacêutico.

na Anacondaweb.

Por outro lado, sempre focada na inovação e pesquisa

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 45


Garland

de novos mercados, nomeadamente a intensificação

1

2

da sua presença nos PALOP, a Garland estabeleceu recentemente uma nova parceria em Moçambique que possibilitará garantir aos seus clientes um serviço de grande qualidade quer ao nível de despachos aduaneiros, quer ao nível de transporte e logística. O mesmo acontece com Marrocos, onde já existem algumas parcerias. Por último, é assumido o interessa no mercado sul-americano e, neste momento, está em estudo avançar ou não. 1. Ricardo Sousa Costa com o óscar do Melhor Empreendimento Indus-

O futuro e o combate à crise pelo investimento

trial e Logístico, e Peter Dawson, ambos administradores da Garland 2. Kiyoshi Terashima, Presidente do Conselho de Administração da

A empresa encara o futuro com alguma apreensão mas “K”Line Portugal e CEO da “K”Line Europa e Bruce Dawson, Presidente está sempre atenta aos bons negócios e oportunidades. do Conselho de Administração do Grupo Garland e membro do ConseClaro que tem mais cuidado em todas as decisões ou

lho de Administração da “K”Line Portugal

possíveis decisões mas sempre avançámos para novos investimentos depois de muita ponderação. Tendo em conta a conjuntura económica de Portugal, temos de destacar o investimento recente da Garland na ordem dos 8 milhões de euros, na criação de um novo centro logístico na Maia com tecnologia de ponta, o qual tem 23 cais de carga e descarga e uma área bruta de armazenagem de 13 mil m2 tentando assim ir de encontro às necessidades e expectativas dos seus clientes. A Garland fica assim dotada de todos os meios que lhe permitem efetuar todo o processo logístico dos clientes, desde o transporte e receção das mercadorias, o seu armazenamento, a gestão de stocks, até à preparação das encomendas e respetiva distribuição. Claro que foi um investimento muito refletido mas felizmente os números confirmam o nosso otimismo nesta aposta: o CLM atingiu a lotação máxima e conquistámos a preferência de novos clientes. Por outro lado, continuamos a receber solicitações para realizar novos contratos, o que nos cria um problema antigo: a falta de espaço. No entanto, queremos dar resposta a essa procura e já estamos à procura de alternativas de expansão.

Valores e política da empresa

Por fim, temos de destacar os prémios ganhos por este

Com 315 funcionários, a empresa pretende ir ao en-

empreendimento, que vieram confirmar o reconhecimento

contro dos padrões de qualidade elevados exigidos em

público de que os nossos clientes beneficiam de infraes-

diversos setores. Esta forma de atuar no mercado acaba

truturas de elevada qualidade, e que atestam a enorme

por ser a missão da Garland: manter a competitividade

competitividade da Garland no mercado onde opera. (ex.:

através de um serviço de qualidade, conseguido através

Melhor Empreendimento Industrial do Ano 2012)

de uma relação estreita, honesta e responsável com os seus clientes e fornecedores.

O que distingue a empresa

Encaramos todos os desafios com normalidade e espírito

Segundo Peter Dawson: "A Garland não se preocupa

positivo. Uma das chaves do nosso sucesso passa pela

muito com lideranças. Sabemos que somos líderes em

partilha de informação com os nossos clientes. Uma em-

algumas áreas mas isso é secundário. O que queremos

presa com mais de dois séculos de experiência só conse-

é ser o parceiro ideal para quem nos procura. Isso é

gue estar no topo das preferências dos clientes se fizer do

que é importante para a Garland. Em 2012, faturámos

espírito de melhoria contínua uma das suas bandeiras.

83 milhões e o objetivo é subir este número em 2013."

46 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n

M.B.


MÊS/MÊS 2011 - DIPLOMÁTICA • 47


VIAGENS DE ESTADO

Cavaco Silva a favor das relações económicas e culturais entre Portugal e Colômbia

O Presidente da República Portuguesa, Aníbal

so relacionamento bilateral nos planos económicos,

Cavaco Silva, realizou uma Visita de Estado, de três

comercial e cultural», afirmou Cavaco Silva numa das

dias, à Colômbia, a convite do seu homólogo colom-

suas intervenções. Como tal, durante a sua visita, foi

biano Juan Manuel Santos. O portal da Presidência

acompanhado por uma comitiva de empresários portu-

Portuguesa informa que a sua chegada a Bogotá foi

gueses de vários ramos empresariais: da distribuição e

aguardada pela Ministra dos Negócios Estrangeiros

dos serviços financeiros e da construção de infraestrutu-

da Colômbia, María Ángela Holguín e que Cavaco

ras; representantes das empresas da produção indus-

Silva «atravessou alas de cortesia constituídas por

trial; do turismo; das novas tecnologias; da agricultura;

soldados, ao som de uma marcha executada por uma

e empresários que actuam na área científica, na con-

banda militar». Na sua visita, o Presidente fez um

sultoria e na arquitectura. Cavaco sublinhou o interesse

apelo aos laços de amizade e políticos estabelecidos

crescente das empresas e dos investidores portugueses

entre os dois países ao nível bilateral e multilateral,

pela Colômbia e vice-versa, dizendo que «a Colômbia

definindo o aprofundamento das relações económicas

está de moda em Portugal e que Portugal está de moda

e de cooperação entre Portugal e Colômbia como

na Colômbia». A este propósito, caracteriza Colômbia

sendo o principal objectivo da sua visita. «Espero que

como um país com uma democracia e uma economia

esta minha visita contribua para aprofundar o nos-

de sucesso da América Latina. Define-a como um

48 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


país «com uma economia pujante e estruturada,

declaração classificou a presença de Portugal na Feira

uma política de abertura ao investimento estrangeiro,

como um privilégio para a nação portuguesa. Conside-

um leque diversificado de relações políticas e econó-

rou tratar-se de «uma participação que "muito honra"

micas com outras nações» e que devido à sua posi-

Portugal. «Será um marco fundamental no reforço das

ção geográfica é «um destino extremamente atractivo

relações culturais entre os nossos dois países, que aliás

e uma excelente plataforma de projecção noutros

conheceram já um outro ponto alto: a instituição, na

mercados da América Latina». Por seu lado, define

Universidade dos Andes, da Cátedra Fernando Pes-

Portugal como um país com uma economia «moderna

soa, um dos maiores poetas portugueses», afirmou.

e aberta» à «iniciativa dos empresários colombia-

Recorde-se que a Cátedra Fernando Pessoa tem como

nos», uma economia com «excelentes infraestruturas

intenção consolidar o elo cultural e linguístico entre os

e capital humano extremamente qualificado».

dois países, e incentivar os estudantes colombianos a

No âmbito da cooperação cultural, teve impacto a par-

interessarem-se pela língua e pela cultura portuguesa.

ticipação de Portugal na Feira Internacional do Livro de

Ainda com esta finalidade, o governo Português decidiu

Bogotá, de 2013, como país convidado. Cavaco Silva

oferecer à população de Bogotá dez colecções de obras

teve a honra de inaugurar o Pavilhão de Portugal, que

da literatura portuguesa.

contou com obras de escritores portugueses e numa

n

Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 49


VIAGENS DE ESTADO

Presidente da República em visita oficial de Estado ao Peru

Depois da visita de Estado do Presidente peruano Ollanta Humala a Portugal, foi a vez do Presidente Português realizar uma visita oficial de dois dias a Peru. Aníbal Cavaco Silva deslocou-se ao Peru, em Abril de 2013, ao convite do Presidente Humala, acompanhado por uma comitiva de deputados e empresários portugueses. O Chefe de Estado Português foi recebido pelo seu homólogo peruano no Palácio do Governo, com o qual ainda assistiu à assinatura de três acordos entre os governos dos dois países. Cavaco Silva é o primeiro Presidente de um Estado membro da União Europeia a deslocar-se ao Peru desde a formalização do Acordo Comercial entre a União Europeia, o Peru e a Colômbia, centrado na cooperação intercontinental. O presidente referiu-se a cooperação económica como um dos objectivos principais da sua visita ao Peru, pelo que, no seu discurso referente ao encerramento dos trabalhos do Seminário Económico Portugal/Perú, no dia 19 de Abril de 2013 apelou ao aprofundamento da cooperação económica entre Portugal e Peru, considerando benéfico para ambas as partes o incremento dos «laços económicos e comerciais entre os dois países, para que estes possam atingir um nível idêntico ao que caracteriza o dialogo político e a cooperação diplomática entre Portugal e Peru». O Seminário Económico realizou-se em Lima e foi aberto na presença do Ministro

50 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas. Cavaco Silva, presidiu

à sua sessão de encerramento juntamente com o Primeiro-Ministro peruano, Juan Jiménez Mayor. O presidente salientou que “muitas das empresas portuguesas querem cooperar com o Peru e estão disponíveis para colaborar no seu desenvolvimento, através de parcerias estratégicas em sectores onde detemos uma larga experiência no mercado global, como é o caso das infra-estruturas e obras públicas, dos transportes, da energia e das telecomunicações». Afirmou ainda que «a cooperação entre empresas peruanas e portuguesas tem o potencial de ser uma relação entre iguais, com origem em Estados que partilham uma visão humanista do mundo». Para Cavaco Silva, a relação entre as empresas portuguesas e peruanas abrem a porta das exportações peruanas para a Europa. Ainda a este propósito recorde-se a assinatura da Convenção para Evitar a Dupla Tributação, na altura da visita a Portugal do Presidente Humala, em Novembro de 2012, com a finalidade de dinamizar o comércio e o investimento entre os dois países. O Chefe de Estado Português foi ainda recebido na Alcaldia de Lima, onde recebeu a Medalha da Cidade e no fim da sua visita, encontrou-se com a Comunidade Portuguesa residente no Peru.

n

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 51


VISITAS DE ESTADO

Visita oficial do Presidente da Turquia, Abdullah Gül a Portugal

O Presidente da Turquia, Abdullah Gül cumpriu uma

tarem em Portugal. «Gostaríamos de convidar os

visita de Estado de dois dias a Portugal, acompanha-

empresários e os investidores turcos a olharem para

do por uma comitiva constituída por empresários, três

Portugal como um Estado membro da União Europeia

ministros (o ministro da Cultura, do Turismo e dos Ne-

que lhes pode oferecer um ambiente favorável aos

gócios Estrangeiros) e oito deputados representantes

seus negócios e excelentes oportunidades de inves-

dos quatro partidos políticos do parlamento turco com a

timento e cuja proximidade linguística e cultural com

sede em Ancara.

países como o Brasil, Angola e Moçambique constitui,

Recebido pelo seu homólogo português, Aníbal Cava-

além disso, um ativo particularmente importante em

co Silva, no Palácio de Belém onde lhe foram pres-

matéria de cooperação triangular», disse. Referiu ain-

tadas honras militares, seguiram-se vários encontros

da que são os sectores como «o turismo, o comércio,

onde o tema principal entre os dois chefes de Estado

a energia, a construção, os transportes e as infra-

centrou-se na cooperação económica bilateral. Numa

-estruturas» que constituem as oportunidades que

das suas intervenções perante o seu homólogo, Ca-

“devem ser aproveitadas em proveito mútuo”. Por sua

vaco Silva desafiou os empresários turcos a apos-

vez, Abdullah Gül afirmou que perante o volume

52 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


de transacções da Turquia de cerca de “mil milhões de

dente Abdullah Gül abordou ainda o tema da “reciproci-

dólares” o que equivale aproximadamente a 762 milhões

dade” que visa a entrada em Portugal e a circulação dos

de euros, há vários sectores em que Portugal e Turquia

cidadãos turcos no Espaço Europeu. Recorde-se que

podem colaborar em conjunto. Face a este assunto,

Turquia iniciou um processo de diálogo com a UE para

Abdullah Gül elogiou ainda o investimento das empresas

facilitar a circulação dos cidadãos turcos na Europa e que

portuguesas já existente na Turquia. «Já estamos muito

desde 1 de Março 2013, os cidadãos portugueses que

satisfeitos com o investimento português já existente

pretendam ir à Turquia em turismo podem adquirir o visto

na Turquia em vários sectores, incluindo na energia, e

à entrada apresentando o Bilhete de Identidade, Cartão

apoiamos estas actividades comerciais», avançou. A

do Cidadão, e/ou Passaporte (poderão ser apresentados

relação económica entre as empresas portuguesas e

passaportes cuja validade tenha caducado há menos de

turcas foram melhor debatidas no Fórum Económico

cinco anos). O custo do visto à entrada é de 15 euros,

Bilateral, especialmente organizado para o efeito, no qual

enquanto os turcos para viajarem precisam de um visto

estiveram presentes delegações dos dois estados.

aplicado ao espaço Schengen.

Além das questões económicas, na sua visita, o presi-

n

Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 53


VISITAS DE ESTADO

Ricardo Martinelli, presidente do Panamá em Portugal destaca diplomacia económica

Aníbal Cavaco Silva recebeu com honras de Esta-

bre o alargamento do Canal do Panamá que constitui

do o seu homólogo, o Presidente da República do

a ponte de ligação entre o Pacifico e o Atlântico. Por

Panamá, Ricardo Martinelli, acompanhado pela sua

sua vez, Ricardo Martinelli afirmou que depois da

Mulher, D. Marta Linares de Martinelli e uma comi-

expansão do Canal do Panamá, Portugal «será uma

tiva do seu país. Os dois dias de trabalho da visita

das economias que mais vai beneficiar com o acesso

oficial de Martinelli centraram-se nas oportunidades

directo dos seus portos, a capacidade de ter uma

de negócio e no reforço da cooperação empresarial,

doca com tamanho suficiente para receber os barcos

ao nível económico entre os dois países. Ambos os

Post-Panamax» e reforçou que desta forma será

Chefes de Estado mostraram interesse na criação

«um porto de entrada para uma grande quantidade

de laços de proximidade entre Portugal e o Panamá.

de produtos provenientes do Oriente e da América,

Apesar de se tratar da primeira visita oficial a Por-

com destino ao mercado europeu». Acrescentou

tugal de um Chefe de Estado do Panamá, um país

ainda que o seu país está preparado para receber

com uma das economias com maior crescimento dos

as empresas portuguesas. «Estamos seguros de que,

últimos anos, o presidente português considera os

com a visita de empresários portugueses muitas das

dois estados como «amigos e com uma relação só-

empresas portuguesas que pretendem fazer negócios

lida» que data «há muitos anos» considerando que

na América Central, no Caribe e na América Latina,

os empresários portugueses olham com “interesse”

poderiam estabelecer a sede das suas empresas no

para as perspectivas que o Panamá tem para lhes

Panamá, uma vez que o Panamá possui alguns dos

oferecer. Cavaco sublinhou ainda a importância da

maiores portos da América Latina», frisou.

posição geográfica do Panamá, e pronunciou-se so-

54 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

n

Roman Buzut Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.


