Conexão Fiotec - Fiocruz - edição 9

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Rio de Janeiro

Fevereiro - Março - Abril

A maior e mais completa Rede de Bancos de Leite Humano do mundo Há mais de 15 anos, a Fiotec apoia a iniciativa que hoje tem atuação em mais de 20 países

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2017 • Ano 3 • Edição 9

O Diálogo com Luciano Moreira apresenta os “mosquitos do bem” e traz à tona o método inovador, natural e sustentável de combate a dengue, zika e chikungunya Página 4

Indicada como uma das 10 cientistas mais importantes do mundo, Celina Turchi compõe grupo de pesquisadores que busca respostas para os efeitos do zika vírus Página 20


Expediente Conselho Curador Jorge Carlos Santos da Costa Valber da Silva Frutuoso Marcos Jose de Araujo Pinheiro Mario Santos Moreira Maria Rita Lustosa Byington André Luiz Land Curi Italo César Kircove Conselho Fiscal Charles da Silva Bezerra Elias Silva de Jesus Luciane Binsfeld Diretoria Executiva Mauricio Zuma Medeiros Diretor executivo Mansur Ferreira Campos Diretor financeiro Roberto Pierre Chagnon Diretor administrativo Valéria Morgana Penzin Goulart Diretora técnica Gerência Geral Adilson Gomes dos Santos

Conexão Fiotec-Fiocruz Informativo institucional da Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Saúde (Fiotec). Todo o conteúdo pode ser reproduzido, desde que citada a fonte. Jornalista responsável Simone Marques - MTB 20747 RJ Edição Janaina Campos Reportagem e fotos Gustavo Xavier Janaina Campos Suelen Gomes Projeto gráfico e diagramação Fernanda Alves Dúvidas ou sugestões? Entre em contato conosco comunicacao@fiotec.fiocruz.br (21) 2209-2600 ramal: 2746 / 2670 Av. Brasil, 4036 - Manguinhos www.fiotec.fiocruz.br

EDI TO RIAL


O

Brasil é o país que possui a maior e mais complexa Rede de Bancos de Leite Humano (rBLH) do mundo e, por isso, serve de modelo para a cooperação internacional em mais de 20 países das Américas, Europa e África. Mas até chegar ao tamanho e importância que tem hoje, a rBLH escreveu uma longa história, que começa em meados dos anos 80, cerca de 40 anos depois do primeiro banco de leite inaugurado no País. A Fiotec caminhou junto ao Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) nessa empreitada que é a matéria de capa desta edição do Conexão Fiotec-Fiocruz. Já o projeto ‘Eliminar a Dengue: Desafio Brasil’ prevê a utilização de um método inovador para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes aegypti de forma natural e autossustentável. Isso através da bactéria Wolbachia. Comprovado o su-

cesso nos primeiros locais em que foi implantado, o projeto entrou em fase de expansão, trazendo ainda a novidade que os vírus zika e chikungunya também são bloqueados por esses mosquitos. Luciano Moreira, coordenador do projeto e pesquisador do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), falou em sua entrevista para esta edição sobre os resultados e o planejamento futuro dos chamados “mosquitos do bem”.

Relatório de Gestão da Fiotec, divulgado anualmente, falando da sua metodologia, construção e, principalmente, da importância da publicação. Boa leitura!

Janaina Campos

Ainda relacionado ao Aedes aegypti, a pesquisadora Celina Turchi, do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), eleita uma das dez personalidades do ano na ciência pela revista britânica Nature por seu trabalho para o estabelecimento da relação entre o zika vírus e a microcefalia em bebês, contou um pouco da pesquisa e da relação do vírus com a deficiência. Além do giro com as principais notícias do período, a edição traz ainda um panorama do 3


