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17 . NOVA ET VETERA

DEZEMBRO 2016



Nova Et Vetera


Ficha técnica Título: Director: Editor: Propriedade:

Nova Et Vetera, n.º 17 Carlos Aguiar Gomes Militia Sanctæ Mariæ Militia Sanctæ Mariæ - Companhia Regular e Militante dos Cavaleiros de Nossa Senhora Direcção : Rua de Guadalupe, n.º 73 4710-298 Braga novaetvetera@msm-portugal.org novaetvetera.msm-portugal.org

NIPC: 501 362 215 N.º inscrição: 124927 ISSN: 1646-5016


NOVA ET VETERA EDITORIAL

NOVA ET VETERA (das coisas novas e das antigas) é um projecto cultural que, há vários anos, a Militia Sanctæ Mariæ - Companhia Regular e Militante dos Cavaleiros de Nossa Senhora, desenvolve e no qual se integra esta revista. Nova et Vetera procura, assim, ser um espaço cultural, cristão, que tem como grande objectivo colaborar na Nova Evangelização, “alargando cá em baixo as fronteiras do Reino de Deus”. Além da revista, o projecto tem promovido conferências/debates e já editou os textos de duas delas, a última dedicada aos 900 anos de Claraval, cujo fundador, S. Bernardo de Claraval, moldou a Europa cristã de forma indelével. Num mundo, o nosso, que perdeu a memória colectiva e já não sabe que rumo há-de tomar, que se envergonha e rejeita a sua matriz cristã fundacional, a nossa acção deseja ser alavanca para uma restauração de um ambiente cristão ou, ao menos, respeitador da sua herança cristã. A este propósito, vale a pena reler a Exortação Apostólica Pós- Sinodal “ECCLESIA IN EUROPA” de S. João Paulo II e dar vida aos reptos que este Papa nos lançou e continua a lançar. Editar uma revista, mesmo pequena, é um verdadeiro acto de loucura! As edições são dispendiosas. A distribuição não é fácil. A desmobilização por parte dos que deveriam apoiar e promover edições deste tipo é muito grande. Mas … vale a pena o esforço! … E


nós temos a certeza de que os nossos amigos irão colaborar. Acreditamos que o nosso trabalho vale a pena e é necessário. Urgente, mesmo. Será lícito não nos comprometermos com este projecto? Não! Usando a expressão popular: “arregacemos as mangas e … ao trabalho”. Um forte obrigado para todos os que nos ajudam!

Carlos Aguiar Gomes Mestre e primeiro servidor da MSM (Miles – pauper et peccator)


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Castração Cultural por João Batista Passos * Assistimos a um período bastante entristecedor da nossa condição humana e que irremediavelmente leva a sociedade de maneira muito generalizada a se desaguar em um profundo sistema de depressão social e pessoal.

Negação da natureza e da própria consciência Há uma enorme influência de pensamento que tenta impedir ou negar homens e mulheres de viverem conforme as suas naturezas e consciências, impondo a eles conceitos deprimentes de profunda negação de si mesmos e até mesmo de suas características mais intrínsecas e belas. Tal propagação da negação do ser humano de si mesmo e de sua natureza acontece em todas as etapas de suas vidas, desde a infância, passando pelas inseguranças da adolescência e juventude, chegando a vida adulta de maneiras bastante catastróficas, com danos psicológicos e sociais de difíceis remediações.

Estamos falando de um sistema que sugere que os seres humanos devam viver segundo conveniências resumidamente egoístas, ou seja, que vale a pena investir em um sistema em que acomoda e fecha o ser humano, homens e mulheres, em si mesmos. Isso visa estabelecer que as causas dos atos não lhes resulte em “dificuldades”. Tais dificuldades, conforme eles dizem, seriam impeditivos para uma vida livre, leve e solta, mesmo que para isso seja preciso que homens e mulheres vivam em um movimento de profunda depressão, por ter que, sob pressões de um pensamento esterilizador disseminado ambientalmente e que visa castrá-los culturalmente, ou seja, impõe a homens e mulheres a negação de si mesmos e isso é dolorosamente deprimente a todos que se deixam guiar pela castração imposta pela cultura, pois, passam a duelar com suas próprias consciências. Por isso, andamos tão doentes e depressivos. Não podemos amar a beleza intrínseca de quem somos, da forma como somos, não podemos ver na perfeição das


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diferenças que fazem tornar completos um homem com uma mulher. Negando quem somos, nos entristecemos, pois negamos a nossa própria verdade, muito conhecida em nosso íntimo, mas que deve ser negada para que se ambiente em um mundo extremamente doente e cheio de pessimismos.

O abandono do amor Tal sistema de castração cultural sugere que as pessoas possam promoverem-se no andar da vida pensando mais e quase que exclusivamente em si mesmas e isso é, de forma bem insuperável, um dano enorme para a vida de qualquer pessoa, que deveria reconhecer a si e a sua condição neste mosaico que é a vida e seus diversos entalhes. Tomar decisões e vivê-la de maneira menos real e falseadas por sistemas que impõem pressões excessivas que visam excluir a presença da dor ou do sofrimento na vida. Um falso discurso, mas que parece apetitoso a qualquer ser humano, fazendo com que caiamos facilmente e de maneira ébria em repetidas doses de ilusões que são sempre desfeitas em doses recorrentes de realidades que se impõem a todos. Esquecem-se que ao evitar a dor, de maneiras variadas, abole-se também o amor, o amor a si mesmo e ao próximo e este fator essencial da convivência humana deixa de ser proeminente e se torna até mesmo dispensável, pois, o que conta é o eu no espaço e tempo, nos isolando cada vez mais das realidades que nos cercam e da verdade essencial de quem nós somos. Passamos a ser cada dia mais estranhos de nós mesmos, pois negamos a nossa essência, a nossa verdade ao mesmo passo que negamos a essência e a verdade de nosso próximo. Um sistema que em seu discurso abole a dor, mas que na prática, na realidade abole o amor da pessoa e de sua convivência é por demais cruel e deve ser conhecido e identificado em suas características, que sempre se mostram de maneira isolada como bens culturais, mas que em seu conjunto gera a deformação da consciência humana, afasta o amor de suas relações, elimina-lhes a coragem de viver em meio as dificuldades mais naturais e intrínsecas da vida. Passamos a viver em um tenebroso pessimismo, perdemos inclusive as mínimas condições básicas para enfrentar os mais irrelevantes percalços que nos deparamos. Isso gera uma enorme e quase irremediável tristeza.