Presidente da República recebe Aga Khan

O Presidente da República Portuguesa, Aníbal

projectos vitoriosos. A escolha dos vencedores

Cavaco Silva recebeu o Aga Khan, no Palácio de

prende-se com vários critérios, sendo os mais

Belém, que se deslocou a Portugal por ocasião

importantes a contribuição dos projectos con-

da cerimónia de entrega do Prémio Aga Khan

correntes para o património histórico, e para a

para a arquitectura. Ambos presidiram à ceri-

arquitectura paisagista. Numa declaração oficial

mónia de entrega do Prémio, que decorreu no

Cavaco Silva elogiou o papel dos arquitectos

Castelo de São Jorge em Lisboa. A capital portu-

portugueses por contribuírem para a promoção

guesa foi escolhida como anfitriã do 12º ciclo da

do património cultural nacional fora de Portugal

cerimónia. Foram nomeados 20 projectos, dois

e também o papel da Fundação Aga Khan na

quais 5 vencedores: o projecto da construção de

preservação do património mundial. Sublinhou

um «Cemitério Islâmico» em Altach, na Áustria; o

ainda que o «Prémio de Arquitectura constitui

projecto de «reabilitação do Bazar de Tabriz» no

um eloquente exemplo do compromisso da Rede

Irão; o projecto referente ao «Centro de Cirurgia

Aga Khan para com o desenvolvimento humano,

Cardíaca Salam» na capital do Sudão, Cartum; e

nas suas diversas vertentes». E recordou que

o projecto de «Infra-estrutura urbana Rabat-Sa-

é desde 1977 que promove «o valor cultural e

lé», em Marrocos. De acordo com a informação

artístico da concepção arquitectónica, tendo já

divulgada o prémio atribuído consiste num valor

reconhecido mais de 100 obras em diversos paí-

de um milhão de dólares a ser dividido entre os

ses e continentes».

Fotos: Luís Filipe Catarino / P.R.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 55


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Renato Varialle, Embaixador de Itália Os desafios da Itália

"

A CONSCIÊNCIA DE TERMOS NO NOSSO “ADN” A DITA CAPACIDADE SOCIAL DE CRESCIMENTO DEVE INDUZIR-NOS A TER CONFIANÇA NO FUTURO

"

Como já aconteceu noutros Países

tas públicas – sobre as quais incide

encontrar o justo equílibrio entre a

da Zona Euro, também em Itália o

um total anual de juros da dívida

exigência de tornar sustentáveis as

ano de 2012 foi marcado por uma

pública de 85 mil milhões de euros

contas públicas e a de identificar e

nítida contracção do Produto Interno

– tornou necessário um recurso a

actuar os instrumentos necessários

Bruto (-2,2%), causada pela quebra

pesados aumentos da carga tributá-

para o arranque do crescimento

da procura interna, só parcialmente

ria. Simultaneamente foram levadas

económico. Se por um lado se torna

compensada pelo andamento positi-

a cabo importantes medidas para

necessário prosseguir com a tarefa

vo das exportações, que cresceram

a contenção estrutural da despesa

da consolidação orçamental, por

mais de 5% atingindo-se um valor

pública. Todavia, como aliás parece

outro não se pode deixar de criar

global de 470 mil milhões de euros.

cada vez mais evidente, sem uma

as condições para um crescimento

As escolhas do Governo ditadas

acção eficaz de estímulo do cresci-

duradouro, actuando com medidas

pela necessidade de reduzir o déficit

mento, a consolidação das contas

reformadoras em sectores funda-

e o stock acumulado da dívida públi-

públicas por si só não é susceptível

mentais como a concorrência, o

ca impuseram aos cidadãos sacrifí-

de produzir os esperados efeitos

mercado de trabalho e a justiça civil

cios dolorosos. Um efeito recessivo

benéficos.

relançando de forma selectiva os

afectou inevitavelmente a economia

O Parlamento e o Governo que

investimentos públicos e privados

e os niveis de emprego.

tomaram posse nos meses passa-

na formação do capital humano e na

A urgência do reequílibrio das con-

dos são portanto chamados para

modernização das infra-estruturas

56 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


materiais e imateriais. Só deste

ficou no activo, com um excedente

nascimento do pacto constitucional.

modo se poderão garantir as condi-

de cerca de 10 mil milhões. É graças

Nos anos Setenta e nos primeiros

ções para uma redução progressiva

à dinâmica das exportações que

anos Noventa, a sociedade italiana

da pressão fiscal que pesa no sis-

a Itália beneficia de uma posição

teve novamente a força para enfren-

tema productivo e uma distribuição

financeira com o exterior mais sólida

tar com relativo sucesso momentos

mais equitativa da carga fiscal entre

do que a de muitos partners euro-

de crise. Em ambos os casos a

os cidadãos: objectivos a financiar

peus. Em Itália existem cerca de 200

sociedade italiana mostrou “capa-

também com as maiores receitas

mil empresas exportadoras. Mas as

cidade social de crescimento” onde

provenientes da própria “spending

empresas que participam na projec-

residiu a força para sair de dificulda-

review” assim como dum intensifica-

ção internacional do nosso País são

des à primeira vista intransponíveis

do combate à evasão.

muito mais porque atrás do exporta-

reinventando um projecto de desen-

Além disso, as medidas realizadas

dor real opera um “induzido” e uma

volvimento económico e social.

no decurso dos últimos anos condu-

“domestic value chain” de considerá-

Existe agora uma imperiosa neces-

ziram as finanças públicas italianas

veis dimensões. Apesar das nume-

sidade de enfrentar e resolver os

ao longo dum caminho de maior

rosas desvantagens competitivas

problemas estruturais que determi-

sustentabilidade que garantiram um

que pesam no nosso sistema pro-

naram a fraca “performance” da nos-

retorno da confiança dos mercados

dutivo (custos energéticos elevados,

sa economia na última decada, mas

na Itália. Tiveram sucesso as novas

burocracia complexa, investimentos

a consciência de termos no nosso

emissões de Obrigações do Tesouro

em R&D ainda inadequados, redu-

“ADN” a dita capacidade social de

e reduziu-se o “spread” nos Títulos

zida dimensão de empresa), a Itália

crescimento deve induzir-nos a ter

do Estado. Este esforço de consoli-

é o sétimo exportador mundial e o

confiança no futuro. Para além dis-

dação orçamental produziu mais um

terceiro da Zona Euro.

so, estamos convencidos do contri-

importante efeito: no passado més

Portanto, as nossas empresas

buto que a Itália e os italianos pode-

de Maio, a Comissão Europeia sos-

estiveram em condições de reagir

rão dar para a solução do momento

pendeu o procedimento de infração

eficazmente à deslocação progres-

difícil que também o nosso continen-

para deficit excessivo aberto contra

siva do centro de gravidade da

te está a atravessar. Trata-se de dar

a Itália em 2010, reconhecendo

procura mundial para as economias

à Europa um impulso mais forte e

a capacidade das forças politicas

emergentes, iniciando uma estraté-

propostas credíveis para uma maior

italianas de identificar e atuar as

gia de maior diversificação geográfi-

integração, corresponsabilidade e

medidas necessarias para conduzir

ca: no período de três anos a quota

solidariedade. A Itália está entre

o decifit abaixo do limite do 3% do

da exportação directa italiana para

os países que fundaram e cons-

PIB, tal como previsto pelos Trata-

os Países extra-europeus passou

truiram as instituições europeias e

dos Europeus.

de 41% para o actual 44%. Por meio

tem portanto a responsabilidade de

O sistema das empresas nacionais

do “made in Italy” as empresas que

formular – juntamente com os outros

beneficiou concretamente com a

operam nos mercados internacionais

parceiros europeus – as propostas

renovada confiança internacional.

estão a contribuir para o reforço dos

políticas capazes de promover, em

De facto, a Itália se encontra entre

nossos elementos de reconheci-

termos concretos, duradouros e

as primeiras potências industriais

mento no mundo: cultura, qualidade,

com bases sustentáveis, desenvolvi-

globais e é rica de empresas que

design e estilo de vida, aspectos

mento, trabalho e justiça em todo o

também no ano passado souberam

onde investir estrategicamente para

nosso continente.

manifestar a sua elevada competiti-

consolidar o “appeal” do produto

Neste sentido é importante subli-

vidade nos mercados internacionais,

italiano no mundo.

nhar a maior atenção que, também

sobretudo em sectores-chave asso-

Não é a primeira vez que a Itália, ao

graças ao esforço diplomático do

ciados desde sempre ao brand-Ita-

longo da sua existência, se encontra

Governo italiano, os últimos Conse-

lia: a automatização e a mecânica; o

perante desafios cruciais. No pós-

lhos Europeus tem vindo a prestar

vestuário e a moda; a decoração e

-guerra, saimos das ruínas mate-

ao tema do desemprego jovem e

os produtos para a casa; os géneros

riais, morais e políticas graças à

as medidas mais eficazes para pôr

agro-alimentares e os produtos far-

visão duma elite política que soube

termo urgentemente a um problema

macêuticos. Portanto em 2012, de-

pôr os interesses do País à frente

que está a afectar de forma grave

pois de anos consecutivos de déficit,

dos da própria parte política furjan-

as novas gerações dos cidadãos

o saldo da balança comercial italiana

do um compromisso que permitiu o

europeus.

n

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 57


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Pascal Teixeira da Silva, Embaixador de França em Portugal Por ocasião da Festa Nacional

"

A VENCER E DE OPORTUNIDADES PARA APROVEITAR. NA RELAÇÃO ENTRE A FRANÇA E PORTUGAL, OS ÚLTIMOS DOZE MESES FORAM TESTEMUNHAS DISSO

"

A minha mulher, eu próprio e o

que trabalham para dar a conhecer

que se aplicariam a todos – quer se

pessoal da Embaixada de Fran-

a França, sob todos os seus aspec-

trate da economia, da política ou

ça, estamos muito felizes por vos

tos, em Portugal.

da cultura. É verdade, mas só em

receber no Palácio de Santos para

Há dois anos, falava-vos da per-

parte.

a comemoração da nossa Festa Na-

tinência da nossa divisa nacional

Primeiro, não há necessariamente

cional que foi antecipada, uma vez

para ultrapassar os desafios com

uma contradição entre abertura aos

que este ano o 14 de Julho calha

que a Europa se defronta; há um

outros e a sua própria identidade

num domingo.

ano, o fio condutor era a união da

e ainda menos para a França que

As minhas primeiras palavras são,

nação e a união das nações.

considera os seus valores como

antes de mais, para todos vós, inter-

Este ano, deixo algumas breves

sendo universais.

locutores e parceiros da Embaixada

reflexões sobre o que significa a

Depois, a grandeza do ideal euro-

em especial, e da França em geral,

festa nacional. A globalização e a

peu foi – e continua a ser – de que-

para agradecer o trabalho conjunto

integração europeia podem dar a

rer concretizar a unidade do nosso

em prol da relação entre os nossos

impressão de que as fronteiras de-

continente dentro da diversidade

dois países.

saparecem, que as especificidades

dos seus componentes. Nestes

Saúdo também todos os nossos

nacionais se diluem em benefício

tempos de crise, para conjurar as

compatriotas e agradeço a todos os

de normas e de comportamentos

tentações de “repli”, de egoísmo e

58 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


de exclusão que surgem por aqui

mento no século XXI para a França

Lisboa, Essilor, Etic, France 24,

e ali, precisamos, antes de mais,

e para Portugal.

Gazon, Zoysia, GDF Suez, GDF

de nos rever nos fundamentos do

Durante os últimos meses come-

Suez International Power, Inter-

que é a nossa convivência nacio-

morámos o 60° aniversário do liceu

marché Jean-Louis David, Lacoste,

nal – que para nós, são os valores

francês de Lisboa e o 50° aniversá-

Lactalis, Loja das Meias, L’Oréal,

da República (liberdade, igualda-

rio do liceu francês do Porto. São

Mumm, Nespresso, Pernod-Ricard,

de, fraternidade), a democracia e

dois estabelecimentos de ensino de

Peugeot, Président, Ramos-Pinto,

a solidariedade, ancoradas numa

referência que preenchem de forma

Rougié, Sanofi, Securitas, Sopexa,

história, numa cultura, numa língua

notável a dupla missão de instruir

Thales, Unicer, Valrhona, Vinhos de

partilhadas.

os alunos Franceses, mas também

Lisboa.

Acontece o mesmo com Portugal

de permitir aos alunos Portugueses

Agradeço a todos os que partici-

e outros países. Não poderemos

frequentarem uma escolaridade à

param na organização desta Festa

ultrapassar as dificuldades de hoje

francesa – alunos que, depois, são

Nacional com menção especial ao

e não construiremos nada com os

pontes duradouras entre os nos-

José dos Santos e à equipa da resi-

outros se não tivermos o orgulho

sos dois países, as nossas duas

dência e à Margarida Gama.

– o “santo orgulho” – por aquilo

culturas. É um bem precioso que é

Agradeço à Marie-France Carrondo

que somos e se não acreditarmos

necessário preservar e contamos

e à sua equipa, assim como aos

na nossa capacidade colectiva de

com os nossos amigos portugueses

seus patrocinadores pelo número

mobilizar as nossas energias e os

para nos ajudarem.

especial da revista “Quem sabe”

nossos talentos.

O colóquio que organizámos em

consagrada ao 14 de Julho, que vos

Qualquer crise é feita de desafios

Março, mais uma vez com parceiros

será oferecida.

a vencer e de oportunidades para

portugueses, sobre o tema: “Fran-

Agradeço ao Coro Juvenil de Lisboa

aproveitar. Na relação entre a

cofonia, lusofonia, o mesmo desa-

que vos vai cantar os hinos nacio-

França e Portugal, os últimos doze

fio?” constitui igualmente uma dupla

nais francês e português.

meses foram testemunhas disso.

ilustração, por um lado, do diálogo

Uma última palavra sobre a Festa

Lembro as várias visitas de respon-

franco-português e, por outro, do

Nacional que, este ano, é apre-

sáveis governamentais a Paris e a

desafio da diversidade na globaliza-

sentada sob o signo da “pop’art” –

Lisboa ou a intensidade das activi-

ção.

como vêem, identidade e abertura

dades e da cooperação no âmbito

Este ano comemoramos, com

fazem um bom par!

da defesa e da polícia.

numerosas manifestações culturais,

Com o apoio da Alliance Fran-

No domínio económico, a conferên-

em Paris, na Primavera e, a seguir,

çaise, organizámos um concurso

cia organizada no passado dia 20

em Lisboa, no próximo Outono,

de pintura sobre o tema do 14 de

de Novembro pela equipa de Fran-

os 15 anos do Tratado de amiza-

Julho. Podem apreciar os quadros

ça, com o apoio dos parceiros por-

de entre as duas capitais, entre a

suspensos nas paredes. Felicito o

tugueses, a quem agradeço nova-

cidade-luz e a cidade da luz – como

vencedor do concurso, Francisco

mente, sobre o investimento francês

podemos admirar hoje.