Luciano Moreira

Método natural e sustentável é nova arma no combate a dengue, zika e chikungunya Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz Minas Gerais, fala de projeto que une metodologia inovadora à participação ativa das comunidades envolvidas

por Gustavo Xavier


Wolbachia: este é o nome da bactéria por trás dos chamados “mosquitos do bem”, que contribuem para a queda da transmissão, inicialmente da dengue, e agora também da zika e chikungunya. Eles são utilizados no projeto “Eliminar a Dengue: Desafio Brasil” como uma abordagem autossustentável e que envolve diretamente a participação e colaboração das comunidades onde os Aedes aegypti são liberados. A ideia central do projeto é substituir, gradualmente, toda a população de Aedes aegypti de campo pelos mosquitos com a bactéria, através do cruzamento dos insetos, na medida em que a bactéria é passada naturalmente da fêmea para os filhotes, que já nascem com a Wolbachia. A fase-piloto do projeto, iniciada em meados de 2015 nas regiões de Tubiacanga, no bairro carioca da Ilha do Governador, e Jurujuba, na cidade fluminense de Niterói, apresentou bons resultados. De acordo com a Agência Fiocruz de Notícias (AFN), pesquisas apontaram que 80% dos mosquitos recolhidos em armadilhas já possuíam a bactéria e, depois de um ano e meio, os moradores já percebiam a diminuição das doenças transmitidas. Atualmente, o projeto coordenado por Luciano Moreira, pesquisador do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas Gerais), está em fase de expansão, com a liberação de mosquitos com Wolbachia nos bairros niteroienses de Charitas, Preventório, São Francisco e Cachoeira. Cerca de 20 mil pessoas serão beneficiadas na região. O pesquisador conversou com a Fiotec e falou dos resultados já alcançados, da metodologia do projeto e das ações previstas para o futuro.

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Luciano Moreira

Os resultados obtidos em Tubiacanga, na Ilha do Governador, e em Jurujuba, Niterói, na fase-piloto do projeto, foram melhores do que o esperado?

Os resultados foram muito positivos. Estamos com presença em torno de 80% de Aedes aegypti com Wolbachia na população de mosquitos desses locais. Conseguimos estabelecer a Wolbachia nesses campos. Há um ano esse resultado se mantém, comprovando a autossustentabilidade do método.

A fase de expansão do projeto, iniciada em janeiro de 2017, está realizando que atividades hoje? Os mosquitos já foram liberados nas quatro áreas escolhidas, em Niterói? Hoje estamos liberando os Aedes aegypti com Wolbachia nos primeiros bairros (Charitas, Cachoeira, São Francisco e Preventório) da região de praia de baía de Niterói. Iniciamos a implementação do projeto, em janeiro, com as atividades de comunicação e engajamento comunitário 6

e, no último dia 22 de março, iniciamos oficialmente as solturas. Na sequência, liberaremos os mosquitos em outros bairros de praia de baía e em toda a região oceânica do município. Em março chegamos à cidade do Rio de Janeiro, onde iniciamos a implementação com as atividades de comunicação e engajamento comunitário, para que em seguida possamos liberar os mosquitos, em meados de 2017. Ainda estamos em diálogo com o Ministério da Saúde e financiadores estrangeiros sobre a possível expansão para outros municípios do País.

de comunicação em massa para anunciar a chegada do projeto na região, e uma equipe especializada, com abordagem direcionada a cada tipo de público de influência, atua em contato com a comunidade. O projeto tem o compromisso da transparência com a população. Atua com responsabilidade, informando todos os passos das atividades. Desta forma, formamos parcerias importantes para a disseminação da informação e sensibilização da comunidade e, só após medirmos a aceitabilidade pela liberação dos mosquitos, realizamos as solturas.

Nessa nova etapa do projeto, qual é a importância da comunicação e do engajamento comunitário para que os resultados esperados sejam alcançados?

A equipe do projeto já encontrou o método mais eficaz, que agregue melhor custobenefício, para realizar a liberação dos mosquitos com Wolbachia?