O ataque às Famílias e ao Matrimônio Esta imposição se dá por meio de ideologias críticas aos sistemas naturais e/ou à estrutura familiar, que, conforme eles imaginam, contrariam o despertar mais livre e leve da consciência humana e não se aplicaria a construção de uma nova cultura e de uma nova sociedade, com valores bastante inversos aos promovidos, naturalmente pela Família. Os ideólogos que sugerem que nos tornemos inférteis são ferozes em propagar tudo o que for contra a Família e principalmente, tudo o que reflita o Matrimônio Católicos, pois, Famílias, sobretudo as fundadas no Sacramento do Matrimônio são fontes da verdade do ser humano, contemplam a beleza da unidade entre o homem e a mulher e é em


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sua natureza muito fecundo. A beleza do Matrimônio ofende aos castradores culturais de nossos dias. Por isso, nos atentemos a isso, devemos conhecer e amar mais o valor da Família e do Matrimônio, promover os seus valores e defender de forma vigorosa tais instituições, que são hoje, a única esperança de realização e felicidade do ser humano sobre a terra.

Angústias de uma sociedade infértil Corresponder a estas exigências que são impostas aos homens e mulheres de nosso tempo é algo angustiante, pois limita a compreensão do ser de si mesmo, impõe condições sociais egocêntricas e sugere que o futuro e que a vida não está aberta para o amor, para a beleza e para a alegria de suas principais características, mas para a sustentabilidade de um sistema que não agrega, que espanta pelo excesso de pessimismo, que não aceita com bom grado a unidade e a fecundidade entre um homem e uma mulher. Homens e mulheres com pensamentos restritos sobre a própria compreensão de si mesmos, abandonam o caminho natural e o caminho sagrado das coisas e abrem-se aos verdadeiros oásis de solidão como o caminho da felicidade, mas que não leva o homem a lugar algum e não o eleva em toda a sua dimensão existencial.

Esterilização do ser humano pela cultura hedonista Podemos destacar que se há diversas formas de esterilização dos seres humanos, ou seja, torná-los incapazes de reproduzir ou de valorizar adequadamente as características mais íntimas que o constituem. Conhece-se que há meios físicos e químicos de castrações de seres vivos e iremos citá-los, porém, o que causa maior danos às consciências humanas é a esterilização cultural, ou podemos dizer de maneira mais crua, castração cultural que culmina em uma espécie de castração psicológica e que, contrariando todas as expectativas naturais, causam graves distúrbios psicológicos e sociais, que refletem diretamente na pessoa e na sociedade.

Esterilizações físicas As esterilizações físicas são as mais antigas utilizadas, e geralmente utilizadas em animais ou em escravos ou escravas para trabalhos forçados e/ou sexuais. Ainda hoje se realizam em algumas regiões do mundo a esterilização de meninas jovens para que não reproduzam ou com a finalidade de que não sintam o desejo sexual que lhes é inerente e natural, tratando-o tal sentido como algo ruim,


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pecaminoso ou somente mesmo para controlar a procriação. Este método nos parece mais traumático pela forma como se é realizado do que pelo que resulta de tais procedimentos, sempre invasivos, mas as dores psicológicas por ter parte essencial de seu ser anulada, arrancada… esterilizada pode ser ainda maiores, pois é um ato de agressão à sua dimensão total e natural. Outras formas, que aparentemente menos danosas e mais sociáveis, por se tratarem de procedimentos cirúrgicos, realizadas em hospitais e clínicas médicas, que corroboram para a concretização da esterilidade do ser humano, sugerindo que o controle feito pelo discurso esterilizante seja docilmente aceito pelas pessoas, que concordam em negar a própria natureza e suas consciências. O fato de tais castrações serem feitas nos higiênicos ambientes hospitalares e com procedimentos técnicos tão bem definidos, podem dar um ar de civilidade ao ato, mas na verdade animaliza o ser humano, o destitui de suas características mais básicas e o coloca no hall de pessoas que, por diversos motivos, menos ou mais justificáveis, se adequaram ao duro discurso da castração cultural. Socialmente, talvez, as pessoas castradas possam se sentirem bem relacionadas em uma sociedade marcada pelo consumismo, mas no fundo, a dilaceração de si, a mutilação de si e a interrupção da mais excelsa característica do ser humano, que é a de contribuir com a obra criadora de Deus, podem, no tribunal das consciências ser sempre tema de recorrente tristeza e arrependimento. Outra forma de esterilização física de pessoas, talvez a mais comum, é o uso de preservativos em relações sexuais. A primeira vista, devido até mesmo a alta aceitação das pessoas por este método, por não sugerir a dilaceração dos corpos de maneira definitiva, mas apenas temporária e de maneira reversível ou, diríamos, opinável. Tais métodos contraceptivos desordenam a relação entre o homem e a mulher, dão a elas um sentido de utilização incompatível com a dignidade humana e o devido respeito a si mesmo e a outros, não é eficaz contra doenças, incluídas as doenças graves e incuráveis transmissíveis por atos sexuais. Alguns métodos físicos são considerados abortivos, como é o caso do DIU, que não impede a fecundação do óvulo, mas que pode fazer com que um óvulo fecundado não seja implantado no endométrio, sendo assim, um instrumento abortivo e que aumenta muito a incidência de graves infecções do aparelho reprodutor, podendo gerar infertilidade permanente em mulheres que fazem uso deste método.