Ponto, que fez uma interpretação de

em Portugal, mostrou a importância,

Uma breve nota de autopublicidade

um personagem do célebre quadro

a antiguidade e a diversidade do

para vos informar que a embaixada

de Delacroix “La liberté guidant le

tecido empresarial francês. É uma

tem uma página no Facebook des-

peuple”, sobre um fundo azul, cor

realidade em movimento, como o

de 1 de Julho.

da paz e da concórdia. Entrego-lhe

demonstram vários investimentos

Não posso terminar sem exprimir

o prémio – uma viagem a Paris.

recentes nos sectores industriais e

toda a minha gratidão.

Felicito também a vencedora do 2°

de serviços, assim como a aquisi-

Em primeiro lugar, aos patrocinado-

prémio, Catarina Soalheiro, que fez

ção da ANA pelo grupo VINCI, que

res e parceiros cuja contribuição é

uma interpretação do “Génie de la

prova o reconhecimento da compe-

essencial para que uma recepção

liberté” que se encontra no cimo da

tência portuguesa e a confiança no

possa realizar-se nestas condi-

coluna de Julho, Praça da Bastilha.

futuro do país. Já estamos a traba-

ções: Air France, Alliance française,

Não foi certamente por acaso que

lhar para organizar um novo evento,

Alstom, Ana Calheiros, Axa, Chez

o júri se deixou seduzir por duas

em Novembro próximo, sobre o

vous immobilier, Citroën, Cofely,

interpretações do tema da liberdade

tema da inovação como factor de

Cofidis, Dalkia, Degrémont, Edisoft,

que está no coração do nosso ideal

competitividade, chave do cresci-

Eric Kayser, Escola de Turismo de

republicano.

n

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 59


ESPAÇO DIPLOMÁTICO

Allan Katz, Embaixador dos Estados Unidos da América

"

O QUE FAZ DE PORTUGAL UM GRANDE PAÍS É O SEU POVO. ASSIM COMO ESTE POVO SUPEROU DESAFIOS

DO PASSADO, NÃO HÁ DÚVIDA DE QUE FARÁ O MESMO COM OS DESAFIOS DE HOJE.

É com um sentimento misto de

união sempre mais próxima de

alegria e tristeza que escrevo a

mútuo respeito e amizade.

que será a minha última men-

Esta amizade é um legado, com

sagem na newsletter, enquanto

raízes em 1791, ano em qual o

embaixador dos EUA em Portu-

Presidente George Washington

gal. É com saudade que deixo

nomeou David Humphreys -

este magnífico país que foi o

primeiro embaixador Americano

meu lar durante os últimos três

em Portugal. Durante o meu

anos. No entanto, estou orgu-

tempo em Portugal percorri o

lhoso de tudo o que realizamos

país de norte a sul, e atraves-

e dos passos positivos que te-

sei o mar Atlântico várias vezes

mos dado para ajudar Portugal

para visitar a Madeira e os

e os EUA a desenvolverem uma

Açores. Fico constantemente

60 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

"


impressionado pelo carinho e

hospitalidade sincera do povo português ao receber-me nos

It is with bittersweet sentiment that I pen what will

escritórios, escolas e em casa.

be my final Ambassador’s remarks here in Portugal.

O que faz de Portugal um

Saddened by the thought of leaving this beautiful

grande país é o seu povo.

country that has been my home for the past three

Assim como este povo su-

years, I am nonetheless proud of all that we have

perou desafios do passado,

accomplished and of the positive strides that we have

não há dúvida de que fará o

made in bringing Portugal and the United States into

mesmo com os desafios de

an even-closer bond of mutual respect and friendship.

hoje. A juventude deste país

This friendship is a legacy, with roots in 1791, the

representa a primeira geração

year when President George Washington appointed

nascida numa democracia, um

David Humphreys as our first Ambassador to Portu-

facto singular que traz consigo

gal. During my tenure in Portugal, I have traversed

não apenas grandes oportu-

the country from the north to the south, and have

nidades, mas também gran-

crossed the sea many times to visit both Madeira and

des responsabilidades. Recai

the Azores as well. I have been constantly impres-

sobre a juventude de Portugal

sed by the warmth, resilience, and sincere hospitality

a necessidade de garantir que

of the Portuguese people as they welcomed me into

a democracia portuguesa se

their offices, their schools, their institutions, and their

mantém estável e segura. Com

homes. What makes Portugal a great country is its

base nas minhas interacções

people, and just as they have risen above challenges

com jovens em escolas e uni-

in the past, I have no doubt that they will do the same

versidades, posso comprovar

when faced with today’s particular challenges. The

que eles estão prontos para

youth of this country represent the first generation to

enfrentar este desafio.

be born into a democracy, a singular fact which car-

Certamente, a minha estadia

ries with it not only great opportunities, but also great

não teria sido a mesma sem o

responsibilities. It is upon the shoulders of Portugal’s

apoio, os conselhos, a sabedo-

youth to ensure that Portugal remains the stable, safe,

ria e, mais importante ainda, a

and welcoming democracy that it is. From my interac-

amizade dos funcionários ame-

tions with youth in schools and universities across the

ricanos e portugueses da Em-

country, I can attest that they are more than ready for

baixada dos EUA em Lisboa.

this challenge. Of course, my time in Lisbon would

Para eles, e para os leitores,

not have been the same without the support, counsel,

gostaria de transmitir os meus

wisdom, and most importantly the friendship of the

sinceros agradecimentos. E,

American and Portuguese staff at the U.S. Embassy in

como se aproxima a data da

Lisbon. To them, and to all of you, I would like to issue

minha partida, posso prometer

a heartfelt obrigado.

que esta mensagem não se

And so now, as the time draws near for me to take lea-

trata de um ‘’adeus,’’ mas sim

ve of Lisbon, I can only promise that this is not adeus

de um ‘’até logo’’.

but rather até logo.

n

n

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 61


ECONOMIA & FINANÇAS

O prémio nobel da economia apela à razão A crise em Portugal e as políticas monetárias europeias

Pelos finais de Maio, Paul Krugman, o economista lau-

enfrenta, como é sabido há várias décadas, está na

reado com o prémio Nobel, escreve sobre Portugal e a

implementação de políticas fiscais e económicas

crise que nos afecta no seu blog alojado no site do NY

expansionistas. Mas Portugal não conseguirá fazer

Times. Não quisemos deixar de partilhar o texto que

estas políticas por si só uma vez que já não tem a

aqui transcrevemos:

sua própria moeda. Assim, ou o euro deve terminar

«O Financial Times faz um longo e profundamente

ou algo deve ser feito para que resulte, porque o que

deprimente retrato das condições em Portugal,

vemos (e Portugal experiencia) é inaceitável.

focando-se na situação das empresas familiares[PME]

Como poderemos ajudar? Por uma expansão mais

- que em tempos foram o centro da sociedade e

forte no global da zona euro e maior inflação na

da economia nacional e que agora estão a falir em

Europa. Uma política monetária menos controlada

massa.

poderá alcançar estes objectivos, mas há que ter

É esta a situação. E quem quer que tenha algum

em conta que o BCE, tal como o Fed, é basicamente

papel no actual debate económico, seja um actor

contra o limite inferior zero. Pode e deve forçar

político ou um analista periférico, deve focar-se, acima

políticas não convencionais, mas necessita,

de tudo, no como e porquê se está a deixar que este

igualmente, de uma maior ajuda da política fiscal e

pesadelo aconteça passadas apenas três gerações

não uma situação onde a austeridade na periferia é

depois da Grande Depressão.

reforçada pela austeridade nos países maiores.

Não me venham dizer que Portugal tem tido más

O que aconteceu contudo foram três anos nos quais

políticas no passado e que tem profundos problemas

a política europeia se tem focado quase inteiramente

estruturais. É claro que tem; tal como todos os demais

nos supostos perigos da dívida pública. Penso que

mas, enquanto é discutível se as de Portugal são pio-

é um desperdício de tempo discutir como aconteceu

res que a de alguns outros países, como pode fazer

essa má orientação, incluindo o infeliz papel de alguns

sentido "resolver" esses problemas condenando um

economistas que fizeram um mau serviço no passado

vasto número de trabalhadores válidos ao desempre-

e que, provavelmente, o farão no futuro. Mas o mais

go?

importante aqui será pensar agora em como mudar

A resposta aos problemas que agora Portugal

estas políticas que estão a criar este pesadelo.»■

62 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013



SS.AS. - OS REIS

Os novos Reis dos Belgas A coroa que une um país de dois povos

Depois da recente abdicação oficial perante o Parlamento do Rei Alberto II, a Bélgica tem agora novos soberanos, herdeiros de pesadas coroas que devem manter firmes a bem da união do povo belga.

64 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


O novo rei nasceu Príncipe Filipe Leopol-

Entre 2001 e 2008, o casal é abençoado com

do Louis Marie da Bélgica a 15 de Abril de

quatro filhos: a Princesa Elisabete Teresa, o

1960 filho do futuro Rei Alberto II e da futura

Príncipe Gabriel Baudouin, o Príncipe Leo-

Rainha Paola. O seus padrinhos foram o Rei

pold Emmanuel e a Princesa Eleonore.

Leopoldo III e Luisa Princesa Ruffo de Ca-

Depois da abdicação oficial perante o Parla-

lábria. É curioso notar que Filipe ainda tem

mento, Alberto e Paola deixaram de ostentar

laços de família com o Duque de Bragança,

o título de Suas Majestades o Rei e a Rainha

Dom Duarte Pio: é trineto de Dona Maria José

dos Belgas e passaram a ser apenas o Rei

de Bragança, filha do Rei Dom Miguel de Por-

Alberto II da Bélgica e a Rainha Paola da

tugal, por parte de Elisabete da Baviera que

Bélgica. Filipe e Matilde receberam os títulos

casou com Alberto I, terceiro Rei dos belgas.

de Suas Majestades o Rei e a Rainha dos

Teve uma educação rigorosa e exigente pas-

Belgas, e a sua filha mais velha, Elisabete,

sando pela Academia Real Militar Belga, pelo

passou a ser a herdeira do trono, sendo-

Trinity College em Oxford e obteve um mes-

-lhe atribuído o título de Sua Alteza Real a

trado em ciência política na Universidade de

Duquesa de Brabante. Mas caberá a Filipe

Stanford, na Califórnia. Ao retornar à Bélgica,

manter a Monarquia vigente nas próximas

teve treino militar de comando e pára-quedis-

décadas de forma a deixar um trono para

ta e tornou-se um piloto certificado, chegando

Elisabete.

ao posto de coronel da Força Aérea Real da

Teme-se que as alterações possam perturbar

Bélgica. Mais tarde foi promovido a major-ge-

a delicada unidade do Estado belga que tenta

neral do exército e da força aérea, bem como

resolver as eternas questões entre valões e

contra-almirante da Marinha, em preparação

francófonos. A família real tem sido percebi-

para o seu futuro papel como Comandante

da como o cimento que mantém Bélgica uni-

Supremo das Forças Armadas. A sua forma-

da. A proposta de lei para o estabelecimento

ção militar terá moldado a sua personalidade,

de um código de conduta para a família real,

sendo um homem muito reservado e sereno.

foi recentemente aprovada. A partir de agora,

Quando o Rei Balduíno faleceu e o rei Alberto

e com excepção do Rei, a família real ver-se-

II sobe ao trono em 1993, ao príncipe Filipe

-á obrigada a ter as suas deslocações para

foi dado o título de Duque de Brabante. As

fora da UE e as suas reuniões com autorida-

suas aparições públicas e oficiais tornam-se

des estrangeiras aprovadas pelo Ministro dos

mais frequentes pelas exigências conferidas

Negócios Estrangeiros.

pelo seu novo título. O Duque vai cumprindo

A Bélgica não poderia pedir uma melhor

com rigor e sobriedade os seus deveres até

Família Real com os seus sólidos princípios

que, pelos finais da década de 90, conhece

de devoção, bondade, inteligência e firmeza,

aquela que viria a ser a sua companheira:

contudo não será fácil o reinado de Filipe.

n

Mathilde Marie Christiane Ghislaine d’Udekem d’Acoz. Filha de um Conde e neta de um Barão, Matilde nasce a 20 de Janeiro de 1973, em Uccle, e torna-se na primeira Rainha consorte de naturalidade belga. A sua juventude é passada em Bastogne e estuda para se tornar numa Terapeuta da fala, profissão que virá a exercer em Bruxelas antes de obter o seu Mestrado em Psicologia. É uma excelente aluna graduando-se sempre com louvores e exibe uma personalidade envolvente e carinhosa. A união é oficializada a 4 de Dezembro de 1999 em Bruxelas, pelo civil na Câmara Municipal de Bruxelas e, religiosamente, na Catedral de Saint Michel e Gudula Santo.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 65


SS.AS. - OS REIS

Suas Altezas Reais os Reis dos Países Baixos

O Reino dos Países Baixos foi estabelecido

primeira é uma cerimónia laica, enquanto a

em 1815, depois de uma complexa histó-

segunda tem uma natureza religiosa. A co-

ria de uniões e separações, conquistas e

roa, o ceptro e o pomo real são colocados

perdas de soberania. Tem como primeiro

na chamada mesa da credibilidade junto a

governante SAR o Rei Guilherme I dos

uma cópia da Constituição. Os represen-

Países Baixos, filho do último rei, Guilherme

tantes do povo, unidos nos Estados Gerais,

V, Príncipe de Orange, que volta para os

juram lealdade ao monarca e o mesmo jura

Países Baixos em 1813 após a derrota de

lealdade à Constituição. Porém, mesmo

Napoleão na famosa Batalha de Waterloo.

sem uma investidura, o monarca teria o

É a Casa de Orange-Nassau que se torna

direito de exercer o poder real, pois o trono

o centro e alma deste país e dá origem

não pode ficar sem representante: o rei

ao lema da Holanda, Je maintiendrai (“eu

Guilherme-Alexandre e a rainha Máxima.

manterei”). A dinastia mantém-se e a coroa

Antes de ser investido, Guilherme-Alexan-

vai sendo passada de pai para filho até que,

dre era já príncipe e teve, naturalmente,

em 1890, se dá início a uma regência femi-

que passar pelo serviço militar obrigatório

nina, que se manteve até à recente abdica-

na Marinha Real Holandesa e, depois, o es-

ção da Rainha Beatriz.

tudo de História na Universidade de Leiden,

Foi a 30 de Abril de 2013, que o príncipe

onde conclui o mestrado em 1993. O actual

Guilherme-Alexandre sucedeu à sua mãe,

rei dos Países Baixos teve também cursos

a rainha Beatriz, como novo monarca do

adicionais no Colégio de Defesa, tendo tido

Reino da Holanda. A cerimónia é chamada

acesso a um programa introdutório criado

de investidura e não de coroação, porque a

propositadamente para lhe dar mais ➤

66 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


informações sobre a sociedade holande-

na sociedade. Está obrigado a uma impar-

sa, a sua forma de governo e o seu sistema

cialidade e a contribuir para a estabilida-

legal.

de na sociedade e para a continuidade e

Foi a 2 de Fevereiro de 2002 que casou

progresso do país. É, na sua figura, que se

com Máxima Zorreguieta tendo já garanti-

refletem os sentimentos nacionais entre os cidadãos, nos bons e nos maus momentos. É o rei que representa o Reino dos Países

"

O PRÍNCIPE GUILHERME-ALEXANDRE

Baixos no exterior e, dentro do país, em conferências, reuniões, comemorações e outros eventos oficiais.