Essas fases são fundamentais para a implementação da metodologia. É o momento em que levamos informações sobre o método e dialogamos com a comunidade visando esclarecer dúvidas e promover a conscientização da população local. Realizamos uma campanha

O projeto utiliza duas formas de liberação de mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia: a primeira é a liberação de mosquitos adultos em vias públicas; a segunda é a liberação de Aedes com Wolbachia, através do Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO), um re-


cipiente fechado (semelhante a um balde com tampa) onde os mosquitos se desenvolvem. Os DLO’s são colocados em áreas públicas e/ou propriedades privadas nos bairros que colaboram com a iniciativa. No interior do DLO há ovos de Aedes aegypti com Wolbachia, água e alimento para as larvas que nascerão. Entre sete a dez dias após a instalação, os mosquitos já estarão adultos e voarão para fora, através dos furos existentes no dispositivo. É importante ressaltar

que o DLO não possui produtos químicos ou tóxicos. O uso dessas duas formas de liberação é parte da busca por metodologias que sejam ao mesmo tempo mais eficazes, de melhor custo-benefício e mais adequadas à cada área de implementação. Devido à diversidade de características das cidades brasileiras, em termos de estrutura urbana e ambiental, escolhemos a melhor estratégia para a região contemplada.

Metodologias utilizadas

• Liberação de Aedes aegypti, já adultos, com Wolbachia; • Liberação de mosquitos por meio de Dispositivos de Liberação de Ovos (DLOs). O uso destas duas metodologias promove a autossustentabilidade do projeto, garantindo que a Wolbachia esteja presente em grande parte da população de Aedes aegypti das regiões contempladas: Fêmea

Macho

+ + +

Prole

= = =

Mosquito com Wolbachia Mosquito sem Wolbachia

X

Ovos nascem mas não dão origem a larvas

A Fiotec apoia o projeto desde sua fase piloto, porém, atualmente, qual a importância do trabalho feito pela instituição durante a etapa de expansão das atividades? A Fiotec é uma parceira muito importante nesta fase do projeto, pois, como temos uma diversidade de atividades que necessitam de apoio por fornecedores, a agilidade e precisão na condução dos processos de contratação são fundamentais para a implementação das atividades.

Com os resultados alcançados até então já é possível avaliar a viabilidade de utilizar a liberação de Aedes aegypti com Wolbachia como política de saúde pública no Brasil? Caminhamos com esse objetivo. Estamos bastante otimistas com esta expansão do projeto, pois teremos a oportunidade de trazer mais um método à população para reduzir a incidência das doenças transmitidas pelos mosquitos. 7


Luciano Moreira Pessoas beneficiadas com a liberação de mosquitos com Wolbachia Cerca de 3.600

em Jurujuba (Niterói) e Tubiacanga (Ilha do Governador)

Cerca de 20 mil na região de Praia de Baía I, em Niterói - RJ

Mosquitos com Wolbachia já liberados Cerca de 150

mosquitos a cada 2.500m²

Mosquitos que hoje possuem a bactéria Wolbachia Cerca de 80%

dos Aedes aegypti presentes nas regiões de Jurujuba e Tubiacanga

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Gir Apoio qualificado a parceiros internacionais

No início de fevereiro, a Fiotec recebeu mais uma certificação que comprova a qualidade e relevância dos serviços que presta. A instituição foi classificada como “Charitable Organization” pela organização norte-americana TechSoup, o que confere a ela o status de equivalência a uma entidade pública de caridade dos Estados Unidos. A conquista significa, para a Fiotec, menos formulários e cadastros a serem preenchidos para apoiar iniciativas que recebem recursos de financiadores internacionais. A iniciativa de submeter o NGOsource Equivalency Determination (ED) ao governo norte-americano, documento semelhante ao “Capacity Assessment”, preenchido pela Fiotec para o estudo Profilaxia Pré-Exposição ao HIV, partiu da Foundation to Promote Open Society, instituição que financia projetos apoiados pela Fiotec. Consulte outros credenciamentos e certificações conquistados pela Fiotec.

Projeto é submetido após divulgação feita pela Fiotec

A pesquisadora de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Patricia Neves, em colaboração com os colegas Milton Ozório de Moraes (IOC/Fiocruz) e Zilton Vasconcelos (IFF/Fiocruz), submeteu, no fim do mês de abril, o projeto provisoriamente intitulado “Investigação de biomarcadores para o desenvolvimento da síndrome do zika congênito” ao National Institutes of Health (NIH). A pesquisa busca investigar a expressão de genes inflamatórios na barreira placentária de grávidas que tiveram zika, e sua associação com as possíveis síndromes em seus bebês. Patricia viu a chance de submeter seu projeto ao financiamento, após receber um dos e-mails periodicamente enviados pela equipe de Comunicação da Fiotec. Nele, estavam informados os editais ainda disponíveis, que são divulgados no site da própria instituição. “Este tipo de divulgação é importante, pois os pesquisadores têm acesso a mais um canal que possibilita a visualização destas oportunidades. Este tipo de submissão padrão, conhecida como NIH Exploratory/Developmental Research Grant Award (R21), quando aprovada pelo financiador e que evolui para projeto de sucesso, pode abrir portas para projetos maiores do NIH”, explica Flávia Estill, assessora de Projetos Especiais e uma das responsáveis por “garimpar” essas oportunidades de financiamento. Confira os editais em aberto no espaço “Oportunidades de Financiamento”, no site da Fiotec. 9