Esterilizações químicas Estas podem ser permanentes ou provisórias. Vemos o caso de governo, a mídia e toda uma cultura influenciada por esta opção de se “auto-esterilizar” para poder abrir-se a um mundo fetichista do prazer. Isso possui um efeito individual muito grande e muito danoso. Proposto como um remédio para uma vida mais livre e independente, as castrações químicas, sobretudo nas mulheres, que sem medidas se entregam a pílulas anti-concepcionais de todas as formas, e sequer levam em consideração que este tipo de anti-concepcionais funcionam como um verdadeiro cavalo de troia em seus corpos, causando efeitos adversos gravíssimos e que podem levar mulheres até bem jovens a doenças vasculares graves e que levam a morte, muitas delas precocemente. Tais efeitos adversos à saúde não são alardeados por governos e outras formas de impor esta opção as mulheres, levando a elas uma informação parcial e por isso muito perigosa.


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A Pílula do Dia seguinte é um método pós relação sexual, com a finalidade objetiva de expulsão, por meio de um bombardeio hormonal no corpo da mulher, capaz de eliminar um óvulo concebido. Este método químico é intrinsecamente mal pela cruel finalidade e ainda, com perigosas reações a saúde da mulher, coisas que muitas vezes a indústria e governos não parecem estarem sensibilizados, desde que o objetivo de controle da fertilidade e da expansão da esterilidade sejam atingidos.

A redução do ser humano e de suas relações Porém, há alguns problemas extras em todas as formas de esterilização, permanentes ou temporárias, que é a de desvirtuamento do ato sexual, que afeta não somente o princípio que rege a lei natural e o princípio de sua totalidade , mas como sugere a completa destruição do devido sentido que deve ser dado ao ato sexual, podendo gerar falta de respeito entre as pessoas que se unem sem finalidade comum, gerar graves vícios e desequilíbrios físicos e psicológicos, sobretudo a natureza das mulheres, que devem serem tratadas sempre com respeito, cuidados e a devida proteção. As práticas desordenadas do ato sexual, sobretudo as desordenadas pelos métodos ilícitos, sejam eles quais forem, evita com que as pessoas possam adquirir sólidas convicções acerca do real valor de si mesmo, de outras pessoas e sobretudo, nos valores solidificados que são os reais valores que constroem uma Família e a torna um âmbito saudável de convivência e propício ao reto desenvolvimento do ser humano.

Métodos abortivos Todos os métodos artificiais de contracepção são gravemente desordenados e ofensivos à dignidade humana, e portanto, não são considerados meios lícitos aceitáveis sob nenhuma forma, porém, métodos físicos ou químicos com finalidade abortiva são ainda mais gravemente errados, não sendo não somente não aceitos, mas como repudiáveis em todas as suas formas, por se tratar de um mal provocado diretamente a outro, impedindo o desenvolvimento de uma vida intrauterina concebida.

A doentia esterilização cultural Esterilização química e física, como as que citamos acima, são dois meios de se conseguirem os objetivos de esterilizar pessoas, sobretudo as relacionadas a determinados grupos sociais e até mesmo grupos étnicos. Porém, as pessoas para quererem tomar decisões tão drásticas em relação a integridade natural de seu ser e de seus verdadeiros potenciais, precisam passar por uma espécie de esterilização cultural.


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Vamos entender que esta esterilização cultural foca, geralmente, certos grupo sociais, sobretudo os por eles chamados de mais vulneráveis, ligados a fatores sociais e étnicos. Para tal, a ação mais comum é estabelecer nestas camadas mais simples um discurso bastante pessimista com relação a vida. Porém, se as prioridades é implantar a esterilização de pessoas mais simples e humildes, não se exclui que tal resultado atinja a todas as classes sociais. Para os propagadores da castração cultural quanto menos famílias férteis, quanto menos vidas… “melhor”. Uma vez estabelecido o pessimismo em torno de um público cada vez mais amplo e fazê-lo tomar decisões baseadas a partir de uma perspectiva obscurantista sobre a vida, fornece-se meios para que os públicos objetivados tomem decisões impensadas e assumam medidas pouco refletidas sobre si mesmas e por isso, drásticas, apoiadas em um discurso de um lado só, com uma única perspectiva de que a vida e o seu potencial devam ser muito limitadas, para que um “futuro melhor” para o individuo se torne mais claro. É um discurso danoso, perigoso e triste que se esconde atrás de um verniz que sugere uma saída adequada para diversos problemas, mas que na verdade doutrina e patenteia a vida particular das pessoas sob o discurso do medo, lançando sobre elas penas condenatórias pesadas, caso este discurso estéril seja ousadamente contraposto por alguém. Um discurso parcial devido a limitação proposital sobre a verdadeira condição humana e os valores que a regem. Os valores são sempre colocados de lado e quando inevitáveis, são propostos como peso desmedido para a plena realização de uma “vida justa, feliz e em paz”. Nada mais torto e falso do que este discurso, pois não há uma vida justa, feliz e em paz se ela não tiver sendo vivida de maneira justa, feliz e em paz, sobretudo a paz de consciência e a alegria da consciência de si mesmo no mundo. Discurso parcial, portanto, desonesto, e propositalmente desonesto, o que transforma tal pregação hedonista sobre a verdade sobre o ser humano e os valores que o regem, se torna em um instrumento de revolução. Como em uma revolução, sobretudo a revolução cultural da qual tratamos aqui, a primeira vítima é a verdade, assim como em uma verdadeira guerra. A presença do sentimento de impotência do ser humano diante de sua grandeza e potencialidade, a isso, nos dirigimos para as suas características nobres de serem transmissores da vida e cooperadores com Deus na criação do mundo, seja pela constituição da Família, geração dos filhos e o trabalho, que deve sempre refletir esta cooperação mútua com Deus e para com o próximo.