SUCEDEU A SUA MÃE, A RAINHA BEATRIZ, COMO NOVO MONARCA DO REINO DA HOLANDA

Enquanto casal, o rei Guilherme Alexandre e a rainha Máxima têm uma importante função social através da Fundação Oranje

"

da a sucessão. A primogénita, a princesa

Fonds. Estabelecida em 2002 como um presente de casamento nacional, a fundação apoia iniciativas sociais na Holanda. O rei também atua em várias áreas, como contro-

Catarina Amália, é a primeira na linha de

le de água, infraestrutura e ICT, Desporto e

sucessão ao trono holandês, seguindo-se a

no Ministério da Defesa. n

princesa Alexia e a princesa Ariane. Os deveres e funções dos novos Monarcas: Como monarca constitucional, o soberano dos Países Baixos tem o seu papel e posição definidos e limitados pela Constituição. É a magna carta holandesa que determina a ordem de sucessão, os mecanismos de ascensão e abdicação ao trono, as funções e as responsabilidades do monarca, bem como as formalidades a serem cumpridas na sua comunicação com os Estados Gerais dos Países Baixos e na criação das leis. A Constituição garante, igualmente, a inimputabilidade do Rei, atestando que apenas os ministros são responsáveis, perante o Parlamento, pelas políticas do Governo. Os ministros são, da mesma forma, politicamente responsáveis pelas declarações e comportamentos do rei. A posição do rei é parcialmente refletida nas leis a referendar e contribui para a formação do governo. Além disso, o rei é, cumulativamente, presidente do Conselho de Estado e cabe-lhe a ele fazer o discurso anual do trono. Além dos deveres formais como Chefe de Estado, o rei está comprometido com o povo do Reino dos Países Baixos. O rei assume um papel coeso, representativo e de suporte. Deverá ser a pedra de toque da sociedade holandesa, ligando as pessoas e grupos e apoiando o trabalho de pessoas e organizações que têm um papel unificador

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 67


HISTÓRIA

A Última Rainha de Portugal Entrevista com o Dr. José Alberto Ribeiro sobre o seu livro «Rainha D. Amélia - uma biografia» por Nuno Vaz de Moura

O recente director do Palácio Nacional da Ajuda, José Alberto Ribeiro acaba de lançar uma biografia sobre a Rainha D. Amélia figura sobre a qual está prestes a concluir o seu Doutoramento. Licenciado e mestre em História da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, este prestigiado académico concedeu uma entrevista à Diplomática para falarmos da sua obra e daquela que foi a última Rainha de Portugal.

68 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


Antes de mais, porquê a es-

vem de uma família muito ligada

nacionais. Foi necessário uma

colha da Rainha D. Amélia?

à protecção das Artes. O seu

longa demarche até chegar ao

O tema da Rainha D. Amélia

bisavô, o Rei D. Filipe, foi quem

objectivo final.

surgiu inicialmente num âmbito

abriu Versalhes ao público e

É verdade que D. Amélia é tam-

académico, na preparação da mi-

o seu tioavô, Duque de Auma-

bém uma princesa de França,

nha tese de Doutoramento sobre

le, D. Henrique de Orleães foi

mas o Estado Português não

a ligação da Rainha na protecção

quem criou a grande Pinacoteca

tem uma palavra nisso?

do património artístico, arquitec-

do Chatêau de Chantilly. E é a

Não tem pela seguinte razão: a

tónico e arqueológico português,

Rainha D. Amélia quem, ao se

Rainha antes de morrer faz vários

que é uma faceta menos conhe-

perceber da importância e mag-

pedidos - sendo que alguns não

cida da D. Amélia. Sobre o tema

nitude da colecção de coches

são cumpridos: não queimaram

dou apenas algumas indicações

da casa real portuguesa, decide

a sua cama, com as armas de

no livro, uma vez que não faria

criar um museu para albergá-los.

Portugal e França nem os diários

sentido debruçar-me sobre o

Acompanhará todas as

conforme era sua vontade. Dos

tema numa biografia.

obras, escolhe as peças, acom-

diários foram feitos dois lotes.

Mas acaba por mencionar

panha os artistas que fazem as

O lote mais pequeno ficou como

alguns exemplos como o caso

pinturas; enfim há um desejo de

propriedade do último mordomo

da tentativa de impedimento

intervir e acompanhar todos os

da Rainha que nos anos de 1980

de construção de uma fábrica

trabalhos.

falece e os herdeiros colocam-

junto à Torre de Belém.

Diz na nota introdutória que é

-nos em leilão e o coleccionador

Sim. Há alguns exemplos sobre-

uma das poucas pessoas que

Fenerol que é um grande apai-

tudo para testemunhar que era

teve acesso aos Diários da

xonado pela figura da Rainha

uma mulher bastante culta e com

Rainha D. Amélia - que aliás

D. Amélia os licita. O outro lote,

uma grande consciência patri-

deveriam ter sido queimados,

maior, caiu em herança ao sobri-

monial. Isso ficou expresso em

conforme desejo da Rainha.

nho da Rainha, o Conde de Paris

alguns dos seus trabalhos como

Como se deu esse acesso?

e pretendente ao trono de Fran-

por exemplo do restauro da Sé

Como chegou lá?

ça. Em determinada altura, os

catedral de Coimbra que é pago

Foi um processo moroso de anos,

diários passam para os Archives

pelo bolso da própria Rainha

de conhecimentos, de pedidos de

Nationales, que são o equivalen-

pedindo que não seja divulgada

autorização. Houve apenas dois

te francês da Torre do Tombo.

essa notícia ou, o que poderá ser

biógrafos - ambos franceses e já

Mas a família Orleães tem hoje

novidade para muitas pessoas,

falecidos - que tiveram acesso

uma ligação a Portugal, nomea-

o facto de os primeiros trabalhos

aos ditos diários. Um deles Ca-

damente pelo Duque de Anjou, D.

arqueológicos em Conimbriga

tinot-Crost, que teve acesso aos

Carlos Filipe de Orleães, marido

terem sido também financiados

diários em posse do colecciona-

da Duquesa de Cadaval, D. Dia-

pela D. Amélia.

dor Rémi Fenerol e faz a sua bio-

na Álvares Pereira de Melo.

Procurei dar nesta biografia uma

grafia recorrendo a documenta-

Essa ligação a Portugal é já

visão alargada desta figura, des-

ção paralela; e o jornalista Lucien

anterior, entre os Braganças e os

de o plano pessoal, emocional e

Coperchot com a colaboração da

Orleães. Uma irmã de D. Pedro

das suas relações com aqueles

própria Rainha D. Amélia. E a do

II, D. Francisca de Bragança ca-

que lhe são mais próximos, até

Stephen Bern, que produz uma

sou com o Príncipe de Joinville,

ao seu quotidiano enquanto so-

biografia romanceada adulteran-

D. Francisco Fernando de Or-

berana e enquanto mulher e mãe.

do alguns factos. No âmbito da

leães. Mais tarde, no ramo bra-

E depois no seu exílio, nunca se

minha pesquisa académica era

sileiro dos Bragança, a Princesa

esquecendo que era Rainha de

imperioso consultar esses diários

Imperial D. Isabel de Bragança

Portugal, a sua actividade mais

para saber o que a Rainha escre-

e Bourbon casa com o Conde de

ligada à casa real francesa uma

veu acerca das suas preocupa-

Eu, D. Gastão de Orleães, dando

vez que era uma Princesa de

ções patrimoniais.

origem à Dinastia Orleães-Bra-

França.

Os diários que estão em Paris

gança do lado brasileiro. Quanto

Também se faz referência à

são propriedade da casa Real

ao casamento que acabou de

sua formação cultural. Ela que

de França e estão nos arquivos

referir há que ver que a Casa

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 69


A Última Rainha de Portugal

de Cadaval é um ramo da Casa

de Bragança com um sobrinho neto da Rainha D. Amélia e que anteriormente ainda houve o casamento a mãe de D. Duarte Pio, actual Duque de Bragança que era uma princesa Orleães- Bragança do lado do Brasil. Há uma ligação sempre muito próxima entre as duas famílias. Essa ligação poderá explicar a escolha do futuro Rei de uma princesa francesa sem coroa? Tendo em conta que se vivia um momento em que a Monarquia começava a estar posta em causa e que uma princesa inglesa ou espanhola poderiam ser mais benéficas em termos políticos. Como é referido no meu livro, D. Luís e D. Maria Pia ainda tentaram uma ligação com a Infanta D. Eulália numa altura em que se falava também de um Iberismo. Mas a Princesa não aceitou sob nenhuma hipótese o casamento. Porque, como leio na sua obra, era uma espécie de feminista avant-la-lettre. Sim, de facto. Por outro lado sendo D. Carlos de um país extremamente católico teria que casar com uma católica. A maior parte das princesas alemãs disponíveis não o eram e em Inglaterra não havia nenhuma princesa disponível. Houve cartas a de D. Luís à Rainha Victória para ver se poderia haver alguma pretendente, contudo Victória não autorizava que nenhuma neta se casasse com um Rei católico. O facto da Rainha D. Amélia, que era a filha mais velha do Conde de Paris, não ser coroada não foi de grande importância. A família Orleães ainda tem uma grande importância no séc. XIX francês. Estamos a falar de uma família que tinha a herança de uma das maiores monarquias e que

70 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


marcou em termos de tradição

Reinar - estando sempre muito

cês. E há mesmo uma frase que

e em termos culturais toda a

por detrás do Rei D. Manuel -

a Rainha usa muito e que resume

Europa. E, igualmente, uma das

rodeada de um grupo de amigos

este comportamento: « Não sei

famílias mais ricas da Europa

formando uma camarilha que pro-

estar parada, é preciso seguir em

do Séc. XIX. Essa influência fez que, por várias vezes, a França estivesse quase a retornar à Monarquia; e isso era muito possível que viesse a acontecer mas a História veio a mostrar que as coisas seguiram noutro sentido. E dou-lhe um exemplo: a prima da Rainha D. Amélia, Marie d'Orleães, casa com o filho do Rei da Dinamarca. Portanto, os Orleães continuam a fazer muito bons casamentos entre os

frente.»

"

Para além dessas acções mais

A RAI N H A VA I S ER S EM P R E AC U S AD A

institucionais, e que já são

PO R U M A PA R T E D E INTELECTUAIS E UMA

AL A M AI S L I BERAL D O P O N TO D E VI S TA P OLÍTICO DE SER UMA M U L H ER U LT R A-C O NS ERVAD O RA, M U I TO L I G AD A À I G REJ A.

seus descendentes porque é uma família com uma grande tradição

"

muitas, como ocupa a Rainha o seu tempo? Em Portugal, há um contacto muito permanente com o povo. A Rainha anda a cavalo pela zona das avenidas novas e pelo Campo Grande; passeia na Avenida da Liberdade, que tinha poucos anos, e era um local onde as pessoas se passeavam e se mostravam. Na altura da Páscoa visita as Igrejas do Chiado.

e importância política.

voca a existência de dois grupos

Estamos a falar de uma situação

Voltando à Rainha D. Amélia.

no paço: um mais próximo do Rei

que seria impensável numa Mo-

Esta foi uma Rainha que dividiu

D. Carlos e outro mais próximo

narquia inglesa, esta proximidade

opiniões tendo, como escreve,

da Rainha. É, igualmente, criti-

com o povo e incutindo a Rainha,

existido uma lenda áurea e uma

cada pelas várias iniciativas que

inclusivamente, aos filhos a ne-

lenda negra. Poderia nos di-

tem como ânsia de protagonismo.

cessidade de cumprimentarem as

zer quais as características da

A criação da assistência nacional

pessoas e de se aproximarem.

Rainha que determinaram estas

aos tuberculosos, dos institutos

E fruiu resultado junto do

duas lendas?

de protecção aos órfãos, às viú-

povo?

A Rainha vai ser sempre acusada

vas e aos militares, do instituto

Foram muito populares sem-

por uma parte de intelectuais e

de socorro a náufragos são vistos

pre. Aliás tive a preocupação

uma ala mais liberal do ponto de

como estruturas paralelas de po-

no livro de, além das visitas que

vista político de ser uma mulher

der e gera mal estar na corte.

faz desde Portugal continental à

ultra-conservadora, muito ligada

Era vista como uma mulher

primeira viagem dos Monarcas

à Igreja. Sendo que a referên-

demasiado activa, digamos

à Madeira e Açores de pôr um

cia, quando a D. Amélia chega a

assim.

pouco, por zonas geográficas

Portugal, era a Rainha D. Maria

Eu acho que é algo que os auto-

algumas impressões da Rainha.