Fiotec apoia iniciativa global contra o zika vírus

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) realizou, no dia 30 de março, o I Seminário Internacional de Zika, Ciências Sociais e Humanidades. O objetivo central do evento foi discutir as metas de ciências sociais do projeto ZikAlliance, que possui gestão da Fiotec e financiamento da Comissão Europeia. O Seminário foi conduzido pela presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e também coordenadora da meta de ciências sociais do projeto, Nísia Trindade Lima, por meio da Rede de Ciências Sociais e Humanidades em Zika. A Fiotec foi representada pelas profissionais Clarisse Castro, da Gerência de Projetos Especiais; Ana Carolina Gomes e Fernanda de Sousa, ambas da área de Projetos. Para elas, a participação da instituição em eventos internacionais desta importância melhora a interface e a comunicação da Fiotec, tanto com a coordenação técnica da Fiocruz quanto com os financiadores internacionais.

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Relatório de Gestão 2016: entenda melhor o documento e sua organização Por Suelen Gomes


Todos os anos a Fiotec prepara o seu Relatório de Gestão, que é o levantamento das principais ações e atividades realizadas. Além de prestar contas, o objetivo do documento é ser o principal instrumento de transparência da instituição. A performance de um ano é sempre apresentada no ano posterior. O Relatório é subdividido em cinco blocos: apresentação, institucional, negócio, apêndice e anexos. O documento também segue um tema principal que norteia toda a sua linguagem textual. O assunto escolhido para falar sobre o ano de 2016 foi superação. O tema reflete o desempenho da entidade naquele ano. Além de ser uma prestação de contas, o Relatório de Gestão atinge órgãos reguladores e financiadores. Neste contexto, ele também é usado para cumprir algumas exigências, como as do Ministério da Educação (MEC) e Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “A Fiotec é 12

uma Fundação de apoio e, para ser credenciada como tal, precisa estar cadastrada no MEC e apresentar anualmente um checklist de itens cumpridos pela instituição”, explica Emília Wien, assessora técnica e responsável pelo desenvolvimento do relatório. Segundo Emília, além de o relatório servir como uma ferramenta para a transparência, o documento é desenvolvido de modo que possa responder a estas exigências. A distribuição do Relatório de Gestão é feita por e-mail Marketing enviado para um mailing estrategicamente elaborado para contemplar todo o público-alvo. Além disso, é possível encontrá-lo no site da Fiotec.

O relatório está em fase de finalização e será publicado em breve


Formato modernizado

Desde o ano passado, o Relatório de Gestão possui um novo formato. Ele foi reformulado e teve a aplicação de uma nova metodologia tanto para a elaboração do conteúdo como para sua produção, pois foi entendido como um projeto. “O objetivo da mudança foi transformar um relatório denso de informações em algo mais agradável de ler e oferecer ao leitor uma visão holística da instituição. Os dados precisavam conversar entre si e as informações precisavam estar amarradas para que a Fiotec pudesse ser vista de forma completa e não fragmentada”, explica Luanara Damasceno, gestora de Qualidade e gerente do projeto do relatório deste ano. As principais mudanças feitas no projeto foram a apresentação dos dados de forma institucional e global e não de forma setorial, modernização da identidade visual e a padro-

nização da linguagem, mais objetiva, precisa e concisa da instituição. Outra alteração é que o documento passou a ser fruto de um Grupo de Trabalho (GT) formado para este fim. Neste GT, estão envolvidas as áreas de Assessoria Técnica, Gestão da Qualidade e Comunicação. Por se valer da metodologia de gestão de projetos para sua execução e como uma forma de promover a melhoria contínua, o GT elabora um documento com as “lições aprendidas” no decorrer do trabalho. “Todas as vezes que fechamos o ‘Projeto: Relatório anual de Gestão’, realizamos uma reunião de lições

aprendidas com todos os envolvidos para colocarmos em pauta e avaliarmos todas as ações e dar tratamento àquelas que não funcionaram da forma esperada. Desta maneira, é possível desenvolver um material melhor a cada ano”, conclui Luanara