Ditos e frases são ouvidas o tempo todo, determinando que muitos de nós estamos culturalmente castrados, que já não manifestamos mais a nossa opinião (talvez, nem a temos), que fomos roubados de nossas mais fundamentais características de seres humanos, que nos sentimos deprimidos e impotentes diante de nós mesmos e diante de uma cultura e uma sociedade que se baseia no pessimismo sobre a natureza. Quem nunca ouviu frases do tipo:

“Vou casar, mas não vou ter nenhum filho” “Filhos dão muito trabalho…” ~


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“Hoje em dia é muito difícil ter filhos…” (Dizem ainda a insanidade de que ter filhos em tempos em que não existia transporte, remédios, acesso a saúde, quando as famílias viviam da cultura de subsistência era mais fácil…hoje, há uma facilidade muito maior em criar os filhos, o problema é que não queremos abrir mão de nossas comodidades e confortos materiais).

“Vou ter só um filho, está bom demais…” “Você está louco, querendo ter mais um filho… o mundo hoje não aceita mais isto não” “Vou abortar, não quero/não posso ser mãe agora…” Ao passo que o mundo diz de todas as maneiras e de formas até muito violentas para que você não tenha filhos, aqueles que ousam a trazer para o seio de suas Famílias Dons de Deus, que são os filhos, dons estes que a Igreja diz que são a riqueza da Igreja e que embelezam o mundo…

Favorecimento das uniões estéreis e desvalorização do Casamento e da Família Algo que podemos considerar muito trágico e feio para a sociedade atual, é conceder que o Governo seja o responsável por controlar as decisões mais íntimas e livres do ser humano, sobretudo de governos já mal intencionados, que possuem de forma objetivamente clara a destituição da célula familiar para transferir para si a autoridade paterna sobre os filhos. Infelizmente, somos também responsáveis por permitir tamanha invasão de governo e decisões políticas e ideológicas no íntimo de nossos lares. Uma constatação que há muitos anos vem sendo trabalhada, sobretudo pelos governos da dita esquerda, é que vem sendo patrocinado com dinheiro público causas ideológicas que ofendem gravemente a Família como instituição basilar da sociedade, legislando contra a autonomia dos entes familiares em suas rotinas e inclusive em suas decisões mais peculiares. O Governo combate que casais não tenham filhos, oferecem gratuitamente anticoncepcionais, preservativos, cirurgias esterilizantes e mutiladoras do ser humano em sua integralidade e de outras formas ainda mais mesquinhas, sugerem métodos abortivos e até mesmo, diversas vezes, já tentou, na calada da noite, aprovar formas ilegais de procedimento de aborto em clínicas. Contata-se além disso, que, o discurso contra a fertilidade do ser humano não é uma mera opinião ou um sentimento de adequação social, pelo contrário, é um movimento ideológico intransigente e muito violento, não mede esforços em reduzir a vida humana e sua natureza, mesmo que isso sugira que tenha que matar o próprio semelhante. Além de tais procedimentos tão violentos e desumanos propostos por ONGs, Empresas, Governos e Tribunais, outras formas de sugerir uniões estéreis. O governo, as ongs, empresas interessadas e a mídia lançam campanhas cada vez mais ofensivas à Família e ao mesmo tempo em que promovem de forma insidiosa a desunião não só de casais, mas de pais de Família, sem o menor pudor, sugerem que a separação de casais heterossexuais é um bem a ser promovido na sociedade, mesmo que isso


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sugira o sofrimento das partes, sobretudo dos filhos. Como já dissemos, o movimento de castração cultural é um movimento violento e não acolhe meios termos, mediações… visam simplesmente, alcançarem seus objetivos mais pérfidos. Tal violência, a começar pelo terrorismo psicológico que os já citados organismos empregam para amedrontar com maior prioridade as camadas sociais mais pobres, visando de forma muito cruel, reduzir as situações de pobreza eliminando as pessoas concebidas nestes grupos sociais mais vulneráveis. Pessoas que por suas limitações materiais,por si só, jamais desejariam eliminar os seus próprios filhos, por ser justamente uma classe, mesmo que exista as dificuldades materiais, sobretudo as quais justamente o governo faltou com sua obrigação de fornecer de forma adequada moradia, educação, saúde e segurança. Para os governantes, sobretudo os materialistas (que não acreditam em Deus e no valor transcendente do ser humano), conseguem ao mesmo tempo erguer a bandeira de defensor dos mais pobres e de diversas causas sociais, ao mesmo passo que sugere o extermínio de bebês concebidos nestas classes. Para governos ateus, é mais fácil eliminar o que eles consideram um problema do que corrigir os seus próprios erros e oferecer, de forma prioritária nestes lugares mais pobres, boas escolas, bons hospitais, uma segurança pública humanamente digna, enfim, para corrigir os seus próprios erros, as ideologias, muitas das quais erguem bandeiras de defesa dos mais pobres, sugerem, não a erradicação da pobreza, mas das pessoas mais necessitadas da sociedade.