Pia. Esta última, que chega ao

res vão perceber no livro: é que

Esta fica sempre impressionada

nosso país com quinze anos, mas

ela nunca estava parada. Está

com o fenómeno da Monarquia,

era filha do homem que veio a

sempre ligada a causas quer em

com a magia dos soberanos em

fazer a unificação de Itália. Para

Portugal, enquanto Rainha, quer

determinados locais. E sobretudo

os liberais a Rainha D. Maria

no exílio. A I Guerra Mundial

maravilhada com o desenvolver

Pia é sempre vista como filha do

foram quatro anos muito intensos

das obras que manda fazer: nos

Rei liberal unificador enquanto a

na vida de D. Amélia alistando-se

sanatórios onde sabe que já há

Rainha D. Amélia vai ser sempre

como enfermeira na cruz ver-

crianças que estão para chegar;

encarada um pouco como estan-

melha inglesa e depois na cruz

nas enfermarias novas do Hospi-

do ligada a um meio mais conser-

vermelha francesa sendo conde-

tal de S. José que frequentemen-

vador. Por outro lado, a própria

corada pelo Rei Jorge V. Na II

te visita; nos bairros pobres que

historiografia que se foi fazendo,

Guerra Mundial, devido à avan-

frequenta oferecendo ajuda. Não

sobretudo após a implantação da

çada idade isso já não lhe foi

estamos a falar de uma soberana

República, cria a imagem de uma

possível mas está sempre ligada

que estivessem sempre dentro do

mãe que quase não deixa o filho

à protecção do património fran-

palácio das Necessidades,

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 71


A Última Rainha de Portugal

de uma figura de Estado só

que esta será como que uma Rai-

isso num texto e será comentado

protocolar.

nha malfadada. Quase tudo o que

mais tarde pela D. Amélia. E a

A Rainha visitava o povo e

poderia acontecer, aconteceu. No

própria Rainha e o D. Carlos não

estava junto o povo; talvez

sentido pior do termo.

morrem devido a esse gesto. O

por isso escreve «Sinto no ar

A Rainha tem a noção disso.

gesto desesperado de uma mãe

qualquer coisa de desprezível.»

Tem a noção que há sempre uma

que se levanta, no landau aberto,

Ela sentia que estava algo para

sombra que a acompanha. Vou-

e tenta defender com um bouquet

acontecer? D. Amélia tinha a

-lhe dar um exemplo: A Rainha

de flores que lhe tinha sido ofe-

noção de estar a viver sob uma

faz uma viagem a Viena para

recido quando chegou à estação

espada de Dâmocles?

procurar noivo e um dos possí-

fluvial da Praça do Comércio. Foi

Toda a família real tem a no-

veis pretendentes seria Francisco

D. Carlos que quis que o lan-

ção de que, os últimos anos

Fernado, um sobrinho do Impe-

dau fosse aberto, o que foi um

da Monarquia e ainda antes do

rador Francisco José. Quando

erro uma vez que circulava em

regicídio a degradação política

o Imperador morre sucede este

Lisboa, onde se preparava um

era muito grande. Não se conse-

sobrinho, uma vez que o seu

atentado real. É no momento em

guiam fazer as reformas neces-

filho Rudolfo foi assassinado. E

que um dos regícidas se debruça

sárias no Estado e o próprio do

é este sobrinho Francisco Fer-

sobre o landau com uma carabi-

Rei D. Carlos muito próximo do

nando, que em 1914 vem a ser

na que a Rainha lhe bate com as

seu atentado comenta com o seu

juntamente assassinado com a

flores e que o consegue afastar,

médico, Tomás de Mello Breyner

sua mulher em Sarajevo e dá

enquanto a guarda não chega,

que sentia que havia uma hosti-

início à I Guerra Mundial. Depois

e com isso salva D. Manuel que

lidade crescente contra a família

deste atentado a própria Rainha

ainda é ferido num braço. E aí

real. Aliás, o Reinado começou

comenta que há sem algo negro

grita «Infames! Infames!».

logo com o Ultimato inglês e um

que a acompanha. Depois há o

Na biografia, que o Stephen

ataque cerrado à família real

episódio que marcará esta fi-

Berg escreveu, põe a Rainha a

apontando-os como responsá-

gura e que ficará no imaginário

escrever no dia 1 de Fevereiro

veis. Hoje sabe-se que tal não é

que são as tragédias pessoais.

relatando o desgosto, o que para

correcto uma vez que se alguns

Ela vê o marido e o filho serem

mim nunca fez muito sentido, em

dos territórios não ficaram total-

assassinados à sua frente a 1 de

termos de psicologia humana.

Fevereiro de 1908 e o único filho

Depois da consulta dos diários,

que lhe restava, D. Manuel, vem

atesto que a Rainha no dia 1 de

a morrer quando está em exílio

Fevereiro não consegue escre-

em 1932.

ver e apenas coloca uma cruz

Depois, todos os familiares e os

demorando dias até voltar a

que lhe são mais próximos vão

escrever. Escreve mais tarde que

morrendo. Na própria família Or-

nunca perceberá o porquê do que

leães a D. Amélia passa a ser um

aconteceu no Terreiro do Paço:

monumento da família.

porque é que foi necessário

Em 1908 aconteceu o pior: a

matarem-lhe o marido e o filho.

morte do filho e do marido. Não

Não lhe parece, ao mesmo

encontramos nada escrito nos

tempo, que é estranho que

seus diários sobre o aconte-

grite «Infames!» e não «Guar-

cimento e a Rainha só volta a

da!», «Acudam!» ou «Aqui d'el

mente ocupados pelos ingleses

escrever a 25 de Março. Como

Rei!»? E pergunto isto também

deve-se às acções diplomáticas

profundo conhecedor da Rai-

porque ao se ler a sua biografia

do Rei D. Carlos e da família real

nha D. Amélia como descreve-

e mesmo as transcrições que

inglesa. Mas sentem, de facto,

ria esse momento? A versão

faz do diário parece que a D.

que havia uma degradação poli-

oficial de gritar «Infame! In-

Amélia, como mulher do seu

tica e que se caminhava para um

fame!» enquanto bate com as

tempo, estava um pouco imbuí-

desaire que viria a acontecer.

flores, corresponde à verdade?

da naquela literatura românti-

Ao se ler a biografia percebemos

É verdade. D. Manuel descreve

ca. Há certas alturas em que

"

A O S E L E R A B I O-

G R A F I A P E R C E B EMOS Q U E E S TA S E R Á COMO QUE UMA R A INH A M A L FA D A D A. QUASE TUDO O QUE P OD E R I A A C O N T EC E R, A C O N T E C E U. NO SENTIDO PIOR D O T E R M O.

"

72 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


me parece uma mistificação e

Mas entretanto, em 1910, dá-se

Convém referir, também, que

um romanceamento; não tan-

a implementação da República

Salazar tem sempre uma política

to de forma propositada, mas

e em 1911 morre Eduardo VII e

de meio-termo dizendo sempre

como vítima do seu tempo, aca-

essa possibilidade passou a ser

que o momento não era oportu-

bando por escrever de acordo

mais remota.

no [para restaurar a Monarquia]

com o estilo em voga na época.

Eu vou, propositadamente

mas procurando sempre cativar

O que é que dos escritos é um

deixar de parte o período de

os monárquicos. A partir de 1945

romancear de si própria e a

exílio da Rainha e passo a uma

a saúde da Rainha deteriora-se

verdade?

pergunta algo difícil sobre um

rapidamente vindo a falecer em

Obviamente que num diário se

assunto que irá sempre gerar

1951.

escreve apenas o que se quer

polémica: Que opinião consi-

Para terminar e de uma for-

deixar. Há uma tendência um

dera que D. Amélia tinha de

ma sucinta, qual a verdadeira

pouco melancólica em D. Amé-

Salazar?

diferença desta biografia em

lia: a Rainha vai-se abaixo com frequência. E isso transparece. Mas por vezes os seus escritos são apontamentos telegráficos. Por outro lado, respondendo à sua pergunta há que ter em conta que o momento foi muito rápido: entre a chegada ao cais e a entrada no arsenal são três minutos. Acontecem os tiros, o cocheiro vira a carruagem para a Rua do Arsenal e entram dentro

"

relação às outras? O que é que

ESCREVE MAIS TARDE QUE NUNCA PERCEBERÁ O PORQUÊ DO QUE ACONTECEU NO TERREIRO DO PAÇO: PORQUE É QUE FOI NECESSÁRIO MATAREM-LHE O MARIDO E O FILHO.

"

traz de novo? Em primeiro lugar procurei usar só fontes primárias, documentos originais. A maior parte das vezes é a Rainha que fala e que dá a sua opinião sobre determinados assuntos. Em alguns assuntos não se sabia se se tinham passado ou não, por exemplo, em relação à ligação ao ramo Miguelista (pacto de Dover e pacto de Pa-

do túnel e é o único momento em

Tinha uma opinião favorável.

ris), e agora confirmamos o que

que a Rainha, a sair da carrua-

Temos que enquadrar o que foi a

a Rainha escreveu sobre esses

gem tem um momento em que

I República, de uma grande ins-

assuntos e atestamos a vontade

desmaia. Ela que era uma mulher

tabilidade e de grandes dificulda-

constante dessa ligação. Há uma

muito forte logo se tenta levantar

des para o país e nas relações

grande novidade que o livro traz:

até por uma questão de com-

com a família real em exílio. A

perante o último pacto de Paris,

postura. Há um lado prático da

comunicação era pouca e difícil

em que mais uma vez falhou

Rainha. Inclusivé pouco depois

com as sucessivas mudanças de

a ligação com o outro ramo da

do incidente a Rainha continua a

governo. Quando D. Manuel mor-

família desavindo do lado Migue-

trabalhar e é ela, que prepara os

re, em 1932, estávamos no início

lista a ideia de D. Manuel II de

funerais e toda a logística para

do Estado Novo e Salazar man-

procurar no ramo brasileiro dos

receber as famílias reais que vi-

da fazer um funeral de Estado

Orleães-Bragança, um preten-

riam para as exéquias. E também

para o Rei deposto. Obviamente,

dente para a coroa portuguesa.

a atender à recuperação do filho

D.Amélia aprecia essa atitu-

O que não veio a acontecer em

sobre vindo.

de. Nos anos que se seguem,

tempo de vida de D. Manuel II.

A partir daí será essa ocupação

na década de 40 a Rainha não

Curiosamente isso virá a aconte-

com o filho a sua principal preo-

interfere havendo apenas a troca

cer porque é uma irmã do preten-

cupação. Nomeadamente na

de cartas protocolares. Duran-

dente à coroa imperial do Brasil,

procura de um bom casamento.

te a guerra a Rainha recusa vir

a Princesa D. Maria Francisca

Sim de facto, e agora procura-

para Portugal e mantém-se em

de Orleães Bragança que casa-

-se uma princesa inglesa e o

França, no Palácio de Belle-

rá com D. Duarte Nuno, pai do

Rei Eduardo VII, ao contrário de

vue com a bandeira portuguesa

actual pretende. O que nenhum

Vitória, estaria muito empenha-

hasteada bem alto. No fim da

pacto conseguiu resolver, a liga-

do em ter uma sobrinha ou neta

Guerra, em 1945, Salazar con-

ção das duas famílias acabou por

casada com um Rei português

vida a Rainha a vir a Portugal e

resolver e a Rainha ainda vem a

para garantir a aliança inglesa.

as relações mantém-se cordiais.

saber e fica satisfeita.

n

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 73



Moçambique na hora do grande salto Da pujante Mussa Mbiki ao promissor país do futuro

Lenta, mas inexoravelmente, o País desperta das longas trevas de um continente marcado pela ocupação colonial, os conflitos étnicos e as guerras civis. Moçambique é tempo presente dessa África nova que desponta como desafiando o velho mundo dos antigos colonizadores e afirmando-se como terra de esperança.

´ Africa +

MÊS/MÊS 2013 2012 - DIPLOMÁTICA • 75 OUTUBRO


Moçambique na hora do grande salto

Maputo

Localizada na costa oriental da África Austral, a

Pelo Canal de Moçambique as fronteiras marítimas

República de Moçambique está num meio tempo en-

beijam as Comores, Madagáscar, Mayotte e as ilhas

tre a rica história de um passado sinuoso - e durante

Juan de Nova, Ilha Europa e Bassas da Índia. Uma

séculos infeliz para o seu povo - e os desígnios da

multiplicidade de influências, de culturas e de trajec-

modernidade que fazem do país uma séria aposta

tos, bem visível aliás nas organizações internacionais

com futuro, num continente que, aos poucos, vai des-

onde marca presença: a SADC, a Commonwealth, a

pertando dos coletes de forças do colonialismo e da

Organização da Conferência Islâmica e naturalmente,

exploração das contradições tribais sempre aproveita-

a CPLP e as Nações Unidas. E a capital, Maputo, é

das por quem rema contra o progresso e a libertação.

o espelho e epicentro de todas essas influências que

Moçambique, cujo desenho territorial é decorrente

fazem de Moçambique uma fantástica manta de reta-

da partilha geoestratégica dos velhos impérios, faz

lhos com laços de afecto por quase todo o mundo.

fronteira a norte pela Tanzânia, tendo a noroeste o

O nome do país, inicialmente circunscrito àquela que

Malawi e a Zâmbia, a oeste o Zimbabwe, a sul e su-

hoje é conhecida por Ilha de Moçambique – e primei-

doeste pela África do Sul e a Suazilândia e a leste ba-

ra capital da colónia portuguesa – terá origem no pró-

nhado pelo canal do mesmo nome e o Oceano Índico.

prio nome de um comerciante árabe que ali viveu,

76 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO MÊS/MÊS 2012 2013


século XX é que o território conhece uma genuína administração colonial, segundo o desenho tradicional das ocupações europeias no continente africano. O fim do império… Atalhando caminho, galgando séculos e décadas sem nos perdermos em preciosismos históricos, Moçambique moderno está marcado por três acontecimentos centrais: a luta de libertação nacional e a independência; a guerra civil e o processo de estabilização democrática que se seguiu ao conflito armado, que se prolongou por 16 longos anos, opondo a Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, legitimada pelos acordos com a ex-potência colonial, e a Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO. ...e o início de um tempo novo Independente a 25 de junho de 1975, na sequência de vários acontecimentos históricos como o golpe de Estado militar de 25 de Abril de 1974 e a revolução que se lhe seguiu, e os acordos de Luzaka que reconheceram a FRELIMO como legítima representante daquele povo africano, Moçambique foi antecedido de uma dura guerra de libertação contra o ocupante, que se estendeu por duas décadas, tendo como nomes referenciais Eduardo Mondelane (o primeiro líder e um alto funcionário das Nações Unidas) e Samora Moisés Machel (o primeiro Presidente da então denominada República Popular de Moçambique). Durante 19 anos dirigido em regime de partido único, Moçambique tornou-se num Estado democrático pluripartidário a partir das eleições gerais de 1994, e a FRELIMO nunca abandonou a liderança do Estado, legitimada agora pelo voto popular e, diga-se de passagem, pela inconsistência larvar da oposição política que nunca conseguiu espaço próprio e património de credibilidade que lhe permitisse lugar sentado à mesa do poder. Com cerca de 21 milhões de habitantes, e com 30 ➤

mas opiniões dividem-se, ademais pelo facto de os

por cento de população urbana, Moçambique é um gi-

primeiros registos históricos conhecidos remontarem

gante adormecido que, nos últimos anos, tem vindo a

ao século X. O mercador, a fazer fé na nebulosa que

despertar como centro de negócios e oportunidades,

medeia entre a lenda e o conhecimento cientifico,

apesar de manter ainda níveis de pobreza preocupan-

seria Ben Mussa Mbiki de sua graça.

tes e condições climatéricas adversas causadoras de

A incursão portuguesa pela região que hoje é conhe-

efeitos catastróficos.

cida por Moçambique e tem as actuais fronteiras dá-

O turismo, a agricultura, as pescas, o gás natural

-se a partir do século XV, mas com rigor só a partir da

e a indústria de extracção mineira, particularmente

Conferência de Berlim de 1885 – onde as potências

o carvão metalúrgico e térmico (com as jazidas de

europeias gizaram a partilha dos territórios africa-

Tete consideradas como as maiores do mundo), são

nos – é que se assiste a uma verdadeira ocupação

as grandes mais-valias de um país que, aos poucos,

colonial e militar, submetendo pela força os diversos

mas com passos seguros, vai encontrando o seu

Estados bantus que imperavam, pelo menos desde o

lugar neste mundo e é, inquestionavelmente, um dos

século X, particularmente o império dos Mwenemu-

pilares da África moderna que, inexorável, desponta

tapas. Mas, de facto, só a partir dos primórdios do

como desafiando o velho mundo dos antigos colonos.