O objetivo da mudança foi transformar um relatório denso de informações em algo mais agradável de ler e oferecer ao leitor uma visão holística da instituição — Luanara Damasceno


Com mais de 200 unidades no Brasil e presença em três continentes, a rBLH tem história de crescimento e muito sucesso A Rede, que hoje é uma ação de política pública em saúde de grande efetividade, conta com a Fiotec desde sua instituição por Janaina Campos

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O primeiro Banco de Leite Humano no Brasil surgiu na década de 1940. O antigo Abrigo Arthur Bernardes, criado para suprir a carência por atendimento específico às crianças, hoje conhecido como Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), serviu como referência para a ampliação do número de unidades de bancos de leite humano em todo o país. 15


Fruto de um projeto do Ministério da Saúde e da Fiocruz, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR) foi 1 criada com a missão de apoiar, incentivar AP e promover a amamentação, com o 3 AM objetivo de reduzir a mortalidade neonatal e melhorar AC os indicadores de 17 1 RO aleitamento maMT terno. A operacionalização da Rede ocorre por meio de uma articulação entre o Centro de Referência Nacional para Bancos de Leite Humano, situado no IFF, com cada Centro de Referência Estadual (CREBLH). O Centro Nacional repassa aos estados as instruções normativas e os avanços científicos, recebe demandas dos municípios e desenvolve soluções para os problemas que emergem do cotidiano dos serviços.

Bancos de Leite Humano no Brasil

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Atualmente, a Rede faz parte da Política Nacional de Aleitamento Materno e suas atividades abrangem a coleta, o processamento e a distribuição do leite humano a bebês prematuros e/ou de baixo peso, além de ações de promoção ao aleitamento materno e de atendimento, orientação e apoio à amamentação.

Total 218

Brasil Produção de 2009 a 2015 Mulheres assistidas 13.137.163 Mulheres doadoras 1.108.625 Litros de leite materno coletados 1.182.639 Recém-nascidos beneficiados 1.157.419 Técnicos capacitados 1.892 Dados de 2015

16

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CE


Cooperação internacional

Nos anos 1990, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou a iniciativa global Saúde para todos no ano 2000, que previa para o início dos anos 2000 avaliações das ações públicas ligadas à saúde da mulher, do idoso e da criança. Na ocasião da avaliação, foi constatado que as ações da rBLH foram uma das estratégias que mais contribuíram para a melhoria da saúde da criança e da mulher no mundo, colaborando, de forma efetiva, para a redução da mortalidade e da morbidade. A Fiocruz, junto à Agência Brasileira de Cooperação (ABC), apoia tecnicamente a instalação e qualificação de bancos de leite humano em diversos países, através de acordos bilaterais ou multilaterais. Em 2015, a rBLH-BR tornou-se Rede Global de Banco de Leite Humano (rBLH), integrando em suas diretrizes os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Hoje,

mais de 20 países compõem essa Rede, que se faz presente em países da América Latina, América Central, Caribe, Península Ibérica, Europa e África. “Continuamos nossa atuação no Brasil como responsáveis pela política pública de Banco de Leite Humano no âmbito do SUS. Somos unidade de referência, de assessoria direta

com todas as secretarias estaduais de Saúde. Além disso, somos o único órgão responsável pela qualificação de recursos humanos para trabalhar com bancos de leite, e também somos responsáveis pela ação em três continentes”, ressalta o coordenador da rBLH, João Aprigio Guerra de Almeida.