Ideologia de Gênero As ações do pensamento da infertilidade da sociedade são muitas e atuam ostensivamente, por isso, resulta que tais pensamentos que negam a natureza humana esteja se tornando um problema ambiental, ou seja, em todos os lugares já a nefasta influência de um pensamento degenerativo da existência do ser humano e de dua condição. Uma das mais gritantes loucuras dos nossos tempos (apesar de ser uma doutrina materialista e ultrapassada do final do século XIX e início do Século XX), na qual os sexos não são definidos pelo conhecimento de si mesmo, de sua condição, diferenciados pelas suas complementaridades, pela ciências médicas e biológicas, pela psicologia… enfim, pelo mais básica distinção do que é um homem e uma mulher.

A ideologia de gênero consiste em ser o ápice da negação de si mesmo, uma doença mental alardeada como padrão de conduta para toda a sociedade. Não fazemos ideia do enorme mal e loucura que isso representa às pessoas, sobretudo aquelas que enganadas pelos promotores da ideologia de gênero, levem a negação de si mesmo a formas bastante questionáveis, sobretudo os métodos de mutilação corporal e castrações de fato, mudanças de aparência… enfim, um sem número de crueldade são impostas pela ideologia de gênero e estas devem ser combatidas em todas as esferas, sobretudo nas esferas que promovem a deterioração do ser humano e de suas mais belas e intrínsecas características. Que possa existir pessoas com problemas de distinção de sua natureza e de seu próprio gênero, sim, porém, apresentar este grande problema como uma solução ou como padrão normativo para a sociedade é no mínimo um pensamento tresloucado e muitíssimo perigoso.


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Papa Francisco, percebendo a gravidade do que representa a imposição do problema da teoria de gênero para as pessoas, manifestou-se recorrentes vezes, repudiando tal forma de impor a castração cultural às pessoas. Segue algumas frases do Papa Francisco sobre o tema:

“Com essa atitude, o homem comete um novo pecado, aquele pecado contra Deus Criador… Deus colocou o homem e a mulher no topo da criação e confiou a eles a terra… O projeto do Criador está escrito na natureza.” “A diferença entre eles (homem e mulher) não é para competir ou para dominar, mas para que se dê essa reciprocidade necessária para a comunhão e para a geração, a imagem e semelhança de Deus” ‘A ideologia de gênero é demoníaca!’ “Hoje a ideologia de gênero é promovida por governos e pessoas importantes, e um montante substancial de dinheiro é lançado para difundi-la, mesmo em materiais de ensino de jardins de infância e escolas” Vale lembrarmos aqui, que o Governo Federal, ainda no mandato de Dilma Rousseff, mandou um projeto de educação para as prefeituras de todo o Brasil, a fim de serem aprovados nas câmaras municipais do País, porém, colocou e omitiu-se que tais projetos padrões, continham de forma velada a aprovação da ideologia de gênero, ou seja, as pessoas guiadas por estas ideologias contrárias a natureza humana agem de maneira bastante desonestas. Isso mostra a grave deficiência moral que tais governos ou movimentos ideológicos contrários ao ser humano sofrem.

Enfim, afirmemos cada vez mais com muita simplicidade que a natureza humana não pode ser conspurcada por movimentos ensandecidos e ditos revolucionários, neguemos com veemência a ideologia de gênero, ao mesmo passo que devemos prestar o nosso auxílio à pessoas que por algum motivo pessoal ou por trauma, venha a possuir o problema de identificar-se como homem ou como mulher, sem julgamentos, agindo da melhor maneira possível para que este possa compreender o seu papel no mundo.

As uniões de pessoas de mesmo sexo, recebem com ênfase, especial atenção de governos e da mídia Não é incompreensível que Governo e Mídia ao mesmo tempo denigrem com tanta força a Família e o Casamento, ao mesmo passo que sugerem uniões de pessoas do mesmo sexo? Percebe-se que a imposição cultural aqui é claramente uma forma de castrar culturalmente as pessoas e reduzir as relações em atos estéreis, inócuos, desprovidos de seu verdadeiro sentido, desprovido da verdade dos seres humanos em seus mais íntimos desígnios, e isso lhes gera profunda depressão e tristezas pessoais. Lembramos aqui, ninguém deve se opor a união de pessoas do mesmo sexo, sobretudo dos que por isso, livremente optam a viver desta forma, porém, uniões homossexuais ou até mesmo o Casamento,


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não são frutos de decisões de Estado e nem da imposição cultural pela mídia, mas atos livres, de pessoas livres, que tomam suas decisões livremente. Há que se opor contra a promoção e a imposição das uniões homossexuais em detrimento do Casamento e ao Matrimônio, pois, sugere a interferência de poderes na livre decisão das pessoas, sobretudo decisões tão consequentes como é o das uniões homo afetivas.

Para constar O Casamento é uma instituição natural que somente é possível na união de um homem com uma mulher, com votos de estabilidade e de fidelidade, não precisa de aprovação do Estado, pelo contrário, o Estado não sendo uma instituição natural, deve total respeito e subserviência a instituição do Casamento e das Famílias. Portanto, quando falamos em Casamento, entenda-se união entre um homem e uma mulher. Entendamos também que é possível compreendermos como ato sexual apenas a relação de fato entre um homem e uma mulher, pois o ato sexual requer a complementariedade dos envolvidos e ser um ato que exista a possibilidade de abertura a vida.

Lembrando Não existe casamento homossexual, mas apenas uniões de duas pessoas do mesmo sexo, que de livre e espontânea vontade, segundo critérios próprios das partes, passam a coabitar juntos e a compartilhar as suas rotinas e intimidades. Deve ser reconhecido pelo Estado os direitos civis advindos destas uniões, porém, sem jamais existir a comparação ou equiparação ao Casamento. A finalidade do Casamento e das uniões civis de pessoas do mesmo sexo são essencialmente diferentes e não possuem correlação e nem dubiedades a este respeito. O Matrimônio é o Sacramento da Fé Católica, que segundo a graça de Deus, permite que um homem e uma mulher, possam se unir de maneira livre e espontânea, com votos livres e perpétuos para uma vida unitiva e procriativa, ou seja, o Sacramento do Matrimônio só deve (ou deveria) ser concedido a pessoas que estão abertas a geração de filhos e a recebê-los como Dom de Deus. O Matrimônio é uma instituição que contempla a união do homem com a mulher e contempla a fecundidade dos esposos. Por isso, a matéria do Matrimônio, bem como do Casamento com efeitos civis, somente pode subsistir na união de um homem com uma mulher. Tanto o Casamento quanto o Matrimônio são os fatores fundantes do Estado, por isso, governos devem sempre se submeterem a estas instituições.