´ Africa +

MÊS/MÊS 2013 2012 - DIPLOMÁTICA • 77 OUTUBRO


Moçambique na hora do grande salto

Armando Guebuza

A marca Guebuza

Um ano depois, o jovem revolucionário parte para a Ucrânia onde frequenta a escola militar de Pere-

Um tempo novo que deixará a marca de Armando

valny. Depois é o regresso ao país, mergulhando na

Guebuza, um homem que bem cedo se juntou à luta

luta armada e na actividade clandestina.

de libertação nacional e esteve sempre no centro

Por emergência do 25 de Abril de 1974 em Portugal

das grandes decisões de Moçambique independen-

e do sequente processo negocial para a indepen-

te.

dência de Moçambique, Armando Guebuza integra

Nascido em 20 de Janeiro de 1942, Guebuza juntou-

o Governo de Transição ocupando a pasta da Admi-

-se à FRELIMO em 1963, corriam os tempos de

nistração Interna, uma área em que é reconduzido

fogo da luta contra a ocupação colonial portuguesa.

no primeiro executivo do pós-independência, desta

78 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO MÊS/MÊS 2012 2013


Parque Nacional da Gorongosa

"

UM TEMPO NOVO QUE DEIXARÁ A MARCA DE ARMANDO GUEBUZA, UM HOMEM QUE BEM CEDO SE JUNTOU À LUTA DE LIBERTAÇÃO

NACIONAL E ESTEVE SEMPRE NO CENTRO DAS GRANDES DECISÕES DE MOÇAMBIQUE INDEPENDENTE

"

Cahora Bassa

feita como ministro do Interior. E, daí para a frente,

O partido chama-o, de novo para um alto cargo,

esteve sempre nos postos cimeiros do partido e do

elegendo-o secretário-geral em 2002 e tornando-o

Governo.

no candidato oficial da FRELIMO nas presidências

Pelo meio, após a grande abertura política opera-

de 2004. Em fevereiro do ano seguinte é eleito como

da por Joaquim Chissano - que sucedeu a Samora

terceiro Presidente da República de Moçambique

Machel na Presidência da República depois da sua

e, de então para cá, tem-se mantido no comando e

morte -, cortando com a economia planificada socia-

projectado o seu nome na cena internacional, onde

lista, Armando Guebuza torna-se um empresário de

já é reconhecido pela sua habilidade política, capa-

sucesso, com interesses nos sectores da indústria

cidade de persuasão e capacidade inata para gerar

de construção, exportação e pescas.

empatias.

´ Africa +

n

MÊS/MÊS 2013 2012 - DIPLOMÁTICA • 79 OUTUBRO


Visita da delegação da UCCLA a Luanda

Entre os dias 22 e 26 de julho, uma representação da

1

UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa), coordenada e dirigida pelo Secretário-Geral, Vitor Ramalho, e com o assessor para a área de Angola, José Bastos, deslocou-se a Luanda, para realizar reuniões com os mais altos responsáveis do Governo Provincial de Luanda, com o presidente da Comissão Administrativa de Luanda e com os Administradores dos Municípios do Cazenga e Belas, entidades associadas da UCCLA. A finalidade da visita consistia no encetamento de diligências e ações integradas em projetos que envolvam as referidas entidades e para os quais a UCCLA se associou. Os objetivos iniciais da visita foram, largamente, ultrapassados tendo os representantes da UCCLA tido oportunidade de realizarem reuniões de trabalho, envol-

2

vendo todos os Municípios de Luanda, para além do Governo Provincial, reunindo ainda com os presidentes das duas maiores instituições bancárias angolanas Banco de Poupança e Crédito e Banco de Negócios Internacional -, e do mundo empresarial. A visita foi concluída com uma audiência com o Vice-Presidente da República, Dr. Manuel Vicente, a que se seguiu uma conferência de imprensa a que a comunicação social deu relevo significativo. Para além das razões que motivaram a visita, foi possível consensualizarem-se propósitos de iniciativas futuras, propostas pela UCCLA e acarinhadas ao mais alto nível pelas autoridades angolanas, envolvendo uma homenagem aos jovens, de ambos os sexos, origi-

3

nários de ex-colónias portuguesas e que, sob o regime anterior, contribuíram, nos anos sessenta do século passado, de forma muito determinante, em Lisboa, para a luta da libertação dos povos colonizados, em solidariedade com os estudantes portugueses. Este objetivo, de salvaguarda da memória coletiva, será acompanhado de outras iniciativas que, seguramente, aproveitarão, em reciprocidade às PME’s (pequenas e Médias Empresas), em articulação com as ações projetadas para os municípios associados da UCCLA. De salientar que a delegação da UCCLA visitou o monumento erguido em memória dos “Heróis que na manhã de

1. Reunião com o Governador Provincial de Luanda

4 de Fevereiro (1961) quebraram as algemas”, o Com-

2. Reunião com o Administrador do Município de Cazenga

plexo Escolar 329 do Cazenga, os estaleiros das obras

3. Reunião com o Presidente da Comissão Administrativa de

integradas no Gabinete de Reconversão do Cazenga.

Luanda

Regista-se o acolhimento que a delegação da UCCLA teve em Angola, com uma cuidada programação e uma muito eficaz organização. ■

80 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO MÊS/MÊS 2012 2013


MALA DIPLOMÁTICA

Embaixador dos EUA em Portugal, Allan J. Katz assinala o Dia da Independência dos EUA criar novas oportunidades para o desenvolvimento económico, através de missões comerciais entre os dois países, assim como cooperação na área do empreendedorismo. Tenho tido a oportunidade de encontrar muitos jovens empreendedores. Para mim são uma inspiração e tenho grande confiança que o futuro da economia de Portugal com eles está em boas mãos. É importante terem oportunidades aqui em Portugal. Temos muita admiração pelo espírito e humanidade das pessoas de Portugal. Num mundo que é muito perigoso e com muitas mudanças é importante saber quem são os nossos amigos verdadeiros. Temos a certeza que Portugal vai continuar a trabalhar com os Estados Unidos na luta contra o terrorismo. Sabemos que a liberdade e Nancy e eu desejamos a todos mui-

te Cavaco Silva na reunião com o

o futuro dos nossos filhos são tão

to boas vindas para esta celebração

Presidente Obama na Casa Branca.

importantes para os portugueses

do dia da Independência dos Esta-

Os nossos dois países trabalharam

como para nós.

dos Unidos.

juntos durante o período em que

Queria que Portugal soubesse que

Estamos muito felizes de ter muitos

Portugal foi membro do Conselho de

os Estados Unidos estão prontos a

amigos aqui connosco. Para nós

Segurança das Nações Unidas.

ajudar na medida do possível.

isto é muito gratificante mas também

Juntos defendemos os direitos dos

Por fim, gostaria de dizer que vou

um pouco triste.

povos da Líbia, da Síria, assim

sempre lembrar que há trinta e nove

Esta é a quarta vez que tenho a

como de outras partes do mundo,

anos Portugal teve uma revolução

honra de discursar nesta ocasião

porque os nossos valores humanos

evitando o comunismo, uma guerra

como Embaixador dos Estados Uni-

são os mesmos.

civil, acolhendo quase um milhão

dos em Portugal.

Compreendo que a situação eco-

de pessoas e criando uma grande

Contudo, será a última vez que o

nómica em Portugal tem sido muito

democracia.

farei como embaixador.

difícil. Os portugueses estão a fazer

É esse espírito que hoje vejo nos

Queria agradecer a todos por toda a

muitos sacrifícios e as suas vidas

portugueses e acho que o futuro

simpatia que demonstraram a Nancy

não são normais neste momento.

de Portugal vai ser melhor. Juntos

e a mim durante o nosso tempo

Gostaria que soubessem que os

iremos fazer um mundo melhor.

aqui. Por isto, parte dos nossos

americanos compreendem esta

Durante a Revolução Americana,

corações vai sempre pertencer a

situação.

Thomas Payne disse: “A causa

Portugal.

Como nossos mais antigos aliados

americana é a causa da humani-

Durante a nossa estadia aqui, de

vamos continuar a procurar oportu-

dade.” Hoje, juntos, podemos dizer

mais de três anos, recebemos o

nidades para ajudar.

que a causa da humanidade é a

Presidente Obama para a Cimeira

Os Estados Unidos continuam a

causa dos Estados Unidos e de

de Lisboa e acompanhei o Presiden-

trabalhar com os portugueses para

Portugal.

n

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 81


MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional da Noruega

1

2

3

Noruega, oficialmente conhecida como o Reino da Noruega, devido ao seu estatuto de monarquia constitucional, é um país nórdico da Europa que ocupa a parte ocidental da Península Escandinava. Com uma população de 5 milhões e com uma história marcante, mais recentemente celebrou o seu Dia Nacional. Por ocasião desta data, os embaixadores da Noruega em Portugal receberam em Lisboa personalidades e membros do corpo diplomático acreditados no território

1. Embaixador da Noruega 2. Maria da Luz de Bragança a cumpri-

português para comemorarem a

mentar os Embaixadores da Noruega 3. Embaixatrizes da Alema-

implementação da Constituição

nhã, Noruega e França

Norueguesa, de 1814. Para

82 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


4

5

6

7

8

assinalar este marco histórico,

as ruas do país enchem-se de desfiles e ocorrem diversos eventos desportivos. Neste dia os no9

10

ruegueses usam trajes nacionais, sendo comum para as mulheres as saias de lã com bordados e coletes; os xailes e os aventais brancos enquanto para os homens: o uso de camisas, calças até ao joelho, meias e jaquetas pretas. O dia da independência, ou o Dia da Constituição é celebrado em todo o país, embora

4. Embaixador da Moldávia, Valeriu Turea e Maria da Luz de Bragança 5. Pascale Teixeira da Silva e Nadine Schmit-Konsbruck 6. Christina Gillies e Maria

com maior destaque em Oslo, na Avenida Karl Johann, onde a

da Luz de Bragança 7. Embaixador da Irlanda, Declan O Donovan 8. Youssef

família real assiste aos cortejos

Louzir, Bernard Pierre, Manuel Ferreira Enes, Embaixador da Palestina e Mirko

que passam pela cidade.

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Stefanovic 9. Embaixatriz da Alemanhã com Per Sjöström e Lenia Lopes 10. Embaixador da Tunísia e Maria da Luz de Bragança

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 83


MALA DIPLOMÁTICA

Dia Nacional da Geórgia

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Todos os anos a Geórgia celebra um dos seus mais emblemáticos feriados nacionais, o Dia Nacional que comemora a declaração da independência do país. Por ocasião desta data, o Embaixador da Geórgia em Portugal, Giorgi Gorgiladze e a embaixatriz Irina Gorgikadze, organizaram uma recepção que reuniu inúmeros convidados do corpo diplomático acreditados em Portugal. Geórgia é uma das 15 repúblicas soviéticas que deu os primeiros passos

1. Embaixador da Geórgia Giorgia Gorgiladze 2. Paula Paz, Salomé Gorgiladze e

em direção a independência.

a Embaixatriz da Geórgia, Irina Sarashidze-Gorgiladze 3. Embaixatriz de Sérvia,

Segundo conta a história, o país declarou-se independente ainda em 1918, um ano depois da Revolução Russa. No entanto, a sua independência fracassou devido a um conjunto de conflitos que ocorreram entre 1918 e 1918

84 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013

Ljiljana Stefanovic; Embaixatriz de Israel, Sharon Gol; Embaixatriz de Suiça, Nicoleta Schnyder; Embaixatriz da Geórgia, Irina Sharashidze Gorgiladze e Embaixatriz da Alemanha, Ursula Elfenkämper


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aos quais se juntou a conquista

da Capital Tbilisi, pelas tropas vermelhas em Fevereiro de 1921. 8

O país voltou a recuperar a sua liberdade apenas no início dos anos 1990, após a dissolução da URSS, ocorrendo os primeiros indícios mais relevantes em1991: a aprovação de um referendo sobre a restauração da independência do país em 31 de Março; a implementação da declaração sobre a Independência da Geórgia pelo

3. Liisa Piitulainen-Numminen, ex-embaixatriz da Finlándia; Lenia Lopes; Persjortrom e

Supremo Conselho no dia 9 de

ex-embaixador da Finlándia Asko Numminen 4. Beatriz Heemskeik e Paulus Heemskerk.

Abril; e por fim a realização das

5. Embaixadores da Geórgia 6. Maria da Luz de Bragança, Teresa Calado e Ana Linda Ferreira 7. Paulus Heemskerk 8. Embaixatriz de Itália, Risaria Forgione Varriale; Embaixatriz da Geórgia, Irina Sarashidze-Gorgiladze eAnnabelle Kkause Schilling

primeiras eleições presidenciais que tiveram lugar no mesmo ano. Actualmente o país estende-se numa área de 69,700 sq. Km e tem como países vizinhos a Rússia, o Azerbaijão, a Arménia e a Turquia.