Se a gente acredita que a construção de um estado mais digno no futuro depende da capacidade de investir na infância, o aleitamento materno tem que ser o primeiro passo João Aprigio

coordenador da rBLH 17


Aleitamento materno e a importância do Banco de Leite

O leite humano é considerado o alimento mais completo para o bebê. Mas, ainda assim, a prática não é instituída como deveria ser. “Querendo ou não, a mulher grávida vai produzir leite, mas entre produzir e viabilizar existe uma diferença. O determinismo biológico é próprio da espécie, realizar a amamentação depende de condicionantes sociais. Então, a amamentação é biologicamente determinada e socioculturalmente condicionada e os condicionantes sociais tendem a se sobrepor ao biológico”, esclarece João Aprigio. De acordo com ele, uma criança que nasceu antes do tempo não está imunológica e biologicamente preparada para enfrentar a vida. Ela precisa de um alimento com característica de medicamento, que não se encontra dentro de um potinho. “Somente um alimento 18

funcional ajuda nos processos de maturação do seu organismo, e de amadurecimento do seu sistema imunológico, além de elevar seus fatores de defesa. Esse tipo de alimento ajuda em seu ciclo biológico evolutivo, que foi interrompido na vida intrauterina, para prosseguir na vida extrauterina, recebendo os componentes que só o leite materno é capaz de oferecer”, afirma João Aprigio. Existem estudos de coorte que mostram que a criança que mama no peito, em regime de aleitamento exclusivo por pelo menos seis meses, ou até os dois anos de idade ou mais, têm o Quociente de Inteligência (QI) maior do que aquelas que são desmamadas precocemente. Essa diferença de QI se estende para a vida toda. “Se a gente acredita que a construção de um estado mais digno no futuro depende da capacidade de investir na infância, o aleitamento materno tem que ser o primeiro passo”, conclui.

A história com a Fiotec

Junto ao projeto de criação da rede nacional, em 1998, foi originada a parceria com a Fiotec, na época Fundação de Ensino, Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Cooperação à Escola Nacional de Saúde Pública (Fensptec). Desde então, a fundação apoia os projetos da rede através de uma relação baseada no profissionalismo e na confiança. “Somos contemporâneos da Fiotec. Por isso, considero fundamental e de extrema importância, primeiro pela flexibilização do ponto de vista gerencial que a Fiotec proporciona. O serviço feito pela Fiotec é importantíssimo e fundamental”, diz Paulo Maia, coordenador de projetos da rBLH com a Fiotec. “Também cito a exatidão de registro contábil, algo que deixa o coordenador seguro, porque eu sei que todo meu ordenamento de despesa é contabilizado de maneira precisa”, complementa Paulo.


Com a palavra a analista do projeto

A analista de Projetos da Fiotec trabalha com projetos do Banco de Leite há 5 anos e se sente muito satisfeita de contribuir, mesmo que indiretamente, com uma iniciativa tão importante para a saúde pública mundial. “Ainda que o nosso trabalho fique nos bastidores, é grati-

ficante saber que ‘sou parte’ dessa história. Tenho um carinho enorme pelos projetos do IFF, que são ligados à saúde da mulher e da criança. Espero que essa parceria da Rede com a Fiotec perdure por muito anos”, comenta Natalia Salvador. Paulo Maia destacou também a importância de os analistas envolvidos nos projetos do

O serviço feito pela Fiotec é importantíssimo e fundamental

BLH terem conhecimento claro sobre o conteúdo do projeto que estão operando. “Sempre fiz questão de trazê-los até aqui para conhecerem como é o nosso projeto, para eles saberem no que eles estão contribuindo para operacionalizar. Isso dá excelente frutos. A analista que trabalha comigo, Natalia Salvador, além da competência, que é uma característica dela, é uma pessoa engajada; é como se ela fizesse parte do projeto da rBLH”, disse

Paulo Maia

responsável pelo núcleo de Gestão e Informação da rBLH 19


Depois de mais de um ano, síndrome da zika congênita ainda desafia cientistas de todo o mundo

Com participação de Celina Turchi e apoio da Fiotec, grupo de pesquisadores da Fiocruz Pernambuco busca, incessantemente, por respostas sobre os efeitos da infecção pelo zika vírus por Gustavo Xavier 20


No final de 2015, o zika vírus tornou-se motivo de apreensão nacional ao lado da dengue, velha e incômoda conhecida da população brasileira. Mas o que chamou atenção não foi necessariamente o número de pessoas que apresentavam os sintomas da infecção, e sim o surto de casos suspeitos de microcefalia em recém-nascidos, que mais tarde teriam relação comprovada com o zika.

O Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM/Fiocruz Pernambuco) assumiu um papel de destaque no momento de emergência epidemiológica provocado pelo zika vírus, tornando-se pioneiro, por meio do Grupo de Pesquisa da Epidemia da Microcefalia (Merg), em publicar um estudo que comprovou definitivamente a relação entre o vírus e as alterações que hoje são chamadas de síndrome da zika congênita.

Naquele ano, em oito estados da Região Nordeste (Pernambuco, Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte, Piauí, Alagoas, Ceará e Bahia) e em Goiás foram registrados 739 casos. De acordo com o Ministério da Saúde, no ano anterior (2014), foram notificados 147 casos de microcefalia em todo o País.

Fachada do Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães - CPqAM

Foto: Ascom/Fiocruz Pernambuco 21


“Hoje, sabe-se que essas alterações não se expressam apenas como microcefalia. Por isso, é importante reconhecer o espectro de alterações que constituem a síndrome da zika congênita, com manifestações como cegueira, dificuldade de deglutição, atraso do desenvolvimento motor. As crianças expostas à infecção durante a gravidez devem ser avaliadas precocemente para iniciarmos sua estimulação o quanto antes”, alerta a médica e pesquisadora Celina Turchi, que coordena o grupo formado por especialistas das mais diversas áreas da saúde. Indicada pela revista científica Nature para ocupar a lista dos 10 cientistas mais importantes de 2016, Celina esteve à frente, até dezembro de 2016, de um estudo caso-controle conduzido pelo Merg com o apoio da Fiotec e financiamento do Ministério da Saúde brasileiro e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O grupo de pesquisadores explorou a relação do efeito do zika com a idade 22

gestacional durante a exposição ao vírus e estudou as características clínicas, laboratoriais e de imagens dos recém-nascidos com microcefalia. Além de identificar as malformações congênitas presentes nos casos de microcefalia confirmados. Foto: Ascom/Fiocruz Pernambuco


Turchi destaca a rapidez com que a Fiotec atuou em um momento de apreensão nacional. O repasse dos recursos aconteceu em dezembro de 2015 e o projeto pôde ser logo iniciado. “Desde o primeiro momento a Fiotec ficou sensibilizada com a situação de emergência instalada e a necessidade de agilizar os procedimentos. A direção e os profissionais da instituição foram extremamente solícitos na gestão financeira do projeto”.

Além do reconhecimento da revista Nature, Celina foi citada na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista Time e recebeu o Prêmio Faz Diferença, oferecido pelo jornal O Globo

Conhecimento como principal aliado

Um dos principais obstáculos para o enfretamento do zika, no momento em que houve um surto no número de pessoas infectadas, era o pouco ou nenhum

É importante reconhecer o espectro de alterações que constituem a síndrome da zika congênita, com manifestações como cegueira, dificuldade de deglutição e atraso do desenvolvimento motor — Celina Turchi

material científico existente sobre o vírus. Até então, existiam muitas lacunas no conhecimento, que precisavam ser respondidas com certa urgência.

Os estudos iniciados na Fiocruz Pernambuco sanaram muitas dessas dúvidas, mas para Celina ainda há muito trabalho a fazer. “Concluído o estudo caso-controle, estamos envolvidos em outros projetos para responder outras perguntas. São coortes de gestantes, coortes de crianças com e sem microcefalia, e de pacientes com manifestações neurológicas, entre outros”. A pesquisadora admite que o desenvolvimento de uma vacina é sempre uma opção desejável, como um projeto a médio prazo, mas valoriza o trabalho feito até então. “Hoje sabemos um pouco mais sobre esse vírus. Para tanto, houve um esforço e uma resposta global. Enfocamos alguns aspectos como a condução de pesquisas em situação de emergência em saúde pública, de maneira ágil e sem perder de vista o rigor metodológico dos projetos de investigação, e a obediência aos procedimentos éticos exigidos”, conclui 23


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