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A cultura de morte (aborto) A violência e crueldade da criação de uma sociedade estéril chega a pontos abomináveis, mostrando que uma sociedade que passa a permitir ou mesmo que se permita a debater sobre a possibilidade legal do aborto é uma sociedade terminalmente doente. Uma sociedade de pessoas que não conseguirá subsistir em si mesma, pois, teme a vida, não só de seus semelhantes, mas de seus próprios filhos concebidos em seus ventres. Não iremos nos deter muito neste tópico, por considerar que o aborto é um tema indiscutível e inaceitável em todas as suas formas.

A propaganda de governo e midiática, propõe a princípio temas divergentes e complexos que podem nos dar a impressão de que em determinados casos o aborto seja aceitável. esta jogada é temporária e pretende chegar ao aborto de fato, independentemente do tempo de gestação e dos motivos alegados. Se compreendermos um único fator que exporemos aqui, seremos irremediavelmente contra o aborto em todas as suas faces. Todos os direitos humanos proveem do Direito à vida e da dignidade a qual reconhecemos o ser humano em todas as etapas de sua vida. Aqui existe o princípio de leis que defenda os mais frágeis, que evita o abuso do homem pelo homem, pois, há que se respeitar a vida em todas as suas dimensões. Se permitido for que uma mãe ou um pai, ou ambos, tomem decisões contra a vida de seu próprio filho, todos os demais direitos humanos são automaticamente abolidos, talvez não formalmente, mas, de maneira ambiental, a violência e a lei do mais forte passa a vigorar em nossas sociedades. A mãe que aborta um filho está a fazer uso da lei do mais forte sobre o mais fraco, o pai que obriga a mãe de seu filho a abortar está a fazer uso da lei do mais forte, o Governo que promove o aborto está a fazer o uso da lei do mais forte, ou seja, o aborto é a derrocada da sociedade e de seus mais consagrados valores, passamos a aceitar a lei do mais forte, passamos a assimilar a violência em nosso meio como forma natural de coação. Com a lei pró-aborto, passamos a viver em um mundo invariavelmente violento… Pois, se os pais podem, sob a proteção de um Governo perverso, atentarem contra a vida de seus próprios filhos, o que mais será crime?… qual o valor possui o ser humano neste contexto a não ser o valor efêmero dos contextos externos. A ideologia contra o aborto é tão violenta, que não se espante se em um futuro próximo se torne crime a prática de se opor a prática de assassinado de nascituros ou manifestar-se a favor de manifestações pessoais favoráveis à vida humana.

A vida e suas responsabilidades Sim, a vida possui as suas responsabilidades, muitas vezes pesadas, nem sempre de fáceis resoluções, mas isso, não significa negar a si mesmo, nem a própria natureza, nem a própria consciência.


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Devemos nos orientar conforme os nossos sentimentos, nossas convicções, aqui não deixaria jamais de citar as nossas convicções religiosas. Devemos buscar a conhecermos melhor nós mesmos, saber quem somos, porque fomos chamados a vida e qual o nosso papel neste mundo. Sendo o mundo uma via com difíceis contornos, somos chamados a dar respostas a tais problemas e não nos tornarmos deles vítimas. As pessoas, negando a suas próprias consciências, estão entregues ao irremediável pessimismo, a uma espécie de incurável dor de viver. Ao tomar o pessimismo que nos é imposto, segundo culpa os seres humanos pela sua própria natureza, nos sentimos pessoas tristes, nos deixamos nos entristecer por ser quem somos e a vida, a bênção de viver passa sob os nossos narizes sem ser percebida… os problemas e dificuldades hão de serem enfrentados, vencidos… mas a tristeza de negar a própria consciência, a própria essência e a própria natureza é um peso ao mesmo tempo, completamente desnecessário quanto doloroso.

Precisamos conversar com nós mesmos, livres das insídias das formas malignas de pensamento que nos levam para longe do quem somos, de quem somos… Precisamos nos desprender do pensamento (des)humano que nega a nossa humanidade, a nossa natureza, as nossas potências e as nossas grandezas. Respeitar de maneira bastante fiel e compromissada com tais grandezas e potencias de nosso ser, de nossa humanidade, com respeito e responsabilidade nos fazem pessoas mais seguras, mais felizes e pessoas melhores.

Defender a Vida e Promover os Valores da Família Conhecer a si mesmo, tomar decisões para a sua vida conforme a sua consciência e em conformidade com a natureza da vida humana e suas potencialidades, faz com que passemos a nos amar como seres humanos, a nos amar nas condições nas quais somos e existimos, como homens e mulheres conscientes de suas naturezas, grandezas e potencialidades, passemos a valorizar as diferenças intrínsecas da natureza do homem e da mulher e tomemos a sua complementariedade como um bem e uma vocação, a ser amada e respeitada de maneiras muito dignas, para a edificação do ser humano, da Família e de toda a sociedade. Para que tudo isso seja muito possível e possamos um dia devolver o poder e a autoridade naturais da célula familiar às Famílias, sejamos pessoas honradas no que se refere a intransigente Defesa da Vida Humana e na incansável promoção dos valores da Família, até que seja restabelecido uma sociedade que orbite em torno das Famílias, com todas as características que lhe são mais próprias e fundamentais. Combater de forma valorosa e corajosa as ideologias materialistas e a cultura de morte, sem abrir mãos dos mais consagrados princípios que regem a dignidade do Povo Brasileiro. Somos um povo que vive em meio as dificuldades, mas somos um povo muito honrado e que ama os valores fundamentais que regem a Nação Brasileira.