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MALA DIPLOMÁTICA

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Dia Nacional do Reino Unido Comemoração do Aniversário Oficial da Rainha Isabel II Realizou-se na Residência ofi-

britânicas que operam em Portugal.

cial da Embaixadora Britânica em

Estiveram presentes várias cente-

Lisboa a recepção comemorativa

nas de convidados representantes

do Aniversário oficial da Rainha

de diversos sectores da sociedade

Isabel II (que corresponde ao Dia

portuguesa – politico, económico,

Nacional do Reino Unido).

segurança e defesa, sociedade civil

Esta

foi mais uma ocasião de grande re-

e académico – bem como represen-

levo social em que a Embaixadora

tes do corpo diplomatico acreditado

Britânica e os seus colaboradores

em Portugal.

se juntaram a amigos e contac-

No seu discurso, a Embaixadora Jill

tos portugueses, e a membros da

Gallard fez referência aos pontos al-

1. Embaixadora Britânica e a sua equipa

comunidade britânica, para celebrar

tos do ano que passou no que res-

de colaboradores 2. Conselheira Joanna

e renovar os históricos laços bila-

peita ao Reino Unido, com especial

terais que unem o Reino Unido e

relevo para os Jogos Olimpicos e

Portugal. Tendo em vista a actual

Paralimpicos de Londres que foram

xadora do Reino Unido 4. Embaixadora

conjuntura económica no Reino

um enorme sucesso e mostraram o

Jill Gallard a proferir o seu discurso,

Unido e em Portugal, houve uma

que há de melhor no Reino Unido e

ladeada pelas bandeiras de Portugal e

tónica especial na parceria de co-

na sua sociedade multicultural. Por

do Reino Unido

mércio e investimento entre os dois

outro lado ocorreram as comemora-

países, traduzida nos patrocínios de

ções dos 60 anos de reinado da

algumas das principais empresas

Rainha Isabel II, tendo a

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O'Sulliivan e Consul Honorário Britânico nos Açores, Antonio Castro Freire 3. Embaixador da Alemanha e a Embai-


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Embaixadora afirmando que a sua

de britânicos que deverão visitar

energia representa uma inspiração

Portugal este ano seja superior a 2

para todos.

milhões, o que na sua perspectiva

Seguidamente a Embaixadora

representa um voto de confiança

Gallard salientou a forma como a

em Portugal e uma contribuição

economia, o comércio e o investi-

significativa para a economia local.

mento têm dominado a actividade

A recepção teve uma vez mais

da sua Embaixada aos longos

este ano o patrocinio das principais

dos últimos meses, enaltecendo

empresas britânicas que operam

Conselheira, Adido Miltar e Consul

o trabalho desenvolvido pela sua

em Portugal – nomeadamente a

6. A Embaixadora com Bruno de

equipa de comércio e investimento

Agusta Westland, BP Portugal,

Carvalho, Artur Torres Pererira, e

no sentido de promover Portugal

Easyjet, Ernst & Young, Eurest,

equipada da Secção Poítica 7. Em-

como plataforma para empresas

Linklaters, Barclays e Sage – e o

britânicas investirem Angola, Brasil

apoio da Quinta de Sant’Ana e da

e Moçambique, estabelecendo

Central de Cervejas.

9. Embaixador de Moçambique e Jill

parcerias com as suas congéneres

tradição, a recepção comemorativa

Gallard 10. Embaixador da Índia e a

portuguesas.

do Dia Nacional do Reino Unido em

Embaixadora do Reino Unido

Outra área prioritária da actividade

Portugal foi uma vez mais este ano

da diplomacia britânica referida pela

animada pela música gentilmente

Embaixadora é o trabalho consu-

proporcionada pela Banda da Mari-

lar, estimando-se que o número

nha Portuguesa.

5. Embaixadora e seu marido com a

baixadora da Lituania com Jill Gallard 8. Deputado Miranda Calha, Carlos Monjardino e D. Duarte de Bragança

Como já é

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OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 87


MALA DIPLOMÁTICA

Palavras do Embaixador do Luxemburgo no Dia da Festa Nacional celebrando oficialmente o aniversário do soberano Sua Alteza Real o Grão-Duque Recebemos nesta casa tantos ami-

metade do século XIX (dezanove),

Estrangeiros Paulo Portas ao seu

gos, colegas e compatriotas, e onde,

especialmente no que diz respeito a

homólogo no Luxemburgo, a 22 (vinte

após 8 meses de ausência e 6 de

certos espaços, tal como a cavalariça

e dois) de fevereiro deste ano, na qual

renovação a Embaixada do Grão-

na cave, que agora serve de sala de

se pode comprovar as excelentes

-Ducado do Luxemburgo em Portugal,

recepção do consulado e pela qual

relações bilaterais, tanto no domínio

também com acreditação em Cabo

também é possível passar para sair

politico e económico, como comercial.

Verde, regressa às suas instalações

para a rua.

Já mais recentemente, a 2 (dois) e 3

originais, na Rua das Janelas Verdes.

Os vários eventos marcantes que

(três) de Maio, tivemos a visita do Pri-

Este edifício histórico, que abriga há

tivemos ao longo deste último ano

meiro Ministro Jean-Claude Juncker

quase um quarto de século a Em-

demonstram bem as excelentes rela-

a Lisboa e ao Porto. Em Lisboa, foi

baixada, o Consulado e a residência

ções existentes entre os nossos dois

recebido pelo Presidente da Repúbli-

oficial e privada, foi inteiramente

países.

ca e teve encontros com o Primeiro

renovado pela empresa Portuguesa

Entre eles gostaria de referir a trans-

Ministro Pedro Passos Coelho, com o

‘HCI’ sob a supervisão da arquitecta

missão, em directo, no dia 20 de ou-

Ministro dos Negócios Estrangeiros,

Sandra Pereira, da empresa «Team-

tubro do ano passado, do casamento

Paulo Portas e com o Ministro das

box», que viveu parte da sua adoles-

de Sua Alteza Real o Grão Duque

Finanças, Vítor Gaspar.

cência no Luxemburgo. Para além

herdeiro Guillaume de Luxemburgo

No dia 3 de Maio, recebeu, na Univer-

da criação de uma entrada separada

com a Condessa Stéphanie de Lan-

sidade do Porto, o grau de Doutor Ho-

para o consulado, o trabalho consistiu

noy onde contámos com a presença

noris Causa. No seu discurso, Jean-

principalmente na modernização dos

de muitos amigos que connosco

-Claude Juncker fez questão de frisar

equipamentos técnicos. As obras rea-

assistiram a esta cerimónia numa

a importante amizade existente entre

lizadas foram feitas de forma a pre-

recepção na York House.

os dois países e, a nível pessoal, a

servar o caráter histórico do edifício,

Também quero mencionar a visita

sua enorme amizade por Portugal e

cuja construção remonta à primeira

de trabalho do Ministro dos Negócios

pelos portugueses. n

88 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


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Diplomacia & Glamour uma tarde glamurosa O Lisboa Marriott Hotel pertencendo a uma cadeia internacional com 3.900 hotéis ,em mais de 70 Países celebrou esta data com a presença de 102 Embaixadoras, Embaixatrizes radicadas em Portugal e outras individualidades conhecidas da nossa sociedade num evento intitulado “Diplomacia & Glamour”, que se realizou na Sala Mediterrâneo, no dia 30 de Maio, às 15h00. “Diplomacia & Glamour” um glamoroso evento levado a efeito pela nossa conhecida Ana Caetano, Public Relations Manager do Lisboa Marriott, para o qual reuniu pelo 14º ano consecutivo, as embaixadoras e embaixatrizes residentes em Portugal e senhoras

1. O grupo das embaixatrizes e empresárias convidadas 2. Manuela Durão, Elmar Derkitsch, Ana Caetano 3. Embaixatriz Erika Grinberg

da sociedade portuguesa, para uma tarde memorável na na Companhia do Quorum

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 89


Diplomacia & Glamour

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4. Embaixadora África do Sul, Keitumetse Matthews, Ana Caetano, Celina da Piedade e Musicos com Embaixadora da Argelia Fatiha Selmane e Embaixadora do Paquistão Humaira Hasan 5. Rosalina Machado 6. Embaixatriz México Evelyn de Andion, Helena Ramos e Eduarda Poença Carvalho 7. Patricia Cruz, Isabel Kraus, Maria Dolores, Ana de Brito, Ana Caetano, Maria Lurdes Ferreira e Marina Cruz 8. Filomena Leite Castro, Jô caneças e Maria Lurdes Ferreira 9. Embaixatriz do Paraguai Patricia Romero Diaz (Vencedora de uma peça de designer do MAAJ Joalheiro) 10. Embaixatriz de Italia, Rosaria Varriale; Ana Caetano com Embaixatriz do Iraque, Emel Sinjari

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Ballet com o Lago dos Cisnes e

do Concerto de Celina da Piedade com composições de sua autoria. Durante o evento tiveram ainda o habitual sorteio de ofertas 40 marcas de prestígio que inclui fins-de-semana nos Hotéis Marriott com Lexus,marcas de cosmética, 11. Embaixatriz México, Evelyn de Andion; Ana Caetano, Embaixatriz do Paraguai, Patricia Romero Diaz com Karina Montorfano 12. Maria Alves 13. Maria José Galvão Sousa 14. Embaixatriz Austria Joana Wrabetz e o Estilista Carlos Gil 15. Ana Palmeira, Isabel Mereilles e Ana Laia 16. Embaixatriz da Georgia,

produtos de beleza, massagens, jóias de designers portugueses e obras de arte de conceituados ar-

Irina Gorgiladze; Embaixadora do Chipre, Thalia Petrides 17. Ana de Brito com

tistas plásticos da Galeria Espaço

a Embaixatriz da Servia, Ljiljana Stefanovic 18. Helena Ramos 19. Embaixatriz

Arte Livre.

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de India, Smeeta Tyagi 20. Abimbola Wonosikou e Rosarinho Cruz

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 91


LIVROS

Porque falham as nações? por Daron Acemoglu e James Robinson, Editora Bertrand

Finalmente chega a Portugal a obra conjunta do economista Daron Acemoglu e do especialista em Ciências Políticas James Robinson que propõe, de forma clara, uma explicação para as origens do poder, da prosperidade e da pobreza. A premissa é simples: Porque é que umas nações prosperam e outras falham? A partir daqui outras questões surgem: O que faz que alguns países nunca saiam da pobreza? Porque é que a América do Sul é tão menos rica que a do Norte? O que é mais determinante: o clima, a geografia, a cultura ou a responsabilidade dos líderes? Os autores apresentam uma argumentação pormenorizada atestando que o sucesso económico de uma nação é predominantemente determinado pelas suas instituições políticas. Os Estados inclusivos não têm um centro de poder único; o seu sucesso e prosperidade advêm das pressões entre os diferentes interesses em competição agindo de acordo com a lei e com os seus direitos de propriedade garantidos. Apenas com um sistema judicial independente e forte podem as demo-

por elites ensimesmadas acabam por

cracias representativas prosperar. Os

falhar e permanecer na miséria. Esta-

autores defendem que a importância

dos autoritários e não representativos

da política é muito maior que a da

mantêm-se num ciclo vicioso de plu-

geografia, da cultura ou dos recursos

tocracia e de supressão da inovação

disponíveis. A pedra de toque será

tecnológica, da livre iniciativa e das

a liberdade. Ainda de acordo com os

liberdades pessoais.

autores, os países anglo-saxões terão

Assentes em quinze anos de investi-

enriquecido porque os seus cidadãos

gação, Acemoglu e Robinson reuniram

lutaram contra as elites que controla-

dados de um largo espectro tempo-

vam o poder e criaram uma sociedade

ral e geográfico - que vai do Império

com direitos políticos mais amplamen-

Romano à actual Serra Leoa - para

te distribuídos e um Governo que tem

elaborarem a sua teoria que preten-

que responder perante o seu povo.

de desenhar os contornos gerais do

Surgiu, assim, a possibilidade das

desenvolvimento político e económico

massas acederem às oportunidades

das nações através de uma lógica

económicas.

causa-efeito. O desenvolvimento eco-

Em oposição, as Nações dominadas

nómico depende de novas invenções

92 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


e as invenções necessitam de ser

chinesa está hoje mais inclusiva que

investigadas, desenvolvidas e distri-

há trinta anos mas que, ainda assim,

buídas globalmente. Estas actividades

por preservar um núcleo autocrático

acontecem apenas quando os inven-

irá fatalmente acabar por ver esse

tores/investigadores podem esperar

crescimento ameaçado por instabilida-

colher proveitos económicos das suas

des internas pela conquista do poder.

invenções. O principal obstáculo a

Sendo que o processo liberalização de

este processo serão os poderes auto-

mercados e instituição de democracia

cráticos que não desejam a formação

é muito lento, a China verá - vatici-

de uma classe média instruída e prós-

nam - os seus recursos exaurirem-se

pera que possa pôr em causa o poder

antes de adoptarem um sistema mais

instituído; e os donos das tecnologias

inclusivo.

existentes, que pretendem manter o

Estando esta obra bem documentada

seus negócios.

e a teoria bem explicada parece-nos

Veja-se, a título de exemplo, o caso

contudo que algo falta. Há uma certa

da energia a vapor. Em 1705, Diony-

"inocência" na visão que os autores

sius Papin constrói o primeiro barco

têm do mundo. Cremos que os au-

a vapor; porém como estava a viver

tores caíram na mesma falácia que

no estado alemão de Kassel, onde

Fukuyama; ou seja, estão de tal forma

uma poderosa guilda de barqueiros

imersos numa cultura ocidental anglo-

controlava o tráfego fluvial da região,

-saxónica que não conseguem pensar

o barco foi destruído, a tecnologia

em nada que não se encaixe nesse

esquecida e o inventor morre na mi-

sistema mesmo quando olham para o

séria. Quando Scotsman James Watt

passado ou para outras civilizações.

recupera e aperfeiçoa a tecnologia do

Um dos exemplos é a colagem exces-

motor a vapor, fá-lo já num meio que

siva dos conceitos de liberdade indivi-

lhe permitiu ver garantida a patente

dual/livre iniciativa/mercado livre muito

e a consequente venda a um grande

recorrente no pensamento anglo-

mercado. Tal possibilita a eclosão da

-saxão e sobretudo americano. Outra

Revolução Industrial Britânica trazen-

foi o "esquecimento" da influência e

do enormes dividendos à nação.