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Sede fecundos (Amor, União e Fecundidade) Não tenham medo, diz Jesus aos seus Discípulos, não tenham medo dizia-nos São João Paulo II a nós nos dias de hoje. Sejamos nós, nascidos pela vontade de Deus em toda a nossa potencialidade e grandeza, sejamos sábios em tomar posse do dom da vida e na cooperação com o Criador em sua criação. Sejamos responsáveis, comedidos e prudentes na missão e na altíssima vocação para a qual fomos chamados. Sejamos fecundos, não tolhemos a nós mesmos e as nossas mais caras qualidades. Assumamos as nossas vocações de sermos bons pais, boas mães, bons filhos, bons irmãos. Conduzamos uns aos outros nesta vida, vençamos juntos os percalços e as dificuldades que nos são imposta, sejamos sempre solícitos com uns e outros, estejamos nós prontos a perdoar uns aos outros, sejamos todos juntos Sal da Terra e Luz do Mundo, manifestemos a todos, de forma vigorosa as razões de nossas esperanças.

“Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos como ramos de oliveira, ao redor da tua mesa.” Salmo 127 – Rito do Sacramento do Matrimónio

“Salvaguardando estes dois aspectos essenciais, unitivo e procriador, o ato conjugal conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade.” Paulo VI Humanae Vitae 12

* João Batista Passos é Escudeiro-Donato do Preceptorado de S. Paulo (Brasil)



Adoração dos Pastores. Gregório Lopes (Séc. XVI, 2.º quartel)

“Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado; tem a soberania sobre os seus ombros e o seu nome é: Conselheiro-Admirável, Deus herói, Pai-Eterno, Príncipe da Paz.” ________ (Is 9, 5)



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Doí-me, e muito o Natal por Carlos Aguiar Gomes

O Natal foi “varrido” da nossa paisagem espiritual. Ficaram alguns resquícios, quase despercebidos. Mas cresce o arraial do ruído. A sociedade transformou-se numa sociedade alienada, convicta de que o Amor se compra com bugigangas e muitos SMS mais ou menos estandardizados. Perdeu-se o significado do Natal. Esvaiu-se, por conseguinte, o do Amor. O Natal é o “ Hoje” sempre hoje, sendo a sucessão dos hojes do hoje de meras quimeras, que logo nascem, logo morrem. Permanece, porém e só o Hoje. Por isso, com S. Leão Magno, no século V, no Natal, podemos dizer: “ Nasceu hoje, caríssimos irmãos, o nosso Salvador…” (1º Sermão para o Natal). Este Hoje é perene, como o nosso Salvador. É este o único sentido da celebração do Natal. O Hoje sem amanhã, porque Ele é sempre Hoje, é o Menino de quem já não festejamos, despojados, o nascimento. Como quis impor, mas não conseguiu então, a primeira república, como sendo o Natal a festa da Família, para apagar no povo o sentido de que o Natal é a festa do nascimento do Menino Jesus, único Salvador, ontem, hoje e sempre, o Príncipe da Paz, foi criada e implementada na cultura desta terceira república (as Monarquias actuais imitam bem esta pobreza republicana), laica, que esta festa é a festa da neve/de inverno e que já nem da Família o Natal é festa! Quiseram “matar” o Natal, solenidade em que está presente e representada a Família: uma Mulher, Maria, um Homem, José e um Filho, Jesus. Quiseram “ matar “ o Natal. Querem “ matar” a Família dando, propondo e obrigando a aceitar outras mundividências sociais e antropológicas. E ai de quem conteste, dentro do legítimo exercício da democracia e da consequente diversidade de pensamentos. Só o chamado, proposto e imposto sob ameaças a toda a hora e por tantos, o pensamento único, próprio de regimes totalitários de má memória (para quem tem memória!) tem direito de cidadania. O Natal, o muito pouco que dele resta é um manicómio comercial, onde o comprar, o que é útil e necessário e, talvez e sobretudo, o inútil e supérfluo é a regra. É isto Natal?


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… Por isso, dói-me o Natal. Muito. Muito!... Dói-me porque o Natal é a memória do nascimento, numa Família, do Verbo de Deus feito Homem (como lamento profundamente a perda da genuflexão - e no Rito Bracarense com os dois joelhos! que se fazia ao Incarnatus est do de todas as Missas ao Credo, e, agora, quando há, está, reduzido ao dia de Natal e a 25 de Março, como se só nesses dias devêssemos mostrar adoração por tão magno mistério. Triste. Pobre. Lamentável e deplorável). Dói-me porque, com as famílias esfaceladas, recompostas, remendadas, “macaqueadas” e com fisionomias com outras mazelas dilacerantes, já nem no Natal se manifesta a gratuidade do Amor de Deus para com cada um de nós e de nós de uns para com os outros na Família. E pensar nas crianças “adultizadas” antes do tempo, entregues a máquinas que lhes dão a ilusão de estarem acompanhadas, mas nunca estiveram tão sós e mal acompanhadas ou das crianças arremessadas como balas que procuram ferir o outro e sem se darem conta das “ armas” que as usam e delas abusam para ferir alguém que pode ser o seu Pai/Mãe/Avós. E tentamos comprar o Amor com bugigangas e com SMS enviados a todos e mais alguém, despersonalizados, vazios ou estereotipados … Dói-me o natal. Muito. Pensar e ver que o Natal, deste hoje amargurado, também passa pela iluminação estridente das ruas em espírito chamado “natalício” mas de onde suprimiram qualquer referência ao Natal! E pela publicidade oportunista. E pelos concursos “carnavalescos” das televisões… Tudo isto é ruído que nos distrai e afasta da essência e do essencial. Dói-me o Natal. Muito. (O autor não escreve de acordo com o chamado Acordo Ortográfico)


Natività, Beato Angelico

“et incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine, et homo factus est.”