poder das instituições supra-nacionais

Segundo os autores o rompimento do

- FMI, NATO,Bancos Centrais,etc

ciclo vicioso das sociedades autocrá-

- no processo de desenvolvimento

ticas e a emergência das democracias

das nações. E, se quisermos ir mais

e dos mercados livres acontecem de

longe, da omissão dos efeitos que o

forma lenta, em pequenos passos,

Colonialismo Europeu e o Imperialis-

pontuados por conjunturas críticas

mo Britânico e Americano tiveram no

que podem acelerar ou atrasar o pro-

estabelecimento das regras do jogo

cesso. O caso chinês contemporâneo

que determina o sucesso ou fracasso

parece desafiar esta teoria. A China

económico.

continua fortemente não-democrática,

É, contudo, uma obra de leitura obri-

com pouca ou nenhuma regulamen-

gatória para perceber os mecanismo

tação dos direitos de autor e das

de crescimento económico e procu-

patentes e, no entanto, está com um

rar entender o que nós portugueses,

crescimento económico galopante.

enquanto nação, fizemos para ganhar

Os autores contra-argumentam afir-

ou falhar.

mando que a sociedade comunista

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Nuno Vaz de Moura

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 93


CULTURA

II Conferência sobre o futuro da língua portuguesa no sistema mundial

Em março de 2010, Brasília acolheu a I

A língua portuguesa, a sexta mais falada

Conferência Internacional sobre o Futuro

em todo o mundo, é oficial em cerca de

da Língua Portuguesa no Sistema Mun-

20 organizações internacionais, nomeada-

dial. Três anos e meio depois, a II Con-

mente de cariz continental, como a União

ferência Internacional sobre o Futuro da

Africana, a União Europeia, a União das

Língua Portuguesa no Sistema Mundial,

Nações Sul-americanas, mas os Estados

agora subtitulada Língua Portuguesa Glo-

membros da CPLP pretendem há muito

bal Internacionalização, Ciência e Ino-

ocupar um lugar de maior relevo, em par-

vação, terá lugar de 29 a 30 de outubro

ticular no sistema das Nações Unidas.

de 2013 na Reitoria da Universidade de

O documento de 2010, dividido em seis

Lisboa e na Faculdade de Letras, daquela

partes, elencou também um conjunto vas-

universidade.

to e detalhado de medidas para o ensino

A reunião de Brasília que reuniu especia-

da língua portuguesa, tanto no espaço da

listas de língua

própria comuni-

e comunicação,

dade, como em

dos países de

países terceiro

língua portu-

(o denomina-

guesa, antece-

do português

deu e preparou

língua

uma sessão

estrangeira ), e

extraordinária

abriu caminho

do conselho

à elaboração

de ministros

sob os auspí-

dos Negócios

cios do Instituto

Estrangeiros da

Internacional de

Comunidade de

Língua Portu-

Países de Lín-

guesa (IILP) de

gua Portuguesa

«um Vocabulário

(CPLP) que

Ortográfico Comum de Língua

aprovou o ‘Plano de Ação de Brasília’, depois ratificado

Portuguesa, que consolide tanto o léxico

na cimeira da CPLP realizada em Luanda

comum quanto as especificidades de cada

nesse mesmo ano, dotando a organiza-

país».

ção de um programa para a promoção da

No tema da difusão pública da língua

língua portuguesa.

portuguesa, o ‘Plano de Ação de Brasília’

O Plano de Ação de Brasília para a Pro-

apoiou os esforços do secretariado execu-

moção, a Difusão e a Projeção da Língua

tivo da CPLP para desenvolver um projeto

Portuguesa’ previu uma série de medidas

de televisão da comunidade e incentivar

para a introdução da língua portuguesa

a formação de uma agência para difusão

como idioma de trabalho no plano inter-

de informação e conteúdos e sublinhou

nacional, quer nas Nações Unidas, com

a importância da língua portuguesa nas

a publicação em português de documen-

diásporas, tema em que advogou a oferta

tos da Assembleia-geral e do Conselho

curricular da língua portuguesa nos siste-

de Segurança, quer noutros organismos

mas de ensino dos países e regiões onde

internacionais, tanto multilaterais como

existem comunidades de cidadãos prove-

regionais.

nientes dos Estados membros da CPLP.

94 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013


Reflexão

científica e do ensino da ciência.

A II conferência, que acolherá académicos

Os outros eixos temáticos da conferência,

dos países de língua portuguesa, e não só

cujo programa provisório já foi divulgado,

constitui, tal como em 2010, o «segmento

são Internacionalização e Indústrias Cul-

inicial» de uma reunião de ministros da

turais (tema II), Ensino e Formação (tema

CPLP, destinada a avaliar, entre outros

III), Diversidade Linguística: Políticas (tema

assuntos, o estado de execução do Plano

IV) e Estado de Implementação do Acordo

de Ação de Brasília .

Ortográfico (tema V), e Educação e Desen-

O foco no tema Língua Portuguesa Global

volvimento (tema VI) – relativamente aos

Internacionalização, Ciência e Inovação,

quais foi lançado um apelo à produção de

pretende dar a «conhecer perspetivas e

comunicações pelos especialistas.

projetar ações atinentes à relação entre a Língua Portuguesa e a divulgação do

Balanço

conhecimento e da inovação por todo o

Segundo o programa provisório, após a

mundo», segundo se lê no sítio da confe-

cerimónia de abertura da II conferência,

rência em http://www.conferencialp.org/.

os participantes assistirão à apresentação

Nesse sentido, e no que respeita ao Acor-

do relatório sobre a execução do Plano

do Ortográfico da Língua Portuguesa, não

de Ação de Brasília e das conclusões dos

estava inicialmente prevista a elaboração

colóquios organizados nos últimos anos

de um Vocabulário Ortográfico Comum,

pelo IILP, com sede em Cabo Verde, res-

mas apenas de um vocabulário comum

petivamente, sobre a diversidade linguís-

das terminologias científicas e técnicas.

tica dos países da CPLP (Maputo, 2011),

Só posteriormente se colocou a perti-

a língua portuguesa e as diásporas (Praia,

nência da construção de um vocabulário

2011), a língua portuguesa na Internet e

ortográfico comum da língua portuguesa a

no mundo digital (Guaramiranga, Brasil,

partir dos trabalhos nacionais feitos nesse

2012) e a língua portuguesa nas organiza-

campo.

ções internacionais (Luanda, 2012). Nas

No texto que introduz o tema da relação

sessões paralelas que se seguirão duran-

da língua portuguesa com a ciência e a

te dois dias, serão abordados e desenvol-

inovação, declara-se que, sem contestar

vidos os eixos temáticos definidos para a

o papel do inglês como o principal idioma

conferência.

da ciência, se pretende «desenvolver uma

A conferência «terá ainda a participação

reflexão sobre se, no atual contexto mun-

alargada da sociedade civil, através de

dial, as línguas de cultura devem pres-

eventos paralelos, de natureza política,

cindir de se afirmar, igualmente, como

cultural, económica ou mediática, emana-

línguas de ciência e de inovação» e, em

dos de várias organizações, associações

caso afirmativo, em que domínios, para

e ordens profissionais».

que públicos e com que recursos e instru-

A conferência é organizada pelo Camões,

mentos. «É viável um acordo internacio-

IP, pela CPLP (através das suas Repre-

nal, a celebrar entre os países de língua

sentações Permanentes e do IILP) e pelas

portuguesa, com vista à harmonização e

Faculdades de Letras da Universidades

à criação de terminologias científicas e

de Lisboa, de Coimbra, do Porto e Univer-

técnicas comuns?», perguntam também

sidade Nova de Lisboa, todas representa-

os organizadores da conferência, que

das na Comissão Organizadora, de modo

querem abordar igualmente neste campo

a conferir à sua preparação uma base

as questões da comunicação da cultura

académica de nível nacional.

n

I.C. I.P.

OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 95



English and french texts

David William Donald Cameron Is the Prime Minister of the United Kingdom, First Lord of the Treasury, Minister for the Civil Service and Leader of the Conservative Party. He represents Witney as its Member of Parliament (MP). He is a conservative leader with deep roots in the Scottish mercantile bourgeoisie and English aristocracy. Young and moderate, this is the man who holds in his hands the future of the UK. We present his political and personal profile.

n

David William Donald Cameron Est le Premier ministre du Royaume-Uni, Premier Lord du Trésor, ministre de la Fonction publique et leader du Parti conservateur. Il représente Witney comme membre du Parlement (MP). Il est un leader conservateur avec des racines profondes dans la bourgeoisie mercantile écossaise et aristocratie anglaise. Jeunes et modérée, c'est l'homme qui tient dans ses mains l'avenir du Royaume-Uni. Nous présentons son profil politique et personnel.

n

Interview with Jill Gallard, Ambassador of the United Kingdom. With a strong curriculum in international politics, Jill Gallard took office in July 2011 as ambassador. Devoting about a third of her activities to issues of trade diplomacy, is happy to continue in Europe where it has made a brilliant career.

n

Entretien avec Jill Gallard, l'ambassadeur du Royaume-Uni. Avec un fort curriculum dans la politique internationale, Jill Gallard a pris ses fonctions en Juillet 2011 en tant qu'ambassadeur. Consacre environ un tiers de leurs activités à des questions de diplomatie commerciale y est heureuse de poursuivre en Europe, où a fait une brillante carrière.

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Pedro Reis Since December 2011 is the President of the Agency for Investment and Foreign Trade, ensures the Council Secretariat and Strategic Internationalization of Economics and is also part of the National Council for Entrepreneurship and Innovation. Chairs the jury for the "More Economic Diplomacy' award. He states that Portugal recently achieved significant victories in the export of Portuguese products but it must grow in other foreign markets without losing ground and Community sustainability in the European market.

n

Pedro Reis Depuis Décembre 2011 est le président de l'Agence pour l'Investissement et du Commerce extérieur, assure le secrétariat du Conseil et à l'internationalisation stratégique de l'économie et fait également partie du Conseil national pour l'entrepreneuriat et l'innovation. Préside le jury du prix "diplomatie plus économique». Portugal déclare que récemment remporté des victoires importantes dans l'exportation de produits portugais, mais vous devez grandir dans l'espace sans perdre du terrain et de la durabilité communautaire sur le marché européen.

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Enrique Santos Is the President of the Chamber of the Portuguese-Spanish Commerce and Industry. He is a consultant for financial investments as well as administrator of various companies. States that there are over 1,200 Spanish companies in Portugal that represent a turnover of over 16 billion euros. Sees the development of these relations with much optimism.

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Enrique Santos Est le président de la Chambre de Commerce et d'Industrie Luso-espagnol. Il est consultant pour les placements financiers ainsi que l'administrateur de diverses sociétés. Déclare qu'il y a plus de 1.200 entreprises espagnoles au Portugal qui représentent un chiffre d'affaires de plus de 16 milliards d'euros. Voit au développement de ces relations avec beaucoup d'optimisme.

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Marcela Caetano Popoff Is the president of the Chamber of Commerce and Industry Uruguayan-Portuguese. Presents Uruguay as a country with an average annual growth of about 6% in the last five years.

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OUTUBRO 2013 - DIPLOMÁTICA • 97


English and french texts

Marcela Caetano Popoff Est la présidente de la Chambre de commerce et d'industrie uruguayenne-portugais. Affiche Uruguay comme un pays avec une croissance annuelle moyenne d'environ 6% au cours des cinq dernières années.

n

Gregor Zemp Is the Secretary General of the Swiss Chamber of Commerce and Industry in Portugal. He thinks that Portugal could grow more would by taking advantage of the existing potential. Points to the excessive Portuguese bureaucracy and its impact on the economy and the introduction of foreign companies in the country.

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Gregor Zemp Est le secrétaire général de la Chambre de Commerce et d'Industrie Suisse au Portugal. Il pense que le Portugal pourrait croître plus en profitent du potentiel qui existe. Points la excessive bureaucratie portugais et leur impact sur l'économie et l'introduction de sociétés étrangères dans le pays.

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Crown Prince Philippe Has been sworn in as the new Belgian king after the emotional abdication of his father Albert II. The Oxford- and Stanford-educated, trained air force pilot took the oath as the country's seventh king in a ceremony in parliament. King Philippe promised to uphold the constitution. Belgium has a constitutional monarchy in which the king plays a largely ceremonial role. One of the duties the monarch does have is trying to resolve constitutional crises. Phillipe heirs a heavy crown that he must keep firm for the good of the union of the Belgian people.

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Le prince héritier Philippe A prêté serment en tant que nouveau roi des Belges après l'abdication émotionnel de son père Albert II. Avec formation en Oxford et Stanford, formée pilote de l'armée de l'air, Philippe a prêté serment en tant que septième roi du pays lors d'une cérémonie au Parlement. Le roi Philippe avait promis de respecter la Constitution. Belgique est une monarchie constitutionnelle où le roi joue un rôle essentiellement honorifique. L'e monarque doit essayer de résoudre les crises constitutionnelles. Phillipe héritiers de la couronne lourde qu'il doit tenir ferme pour le bien de l'union du peuple belge.

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Slowly but inexorably, Mozambique awakening from a long dark period marked by colonial occupation, ethnic conflicts and civil wars. Under the leadership of Armando Guebuza, the country has emerged as a great hope for the African economy. The Mozambican economy grows apace. Foreign investment doubled in 2012, but the global crisis will be an obstacle to consider.

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Lentement mais inexorablement Le Mozambique éveil d'une longue période sombre marquée par l'occupation coloniale, les conflits ethniques et les guerres civiles. Sous la direction d’Armando Guebuza, le pays a émergé comme un grand espoir pour l'économie africaine. L'économie mozambicaine se développe rapidement. L’investissement étranger a doublé en 2012, mais la crise mondiale sera un obstacle à considérer.

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The Director of the National Palace of Ajuda José Alberto Ribeiro released a biography on the queen D. Amelia. Master in Art History, this prestigious academic is completing her PhD on the last Queen of Portugal. Tell us a strong woman who saw her husband and son died, and who shared her heart between Portugal and France. Le Directeur du Palais national d'Ajuda

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José Alberto Ribeiro a publié une biographie sur la reine D. Amelia. Master en histoire de l'art, ce prestigieux intellectuel achève son doctorat sur la dernière reine du Portugal. Il nous raconte l’histoire d’une femme forte qui a vu son mari et son fils sont morts, et qui partageaient son cœur entre le Portugal et la France.

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98 • DIPLOMÁTICA - OUTUBRO 2013




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