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De S. Bento de Núrsia ao Venerável Frei Bernardo da Anunciação Vasconcelos! por Carlos Aguiar Gomes

Quem é este santo, S. Bento, tão amado pelos simples de coração e por intermédio de quem, homens e mulheres, jovens e velhos, dirigem a Deus preces de súplica ou de gratidão? S. Bento é um dos maiores vultos da história da Igreja. Nasceu em Núrsia, Itália, cerca de 480, quando o Império Romano entrava em colapso. Afastou-se do mundo em busca de Deus, “consciente e sabiamente ignorante”, como a ele se refere o seu primeiro biógrafo, o Papa S. Gregório Magno. Foi estudar para Roma. Depois, abandonou a cidade e os estudos desiludido com os vícios e costumes da cidade. Depois da fuga de Roma, descontente com a vida dissoluta desta cidade em fim do Império, Bento vai isolar-se numa gruta no Monte Subiaco, onde durante três anos , recolhido e afastado do ruído, leva uma vida de oração e austeridade. Romão, um monge de perto, leva-lhe o pão necessário à sua subsistência. Mesmo recolhido e orante, como verdadeiro “Buscador de Deus”, Bento sofre várias tentações às quais resiste com denodo e sacrifício. Sofrendo na carne, alcança o conforto espiritual. O seu projecto de vida, que era Deus, vai-se construindo. A fama de S. Bento não cessa de aumentar, como o descrito representado no célebre episódio descrito por S. Gregório Magno em que a foice de um bárbaro caída em lago profundo e que o


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Santo Patriarca retira do fundo e devolve, perante o espanto do seu dono. Mas a santidade, feita de uma vida de luta persistente contra o mal, incomodava alguns monges que preferiam uma vida menos exigente. Por isso, era necessário eliminar o “Santo Homem” dando-lhe pão envenenado que um corvo impediu que o comesse. Episódio que faz parte da simbologia associada a S. Bento e que é muito frequente. A fama de santidade do Santo Patriarca ia aumentando. Mas havia quem duvidasse, como Totila, Rei dos Ostrogodos. Este armou uma cilada que foi desmascarada, tendo Bento denunciado o embuste e Totila reconhece o grande poder da santidade de S. Bento. O estilo de vida que S. Bento propunha na Regra que ele próprio compôs, rapidamente se foi alastrando e novos mosteiros foram nascendo, inspirados pela vida que os monges levavam. E S. Bento, sempre solícito, aconselhava e apoiava os seus “filhos espirituais”, como no caso da construção do mosteiro de Terracina, em que o Santo, em sonho, indicou o lugar e a distribuição dos diferentes espaços mais adequados a uma vida de “ Oração e de Trabalho” que era e é a matriz dos que seguem a Regra que nos legou. Ao deixar a casa de seus pais, S. Bento não esqueceu ou abandonou a sua família, nomeadamente a sua irmã gémea, Santa Escolástica a quem prendiam laços de amizade familiar e religiosos, já que Escolástica, também adoptou a vida e a Regra que seu irmão tinha composto para os monges. O fim da vida do Santo Homem, Bento, aproximava-se no fim na Terra. Seis dias antes, anuncia a sua próxima partida, mandando abrir a sepultura. No sexto dia, pediu que o levassem ao oratório. Recebeu o Sagrado Viático e, de pé, com as mãos postas em oração, morreu amparado pelos monges seus irmãos. Era o dia 21 de Março de 547. Como nos relata S. Gregório Magno, referindo-se a S. Bento: “Houve um varão de vida venerável, Bento pela graça e pelo nome, que foi dotado, desde a mais tenra infância, de uma sabedoria de homem plenamente maduro”. É este gigante da Igreja, Patriarca do monaquismo do Ocidente. Foi este estilo de vida, de “Buscador de Deus” que caracteriza a vida monástica fundada por S. Bento que cativou Bernardo de Vasconcelos, o nosso Frei Bernardo da Anunciada de Vasconcelos. Foi monge poucos anos, mas foi-o intensamente. Tão intensa e sinceramente que desde a sua morte até hoje o povo o considera santo. A Igreja, na sua sabedoria prudente, acaba de o declarar Venerável. Agora temos de reforçar as nossas orações para que ocorra o milagre que o leve à beatificação e às honras do altar. Frei Bernardo foi um verdadeiro “Buscador de Deus” e é essa a sua grande mensagem para os jovens que procuram um horizonte na vida, um horizonte de paz e de amor que só em Deus encontra a plenitude.

(O autor não escreve de acordo com o chamado Acordo Ortográfico)


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Índice Editorial …………………………………………………………………………………….………... 5 Castração Cultural ……………………………………………...…..……………….…...…………… 7 Doí-me, e muito o Natal ……………………………………..……………………………………….. 23 De S. Bento de Núrsia ao Venerável Frei Bernardo da Anunciação Vasconcelos! …………….………….. 27


“Neste dia de alegria, todos somos chamados a contemplar o Menino Jesus, que devolve a esperança a todo o ser humano sobre a face da terra. Com a sua graça, demos voz e demos corpo a esta esperança, testemunhando a solidariedade e a paz.” da Mensagem Urbi et Orbi do Papa Francisco no Natal de 2016

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